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REI BEBÊ

Rei Bebê
 Esta literatura debruça-se sobre a personalidade do
Rei Bebe – os traços infantis visíveis nas pessoas
que atingiram a idade adulta sem adquirir
maturidade emocional. Não só têm estes traços que
ser rendidos antes que se possa suspender
inteiramente a dependência química – a presença
desta personalidade de Rei Bebe pode acelerar a
adicção ou conduzir à recaída
O Dr. Harry Tiebout utilizou as palavras
“Sua Majestade o Bebe”, do psicanalista
Sigmund Freud, para descrever uma atitude
inata. O termo Rei Bebe poderia ser de
forma igualmente adequada Rainha Bebe
porque, provavelmente, todos nós temos
este ego infantil no nosso inconsciente.
Os adictos têm de estar particularmente
conscientes das características do Rei Bebe,
pois essas atitudes e comportamentos
podem interferir na sua recuperação.
O reconhecimento da impotência é à base da
rendição, mas o ato da rendição surge com a aceitação
total dessa impotência. Muitos de nós, que sentem
dificuldades com o Primeiro Passo, são capazes de
reconhecer a sua impotência, mas não estão dispostos
a aceitá-la. Por outras palavras, somos capazes de vê-
la e compreendê-la, mas a nossa necessidade de
controle nos impede de comprometermos-nos com
este ato da rendição que é tão necessário. Os nossos
egos interferem. A nossa imaturidade exige que
conservemos o controle. A nossa mentalidade de rei
Bebe insiste em que dirijamos a nossas vidas e
controlemos as nossas vontades. Ao proceder assim, o
Rei Bebe impede a nossa recuperação saudável.
Nesta Literatura, aprenderemos a identificar
o eu infantil do Rei Bebe que existe dentro
de nós. Temos de renunciar aos traços
infantis da nossa personalidade para que a
nossa doença possa ser totalmente
dominada. A personalidade compulsiva do
Rei Bebe pode acelerar a adicção ou
conduzir à recaída. Temos que nos manter
conscientes destas tendências ao
trabalharmos o nosso programa de
recuperação dos Doze Passos, nos Alcoólicos
Anônimos ou nos Narcóticos Anônimos.
QUEM É O REI BEBE?

 Para compreendermos o Rei Bebe, vamos


imaginar por um momento que estamos
voltando ao ventre da nossa mãe. Aí, sentimos
calor, segurança, conforto, liberdade e poder.
Todas as nossas necessidades são satisfeitas.
Somos o centro do nosso universo. Tomam
conta de nós só pelo fato de existirmos e isso
nos satisfaz totalmente.
A infância também encoraja as nossas atitudes de
Reis Bebes. As nossas exigências de alimento,
atenção e carinho são imediatamente atendidas.
Somos, de novo, o centro de um reino; os nossos
desejos são da máxima importância. Através dos
processos naturais de maturação da infância e do
estado adulto, a maior parte da mentalidade de Rei
Bebe é abandonada e substituída por atributos que
permitem uma maior capacidade de adaptação.
Alguns de nós, no entanto, fomos avançando
através dos estágios do desenvolvimento
físico sem nos desprendemos desta criatura
imatura o Rei Bebe. Para nós, o Rei Bebe
nunca esquece a aconchegada e maravilhosa
segurança da vida pré-natal e infantil e
tentará constantemente voltar a experimentá-
la. O Rei Bebe luta para reconquistar a
felicidade total que advém de todas as
necessidades serem satisfeitas.
CARACTERÍSTICA DO REI
BEBE
 Ao tentarem recuperar a segurança da infância,
o Rei Bebe continua funcionar com base nos
mesmos sentimentos que, muito tempo atrás,
tanto os gratificaram. Tiebout (01) afirma que
“quando os traços infantis se mantêm na idade
adulta, diz-se que a pessoa é imatura” e esta
imaturidade está ligada aos traços de
sentimentos de onipotência, incapacidade de
aceitar frustrações, e fazer as coisas depressa -
imediatismo.
Os Reis Bebe partilham uma grande
variedade de traços de personalidade.
Nenhum de nós possui todos estes traços,
mas descobriremos provavelmente muitos
que nos descrevem. Os Reis Bebe podem
apresentar as seguintes características:
•Ficam muitas vezes irritados com as
pessoas que representam a autoridade ou
com receio delas, e tentam colocar umas
contra as outras de modo a conseguirem o
que querem.

