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RESGATE E REABILITAÇÃO DE UM EXEMPLAR DE TARTARUGA CABEÇUDA (Caretta caretta)

RESGATADA NO SUL DA BAHIA – BRASIL, APRESENTANDO FRATURA EM CARAPAÇA


MANNINA, N. B.; SEMINARA, C.; SILVA, R. P.; SATURNINO, A. M.; BAZZO, P. M.; IKEDA, J. ;DÓREA-REIS, L. W.; SERRA, S.
INSTITUTO MAMÍFEROS AQUÁTICOS- SEDE: Av Pinto de Aguiar. Rua dos Radioamadores, 73.
Pituaçu. Salvador-BA, Brasil Telefax: 55 71 3461-1490/ S. O. S Encalhes 0800 025 1000 
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INTRODUÇÃO
A espécie Caretta caretta está amplamente distribuída em águas costeiras tropicais e subtropicais ao redor do mundo. Sua
distribuição parece ser limitada pela temperatura da água, sendo 10°C o limite mínimo, habitando uma variedade de
ambientes como oceanos, estuários e algumas ilhas (MÁRQUEZ, 1990).
No Brasil, as áreas de desova de C. caretta estão localizadas no litoral da Bahia, Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro e
Sergipe (SANTOS et al., 2011) (Figura 1).
O presente estudo visa relatar os procedimentos de reabilitação de um exemplar de C. caretta, resgatada no litoral sul da
Bahia.

RELATO DE CASO
Atendendo a condicionante CGPEG/DILIC/IBAMA no processo de licenciamento do Bloco BM-J-2 (Queiroz Galvão
Petróleo e Gás), o Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) – nó da REMANE/CMA/ICMBio através do Projeto de
Monitoramento de Praias resgatou em 08/03/2013, na Praia de Atalaia, Canavieiras/Bahia/Brasil (-14.97327S/- Área de ocorrência de desovas

39.00356W) um exemplar de tartaruga marinha da espécie Caretta caretta (Tombo IMA03449), macho,
Área prioritária de desovas

Potencial área de alimentação

apresentando CCC 100 cm e 150Kg (Figura 2 e 3).


Área de alimentação de adultos

Linha geográfica Brasil

Para o resgate utilizou-se captura manual, sendo o transporte realizado em veículo tipo pick-up. O animal foi Figura 1: Distribuição geográfica da espécie C. caretta no Brasil. Fonte:
relocado para a base avançada do IMA em Ilhéus/Bahia para tratamento adequado. Adaptado de Santos et al (2011).
Apresentando desidratação e apatia, avaliou-se em exame físico a lesão em carapaça, a qual apresentava
características de ferimento corto-contuso, sendo este longitudinal contínuo que se estendia até mais da metade
do comprimento retilíneo do casco, o qual foi associada à colisão com embarcação (Figura 4).

Não havia evisceração, nem presença de sangue e outras secreções provocadas por roturas viscerais. Mesmo assim,
o individuo foi submetido a raio-X para assegurar o tratamento (Figura 5). Neste procedimento, observou-se
pulmão limpo, ausência de líquido na cavidade e ausência de fratura óssea. Em função disso, intervenções
cirúrgicas foram descartadas e o acesso à piscina liberado ao 10º dia de reabilitação (Figura 6).

No manejo clínico do exemplar utilizou-se o Protocolo do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) e do Projeto TAMAR,
sendo empregado (Figura 7):
1. Fluidoterapia com sorofisiológico 0.9% nos primeiros 4 dias;
2. Ringer Lactato nos últimos 7 dias. SC e IV respectivamente durante 11 dias (150 a 200 ml SID);
3. Antibiótico SID (Enrofloxacina 2,5% - 5ml) durante 15 dias IM e IV;
4. Antinflamatório SID (Flunixin meglumine – 5ml) foi usado por 3 dias IM e IV;
5. Analgésico - Tramadol® por 4 dias; 9 ml SID IM e IV;
6. Complexo Vitaminico- Bionew® 5ml SID nos 4 primeiros dias;
7. Estimulante digestivo- Mercepton® 5ml SID IM e IV durante 7 dias. Figura 2: Local de resgate do exemplar de Caretta caretta.
Para a dieta, liberada após estabilização, utilizou-se sonda esofágica contendo papa composta de soro fisiológico, peixe, Glicopan®, cascas de ovos e creme de leite.
Como intercorrência durante a reabilitação, após uma semana, devido a ausência de pressão aquática, já que havia passado alguns dias fora da água apoiado em colchões de espuma úmida, o
animal expôs o órgão genital (Figura 8). Também quando liberado o acesso à piscina, apresentou problemas de flutuabilidade durante 4 dias. Ambas situações foram involuíndo gradativamente
sem a necessidade de intervenções. Após o 6º dia já conseguia manter-se submerso, apresentando-se mais ativo, responsivo aos estímulos externos, e demonstrando motilidade intestinal
confirmada pela presença de fezes no fundo da piscina.

Com o nítido progresso no processo de cicatrização da lesão, bem como no comportamento, optou-se pela soltura, a qual foi realizada no 19º dia de reabilitação (Figura 9). Apesar da extensão,
a lesão nesse caso foi analisada a partir do princípio da capacidade regenerativa do cascos de tartarugas (MADER, 1996), cujas cicatrizes ainda que perceptíveis, propiciam retorno da função do
arcabouço protetor permitindo continuidade da vida sem limitações.

Figura 3: Situação do exemplar de C. caretta no Figura 4: Detalhe da extensão da lesão em Figura 5: Manejo para realização do exame de Figura 6: Acesso à piscina de reabilitação. Figura 7: Fluidoterapia.
momento do encalhe. carapaça. raio-X.

BIBLIOGRAFIA
Mader, D.R. Reptile Medicine and Surgery. 1996. Philadelphia: W. B. Saunders
Company.

Márquez M.R. 1990. FAO Species Catalogue. Vol. 11: Sea turtles of the world.
An annotated and illustrated catalogue of sea turtles species known to date. FAO
Fisheries Sinopsis Nº 125, Vol. 11. Rome, FAO. 

Santos A. S., Soares, L. S., MarcovaldI, M. A., Monteiro, D. S., GiffonI, B., Almeida,
A. P. 2011. Avaliação do Estado de Conservação da Tartaruga Marinha Caretta
Figura 8: Prolapso de genitália identificado Figura 9: Soltura.
caretta Linnaeus, 1758 no Brasil. Biodiversidade Brasileira Ano I, Nº 1, 3-11.
Figura 8: Tratamento tópico da lesão.
durante a reabilitação.

Parceria:
AGRADECIMENTOS
Aos membros da equipe do Instituto Mamíferos Aquáticos.
A Queiroz Galvão Exploração e Produção S.A pela oportunidade.
A CGPEG/DILIC/IBAMA pelo atenção dada à fauna marinha nos processos de licenciamento de atividades
do ramo petrolífero.

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