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ORALISMO

História, atualidade e percepção


dos surdos sobre o método
O QUE É O
ORALISMO?
- Oralismo é um método de ensino para
surdos que traz como cerne a língua
falada, descartando a importância da
Língua de Sinais.

- Já foi conhecido como “método


alemão”, já que seu criador foi o alemão
Samuel Heinicke, que desenvolveu o
método por volta do século XVIII.
O QUE É O ORALISMO?

- Heinicke acreditava que o ensino pela língua de sinais significava


ir contra o avanço dos alunos.
- Isso significava que o pensamento só era possível através do
desenvolvimento da língua oral.
- O pensamento de Heinicke estava alinhado com a filosofia
aristotélica da época de que a faculdade do pensamento dependia
da língua oral.
- Logo, segundo Heinicke, o surdo que não fala não possui a
capacidade de pensar.
CONGRESSO DE
MILÃO

- Ocorrido no final do século XIX, o congresso de Milão


reuniu uma gama de intelectuais da educação de
surdos, afim de estabelecer diretrizes sobre o tema.
- Dentre sua maioria, estavam defensores do
Oralismo, que inclusive era defendido pela
instituição que organizou o congresso
- Logo, o congresso teve como resultado, em 1880, a
definição do oralismo como método correto.
RESULTADOS
- No decorrer do século XX, percebeu-se que os surdos
não conseguiam se oralizar plenamente.
- Logo, os surdos passaram a ser considerados
deficientes.
- Se fomentam então pesquisas sobre a língua de
sinais, trazendo uma nova perspectiva sobre a
educação de surdos
- O Oralismo volta a se tornar foco com o
desenvolvimento de biotecnologias que tentam
suprir a falta da audição, o que não traz resultados
concretos.
O FIM DA PERPETUAÇÃO
DAS RESOLUÇÕES DO
CONGRESSO DE MILÃO

- Somente em Julho de 2010, 130 anos


após o Congresso de Milão, uma votação
ocorrida no 21º Congresso Internacional
de Educação de Surdos (Vancouver,
Canadá) colocou um fim nas resoluções
que favoreciam o oralismo

- Mesmo assim, a luta dos surdos


continua...
ORALISMO NA
ATUALIDADE
- Leitura Labial;
- AASI – Aparelho de Ampliação Sonora Individual;
- IC – Implante Coclear;
- Estenotipistas – profissionais que fazem legenda em tempo real = raro por ser caro,
já que trata-se de um profissional altamente qualificado. Esse profissional opera o
estenótipo, máquina com 24 teclas que podem ser apertadas simultaneamente e que
podem ser combinadas, formando diferentes fonemas. Com isso, o estenotipista
“escreve” palavras inteiras em milésimos de segundo.
- O intérprete oralista acaba sendo uma opção...
INTÉRPRETE ORALISTA: UM RELATO
PESSOAL DE EXPERIÊNCIA

- A autora do texto diz que a condição de surdez a acompanha desde os


9 anos de idade e que nunca foi empecilho para nada. Seja por leitura
labial, AASIs, ICs...
- Relata ainda que, estudou, fez faculdade, etc. Diz que surdez não é
barreira para atitude.
- ***Aspectos socioeconômicos.

POR LAK LOBATO · PUBLISHED 11 DE AGOSTO DE 2015 · UPDATED 25 DE JANEIRO DE 2018


INTÉRPRETE ORALISTA: UM RELATO
PESSOAL DE EXPERIÊNCIA

Em muitos casos ainda é uma barreira, como por exemplo,


participar de uma aula, um evento, com muita gente falando
simultaneamente, quando a acústica da sala não é muito boa.
- Microfones;
- Acústica do ambiente;
- Dedução dos contextos;
INTÉRPRETE ORALISTA: UM RELATO
PESSOAL DE EXPERIÊNCIA

Em sua experiência relata que foi maravilhoso! Não apenas porque a


intérprete interpretava (oralmente, mas também fazendo sinais em
Libras, porque ela perguntou se podia e eu percebi que ela se sentia
muito mais confortável fazendo o bimodalismo, mas na sintaxe do
português) as falas do orador principal, mas todo e qualquer diálogo que
rolasse em paralelo.
INTÉRPRETE ORALISTA: UM RELATO
PESSOAL DE EXPERIÊNCIA

Continua: Então, eu realmente gostei de ter um intérprete oralista comigo.


