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Análise do texto A Natureza da Matemática

Ponte, J.P., Boavida, A. M., Graça, M., Abrantes, P.

Alexandra Bento
Alexandre Pais
Paulo Dias

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA


“ ... a concepção que se sustenta sobre a Matemática influencia profundamente o
que se considera ser desejável relativamente ao seu ensino e aprendizagem.”
(Ponte, Boavida, Graça, Abrantes)

Questões que se têm colocado ao longo do tempo:


-“Qual a natureza dos objectos matemáticos?”
-“Os objectos matemáticos são ou não independentes do sujeito que os
estuda?”
-“Qual o papel da experiência e da razão na génese dos conhecimentos
matemáticos?”

-“As verdades matemáticas são rigorosas e irrefutáveis?”


Idealismo:
 Os objectos matemáticos são livres criações do
espírito humano;
 Não existem autonomamente.

Realismo (Platão, Thom, Godel):


 Os objectos matemáticos não dependem da criação
humana (têm propriedades próprias);
 O universo matemático é autónomo;
Racionalismo (Espinosa, Descartes,
Leibnitz, Platão):

 Salienta o papel da razão no acesso às verdades


matemáticas;
 As noções matemáticas podem ser conhecidas
independentemente da observação.

Empiricismo: (David Hume, Stuart Mill)

 As criações matemáticas são generalizações indutivas


feitas a partir das nossas experiências ou
observações.
Criticismo: (Kant)

 Salienta a necessidade de interacção entre a


razão e a experiência na construção do
conhecimento matemático.
Crise dos fundamentos

Ideal tradicional da Matemática (mito de Euclides)


versus
Prática real da actividade Matemática
DA CERTEZA DA VERDADE À PROCURA DA
CERTEZA – A CRISE DOS FUNDAMENTOS

• Surgimento das Geometrias Não Euclidianas.

• Aparecimento das Álgebras Não Comutativas;

• Crise nos fundamentos do Cálculo;


CRIAÇÃO DO CÁLCULO (Leibnitz e Newton – séc. XVII/XVIII)

Existência de paradoxos
Somas paradoxais
S = 1-1+1-1+1-1....
S = (1-1)+(1-1)+(1-1)... = 0
S = 1+(-1+1)+(-1+1)... = 1
S = 1-(1-1-1+1... )= 1 - S

Necessário fundamentar devidamente o


CÁLCULO (noção de limite)
Cauchy define claramente limite
A partir de uma teoria de limites aceitável, define-se continuidade,
diferenciabilidade e integrabilidade. Resolvidos os paradoxos das somas paradoxais
através da definição dos critérios de convergência de séries.

• a definição de limite assenta sobre uma simples intuição geométrica do sistema


dos números reais. (perigo da intuição geométrica – Weierstrass)
• Problemas com integrais ( Riemann)

Torna-se urgente compreender as propriedades dos números


reais.

ARITMETIZAÇÃO DA MATEMÁTICA
Ir ainda “mais fundo” do que os números naturais,
na fundamentação da matemática

TEORIA DOS CONJUNTOS (Cantor)


Conjunto é o objecto elementar da matemática e número é definido como
sendo a cardinalidade de um conjunto

Paradoxos na teoria dos conjuntos


Paradoxo de Russel: O barbeiro de uma terra barbeia todos os homens que não
se barbeiam a sim próprios. Quem barbeia o barbeiro?
EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS
Necessidade de estabelecer o conhecimento matemático numa
fundação absolutamente segura.

 LOGICISMO

 CONSTRUTIVISMO

 FORMALISMO
LOGICISMO
 Corrente segundo a qual a Matemática pode ser reduzida à Lógica;

“É agora impossível separar a Lógica da Matemática. Elas diferem apenas como um rapaz de um homem: a
Lógica é a juventude da Matemática, e a Matemática é a maioridade da Lógica.” (Bertrand Russel)

 Gottlob Frege (1848-1925);

 Bertrand Russel (1872-1970) e Alfred Whitehead (1861-1970): PRINCIPIA


MATHEMATICA – tratado de Lógica Matemática com os objectivos de:

- Reduzir todos os conceitos matemáticos a conceitos lógicos.

