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E N T R E O S A Ç O R E S E A R Ú S S I A
O vinho é talvez o único produto que tem partilhado as mesmas rotas da guerra,
do comércio e da religião durante séculos sem se alterar. E tal como a dilatação dos
grandes impérios, a Expansão e os Descobrimentos portugueses, alargando a visão do
mundo até às fronteiras do possível, fez chegar o vinho europeu mediterrânico da costa
atlântica tão longe quanto as caravelas puderam ir.
O néctar dos deuses espalhou-se por todo o mediterrâneo e transbordou além das
Colunas de Hércules. Assim, c. de 2.000 a.C. terá sido cultivada em Tartessos
(Andaluzia) e igualmente entre o Tejo e o Sado; seguindo o movimento natural dos
povos e suas migrações, os Fenícios (séc. X a.C.), os Gregos (séc. VII a.C.) e os Celtas
(séc. VI a.C.) difundiram a cultura da vinha na Península Ibérica, donde mais tarde os
romanos a importaram. Durante a expansão do Império Romano a cultura do vinho era
já muito diversificada em toda a Europa (mediterrânica), que o comércio e as vias
imperiais faziam escoar pelos quatro cantos do mundo. Com a queda de Roma, os
Suevos e os Visigodos herdaram as mesmas rotas comerciais e o vinho, incluindo-o
largamente nos rituais cristãos e acompanhando a sua expansão entre os séculos VI e
VII.
No caso tão único que é o vinho Verdelho, a sua produção é o reflexo directo da
primeira fase da expansão portuguesa atlântica. Nela participaram não só Portugueses
(na sua maioria), como alguns Italianos e Flamengos que, ficando ao serviço do rei de
Portugal, se enfileiraram nas primeiras vagas migratórias para as ilhas atlânticas,
levando consigo hábitos e técnicas.
CARTA
Nós Dona Maria, por graça de Deos Rainha de Portugal, e dos Algarves, d’aquém, e
d’além mar, em Africa Senhora da Guiné, e da Conquista, Navegação, e Commercio da
Ethiopia, Arábia, Pérsia, e da Índia, &c. Fazemos saber a todos os que a presente Carta
de Renovação, Confirmação, Approvação, e Ratificação virem: Que em 16/27 de
Dezembro do anno de mil setecentos noventa e oito próximo precedente se concluiu, e
assinou em São Petesbourgo a renovação do Tratado de Amizade, de Navegação, e de
Commercio de 9/20 de Dezembro do anno de mil setecentos oitenta e sete entre Nós, e o
Sereníssimo, e potentíssimo Senhor Paulo I. Imperador 1 , e Autocrator de Todas as
Russias, Irmão Nosso Caríssimo; sendo Plenipotenciários para esse effeito da Nossa
parte, Francisco José de Horta Machado 2 , do Nosso Conselho, Nosso Ministro
Plenipotenciário junto a Sua Magestade Imperial de Todas as Russias, e Comendador da
Ordem de Christo; e por parte de Sua Magestade o Imperador de Todas as Russias,
Alexandre Príncipe de Bezborodko 3 , Chanceller, Conselheiro Privado actual, Senador,
Director Geral das Portas, e Cavalleiro das Ordens de Santo André, de Santo Alexandre
Newsky, e de Santa Anna, e Grão Cruz das de São João de Jerusalém, e de São
Vladimir da Primeira Classe; Victor de Kotschoubey, Vice-Chanceller, Conselheiro
privado actural, Camarista actual, Cavalleiro da Ordem de S. Alexandre Newsky, e
Grão Cruz da de São Vladimir da segunda Classe, Theodoro de Rostopsin, Comselheiro
privado actual, Membro do Collegio dos Negócios Estrangeiros, Cavalleiro da Ordem
de São Alexandre Newsky, e da de Santa Anna da primeira Classe; e Pedro de
Soimonoff, Conselheiro privado actual, Senador, Presidente do Collegio do Commercio,
Cavalleiro das Ordens de São Alexandre Newsky, e de Santa Anna da primeira Classe, e
Grão Cruz da de São Vladimir da segunda Classe; da qual renovação do Tratado o theor
he o seguinte:
(...)
