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Hermenêutica e

Lógica Jurídica I
Professora Mara Regina de Oliveira
Mestre e doutora em Filosofia do Direito, pertencente ao
quadro de professores efetivos da PUC-SP e FADUSP-SP
APRESENTAÇÃO METODOLÓGICA
• ENFOQUE TEORICO ZETETICO JURÍDICO

• ENFOQUE TEORICO DOGMATICO JURÍDICO

• LÓGICA FORMAL – DEDUÇÃO/INDUÇÃO

• LÓGICA MATERIAL –
INTERPRETAÇÃO/ARGUMENTAÇÃO
Primeiro semestre
Noções básicas de Lógica geral formal

Texto base- Salmon, Wesley C. Lógica, 3 ed, Rio de


Janeiro, Prentice Hall de Brasil.
Machado, Nilson José, Cunha, Marisa Ortegoza,
Lógica e linguagem cotidiana, verdade, coerência,
comunicação e argumentação, Autêntica, Belo
Horizonte, 2005

Lógica geral formal aplicada à linguagem normativa.

Texto base – Kelsen, Hans, Teoria Pura do Direito,


Armenio Amado, Coimbra, 1980
Forma x conteúdo

Todo homem é um ser


mortal.

João é um ser mortal.

Logo, João é um homem.


Todo homem é um ser
mortal.

João é um homem.

Logo, João é um ser mortal.


Todo homem é um ser mortal.

João não é um homem.

Logo, João não é um ser


mortal.

Todo homem é um ser


mortal.

João não é um ser mortal.

Logo, João não é um homem.


OBJETIVOS GERAIS:

Proporcionar métodos que permitam


identificar argumentos corretos ou
incorretos, do ponto de vista da sua
estrutura formal. A Lógica Jurídica
desempenha um papel fundamental na
formação intelectual do estudante,
viabiliza a compreensão, análise e síntese
do pensamento, mediante o emprego
adequado da dedução, da indução ou da
analogia.
TODO HOMEM É UM SER
MORTAL
DIMENSÃO SINTÁTICA – relação dos
conceitos ou termos entre si.
Estrutura/forma – Qual a função das
palavras todo homem?
DIMENSÃO SEMÂNTICA – significado dos
conceitos. O que significam as palavras um
ser mortal?
DIMENSÃO PRAGMÁTICA – Como os
conceitos ou termos podem modificar os
comportamentos?
LÓGICA CLÁSSICA - Dedução & indução –
Dimensão sintática da linguagem.
LÓGICA SIMBÓLICA – Todo A é B. Dimensão
sintática da linguagem.
LÓGICA DEÔNTICA – Se A, deve ser B Dimensão
sintática da linguagem.
LÓGICA DO CONCRETO – Interpretação e
argumentação. Dimensão semântica e
pragmática da linguagem.
ARGUMENTO: é uma coleção de
ENUNCIADOS ou PROPOSIÇÕES
( premissas + conclusão) que
se relacionam normalmente. As
premissas devem corroborar a
conclusão. Os enunciados
relacionam os CONCEITOS
(palavras) entre si.

Estou cansada, pois trabalhei


demais esta semana, e trabalhar
muito deixa qualquer um cansado.
A correção ou incorreção lógica de
uma argumento só depende da
relação entre as premissas e a
conclusão. Um argumento pode
apresentar premissas verdadeiras,
que só na aparência sustentam
logicamente a conclusão, e que, de
fato, são incorretos do ponto de
vista lógico. São as chamadas
falácias.
•Todo homem é um ser
mortal.

João é um ser mortal.

Logo, João é um homem.


Um argumento pode
apresentar premissas e
conclusões falsas, mas ser
correto do ponto de vista
lógico. A correção lógica
constitui um elemento
importante de justificação
de um enunciado.
Todo gato é um ser aquático.

João é um gato.

Logo, João é um ser aquático.


A ANÁLISE LÓGICA DO DISCURSO
SE DESENVOLVE EM TRÊS ETAPAS:

a. reconhecimento do argumento.
b. Identificação das premissas e
conclusões e reformulação da
forma padrão.
c. se o argumento estiver
incompleto, as premissas omitidas
devem ser fornecidas.
Inferência: Atividade psicológica
que nos leva a ter crenças ou
opiniões a partir de outras. A
inferência não é uma atividade
linguística, mas um processo
mental de descoberta intuitiva das
evidências e bem da relação que
existe entre elas e a conclusão. Este
descobrir, na maioria das vezes, se
desenvolve por um processo de
livre regramento lógico.
A Lógica nunca poderá determinar
regras que nos ensinam a inferir, o
pensamento efetivo depende do
livre jogo da imaginação e
independência, que não pode se
ater a métodos rígidos que
poderiam bloquear o pensamento.
Neste ano, não coordenarei as
aulas de seminário de IED, pois fui
escalada para trabalhar em Lógica
Jurídica e estas aulas são
ministradas no mesmo horário.

