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O Conhecimento como Crença

Verdadeira Justificada (CVJ)


O que significa “Conhecer”?
É estabelecer uma relação entre nós (sujeitos que
conhecemos) e os objectos (aquilo que é conhecido)
Há diferentes sentidos de “Conhecer”
Relaciona o sujeito
com… (objecto de Exemplo
conhecimento)
Conhecimento por … uma coisa, um lugar
contacto (conhecer algo ou uma pessoa Conhecer Moscovo
ou alguém)
Conhecimento … uma proposição Saber que o Kremlin fica
proposicional verdadeira em Moscovo
(saber que)
Conhecimento prático … uma acção ou Saber viajar
(saber como) actividade para Moscovo
O Conhecimento Proposicional

É o conhecimento que nos interessa – é o objectivo da


Ciência elaborar proposições verdadeiras
•A Terra gira em torno do Sol
•O símbolo químico do Hélio é He

O desafio é saber como alcançar este conhecimento e de


que modo podemos saber se é, de facto, verdadeiro
Vamos testar conhecimentos?
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce.
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay.
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos.


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay.
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos.


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay. X
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos.


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay. X
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos X
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos.


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay. X
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos X
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em X
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos.


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay. X
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos X
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em X
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos. X


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Conhecimento Por contacto Proposicional Práctico
1. A Laura sabe fazer arroz doce. X
2. A Laura conhece várias músicas dos Coldplay. X
3. A Laura sabe cantar várias músicas dos X
Coldplay.
4. A Laura sabe que os Coldplay começaram em X
1996.

5. A Laura conhece a praia de Francelos. X


6. O Luís sabe que a Laura conhece a praia de X
Francelos.
Identifica as diferentes formas de
Conhecimento
Muitas pessoas sabiam que Hitler era Proposicional
Prático racista, mas nunca ninguém quis ou
soube impedi-lo de pôr em prática as
suas ideias. Algumas dessas pessoas
ainda hoje o apoiariam. A Sara conhece Contacto
Proposicional um rapaz que diz identificar-se com tais
ideias, apesar de ele saber que os seus
amigos reprovam isso. Mas só a Sara
sabe que o rapaz pensa assim, pois ele Proposicional
Prático sabe esconder dos outros o que
realmente pensa.
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

Há pelo menos 3 condições a satisfazer


para alguém conhecer algo:

a) Esse alguém acreditar nisso; S acredita que P

b) Isso em que acredita ser verdadeiro; P é verdadeira

c) Esse alguém ter boas razões S tem uma justificação


(justificações) para acreditar nisso. para acreditar que P
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

A Crença, a Verdade e a Justificação são condições


necessárias do Conhecimento (CVJ), segundo Platão.

Só há Conhecimento com crença, mas há crenças que não


constituem Conhecimento (acreditar em algo sem sabermos,
sem certezas ou justificações)
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

Só há Conhecimento com crença, mas há crenças que não


constituem Conhecimento (acreditar em algo sem
sabermos, sem certezas ou justificações)
• Tenho as orelhas vermelhas – alguém deve estar a falar de mim.
• Espelho partido, 7 anos de azar.
• Casamento com chuva significa felicidade para os cônjuges
• ……..
Vamos testar conhecimentos?
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

O Jorge tem a certeza que a Alexandra lhe escondeu o


telemóvel.
1. Será que isso significa que a Alexandra lhe escondeu mesmo
o telemóvel? Porquê?
2. Será que ter a certeza de uma coisa é o mesmo que saber
essa coisa? Justifica e dá exemplos.
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

O Jorge tem a certeza que a Alexandra lhe escondeu o


telemóvel.
1. Será que isso significa que a Alexandra lhe escondeu mesmo
o telemóvel? Porquê?
R: Não, porque pode ter a certeza e, mesmo assim, ser falso. A
força de uma convicção não a torna verdadeira.
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

O Jorge tem a certeza que a Alexandra lhe escondeu o telemóvel.


