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Sócrates e

Platão:
precursores do
Espiritismo
Rodrigo Farias
CEOE, 10/01/2023
Por que isto é importante?
1 – “Amai-vos e instruí-vos.”

2 – Mostrar que fenômenos e ideias espíritas já circulavam


antes da doutrina espírita.
Uma advertência: as “Três Revelações”
• Uma concepção datada e
eurocêntrica.

• A progressividade do
conhecimento espírita.
A filosofia ontem e hoje
• “Estudo e reflexão crítica, inicialmente teóricos e
contemplativos, a respeito dos valores, dos fatos e princípios
gerais da existência, realizados pelo ser humano com o
objetivo de compreender a si mesmo e a realidade que o
circunda...” (Dic. Michaelis).

• Na Antiguidade, a “mãe de todas as ciências”.


“A caracterização mais
segura da tradição filosófica
europeia é de que ela é uma
série de notas de rodapé a
Platão.” – Alfred North
Whitehead
Sócrates, o marco
• Antes de Sócrates, o foco da
filosofia era a natureza física
(physis).

• Com Sócrates (469-399 a.C.), o


foco é o ser humano e a busca de
uma vida melhor
 virtude.
• “Uma vida não examinada não merece ser vivida.”

• “Só sei que nada sei.”

• “Conhece-te a ti mesmo.”
O “problema socrático”
• O que é de Sócrates e o que é de Platão?
A educação
socrática
- Do reconhecimento da
propria ignorância à busca
pelo conhecimento.

- Dialética, elenkhós/
maiêutica.
• O daimon.
A obra de Platão e o Espiritismo
• Diálogo com ideias que já circulavam. Ex.: Pitágoras.

• Imortalidade da alma e a cultura grega: da “sombra” homérica à “matéria


sutil” e prioritária.

• Mundo sensível x mundo das ideias.

• Recompensas e castigos no além-túmulo.

• Reencarnação.
A alma
• Homero: a “sombra”.

• Sócrates/Platão: o
“verdadeiro ser”.
• “O que dá a cada um de nós o seu ser nada mais é do que a sua
alma, ao passo que o corpo não é mais do que uma sombra que nos
acompanha. Assim, é bem dito do falecido que o cadáver é apenas
um fantasma; o homem real - a coisa imortal chamada alma - parte
para prestar contas aos deuses de outro mundo, assim como somos
ensinados pela tradição ancestral -- um relato que os bons podem
esperar sem receio, mas os maus com grave consternação.” (Leis,
Livro 12, 959a–b)

(Apud Ehrman, Bart D. Heaven and Hell: A History of the Afterlife (pp. 59-60).
Publicações Oneworld, 2020. Edição do Kindle.
O mito de Er
• Os mitos em Platão.

• Uma “experiência de quase-


morte” (EQM) no livro X de A
República.
• “Disse que a sua alma, quando saiu [do corpo], foi encaminhada com
muitas outras e chegaram a um certo local extraordinário, onde
havia, uma ao lado da outra, duas aberturas a partir da terra e, no
sentido oposto, outras duas lá no alto a partir do céu. Entre as
aberturas estavam sentados uns juízes, que, depois de terem proferido
a sentença, mandavam seguir os justos, pela direita, o caminho
para cima, pelo céu, e os injustos, pela esquerda, o caminho para
baixo. Aos justos anexaram na frente as provas da sentença, e os
injustos tinham nas costas as provas de tudo o que praticaram.
Quando Er compareceu, disseram que ele devia servir de mensageiro
para os homens acerca das coisas do além, e ordenaram-lhe que
ouvisse e contemplasse tudo o que há nesse lugar.”
• “Viu de que modo as almas, depois de lhes ter sido dada a sentença,
saíam por cada uma das duas aberturas do céu e da terra.
Quanto às outras duas, por uma subiam da terra as almas cheias de
sede e de poeira, e pela outra desciam do céu as almas purificadas. E
as que iam chegando pareciam regressar de uma longa viagem: saíam
contentes para os prados e acampavam como num festival. As que se
conheciam cumprimentavam-se umas às outras, as que chegavam da
terra pediam informações às outras sobre as coisas do além, e as que
chegavam do céu pediam informações sobre as outras almas.
Narravam umas às outras as suas experiências: umas, lamentando-se
e chorando, recordavam o quanto e como sofreram e viram durante a
viagem por baixo da terra (viagem que dura mil anos); outras, as que
vinham do céu, falavam sobre delícias e visões de uma beleza
inconcebível.”
• Os crimes “imperdoáveis”, “homens selvagens” e o “mugido” que
barrava os grandes culpados de chegar ao campo de encontro.

• A intervenção das Parcas: o sorteio e a escolha das próximas vidas.

• A atribuição de um daimon para cada um.


• “...O primeiro a ser sorteado logo se precipitou a escolher a maior
das tiranias; por insensatez e ganância, não teve em suficiente
consideração o que estava incluído na escolha e descurou que o
destino lhe reservava comer os próprios filhos, além de outros males.
Mas, depois de ter analisado com atenção, flagelava-se e lamentava-
se pela escolha, por não se ter atido às recomendações do profeta.
Não atribuía a si a responsabilidade pelos males, mas sim ao acaso,
aos daimones e a qualquer outra coisa que não a si mesmo. Ele era
um dos que chegavam do céu e dos que tinham vivido, na existência
anterior, numa cidade organizada. Tinha participado da virtude pelo
hábito e não pela filosofia.”
• “A alma de Ulisses, por acaso sorteada no último lugar de todos,
chegava então para escolher. Como se lembrava das anteriores
agruras, prescindiu da fama e andou às voltas, durante muito tempo,
à procura da vida de um homem discreto e recatado. A duras penas a
descobriu, esquecida num canto e negligenciada pelos restantes.
Quando a viu, disse que faria a mesma coisa se tivesse sido sorteado
em primeiro lugar e escolheu-a satisfeito.”
Bibliografia
• EHRMAN, Bart D. Heaven and Hell: A History of the Afterlife.
Oneworld Publications, 2021.

• GHIRALDELLI, Paulo. 10 Lições sobre Sócrates. Vozes, 2019.

• MIRANDA, Hermínio C. O Exilado e Outras Histórias que os Espíritos


Contaram. Correio Fraterno, 1997.

• TAYLOR, C.C.W. Socrates: A Very Short Introduction. 2nd edition.


Oxford University Press, 2019.

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