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processo civil

tutelas de
urgência

cognição sumária, que permitem a adoção provisória de outra tutela jurisdicional. Há, pois, uma
O Novo Processo Civil e as
de medidas conservativas ou satisfativas, com o fim referibilidade, que não é necessariamente a
Tutelas de Emergência
de acelerar providências materiais para debelar os um outro processo, mas sempre a uma outra
1. Constituição X Processo: a CF/88 é o males do tempo sobre o processo. Visa, portanto, tutela (definitiva). Vale lembrar que, hoje em dia,
pano de fundo de profundas transformações no evitar o dano proporcionado pela demora do pro- até mesmo a tutela cautelar pode ser prestada
processo. Fala-se num modelo constitucional de cesso (dano marginal). Combate o tempo-inimigo. no próprio processo sincrético (art. 273, §7º,
processo, na construção de um novo processo Envolve providências emergenciais, em atenção ao do CPC), sem que se exija referência a outro
civil, a partir da compreensão do direito à tutela perigo da demora. Mas não só. Alcança também processo principal.
jurisdicional qualificada (adequada, tempestiva a necessidade de medidas rápidas, para tutelar o 5.4. Aceleração de providências práticas: as
e efetiva) dos direitos, nos moldes da melhor direito evidente (ex.: liminar possessória ou a tutela tutelas de urgência sempre permitem inovação
interpretação do art. 5º, XXXV, da CF/88. O atual do art. 273, §6º, do CPC). De modo amplo, pode-se na situação existente no plano do direito mate-
modelo, por outro lado, não deve desprestigiar falar em tutela de urgência, que abrange tanto as rial, antes do tempo próprio. Algumas vezes,
as garantias constitucionais ligadas ao devido tutelas de evidência quanto as emergenciais. asseguram a tutela final sem satisfazer, como
processo legal, em especial o contraditório e a ocorre com as medidas cautelares; outras ve-
ampla defesa. 2. Fundamento constitucional: art. 5º, XXXV, da zes, satisfazem provisoriamente, no todo ou em
CF/88, que faz menção expressa a situações que parte, o direito material (tutela antecipada).
2. O novo processo civil: influenciado por envolvam ameaça a direito. Conseqüência prática: 5.5. Imediata executoriedade: não admitem
valores como efetividade e celeridade, este novo inconstitucionalidade, segundo circunstâncias do procrastinação ou retardamento na executorie-
processo civil (resultado de inúmeras reformas caso concreto, de normas restritivas de liminares ou dade das decisões que as concedem. A urgência
ainda inacabadas) é reflexo do Estado Constitu- medidas de urgência (ex.: Lei 9494/97). impõe efetivação imediata das providências
cional (neoconstitucionalismo). De modo geral, determinadas.
busca satisfazer a máxima chiovendiana de que 3. Liminares: não devem ser confundidas com Link Acadêmico 1
o processo deve dar, a quem tem um direito, as tutelas de urgência. O termo liminar significa
tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tem o qualquer providência concedida no início, na porta, 6. Alguns princípios processuais: aplicação
direito de obter. O processo é visto como instru- no limiar do processo. Fora deste momento inicial, específica
mento de realização das diversas modalidades as medidas de urgência, tecnicamente, não são 6.1. Princípio da tutela efetiva e tempestiva:
de direito material, em especial dos direitos fun- liminares (ex.: tutela antecipada concedida após a decorre da inafastabilidade da jurisdição, que
damentais, não admitindo dilações indevidas. O defesa ou na sentença). A utilização do termo liminar garante o acesso a uma ordem jurídica justa (art.
juiz tem postura mais ativa, comprometendo-se é de pouca serventia, pois diz respeito ao momento 5º, XXXV, da CF/88). Diante do risco provável de
com os resultados da jurisdição. Prestigiam-se e não à natureza da medida. que a tutela jurisdicional não se efetive, lança-
a tutela preventiva (ex.: inibitória) e as tutelas se mão de medidas de urgência para garantir a
sumárias (ex.: cautelar), sem prejuízo da tutela 4. Espécies: tutela cautelar e tutela antecipada. futura execução ou mesmo antecipar os efeitos
reparatória clássica. Há, para fins de satisfa- da decisão final. Daí a íntima ligação entre
ção dos direitos, um só processo, que admite 5. Algumas características tutelas de urgência e o direito constitucional a
providências de conhecimento, execução e de 5.1. Cognição sumária: não exigem juízo de certe- uma tutela efetiva e célere (ver também art. 5º,
urgência (processo sincrético). za. A sumariedade da cognição conduz a juízos de LXXVIII, da CF/88).
