Uma introdução didática ao pensamento complexo de Edgar Morin que toma como referência um capítulo do livro Pensamento Complexo, escrito por Humberto Mariotti.
Uma introdução didática ao pensamento complexo de Edgar Morin que toma como referência um capítulo do livro Pensamento Complexo, escrito por Humberto Mariotti.
Uma introdução didática ao pensamento complexo de Edgar Morin que toma como referência um capítulo do livro Pensamento Complexo, escrito por Humberto Mariotti.
Mariotti, intitulado Pensamento Complexo: suas aplicações à liderança, à aprendizagem e ao desenvolvimento sustentável (Ed. Atlas, 2007). Prof. Sérgio Luís Boeira (UNIVALI) A visão sistêmica
• O autor trata no capítulo de alguns aspectos do
chamado pensamento complexo, destacando, inicialmente, a “visão sistêmica”. • O modelo de pensamento linear-cartesiano é estrutural e baseia-se no estudo dos componentes separados, em sua identificação. Já o modelo sistêmico não é linear. Baseia-se no estudo de conjuntos, padrões e totalidades. • Os sistemas vivos são sistemas autoprodutores, produzem suas próprias células e tecidos. Eles são capazes de auto-organização, mantendo certo equilíbrio com o meio ambiente. • A vida dos indivíduos só será sustentável se também for sustentável a vida da sociedade e a do meio ambiente, ou seja, se houver equilíbrio dinâmico entre indivíduo, sociedade e ecossistemas. • O pensamento complexo é necessário porque atualmente vivemos um enorme desequilíbrio, com tendência a aumentar e a produzir catástrofes. Nesse contexto, não há espaço para omissão e irresponsabilidades de administradores, líderes e dos cidadãos em geral. • O autor aborda aspectos do surgimento histórico da visão sistêmica desde a década de 1920, a partir da biologia. Mostra que desde a década de1940 incorporou-se a contribuição da cibernética, da psicologia, da matemática, da antropologia, da física, em eventos interdisciplinares. • O conceito fundamental da cibernética é o de circularidade (feedback), isto é, a retroação sistêmica ou retorno do efeito sobre a causa com realimentação desta. Esta é idéia é fundamental para a compreensão da auto-regulação e de outras idéias semelhantes, como autoprodução e auto-organização. • A retroalimentação pode ser fator de melhoria dos sistemas, mas também pode desequilibrá-los irremediavelmente. • Há dois tipos de feedback: o primeiro é a auto- regulação, na qual uma tendência é equilibrada por uma tendência contrária. Observe-se, por exemplo, o funcionamento dos vários órgãos e sistemas do corpo humano, em equilíbrio dinâmico. • O segundo tipo de feedback é o de auto-reforço, no qual as partes de um sistema se fortalecem para obter um resultado comum. É o que Morin chama de retroações múltiplas e complexas. Por exemplo, esforços comunitários que chegam a conquistas políticas ou econômicas. Ou então epidemias, que tendem a aumentar em progressão geométrica, pois quanto maior é o número de afetados por um vírus maior é a tendência de que o mesmo se espalhe. • O autor mostra que um uso instrumental da cibernética, visando apenas o controle de pessoas e objetos, tem gerado grandes tragédias. Exemplo: campos de concentração e extermínio. Visão sistêmica não deve ser confundida com visão totalitária, já que esta tende a tratar pessoas como se fossem objetos simples, não sujeitos complexos. • A visão sistêmica defendida pelo autor evita o totalitarismo, a busca unilateral do controle das partes desde uma visão do conjunto. Evitar cair numa visão quantitativista. • O autor, pelo contrário, defende uma cultura humanística. Nesse sentido, a visão sistêmica precisa assumir uma parte de subjetividade, de responsabilidade de cada sujeito, evitando a ilusão da “objetividade” e do “controle externo”. • Quem lida com sistemas abertos, sistemas vivos, como são as organizações, precisa compreender a complexidade das interações entre as partes e assumir a responsabilidade pela forma como interpreta tal complexidade. O sujeito que observa não é neutro. • O administrador precisa auto-examinar-se, compreender a si mesmo, observar o quanto ele é “administrado” ao tentar administrar. • Conforme escreve Mariotti, “não existe causalidade linear nos mundos natural e cultural: os efeitos sempre reatroagem sobre as causas e as realimentam. O piloto pilota e é pilotado; o líder lidera e é liderado. Pensar sistêmico não é exercer totalmente o controle. Pensar complexo, muito menos. Mas o que até agora aprendemos sobre isso ainda é pouco” (p. 87). • Fundamental é compreender