Você está na página 1de 15

O ESPAÇO COMO

PALAVRA-CHAVE
DAVID HARVEY

O ESPAÇO COMO PALAVRA-CHAVE. REVISTA GEOGRAPHIA. RIO DE JANEIRO: UFF, V. 14, N. 28, P. 8-39, 2012.
ORIGINAL: HARVEY, D. 2006. SPACE AS A KEYWORD. IN: CASTREE, N. E GREGORY, D. (ORG.)
DAVID HARVEY: A CRITICAL READER. MALDEN E OXFORD: BLACKWELL. TRADUÇÃO LIVRE: LETÍCIA
GIANELLA.
DAVID
HARVEY
• Geógrafo britânico formado na Universidade de
Cambridge.
• Professor da City University of New York e
trabalha com diversas questões ligadas à
geografia urbana.
• Em 2007 foi classificado como o décimo oitavo
teórico vivo mais citado nas ciências humanas.
• Um dos maiores pensadores marxista da
atualidade
• Importante no movimento de renovação da
geografia crítica
INTRODUÇÃO: GEOGRAFIA E ESPAÇO

• Até os anos 1950 os geógrafos trabalhavam com os conceitos de região, paisagem e território
como porções da superfície terrestre. O conceito de espaço não era central.
• O conceito de espaço tornou-se central a partir da geografia teorético-quantitativa. A geografia
deveria desvendar a lógica que estabelece os padrões de distribuição espacial dos fenômenos,
além das relações que conectam pontos diferentes do espaço.
• O conceito de espaço foi renovado pela geografia crítica. Esta corrente afirmava que o espaço era
um produto social, assim como a cultura, a política e a economia. Como produto social, o espaço
era capaz de refletir os processos e conflitos e, dialeticamente, influenciava-os.
• Renovação espacial da geografia crítica: Henri Lefebvre, David Harvey, Edward Soja, Milton
Santos, Ruy Moreira.
• Relação ESPAÇO-NATUREZA-SOCIEDADE-TEMPO
O ESPAÇO: ABSOLUTO, RELATIVO E
RELACIONAL

• Harvey discute teoricamente “espaço” como uma palavra-chave, associando a visão tripartite espaço absoluto-
relativo-relacional com a leitura lefebvreana dos espaços percebido, concebido e vivido (também denominados
espaços material ou experimentado, conceitualizado e da representação)
• O espaço não é nem absoluto, nem relativo, nem relacional em si mesmo, mas ele pode tornar-se um ou outro
separadamente ou simultaneamente em função das circunstâncias.
• A questão “o que é o espaço?” é por consequência substituída pela questão “como é que diferentes práticas
humanas criam e usam diferentes concepções de espaço?”.
• Concepção dialética: Qualquer objeto, não só faz parte como reproduz o todo. Não se desvincula a parte da visão
de conjunto, do contexto.
• A concepção dialética pensa o espaço não só como absoluto, à maneira de Newton, ou relativo, à maneira de
Einstein, pensa o espaço como absoluto, relativo e relacional, à maneia de Leibniz. Objetos materiais ocupam
espaço, relacionam-se entre si e reproduzem dentro de si as diferentes dimensões da totalidade.
ESPAÇO ABSOLUTO

• é o espaço de Newton e Descartes e é usualmente representado como


uma grade pré-existente e imóvel que permite padronizar medições e está
aberto ao cálculo
• é o espaço superfície para a materialidade, mas pode ser pensado como
abstrato, existente à priori da matéria
• é fixo, é onde são registrados ou planejados os eventos. Refere-se ao
espaço do mapeamento cadastral, tridimensional, de localização e de
posicionamento de determinado elemento, como um edifício, um centro
histórico, uma cidade.
ESPAÇO ABSOLUTO
ESPAÇO RELATIVO
• EINSTEIN demostrou como o espaço é uma realidade material relativa a um
campo gravitacional, e o tempo só existiria na medida em que existe
movimento no espaço. Logo, todas as formas de medição do espaço
dependem do modelo de referência do observador
• O cálculo espacial é possível mas depende da situação, do ponto de vista,
daquilo que está sendo relativizado e por quem.
• Podemos criar mapas completamente diferentes de localizações relativas
diferenciando-as entre distâncias medidas em termos de custo, tempo,
modo de transporte (carro, bicicleta ou skate) e mesmo interromper
continuidades espaciais ao olhar para redes, relações topológicas (a rota
ótima para o carteiro), e assim por diante.
• É o espaço da circulação, dos usos e dos fluxos, das cartas temáticas, do
movimento, da mobilidade, da aceleração e da compressão do espaço-
tempo.
Pesquisadores de geografia duas universidades públicas
brasileiras realizaram pesquisa em parceria com
epidemiologistas dos EUA com o objetivo de identificar nos
primeiros meses de pandemia, quais regiões e municípios
apresentavam mais risco de surto e mortalidade por COVID.
Publicaram em Junho de 2020 isso aqui:
"Detecting space-time clusters of COVID-19 in Brazil:
mortality, inequality,socioeconomic vulnerability, and the
relative risk of the disease in Brazilian municipalities"
https://www.medrxiv.org/.../2020.06.14.20131102v1.full.pdf
Analisavam os casos identificados de COVID naquele
momento e relacionavam com dados demográficos, de
densidade, renda e sistema de saúde.
A região amazônica e algumas áreas do nordeste foram
apontadas como de maior risco de colapso. Justamente
como ocorreu.

ESPAÇO RELATIVO
ESPAÇO RELACIONAL

• aquele que está contido nos objetos, na medida em que estes só


são concretos porque contém e representam dentro de si próprios
a relação com outros objetos e espaços. (LEIBNZ)
• espaço não se resume a sua realidade objetiva, ele é também
subjetivo, carrega simbolismos e representações
• um evento não pode ser compreendido a partir de um único
ponto, mas dependerá de tudo o que ocorre ao seu redor em
diferentes temporalidades.
O APORTE DE HENRI LEFEBVRE

ESPAÇO REPRESENTAÇÃO ESPAÇOS DE


MATERIAL DO ESPAÇO REPRESENTAÇÃO
• Prática espacial • Concebido • Espaço vivido
• Percepção do • Representado • Das sensações
mundo material • Mapas, • Das emoções
imagens, • Dos significados
descrições

A experiência física e material da ordem espacial e temporal é mediada, em um certo grau, pela maneira
com que espaço e tempo são representados.
O APORTE DE HENRI LEFEBVRE

• Os espaços e os tempos da representação que nos envolvem e nos rodeiam na nossa vida cotidiana
afetam tanto nossas experiências diretas quanto nossa interpretação e compreensão.
• Ler um livro sobre a Patagônia afetará a maneira como experimentaremos aquele espaço quando
formos até lá, mesmo que uma dissonância cognitiva considerável possa se instalar entre as
expectativas geradas pela escrita e o modo pelo qual a experiência é efetivamente sentida.
• Na vivência cotidiana construímos espaços de representação para nós mesmos (por exemplo, o
sentimento intuitivo de segurança em um bairro familiar ou por sentir-se “em casa”).
MATRIZ DIALÉTICA DOS
SIGNIFICADOS DE ESPAÇO
Há agora um sério perigo em apenas se deter ao relacional e ao vivido, como se
o material e o absoluto não tivessem importância. Permanecer exclusivamente
no canto inferior direito da matriz pode ser tão enganador, limitante e
mistificador quanto se confinar a visão na parte superior esquerda. A única
estratégia que realmente funciona é manter a tensão em movimento dialético
através de todas as posições da matriz.

Você também pode gostar