Não acho que substitua recursos de transmissão de som (tipo o Sistema
FM ou Roger, ou até o Aro Magnético), nem que seja necessariamente
melhor que a legenda em tempo real. Cada um tem a sua função.

Conclui: Dentre as muitas ferramentas que podemos usar, intérpretes


oralistas devem ser sim considerados uma ótima alternativa para nós,
desde que tenham cabeça aberta para atuar como oralistas.
ENFIM, POSSO FALAR!

Em situações espontâneas, sinalizando com o outro, o surdo reflete,


revisa e retoma a sua própria história, atribuindo relevância ao
narrar na medida em que é a escuta do outro que a legitima como
história

BEATRIZ IGNATIUS NOGUEIRA SOARES, 2019.


RETEXTUALIZAÇÃO

“Eu lia textos em Língua Portuguesa => meu cérebro entendia em Libras => meu
cérebro fazia a tradução do que eu entendi de volta para a Língua Portuguesa => eu
escrevia em Língua Portuguesa. Daí minha mãe arrumava o Português. Eu não gostava
muito, porque ela sempre mexia um pouco no que eu escrevi. Parecia um pouco
diferente. Daí precisava conversar quando eu achava que estava diferente, até a gente
concordar. Minha mãe perguntava: O que você quer falar aqui? Ela dizia que às vezes
eu escrevia diferente do que eu estava pensando e que precisava mudar um pouco.”
RETEXTUALIZAÇÃO
“Eu pensava que só se fazia a retextualização do que o surdo escreveu em
Português, porque surdo escreve errado, ou melhor, diferente. O artigo tratava
da tem retextualização da Língua Portuguesa para Libras!!!!! Legal!!!! Isso
acontece quando o surdo lê em Português e entende em Libras. Como eu faço.
Então pode mudar muita coisa também quando lê em Português e entende em
Libras. Depois vai fazer a transcrição do que entendeu e muda de novo! Porque
junto com a leitura e a transcrição também fazemos TRADUÇÃO. Primeiro da
Língua Portuguesa para a Libras na leitura e depois da Libras para a Língua
Portuguesa para escrever o que entendemos. Ah! Outra coisa interessante é que
mesmo os ouvintes tem dificuldades para fazer transcrição ou retextualização.”
RETEXTUALIZAÇÃO
“Então aparecem coisas interessantes, por exemplo, quando o surdo não
entende, ele pode fazer duas coisas (opção) 1. Ele não sinaliza nada, porque
não entende. Pula pedaço. Fica um buraco, falta coisa. No texto isso chama
lacuna... 2. O surdo inventa coisas para ajudar entender. Então ele imagina o
que texto está falando e inventa coisas. Isso chama acréscimo.”

“Então o que acontece é que o surdo pode ter MENOS informação, quando
acontece uma lacuna ou pode ENTENDER diferente, quando faz um
acréscimo.”
ORALIZAR PRA QUEM?

