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O IMPACTO DA FALTA DE MORADIA NA SAÚDE MENTAL: UMA ANÁLISE DOS FATORES

DE RISCO, INTERVENÇÕES PREVENTIVAS E AÇÕES


DANILLO MAGNUM FARIAS CHAGAS; ISABELLA MARTINS WANDERLEY; MARIA FABIOLA DE OLIVEIRA SILVA; MICHELLE FABIANNE
MAIA RODRIGUES; NICOLAS KENNEDY BRANDÃO;

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO


No Brasil, a falta de habitação e habitação adequada é um desafio Pessoas em situação de rua tem mais chances de ter comprometimento A falta de moradia está profundamente ligada a uma série de
significativo que afeta milhões de pessoas. O déficit habitacional cognitivo (STERGIOPOULOS et al., 2015). Uma avaliação com 1500 consequências prejudiciais para a saúde mental, afetando a área cognitiva,
chegou a 5,8 milhões em 2019 (Santos, 2019), e a população de rua adultos mostrou que o comprometimento cognitivo estava presente em contribuindo para o desenvolvimento de transtornos mentais, lesões graves e
saltou de 222 mil habitantes em 2019 para 281 mil habitantes em 72% dos participantes, incluindo déficit de atenção (48%), maior risco de suicídio. No âmbito das intervenções destaca-se o alcance das
2022 (IPEA, 2022). Esse aumento da população de rua mostra a comprometimento verbal (71%), recordação (67%), e funcionamento políticas públicas na mudança da condição de vida dos indivíduos com
principio alguns impactos socioeconômicos da pandemia do executivo (38%). acesso a moradia estável, intervenções com serviços especializados,
COVID-19.
Uma avaliação com 1.848 jovens entre 15 e 18 anos mostrou que o risco tratamento comunitários assertivos, e instrumentos de inserção na sociedade,
O número de desempregados chegou há 14,7 milhões em 2021
da falta de moradia está associado ao duplo diagnóstico de saúde mental como programas de formação profissional. Essa revisão traz contribuições
(BARROS, 2021) apresentando o maior da série histórica iniciada
em 2012, e os trabalhadores informais somavam 36,6 milhões até o e transtorno por uso de substâncias (27%), automutilação intencional no sentido de apresentar os principais riscos a que pessoas em situação de
quarto trimestre de 2021 (IBGE, 2022). (31%), ansiedade (17%), transtornos mentais, incluindo ansiedade rua estão expostos. Indica-se a realização de estudos mais abrangentes no
Desse modo, se propõe explorar as interconexões entre a falta de (17%), depressão (25%), transtorno de estresse pós-traumático (25%), Brasil, o que poderia contribuir para melhor conhecimento dessa população
moradia, ou moradia precária e a saúde mental, buscando transtornos psicóticos (12%), agressão e maus-tratos (70%), transtorno e consequentemente a busca por melhores intervenções e promoção da
compreender os principais desafios enfrentados por essa população de desenvolvimento psicológico (31%) (CHIKWAVA et al., 2022). saúde.
marginalizada, e analisar o impacto dessas condições precárias em
seu bem-estar psicológico. A pandemia do COVID-19 pode ter Moradores de rua têm uma maior propensão a desenvolverem lesões REFERÊNCIAS
agravado a situação dessa população, o que traz ainda mais graves em comparação com os pacientes domiciliados, baseado numa BARROS, A., (2021). Desemprego mantém recorde de 14,7% no trimestre encerrado em abril. Disponível em
(https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31050-desemprego-mantem-recorde-de-14-
necessidade de atenção ao tema. pesquisa com 131 indivíduos sem teto pareados com domiciliados. A 7-no-trimestre-encerrado-em-abril). Acessado em 01/05/23
falta de moradia está associada a maiores chances de agressão (32,1% CHIKWAVA, F.; O’DONNELL, M.; FERRANTE, A.; PAKPAHAN, E.; CORDIER, R., (2022). Patterns of homelessness and
OBJETIVO vs 9,5%), automutilação intencional (10,7% vs 2,7%), lesões housing instability and the relationship with mental health disorders among young people transitioning from out-of-home care:
Retrospective cohort study using linked administrative data. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0274196
penetrantes (16% vs 6,5%), concentração de álcool no sangue (30,5% vs
Este estudo teve como objetivo principal identificar os principais 13,7%), internações psiquiátricas (9,2% vs 0,8%), atropelamento ou IBGE (2022). Desemprego no país cai para 11,1% no quarto trimestre de 2021. Disponível em
fatores de risco associados à falta de moradia e moradia precária na colisão (16% vs 5,3%), queimaduras (10,7% vs 3,8%), e maiores
(https://www.gov.br/pt-br/noticias/trabalho-e-previdencia/2022/02/desemprego-no-pais-cai-para-11-1-no-quarto-trimestre-de-2021).
Acessado em 01/05/23.
saúde mental, como o aumento do risco de transtornos mentais e o chances de alta voluntária contra conselho médico (MILLER et al.,
agravamento de condições pré-existentes. 2020).
IPEA (2022). Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). População em situação de rua supera 281,4 mil pessoas no Brasil.
Disponível em (https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13457-populacao-em-situacao-de-rua-supera-
281-4-mil-pessoas-no-brasil), acessada em 20/05/23.
METODOLOGIA A falta de moradia também está associada a um risco maior de tentativas MILLER, J.P; REILLY, G.O’.; MACKELPRANG, J.L.; MITRA B, (2020). Trauma in adults experiencing homelessness. Elsevier,

Foram selecionados 30 artigos para leitura integral. Dois revisores de suicídio, baseado em 1.992 entrevistados que relataram alguma Injury 51, 897 - 905, February, 2020. https://doi.org/10.1016/j.injury.2020.02.086

realizaram a triagem inicial dos títulos e resumos dos estudos tentativa de suicídio ao longo da vida. Os resultados mostraram que SANTOS, E.C, (2019). Déficit Habitacional e Inadequação de Moradias no Brasil, principais resultados para o período de 2016 -

identificados de forma independente. Os estudos considerados entre os entrevistados que experimentaram falta de moradia no último 2019, pág. 1 - 12, 2019.

potencialmente relevantes para este estudo baseado numa revisão ano, (21,0%) relataram uma tentativa de suicídio no último ano, em STERGIOPOULOS, V.; CUSI, A.; BEKELE, T.; SKOSIREVA, A.; LATIMER, E.; SCHUTZ, C.; FERNANDO, I.; ROURKE, S.,
(2015). Neurocognitive impairment in a large sample of homeless adults with mental illness. Acta Psychiatr Scand; vol 131, p. 256 –
integrativa, somaram 12 artigos. Para escolha dos artigos foram comparação com (5,8%) entre aqueles que experimentaram falta de 268, 2015.

analisados critérios como amostragem, desenho do estudo, coleta de moradia antes do último ano e (6,3%) entre aqueles que nunca foram
TANNER J.; BOMMERSBACH, M.D.; M.P.H., ELINA A.; STEFANOVICS, Ph.D.; TAEHO GREG RHEE, Ph.D.; JACK TSAI,
dados e análise estatística. sem-teto (TANNER et al., 2020). Ph.D.; ROBERT A.; ROSENHECK, M.D., (2020). Suicide Attempts and Homelessness: Timing of Attempts Among Recently
Homeless, Past Homeless, and Never Homeless Adults. Psychiatric Services 71:12, December 2020.

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