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Um adeus português

Alexandre O’Neill

Realizado por: Ana


Biografia do poeta

 Alexandre Manuel Vahia de Castro O´NEILL de Bulhões nasceu a 19 de Dezembro de


1924, em Lisboa, e morreu a 21 de agosto de 1986.

 Alexandre de O´Neill era filho do bancário António Pereira, e de Maria de Glória Vahia de
Castro O´Neill de Bulhões, dona de casa.

 Publicou os primeiros poemas num jornal de Amarante aos 17 anos, mas nunca foi
incentivado pela família.
Biografia do poeta

 Alexandre O´Neill foi um dos fundadores do movimento Surrealista de Lisboa que


rapidamente foi descoberto e acabou.

 Alexandre O´Neill foi preso várias vezes pela PIDE.

 Publicou a sua primeira obra, “A Ampola Miraculosa”, em 1948 e publicou a sua última
obra, “Dezanove Poemas“, em 1983.

 Na sua vida publicou ao todo 11 obras originais.


Um adeus português

https://www.youtube.com/watch?v=Wc9h3TsbId4
Resumo do poema
Interpretação do poema
• Poema com aspeto biográfico;
• Alexandre O’Neill apaixonou-se por uma francesa chamada Nora Mitrani;
• Não pode ir com ela para França, devido a um membro da família que se
opunha; a Pide proibiu-o de sair do país e tirou-lhe o passaporte;
• mais tarde, O’Neill procurou-a em Paris, mas já tinha falecido.
Análise do poema

Nos teus olhos altamente perigosos


vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

5
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila Alexandre O’Neill critica o ambiente em
quase medita Portugal nesta época ao compará-lo a uma
10 tourada.
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
15 que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos O sujeito poético critica ainda a
miséria e a burocracia em Portugal.
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
20 à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
25 policial
Algumas das expressões que
até ao dia que não vem da promessa criticam a repressão política do
puríssima da madrugada Estado Novo
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
30 Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão O sujeito poético não
a esta pequena dor à portuguesa critica só o governo, mas
tão mansa quase vegetal também o povo português e
o facto de este se
conformar com o que tem.

35 Não tu não mereces esta cidade não mereces


esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia O sujeito poético não
esta pequena morte critica só o governo mas
também o povo português e
e o seu minucioso e porco ritual
o facto de este se
40 esta nossa razão absurda de ser conformar com o que tem.
Repetido!
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
Referência à cidade do amor
45 tu és da cidade onde vives por um fio
(Paris) também sinónimo de
de puro acaso liberdade
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um
[comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
50 Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
Despedida do sujeito poético da
e como um adolescente mulher que ama.
tropeço de ternura
por ti.
55
Divião do poema

Este poema pode ser dividido em 3 partes:


 A primeira parte começa na 1º estrofe, onde nos apresenta o ”tu”(mulher amada) e indica já a
despedida e separação imediata;(sabemos que o “tu” é uma mulher pela palavra “presa”)

 A segunda parte começa na estrofe 2 até à 7 e apresenta as várias razões pelas quais o sujeito
poético e o “tu” não podem ficar juntos;

 Na última estrofe, dá-se a despedida e separação dos dois.


Analise detalhada do poema

Em relação aos valores expressivos:


 Anáfora que introduz as estrofes 2,3,4 e 6: É iniciada por um advérbio de negação e serve para
ilustrar os motivos que tornam o amor entre o sujeito poético e “tu” impossível;

 Enumeração gradativa presente na 3ª estrofe: Vai dos aspetos positivos para os negativos,
realçando a opressão da cidade;

 Acumulação de adjetivos na 4ª estrofe: Adjetivos como “mortal”, “sórdido” e “canino” servem


para acentuar o clima de “castigo” vivido na cidade.
Continuação…

Ao longo do poema, o sujeito poético aborda insistentemente o “tu”; isto é visível nos:
 Pronomes “tu” nos versos 5, 35, 41,45, “te” (v.52), “ti” (v.55);
 Determinantes “teus” (v.1), “teu” (v.51);
 Verbos “podias” nos versos 5,12,22,30, “mereces” (v.35), “és” nos versos 41 e 45, “vives”
nos versos 45 e 47 e “morres” (v.47).
O sujeito poético e o “tu” têm uma relação amorosa intensa que inevitavelmente acaba com o
afastamento e a despedida dos dois.
 Se procurarmos uma interpretação menos romântica/sentimentalista do poema, podemos
dizer que o sujeito poético fica para trás, agarrado ao seu sofrimento (símbolo de Portugal)
enquanto o “tu” avança para a liberdade (símbolo de França ou qualquer outro país sem
ditadura)
Fim!! Eu tirava isto…

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