•Procuram aprovação e freqüentemente perdem a


sua própria identidade no decorrer do processo.

•São capazes de causar uma boa primeira


impressão, mas incapazes de a mante-la.
•Têm dificuldades em aceitar críticas
pessoais e sentem-se ameaçados e irados
quando são criticados.

•Têm personalidades adictivas e deixam-se


levar a extremos.

•Não se aceitam ou alienam-se de si


próprios.

•Ficam muitas vezes imobilizados pela ira e


frustração e raramente estão satisfeitos.
•Sentem-se geralmente sozinhos, mesmo quando
rodeados de pessoas.

•Estão sempre a queixar-se e culpam os outros do


que lhes acontece de mal na vida

•Sentem que não são apreciados e que não


pertencem.

•Vêem o mundo como uma selva cheia de pessoas


egoístas que não estão disponíveis para ele

•Encaram tudo como uma catástrofe, como uma


situação de vida ou de morte.
•Julgam a vida em termos absolutos: preto
ou branco, certo ou errado.
•Vivem no passado, ao mesmo tempo em
que receiam o futuro.
•Têm fortes sentimentos de dependência e
um medo exagerado do abandono
•Têm medo do insucesso e da rejeição e não
tentam fazer coisas novas em que possam
vir a falhar
•Têm a obsessão do dinheiro e das coisas
materiais
•Sonham com planos e esquemas
grandiosos e têm pouca capacidade de
fazer com que eles aconteçam

•Não podem tolerar a doença neles ou nas


outras pessoas

•Preferem agradar aos superiores e


intimidar os subordinados

•Acham que as regras e as leis são para os


outros e não para eles próprios
A CRIANÇA ASSUSTADA E O REI BEBE

 Muitos adictos têm dentro de si uma garotinha ou


um garoto assustado, solitário e envergonhado que
murmura contra si próprio os pensamentos
derrotistas, baseados numa vida inteira de
mensagens negativas. Constantemente se comparam
aos outros e sentem que não estão à altura deles.
 Estes sentimentos de falta de valor próprio, de
culpabilização, e de não pertencer, tornam-se o
núcleo central da nossa personalidade. O Rei Bebe –
um ser egoísta e exigente – emerge como reação a
estes sentimentos de vergonha e de inadequação.
Ao lutarmos de forma infantil para sermos
aceitos e agradarmos aos outros, começamos a
procurar coisas exteriores para nos sentirmos
melhor por dentro. Vestuário de alta costura,
carros de corrida, namoradas ou namorados,
drogas e a excitação, de uma vida frenética
ajudam a acalmar o nosso sofrimento. Criamos
uma aparência atrativa, magnética, encantadora
para conseguirmos o que queremos. Usamos
expedientes como a procura do prazer, a procura
do poder e a procura de atenção para encher o
vazio, mas o vazio mantém-se. Não há amor,
dinheiro ou fama suficientes para a criança
assustada que existe em nós.
Considerando tudo isto como uma fraqueza, à
parte de nós que corresponde ao Rei Bebe
tentará destruir, atacar e pôr de lado a nossa
criancinha assustada. Ao negar estes
sentimentos, o Rei Bebe encobre, em última
análise, o fato de a criancinha assustada
existir
A luta interior