“Quando a gente tinha 18 anos mais ou menos, lá no Centrinho mandaram uma carta
falando que Marília tinha sido escolhida para fazer implante coclear. Minha mãe ficou
animada. Marília não aceitou. Eu achei ela certa. Marília falou: "Eu nasci surda, meus
amigos são surdos, meu namorado é surdo, minha irmã é surda. Todos surdos perto de mim.
Nunca conheci som”. Parece que mesmo no oralismo, a Marília já tinha identidade surda. E
Marília falou uma coisa que fez minha mãe pensar muito OUVIR É IMPORTANTE PARA VOCÊ
MÃE. NÃO É IMPORTANTE PARA MIM. Eu concordo. Então minha mãe perguntou também
para mim, porque Centrinho falou que eu já estava na fila. Eu falei que meu pensamento era
igual ao da Marília. Então minha mãe respondeu que a gente não ia fazer. Eu acho que ela
ficou triste, mas orgulhosa suas filhas. A gente sempre foi feliz. Não era "pesado” ser surda.”
OS BENEFÍCIOS DA ORALIZAÇÃO E DA
LEITURA LABIAL NO DESEMPENHO DE
LEITURA DE SURDOS PROFUNDOS
USUÁRIOS DA LIBRAS
Em uma pesquisa feita por Tofollo, Bernardino, Vilhena e Pinheiro (2017),
os autores trazem a seguinte pergunta: o uso de LIBRAS associado a outros
meios de comunicação, como leitura labial e oralismo, pode ajudar o surdo
no aprendizado do português escrito?
- Pouco se discute sobre o ensino do português escrito para surdos,
apesar de o bilinguismo não ensinar de maneira adequada.
- Criança ouvinte x criança surda
- Resultados
ANDREIA CHAGAS ROCHA TOFFOLO, ELIDÉA LÚCIA ALMEIDA BERNARDINO, DOUGLAS DE ARAÚJO VILHENA e ÂNGELA MARIA VIEIRA PINHEIRO, 2017.
Comunidade Surda: percepções
individuais em relação ao método
oralista.
• A partir de entrevistas realizadas com pessoas surdas na dissertação de mestrado
de Beatriz Ignatius Nogueira Soares, intitulada: Enfim, posso falar! Relatos de
surdos paranaenses que vivenciaram a transformação do oralismo ao
bilinguismo, buscou-se elencar alguns pontos destacados pelos entrevistados em
relação a sua percepção sobre o oralismo.

• Ao analisar o relato de oito indivíduos surdos, incluindo a autora da dissertação, é


interessante notar que todos experimentaram em algum momento de seu processo
de formação escolar o método oralista.

• A tese pode ser consultada em:


https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/65863/R%20-%20D%20-%20
BEATRIZ%20IGNATIUS%20NOGUEIRA%20SOARES.pdf?sequence=1&isAll
owed=y
Pontos Elencados
• Uma das entrevistadas classifica o ensino de matemática pelo método do oralismo
como “muito difícil”. Por exemplo, relata que o seu professor repetia o sinal de
soma diversas vezes, sem explicar o conceito, e que ao repeti-lo fazia sem a
utilização de expressão facial.
• Em uma escola que trabalhava com o método do oralismo, houve a percepção da
inviabilidade do método, sendo aberta vaga para contratar professor de libras para
ensinar docentes e discentes;
• Relato de preferência pelo bilinguismo e crítica ao método oralista, uma vez que o
mesmo exige dos estudantes apenas as ações de olhar e copiar. Como se os alunos
surdos fossem robôs ou fantoches;
• Uma entrevistada relata que o oralismo acabava por atrasar o desenvolvimento da
linguagem, pois exigia uma gramática correta do português;
• Dificulta a comunicação e pode acabar limitando o diálogo, o que não ocorre se
for utilizada a Libras. Exemplo: o surdo pode se confundir na leitura labial de
palavras em que o movimento da boca é parecido (faca e vaca, bandeira e
madeira, tá e dá).
• Dificuldade de estabelecer a comunicação com ouvintes fora da família, uma vez
que pessoas fora do convívio do surdo podem acabar falando rápido; além disso,
há pessoas que utilizam bigodes, o que pode acabar atrapalhando a leitura labial.
• Uma das entrevistadas afirma que, mesmo quando o surdo é oralizado, ele pode
acabar sendo excluído da comunicação pelos ouvintes, que acabam evitando o
surdo, ou seja, a oralização não garantiria a inclusão.
• Uma situação curiosa é o de uma surda que se comunica com uma das filhas
somente pelo método oral, pois a filha acha a Libras difícil. Enquanto que, na
percepção da mãe, que é surda, a comunicação oral é classificada como mais
difícil, mais lenta e fragmentada (informação em pedaços).
• Acho importante ressaltar que alguns entrevistados disseram que utilizavam a
Libras de forma escondida. Inclusive, é relatada a presença de agressões quando
havia a tentativa de comunicação por sinalização.
REFERÊNCIAS

• https://desculpenaoouvi.com.br/interprete-oralista-um-relato-pe
ssoal-de-experiencia/
• http://steno.com.br/dia-a-dia-do-estenotipista/
• https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/65863/R
%20-%20D%20-%20BEATRIZ%20IGNATIUS%20NOGUEIRA%20S
OARES.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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