Neste ano, não coordenarei as


aulas de seminário de IED. Houve
greve no início do ano, e muitas
enchentes em São Paulo
IDENTIFIQUE AS
PREMISSAS E A CONCLUSÃO

É lógico que o time A é o melhor do


atual campeonato uma vez que tal
time tem o melhor ataque, a defesa
menos vazada e o maior números de
pontos ganhos.
É lógico que o time A é o melhor
do atual campeonato uma vez que
tal time tem o melhor ataque, a
defesa menos vazada e o maior
números de pontos ganhos.
Como nenhum réptil voa e as
serpentes são répteis, as
serpentes não voam.
Como nenhum réptil voa e as
serpentes são répteis, as
serpentes não voam.
Um automóvel deve custar
mais do que uma bicicleta,
uma vez que gasta-se muito
mais com material e mão de
obra em sua construção.
Um automóvel deve custar
mais do que uma bicicleta,
uma vez que gasta-se muito
mais com material e mão de
obra em sua construção.
O café não é um produto
importado; portanto, não
deveria ser caro, uma vez que
todos os produtos importados
é que são caros.
O café não é um produto
importado; portanto, não
deveria ser caro, uma vez que
todos os produtos importados
é que são caros.
ENUNCIADOS E
ARGUMENTOS
CONDICIONAIS
Enunciados condicionais: são enunciados
complexos compostos de dois enunciados
componentes (antecedente e
consequente) que se ligam por meio do
conectivo “se….então”…
Se um animal é um peixe, então ele
vive na água.
• Se f, então g
Este animal é um peixe, somente se
vive na água.
“Somente se” equivale “então...”

Se um animal não vive na água, então ele


não é um peixe.

Se não g, então não f.


Se um animal é um peixe,
então ele vive na água.

Este animal é um peixe.

Logo, este animal vive na


água.
Se um animal é um peixe,
então ele vive na água.
Este animal não vive na
água.
Logo, este animal não é
um peixe.
Se este animal é um
peixe, então ele vive na
água.
Este animal não é um
peixe.
Logo, este animal não
vive na água.
Se este animal é um
peixe, então ele vive na
água.
Este animal vive na água.
Logo, este animal é um
peixe.
Formas válidas

Afirmação do antecedente e
negação do consequente

Formas inválidas

Negação do antecedente e
afirmação do consequente
Se este animal não vive
na água, então ele não é
um peixe.
Este animal é um peixe.
Logo, este animal vive na
água.
Se este animal não vive
na água, então ele não é
um peixe.
Este animal não vive na
água.
Logo, este animal não é
um peixe.
Se este animal não vive
na água, então ele não é
um peixe.
Este animal vive na água.
Logo, este animal é um
peixe.
Se este animal não vive na
água, então ele não é um
peixe.
Este animal não é um peixe.
Logo, este animal não vive
na água.
Se o homem não tem livre arbítrio, então ele não
é indeterminado.
O homem é indeterminado.
Logo, o homem tem livre-arbítrio

Se o homem não tem livre arbítrio, então ele não


é indeterminado.
O homem não tem livre arbítrio.
Logo, o homem não é indeterminado.
FORMAS VÁLIDAS – NEGAÇÃO DO
CONSEQUENTE E AFIRMAÇÃO DO
ANTECEDENTE
• Se não A, então não B
• Não (não B)= B
• Logo, Não (não A) = A

• Se não A, então não B


• A (não A)
• Logo, B (não B)
Se o homem não tem livre arbítrio, então ele não
é indeterminado.
O homem não é indeterminado.
Logo, o homem não tem livre-arbítrio

Se o homem não tem livre arbítrio, então ele não


é indeterminado.
O homem tem livre arbítrio.
Logo, o homem é indeterminado.
FORMAS INVÁLIDAS – AFIRMAÇÃO DO
CONSEQUENTE E NEGAÇÃO DO
ANTECEDENTE
• Se não A, então não B.
• B (não B)
• Logo, A (não A)
• Se não A, então não B.
• Não (não A) =A
• Logo, Não (não B) = B
A justiça não é a principal
finalidade do direito. Isto
ocorreria, somente se todas
as decisões jurídicas
pudessem ser demonstradas
como sendo justas, o que é
impossível.
Se a justiça é a principal finalidade
do direito, então todas as decisões
jurídicas poderiam ser
demonstradas como justas.