2. Será que ter a certeza de uma coisa é o mesmo que saber essa
coisa? Justifica e dá exemplos.
R: Não, porque ter a certeza é ter uma crença muito forte (por vezes é
forte porque está justificada). Mas crença e justificação não são
suficientes para haver conhecimento.
Ex.: Muitas pessoas tinham a certeza de que o Sol girava em torno da
Terra, mas tal não era conhecimento pois não era (e não é) verdade.
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

Alexandre Meyer Luz sobre a definição de


conhecimento: O que é conhecer algo?
https://www.youtube.com/watch?v=0X8g6LOvsig
(14’)
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Uma crença é justificada quando temos boas razões a seu favor.
Mas:
Podemos acreditar que vai chover porque vemos nuvens negras
e a previsão meteorológica é de precipitação, mas acaba por não
chover – crença justificada que se revela Falsa
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Uma crença é justificada quando temos boas razões a seu favor.
Mas:
Podemos acreditar que vai chover porque sonhámos com isso
(crença injustificada), mas acabar mesmo por chover (crença
injustificada que se revela verdadeira)
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Podemos, então, ter:

•Crenças justificadas falsas (temos razões para as apoiar como


verdadeiras mas podem revelar-se depois falsas)

•Crenças injustificadas verdadeiras (temos crenças sem razões


que as suportem, mas que se revelam verdadeiras depois)
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Serão, então, a Crença, a Verdade e a Justificação suficientes
para se falar de Conhecimento?

Segundo Edmund Gettier, não!


Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Os alunos do 11.º C organizam um jantar de Natal com a DT. A professora foi a
primeira a chegar, juntamente com o Rodrigo, aluno da turma. Enquanto não
chegavam os outros, foram conversando sobre as relações entre colegas da
turma e o Rodrigo confidenciou à DT que o Paulo namorava com a Anita.
Entretanto, chegaram mais três alunos que confirmaram o namoro, embora não
falassem do assunto em frente aos professores. O jantar decorreu bem, mas a DT
teve de sair mais cedo por motivos familiares. Foi convencida de que o namorado
da Anita estava no jantar mas a verdade é que a Anita acabara a relação com o
Paulo na noite anterior e, no dia do jantar, começara a namorar com o Pedro,
também da turma e que chegara ao restaurante depois da DT ter saído. A Anita
e o Pedro evitaram mostrar-se juntos para não magoarem o Paulo.
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)
Que nos prova esta história?
•A DT saiu do jantar com a crença de que o namorado da Anita estava na sala;
•Esta crença era verdadeira porque o Pedro estava no jantar;
•A crença era justificada (a informação de que a Anita namora com um aluno da
turma foi confirmada pelos colegas presentes)
Mas é correcto dizer que a DT SABE quem é o namorado da Anita?
Ela possui Conhecimento?
Segundo Gettier, não basta ter crenças verdadeiras e justificadas para que
conheçamos o Mundo. Será necessária mais alguma condição?......
Sintetizando
O conhecimento requer tanto a
crença quanto a verdade.
As pessoas às vezes dizem que
sabem coisas que mais tarde se
revelam falsas. Mas isto não é saber
coisas que são falsas, é pensar que
se sabem coisas que, de facto, são
falsas (suposições)
O Sol gira em torno da terra
É a crença verdadeira suficiente para o conhecimento?
• o conhecimento requer dados de apoio, ou uma justificação
racional. Note-se que ter uma justificação não é
apenas pensar que se tem uma razão para acreditar em algo
(eu acredito que Santa Luzia curou a cegueira do meu tio).
• (CVJ) S conhece P se, e somente se,
• S acredita em P
• P é verdadeira
• a crença de S em P está justificada
Ex.:
Sei que chove mas não acredito que chove – incongruência
(não posso dizer que sei P sem acreditar em P)

Acredito que chove, mas não sei que chove – não há
incoerência (posso não ter verificado lá fora se está a chover,
embora haja previsão de chuva)

