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UNIDADE CURRICULAR DE

NOME DA
Estruturas de fundações e
UC contenções
Prof. 1 e
Prof. 2
Aula: Capacidade de carga fundações diretas

Prof. Rafaela Amaral


1- Considerações iniciais

O problema da determinação da capacidade de carga dos solos é dos mais importantes para
o engenheiro, que atua na área de construção civil, particularmente para o desenvolvimento
de projeto de fundações.

NBR 6122 (ABNT): “Fundação Superficial (Rasa ou Direta): Elemento de fundação em que a
carga é transmitida ao terreno pelas tensões distribuídas sob a base da fundação, e a
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente à fundação é inferior a duas
vezes a menor dimensão da fundação”.
Capacidade de Carga dos Solos: a tensão que provoca a ruptura do maciço de solo em que a
fundação está assente, apoiada, embutida.

A “ação” gera uma


tensão (pressão)
no solo.
𝑄

O solo pode responde


com uma “reação
limite” (tensão de
ruptura), que conceitua-
se genericamente de
𝑝𝑟 capacidade de carga do
solo.
Condição de segurança:

Tensão
Tensão
transmitida através da
base da fundação ≤ admissível
pelo solo
direta

Na determinação da capacidade de carga (tensão admissível pelo solo) devem-se considerar


duas condições fundamentais de comportamento (ou restrições): ruptura e deformação.
2- Ruptura do solo

Imagine uma sapata submetida a uma carga Q


crescente a partir de zero;

Serão medidos os deslocamentos verticais


(recalque) w correspondentes.

Fase I: elástica, carga e recalques são proporcionais.

Fase II: deslocamentos plásticos. Aparece inicialmente nas bordas das fundação. Para cargas
maiores que o valor crítico ocorre um processo de recalque continuado (para uma mesma
carga o recalque continua constante).

Fase III: ocorre a ruptura do solo com o aumento do carregamento. Atingi a capacidade de
carga na ruptura.
Critérios de ruptura:

Localizada

Generalizada

Por puncionamento
Ruptura generalizada: constituído por uma superfície de deslizamento que vai de
um bordo da fundação à superfície do terreno. Em condições de tensão
controlada (modo de trabalho da maioria das fundações) a ruptura é brusca e
catastrófica. Em condições de deformação controlada (como acontece, por
exemplo, quando a carga é aplicada por prensagem), constata-se uma redução da
carga necessária para produzir deslocamentos da fundação depois da ruptura.
Durante o processo de carregamento, registra-se um levantamento do solo em
torno da fundação. Ao atingir a ruptura, o movimento se dá em um único lado da
fundação.
Ruptura por puncionamento: caracterizada por um mecanismo de difícil
observação. À medida que a carga cresce, o movimento vertical da fundação é
acompanhado pela compressão do solo imediatamente abaixo. A penetração da
fundação é possibilitada pelo cisalhamento vertical em torno do perímetro da
fundação. O solo da área carregada praticamente não participa do processo.
Ruptura localizada: definida por um modelo que consiste de uma cunha e de
superfícies de deslizamento que se iniciam junto às bordas da fundação, como no
caso da ruptura generalizada. Há uma tendência visível de empolamento do solo
aos lados da fundação. Entretanto, a compressão vertical sob a fundação é
significativa, e as superfícies de deslizamento terminam dentro do maciço, sem
atingir a superfície do terreno. Somente depois de um deslocamento vertical
apreciável (da ordem da metade da largura ou diâmetro da fundação) as
superfícies de deslizamento poderão tocar a superfície do terreno. Mesmo então,
não haverá um colapso ou um tombamento catastrófico da fundação, que
permanecerá embutida no terreno, mobilizando a resistência de camadas mais
profundas. Assim, a ruptura localizada tem características dos outros dois tipos de
ruptura e, por isso, na realidade, ela representa um tipo de transição.
O tipo de ruptura que vai ocorrer, em determinada situação de geometria e
carregamento, depende da compressibilidade relativa do solo.

Solo incompressível com resistência finita ao cisalhamento: ruptura


generalizada.

Solo muito compressível com uma certa resistência ao cisalhamento: ruptura por
puncionamento.
3- Tensões

Tensão média que atua no solo (base de contato):

• Capacidade de carga de ruptura (ou limite) – : é a carga limite (ou máxima) a partir da
qual a fundação provoca a ruptura do terreno e se desloca sensivelmente (ruptura
“generalizada”), ou se desloca excessivamente (ruptura “localizada”), o que pode
provocar a ruína da superestrutura.
• Capacidade de carga de segurança à ruptura – : é a maior carga transmitida pela
fundação, a que o terreno resiste com segurança à ruptura, independentemente das
deformações que possam ocorrer.
, sendo o fator de segurança à ruptura.
• Capacidade de carga admissível – : é a maior carga transmitida pela fundação que o
terreno admite, em qualquer caso, com adequada segurança à ruptura e deformações
excessivas, devendo ser compatíveis com a sensibilidade da estrutura e aos
deslocamentos previstos para a fundação.
Curva carga-recalque de uma fundação (solo com ruptura do tipo generalizada)
• Tensão admissível – “taxa” do terreno

Sendo a capacidade de carga de um solo, a pressão , que aplicada ao solo causa a


sua ruptura, adotando-se um adequado coeficiente ou fator de segurança, obtém-se
a pressão admissível (referida popularmente como “taxa” do terreno), a qual deverá
ser “admissível” não só à ruptura como também às deformações excessivas do solo.

