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crítica
[Fem. substantivado do adj. crítico; subentende-se arte.] S. f.
1. Arte ou faculdade de examinar e/ou julgar as obras do espírito, em
particular as de caráter literário ou artístico:
2. A expressão da crítica (1), em geral por escrito, sob forma de análise,
comentário ou apreciação teórica e/ou estética:
3. O conjunto daqueles que exercem a crítica; os críticos:
4. Juízo crítico; discernimento, critério.
5. Discussão dos fatos históricos.
6. Apreciação minuciosa; julgamento.
7. Ato de criticar, de censurar; censura, condenação.
8. Restr. Julgamento ou apreciação desfavorável, censura: [Cf. critica, do
v. criticar.]
crítico
[Do gr. kritikós, pelo lat. criticu.]Adj.
1. Pertencente ou relativo à crítica.
2. Relativo a crise.
3. Que encerra crítica, julgamento:
4. Grave, perigoso:
5. Embaraçoso, difícil, perigoso:
S. m.
6. Aquele que faz críticas; censor.
[Deprec.: criticastro, critiqueiro. Cf. crítico, do v. criticar, e críptico.]
intertextualidade
A noção de intertextualidade foi introduzida na Teoria
Literária por Julia Kristeva em 1966 por influência da
noção de dialogismo de M. Bakhtin. Para Bakhtin o
texto está em diálogo com a tradição e com uma
comunidade comunicacional. Kristeva expande essa
noção que Bakhtin pensara a partir da Sátira e aplica-
a à literatura como um todo.
intertextualidade
A intertextualidade trata da relação existente entre
vários textos, de naturezas diferentes ou da mesma
natureza, além da relação entre o próprio texto e o
contexto. Sendo assim, segundo Julia Kristeva, todo
texto é um mosaico de citações, uma retomada de
outros textos, e tal apropriação pode se dar desde a
simples vinculação a um gênero, até a retomada
explícita de um determinado texto.
intertextualidade
O importante na concepção da literatura como intertextualidade é o
questionamento das visões tradicionais de obra e de autor:
1) critica-se a visão de obra literária como uma obra que seria
absolutamente original, encerrada nela mesma; e
2) portanto opõe-se também ao culto do poeta-gênio. Poeta é na verdade
alguém que apresenta uma versão mais criativa das potencialidades
literárias da língua e da cultura. Paul Valéry afirmou uma vez:
"L'originalité, affaire d'estomac", "a originalidade é uma questão de
estômago".
intertextualidade
Essa concepção de intertextualidade já estava presente dentro
da visão tradicional de literatura, só que era reservada ou a
gêneros específicos (como a sátira, a paródia, a tradução, o
comentário, a crítica, o plágio) ou a certas partes do texto
(citações, notas, alusões, epígrafe). Na pós-modernidade a
noção de intertextualidade ganha impulso não apenas com as
concepções ditas estruturalistas e pós-estruturalistas da
literatura (sobretudo de Gerard Genette, de Paul de Man e de
Jacques Derrida) mas também com novos fenômenos textuais
"multimidiáticos" tais como o hipertexto e a Internet.
metalinguagem
Metalinguagem é a explicação do código pelo código: é linguagem sobre a
linguagem. Ela pode ocorrer (como afirma Samira Chalhub em seu livro
"A Metalinguagem" ) tanto no nível do discurso denotativo, operando com
definições do código, usando para isso o próprio código, quanto no nível
do discurso conotativo, operando também com o código para chegar a um
processo de definição, porém podendo fazê-lo (...) através do tema
"significado" dos termos, em mensagens lineares; através do significante
ou visual, ou sonoro, para desenhar o significado; e com o significado; e
com o significante, para traduzir/ definir estruturalmente o objeto,
demonstrando-o, em estreita operação com o trabalho da função poética.
(CHALHUB, 1986, p.41)
metalinguagem
A crítica, enquanto forma que incide sobre a produção artística, vai ser o
que “se escreve sobre”. Mas escrever (criar) é sempre escrever sobre. O
que se pode dizer de mais específico sobre a crítica é que ela é uma
linguagem que se estrutura a partir de outras linguagens. Linguagem sobre
linguagem-objeto: metaliguagem.
Essa metalinguagem (ou seja, o fato do crítico através de sua atividade
“explicar” a arte dos outros) foi, ao longo dos séculos, definida como
dependência: a crítica vem depois de uma determinada visão, de uma
interpretação artística. Esta condição “secundária” deu (dá) margem a
interpretações valorativas e hierarquizadoras: a crítica vista como atividade
inferior.
metalinguagem
Assim, o pensamento do crítico é determinado pelo pensamento do artista.
A sua criação é considerada apenas um complemento (a incompletude da
crítica?). Mais grave: ele é tido, às vezes, como incapaz de criar.
No entanto, a dependência da crítica em relação à sua obra precursora foi
(e ainda é) revista. Nessa revisão, ela é redefinida como o seu inverso: o
crítico é independente em relação às idéias do criticado. Ele é a pessoa
capaz de analisar a obra, de dar a sua própria dimensão, tem condições de
aceitá-la ou refutá-la. Ele não é uma réplica mal-acabada do artista, ele faz
a réplica ao artista.
metalinguagem/intertextualidade
A constante reafirmação dessa noção mais independente da crítica foi
reforçada por uma nova dimensão artística. O advento da arte moderna
trouxe a necessidade e a prática de uma crítica interna ou autocrítica na
obra de arte (a crítica ainda estaria em segundo lugar?), ou seja, a
metalinguagem já viria embutida na maioria das obras.
