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A FILOSOFIA DE

ARISTÓTELES
Professor Dr. Jackson Cordeiro de Almeida
Doutor em Educação
Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional
Especialista em Gestão Escolar
Especialista em Docência do Ensino Superior
Especialista em Inspeção Educacional
Especialista em Filosofia e Sociologia
Graduado em Filosofia
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) nasceu em Estagira, atual
Macedônia, e foi o mais ilustre discípulo de Platão. Seu pai,
Nicômaco, foi médico do rei Felipe da Macedônia que, por
sua vez, era o pai de Alexandre, o Grande, ou Magno
(realizador de um dos maiores impérios da história da
humanidade), de quem Aristóteles foi professor.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Em 340 a.C., alguns anos após a morte de seu mestre,
Aristóteles fundou em Atenas a sua própria escola,
chamada Liceu. Em 323 a.C., ano da morte de Alexandre
Magno, Aristóteles foi levado ao tribunal por motivos
religiosos. Foi condenado, mas, ao contrário de Sócrates,
aceitou o banimento e morreu no ano seguinte.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Se Platão, com seus questionamentos a respeito do que seria
justo ou injusto, abriu caminho para discussões em torno da
ética (Bem) e sua correspondência no âmbito da estética
(Belo).
• Foi Aristóteles quem aprofundou o debate e instituiu a ética
como um campo do conhecimento, a respeito do homem, que
deveria ser estudado. Isso o fez não sem colocar em questão o
pensamento platônico, não sem fazer uma crítica à teoria do
conhecimento de Platão.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• O início desta crítica residiu no mal estar de Aristóteles em
relação a certas afirmações platônicas. A princípio, como não
tinha como refutar as afirmações de seu mestre, pois estudava e
ensinava na Academia, fundada por Platão, o filósofo aceitava
a divisão platônica entre “mundo sensível” e “mundo
inteligível”.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Porém, algo o incomodava em demasia e remetia às seguintes
questões: existiam dois mundos? Por que haveria a necessidade
de um Mundo Material se este era apenas uma cópia imperfeita
do Mundo das Ideias?
• Será que Platão não havia criado um problema ainda maior ao
estabelecer a existência do Mundo Inteligível descolado do
Mundo Sensível? Seu erro não estaria em considerar que tudo
que muda é enganoso?
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Aristóteles encontrou uma resposta diferente, que conciliava o
conhecimento verdadeiro com o Mundo Material, sem apelar
para a divisão estabelecida por Platão. Que resposta foi esta?
ATO E POTÊNCIA

• Se as coisas mudam, deve haver uma razão e esta se encontra


no sentido de cada coisa ou ser. O sentido de cada coisa ou ser
estaria definido por uma potência inerente, interiorizada, que
forçava sua aparição na Terra. Para que esta potência surgisse
em aparência, ou seja, visualmente, era necessária a alteração
de sua forma exterior até que esta fosse igual à potência
interior.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• ... A cada momento de mudança da coisa ou do ser rumo ao seu
sentido, à sua realização, caberia uma forma, a qual Aristóteles
denominava Ato. Assim, todas as coisas e seres existiam em
Ato e Potência e o destino dos mesmos era um percurso em que
Ato e Potência fossem idênticos. ...
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES

• Seguindo o pensamento de Aristóteles, dentro do ovo está uma galinha, em estado de latência-
potência que quer aparecer, tornar-se ato, algo visível. Para tanto, o ovo, eclodindo, traz à luz
um pintinho que irá se transformar, mudar, em uma sequência de atos ao longo do tempo, até
se tornar uma galinha. Assim, é afirmada a verdade-galinha, quando a potência se
transformou em ato, em algo aparente. Platão não teria entendido o sentido da mudança, por
isso afirmou que tudo que mudava não era verdadeiro. Dessa forma, a crítica aristotélica ao
pensamento platônico se fazia com toda força, reafirmando o Mundo Material como espaço
de afirmação da verdade
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Para Aristóteles, Platão não soube entender a razão da
mudança, por isso considerava que toda alteração era engano,
erro, uma falácia, fruto da opinião. Dessa forma, Aristóteles
reconciliou o conhecimento com o Mundo Material,
estabelecendo uma filosofia que afirmava a physis como
provida de sentido, assinalando a verdade na própria natureza.
Um exemplo em que fica nítida esta proposta filosófica pode
ser encontrado ao estudarmos a semente de uma planta. ...
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
Para Aristóteles, a semente seria o Ato de algo im- presso no
• ...
interior “daquela coisa”. Dentro de uma semente havia, em
Potência, uma árvore. Assim, para que o “sentido árvore” fosse
realizado, a coisa, inicialmente vista como semente, deveria
mudar em vários Atos sucessivos até que, num dia, tornar-se-ia
uma árvore.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Para chegar a esse desenvolvimento filosófico, Aristó- teles
desenvolveu estudos da linguagem, preocupado em precisar as
coisas e os seres no universo das substâncias e das qualidades.
Nesse sentido, fez trabalhos com a gramática com a finalidade
de visualizar o que seria substantivo e adjetivo.
• Afinal, falar que uma cadeira tem quatro “pernas”, um assento
e um encosto referia-se ao inerente, ao próprio do objeto
cadeira, mas falar que uma cadeira era branca ou amarela não
alterava a substância da coisa cadeira, sendo apenas um
acidente.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• ...Assim, em sua teoria do conhecimento, definiu na
variabilidade dos seres e das coisas elementos substanciais e
acidentais, garantindo maior precisão, maior rigor ao debate em
torno da possibilidade de conhecer olhando para o Mundo
Material.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• As observações de Aristóteles produziram conheci- mentos
importantes a respeito da natureza, o que nos leva a considerá-
lo, por exemplo, o primeiro biólogo, o primeiro pensador a
estabelecer uma classificação dos seres vivos de acordo com
suas proximidades e distanciamentos. Tudo isso com o intuito
de precisar a verdade de cada ser. ...
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• Nesse sentido, acabou por colocar o homem no vértice da escala
dos seres, pois, em seus estudos, afirmou a diferença entre plantas
e animais. As primeiras não seriam dotadas de sensação, enquanto
os segundos sim. No caso dos animais, todos tinham sensação,
mas o único que possuía sensação, vontade e razão era o homem.
Dessa forma, o homem ocupava um lugar especial no mundo,
cabendo-lhe fazer o uso da razão, sua característica fundamental.
A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
• O que isso tudo tem a ver com a ética? De que forma a ética
emerge nos estudos aristotélicos como algo fundamental na
vida humana?
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

Para Aristóteles, o ser humano, por ser dotado de razão, busca a


realização da felicidade (em grego, eudaimonia), ou seja, do
Bem, e, para tanto, sua racionalidade tem função fundamental,
pois é a partir do entendimento racional, da busca do equilíbrio
por meio da medida, da proporção, ou seja, da razão, que o
homem pode atingir o Bem.
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

• Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência.


• (Aristóteles)
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

• Há, então, pela própria natureza humana um espaço de ação


que pretende atingir a vontade de ser feliz (sentido). Contudo,
tal ação deve ser movida pelas virtudes intelectual e moral. A
virtude intelectual é proveniente do ensino, da educação e se
consegue com a experiência; já a virtude mo- ral provém do
hábito, em grego éthos, daí surgindo a palavra êthiké (ética). ...
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

• ... Assim, a ética aparece na vida do homem como a


possibilidade de atuar por meio de atitudes, hábitos, que levem
o homem para um estado de felicidade.
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