O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes métodos e
processos, embora nenhum deles seja matematicamente exato.
Fatores que influenciam na escolha do coeficiente de segurança
Valores recomendados de fatores de segurança a considerar
Não são muito comuns os acidentes de fundação devidos à ruptura do terreno.
Mais comuns são os causados por recalques excessivos.

Em consequência de uma dissimetria de carregamento, houve a ruptura do


solo e o colapso da obra, que em 24 horas tombou para a posição mostrada.
Provavelmente a elevação lateral do nível do solo ajudou a mantê-lo,
impedindo que tombasse completamente.
4- Cálculo da capacidade de carga

A determinação da capacidade de carga pode ser feita tanto teoricamente, empregando


fórmulas teóricas ou semi-empíricas existentes ou experimentalmente, através da
execução de provas de carga. São apresentadas a teoria de Rankine e a teoria de
Terzaghi para o cálculo da capacidade de carga dos solos.
Fórmula de Rankine

Para deduzi-la, considera-se inicialmente um solo não coesivo sob uma “fundação corrida”.

Rankine considera a semi-largura da fundação (devido à simetria da mesma), e a partir do vértice A, três zonas de
solo (“quadrados”). Escrevem-se então as expressões para as tensões atuantes no contato entre os “quadrados”.
: coeficiente de empuxo ativo

Segundo Rankine, quando uma massa de solo se expande (tensões ativas) ou se contrai (tensões passivas), formam-se
planos de ruptura definidos por um ângulo de ou com a horizontal.
Escrevendo a condição de equilíbrio entre a tensão da zona 1 que suporta a fundação e a
tensão da zona 2 contida pela altura de terra, deve-se ter, para que não ocorra ruptura do
terreno:

ou

Dai temos a tensão limite de ruptura de Rankine:

Sendo: : coeficiente de empuxo no passivo


Fórmula de Terzaghi

Terzaghi estudou a capacidade de carga de ruptura para fundações diretas em solos de


diversas categorias, ou seja, solos com atrito e coesão (), solos não-coesivos ou granulares ()
e solos puramente coesivos ().

O que se observa é que ao apoiar uma placa rígida sobre um solo e sobre ela aplicar uma
carga (, por exemplo), o solo de apoio, de base, irá sofrer deformações até o momento em
que irá entrar em colapso, por cisalhamento. Isto ocorre quando as tensões cisalhantes
atuantes no solo superam os valores máximos de tensão que o solo suporta. Caso em que o
nível de tensões ultrapassa a condição de sua envoltória de resistência.
Experiência realizada em laboratório, em modelo reduzido, em que o “solo” aqui representado
por “canudos” de plástico se movimentam uns sobre os outros na medida em que há um
aumento da carga sobre a placa que representa uma sapata.

Quando a ruptura é atingida, o terreno desloca-se, arrastando consigo a fundação. O solo


passa, então, do estado “elástico” ao estado “plástico”. O deslizamento ao longo da superfície
ABC é devido à ocorrência de tensões de cisalhamento () maiores que a resistência ao
cisalhamento do solo ().
Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de carga de um solo homogêneo que suporta
uma fundação corrida e superficial.

Segundo esta teoria, o solo imediatamente abaixo da fundação forma uma “cunha”, que em
decorrência do atrito com a base da fundação se desloca verticalmente, em conjunto com a
fundação. O movimento dessa “cunha” força o solo adjacente e produz então duas zonas de
cisalhamento: uma de cisalhamento radial e outra de cisalhamento linear.

Assim, após a ruptura, desenvolvem-se no terreno de fundação três zonas: I, II e III, sendo que
a zona II admite-se ser limitada inferiormente por um arco de espiral logarítmica.
A capacidade de carga , é igual à resistência oferecida ao
deslocamento pelas zonas de cisalhamento radial e linear.
Equilíbrio das forças na vertical: , onde é o ângulo de atrito
interno do solo.

