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Genética populacional

O paradoxo dos recessivos

Uma ideia comum pouco depois da redescoberta das leis de Mendel,


era que fenótipos associados a genes dominantes tendiam a aumentar
de frequência populacional de geração em geração, enquanto que
fenótipos associados a homozigotia para genes recessivos tendiam a
diminuir e, no limite, desapareciam das populações.
Uma solução proposta por G. H. Hardy e W. Weinberg

• Janeiro de 1908: Wilhelm Weinberg, médico alemão (obstetra),


calcula as frequências esperadas numa população de nascimentos
gemelares para testar a hipótese de que ter gémeos dizigóticos era
uma característica mendeliana. Derivou as condições de equilíbrio
numa população para um locus com 2 alelos. Über den Nachweis der
Vererbung beim Menschen. Jahresh. Wuertt. Ver. vaterl. Natkd.
64:369-382

• Seis meses depois, Julho de 1908: as proporções genotípicas


esperadas e a tendência para se manterem estáveis numa população,
foram independentemente derivadas pelo matemático inglês G. H.
Hardy e publicadas na Science; o problema tinha-lhe sido posto pelo
amigo com quem jogava cricket, R.C. Punnett. Mendelian proportions
in a mixed population. Science 28: 49-50
Teoria Mendeliana da Hereditariedade
extensão populacional, 1908

Godfrey Harold Hardy Wilhelm Weinberg


(1877 - 1947) (1862-1937)

Um modelo para explicar (e compreender) características


mendelianas no enquadramento populacional

• Os modelos representam versões idealizadas de fenómenos complexos


• Modelos matemáticos simples clarificam questões, proporcionam instrumentos (caminhos)
de análise e permitem fazer inferências sobre acontecimentos passados com base na
diversidade actual.
Um parâmetro fundamental em Genética populacional, é a
frequência com que um dado gene (alelo) ocorre numa população

Frequências genotípicas Frequências génicas

População MM MN NN p (M) q (N)

Esquimós 0.835 0.156 0.009 0.913 0.087


Aborígenes australianos 0.024 0.304 0.672 0.176 0.824
Egípcios 0.278 0.489 0.233 0.523 0.477
Alemães 0.297 0.507 0.196 0.550 0.450
Chineses 0.332 0.486 0.182 0.575 0.425
Nigerianos 0.301 0.495 0.204 0..548 0.425

ESTIMATIVA DE FREQUÊNCIAS GÉNICAS POR CONTAGEM DIRECTA

p (Esquimós) = 0.835 + ½ 0.156 = 0.913


q (Esquimós) = 1-0.913 =0.087
p+q=1
OS PRESSUPOSTOS DE HARDY-WEINBERG
Cruzamentos ao acaso
População infinitamente grande
Ausência de selecção, migração, mutação
Sem sobreposição de gerações: Gt0  gene pool  Gt1  gene pool

AB BB
1 locus BB AA
A=B
AB

AA

FREQUÊNCIAS GENOTÍPICAS FREQUÊNCIAS GÉNICAS

f(AA) = 0.25 p = f(AA) + ½ f(AB) = 0.5


f(AB) = 0.50
f(BB) = 0.25 q = f(BB) + ½ f(AB) = 0.5

Quais as frequências génicas e genotípicas após 1, 2, 3… gerações de cruzamentos ao acaso?


.25
AA .50
AB .25
BB

.25 AA
.50 AB
.25 BB

GENE POOL da POPULAÇÃO


EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG

A B A B
p q 0.5 0.5
A AA AB A AA AB
p p2 pq 0.5 .25 .25
B AB BB B AB BB
q pq q2 0.5 .25 .25

f(AA) = 0.25
(p+q) = p +2pq +q = 1
2 2 2
f(AB) = 0.50
f(BB) = 0.25
AA AB BB
Fibrose quística

•Doença autossómica recessiva; gene - CFTR-


localizado no cromossoma 7
•Deficiência nas glândulas que produzem
muscosividades - muco dos pulmões, aparelho
gastro-intestinal, reprodutor- glândulas
sodoríperas, lacrimais....
•Média de vida: 30 anos
FQ, afecção hereditária
•Incidência: 1/2000 recém nascidos caracterizada por
congestionamento dos
pulmões e má-absorção de
nutrientes no pâncreas

a) Qual a frequência do gene da FQ?


