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(1806-1873)

Prof. Ricardo Feijó


ornou-se o mais influente economista clássico após Ricardo.

rinta e poucos anos separam as respectivas idades, portanto


Mill foi o jovem economista mais bem sucedido a dar
prosseguimento à Economia Clássica, mantendo o prestígio
da escola, ampliando o raio de suas reflexões e renovando-a
em alguns pontos.

ilho de James Mill, também notável economista, ele seguiu


as influências do pai na formulação de suas idéias.
esde a infância, deve-se a um cuidadoso projeto
pedagógico inspirado nas doutrinas educacionais de
Helvetius e Bentham.

uando criança, ele foi afastado do convívio, tido como


contagioso, das demais crianças e submetido a rigoroso
programa de aulas particulares e acompanhamento
pessoal levado a cabo, de início, pelo próprio pai.
Ensinou-lhe grego e aritmética aos três anos de idade.
onhecimentos em história, filosofia clássica, poesia,
álgebra e geometria lhe foram precocemente
transmitidos e assimilados antes dos 12 anos.

partir de então, o aprendizado concentra-se em


lógica silogística e já inicia os estudos de Economia
Política.
ustin, professor de Direito, e David Ricardo auxiliando
a formação de economista.

té os 28 anos de idade, manteve-se inteiramente


imerso na visão da Economia clássica e na doutrina
ética do utilitarismo de Bentham.

epois sua vida conhece um período conturbado, onde


as crenças e os valores passados são revistos e
parcialmente alterados, sob influência do romantismo
alemão e do positivismo francês de A. Comte.
om o falecimento do pai, Mill resolve se manter na
carreira do serviço público que ele havia iniciado
muito tempo antes seguindo o exemplo de James.

mbos atuaram na Companhia das Índias Ocidentais.


Mill foi promovido como Encarregado nas relações
com a Índia, função que lhe transmitiu grande
experiência na gestão pública.
o lado do emprego regular, ele envolveu-se na
organização de periódico voltado à difusão de reformas
radicais na sociedade.

anteve-se em intensa atividade intelectual, atraído tanto


pela lógica, na qual procurou conciliar a lógica indutiva
com a experimentação, quanto pela Economia Política.

a primeira área, publica em 1843 o livro Sistema de Lógica


e na outra área, cinco anos depois, a sua obra máxima
em Economia, os Princípios de Economia Política.
ambém exerceu influência marcante na trajetória
intelectual de Mill a figura feminina de Harriet
Taylor.

or duas décadas Mill manteve sentimento


platônico pela mulher casada que o encantara, até
que esta se tornou viúva e então contraiu novo
matrimônio, agora com ele, em 1861.
arriet intensificou em Mill o interesse pela bandeira
do feminismo e também pelas causas humanitárias.
Foi quando ele escreveu alguns livros sobre
liberdade e democracia e passou a militar em prol
de suas causas nos últimos anos de vida.

efendeu o voto feminino e em 1865 tornou-se


membro do Parlamento Britânico, onde pode
promover algumas das medidas que advogava.
ill não se destacou apenas como economista, seus escritos
cobrem diversas áreas ligadas ao pensamento político e social.

relação entre a Psicologia e a Etologia (o estudo da formação do


caráter individual e grupal), o papel da Sociologia e o lugar
particular ocupado pela análise econômica são temas
recorrentes em suas reflexões.

ill também se destaca no estudo da filosofia moral, onde faz


uma revisão do utilitarismo ético de Bentham, bem como na
discussão do conceito de liberdade e da representatividade no
sistema democrático.

estaque para o tema de metodologia da Economia que se


tornou uma febre entre os economistas da época e onde Mill
era tido como a autoridade principal.
ill preocupou-se em estabelecer explicitamente sua
visão metodológica, ao contrário de David Ricardo.

uanto à Adam Smith, como vimos no capítulo 5, há todo


um arrazoado em filosofia da ciência na sua História da
Astronomia.

lém disso, pode-se inferir da leitura da Riqueza das


Nações a combinação de um método dedutivo de
estática comparativa, que seria consagrado por Ricardo,
em algumas passagens dos livros I e II, com o uso do
método histórico-indutivo nos livros III e IV.
este ensaio, Smith apresenta uma visão da
ciência como uma convenção que liga certos
princípios primitivos a partir dos quais se dá
conta dos fenômenos conectando-os na mesma
cadeia.

a Economia Política, Smith apóia sua análise no


comportamento auto-interessado.
mith pretende julgar as idéias científicas por um critério
mais estético do que propriamente cognitivo, e seu
modelo enfatiza mais a explicação do que a previsão.