 Compreender o Rei Bebe é difícil porque as coisas nunca são


aquilo que aparentam ser à superfície. Existem dois fatores
principais de motivação: em primeiro lugar, a criança assustada,
solitária, que não quer ser mais magoada e, em segundo lugar, o
Rei Bebe que nunca está satisfeito.
 Quando a criança receosa que existe em nós ouve a palavra
não, uma mensagem interior diz-nos que somos maus. Sentimo-
nos amados quando somos acarinhados, e não amados quando
nos corrigem ou nos chamam a atenção. Quando somos
criticados, a nossa imaturidade insiste no direito de fazermos o
que entendemos e argumenta que, se somos amados, os outros
devem deixar-nos fazer o que queremos.
Muitas vezes, as nossas manipulações permitem-
nos ganhar. Ambas estas facetas – a criança
medrosa e o Rei Bebe exigente – ficam
temporariamente satisfeitas se criarmos a pessoa
que pensamos que os outros querem que
sejamos. No entanto, a base para uma
recuperação duradoura será a criança assustada
readquirir o sentimento do próprio valor
aprender a controlar os comportamentos de Rei
Bebe.
O problema

 As pessoas em recuperação têm geralmente


consciência das muitas ameaças a que está sujeita a
sua sobriedade. Os programas dos Doze Passos são
concebidos para nos ajudarem a enfrentar e
ultrapassar os nossos defeitos de caráter. A
imaturidade, que constitui um problema para muitos
de nós, é um reduto do Rei Bebe em cada um de
nós. Poderá ser necessário reconhecermos este
defeito e ultrapassá-lo se quisermos continuar a
nossa recuperação.
O Rei Bebe em nós nos diz que temos razão –
os outros estão errados. Muitos de nós
defendemos a nossa opinião sob qualquer
circunstância sempre que nos tenhamos
sentido ameaçados. Os Reis Bebe atuam
muitas vezes como se fossem o seu próprio
Poder Superior, tomando decisões baseadas
nos seus juízos em relação a si e aos outros. O
Rei Bebe que existe em nós nos diz que
deveríamos ser capazes de ser bem sucedidos
em tudo o que empreendemos. Existe em nós
o sentimento de sermos destinados à
grandeza.
 
O MITO DO REI BEBE

 A mentalidade de Rei Bebe é comandada por três


motivações – poder, atenção e prazer. Tentamos arranjar
amigos sendo excessivamente simpáticos e amáveis.
Podemos estar a agarrar-nos às pessoas. Tentamos
freqüentemente controlar ou dominar. Impomos condições
em quase tudo o que fazemos, o que cria situações de
dívida para conosco e com os demais. Receamos que o
nosso verdadeiro eu seja rejeitado, por isso apresentamos
ao mundo uma pessoa falsa e inventada. Isto nos protege
de sermos magoados. Cada uma das personalidades ou
jogos que inventamos tem por base uma falsa promessa
ou mito.
 
MITOS E VERDADES DO REI BEBE

 A Pessoa Popular
 Mito Se eu for simpático, atrativo, magnético e for
a pessoa que anima as festas, você vai querer ser
meu amigo.
 
 Verdade Querendo ser tudo para todos, perdemos o
nosso verdadeiro eu no processo. O jogo acaba
quando os outros compreendem que não existe
nada por detrás dos falsos sorrisos
O Tirano/Ditador

MitoSe me obedecer e se puser debaixo do


meu controle total, eu protejo-o do caos.
Verdade Se pensamos que nascemos chefes,
capazes de dominar qualquer crise,
esperamos que os outros se ponham
confiantemente nas nossas mãos. Mestres no
sarcasmo mantemos nossos súditos no seu
lugar com comentários cruéis. O fim do jogo
dá-se quando os “súditos” se recusam a
obedecer.
O Conquistador
MitoSou irresistível para o sexo oposto. Parte
da minha capacidade de atração vem da
minha falta de respeito pêlos outros. Espero
amor, atenção, riqueza e poder em troca do
privilégio da minha companhia.