verossimilhança e probabilidade. O juiz pode decidir 6.2. Juiz natural: garante o julgamento pela
3. Tutelas diferenciadas: outra nota caracte- sem exame profundo do direito material, afirmando autoridade competente (art. 5º, LIII, da CF/88).
rística são as tutelas diferenciadas, que fogem apenas o provável. Alerta: a tutela de urgência A afronta a tal postulado traz conseqüências
do figurino da tutela comum ordinária (clássica). também pode ser deferida quando já exaurida a graves. No processo civil, são nulos os atos
Por vezes, visam reduzir o tempo necessário investigação probatória e o juiz estiver convicto do di- decisórios emanados de juízo absolutamente
à certeza do direito (ex.: títulos extrajudiciais, reito (ex.: tutela antecipada concedida na sentença) incompetente (art. 113, §2º, do CPC). Tal rigor
tutela monitória, julgamento imediato de mérito ou ainda mediante tutela sumária do direito evidente é mitigado nas tutelas de urgência, admitindo-se
do art. 330 do CPC). Em outras oportunidades, (ex.: art. 273, §6º, e art. 928, ambos do CPC). que, por amor à efetividade, juízo absolutamente
promove técnicas que combatem os efeitos 5.2. Provisoriedade: até em razão da cognição incompetente defira medida de urgência, sub-
nocivos do tempo sobre o processo, acelerando sumária, as decisões concessivas de tutelas de sistindo esta apenas se houver a ratificação
providências sumárias. Nessa última perspec- urgência são provisórias, de modo que podem ser pelo juízo natural.
tiva, o novo processo civil acolhe as tutelas de revogadas ou modificadas a qualquer momento. 6.3. Motivação: como garantia do Estado
urgência (e de evidência). Por tal razão, não ensejam a produção de coisa Democrático de Direito, as decisões judiciais
julgada material. Alerta: caminha-se, no futuro, para devem ser motivadas, sob pena de nulidade (art.
Tutelas de Urgência:
a construção de uma tutela de urgência satisfativa 93, IX, da CF/88), até como meio de permitir a
Aspectos Gerais
e autônoma, por meio de medidas como a estabili- interposição de eventual recurso. Não se admite,
1. Conceito: são modalidades de tutelas zação da tutela antecipada. por exemplo, menção genérica à presença ou
diferenciadas, submetidas, normalmente, à 5.3. Referibilidade: sempre garantem a efetividade ausência dos requisitos legais das tutelas de

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urgência, sem real exame dos mesmos. Isso conhecimento e de execução (vide Livro III do CPC). da prova. A urgência não permite maior aprofun-
equivale à ausência de motivação, que nulifica o Tem uma finalidade própria, ligada à efetivação da damento no exame do direito. Exige apreciação
ato judicial. Admite-se, contudo, fundamentação tutela jurisdicional definitiva. A tutela cautelar, sem apenas do “fumus boni juris” e do “periculum in
concisa. satisfazer o direito material, visa garantir o resultado mora”. Resultam, portanto, procedimentos mais
6.4. Demanda: nas tutelas de urgência há uma útil da tutela de conhecimento ou de execução. Tem, céleres e curtos que o tradicional.
evidente mitigação do princípio da adstrição portanto, a função de proteger, assegurar, prevenir
da decisão ao pedido, que proíbe que o juiz a efetividade da tutela final, retirando de situação 5. Outras características
decida fora dos limites do pedido. Nota-se uma periclitante as pessoas, as provas e os bens envol- 5.1. Forma-se uma relação acessória, pois a
espécie de poder geral de urgência, que permite vidos no processo, sem maiores incursões no direito tutela cautelar é dependente da tutela final (art.