método de Smith difere da visão predominante em sua


época, sendo um dos primeiros a ter a coragem de afirmar
que a mecânica newtoniana não representava a verdade,
pois as teorias científicas são máquinas imaginárias.

ada a proeminência do papel ocupado por ele seria de se


esperar que suas concepções metodológicas viessem a
influenciar os autores da Economia clássica.
icardo é contra o empirismo cru e nega que os fatos falem por si mesmo.

eu método é o hipotético-dedutivo, propenso a aplicar modelos


altamente abstratos diretamente na análise da complexidade do mundo
real.

omo hábil político do Parlamento Britânico, ele dizia a seus colegas de


casa que suas conclusões teóricas eram tão certas como o princípio da
gravitação de Newton.

uando Ricardo dialogava com Malthus era mais modesto, afirmando que
seu modelo trata de casos fortes e imaginários só para mostrar a
operação de certos princípios.
 J. chumpeter cunhou, para a tentativa de Ricardo
em minimizar a separação entre conclusões
abstratas e aplicações concretas, a expressão
“vício ricardiano”.
icardo abdicou do elemento histórico e institucional em prol
de um método mais abstrato, acreditando que suas
previsões, como o custo crescente do cereal e a queda dos
salários ao nível da subsistência, não eram tendências
históricas incondicionais, mas previsões sob certos supostos.

althus considerou o método mais indutivo de Smith superior


ao método puramente dedutivo de Ricardo. Malthus
priorizou a construção de teorias mais empíricas e que
cobrissem fatores de curto prazo, não expressando a teoria
apenas tendências.
inquenta anos após a publicação da
Riqueza das Nações, o economista
clássico Nassau Senior promoveu a
primeira discussão sistemática dos
problemas da metodologia econômica
no ensaio Leitura Introdutória em
Economia Política, de 1827, ampliado em
outro ensaio de 1836 intitulado Uma
Visão da Ciência da Economia Política.
o anos de 1836, Mill publica o celebrado artigo Sobre a
Definição da Economia Política e do Método de
Investigação que lhe é Próprio.

om tal ensaio, Mill adquiri a reputação de grande


comentador de questões metodológicas em Economia.

ais de dez anos depois, ele daria importante contribuição


à filosofia da ciência ao tratar do problema da indução, já
colocado por Hume, no ensaio Sistema de Lógica.
s premissas teóricas são derivadas da introspecção ou da
observação casual e não sistemática dos fatos.

s premissas obtidas desta maneira são tidas como


verdadeiras de modo a priori, quer dizer, a certeza delas é
conhecida antes da experiência.

teoria é um processo puramente dedutivo e suas


implicações seriam verdadeiras a priori na ausência do
que Mill denominou de causas perturbadoras.
experiência teria papel
somente na determinação da
aplicabilidade do raciocínio
econômico, não servindo
para determinar a validade da
teoria.
enior e Mill formularam assim os princípios que
governam o método de investigação da Economia.

eus esclarecimentos metodológicos tornaram-se úteis


à ciência econômica num período de intensa
controvérsia de idéias. Após a morte de Ricardo em
1823, assiste-se a um vigoroso debate intelectual
sobre a aplicabilidade e a validade do sistema criado
por ele.
James Mill e John McCulloch
participaram ativamente destas
discussões, mas a construção de uma
metodologia econômica que
fornecesse maior credibilidade à
ciência econômica coube, de fato, a
Senior e Mill.
ra importante por essa época justificar a validade da
teoria econômica e apontar o caminho do seu progresso
científico. Neste período, nota-se o aparecimento de
duas tendências metodológicas: de um lado os que
asseveram que a verdade dos princípios da Economia só
pode ser julgada a posteriori, ao arbítrio dos fatos.

outra tendência viria a considerar os princípios de que


parte o raciocínio econômico verdadeiros a priori. Senior
e Mill adotam esta segunda perspectiva.
enior foi o primeiro, ao que se sabe, a propor a
separação entre ciência positiva e arte normativa.

le também escreve que a Economia repousa em


poucas proposições gerais bem familiares e que
as conclusões decorrentes das proposições são
verdadeiras na ausência de causas perturbadoras.

ill, anos depois, viria a discutir as mesmas


questões de Senior de modo mais cuidadoso e
penetrante, dando ênfase maior na verificação
das conclusões teóricas.
o ensaio de 1836, Mill começa separando ciência de
arte da Economia Política, tomando a mesma idéia
de Senior.

