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Figuras de Som’

As Figuras de Som ou de Harmonia correspondem a uma categoria das figuras de


linguagem associadas à sonoridade.

Elas valorizam a expressividade do texto, por meio da sonoridade, ou seja, da repetição


de sons.
Assonância
A assonância é uma figura de linguagem que consiste na repetição de fonemas vocálicos,
especialmente em sílabas tônicas, para inferir um som e estabelecer efeitos sonoros
específicos no texto. Trata-se de um recurso linguístico muito utilizado em poemas ou letras
de música, mas também pode ocorrer em textos em prosa.
“Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina”

(Cecília Meireles)
Sugar Cane Fields Forever

[...]Paturi tava sentado


Lá na beira da lagoa
Esperando a pata nova
Pra que lado ela avoa
Cho! Paturi, da lagoa
Cho! Paturi, da lagoa

Sou um mulato nato


No sentido lato
Mulato democrático do litoral […]
VELOSO, Caetano. Sugar Cane Fields Forever
Sou Ana, da cama
Da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam […]

(Ana de Amsterdam, Chico Buarque e Ruy Guerra, 1977)


“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...” (Eugênio de Castro)

“Berro pelo aterro/Pelo desterro/Berro por seu berro/Pelo seu erro” (Caetano Veloso)
A assonância também ocorre em textos em prosa. Veja o exemplo abaixo, escrito por
Guimarães Rosa.

“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a duas léguas do arraial, na estrada
do norte, os seus cálculos acharam conclusão:

Acertei minha ideia: eu não podia, por lei de rei, admitir o extrato daquilo.
Aliteração
"Enquanto a assonância promove repetições de sons vocálicos, especialmente as sílabas tônicas, a aliteração é a repetição
de sons consonantais.
“A brisa do Brasil beija a balança.”
(Castro Alves, “Navio Negreiro”)

Note a repetição do fonema /b/. Trata-se de um efeito sonoro, marca do escritor Castro Alves, que traz plasticidade ao
texto, ou seja, a repetição do fonema compõe o efeito de sentido da obra.
Berro pelo aterro, pelo desterro/Berro por seu berro, pelo seu erro/Quero que você ganhe, que você me apanhe/Sou o
seu bezerro gritando mamãe.”

(Caetano Veloso)

No exemplo acima temos tanto a assonância das vogais “e”, quanto as aliterações causadas pelos efeitos sonoros das
consoantes “rr”.
“Vozes veladas, veludosas vozes,/Volúpias dos violões, vozes veladas/Vagam
nos velhos vórtices velozes/Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

(Cruz e Souza)

"Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos..." (Eugênio de Castro)

"Que a brisa do Brasil beija e balança." (Castro Alves)


Paronomásia
Do Grego, a palavra paronomasía corresponde à “aproximação de palavras” (união
dos termos para, que significa “ao lado” e onoma, que corresponde ao “nome,
palavra”).

A figura de linguagem paronomásia recebe esse nome porque utiliza os parônimos


para dar maior ênfase ao discurso. Os parônimos são palavras que se assemelham na
grafia e na pronúncia, entretanto, diferem no sentido.

São popularmente conhecidos como “trocadilhos” sendo muito comum nos


provérbios, no meio publicitário e humorístico.
• Quem casa, quer casa.

• Qual o doce preferido do átomo? Pé de molécula. (ao referir-se ao doce tradicional


brasileiro de amendoim: pé de moleque).

• Com tais premissas, ele sem dúvida leva-nos às primícias.” (Padre Antônio Vieira)

• “Exportar é o que importa.” (Delfim Netto)

• “Sagres sagrou então a Descoberta/E partiu encoberto a descobrir.” (Miguel Torga)


Onomatopeia
A onomatopeia é uma figura de linguagem que consiste na formação de uma palavra por meio da imitação de um som
produzido por pessoa, animal, objeto ou fenômeno da natureza.
"“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno
!Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria
!Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto![...]
”PESSOA, Fernando. Ode triunfal. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
Toc,toc,toc
alguém bate à porta,
mas ninguém se importa

Trim,trim,trim
toca o telefone
quem precisa de mim?

Blém,blém,blém
bate o sino daquela
igreja ali, além.

Au,au,au
late o cachorro,
olha como ele é mau!

Tui-tui-tuá, tui-tui-tuá
canta feliz o sabiá!

Tic-tac, tic-tac
o relógio insistente
bate, bate!

Marlene Couto
Também é muito empregada nos textos enviados pela internet. São exemplos os
fonemas que expressam, por exemplo, o som do riso:

“hahahaha, kkkkkk, rsrsrs”.


E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… (som de resmungos)
MEIRELES, Cecília. A língua do Nhem. In: Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

O pequeno ia no meio da carga, amarrado por um pano aos cabeçotes da cangalha.


De vez em quando, levava a mãozinha aos olhos, e fazia rah! rah! ah! ah! numa
enrouquecida tentativa de choro. (som de criança querendo iniciar o choro)
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.

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