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REDAÇÃO

Professora: Nara
2ª Série
Objetivo:
Identificar as
características, estrutura
e a linguagem de
Poemas de Haicai.
Haicai é um gênero de poesia
com forma fixa.
Possui três versos: o primeiro e o
terceiro são redondilhas menores —
versos de cinco sílabas —, e o
segundo, redondilha maior — verso de
sete sílabas. Portanto, é
uma poesia objetiva e sintética.
O haicai tradicional não possui título
nem rimas e apresenta temática
bucólica.
Características do haicai
O haicai é um subgênero literário, com caráter
lírico, de origem japonesa, que, tradicionalmente,
é caracterizado pelo(a):

* objetividade
* simplicidade
* serenidade
* sobriedade
* casualidade
* solidão
* não intelectualidade
* bucolismo
* antissentimentalismo
* condensação
* uso de imagens
* ausência de título
* ausência de rima
* kigo
* cesura
O kigo é uma palavra que
evidencia a estação do ano em que
o texto foi produzido.

A cesura é uma palavra utilizada,


no final do primeiro ou do segundo
verso, para provocar uma quebra
sintática e evitar que o poema
pareça ser composto apenas por um
verso ou frase.
Quanto à estrutura tradicional, o haicai é um poema
que apresenta apenas três versos, portanto, é
um terceto formado por redondilhas, assim
distribuídas:
Verso 1 e 3: redondilha menor (cinco sílabas poéticas)
Verso 2: redondilha maior (sete sílabas poéticas).
Como se faz um haicai?
Para aprendermos como
se faz, vamos analisar um
haicai de Masuda Goga
(1911-2008), principal
representante do haicai
tradicional japonês escrito
em território brasileiro:
Em relação ao conteúdo, note que
a informação
é sintética e objetiva, centrada em
três elementos: um túmulo, folhas
e lágrimas. Quanto à forma, cada
um desses elementos foi colocado
em um verso do terceto.
Esses versos estão, segundo a
estrutura tradicional, metrificados:
→ Escansão do verso 1:
Em/ ci/ma/ do/ tú/mu/lo.
Esse verso é composto por cinco sílabas poéticas,
portanto, uma redondilha menor. Não se
esqueça, na separação de sílabas, devemos
contar até a última sílaba tônica. Como a palavra
“túmulo” é uma proparoxítona, contamos até a
sua primeira sílaba.
→ Escansão do verso 2:
cai/ u/ma/ fo/lha a/pós/ ou/tra.

Esse verso é composto por sete sílabas


poéticas, isto é, uma redondilha maior. Além
disso, contamos até a última sílaba tônica da
palavra paroxítona “outra”.
Atenção: quando uma palavra acaba com som de
vogal e a palavra seguinte inicia-se com som de
vogal, é permitido, segundo as regras de
metrificação, juntar a última sílaba de uma palavra
com a primeira sílaba da próxima, como ocorreu
em: “cai uma folha após outra”. Até porque, ao
declamar-se o haicai, na língua portuguesa, junta-
se os dois as: cai-u-ma-fo-lhapós-ou-tra.
→ Escansão do verso 3:
Lá/gri/mas/ tam/bém...

Assim como o verso 1, o verso 3 é uma redondilha menor, pois possui cinco sílabas
poéticas, já que a última palavra do verso é uma oxítona e, logo, sua última sílaba
entra na contagem.
No mais, podemos apontar o kigo, ou seja, a folha que cai, pois essa imagem indica
o outono, estação em que foi escrito o haicai. Também é possível indicar a cesura —
a palavra “outra”, que encerra a imagem construída nos dois primeiros versos para
dar lugar à imagem do verso seguinte, que representa o choro de alguém. Assim, a
palavra “lágrimas” dispara a emoção.
HAICAI NO
BRASIL