- Provar todas as verdades matemáticas a partir dos axiomas e utilizando as regras de inferência lógica.
CONSTRUTIVISMO
• Reconstruir todo o conhecimento matemático de forma a salvaguardá-lo da
perda de significado e de contradições;
• Rejeitam argumentos não construtivistas (não finitistas);
(ex. não numerabilidade do conjunto dos números reais, lei do terceiro excluído).

INTUICIONISMO (L. C. J. Brouwer) – não é a experiência nem a lógica que


determinam a coerência e aceitabilidade das ideias matemáticas, mas sim a
intuição.

Apenas admite a existência de objectos matemáticos que sejam obtidos


por construção, num número finito de passos, a partir dos naturais.

(os objectos matemáticos tem a sua origem no intelecto humano)


FORMALISMO
 David Hilbert (1862-1943) – Programa de Hilbert

- Organizar toda a matemática numa estrutura lógica de um sistema de axiomas;

- Provar a consistência desse sistema utilizando apenas processos finitistas


(metamatemática);

Redução da matemática a deduções formais dos axiomas, sem ter em conta o seu significado (jogo
sem sentido).

“O objecto de estudo da matemática são os próprios símbolos” (David Hilbert)

 Verdade dos axiomas  consistência lógica dos axiomas;


As diferenças do formalismo:

- em relação ao LOGICISMO:

“Estamos convencidos que certos conceitos intuitivos são


condições necessárias para o conhecimento matemático, que a
lógica por si só não é suficiente.” (David Hilbert)

- em relação ao CONSTRUTIVISMO:

“A questão: onde é que a matemática existe? É respondida de


maneira diferente nos dois lados; o intuicionista responde: no
intelecto humano, o formalista: no papel. (Brouwer)
Que futuro tiveram estas três
correntes?

• LOGICISMO

- A teoria dos conjuntos em termos lógicos era


um sistema muito complexo e pesado;

- Apesar de se poder escrever qualquer


proposição matemática em linguagem lógica,
nem todas as proposições matemáticas são
lógicas;
• CONSTRUTIVISMO

- Empobrecimento do conhecimento matemático;

“Eles (Weyl e Brouwer) procuram salvar a matemática, deitando fora tudo o


que é problemático (...) amputaram e cilindraram a ciência. Se seguíssemos
as reformas que eles sugerem, correríamos o risco de perdermos uma grande
parte do nosso precioso tesouro” ( David Hilbert)

- Baseavam o conhecimento matemático


exclusivamente no sujeito. (subjectividade do
conhecimento matemático)
• FORMALISMO

- Como programa cujo principal objectivo era


provar a consistência da matemática falhou.

““Na escala de Richter das descobertas matemáticas, as descobertas de Godel


correspondiam a um 10. A matemática ser incompleta e possivelmente
inconsistente foi um rude golpe para aqueles que viam a matemática como o
mais lógico dos sistemas lógicos, e poucos dos que trabalhavam neste campo
não a viam desta forma. Após Godel, a maioria dos matemáticos profissionais
ainda se agarrava à ideia de que a matemática era, de facto, livre de
contradições, apesar de agora saberem que nunca poderiam demonstrá-lo. (Paul
Hoffman)

- Pesada herança na imagem da matemática como


ciência e na matemática escolar (movimento da
“matemática moderna”).
“Temos nos vindo a aperceber que a visão absolutista da
matemática é uma idealização, um mito. Isto representa um avanço
no conhecimento, e não um retrocesso em relação à certeza do
passado. O Jardim do Paraíso em que colocávamos a matemática
não era mais do que um paraíso de tolos.” (Paul Ernest, 1991)

“É agora razoável propor uma nova tarefa para a filosofia da


matemática: não continuar a procurar a certeza absoluta, mas antes
começar a olhar para o conhecimento matemático como ele
realmente é: falível, corrigível, de tentativa e erro, tal como qualquer
outro tipo de conhecimento humano.” (Hersh, 1979)
Imre Lakatos
(FALIBILISMO)

“...segue a teoria do conhecimento científico enunciada


por Popper que advoga que o conhecimento científico é
hipotético, falível, e que a ciência progride, a partir de
problemas, pelo jogo entre factos, conjecturas e
refutações.”
(ponte, boavida, graça e abrantes)
Matemática
(a lógica da descoberta em Matemática)
onde se reconhece ao erro um valor insubstituível no processo de produção do conhecimentos