Verdade Estamos metidos numa competição


feroz para ocupar o centro do palco e somos
incapazes de nos comprometer numa relação.
O jogo acaba quando os outros tomam
consciência da frivolidade do conquistador.
A Pessoa Bonita

MitoJuventude, um corpo bonito e uma cara


atrativa são as qualidades essenciais para eu
ser amado e aceito.

Verdade Tentamos viver apenas à custa das


aparências. O jogo acaba quando os outros
se fartam da criança que exige que lhe
confirme constantemente a sua capacidade
de atrair.
A Pessoa que entretém

Mito Se eu conseguir entretê-lo com a minha


música, o meu espírito ou qualquer outro talento,
você vai admirar-me e adorar-me.
Verdade Só nos sentimos aceitos se os outros
ficarem entusiasmados com os nossos talentos e
procurarem a nossa companhia para se distrair.
O jogo acaba quando os outros se fartam de
terem de estar sempre na posição de
admiradores ou quando perceberem que não
temos qualidades humanas e afetivas que
contribuam para uma relação.
O Perfeccionista

MitoNão valho nada se não conseguir ser o


melhor naquilo que faço.
Verdade Ninguém é sempre o melhor ou
mais bem sucedido, mas tentamos valorizar-
nos especializando-nos em fazer algumas
coisas bem feitas. O fim do jogo chega quando
tomamos consciência da futilidade de tão altas
expectativas ou quando os outros se cansam
da nossa competitividade.
O Simpático

MitoSe eu for simpático e amável com todos,


as pessoas gostarão de mim.

Verdade O nosso medo da rejeição leva-nos


a procurar a aprovação constante de todos.
O fim do jogo acontece quando verificamos
que não podemos agradar a todos ou
quando os outros se cansam da fraqueza das
nossas atitudes.
O Rebelde

MitoTenho de fazer as coisas à minha vontade,


senão... As regras são para outras pessoas. Se
me disser para não fazer uma coisa, é como se
agitasse uma bandeira na minha cara e me
desafiasse a fazê-la.
Verdade Nós, os rebeldes, acarretamos
geralmente com as conseqüências ou o castigo
que merecemos ou que pedimos. O fim do jogo
vem quando nos aborrecemos de pagar o preço
que o fora da lei tem de pagar e abandonamos
este comportamento.
O Mártir

MitoMereço sofrer. Eu não conto. Ninguém me


compreende. Pobre de mim. Considero a sua
piedade como uma expressão de amor.

Verdade Confundimos amor com piedade e


pensamos que sacrificando-nos nos
protegemos do abandono. O jogo acaba
quando nos fartamos de sofrer e
compreendemos que merecemos o melhor.
A Pessoa que não participa

MitoSe não jogar o mesmo jogo que eu recuso-


me a jogar.

Verdade Paralisados pelo medo do insucesso


e da rejeição, não empreendemos nada e
sentimos que o mundo tem uma dívida para
conosco. Temos tão pouca coragem e tanto
pessimismo que desistimos antes mesmo de
começar. O fim do jogo dá-se quando os outros
se fartam de não receber nada em troca.
O CÍRCULO VICIOSO

 Todos estes jogos começaram com alguma


esperança de sucesso, mas escorregaram para a
frustração e o fracasso. Uma vida de Rei Bebe
acaba por tornar-se numa situação extrema de altos
e baixos. Os recomeços são sempre seguidos de
desfechos dolorosos. Este Bebes tornam-se adictos
da emoção que o sucesso traz e, mais importante
ainda, adictos também à dor do insucesso.
O Reis Bebe não podem suportar o
aborrecimento que advém das coisas
correrem bem demais e criam situações de
crise ou de confusão. Uma vida de agitação
disfarça os problemas e diminuem a sua
responsabilidade pelos fracassos. O caos os
impede de observar como a sua auto-estima
está em constante diminuição. O fato de ter
acabado o interesse por jogos resulta na total
ausência de quaisquer sentimentos. É
previsível que a personalidade do Rei Bebe
irá se tornar dependente de qualquer coisa. É
só uma questão de tempo.
A COMBINAÇÃO FATAL