• Podemos, então, perceber que o pensamento aristotélico que


trata do Ato e da Potência comparece no debate em torno da
condição humana e do seu destino. Como o homem é livre para
agir se estabelece um problema fundamental, qual a melhor
ação, qual a atitude que pode instaurar a felicidade? Como o
homem pode ser feliz se, por natureza, é um ser gregário?
ATO, POTÊNCIA E ÉTICA

• É possível a felicidade individual sem que haja a felicidade


coletiva? Dessa forma, a ética entra nos estudos aristotélicos
como elemento-chave para a realização do sentido da
humanidade. A reflexão ética diz respeito à melhor ação entre
os homens para que a felicidade exista.
ÉTICA E POLÍTICA

Quando trata da cidade e do homem, Aristóteles escreve:

É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o
homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em
sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer
circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil
ou superior ao homem [...].
ARISTÓTELES. Política. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13.
ÉTICA E POLÍTICA

• É na obra Ética a Nicômaco que Aristóteles coloca a questão


da ética em primeiro plano, relacionando-a à política. A
filosofia aristotélica pode ser considerada prática, pois as
conclusões extraídas de seu pensamento servem para a vida
cotidiana, pois devem pautar as ações humanas em sociedade.
Afinal, a ética pode ser entendida como um conhecimento a
respeito da práxis humana. ...
ÉTICA E POLÍTICA

• ...Se há um sentido potencial humano, que é o da felicidade, a


busca de realização do sentido envolve necessariamente um
conjunto de ações, de atos, atrelados à reflexão sobre o Bem.
Assim, a metafísica aristotélica se enlaça a uma physis, à
natureza do próprio homem.
ÉTICA E POLÍTICA

• Dessa forma, emerge a questão relativa ao comportamento em


sociedade que possa levar à realização do Bem e este não deve
ser considerado apenas em termos individuais, mas no conjunto
de homens que integram a pólis, a cidade. De acordo com
Aristóteles:
ÉTICA E POLÍTICA

• Mesmo que haja identidade entre o bem do indivíduo e o da


cidade, é manifestamente uma tarefa mais importante e perfeita
apreender e preservar o bem da cidade, pois o bem é, certa-
mente, amável mesmo para o indivíduo isolado, mas é mais
belo e divino aplicado a uma estirpe e a uma cidade.
• ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p. 50. Os pensadores.
ÉTICA E POLÍTICA

• O pensamento aristotélico está marcado pelo esforço de


integração entre o intelecto e a vida material, algo que se
encontra dissociado no pensamento platônico. Dessa postura
aristotélica, o resultado é uma filosofia da práxis humana que
contempla os valores ditos morais que deveriam permear as
relações entre os homens: as virtudes que ensejariam a
felicidade coletiva.
ÉTICA E POLÍTICA

... Devemos observar que o Bem encontra-se vin- culado à ideia


de justiça como em Platão, mas a questão do que seria justo é
colocada de outra maneira. O justo deve ser algo no meio do
caminho entre carência e excesso, um justo meio, ou o
equilibrado, como uma balança de pratos com os pesos iguais.
ÉTICA E POLÍTICA

• Aristóteles busca nisso, pensando a questão dos sentimentos


humanos, uma forma fundamental que não seja imposição
externa, por exemplo, uma lei do Estado, mas a aceitação de
um lugar (topos) em que o indivíduo entende o que significa a
felicidade geral e atua por este parâmetro. Utilizan- do as
elaborações do filósofo, temos os sentimentos de medo e
confiança.
ÉTICA E POLÍTICA

• O medo em excesso impede que o homem aja, o que representa


a falta de audácia, ou seja, covardia, mas a falta completa do
sentimento de medo, ou seja, o excesso de audácia é temerário,
por não se medirem as consequências dos atos. O que seria,
então, neste exemplo, o justo termo? A coragem que entende os
riscos e promove soluções.
ÉTICA E POLÍTICA

• Observe a seguir o esquema relativo às virtudes humanas e


suas implicações no que diz respeito ao comportamento
adequado para o convívio social harmonioso e feliz.

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