primeira representa uma coleção de verdades


materiais, e a segunda trata de um conjunto de
regras normativas.
o formular os fundamentos da ciência
econômica, Mill afirma que neste domínio do
conhecimento há princípios primeiros que nos
são evidentes e verdadeiros em si mesmos; e
dos quais se tiram inferências que a experiência
singular pode até contrariar.

sses princípios caracterizam a ciência e ajudam a


demarcar os seus limites.
A natureza do processo pelo qual suas
investigações devem ser conduzidas e suas
verdades devem ser alcançadas”
ciência descobre as leis que regem os fenômenos
independentemente de quaisquer finalidades; ela lida com
fatos e produz assim uma coleção de verdades, estabelecendo
“o que é”.

arte negocia com preceitos, ou regras, e estabelece “o que


deve ser”.

maneira de Senior, Mill classifica a matéria da Economia como


ciência mental, preocupada com motivos humanos e modos de
conduta na vida econômica.
ill lança o conceito de “homem econômico”; ser que
existe enquanto se abstrai dele outras paixões e
motivos humanos, exceto o desejo de riqueza e a
aversão ao trabalho.

ão se supõe que a humanidade, de fato, se


comporte assim.
Economia para Mill estuda uma causa isolada para prever e
controlar seus efeitos. Assim, as conclusões da Economia Política
são aplicáveis quando impera a causa isolada por ela.

Economia é tida como ciência moral ou psicológica que trata dos


comportamentos humanos em sociedade orientados pela
obtencão de riqueza (entendida como coisas úteis produzidas
pelo trabalho).

m sua esfera, os homens são guiados apenas por motivações


pecuniárias e predomina nele uma única lei de conduta: a busca
de riqueza.
ill elabora a teoria de um homem fictício, não
tomando o homem tal como ele é. A Economia
Política parte de duas abstrações: a conduta
motivada pela busca de renda monetária e a paixão
irracional pela reprodução da espécie.

última premissa apoia-se na teoria da população de


Malthus e se trata de um segundo impulso de
natureza distinta do primeiro.
ela, não se parte do singular para o geral, não se emprega
o método a posteriori; raciocina-se sobre hipóteses
assumidas, pelo uso da introspecção com base na
observação do semelhante, combinando indução com
raciocínio: é o método a priori.

s hipóteses básicas não são derivadas de observações


específicas de eventos concretos, mas de premissas
psicológicas onde se abstrai os aspectos não econômicos
do comportamento humano.
s princípios não provêem da indução completa,
mas de algo mais complexo: a capacidade
abstrativa da mente e o poder de transposição
mental.

ill trabalha com o método abstrato-dedutivo no


qual opera uma lógica da indução baseada na
certeza subjetiva que garante a objetividade do
conhecimento.
ill estabelece uma demarcação, no plano metodológico, entre
ciências naturais e sociais, ao falar de uma fonte de saber adicional
nas ciências sociais: a compreensão empática.

ill separa as leis da mente das leis da matéria. Estas últimas dizem
respeito ao objeto sobre o qual se age e somente podemos
apreendê-las pela observação empírica.

á as leis da mente referem-se às propriedades do agente.

objeto apresenta uma identidade com o sujeito cognoscitivo capaz


de apreender o objeto pela introspesção ou compreensão empática.
ão apenas a conduta, mas também o mundo interior do
agente está ao alcance da observação científica, por um
processo de transposição da vida psíquica entre
observador e observado.

s leis da Economia são originadas por introspecção e


empatia. São verdadeiras, mas nem sempre aplicáveis. Por
não considerar todas as motivações humanas, as
conclusões da ciência econômica são verdadeiras na
ausência de causas perturbadoras. Para Mill, estas causas
são a única incerteza da Economia Política.

credita ele que as causas perturbadoras têm suas leis


próprias e que também é possível apreender a natureza e a
intensidade do distúrbio de modo a posteriori, somando-se
seu efeito ao efeito decorrente da causa geral.
al método permite identificar as causas perturbadoras e verificar se as leis
que a ciência prescreve são aplicáveis às situações concretas.

contradição entre teoria e eventos reais permite-nos ver em que lugar


atuam as causas perturbadoras, onde a cláusula de ceteris paribus fora
violada.

método a posteriori serve para verificar verdades e não para descobri-las.