 Agarrada a uma vida de excesso e sujeita a sentimentos de baixa


auto-estima, uma pessoa imatura tem uma vida pouco compensadora,
mas não necessariamente desgraçada. Mas, qualquer coisa acontece a
um adicto quando o estilo de vida de Rei Bebe e a pouca auto-estima
se combinam com a experiência de ficar usado. Esta “qualquer coisa”
pode ser uma combinação fatal. Aqueles sentimentos calorosos,
agradáveis e confiantes da infância - aquilo que procuramos toda a
nossa vida – é de novo alcançado. O efeito reconfortante e anulador
do medo que o químico oferece, corresponde exatamente àquilo que
os nossos egos de Reis Bebes têm procurado. Quando a relação de
amor com as drogas toma conta de nós, todos os aspectos da nossa
vida escorregam progressivamente para um comportamento mais
excessivo e imaturo.
O CATALISADOR

 O sistema de defesa do Rei Bebe, sempre negando


qualquer problema, já se encontra bem definido e
acelera a queda do adicto para o fundo de poço. O
inimigo está dentro de nós, e o uso da droga liberta
as nossas frustrações, raivas, ressentimentos, medos
e dúvidas reprimidos, como um foguete que decola
para a lua. Regressa a sensação maravilhosa do
útero, e o Bebe anda radiante por dentro e por fora,
excitado e confiante com a descoberta desta euforia.
O ego torna-se um doido furioso, exigindo ser
constantemente alimentado através de uma série de
diversões e excitações que nos atiram a alta velocidade
para o aumento progressivo da adicção. Rapidamente
nos tornamos adictos e atingimos o fundo em metade
do tempo que levou aos que nos antecederam.
Cego pela maravilhosa sensação desta euforia perfeita,
o Bebe que existe em nós põe de lado aquilo que resta
da sua consciência e sistema de valores. Dispondo de
todo um sistema incorporado de estreita visão e
audição reforçados pelo auto engano e negação, somos
capazes de nos manter completamente ignorantes a
respeito do estado a que chegamos.
FARTO DE ESTAR FARTO

 Exausto devido a um estilo de vida que exige tudo


com rapidez, planejando sempre ganhar, tentando
freneticamente levar a melhor, temendo as
consequências e os desfechos e pretendendo ser
tudo para todos, o Bebe que existe em nós acaba
muitas vezes por fazer uma parada brusca.
Quando o enjôo e o pânico provocados pela sensação
de ter um nó no estômago transforma-se num medo
devastador e num terror que nos consome totalmente,
chegamos no fundo. O Bebe não pode imaginar a
vida sem químicos e tem medo de continuar
indefinidamente nesta corrida feroz que não tem fim.
Amarrado ao modelo deste comportamento que se
repete e não consegue fazer diferente, o Rei Bebe está
muito paralisado pelo medo para que possa enfrentar
o dia seguinte. A recuperação pode ser adiada pelo
ego imaturo que continua a insistir que tem razão –
“Posso fazer seja o que for. Não preciso de ajuda”. O
“tempo certo” é muito importante, porque agora o
Bebe está vulnerável e pode ser ajudado.
ADMITIR A DERROTA, ENCARAR A REALIDADE.