ao juiz, dentro da proporcionalidade, conceder das partes. Combate, portanto, o tempo-inimigo, os 796, CPC), só existindo em função e tendo em
medida sumária diversa da que foi pedida. São, riscos à prestação final de uma tutela adequada, vista esta última, sem prejuízo da finalidade
portanto, amplos os atuais poderes atribuídos tempestiva e efetiva (art. 5º, XXXV, da CF/88). própria da cautela;
ao juiz para prestar tutela de urgência. 5.2. O processo cautelar, quando manejado,
6.5. Contraditório: como fator de legitimação 2. Histórico: foi estruturada, de início, para ser pres- será autuado em apartado e apensado ao
das decisões judiciais, minimiza os riscos de- tada via processo autônomo. Recebeu tratamento processo principal (art. 809, CPC), embora a
correntes da atividade judicial. O processo deve legislativo privilegiado (livro próprio), ao contrário de tramitação procedimental seja independente.
viabilizar um diálogo permanente entre o juiz e outros países. Por reinar com exclusividade, serviu,
as partes. As decisões devem ser construídas. com o tempo, de veículo para todas as tutelas de 6. Classificação: as cautelares podem ser: 6.1.
Alguns já o compreendem como princípio da urgência, admitindo-se, por razões práticas, as Preparatórias (antecedem a propositura da ação
não-surpresa, impondo que as partes sejam cautelares satisfativas. Hoje, assume lugar definido: principal) ou incidentais (no curso ou mesmo
ouvidas antes da tomada de qualquer decisão. A serve para acautelar, não satisfazer. Não obstante, no bojo da ação principal); 6.2. Nominadas ou
regra, portanto, é o contraditório antecipado (“ex pode aparecer incidentalmente no processo sincré- típicas (seguem procedimento previsto no CPC)
ante”), devendo preceder à decisão. Quanto às tico (ex.: art. 273, §7º, e art. 266, ambos do CPC). e inominadas ou atípicas (baseadas no poder
tutelas de urgência, admite-se que o contraditó- Pode, como de praxe, ser também veiculada via geral de cautela do juiz - art. 798 do CPC).
rio seja transferido para um momento posterior, processo autônomo. Nesta hipótese, seguirá, a
concedendo-se a medida “inaudita altera parte”. depender do caso, o procedimento comum ou ritos 7. Competência: o juízo competente para
Lícito, pois, o contraditório diferido (“ex post”), específicos. a cautelar é o mesmo da ação principal (art.
com a ressalva de que, sempre que possível, o 108 do CPC). Se for preparatória, o juízo fica
diálogo deve anteceder a decisão. 3. Cautelar X tutela antecipada: são espécies do prevento para conhecer da futura ação principal,
6.6. Proporcionalidade: é considerado postula- gênero tutela de urgência, sendo, portanto, provisó- exceto nas meramente conservativas de direitos
do mais fácil de compreender do que definir. O rias, sumárias e fungíveis. Contudo, só a segunda (ex.: protestos, notificações, interpelações etc.).
devido processo legal substancial exige decisões é satisfativa. Para a maioria, há diferenças quanto Interposto o recurso, a medida será requerida
razoáveis e proporcionais. É princípio que orien- às exigências legais. diretamente no tribunal (art. 800, parágrafo
ta a hermenêutica constitucional, promovendo único, CPC). Como já dito, em situações de
a harmonização de conflitos entre princípios 4. Principais características manifesta urgência, admite-se a concessão
constitucionais. A só existência das tutelas de 4.1. Tutela o interesse processual: como dizia de medida cau­telar por juízo absolutamente
urgência já decorre de uma harmonização entre Carnelutti, a cautelar serve à tutela do processo e incompetente, fican­do a providência sujeita a
os postulados da efetividade e da segurança não ao direito material. Garante apenas a utilidade uma posterior aprecia­ção do juiz natural.
jurídica. A proporcionalidade tem grande valor do provimento final, por meio de providências con-
para as tutelas de urgência, permitindo que as servativas. Não se destina à atuação das normas 8. Poder geral de cautela do juiz: aspectos
decisões reputadas desproporcionais possam do ordenamento jurídico substancial, mas à garantia iniciais
ser controladas em seu conteúdo. da tutela final. 8.1. Noções gerais e conceito: tem base nos
6.7. Fungibilidade: representa uma manifesta- 4.2. Instrumentalidade/Referibilidade: como serve arts. 798 e 799 (rol exemplificativo) do CPC.
