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ESTUDO DA PROBLEMÁTICA DAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

NA REGIÃO LITORÂNEA DO NORTE FLUMINENSE

CAMPOS DOS GOYTACAZES, 10 DEZEMBRO 2018


UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

ENGENHARIA ELÉTRICA

ESTUDO DA PROBLEMÁTICA DAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DA


REGIÃO LITORÂNEA DO NORTE FLUMINENSE

ACADÊMICO:
Sergio Sacht de Almeida

ORIENTADOR:
Marcelo da Penha Rodrigues
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INTRODUÇÃO

Uma das principais preocupações no setor de energia elétrica é o vazamento de corrente relacionado à poluição nos
isoladores. Esta perturbação pode levar à ineficiência da transmissão e a falhas com paradas não programadas. Isso custa
muito às concessionárias de todo mundo, tanto em termos financeiros quanto em termos de credibilidade.
Poluentes industriais ou naturais podem reduzir o desempenho elétrico dos isolantes, provocando efeito indesejável
como o corona e descargas parciais, que poderão evoluir para disrupções elétricas, gerando desligamentos da linha. Para
eliminar ou reduzir estas ocorrências, são adotadas ações como substituição periódica dos isoladores, lavagem, aplicação
de graxas e líquidos a base de silicone, utilização de isoladores poliméricos e aplicações de coberturas tipo RTV ( Room
Temperature Vulcanizing).
Desta forma este trabalho apresenta os problemas encontrados na operação e manutenção de componentes do
sistema elétrico de potência, instaladas no litoral e soluções encontradas para minimizar os problemas, visando
confiabilidade do sistema.
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REGIÃO DE ESTUDO
A região em estudo situa-se no trecho norte do litoral do Estado do Rio de Janeiro, entre a Barra do Rio Paraíba do Sul
e o Cabo de São Tomé, cuja costa tem direção predominante Norte – Sul, apresentando topografia de baixo relevo,
contínua, bastante arenosos e de vegetação rala.
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REGIÃO DE ESTUDO

A região possui um clima


tropical quente e úmido e
temperatura média de
24°C.

Circulações de brisa
marítima predominantes
NE para SW e
perpendiculares à linha da
costa (E para W).

Precipitação média anual acumulada de 1.177,6 mm.


A umidade relativa do ar é aproimadamente 80%, além de ser
cercado pelo Atlântico Sul, que apresenta índices de salinidade
de 35,05 a 37,47ppt.
ISOLADORES DE ALTA TENSÃO

Porcelana

Vidro

Polimérico

Isoladores Vantagens Desvantagens


Peso
Longo histórico de uso Defeitos ocultos
Porcelana Desempenho conhecido Susceptível ao vandalismo
Fácil intercambialidade Técnicas de detecção de falhas nas linhas
ainda não são 100% confiáveis
Vida útil acima de 30 anos Percepção negativa quanto à fragilidade
Desempenho conhecido Peso
Vidro Facilidade de manutenção Atrativo para o vandalismo
Defeitos facilmente visualizáveis

Bom desempenho sob Risco de fratura frágil no núcleo


contaminação Efeito do tempo no processo de
Polimérico Leveza envelhecimento
Facilidade de instalação Defeitos ocultos
Menor intercambialidade
CONTAMINAÇÃO DOS ISOLADORES

Partículas transportadas pelo ar são depositadas no isolador pelo vento;


As partículas se aproximam dos isolantes energizados, devido ao efeito da força do vento, gravitacional e eletrostática;
Uma porção das partículas transportadas pelo ar é absorvida;
A poluição é depositada sobre os isoladores principalmente devido ao spray, vento e névoa.

Natureza dos contaminantes:


Solúvel (condutor);
Não solúvel (inerte).