 Admitir que da nossa maneira não obtemos resultado e


enfrentarmos o fracasso, abrirá as portas a um mundo de
sofrimento. Rapidamente, o nosso Rei Bebe passará da necessidade
de ajuda, ao sentimento de desespero, de ser otimista a achar que
não podemos mudar. Ficaremos atolados no pântano do nosso
desespero esperando ser salvos, enquanto exigimos um certificado
de garantia para o sucesso antes de enfrentarmos os nossos medos e
começarmos a agir. Nesta altura, podemos aceitar a mão dos A.A.
ou dos N.A., vindos ao nosso encontro através de outro Rei Bebe
alcoólico ou toxicodependente, que nos assegura que os Doze
Passos funcionam, antes de fazer o Primeiro Passo, o Rei Bebe
precisa confiar em que “Se os outros são capazes, eu também sou”.
A forma de escapar à ratoeira do Rei Bebe é
pensar “Eu não sou capaz, nós somos capazes”.
Render-se ao estilo de vida dos doze passos pode
dominar o poder do Rei Bebe e pode ajudar-nos a
encontrar um Poder Superior que trabalhe para
nós.
Podemos aprender o verdadeiro sentido do
perdão, da humildade e da gratidão. Podemos
aprender a evitar as armadilhas do Rei Bebe e a
nos sintonizar nos Doze Passos.
Podemos aprender novamente a nos divertir
outra vez, ao mesmo tempo em que adquirimos
uma compreensão nova e mais profunda da vida.
CURAR A NOSSA CRIANCINHA ASSUSTADA

 Servindo-nos de todo o amor e apoio do nosso


grupo dos Doze Passos, teremos de empreender
uma viagem interior a fim de encontrar aquela
parte de nós, o “mau” rapazinho assustado ou a
“má” mocinha assustada, que tanto tempo
ignoramos. Podemos imaginar-nos entrando no
quarto dele ou dela e vendo a criança chorando
num canto.
Podemos tornar-nos pais amantes e
carinhosos dessa criança que existe dentro de
cada um de nós. Como qualquer pai faria,
encorajamos a criança a aproximar-se, sentar-
se perto de nós e explicar o que está
acontecendo de mal. Então, ao pegarmos essa
criança podemos dizer “Está tudo bem”, e ao
limparmos carinhosamente as suas lágrimas,
fazemos com que ela saiba que é amada, que
é um belo ser humano e que está em
segurança.
OS CUIDADOS DENTRO DOS A.A. E DOS N.A.

 Existe dentro dos grupos dos Doze Passos um sentimento


de ternura, calor e segurança que vai ao encontro dos
recém-chegados com a mensagem “És amado só porque
existes, e eu vou gostar de ti antes mesmo de te tornares
merecedor de seres amado”. Esta é a promessa dos A.A. e
dos N.A. – amor incondicional. A única coisa que se
espera é um desejo sincero de parar de beber ou de usar.
Isto corresponde ao ventre acolhedor e aconchegante que
o Bebe tem procurado sempre. A família carinhosa e
atenta dos Doze Passos é genuína e está em nítido
contraste com a falsa segurança do álcool e de outras
drogas.
AMAR-SE A SI PRÓPRIO

 Lentamente, o Bebe em recuperação começa a


adquirir o respeito por si próprio através dos Doze
Passos. É um trabalho difícil mudar completamente
a vida de uma pessoa, mas os A.A. e os N.A. estão
sempre presentes como guias. Através deste
programa começa a florescer a consciência da
dignidade pessoal. Nasce através da descoberta,
disciplina, perdão e aceitação da própria pessoa.
Gradualmente, a criancinha medrosa aproveita a
oportunidade de desenvolver o amor por si.
AMAR E SER AMADO

 Não faz mal se as pessoas no nosso grupo dos Doze Passos


gostarem de nós antes de nós gostarmos de nós mesmos. O
que importa é que agora gostamos mais de nós. Gradualmente,
havemos de explorar e descobrir todas as qualidades
maravilhosas que possuímos.
 Para um padrinho é muito gratificante observar o afilhado
descobrindo os seus talentos maravilhosos e únicos. Cada um
aprende com o outro, enquanto atravessam as provas do
começo da sobriedade. Os padrinhos fazem isto para
conseguirem ficar sóbrios; mas, ao fazerem isto, reforçam
tudo quanto aprenderam. Observar o recém-chegado a
regressar à vida é uma emoção que constitui recompensa
suficiente.
LIBERDADE