falha na verificação não corresponde a refutação, apenas mostra que a


sentença original era insuficiente. O que se imagina ser a exceção de um
princípio é sempre princípio distinto. O fenômeno observado é a
resultante de uma somatória de forças comandadas por princípios
próprios.
m Economia, diz Mill, considera-se apenas a busca
de riqueza. Ela vai descrever apenas as ações que
decorrem deste motivo.

omo conseqüência, as leis econômicas somente


expressam tendências. Elas determinam o curso
exato dos acontecimentos quando não operam
impedimentos. Os princípios são certos, mas as
conclusões incertas.
uito se tem investigado sobre a relação entre a teoria
econômica substantiva de Mill e sua visão metodológica. O
fato é que os Princípios de Economia Política não contém
questões metodológicas e parece mesmo não manter uma
unidade metodológica.

metodologia de Mill busca fornecer sustentação ao sistema


teórico de Ricardo que se encontrava na época abalado pelo
fato de que algumas de suas predições terem sido falsificadas
pela evidência empírica disponível nas décadas de 1830 e 1840.
s implicações das premissas abstratas de Ricardo diziam que o preço
dos cereais tenderia a crescer, ao mesmo tempo em que o lucro do
capital declinaria e os salários permaneceriam constantes no nível de
subsistência.

renda do proprietário das terras cresceria constantemente.

odas as previsões do modelo de Ricardo eram tidas como positivas e


testáveis e não apenas hipotéticas.

fracasso da teoria de Ricardo em prever o que se verificou na primeira


metade do século em questão foi reconhecido por Mill nos seu
Princípios, mas ele tratou de salvar o sistema ricardiano por meio de
“estratagemas imunizadores”.
final, qual o período de tempo requerido para
que o modelo funcione, isto é, quando
operam as forças de longo prazo?

alvez umas poucas décadas não permitam


falsificar as conclusões teóricas, pois é
sempre possível presumir que, neste período,
predominaram as causas perturbadoras que
operam a curto prazo.
metodologia de Mill procura explicitar as regras
adotadas implicitamente por Ricardo, mostrando
desta forma a certeza de sua construção teórica. No
entanto, a defesa de Mill não permaneceu, à época,
isolada de críticas contundentes.

escola histórica inglesa não poupou críticas à teoria


ricardiana e aos escritos filosóficos que procuraram
defendê-la.
m 1875, John Elliot Cairnes voltou-se contra os críticos
de Ricardo. Estando inteiramente convencido da
validade das tendências teóricas ricardianas, Cairnes
foi mais dogmático que Mill contra o empirismo dos
economistas históricos.

Economia, diz ele, não é tão-somente uma ciência


hipotética e dedutiva. Aliás, não há nada de
hipotético em suas premissas. Somente essa ciência
começa com o conhecimento das causas últimas. A
ampla verificação da existência das causas justifica,
portanto, elevado grau de confiança em suas
conclusões.
s leis econômicas, para Cairnes, só podem ser
refutadas mostrando-se que os princípios e as
condições assumidas não existem ou que a tendência
que a lei afirma não segue como uma consequência
necessária da hipótese.

uso do método dedutivo, no lugar do método


indutivo-classificatório, é um sinal de maturidade da
Economia.
A obra está dividida em cinco
partes ou livros.
livro I trata de produção, o livro II de distribuição e os
livros subseqüentes de troca, progresso da sociedade e
governo.
Mill acredita que enquanto as leis da
produção de riqueza têm o caráter de verdades
físicas, a distribuição da riqueza é

“Exclusivamente uma questão de instituições


humanas, depende das leis e dos costumes da
sociedade.”
O fato da produção ser limitada pela
poupança, pelas habilidades, tecnologia, uso de
máquinas e cooperação no trabalho; a lei da
produção decrescente da terra e a lei em que o
gasto improdutivo empobrece a comunidade.
Sobre essas leis ele escreve:

“As opiniões ou os desejos que possam existir


sobre esses diversos assuntos não governam as
coisas em si mesmas.”
No lado da produção, não podemos alterar as
propriedades últimas da matéria e da mente, podemos
apenas fazer uso delas.
No entanto, as normas que regem a distribuição
variam bastante. Isto não significa que um estudo objetivo
da distribuição não seja possível, pois embora as normas
variem de acordo com o tipo de sociedade, uma vez
conhecida e fixada as instituições em estudo, as
conseqüências das normas têm o caráter de leis físicas,
escreve Mill.
o capítulo 1, discutem-se os requisitos para a produção. Diz
que são dois: o trabalho e a presença de objetos materiais
que passam por transformação mediante a atividade humana.

natureza fornece materiais, as energias que cooperam ou


substituem o trabalho humano e outras forças naturais como
a coesão dos corpos e as reações químicas.