b) Qual a frequência de portadores na população ?
a)
2
Normais (FF + Ff) = p + 2pq = 1999/2000
2
Afectados (ff) = q = 1/2000

q= 1/2000 = 0.022

p = 0.978
b)

Frequência de portadores (Ff) = 2pq = 2 x 0.022 x 0.978 = 0.043


FF = p2
Ff =2pq

2pq
P(Ff/Normal) = 2
= 0.0431
? p + 2pq

R = ½ x 0.0431 = 0.0215

R = 2/3 x 0.0431 x ¼ = 0.007

?
Extensão do formalismo de Hardy-Weinberg a loci heterossómicos

DESIDROGENASE DA GLUCOSE-6-FOSFATO
G-6-PD

glucose-6-fosfato+NADP glucose-6-fosfogluconato + NADPH

♀ AA AB BB
p
♀ = 2*9+42/200 = 0.3
9 42 49
p
♂ = 27/100 = 0.27 pT = 0.29
♂ A- B-
27 __
73

Loci heterogaméticos
AA AB BB

p2 2pq q2
pT = 2/3 p + 1/3 p
♀ ♂ A- B-

p q
Sistema MN Frequências Frequências Grupo sanguíneo ABO
genotípicas génicas
População MM MN NN p (M) q (N)
Esquimós 0.835 0.156 0.009 0.913 0.087
Aborígenes
australianos 0.024 0.304 0.672 0.176 0.824
Egípcios 0.278 0.489 0.233 0.523 0.477
Alemães 0.297 0.507 0.196 0.550 0.450
Chineses 0.332 0.486 0.182 0.575 0.425 B
Nigerianos 0.301 0.495 0.204 0.548 0.425

• Que factores determinam a ampla variação


de frequências génicas de população para
população?
• Porque alteram as frequências génicas numa
população? O
DESVIOS ÀS CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO DE HARDY-WIENBERG

DERIVA GÉNICA – alteração aleatória das frequências génicas numa população de geração em geração

Simulações sobre o efeito da deriva genética nas frequências alélicas (frequência do


alelo A) em populações de baixo e elevado efectivo. (a) 25 indivíduos reprodutores
por geração em 9 grupos; (b) 500 indivíduos reprodutores por geração em 9 grupos.
AUSÊNCIA DE CRUZAMENTOS AO ACASO

Existem dois tipos de desvios à panmixia:

1) Consanguinidade (inbreeding) – se o cruzamento entre


indivíduos aparentados ocorre com maior frequência do que
seria esperado acontecer ao acaso.

2) “Assortative mating” – os indivíduos podem cruzar-se


preferencialmente com outros que partilhem uma mesma
característica (positivo), ou que não a partilhem (negativo).
MUTAÇÃO – fonte de variação genética; grande variabilidade taxas de mutação de gene para gene

Efeito da mutação nas frequências alélicas

Variação na frequência do alelo A devido a mutação A → a,


assumindo taxa de mutação (μ) constante.
MIGRAÇÃO (fluxo génico) troca de genes entre populações; tende a eliminar diferenças
genéticas entre populações

Fluxo genético
Aumento da variabilidade intra-populacional
Diminuição da variabilidade inter-populacional

Mistura populacional nos


negros N. Americanos. A
escala da esquerda indica %
de mistura calculada com
base na frequência do gene
Fya (escala da direita).
Assume-se que a frequência
deste gene na população
ancestral africana seria zero,
enquanto que na população
europeia é de 40%.
SELECÇÃO – reprodução diferencial de indivíduos com diferentes fenótipos numa população

Alguns fenótipos/genótipos conferem maior ou menor


adaptabilidade a condições ambientais particulares.

Reprodução diferencial pode ser determinada por diferenças entre


indivíduos quanto a factores como mortalidade, fertilidade,
fecundidade, sucesso no cruzamento ou viabilidade da
descendência.

Directional selection Stabilizing selection Disruptive selection

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