 Voltar à vida com o sentimento da nossa dignidade


e ficar ligados a um padrinho, nos preparar para a
próxima fase.
 A nossa imaturidade obrigou-nos a passar a vida
optando pelo poder exterior para nos sentirmos
bem por dentro. Nos vendermos por um sorriso era
escravidão. O bem estar não vem das outras
pessoas, lugares ou coisas, mas de dentro.
Recuperar o poder pessoal passa por admitirmos
primeiro a nossa impotência em relação aos outros.
Todos nós precisamos assumir a responsabilidade
pelo nosso próprio valor e dignidade. O nosso valor
próprio não depende do que os outros dizem ou
fazem, mas antes de como reagimos aquilo que os
outros dizem ou fazem. Existem escolhas quanto à
forma como reagir. Reagir com medo, raiva ou
ressentimento leva pessoa a sentir que não tem
valor. Aceitar o fato de que nem todo mundo irá
estar de acordo conosco, e talvez nem mesmo gostar
de nós, é ser realista.
RENDIÇÃO: SER DEUS OU ACREDITAR EM DEUS

 É um grande alívio não nos sentirmos


obrigados a tentar governar todo o universo.
Na rendição, devolvemos essa tarefa a um
Poder Superior que, por seu turno, enche as
nossas almas com o calor, o conforto e a
serenidade que há tanto tempo estamos
procurando. Mais uma vez, isto é semelhante
ao que sentimos no útero.
Antes da Rendição Depois da Rendição

frustrado em segurança
zangado protegido
tenso descontraído
nervoso grato
sem saída aberto
em pânico capaz de ser ensinado
com medo com boa-vontade
culpado honesto
envergonhado esperançado
com dúvidas em paz
derrotado sereno
ressentido tolerante
vazio realizado
PERDÃO

 Deus não faz coisas mal feitas. Cada um de nós é uma


pessoa única – um alguém, não um ninguém. Em todo o
mundo não há mais ninguém igual a nós. Temos que nos
deixar fascinar por nós mesmos e tomar consciência de
como somos fortes. O Rei Bebe que existe dentro de nós
desenvolveu uma larga variedade de energias associadas aos
talentos que Deus nos deu, e devemos aprender a apreciar
essas energias. Podemos aprender com o passado e entregá-
lo. Podemos deixar de ser o juiz, o júri e o carrasco que nos
condena. Sabemos que o nosso Poder Superior nos perdoa.
Agora é o momento de lhe darmos espaço. Devemos parar
de nos julgar e sair do seu caminho.
HUMILDADE

 “Meu Deus, como é difícil ser humilde quando se é perfeito


em tudo”. Quando Mac Davis cantou esta canção, por toda
parte os Reis Bebes coraram, sabendo que ele estava a
referir-se a eles. Já sabemos agora que o orgulho constitui
grande parte do problema do Rei Bebe. O que precisamos
aprender é que o orgulho pode ser positivo. A humildade é
uma aceitação de ser igual, nem melhor nem pior. Ser igual é
também ser honesto, aberto e vulnerável, o que é difícil, mas
possível agora. Sentindo-nos livres de sermos nós com
capacidade de aprender e de sermos flexíveis. Para
continuarmos a crescer e evitarmos as recaídas, a humildade
tem que ser constantemente mantida.
CULPA

 A máquina da culpa, ou seja, a consciência do Rei Bebe


está avariada. O Reis Bebe “apagam” os seus
comportamentos e perdem os seus sistemas de valor
durante o processo. Tendo consciência disto, reagem
exageradamente e castigam-se constantemente por
serem humanos. Até que o Rei Bebe que existe em nós
encontre o equilíbrio e um novo conjunto de valores,
teremos de contar muitíssimo com os nossos padrinhos.
Uma boa regra de conduta se nos sentirmos culpados,
será não procedermos assim. Temos que descobrir em
que é que acreditamos e viver de acordo com isso.
USAR AS NOSSAS PERSONALIDADES ADICTIVAS