odo o trabalho, em última análise, é feito pela força da


natureza. Os homens só precisam colocar os objetos na
posição correta. A essência do trabalho humano é
movimentar coisas.

agente natural possui valor de mercado na medida em que


esteja disponível em quantidade limitada.
 No capítulo 2, Mill discute o “trabalho como agente de produção”.
 O trabalho pode ser aplicado na produção direta, como o trabalho do
padeiro, ou em operações prévias, como os trabalhos do moleiro,
semeador, coletor, arador etc. Todos eles obtém sua remuneração
do preço do pão.
 O preço do bem final remunera todos os trabalhadores envolvidos.
Arados, edificações, cercas etc. são remunerados a partir do pão
feito em diversas safras, até o desgaste total do equipamento;
também se leva em conta no preço do pão o pagamento de
operações de armazenagem e materiais de transporte.
 Mill exemplifica: um arado de 12 anos, em cada ano computa-
se 1/12 do trabalho para fazer o arado. Ou um conjunto de
ferramentas que produz 100 arados: em cada ano usa-se
1/1200 do trabalho para a feitura das ferramentas.
 Há também o trabalho para se produzir mantimentos que
irão sustentar os trabalhadores durante a produção.
Antecipações de alimentos e outros mantimentos para
manter os trabalhadores não serão remuneradas a partir do
preço do pão, no exemplo anterior, já que esse trabalho já foi
remunerado. No entanto, esses adiantamentos aos
trabalhadores dão ao proprietários deles uma remuneração
pela abstenção, que é o lucro com o produto final. Portanto,
o lucro não paga o trabalho mas a espera do capitalista.
 Trabalho na produção de matérias-primas, como alimentos,
que são destruídas em um único emprego.
 Trabalho empregado em fazer ferramentas ou implementos
para ajudar o trabalhador. O trabalho para se obter as
coisas que são usadas como meios imediatos de produção
e que se faz uso repetitivo. Neste caso, o trabalho de
construção delas é remunerado pelo total dos produtos que
contribuem para a produção.
 Trabalho para a proteção da atividade, tais como construções para a
produção, trabalho do soldado, do policial e do juiz que são pagos com
impostos.
 Trabalho para tornar o produto acessível, como os dos
transportadores, dos construtores de meios de transporte, construtores
de estradas, canais etc., negociantes e comerciantes. Todos são
remunerados pelo preço final, que cobre trabalho e abstenção.
 Trabalhos que têm por alvo seres humanos, como os de médicos e
educadores.
 Trabalho dos inventores de processos industriais, trabalho mental e
manual, remunerados também pela produção.
a sociedade complexa é difícil demarcar se o
trabalho é aplicado à agricultura, às
manufaturas ou ao comércio, muitas vezes
servindo ele a propósitos múltiplos. No
entanto, Mill acredita ser possível separar
trabalho produtivo do improdutivo. No capítulo
3 discute o trabalho improdutivo.
 Smith havia definido trabalho produtivo como aquela cujo
resultado é palpável em algum objeto material. Outros
autores, como McCulloch e Say, assimilam o termo
improdutivo ao trabalho que não produz coisa útil ou que é
antieconômico. Há portanto diferentes significados para a
palavra produtivo e improdutivo. Quando se diz que o trabalho
improdutivo não tem por objeto a produção, deve-se ter em
conta que produção não significa necessariamente a
obtenção de matéria. Pois, não criamos matéria...
“Podemos fazer com que ela assuma propriedades, em
virtude das quais se transformam de inútil para útil para nós.”
 Mill conceitua trabalho produtivo como o que cria riquezas,
entendida não como objetos, mas como algo produzido que gera
utilidades. Há três tipos de utilidades produzidas pelo emprego
do trabalho:
1) Utilidades fixas e incorporadas em objetos externos;
2) Utilidades incorporadas aos seres humanos pela educação e
3) Utilidades não incorporados a objetos, tais como música e
apresentação teatral, que geram diretamente utilidades ao invés
de adequar uma coisa para que proporcione utilidade. Nessa
categoria está incluído também a ação do exército e do governo,
mas não o dos comerciantes, que apenas mudam o local do
objeto.
 Essas três categorias de trabalho produzem utilidades,
mas não necessariamente riquezas. As utilidades da
terceira classe não constituem riqueza, já que não são
susceptíveis de serem acumuladas, mas as capacidades
adquiridas pelo homem são riquezas. Assim, trabalho
produtivo para Mill é todo trabalho que é empregado em
criar utilidades permanentes, quer incorporada em seres
humanos, quer em quaisquer outros objetos, animados ou
inanimados. A questão chave é a permanência do
produto, não tanto a sua materialidade.
 O trabalho improdutivo termina no prazer imediato, ele
não aumenta os produtos materiais gerados e até num
certo sentido tornam a humanidade mais pobre.
 Mill também emprega os termos produtivo e
improdutivo para o consumo.
 O consumo improdutivo em nada contribui para a
produção e o produtivo é destinado a manter e
aumentar as forças produtivas da sociedade.
 Então há trabalhos destinados a atender ao
consumo produtivo ou improdutivo, e esta é, para
Mill, a distinção mais importante.
 O livro I dos Princípios de Mill discute ainda a
natureza do capital, capítulos 4 a 6, a
produtividade dos agentes de produção,
capítulos 7 a 9, e as leis que comandam o
crescimento demográfico, a acumulação do
capital e a produção agrícola, capítulos 10 a 13.
 Mill corrige e aprimora proposições que foram
feitas nestes temas pelos autores clássicos já
vistos, não se pretende aqui detalhá-las.
livro II trata da distribuição da riqueza.