Explicações
Justificações
Elaborações
“...não estabelecem a verdade das conjecturas, mas
antes as tornam mais plausíveis,...”
Falibilismo
 “... O processo pelo qual criações matemáticas privadas se tornam em
saber matemático publicamente aceite. Este processo envolve discussão
crítica, conjecturas e refutações, ...”
 (ponte, boavida, graça e abrantes)

Abordagem quasi-empiricista
 “... Debruçarmo-nos sobre as práticas reais dos cientistas, tanto as actuais
como as passadas e encontrar uma filosofia que enquadre e descreva
essas práticas, em lugar de uma filosofia que prescreva o que elas devem
ser.”
 (ponte, boavida, graça e abrantes)

 Resolução da crise
O que os fundacionistas
ignoravam(?)

Provas informais
Desenvolvimentos históricos
Possibilidade de erro matemático
Explicações matemáticas
Comunicação entre matemáticos
Utilização de computadores,...
Quasi-Empiricismo
e o Ensino da Matemática
 “Uma perspectiva social sobre a
Matemática, em que se inclui o quasi-
empiricismo, tem importantes implicações
para a pedagogia e didáctica da
Matemática.”
(Paul Ernest, 1994)
Bento de Jesus Caraça
“ ...como a Matemática, do mesmo modo que toda a
construção humana, depende do conjunto de condições
sociais em que os seus instrumentos têm que actuar.
Subordinação que não a humilha, mas antes a
engrandece.”
, Matemática como Objecto Cultural e Social
MATEMÁTICA
(Papert)

 Componente formal, axiomas, definições, teoremas, demonstrações,...

 Componente algorítmica, procedimentos, treino sistemático,...

 Componente intuitiva, observações, imagens, analogias, conjecturas,...


“A Matemática é, acima de tudo, uma actividade humana,
estabelecendo relações multifacetadas com a cultura,
absorvendo valores e crenças de uma sociedade, mas
simultaneamente moldando esses valores e essas crenças.”

HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DA MATEMÁTICA (2001/2002)

Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa


Podemos encontrar duas conclusões
fundamentais no texto:

1) A posição filosófica relativamente a Matemática influência os


conceitos e consequentemente os princípios orientadores do
processo de ensino - aprendizagem.
2) Saber matemática está associado a fazer matemática. Se o
fazer matemática depende da perspectiva epistemológica em
que nos situamos então o saber matemática também e em
consequência disso o ensino da matemática também é
afectado.
“All mathematical pedagogy, even if scarcely coherent,
rests on a philosophy of mathematics” (René Thom)

“Toda a pedagogia da matemática, mesmo que pouco


coerente, assenta numa filosofia da matemática”
(nossa tradução)
O texto...
 “Uma vez que a intuição matemática é uma componente fundamental e
insubstituível da actividade matemática, importa ter em conta a ênfase
exclusiva, na sala de aula, em tarefas matemáticas que não estimulem os
aspectos intuitivos do pensamento, para lá de constituir uma parente
pobre da experiência matemática, pode funcionar, para alguns alunos,
como uma barreira inibidora da construção de conhecimento matemático
significativo.”
O texto...
 “O Platonismo e o Idealismo, embora se situem em posições extremas
quanto à natureza da existência dos objectos matemáticos, estão muitas
vezes presentes, em simultâneo, no pensamento dos professores de
Matemática. Por um lado, a Matemática é vista como uma revelação,
como uma passagem do concreto ao abstracto, mas, por outro lado, o
professor espanta-se com a sua aplicabilidade à interpretação do mundo
físico.”
PERSPECTIVA FORMALISTA (Absolutista)

““Do ponto de vista do formalista, não começamos a fazer matemática enquanto não tivermos elaborado alguma
hipótese e iniciado uma demonstração. Logo que alcançamos as nossas conclusões, a matemática acaba.” (Davis
e Hersh)

“ O formalista faz uma distinção entre a geometria enquanto dedutiva e a geometria enquanto ciência descritiva.
Só a primeira é considerada matemática. A utilização de figuras, diagramas ou até imagens mentais é
considerada não matemática. Em princípio, elas não deveriam ser necessárias. Consequentemente, o formalista
considera-as desadequadas, talvez mesmo para uma aula de matemática.” (Davis e Hersh)

“A questão do que aprendemos e do que a audiência compreendeu é outra coisa – não é uma questão
matemática.” (Davis e Hersh)

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