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Intertextualidade

Celio Saraiva
“A intertextualidade compreende as diversas maneiras
pelas quais a produção/recepção de um dado texto
Depende do conhecimento de outros textos por parte
Dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações
Que um texto mantém com outros textos.” [Koch]

“A intertextualidade stricto sensu ocorre quando, em um texto,


está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido,
que faz parte da memória social de uma coletividade ou da
memória discursiva dos interlocutores.” [Koch]

Explícita: a fonte é mencionada no intertexto


- citações, referências, resumos, traduções

Implícita: a fonte não é mencionada no intertexto


- paráfrases, apropriações, formulações

Intertextualidade
Santana: “Samba pa ti”
[1970 – show: Mexico City, 1993]

Ary Barroso: “Aquarela do Brasil”


[Carnaval de 1939]

Ô, abre a cortina do passado


Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil!

Intertextualidade
“[...] a textualidade é o modo de toda
e qualquer comunicação transmitida
por sinais, inclusive os lingüísticos.”

[Schimidt, apud Koch]

Intertextualidade
No reason to get excited

There’s too much confusion

There must be some kind of way


[out of here

There must be some kind of way


[out of here

Said the Joker to the thief

There’s too much confusion here

I can get no relief

Intertextualidade
No reason to get excited
There’s too much confusion

All Along the Watchtower


[Bob Dylan]

There must be some way out of here, said the joker to the thief,
There’s too much confusion, I can get no relief.
Businessmen, they drink my wine, plowmen dig my earth,
None of them along the line know what any of it is worth.

No reason to get excited, the thief, he kindly spoke,


There are many here among us who feel that life is but a joke.
But you and i, we’ve been through that, and this is not our fate,
So let us not talk falsely now, the hour is getting late.

All along the watchtower, princes kept the view


While all the women came and went, barefoot servants, too.

Outside in the distance a wildcat did growl,


Two riders were approaching, the wind began to howl.
There must be some kind of way Said the Joker to the thief
[out of here Intertextualidade
I can get no relief
Fiz Esta Canção
fiz essa canção só pra você
[Zeca Baleiro]
mas pra quê?
se você gosta só de mpb
pra que que eu vou cantar
e eu sou puro
se você não vai escutar
puro rock’n’roll
a voz do coração
com meus três pobres acordes
deste compositor popular
meu bem acorde
não não não vou chorar
venha ver meu show
se bem que eu tinha razão
mas isso não é bossa nova
nem samba-canção
só quero que você
pretty woman
seja minha ouvinte walking down the street
mas você não me dá ouvidos pretty woman
então é o seguinte

[Pretty Woman,
Roy Orbison / Bill Dees]

Intertextualidade
Flores do Asfalto
Vou morrer de saudade
[Zeca Baleiro] Vou morrer de saudade
Não, não vá embora
Os sinos dobram, dobro a esquina adiante Não, não vá embora
O céu me espia mais azul que antes
Os mortos andam como eu nas avenidas
O sangue escorre da mesma ferida [Você, Tim Maia]

Ergo as mãos pro alto, nos meus dedos os anéis


Flores crescem no asfalto, debaixo dos meus pés

Tudo silencia, ouço só meu coração


A rua acaba e meus sonhos vão
Piso na poça, uma moça estende a mão
Meus olhos brilham, vejo o céu no chão

Ergo as mãos pro alto, nos meus dedos os anéis


Flores crescem no asfalto, debaixo dos meus pés
Deixo o dia para trás
Sono e sonho a noite me traz
Deixo o dia para trás
E a dor Intertextualidade
E os dias passam sedentos
Nessa imensa mesa de bar
Não Vale Nada Copos vazios
[Velhas Virgens] Que brindam saúde
A quem não me quer mais
Hoje eu encontrei Não me quer mais
Um velho retrato seu
Por onde andarão os olhos *“Toma um fósforo
Que uns dias foram meus Acende teu cigarro!
O beijo, amigo,
A rua sem você É a véspera do escarro
Vazia é quase nada A mão que te afaga
Escura suja e triste É a mesma que te apedreja
Recordação maltratada Se alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Bêbado, rouco e louco Escarra na boca que te beija!”
Eu danço entre os carros
Na marginal congestionada
Grito blasfemo
Paixão e ódio *Versos Íntimos
Mágoa despeito Augusto dos Anjos (1884/1914)
Uma mulher não vale nada
Intertextualidade
Bom Conselho
[Chico Buarque]

Ouça um bom conselho


Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado: quem espera nunca alcança

Venha meu amigo, deixa esse regaço


Brinque com meu fogo, venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do vento, vim não sei de onde


Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Intertextualidade
Os Argonautas
[Caetano Veloso]

O Barco!
Meu coração não aguenta O Barco!
Tanta tormenta, alegria O automóvel brilhante
Meu coração não contenta O trilho solto, o barulho
O dia, o marco, meu coração Do meu dente em tua veia
O porto, não!... O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...(2x) Navegar é preciso
Viver não é preciso...(6x)
O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...

Navegar é preciso
Viver não é preciso (2x)
Intertextualidade
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso". *

Quero para mim o espírito desta frase, transformada


A forma para a casar como eu sou: viver não
É necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.


Só quero torná-la grande, ainda que para isso
Tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso


Tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho


na essência anímica do meu sangue o propósito
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

[Fernando Pessoa]
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(*) Nota de Soares Feitosa:
"Navigare necesse; vivere non est necesse“

- latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC.,


dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam
viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.

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INTERTEXTUALIDADE: VARIAÇÕES

EPÍGRAFE

Constitui uma escrita introdutória a uma outra escrita.

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INTERTEXTUALIDADE: VARIAÇÕES

PARÁFRASE

É a reprodução de um texto com as palavras de quem o está


produzindo. Não se confunde com o plágio, pois este é a cópia
deliberada de uma obra.

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INTERTEXTUALIDADE: VARIAÇÕES

PARÓDIA

É a reprodução “distorcida” de um texto com a intenção de


ironizar ou criticar.

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KOCH, Ingedore G. Vllaça.
Introdução à Linguística Textual.
São Paulo, Martins Fontes, 2006.

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