SE-01
FLASHOVER SUBESTAÇÃO PRINCIPAL E LT 138 kV
PROCESSSO DE FLASHOVER POR POLUIÇÃO

Fases do processo para isoladores cerâmicos com superfícies hidrofílicas:

1. Deposição de contaminantes
2. Camada condutora de água
3. Correntes de fuga
4. Aquecimento local e evaporação Interação: Isolador + Poluentes + Condições de
5. Formação de banda seca
Umidificação + Tensão Aplicada.
6. Descargas em banda seca
7. Extensão de arco (e banda)
8. Flashover
IMPORTÂNCIA DA HIDROFOBICIDADE DO MATERIAL

ABNT IEC/TS 62073: Orientações para medição


da hidrofobicidade na superfície de isoladores.
PRÁTICAS ADOTADAS EM MANUTENÇÕES

Limpeza:

• Dispendiosa;
• Frequência incerta.

Aumento da capacidade de isolação:

• Aumento das linhas de escoamento;


• Esforços mecânicos;
• Perfil eficiente.
PRÁTICAS ADOTADAS EM MANUTENÇÕES

Uso de graxa de silicone:

• Maior intervalo entre manutenções;


• Processo trabalhoso;
• A longo prazo o mais caro;
• Impacto ao meio ambiente e saúde.

Revestimento do isolador:

• Alta hidrofobicidade;
• Resistência ao trilhamento e erosão;
• Resistência ao intemperismo e UV;
• Resistência à degradação química e física pela água;
• Elevada resistividade volumétrica;
• Resistência à corona e ozônio.
PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO RTV

Esta cobertura de característica altamente


hidrofóbica, associa à resistência do silicone à
degradação por radiação ultravioleta, ozônio e a
maioria dos produtos químicos, combina o uso de
cargas especializadas de Alumina-trihidratada e
Sílica para combater os danos térmicos causados, e
permite que o material proteja os isoladores contra
a poluição durante longos períodos.

Cargas de baixo peso molecular no


silicone (LMWS) com as partículas de
contaminação, cria-se uma microtextura
hidrofóbica sobre a superfície do revestimento e
a água fica fisicamente e eletricamente isolada
das partículas contaminantes.
VANTAGENS NO USO DO RTV

∙ Excelentes características de autolimpeza e resistência a intempéries e ambientes difíceis;


∙ Hidrofobicidade em longo prazo;
∙ Supressão de corrente de fuga, descargas parciais;
∙ A estabilidade térmica em longo prazo;
∙ Redução do gasto com manutenção, como na lavagem, em comparação com as superfícies isolantes
convencionais;
∙ Limpeza facilitada em caso de deposição extrema de poluição, até os poluentes mais difíceis podem ser limpos
com um pano;
∙ Superfícies revestidas com RTV suportam lavagem com jato de alta pressão até 90 bar (aplicação normal,
distância de 25cm);
∙ Excelente combinação, resistência mecânica de porcelana e desempenho de poluição de borracha de silicone;
∙ Material não tóxico e ambientalmente amigável.
LT-CAMPOS (FURNAS)/RECEPTORA PORTO DO AÇU-
138 KV

Dados:

• Circuito simples;

• 123 torres de transmissão;

• Aproximadamente 51 km;

• Tensão de operação 138 kV;

• Cadeias de isoladores do tipo disco de vidro.


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SUBESTAÇÃO PRINCIPAL – SE-01

Área 1 – Ramal de entrada da concessionária até seccionadora de


Área 4
entrada do Trafo 1:
1. TP´s: 6 isoladores porcelana

Carga Máxima: 37,5MVA


2. TC´s: 6 isoladores porcelana
3. DJ: 01 SF6 - (3 isoladores duplos)
4. Cadeia isoladores 9 discos vidro: 6
5. Chaves seccionadoras motorizadas 138kV: 5 (45 isoladores porcelana)
6. Barramento: 12 isoladores do tipo pedestal.

Área 2 – Entrada do transformador 2:


1. Para-raios: 3
2. Chaves seccionadoras motorizadas 138kV: 1 (9 isoladores porcelana) Área 3
3. Disjuntores: 1 (3 isoladores duplos porcelana)
Área 2

Área total: 2992m²


4. Buchas transformador: 3
5. Entrada transformador: 6 isoladores do tipo pedestal.

88m
Área 3 – Entrada do transformador 1:
1. Para-raios: 3
2. Disjuntores: 1 (3 isoladores duplos porcelana)
3. Buchas transformador: 3
4. Entrada transformador: 3 isoladores.