Chover é condição necessária para SABER que chove


• O conhecimento tem de incluir a crença como condição
necessária – mas é suficiente?
• Não, porque posso acreditar que P, quando na verdade é ~P
(acho que ele me é fiel, mas não me é fiel) – se estamos
enganados, não sabemos (não conhecemos) – apenas
cremos (uma crença que se revela mais tarde, em termos
objectivos, como falsa em confronto com os factos – ele foi
apanhado em flagrante traição).
• Então necessitamos de provas ou justificações – dizer “sei
que chove, mas não tenho provas” não faz sentido – se sei, é
porque tenho provas. Se não, tenho de dizer “julgo que”.
• A justificação é o que distingue o conhecimento da adivinhação,
coincidência ou sorte:
- “Vou ganhar o Euromilhões” – se ganhar, posso dizer que SABIA
que ia ganhar? Não, apenas tinha um palpite que acabou por se
revelar verdadeiro. Mas não há conhecimento, apenas um
palpite, dado não ter qualquer justificação (prova) de que iria
ganhar.
- Podemos ter uma forte convicção de que vamos ganhar, mas a
verdade não assume graus – uma crença é V ou F.
• Para conhecer algo, é preciso
apresentar razões pelas quais
cremos que algo é verdadeiro –
não basta dizer :” A Terra é plana
porque eu creio que sim”.
Uma ideia só se traduz em
conhecimento quando
apresentamos justificações
válidas para tal.
• Durante muito tempo, pensou-se que ter uma crença
verdadeira justificada era suficiente para se dizer que se sabe
ou conhece P.
• Mas podemos ter crenças para as quais temos justificações
mas que acabam por não ser conhecimento:
- A DT crê que a Anita namora com um colega da turma (é V)
- A DT crê ter justificações para tal (depoimentos dos colegas
da turma)
- Acredita, então, saber que a Anita namora com um colega da
turma, o Paulo.
• A crença da DT revelou-se mais tarde falsa (o namorado era
o Pedro e não o Paulo), mas tinha todas as condições para
ser verdadeira.
• Podemos, então ter crenças que julgamos verdadeiras e
justificadas que se revelam falsas? Sim, podemos e nunca
serão conhecimento.

Inicialmente, a crença da DT de que a Anita namorava com o


Paulo era uma CVJ (nada apontava para o não ser, as
evidências apontavam para a verdade*), e continuaria a ser
até alguém a avisar da “mudança” de namorado.
*Geocentrismo
Então…..
Ter uma justificação para acreditar em algo não é suficiente
para ter conhecimento – significa apenas que é racional fazê-
lo e, em certas circunstâncias, pode ser racional acreditar
numa falsidade (o juiz que é levado a acreditar na
culpabilidade de X por um conjunto de provas falsificadas,
colocadas no local do crime; ou a DT que é levada a acreditar
que a Anita namora com o Paulo).
• Apesar de as justificações poderem falhar, são um bom
indício da verdade de uma proposição (são essenciais para
haver conhecimento).
• E mesmo quando temos crenças verdadeiras justificadas,
estas são garantidamente conhecimento? Não, porque
podem apenas ser resultado de uma coincidência (ver
exemplo do relógio de Russell).
Definição Tradicional de Conhecimento (Platão)

O Significado do Conhecimento CrashCourse Philosophy


https://www.youtube.com/watch?v=kXhJ3hHK9hQ 10’
O Contra-exemplo de Bertrand Russell
O relógio da igreja da tua terra é bastante fiável e
costumas confiar nele para saber as horas. Esta
manhã, quando vinhas para a escola, olhaste para
ele e viste que marcava exactamente 8h,
formulando assim a crença de que seriam essas as
horas. O facto de o relógio ter sido fiável no
passado justifica a tua crença.
Mas, sem que o soubesses, o relógio tinha
avariado no dia anterior e parado na hora que
tinhas visto.
Sabes mesmo que são 8h? Porquê?
Vamos testar conhecimentos?
1. Sem crença não há conhecimento. Concordas?
2. Será que basta termos uma crença verdadeira
para termos conhecimento? Porquê?
3. Constrói uma CVJ que não constitua
conhecimento, seguindo a linha de Gettier.
1. Sem crença não há conhecimento. Concordas?
Sim, porque o conhecimento forma-se a partir de
algo em que acreditamos, uma crença.

Não faz sentido dizer que conhecemos numa


proposição mas não acreditamos nela - Não posso
saber que hoje é 6.ª feira e não acreditar que é 6.ª
feira.
2. Será que basta termos uma crença verdadeira
para termos conhecimento? Porquê?
Não, pois uma crença verdadeira, para poder
constituir-se como conhecimento, precisa de factos
ou justificações válidas para deixar de ser uma
crença do domínio pessoal. Sem a(s)
justificação(ões), não passa de algo em que
acreditamos mas que não podemos provar que é
verdadeiro.
3. Constrói uma CVJ que não constitua conhecimento, seguindo
a linha de Gettier.

Ex.: Ao olharem pela janela, sem óculos, duas idosas vêem um


pássaro negro a saltitar pelo telhado e dizem “que belo melro”!
(formulam uma crença de que têm um melro no telhado e que
está justificada pela concordância entre ambas de que se trata
de um melro). Mas, como vêem mal ao longe, não percebem que
estão, na verdade, a olhar para um pequeno corvo e que, por
detrás deste, há um melro no mesmo telhado. Trata-se de uma
CVJ mas que não é conhecimento porque as idosas não sabem
verdadeiramente que há um melro no telhado – trata-se de uma
coincidência.

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