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A Visão do Conjunto

Síntese do capítulo 5 do livro de Humberto


Mariotti, intitulado Pensamento Complexo:
suas aplicações à liderança, à aprendizagem
e ao desenvolvimento sustentável (Ed. Atlas,
2007).
Prof. Sérgio Luís Boeira
(UNIVALI)
A visão sistêmica

• O autor trata no capítulo de alguns aspectos do


chamado pensamento complexo, destacando,
inicialmente, a “visão sistêmica”.
• O modelo de pensamento linear-cartesiano é estrutural
e baseia-se no estudo dos componentes separados, em
sua identificação. Já o modelo sistêmico não é linear.
Baseia-se no estudo de conjuntos, padrões e
totalidades.
• Os sistemas vivos são sistemas autoprodutores,
produzem suas próprias células e tecidos. Eles são
capazes de auto-organização, mantendo certo equilíbrio
com o meio ambiente.
• A vida dos indivíduos só será sustentável se também for
sustentável a vida da sociedade e a do meio ambiente,
ou seja, se houver equilíbrio dinâmico entre indivíduo,
sociedade e ecossistemas.
• O pensamento complexo é necessário porque
atualmente vivemos um enorme desequilíbrio, com
tendência a aumentar e a produzir catástrofes. Nesse
contexto, não há espaço para omissão e
irresponsabilidades de administradores, líderes e dos
cidadãos em geral.
• O autor aborda aspectos do surgimento histórico da
visão sistêmica desde a década de 1920, a partir da
biologia. Mostra que desde a década de1940
incorporou-se a contribuição da cibernética, da
psicologia, da matemática, da antropologia, da física, em
eventos interdisciplinares.
• O conceito fundamental da cibernética é o de
circularidade (feedback), isto é, a retroação sistêmica ou
retorno do efeito sobre a causa com realimentação
desta. Esta é idéia é fundamental para a compreensão
da auto-regulação e de outras idéias semelhantes, como
autoprodução e auto-organização.
• A retroalimentação pode ser fator de melhoria dos
sistemas, mas também pode desequilibrá-los
irremediavelmente.
• Há dois tipos de feedback: o primeiro é a auto-
regulação, na qual uma tendência é equilibrada por uma
tendência contrária. Observe-se, por exemplo, o
funcionamento dos vários órgãos e sistemas do corpo
humano, em equilíbrio dinâmico.
• O segundo tipo de feedback é o de auto-reforço, no qual
as partes de um sistema se fortalecem para obter um
resultado comum. É o que Morin chama de retroações
múltiplas e complexas. Por exemplo, esforços
comunitários que chegam a conquistas políticas ou
econômicas. Ou então epidemias, que tendem a
aumentar em progressão geométrica, pois quanto maior
é o número de afetados por um vírus maior é a
tendência de que o mesmo se espalhe.
• O autor mostra que um uso instrumental da cibernética,
visando apenas o controle de pessoas e objetos, tem
gerado grandes tragédias. Exemplo: campos de
concentração e extermínio. Visão sistêmica não deve
ser confundida com visão totalitária, já que esta tende a
tratar pessoas como se fossem objetos simples, não
sujeitos complexos.
• A visão sistêmica defendida pelo autor evita o
totalitarismo, a busca unilateral do controle das partes
desde uma visão do conjunto. Evitar cair numa visão
quantitativista.
• O autor, pelo contrário, defende uma cultura
humanística. Nesse sentido, a visão sistêmica precisa
assumir uma parte de subjetividade, de responsabilidade
de cada sujeito, evitando a ilusão da “objetividade” e do
“controle externo”.
• Quem lida com sistemas abertos, sistemas vivos, como
são as organizações, precisa compreender a
complexidade das interações entre as partes e assumir
a responsabilidade pela forma como interpreta tal
complexidade. O sujeito que observa não é neutro.
• O administrador precisa auto-examinar-se, compreender
a si mesmo, observar o quanto ele é “administrado” ao
tentar administrar.
• Conforme escreve Mariotti, “não existe causalidade
linear nos mundos natural e cultural: os efeitos sempre
reatroagem sobre as causas e as realimentam. O piloto
pilota e é pilotado; o líder lidera e é liderado. Pensar
sistêmico não é exercer totalmente o controle. Pensar
complexo, muito menos. Mas o que até agora
aprendemos sobre isso ainda é pouco” (p. 87).
• Fundamental é compreender a diferença entre sistemas
abertos e fechados. Estes últimos não têm entradas
nem saídas para o ambiente. O que neles ocorre se
resume aos seus componentes internos. Os sistemas
abertos são autônomos e auto-sustentáveis, mas