ção do princípio da instrumentalidade das for- à tutela definitiva, o provimento cautelar não é um Há situações cotidianas que pedem atuação
mas. De um lado, justifica a concessão judicial fim em si mesmo. É meio, instrumento de efetividade cautelar do Judiciário e não se incluem no rol
de medida diversa da pedida. Pode haver, p. ex., processual. Detalhe: não se deve dizer, na linha das medidas cautelares típicas. Daí a previsão
a concessão de medida inominada quando au- clássica, que a cautelar é sempre um instrumento do poder geral de cautela do juiz, que autoriza a
sentes os requisitos da cautelar específica pos- de outro processo, mas de outra tutela, pois pode concessão de medidas cautelares diversas para
tulada. Diante do art. 273, § 7ºdo CPC, também ser concedida incidentalmente no processo principal, debelar situações de perigo não antecipadas
é permitida a fungibilidade entre as espécies de sem exigir referência a outro processo autônomo. pelo legislador. Em suma, o poder geral de cau-
tutelas de urgência, podendo-se conceder tutela 4.3. Objetivos próprios (autonomia): ainda que tela é aquele que permite o ajuizamento amplo
cautelar incidentalmente no processo principal, a autonomia procedimental tenha sido mitigada, de ações cautelares inominadas, assim como
nos moldes da tutela antecipada. Predomina, a tutela cautelar continua com objetivos próprios, que providências cautelares sejam deferidas
ainda, a idéia de que tal regra é uma via de que independem do direito material. Fala-se numa incidentalmente (art. 273, §7º, do CPC).
mão-dupla, admitindo também a concessão pretensão autônoma à segurança. Daí porque os 8.2. Admissibilidade e mérito: quando
de tutela antecipada postulada via processo resultados da medida cautelar em nada afetam a pre- postuladas via ação autônoma, as cautelares
cautelar. Não importa o meio, mas a prestação tensão final, exceto quando, por razões de economia inominadas exigem provocação (princípio da
de uma tutela de urgência efetiva. processual, acolhe-se decadência ou prescrição do demanda - art. 2º do CPC), submetem-se aos
Link Acadêmico 2 direito do autor (art. 810, 2ª parte, do CPC). pressupostos processuais de existência e vali-
4.4. Provisoriedade: como toda tutela de urgência, dade, às condições gerais da ação (legitimidade
Tutela Cautelar: as cautelares são provisórias, existindo, no máximo, “ad causam”, interesse de agir e possibilidade
Teoria Geral e Ação Cau- até o momento da prestação da tutela definitiva. jurídica do pedido), além de possuírem causa
telar Inominada Têm uma existência limitada no tempo. Ademais, a de pedir (“fumus boni juris” e “periculum in
medida cautelar pode ser substituída (art. 805, CPC), mora”) e pedido próprio. O pedido é o mérito da
1. Noções iniciais e conceito: foi a primeira revogada ou modificada (art. 807 do CPC). cautelar, consubstanciando-se numa pretensão
modalidade de tutela de urgência admitida 4.5. Cognição sumária: não se submete a cognição à segurança da tutela final. Há, pois, mérito na
no direito pátrio, coexistindo com a tutela de exauriente, exigindo apenas um exame superficial cautelar, embora não se possa falar em coisa

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julgada material ou possibilidade de rescisória, 811, II, do CPC.