omo a distribuição depende das instituições, Mill se


lança a discutir a propriedade privada e o
comunismo, tema importante que merece por nós
exposição detalhada.
 A instituição da propriedade privada pode ter
características variáveis e sua origem na sociedade não se
deve a considerações de utilidade. Mill apresenta dois
grupos de opositores ao princípio da propriedade
individual.
 Os comunistas, como R. Owen, que asseveram ser
desejável a igualdade absoluta na distribuição de
recursos físicos de subsistência e de prazer, e socialistas
como L. B. Cabet que admitem certa desigualdade
fundamentada no princípio de justiça ou eqüidade geral,
em que cada qual deve “trabalhar conforme a sua
capacidade e receber segundo suas necessidades.”
 Na versão socialista, terra e instrumentos de
produção seriam propriedade de comunidades,
associações ou do governo. Também se
enquadram no socialismo, S. Simon e C. Fourier.
 Mill considera o socialismo viável, mas apresenta
uma objeção:
“Cada um estaria constantemente preocupado em fugir da
sua quota de responsabilidade no trabalho.”
 Nas empresas das atuais economias mercantis, comenta
Mill, o trabalhador deve ser vigiado e o trabalho de
controle e supervisão sempre tem o olho do patrão.
 Em um regime socialista, cada trabalhador é
supervisionado pela comunidade inteira. Reconhece Mill
que no sistema de trabalho vigente não há estímulo
para uma maior produtividade do trabalhador e que no
comunismo o trabalho seria executado com maior
eficiência, já que o espírito público seria maior, como no
caso dos padres e monges.
ill se pergunta se o comunismo não poderia levar ao
crescimento demográfico imprevidente. Ao que
conclui negativamente, uma vez que nele a opinião
pública e as punições resolveriam este problema.

distribuição das tarefas entre os indivíduos e as


punições seriam um problema a se resolver no
comunismo, problema difícil mas não impossível.
 Mill lembra que na resposta a essa questão deve-se
comparar o comunismo ideal com a melhor forma de
organização que o regime de propriedade privada poderia
estabelecer.
 Se na origem a propriedade privada foi obtida pela força, não
há hoje em dia relação entre o princípio da propriedade
privada e os males físicos e sociais que se associa a ele.
 A defesa desse princípio passa então pela proporção entre a
remuneração e o trabalho. Há duas condições para a
realização das massas sob quaisquer regimes: a educação e o
controle populacional.
“Qual dos dois regimes se compagina com o
máximo de liberdade e de espontaneidade
humana?”
E em defesa do comunismo argumenta:
“As restrições impostas pelo comunismo
seriam liberdade, em comparação com a
condição atual da maioria dos seres
humanos.”
 Mill critica também a opressão das mulheres.
 Novas regras para a remuneração do trabalho
poderiam tornar o regime de propriedade privada
mais justo.
 Mill demonstra nutrir grande admiração pelos
sistemas filosóficos socialistas, não comunistas,
de Simon e Fourier. O primeiro prega a divisão
desigual da produção, que cada um tenha
ocupações conforme vocação e capacidade e que
as remunerações sejam proporcionais à eficiência
do trabalho e aos seus méritos.
 O que Simon atribui aos governantes é para
Mill um tanto quanto quimérico.
 Fourier não suprime a propriedade privada e
a herança.
 Fourier defende a organização do trabalho
por associações e a distribuição com base
nos talentos, capacidade de trabalho e
dotação de capital.
 Ele defende que os sistemas de propriedade
comunitária deveriam ser tentados.
 No capítulo 2, Mill começa perguntando quais
considerações devem delimitar a aplicação do
princípio da propriedade privada. Define o direito
de propriedade como
“O direito de dispor com exclusividade daquilo
que alguém produziu com seu próprio trabalho, ou
recebeu espontaneamente.”
 Os proprietários dos fundos de capitais, que
representam trabalho anterior acumulado, também
devem ser recompensados pelo trabalho anterior e
pela abstinência.
al direito é o exercício da vontade de dispor de um bem
privado ao bel-prazer do proprietário.