Área 4 – Saída 13,8KV: Área 1

138kV – 13,8kV
1. Chaves seccionadoras manuais: 1 chave (6 isoladores porcelana)
2. Para-raios: 3
3. Terminais desconectavéis: 12.
RELEVÂNCIA DA NBR60815-2005

Níveis de Poluição Distância de Escoamento Tipo de Ambiente


Específica Nominal
mm/kV
I - Leve 16 - Zona com baixa densidade industrial ou habitacional sujeitas a ventos e
chuvas frequentes;
- Zonas agrícolas;
- Zonas montanhosas;
- Zonas a mais de 10 km do mar sem exposição direta a ventos
marítimos.
II - Médio 20 - Zonas com indústrias que não produzem fumos particularmente
poluentes ou com densidade habitacional média;
- Zonas com grande densidade habitacional ou industrial com ventos ou
chuvas frequentes;
- Zonas expostas a ventos marítimos mais afastados da costa.
III - Pesado 25 - Zonas com grande densidade industrial ou subúrbios de grandes
cidades;
- Zonas próximas da costa com exposição a fortes ventos marítimos.
  31 - Zonas de extensão considerável sujeitas a fumos industriais que
produzam depósitos de partículas condutivas relativamente grandes e
IV - Muito Pesado
fumaça industrial;
- Zonas de extensão considerável, muito próximas da costa expostas
diretamente a salitre ou fortes ventos marítimos diretos;
- Zonas desérticas caracterizadas por ausência de chuvas durante longos
períodos de tempo e ventos fortes que carregam sal e areia, e sujeitos a
condensação regular.
RELEVÂNCIA DA NBR60815-2014

Níveis de Tipo de Ambiente


Distância de Escoamento
Poluição
Específica unificada mm/kV
I – Muito 22 - Zonas com baixa densidade industrial ou habitacional, distanciadas de pelo
Leve menos 10 km de qualquer tipo de poluição humana.
- Zonas a mais de 50 km do mar, deserto ou terra seca.
- Estes valores podem ser reduzidos caso o vento prevalecente não seja direto de
fontes de poluição e/ou a zona tenha chuvas mensais.
II - Leve 27.8 - Zonas com baixa densidade industrial ou habitacional, distanciadas entre 5 a 10
km de qualquer tipo de poluição humana.
- Zonas distanciadas entre 10-50 km de qualquer mar, deserto ou terra seca.
- Estes valores também podem ser reduzidos tal como no caso anterior.
 
III - Médio 34.7 - Zonas distanciadas de 3 a 10 km do mar, deserto ou terra seca.
- Zona distanciada de 1 a 5 km de fontes de poluição com origem humana.
- Ocorrências de nevoeiros, e/ou chuvas com condutividade elevada, após longos
períodos de seca com acumulação de poluentes.
  43.3 - Zonas até 3 km do mar, deserto ou terra seca, e/ou 1 km de fontes de poluição
de atividade humana.
IV - Pesado
- Ocorrência de nevoeiros, e/ou chuvas com condutividade elevada, após longos
períodos de seca com acumulação de poluentes.
V – Muito 53.7 - Igualmente ao caso de poluição elevada, mas sujeitos a influências como:
Pesado * Brisas marinhas ou nevoeiros salinos de forma direta;
* Contaminantes de alta condutividade ou poeira de cimento, frequentemente
molhados pelo nevoeiro.
AVALIAÇÃO DO PROJETO ORIGINAL

Em um projeto de instalação, deve-se analisar características construtivas como tipo de estrutura, isolação, utilização de cabo
guarda, bitola e comprimento de cabos condutores, local de instalação com estudos de vento, solo, vegetação, descargas
atmosféricas, meios operativos e relés de proteção nas subestações lado fonte e lado carga.