A R T I G O V I .
4
Oriundo de Setúbal, com consta na carta autografa do Marquez de Aguiar emitida do Rio de Janeiro a
16 de Junho de 1814, fl. 4.
TRATADO
ENTRE
PORTUGAL
EA
RUSSIA
O Tratado de Amizade, Navegação e Commercio concluído entre Petesburgo a
26(27) de Dezembro de 1798 entre as Cortes de Portugal, e da Rússia, estando perto de
seu termo, as duas altas partes contractantes tem convencionado proroga-lo até 5(17) de
Junho de 1815, e recuperarem-se imediatamente nas estipulações de hum novo Tratado,
que fexe de hum modo permanente, e consolide as relações directas do Commercio
entre os seus Vassallos, Possessões, e Estados respectivos sobre as novas bazes
indicadas pelos interesses das duas potencias, e pelas mudanças praticadas no systema
comercial das Colónias Portuguesas.
Em consequência, S. A. R. O Príncipe Regente de Portugal, e S. M. o Imperador
de todas as Russias se obrigão, e promettem reciprocamente executar, observar, e
cumprir em todos os pontos as estipulações dos Tratados de Commercio de 16(27) de
Desembro de 1798, como se ellas aqui fossem insertas palavra por palavra, á excepção
da seguinte mudança feita no artigo 6º do dito tratado.
Visto o augmento de direitos estabelecido pela ultima pauta sobre os vinhos
importados na Rússia, foi convencionado, segundo a proporção dos que erão fixados
pela pauta precedente, que os vinhos da produção de Portugal, das Ilhas da Madeira, e
Açores, que em virtude do artigo 6º do dito tratado não pagavão senão 4 rublos, e 50
copechs de direito de entrada por barrica ou orhofft de seis ancoras, pagarião 20 rublos
por barrica, ou orhoff em quanto durar a presente convenção, mas se antes do seu termo
o direito d’entrada sobre os vinhos viesse a ser modificado a favor de hua Nação,
qualquer que fosse, ou de Portugal, Madeira, e Açores 5 gozarão desta vantagem na
proporção de ¾ de menos, conforme as disposições do artigo 6º do Tratado de
Commercio, e ás acima mençionadas, bem entendido que os ditos Vinhos so poderão ter
direito a huma tal beneficação sendo importados em Navios Portuguezes, ou Russianos,
e comservado a sua origem, e propriedade pelos attestados, que exige o sobredito artigo
do mesmo Tratado.
Esta Convenção subrestirá, e será obrigatoria durante o termo acima fixado, e o
presente acto terá seu effeito desde a data da sua assignatura: os abaixo assinados
prometendo, e garantindo em nome dos seus respectivos Soberanos a enteira, e plena
execução de tudo o que aqui he estipulado.
Em fé do que nos abaixo assgnados, para isto devidamente authorizados, temos
assignado a presente Declaração, e a faremos sellar com o sello das nossas Armas.
Feita em St. Petesburgo á 29 de Maio (20 de Junho) de 1812.
João Paulo Bezerra
Assignados = Dimetry de Gourioff = O Conde Alex. Sottykoff.
5
Trata-se aqui do vinho verdelho.
IMAGENS
D. Maria I
LAMB, H.
― Climate: Present, past, and future, Bd. 1., London, Methuen, 1972, pp. 186,
456.
― Climate, Change and the Modern World, 2nd ed., Routledge, London, New
York, 1995.
MARQUES, A. H. Oliveira
Introdução à história da agricultura em Portugal (A questão cerealífera durante
a Idade Média), pp. 257-280.
SANTAREM, Visconde
Quadro Elementar. Secção XXV. Portugal, a Turquia e a Rússia (1456-1816), in
Manuscritos, nº 1552, Academia das Ciências de Lisboa.