a diferença entre sistemas abertos e fechados. Estes últimos não têm entradas nem saídas para o ambiente. O que neles ocorre se resume aos seus componentes internos. Os sistemas abertos são autônomos e auto-sustentáveis, mas dependem das trocas com o ambiente. São ao mesmo tempo autônomos e dependentes. É o paradoxo autonomia-dependência. Complexidade não é complicação • O autor assinala que complexidade não é o mesmo que complicação. Para mostrar a diferença, ele cita Edgar Morin, que utiliza uma metáfora, da seguinte forma: • Imaginemos dois novelos de lã iguais. Um deles é dado a um gato. O outro é dado a uma pessoa que sabe tricotar. Depois de algum tempo, observamos que o novelo entregue ao gato transformou-se num emaranhado de fios, num caos, ou seja, tornou-se complicação. O novelo entregue à pessoa que faz tricô transformou-se em complexidade. • O termo complexo vem do latim complexus e significa “o que está tecido junto”. • A complicação não é o oposto da complexidade nem vice-versa. O novelo que se tornou complicado pela ação do gato pode ser desembaraçado e tecido para formar uma malha. • A malha tricotada (que é uma estrutura complexa) pode ter um dos fios puxado, desfazer-se e produzir a complicação. • A complicação traz em si, em estado latente, a possibilidade de produzir complexidade. E esta, da mesma forma, traz em si em estado latente a complicação. • A ordem não é o oposto absoluto da desordem nem vice- versa. A ordem complexa lida com a desordem, integrando-a dinamicamente. Observe-se a saúde, exemplo de ordem complexa. O universo dos paradoxos • A complexidade do mundo e da vida aparece sob inúmeras formas. Entre as mais comuns estão os paradoxos, ou seja, situações de impasse, circunstâncias nas quais os contrários não podem ser conciliados, mas mesmo assim precisam permanecer juntos. • Os paradoxos começam em nós mesmos, humanos, seres ao mesmo tempo racionais e irracionais. Fazemos tudo para aparentar que somos sempre guiados pela razão, mas a experiência e as descobertas da neurociência mostram que nossas percepções começam com as emoções. Somos ambíguos, mescla de ordem e desordem, em constante processo de reordenação. • Saber lidar com os paradoxos é saber lidar com a indefinição, a incerteza, a instabilidade. É saber lidar com a complexidade. Esse é o nosso desafio cotidiano, diz o autor. Por exemplo, lidar com a necessidade de equilibrar ousadia e prudência. • De nada adianta fingir que a incerteza e a imprevisibilidade não existem. Pior é pensar que elas só existem fora de nós. Esse é um equívoco muito comum: projetar nos outros uma ambiguidade que existe dentro e fora de nós, simultaneamente. • É fundamental aprender a lidar com a nossa própria ambiguidade, que com frequência se manifesta como hesitação, incerteza, indecisão. • É preciso aprender a pensar de modo inclusivo e não apenas de maneira fragmentadora ou analítica. Aprender a associar sem fundir, distinguindo sem separar formas de conhecimento, de atitudes, de pessoas, de situações. • Escreve Mariotti que, em geral, nosso primeiro impulso é não levar em consideração aquilo com que não concordamos. Se nos sentimos desconfortáveis, não pensamos duas vezes: eliminamos o desconforto, fugimos dele o mais rapidamente possível. • Ao fazer isso, com frequência perdemos boas oportunidades de perguntar a nós mesmos: se nossas ideias, convicções e pontos de vista são tão corretos e sólidos, por que temos tanto receio de pô-los à prova? • Muitas vezes, é necessário dar atenção a pessoas e ideias das quais discordamos com veemência. Tal atitude permite uma tensão criativa, da qual podem surgir ideias e soluções inovadoras. • Isso não é possível se ficamos presos à lógica binária: ou isto ou aquilo. O pensamento complexo vai além desta lógica. Mantém-se aberto, convive com os opostos, busca um diálogo em vez de um monólogo. • Para aprofundar a compreensão do pensamento complexo ou paradigma da complexidade, recomenda- se a leitura de livros de Edgar Morin, que é o autor da obra mais extensa sobre esta temática. Veja-se por exemplo http://www.multiversidadreal.org/ . • No capítulo 5 Mariotti faz uma breve introdução às ideias deste autor e apresenta algumas informações sobre outros autores, institutos de pesquisa, de consultoria, etc. • Ele trata por exemplo da Business School São Paulo (BSP), coordenada por ele. É uma escola de negócios em nível de pós-graduação, que visa “qualificar indivíduos e organizações para atuar como líderes éticos no Brasil e no mundo”.