• Classificação ambiental
• Parâmetros de isolamento
CLASSIFICAÇÃO AMBIENTAL ADOTADO

• ESTUDO ELÉTRICO COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO – SE-01


Níveis de Poluição Distância de Escoamento Tipo de Ambiente
Específica Nominal
mm/kV

III - Pesado 25 - Zonas com grande densidade industrial ou


subúrbios de grandes cidades;
- Zonas próximas da costa com exposição a
fortes ventos marítimos.

• ESTUDO ELÉTRICO COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO – LT 138 kV


Níveis de Distância de Tipo de Ambiente
Poluição Escoamento
Específica Nominal
mm/kV
I - Leve 16 - Zona com baixa densidade industrial ou habitacional
sujeitas a ventos e chuvas frequentes;
- Zonas agrícolas;
- Zonas montanhosas;
- Zonas a mais de 10 km do mar sem exposição direta a
ventos marítimos.
SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Bucha de entrada dos transformadores 37,5 MVA 138/13,8kV


L= Kd * Ur * I L = 1* 145 * 25(kV*mm/kV) = 3625 mm

Onde:
 
Kd = Fator de correção do diâmetro para
aumento da distância de escoamento, com o
diâmetro médio do isolador Dm
 
Dm < 300 mm ............................... kd = 1
300 < Dm < 500mm ...................... Kd = 1,1
Dm > 500 mm ............................... Kd = 1,2
Ur = Tensão nominal da bucha (kV)

Distância de Escoamento: ..............................4496+/-60 mm


Nº de Saias: ......................................................18 Longas,18 Curtas

I = 4496/145*1 (mm/kV) = 31 mm/kV


SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Isoladores da seccionadora de abertura vertical com lamina de aterramento.

Distância de Escoamento: 4500 mm


Distância de Arco à Seco: 1360 mm
Nº de Saias: 30
Tensão Nominal: 145 kV
I = 4500/145*1 (mm/kV) = 31 mm/kV
SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Isoladores dos disjuntores de SF6.

Tensão Nominal: 145 kV


Corrente Nominal: 3150 A
Distância de Escoamento: 3625 mm

I = 3625/145*1 (mm/kV) = 25 mm/kV


SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Os transformadores de corrente e potencial;


• Os pára-raios de óxido de zinco; linha de fuga de 25mm/kV
• Isoladores pedestais.
SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Isoladores da linha de transmissão (convencionais).

Características técnicas do isolador:


 
Tensão max. operação (VMOp) 145 kV
Distância esp. de escoamento (k) 16 mm/kVϕϕ
Distância de escoamento do isol. (dE) 310 mm

O número de isoladores por cadeia foi


determinado da seguinte forma:
 
n ISOL = V Mop * k = 145 * 16 = 7,5
dE 310
Como padrão da concessionária local, foi
adotado: 9 isoladores na cadeia de suspensão
e 10 na cadeia de ancoragem. Sendo os
isoladores de vidro temperado, tipo
convencional.
SELEÇÃO DO ISOLADORES

• Novos isoladores da linha de transmissão (antipoluição).


Tensão máxima de operação (VMOp) 145 kV
Distância específica de escoamento (k) 31 mm/kVϕϕ
Diâmetro do isolador 280 mm
Passo do isolador 146 mm
Distância de escoamento do isolador (dE) 445 mm

Refazendo o cálculo já com os dados do novo


isolador antipoluição, temos:
 
n ISOL = V Mop * k = 145 * 31 = 10,1
dE 445
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CONCLUSÃO

Neste trabalho foram apresentados conceitos que mostram fenômenos elétricos que acontecem
na superfície de isoladores poluídos e suas consequências. Constam também técnicas mitigadoras
adotadas para estes fenômenos.

O revestimento de silicone através do RTV e substituição de isoladores foram apresentados


como estratégias de manutenção de subestações e linhas de transmissão em áreas poluídas.
Conclui-se que os isoladores revestidos por RTV podem fornecer uma alternativa confiável para
as instalações elétricas da região do norte fluminense, desde que tenham também dimensionamento
correto.
Obrigado!

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