Todas as decisões não podem ser


demonstradas como justas.

Logo, a justiça não é a principal


finalidade do direito.
Todos os homens são mortais
João é homem
Logo, João é mortal

Todos os homens selecionados


são mortais

Logo, todos os homens são


mortais.
DEDUÇÃO E INDUÇÃO
Em um argumento dedutivo
correto, o conteúdo da conclusão
não ultrapassa o conteúdo das
premissas, apenas o explicita.

Em um argumento dedutivo
correto, se as premissas forem
verdadeiras, a conclusão também
será necessariamente verdadeira.
Argumentos indutivos.

Os argumentos indutivos são


elaborados com o objetivo de
estabelecer conclusões cujo
conteúdo é muito mais amplo
do que o conteúdo das
premissas. Para tanto, eles
sacrificam o caráter de
necessidade presente nos
argumentos dedutivos.
Um argumento indutivo correto
pode ter premissas verdadeiras
e uma conclusão falsa, se as
premissas forem verdadeiras, a
conclusão é provavelmente
verdadeira.
INDUÇÃO POR ENUMERAÇÃO

Trata-se do tipo mais simples


de argumento indutivo. A partir
de premissas que se referem a
alguns elementos observados
desta classe, extrai-se uma
conclusão sobre todos os
elementos observados desta
classe.
Todos os grãos de uma amostra
observada são do tipo
mulatinho.

Logo, todos os grãos de feijão


do barril são do tipo mulatinho.

75% dos elementos observados


de A são B.

75% dos A são B.


A fim de construir argumentos
indutivos com a menor
probabilidade de chegarmos a
conclusões falsas, a partir de
premissas verdadeiras, é preciso
que a amostra conte com um
número suficiente de dados para
sustentar a generalização e
também é preciso que as amostras
sejam representativas dos
aspectos gerais a serem
analisados.
Formas falaciosas.

Estatística insuficiente -
Número insuficiente de dados.

Estatística tendenciosa - Falta


de representatividade nos
aspectos gerais.
ARGUMENTO DE AUTORIDADE
Consiste em sustentar uma conclusão
ao citar alguma pessoa, instituição ou
obra a qual assevera esta conclusão.
As premissas podem ser verdadeiras,
mas a conclusão apenas
provavelmente verdadeira, na medida
em que é fato que as autoridades
idôneas não estão livres de cometer
erros.
A grande maioria das
afirmações feitas por X a
respeito do assunto Z são
verdadeiras.

H é uma afirmação feita por X a


respeito do assunto Z

Logo, H é verdadeira.
Formas falaciosas:

1. A autoridade pode ser


erroneamente citada ou
interpretada.
2. A autoridade não tem
competência em alguma área
do conhecimento, mas tem
prestígio, fascínio e
popularidade.
.
3. Especialistas podem emitir
opiniões sobre algo fora da suas
esferas específicas de competência.

4. As autoridades podem expressar


opiniões sobre temas para os quais
lhes falta qualquer evidência.

5. Autoridades igualmente
competentes não podem discordar.
Analogia

Baseia-se numa comparação de


objetos de dois tipos diferentes.
Objetos de uma espécie são
semelhantes, em certos
aspectos, a objetos de uma
outra espécie. Os objetos da
primeira espécie possuem uma
determinada característica,
mas não temos
certeza se os objetos da
segunda espécie a tem ou não.
Por analogia, concluímos que,
como os objetos das duas
espécies são semelhantes em
alguns aspectos, também o são
em outros elementos. As
analogias podem ser fracas ou
fortes.
A força de uma analogia
depende principalmente das
semelhanças entre os dois tipos
de objetos que estão sendo
comparados. Os objetos
semelhantes devem ser
similares em aspectos
relevantes para os argumentos.
Na medida em que aumentam
as semelhanças relevantes a
analogia se fortalece.
Os objetos do tipo A têm as
propriedades X e Z.

Os objetos do tipo B têm as


propriedades X e Z.

Os objetos do tipo A têm a


propriedade S

Logo, por analogia, os objetos


do tipo B têm a propriedade S.

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