Sobre além do empuxo passivo , atua a força de coesão:

Para equilíbrio da cunha (I), de peso , tem-se:


ou
Ou ainda: ou
sendo o peso específico

Dai:
Entrando com a expressão do valor de Ep, na equação anterior, chega-se na expressão
final para a capacidade de carga de Terzaghi. A dedução final não foi apresentada para
não exceder com esta formulação na obtenção da expressão final, que se pode escrever:

A fórmula obtida refere-se a fundações corridas, onde , e são fatores de capacidade de


carga, função apenas do seu ângulo de atrito () do solo, que podem ser
definidos por (conforme adotado por Vésic, 1975):

Segundo Reisnner (1924)

apud Terzaghi e Peck (1967)

Segundo Caquot-Kérisel (1953)


Nos solos de ruptura tipo C1, à medida que a carga (ou pressão) aumenta, o material
resiste, deformando-se relativamente pouco, vindo a ruptura acontecer quase que
bruscamente. É como se toda a massa rompesse a um só tempo, generalizadamente.
A pressão de ruptura é, nesse caso, bem definida, dado pelo valor do gráfico. Quando
atingida, os recalques tornam-se incessantes e é denominada
por ruptura generalizada, sendo típica de solos pouco compressíveis (compactos ou
rijos).
Nos solos de ruptura tipo C2, as deformações são sempre elevadas e aceleradamente
crescentes. Não há uma ruptura final definida. É como se o processo de ruptura fosse
constante, desde o início do carregamento, em regiões localizadas e dispersas na
massa do solo. A pressão de ruptura no caso é dada por que, segundo Terzaghi,
corresponde ao ponto “a”, em que há uma mudança no gráfico, com passagem (ou
não) da curva inicial para um trecho aproximadamente retilíneo final. Este tipo de
ruptura é denominado por ruptura localizada, sendo típica de solos muito
compressíveis (fofos ou moles).

As equações apresentadas para o cálculo dos fatores de capacidade de carga, , e


referem-se ao caso de “ruptura generalizada”.
Para os dois tipos de ruptura pode-se obter, em função de , os valores de , e . A linha
“contínua” refere-se à ruptura do tipo “generalizada” e a linha tracejada do tipo “localizada”.

Para “ruptura localizada”:

Conclui-se então que os valores podem


também ser obtidos entrando-se com nas
linhas cheias ou diretamente com nas linhas
tracejadas.

Ainda, para “ruptura localizada”:


Análise da equação de Terzaghi

Cálculo da capacidade de carga: soma de três parcelas, sendo elas referentes à


contribuição da: coesão do solo de contato da fundação, atrito do solo de contato da
fundação e sobrecarga do solo acima da cota de assentamento da fundação.
Consequentemente, cada parâmetro envolvido na expressão refere-se a um solo
específico, que pode ser diferente ou eventualmente igual.
- Influência de na extensão e profundidade da superfície de deslizamento.
De especial interesse é observar a influência da variação do ângulo de atrito interno na
extensão e profundidade da superfície de deslizamento.
Ocorrência do N.A.

No caso de ocorrer nível d’água abaixo, e coincidente com a cota de assentamento e


uma fundação superficial, considerando que o cálculo da capacidade de carga do solo
considera o estado de tensões efetivas, deve-se usar o peso específico de solo
submerso na parcela referente ao atrito na base, o que implicará na redução do valor
da capacidade de carga do solo, como esperado.
Fundações de Outras Geometrias

é a largura total da fundação, ou seja, , sendo a semi-largura


, e são fatores de capacidade de carga
, e são fatores de forma
5- Relação entre tensão admissível e N (SPT)
Relações entre o índice NSPT com taxas admissíveis para solos argilosos e arenosos podem
servir como uma referência para uso em anteprojeto os estudos preliminares de fundações.

Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos argilosos (Porto, 1979)

Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos arenosos (Porto, 1979)
6- Exemplos
Considere os resultados de SPT para os primeiros metros de prospecção, realizado em um
terreno praticamente plano.
Considere as tabelas fornecidas,
que permitem fazer correlações
entre resultados de sondagens à
percussão, com obtenção do SPT,
e parâmetros de resistência e
compressibilidade dos solos.
Exemplo 1)
Determine a capacidade de carga para uma sapata corrida, assente no horizonte de areia
(para a mínima escavação), com 2,0 m de largura (em seguida será feito o cálculo
considerando a hipótese dos materiais de subsolo ocorressem em posição inversa).
Exemplo 2)
Determine a capacidade de carga para o exemplo anterior considerando um NA na base da
camada de areia (na cota de assentamento).
Exemplo 3)
Dimensione esta sapata corrida para o valor da capacidade de carga (taxa admissível )
calculado no exemplo anterior, para suportar 30tf (por metro linear).
Exemplo 4)
Determine a capacidade de carga do solo com os dados apresentados no 1º exercício.
Exemplo 5)
Refaça o exercício anterior (exemplo 4) para argila com N-SPT = 12, no nível da sapata.
Exemplo 6)
Qual a dimensão que deve ter uma sapata quadrada para suportar uma carga centrada de
10,5 t, a uma profundidade de 1,5 m, em uma argila que se pode adotar coesão de 50 kPa.
Referências:

https://www.ufjf.br/nugeo/ensino/graduacao/publicaco Fundações – Volume Completo


es-academicas-livre/mecanica-dos-solos-ii/ Dirceu de Alencar Velloso; Francisco de Rezende Lopes
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Loader/181502/epub
QUE TENHAMOS
UM EXCELENTE
SEMESTRE
LETIVO!
MUITO OBRIGADO
PELA ATENÇÃO!

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