Você está na página 1de 25

Fabrício Amorim – Mestrando em Língua e Cultura.

 Análise linguística no discurso;


 “Do uso da língua – a comunicação na

situação social – origina-se a forma da


língua.” ( VOTRE e NARO, 1989, p. 169);
 “uma teoria que assenta que as relações entre

as unidades e as funções das unidades têm


prioridade sobre seus limites e sua posição, e
que entende a gramática como acessível às
pressões do uso”. (NEVES, 2004,p.15)
A explicação linguística deve ser buscada na
relação entre linguagem e uso, ou na linguagem
em uso no contexto social, o que torna
obrigatório explicar o fenômeno linguístico com
base nas relações que contraem falante, ouvinte
e a pressuposta informação pragmática de
ambos. Assim, o compromisso do funcionalismo
é descrever a linguagem não como um fim em si
mesma, mas como um requisito pragmático da
interação verbal. O pragmático é, então, o
componente mais abrangente, dentro do qual se
estudam a sintaxe e a semântica.
 Para Votre e Naro (1989), a teoria formal não é
explicativa, apenas descritiva.
 Como nenhum modelo teórico é capaz de dar
conta, integralmente, das muitas questões
pertinentes ao seu objeto teórico, o Formalismo,
que se manteve hegemônico nos estudos
linguísticos, “marginalizou” muitos fenômenos
por não conseguir explicá-los. O Funcionalismo,
então, entra em cena, refletindo a necessidade de
se retomarem aspectos relacionados ao uso para
dar conta do estudo dos fenômenos de língua.
 Grupo de estudiosos que reconhecia a frase
como uma unidade comunicativa. A
expressão linguística é vista como um
instrumento à interação social,
desempenhando, assim, uma função.
 Funcionalismo sistêmico: a língua é um

sistema funcional.
 Perspectiva Funcional da Sentença – PFS.
“Dogmas” centrais da linguística estrutural:
arbitrariedade do signo linguístico,
idealização relacionada à distinção “langue” e
“parole” e rígida divisão entre diacronia e
sincronia.
Correlação motivada entre forma e função
a) Motivação semântica: pé da mesa; coração
da cidade;
b) Motivação morfológica: apagador/leiteiro;
aguardente/para-quedas;
c) Motivação fonética: cocorocó; tilintar;
 Iconicidade na sintaxe:

a) Subprincípio da quantidade;
Lúcia falou, falou, falou que ficou rouca.

b) Subprincípio da integração;
Maria ordenou: fique aqui.
Maria fez a filha ficar ali.
Maria não queria ficar ali.

c) Subprincípio da ordenação linear;


Cheguei, tomei banho e fui dormir.
O conceito é dependente do contexto, no
sentido de que uma construção pode
manifestar-se como marcada num contexto e
não-marcada noutro. Existem três critérios
que se entrelaçam e interatuam para definir
um item como marcado: complexidade
estrutural, frequência de distribuição e
complexidade cognitiva. O item marcado é
mais complexo em termos estruturais e
cognitivos e menos frequente que seus pares.
 Não vou.
 Não vou, não.
 Vou, não.

Negativa-padrão > negativa dupla > negativa


final
“Para reforçar a ideia de negação, o falante
utiliza um segundo não no fim da oração,
como uma estratégia para suprir o
enfraquecimento fonético do não pré-verbal
e o consequente esvaziamento do seu
conteúdo semântico. Assim, o acréscimo do
segundo não tem motivação icônica: quanto
mais imprevisível se torna a informação, mais
codificação ela recebe.”( CUNHA, COSTA e CEZARIO, 2003, p.33).
(1) Pedro limpou o quarto.

(2) O celular desapareceu.

(3) Marília, violentamente, empurrou Arlete.

Numa escala de transitividade, as sentenças


analisadas se dispõem da seguinte forma:
sentença (3) > sentença (1) > sentença (2).
 Fundo:
Parte do discurso que lhe dá sustentação e
não contribui imediata e crucialmente para os
objetivos do falante, mas apenas sustenta,
amplia ou comenta o aspecto principal.
 Figura:
Material que fornece os pontos principais do
discurso.
... aí quando vinha ali no rio Tietê ... num sei
se você conhece ... já ouviu falar ...lá de São
Paulo ... quando vinha lá do rio Tietê ... tava
chovendo muito ... a pista escorregadia ... né?
aí ... o carro perdeu o controle ... O motorista
perdeu o controle ... né ... aí na hora que ele
viu o carro começou a ... do lado pro outro ...
quando ele viu que o carro ia cair dentro do
rio ... aí ele ... colocou o carro num::
assim ...pra cima de outro carro ... que tava
um casal de namorado assim ...
namorando ... (Corpus D & G/Natal)
FIGURA FUNDO

aí ... o carro perdeu o controle ... O ... aí quando vinha ali no rio
motorista perdeu o controle ... né Tietê ... num sei se você
conhece ... já ouviu falar ...lá de
São Paulo ... quando vinha lá do rio
Tietê ... tava chovendo muito ... a
pista escorregadia ...
quando ele viu que o carro ia cair
dentro do rio ...