 Sabemos que temos personalidades adictivas. Por


que não tentarmos ser dependentes a qualquer coisa
que seja positiva para nós­? Podemos escolher
alguns mini-objetivos ou coisas que possamos fazer
todos os dias. Podemos criar uma divertida,
positiva, e até apaixonada, ligação amorosa com
determinado programa de exercícios. Se quisermos,
podemos voltar para a escola.
DESENVOLVER UMA RELAÇÃO PESSOAL COM O
NOSSO PODER SUPERIOR

 Devíamos perguntar-nos que gêneros de Poder


Superiores têm e como vamos contatar com Ele ao
lermos as nossas meditações diárias. Podemos escolher
um tema segundo o qual viver o dia-a-dia, lembrando-
nos que uma atitude positiva não é automotiva, mas
vem com a prática e um trabalho apurado. Quanto
mais as nossas expectativas diminuírem mais a nossa
serenidade aumenta. Podemos praticar a aceitação em
relação a nós e aos outros.
 
INVENTÁRIO DIÁRIO

 Cada noite deveria registrar as coisas positivas que


fizemos e as coisas boas que nos aconteceram. Isto
põe em evidência que devemos a nós mesmos
algum crédito por aquilo que realizarmos. Podemos
rever calmamente os nossos erros e admitir
prontamente aquilo em que erramos
RELAÇÕES COM O SEXO OPOSTO

 A nossa recuperação é seriamente posta em risco ao


começarmos uma relação cedo demais. Ao experimentar
o sofrimento que a recuperação causa, o Rei Bebe em
nós procura muitas vezes novas relações para aliviar a
dor do crescimento. Permitir que isso aconteça é
semelhante a um inseto que se deixa atrair pela chama,
e o Rei Bebe muitas vezes cria uma relação de
dependência e usa essa relação como uma droga para
ficar eufórico. Isto põe a nossa recuperação em perigo
ou, ainda pior, pode provocar a recaída
A nossa imaturidade pode Ter-nos impedido de
saber o que é ou como Ter uma relação saudável.
Tudo o que sabemos é possuir, invadir, exigir,
atacar e conquistar. Adoramos a lua de mel, mas
fomos incapazes de agüentar os altos e baixos de
uma relação. As emoções intensas de uma relação
nova poderiam causar a perda da nossa
sobriedade recém-encontrada.
“TEM DE MUDAR TODA A VOSSA VIDA”,
DISSE O ORADOR

  Imagine por um momento alguns escutadores


estereofônicos permanentes com os quais um ouvido
ouve o Rei Bebe e o outro ouve o A.A. Os nossos
códigos de chamada serão R.B.B. e N.A.A. (N para o
“nós” dos A.A.). Temos a escolha de ligar quer para
R.B.B. quer para N.A.A. R.B.B. representa os
pensamentos negativos (01), ou seja, os pensamentos
que poderão nos levar à recaída, enquanto. N.A.A.
representa a recuperação. Se desafiarmos a forma de
pensar à R.B.B. e sintonizarmos para N.A.A.,
poderemos começar a mudar os nossos comportamentos.
A ATITUDE A TER É DE GRATIDÃO
 

 Aprendemos finalmente a apoiar, alimentar e


acarinhar a nossa criancinha receosa. Decretamos
tréguas com o nosso lado de Rei Bebe e tornamo-
nos capazes de controlar o que se passa dentro de
nós. Nunca ocorreu ao Rei Bebe que uma pessoa
pudesse ser auto-disciplinada e viver uma vida
normal e, apesar disso, estar realmente “na onda” e
ter vida. Podemos agora desenvolver uma
serenidade interior que o Rei Bebe nunca pensou
ser possível.

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