dependem das trocas com o ambiente. São ao mesmo
tempo autônomos e dependentes. É o paradoxo
autonomia-dependência.
Complexidade não é complicação
• O autor assinala que complexidade não é o mesmo que
complicação. Para mostrar a diferença, ele cita Edgar
Morin, que utiliza uma metáfora, da seguinte forma:
• Imaginemos dois novelos de lã iguais. Um deles é dado
a um gato. O outro é dado a uma pessoa que sabe
tricotar. Depois de algum tempo, observamos que o
novelo entregue ao gato transformou-se num
emaranhado de fios, num caos, ou seja, tornou-se
complicação. O novelo entregue à pessoa que faz tricô
transformou-se em complexidade.
• O termo complexo vem do latim complexus e significa “o
que está tecido junto”.
• A complicação não é o oposto da complexidade nem
vice-versa. O novelo que se tornou complicado pela ação
do gato pode ser desembaraçado e tecido para formar
uma malha.
• A malha tricotada (que é uma estrutura complexa) pode
ter um dos fios puxado, desfazer-se e produzir a
complicação.
• A complicação traz em si, em estado latente, a
possibilidade de produzir complexidade. E esta, da
mesma forma, traz em si em estado latente a
complicação.
• A ordem não é o oposto absoluto da desordem nem vice-
versa. A ordem complexa lida com a desordem,
integrando-a dinamicamente. Observe-se a saúde,
exemplo de ordem complexa.
O universo dos paradoxos
• A complexidade do mundo e da vida aparece sob
inúmeras formas. Entre as mais comuns estão os
paradoxos, ou seja, situações de impasse,
circunstâncias nas quais os contrários não podem ser
conciliados, mas mesmo assim precisam permanecer
juntos.
• Os paradoxos começam em nós mesmos, humanos,
seres ao mesmo tempo racionais e irracionais. Fazemos
tudo para aparentar que somos sempre guiados pela
razão, mas a experiência e as descobertas da
neurociência mostram que nossas percepções
começam com as emoções. Somos ambíguos, mescla
de ordem e desordem, em constante processo de
reordenação.
• Saber lidar com os paradoxos é saber lidar com a
indefinição, a incerteza, a instabilidade. É saber lidar
com a complexidade. Esse é o nosso desafio cotidiano,
diz o autor. Por exemplo, lidar com a necessidade de
equilibrar ousadia e prudência.
• De nada adianta fingir que a incerteza e a
imprevisibilidade não existem. Pior é pensar que elas só
existem fora de nós. Esse é um equívoco muito comum:
projetar nos outros uma ambiguidade que existe dentro
e fora de nós, simultaneamente.
• É fundamental aprender a lidar com a nossa própria
ambiguidade, que com frequência se manifesta como
hesitação, incerteza, indecisão.
• É preciso aprender a pensar de modo inclusivo e não
apenas de maneira fragmentadora ou analítica.
Aprender a associar sem fundir, distinguindo sem
separar formas de conhecimento, de atitudes, de
pessoas, de situações.
• Escreve Mariotti que, em geral, nosso primeiro impulso é
não levar em consideração aquilo com que não
concordamos. Se nos sentimos desconfortáveis, não
pensamos duas vezes: eliminamos o desconforto,
fugimos dele o mais rapidamente possível.
• Ao fazer isso, com frequência perdemos boas
oportunidades de perguntar a nós mesmos: se nossas
ideias, convicções e pontos de vista são tão corretos e
sólidos, por que temos tanto receio de pô-los à prova?
• Muitas vezes, é necessário dar atenção a pessoas e
ideias das quais discordamos com veemência. Tal
atitude permite uma tensão criativa, da qual podem
surgir ideias e soluções inovadoras.
• Isso não é possível se ficamos presos à lógica binária:
ou isto ou aquilo. O pensamento complexo vai além
desta lógica. Mantém-se aberto, convive com os
opostos, busca um diálogo em vez de um monólogo.
• Para aprofundar a compreensão do pensamento
complexo ou paradigma da complexidade, recomenda-
se a leitura de livros de Edgar Morin, que é o autor da
obra mais extensa sobre esta temática. Veja-se por
exemplo http://www.multiversidadreal.org/ .
• No capítulo 5 Mariotti faz uma breve introdução às ideias
deste autor e apresenta algumas informações sobre
outros autores, institutos de pesquisa, de consultoria,
etc.
• Ele trata por exemplo da Business School São Paulo
(BSP), coordenada por ele. É uma escola de negócios
em nível de pós-graduação, que visa “qualificar
indivíduos e organizações para atuar como líderes
éticos no Brasil e no mundo”.

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