aí ele ... colocou o carro num:: que tava um casal de namorado


assim ...pra cima de outro carro ... assim ... namorando ...
 O que trouxe, desta vez, o carteiro?
Desta vez, o carteiro trouxe uma encomenda.
 O que fez, desta vez, o carteiro?

Desta vez, o carteiro trouxe uma encomenda.


 Quem trouxe a encomenda?

O carteiro trouxe a encomenda.


As expressões em destaque representam o
rema da oração. Os demais constituintes são
tema.
 Dado ou informação velha:
Conhecimento que o falante assume estar na
consciência do ouvinte no momento da
enunciação.
 Novo ou informação nova:
Informação que o falante acredita estar
introduzindo na consciência do ouvinte com
o que diz.
foi uma situação difícil... né? eu não sei... eu não
sei onde que engloba isso... mas... eu fui a
Petrópolis com uma amiga... que nunca tinha
subido a serra... estava dirigindo há pouco
tempo...(…) quando a gente está voltando...
começa a chover assim... torrencialmente... e
fura o pneu... fura o pneu do carro dela... e a
gente nunca tinha trocado pneu... nenhuma das
duas... e aquela serra totalmente deserta... né? aí
a gente encostou o carro assim do lado... o carro
já foi puxando(…)meu coração assim disparado...
aí a gente desesperada(…)desatarrachando tudo
(…) a gente... demorou um pouquinho... né? aí a
gente entrou no carro... estava tudo
molhado(…)paramos (num) posto... pra ver se
estava tudo... Bem atarraxado e tal... aí o::... o
mecânico falou que... não sabia qual o homem
que tinha apertado aquilo. ( Corpus D&G/RJ).
 Processo que ocorre quando um item lexical
adquire caráter gramatical ou quando um item
gramatical se torna mais gramatical.
 Hopper e Traugott (1993, p.7) consideram que
uma forma em processo de gramaticalização
segue um continuum de mudança: [item de
conteúdo] > [palavra gramatical] > [clítico] >
[afixo flexional].
 causa > por causa de > por causa (de) que

 nome > locução prepositiva > “locução conjuntiva”  

 [+ frouxo, pragmático] > [ + rígido, sintático]

 [ concreto] > [ abstrato]


 Alguns postulados que evidenciam a existência
de compatibilidade entre a Sociolinguística
Variacionista e a Gramaticalização:
a) Reconhecimento da heterogeneidade da língua
e prioridade atribuída a língua em uso, lugar
legítimo onde a variação e a mudança se
instauram. Isso requer que a análise dos
fenômenos linguísticos seja feita a partir de
situações comunicativas reais, sem dissociar a
língua do seu uso.
b) A língua não é estática: está sempre em
fazimento.
c) O fenômeno da mudança tem lugar de
destaque e é entendido como um processo
ininterrupto e gradual.
d) Sincronia e diacronia apresentam-se como
métodos complementares.
e) Analisam-se diferentes níveis da língua:
fonético-fonológico, semântico, morfológico
e sintático.
f) Reconhecimento do imbricamento entre
língua e sociedade.
 CUNHA et al. Lingüística funcional: teoria e
prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
 GONÇALVES, Sebastião Carlos Leite; LIMA-

HERNANDES, Maria Célia.; CASSEB-GALVÃO,


Vânia Cristina (orgs.). Introdução à
Gramaticalização. São Paulo: Parábola
Editorial, 2007.
 KATO, Mary A. As formas de funcionalismo na

sintaxe. D.E.L.T.A. São Paulo, V. 14,p. 145-


167, 1998.
 NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática
funcional. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
 PEZATTI, E. G. O funcionalismo em
lingüística. In:MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. 
 TAVARES, Maria Alice. A gramaticalização de

e, aí, daí e então: estratificação/variação e


mudança no domínio funcional da
sequenciação retroativo-propulsora de
informações – um estudo sociofuncionalista.
Florianópolis: UFSC. Tese de doutorado,
2003.
 VOTRE, S. J.; NARO, A. J. Mecanismos
funcionais no uso da língua. D.E.L.T.A., v. 5,
n. 2, p. 169-184, 1989.
Fabrício Amorim – Mestrando em Língua e Cultura.

Você também pode gostar