á os proprietários legais, mas também a posse não


contestada dentro de um número de anos deve ser
entendida como propriedade plena.

s leis que defendem a propriedade também asseguram


o direito de transferência na forma de doação
testamentária.
O direito de doação não se confunde com o de herança,
e as leis atuais que regulam este devem ser reparadas.
A herança não faz parte do conceito de propriedade.
Hoje a propriedade é inerente a indivíduos e não a
famílias.
 Se os filhos não devem reivindicar a posse plena dos
bens dos pais, após a morte deles, Mill investiga o que a
lei poderia fazer para ampará-los. Critica os direitos de
herança dos parentes em linha colateral e acredita que
os direitos dos filhos são reais e inalienáveis.
 É preciso garantir a eles uma provisão razoável a fim de
que se mantenha o mesmo padrão de quando seus pais
eram vivos.
 O direito de se fazer doações testamentária, atributo
do princípio da propriedade privada, pode em certas
circunstâncias ser limitado se necessário.
 Mill cita o caso dos direitos à propriedade da terra. Já
que é o proprietário quem melhora as terras, esse
direito deve vir associado às melhorias implementadas
em irrigação, adubo etc. De modo geral, a propriedade
da terra é uma questão de conveniência geral: pode ou
não ser injusta. Além disso, o direito à terra para
cultivo não implica direto exclusivo de passagem.
inda no livro sobre distribuição, Mill discute as
classes entre as quais é distribuída a produção,
capítulo 3, a concorrência e o papel dos costumes
na determinação dos preços, capítulo 4, a
escravatura, capítulo 5, a propriedade camponesa,
capítulos 6 e 7, o sistema meeiro e a posse Cottier,
capítulos 9 e 10.
O capítulo 11 é particularmente de interesse.
Intitulado os salários, nele Mill lança os
fundamentos da famosa teoria do fundo de
salários e a hipótese de trabalho homogêneo.
 Sobre o que determina os salários, ele afirma:
“Os salários dependem sobretudo da procura e da oferta de mão-de-obra; ou então, como
se diz com freqüência, da proporção existente entre a população e o capital. Por
população entende-se aqui somente o número de trabalhadores, ou melhor, daqueles que
trabalham como assalariados; e por capital, somente o capital circulante, e, nem sequer
este em sua totalidade, senão apenas a parte gasta no pagamento direto da mão-de-
obra. A isso, porém, devem-se acrescentar todos os fundos que, sem serem capital, são
pagos em troca de trabalho tais como os vencimentos de soldados, criados domésticos e
todos os outros trabalhadores improdutivos. Infelizmente, não há maneira de expressar
com um único termo comum o conjunto daquilo que se tem denominado o fundo salarial
de um país; e já que os salários da mão de obra produtiva constituem quase a totalidade
desse fundo, costuma-se passar por cima da parte menor e menos importante, e dizer
que os salários dependem da população e do capital. Será conveniente empregar essa
expressão, mas lembrando-se de considerá-la como elíptica, e não uma afirmação literal
da verdade integral.
Ressalvadas essas limitações inerentes aos termos, os salários não somente dependem
do montante relativo do capital e da produção, senão que, sob o domínio da concorrência,
não podem ser afetados por nehuma outra coisa. Os salários (naturalmente, no sentido
de taxa geral de salário) não podem aumentar a não ser em razão de um aumento do
conjunto de fundos empregados para contratar trabalhadores ou em razão de uma
diminuição do número daqueles que competem por emprego; tampouco podem baixar, a
não ser porque diminuem os fundos destinados a pagar mão-de-obra ou porque aumenta
o número de trabalhadores a serem pagos.”
 Na passagem anterior estão explicitados os fundamentos da
teoria do fundo de salários que seria muito criticada a partir dos
anos sessenta do século XVII (vide HPEII).
 Em seguida, no mesmo capítulo, Mill prossegue criticando
opiniões aceitas sobre o que determinam os salários: eles não
dependem da situação dos negócios, nem dos preços elevados,
e nem variam com os preços dos alimentos, como acreditou
Ricardo.
 A discussão sobre os salários prossegue nos capítulos 12 a 14,
onde Mill, relaxando a hipótese de trabalho homogêneo, discute
os diferenciais de salários nas diversas ocupações e algumas
soluções populares para os baixos salários.
 Finalmente, o capítulo 15 discorre sobre os
lucros e o seguinte sobre a renda da terra.
 O livro III discute a questão das trocas de mercado. Lá aparece a versão
milliana da teoria do valor. Sem romper com a teoria clássica, ele
enriquece a compreensão do valor. Mill diz que ele é um conceito para se
discutir a distribuição, mas que na medida em que a distribuição não é
regida pela concorrência, mas pelo uso ou costume, o conceito adquire
menor importância. A questão do valor não afeta a produção, argumenta,
mas é fundamental no estágio social da troca generalizada nos mercados.
Afirma então:
“Felizmente nada resta, nas leis sobre o valor, a ser esclarecido por
mim ou por qualquer autor futuro; a teoria sobre esta matéria está
completa.”
 Ledo engano de Mill, pois anos depois aconteceria a Revolução
Marginalista e, com ela, ampla revisão das teorias sobre valor.
 Mill aponta ambigüidades na aplicação do conceito de valor de
uso por Smith. Em Economia, observa, a utilidade de uma
coisa significa a capacidade dela de satisfazer a um desejo ou
servir a uma finalidade. O valor de uso entendido nesse
sentido é um valor teleológico.
“O valor de uso, ou, como o denomina o sr. De Quincey, o valor
teleológico é o limite extremo do valor de troca. O valor de troca de uma
coisa pode ser inferior – para qualquer montante – ao seu valor de uso;
mas que jamais possa superar o valor de uso, implica contradição; isso
supõe que as pessoas pagarão, para possuir uma coisa, mais do que o
valor máximo que elas mesmas lhe dão como meio de gratificar as suas
inclinações.”
 Valor é sinônimo de valor de troca, entendido como
poder de compra em geral e não uma soma em
dinheiro. Na hipótese de concorrência plena e auto-
interesse dos agentes envolvidos, Mill irá investigar
as causas que originam o valor.
 No capítulo 2, discute a procura e a oferta e sua
relação com o valor, diz que há dois requisitos a fim
de que uma coisa tenha valor de troca: a utilidade e a
dificuldade para consegui-la. A utilidade regula o
máximo de valor, alcançado no regime de
monopólio, mas a compreensão do valor pressupõe
o conceito de oferta e demanda.
oferta é a quantidade que pode ser obtida, em
determinado tempo e lugar, por aqueles que
desejam comprar o bem.