A obra de arte dialoga consigo mesma e, também, com outras obras. A
realidade artística serve agora como material para a própria arte. Isto é, o
mundo da arte é um elemento da “realidade absoluta” como qualquer
outro. Então, a intertextualidade (presença de textos em outros “textos”)
não se define apenas como um recurso de citação, mas como elemento
fundamental para as relações artísticas e críticas.
crítica e escolha
Criticar é escolher. A escolha feita como uma espécie de ajuste (e reajuste
constante) na história das artes. O crítico tem o “poder” (talvez a obrigação) de
estar sempre encontrando uma nova ordenação para a arte acumulada e a arte
emergente.
“Rever o passado e colocar poetas e poesia numa nova ordem”[1]. T. S. Eliot pode
ser revisto e interpretado à luz dos conceitos de sincronia e diacronia: não se ignora
a interpretação que história da cultura “oficial” faz das artes, mas é preciso revê-la
e, às vezes, negá-la (“The one duty we owe to history is to rewrite it”[2]). A crítica
deve construir sincronicamente um painel artístico diferente do institucionalizado.
[1] T.S. Eliot, “The function of Criticism”, Points of View.
• [2] Oscar Wilde, “The Critic as Artist” in Selected Writings, Londres: Oxford Press, 1985, p.61. “A única
obrigação que temos com a história é reescrevê-la.”
crítica e contemporaneidade
O crítico é o autor da conexão do passado com o presente. A sua função é
saber escolher o que do passado ecoa com mais força no presente, o que
perdurou do deslocamento de sentido no tempo (antes de traduzir, de
interpretar, ele tem que descobrir isso).
Mas não é só revisão a função da crítica. Ela é a leitura da
contemporaneidade: ela pode distinguir o que há de mais relevante em
produções artísticas recentes. Nessa avaliação há um quê de profetização.
Utilizando o seu repertório pessoal, seu conhecimento histórico e sua
capacidade de “prever” que tipo de influência pode ter uma obra de arte no
seu contexto atual.
crítica e cultura
A crítica é o ajuste da linguagem no tempo, no espaço e em si
mesma. Sem a crítica (como forma e, também, atitude) a arte
se tornaria imóvel[1]. Esse ajuste é imprescindível, não só
para o entendimento (o objetivo da crítica não deve ser apenas
esse), como também para o movimento das linguagens.
[1] Oscar Wilde, p. 57: “But there has never been a creative age that has not been
critical also. For it is the critical faculty that invents fresh forms.” (Nunca houve
uma época criativa sem que fosse também uma época crítica. Pois é a faculdade
crítica que inventa novas formas.)
crítica e tradução
Traduzir não é “dizer a mesma coisa”. A tradução, como a
crítica, pressupõe também leitores que conheçam o “sentido
original”. E não pode ser feita tendo como principal alvo os
que não entendem outros códigos. “A tradução só deve ir ao
encontro do leitor no caso de também assim acontecer com o
original”[1]. Nesta frase de Benjamin, evidenciam-se os
compromissos da crítica (como tradução): o alvo a ser atingido
é a obra.
[1] Walter Benjamin, “A tarefa do tradutor”, Humboldt, nº40, 1979, pp. 38-44.
os sentidos da obra
Ler, interpretar, decodificar, traduzir: a crítica faz isso
tendo em vista a obra (a metalinguagem se reafirma como
aspecto principal novamente). O sentido original se desloca,
mas não se perde. A partir dele, o crítico cria, traz à tona
outros sentidos.
O sentido original para sobreviver tem que se modificar.
Ele é uma possibilidade de forma aberta. E a crítica deve
mostrar consciência dessa transitoriedade. Ela não vai apenas
descrever e opinar sobre a obra original, ela vai mostrar as
suas modificações, vai modificar o sentido original.
objetividade e crítica
A objetividade na crítica é o conjunto das operações
possíveis: as formas (e obras) existem; o crítico
dispõe delas e pode modificá-las do mesmo modo que
o artista. A objetividade é a existência de objetos fora
de nós mesmos. Isto não significa “verdade absoluta”,
mas a somatória de verdades possíveis e existentes.
subjetividade e crítica
A subjetividade é a ação do crítico nos objetos
e formas preexistentes, a dimensão vertical da
crítica, o estilo. É a subjetividade que vai
determinar se a crítica vai produzir sentidos
gastos ou não; que vai escolher diferentes
ordenações para a história da arte; que define a
intertextualidade do crítico.
barthes: estilo e língua
Conceitos barthesianos de estilo (subjetividade) e língua
(objetividade):
• “O estilo não passa de metáfora, vale dizer, equação entre a
intenção literária e a estrutura carnal do autor.”
• “A língua funciona como uma negatividade, o limite inicial do
possível; o estilo é como uma Necessidade que vincula o
humor do escritor à sua linguagem.”
• “Língua e estilo são objetos; a escritura é uma função.”
michel butor
“Toda invenção literária, hoje em dia, produz-se no interior
de um meio já saturado de literatura. Todo romance, poema,
todo escrito novo é uma intervenção nessa paisagem anterior.”
“O maior crítico, o mais inventivo, é o mais modesto. Quando
o lemos, ele nos dá imediatamente vontade de voltar ao
próprio texto.”
michel butor
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indicações sobre crítica