O escritor
Guilherme de
Almeida foi um
dos primeiros
haicaístas
brasileiros.
O haicai chegou ao continente europeu no século XIX e foi trazido ao
Brasil pelos modernistas no século XX. Ele é particularmente
associado ao escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), que adaptou
o gênero ao anticonvencionalismo modernista.
Depois dele, o concretismo também dialogou com esse tipo de poesia,
principalmente por meio do poeta Pedro Xisto (1901-1987). Por fim, a
poesia marginal dos anos 1970 teve em Paulo Leminski (1944-1989)
um dos maiores representantes dessa estética.
Outros haicaístas são Afrânio Peixoto (1876-
1947), Helena Kolody (1912-2004), Millôr Fernandes (1923-2012)
e Alice Ruiz. Esses artistas, no entanto, possuem, cada um, suas
peculiaridades.
Os haicais de Guilherme de Almeida são metrificados e utilizam rima e
título. Já os de Paulo Leminski não trazem métrica nem kigo, são mais
libertários. 
Millôr Fernandes utiliza a ironia e a rima.
Já Afrânio Peixoto e Helena Kolody buscam aproximar-se da forma
tradicional de fazer-se o haicai. Assim, outros haicaístas inspiram-se em
algum desses poetas, reproduzindo o seu jeito particular de compor esse
tipo de poesia.
Exemplos de haicais
Arco-íris
Arco-íris no céu.
Está sorrindo o menino
Que há pouco chorou.

O haicai “Arco-íris”, do livro Paisagem interior (1941), de Helena


Kolody, apesar de apresentar título, traz características do haicai
tradicional, como as redondilhas e a ausência de rima. Nesse
poema, cada verso traz uma imagem distinta: um arco-íris no céu,
um menino sorrindo e um menino que chora.
Nesse haicai, publicado no
livro Poesia vária (1947), Guilherme
de Almeida quebra com a
tradição ao colocar um título e rimar
“amora” com “agora”. Dessa forma,
o gosto de amora simboliza a
infância do eu lírico em um dia de
verão. No entanto, o poeta mantém a
metrificação do haicai tradicional.
Extraído do livro Distraídos
venceremos (1987), esse haicai de Paulo
Leminski não segue a regra de
metrificação do haicai tradicional, já que
o primeiro e o terceiro versos possuem
três sílabas poéticas, enquanto o
segundo verso possui cinco. Nesse
poema, o eu lírico dialoga com a Lua,
quer saber se ela brilhava em Auschwitz,
o campo de concentração nazista.
Perfume silvestre

As coisas humildes,
Têm seu encanto discreto:
O capim melado...

Afrânio Peixoto, nesse poema publicado no


livro Miçangas: poesia e folclore (1931), segue quase
todas as regras do haicai tradicional, com redondilhas,
ausência de rima, presença de kigo e cesura. No entanto,
o terceto possui um título. Assim, nessa poesia, o capim
melado é associado a um encanto discreto, à humildade e
ao perfume silvestre.
assombrada por você
minha sombra
se esconde de mim

Esse haicai é de Alice Ruiz, publicado no livro Desorientais (1996),


e não segue a metrificação do haicai tradicional, pois apresenta
sete sílabas poéticas no primeiro verso; três, no segundo; e cinco, no
terceiro. Nele vemos um trocadilho entre “assombrada” e “sombra”,
e a ideia de que alguém provoca medo no eu lírico, que, ao mesmo
tempo, é protegido ou anulado pela sombra do interlocutor.
alma e lua ah lumes
bambo embalo de bambus
flauta e flume fluem

Nesse haicai de Pedro Xisto, retirado do livro Caminho (1979), é


possível perceber a presença de assonância e aliteração, de
forma a produzir-se um poema sonoro, tão característico
do concretismo. Assim, no primeiro verso, em redondilha
menor, temos a repetição das letras “a”, “l”, “m”, “e” e “u”; no
segundo, em redondilha maior, repetem-se o “b”, o “a”, o “m”, o
“e” e o “o”; e, por fim, no terceiro, também em redondilha menor,
as letras “f”, “l”, “a”, “e”, “m” e “u” são repetidas.
Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha.

Esse poema de Millôr Fernandes, retirado de seu livro Hai-kais (1968), não


segue a metrificação do haicai tradicional. Afinal, o primeiro verso tem
apenas uma sílaba poética. Como característica do haicai millordiano, temos a
rima — olha/ molha — e a ironia, ao afirmar-se que, para não se molhar, é
preciso ficar entre um pingo e outro da chuva.
Questão 1 - Todas as características a seguir estão
relacionadas ao haicai, EXCETO:
a) Complexidade
b) Síntese
c) Metrificação
d) Sobriedade
e) Cesura
Alternativa A.

O haicai é caracterizado pela sua


simplicidade, não por sua
complexidade.

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