procura efetiva é resultante do desejo e do poder


de compra e varia com o valor. A concorrência
tende a igualar oferta e procura por meio de um
ajuste no valor.
 Se em última instância é o mercado que regula o valor,
qual o papel dos custos de produção? Tal pergunta é
respondida no capítulo 3.
 Qualquer mercadoria, para ser produzida, deve ter um
valor que cubra os custos de produção.
 O valor é determinado pela oferta e procura, mas, se ele
não compensa o custo de produção e não assegura o
lucro normal, a mercadoria deixa de ser produzida.
 Mill trabalha com a noção de valor necessário que cobre
tanto o custo de produção quanto o lucro normal.
O valor nunca estará permanentemente acima ou
abaixo do valor necessário já que se supõe que a
oferta de capital e de mão-de-obra está disponível
em quantidade indefinida. A equalização das
expectativas de lucro em diferentes ocupações faz
com que as coisas sejam trocadas à razão de seu
custo de produção. Com lucros iguais em diferentes
mercados, o valor necessário iguala-se ao valor
natural, dado pelos custos de produção.
renda da terra, no entanto, não faz parte dos custos
de produção que determinam o valor. Este tema é
objeto do capítulo 5; nos capítulos restantes do
mesmo livro, Mill ainda discute as questões de crédito
e comércio internacional.
O livro IV examina os impactos sobre valores,
salários, lucros e renda da terra do crescimento
da economia, mostrando a tendência dos lucros
em direção a um mínimo e lançando a famosa
hipótese do estado estacionário.
 O livro V conclui a obra discutindo temas de
tributação.

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