consoante posição majoritária. Por outro lado, 9.5. Defesa: o prazo é de cinco dias, aplicando-se os
o pedido incidental de medida cautelar é mais arts. 188 e 191, do CPC. Não se admite a reconven- 1. Considerações iniciais: ao prever proce-
simples e feito nos moldes do pedido de tutela ção, mas apenas contestação e exceções de incom- dimentos cautelares específicos, o CPC não
antecipada (art. 273, §7º, do CPC). petência relativa, impedimento e suspeição. Podem se vale de boa técnica. Promove verdadeira
8.3. Limites: o poder geral de cautela, embora incidir os efeitos da revelia (art. 803 do CPC). miscelânea, ao tratar de procedimentos verda-
amplo, não é ilimitado tampouco arbitrário. 9.6. Audiência de instrução: é esporádica, pois deiramente cautelares (ex.: arresto e seqüestro),
São seus principais limites: 8.3.1. a medida normalmente enseja julgamento antecipado. Se além de outros que exigem rito mais célere, mas
inominada tem que ser necessária, provisória existir, deverá envolver apenas a prova da aparência não possuem natureza propriamente cautelar
e proporcional; 8.3.2. não pode ser mais ampla do direito e do perigo da demora. Cabe tentar a (ex.: alimentos provisionais) ou mesmo conten-
ou dissociada da tutela final definitiva; 8.3.3. conciliação (art. 125, IV, do CPC). ciosa (ex.: protestos, notificações, justificação
não deve ser satisfativa, o que não significa 9.7. Sentença e recurso: a sentença cautelar não etc.). Há, ainda, alguns de natureza híbrida,
defender o culto ao formalismo (assim: se for elimina o conflito, somente examina a pretensão à com feição cautelar ou satisfativa (ex.: busca
feito pedido satisfativo via ação cautelar, o juiz segurança, a não ser quando reconhece a decadên- e apreensão). A todos se aplicam, naquilo que
deve aplicar a fungibilidade e promover a adap- cia ou prescrição do direito do autor, por razões de couber, as disposições gerais do processo
tação procedimental); 8.3.4. não deve substituir economia processual. Desafia apelação recebida cautelar, já estudadas.
o procedimento de medida cautelar típica (ex.: apenas no efeito devolutivo (art. 520, IV, do CPC). A
se, pela via da ação cautelar inominada, pede-se sentença somente faz coisa julgada formal, segundo 2. Peculiaridades: é preciso atenção à
medida identificada com o seqüestro, esta será a maior parte da doutrina. expressão “naquilo que couber”, isto porque
aproveitada, mas deverá seguir o rito dos arts. 9.8. Efetivação: a efetivação da cautela é imediata, al­guns procedimentos específicos não seguem
822 e seguintes). admitindo-se a utilização dos meios coercitivos e o re­gime jurídico da tutela assecuratória. Em
8.4. Poder cautelar genérico: alguns autores executivos do art. 461, §§ 5º e 6º, do CPC, como a certos casos: não há necessidade de ajuiza-
defendem que o poder geral de cautela - conju- multa periódica. A efetivação corre por conta e risco mento de ação principal; não há prevenção da
gando-se os arts. 797 e 798 do CPC - autoriza do requerente, que responde objetivamente pelos competência; inexiste cognição sumaria; há
o juiz a conceder, quando necessário, medidas prejuízos (art. 811 do CPC). satisfação do direito, apesar de seguirem rito
cautelares “ex officio”, a partir de um verdadeiro cautelar; há definitividade etc. É o que ocorre
poder cautelar genérico. Entende-se que, em 10. Possibilidade de alteração: diante da proviso- com medidas urgentes satisfativas, como a do
casos excepcionais, o juiz poderá determinar, riedade e fungibilidade, é ínsita à tutela cautelar a art. 888, VIII, do CPC.
de ofício, medidas cautelares incidentais (no possibilidade de, a qualquer tempo, o juiz modificar
bojo de uma ação judicial). Outros, contudo, (ampliar, reduzir ou trocar) ou revogar (tornar sem 3. Tratamento específico: ante a limitação de
restringem aos casos expressamente previstos efeito) a providência concedida, pois as situações de espaço, nem todas as cautelares nominadas
em lei (ex.: art. 1001 do CPC). risco são altamente mutáveis. A maioria da doutrina serão detalhadas. Daremos especial atenção
exige que sejam noticiados fatos novos para ensejar às seguintes medidas de urgência: o arresto,
9. Procedimento da ação cautelar inomi- a alteração. Outra possibilidade é a substituição, o seqüestro, a busca e apreensão, a produção
nada de ofício ou a requerimento das partes, da medida antecipada de prova, os alimentos provisionais
9.1. Petição inicial: deve seguir os requisitos cautelar deferida pela prestação de caução ou outra e o atentado.
do art. 801, combinados com o art. 282, ambos medida menos gravosa para o requerido (art. 805
do CPC. Exigem-se, pois, pedido, valor da do CPC). 4. Arresto
causa e requerimento de citação. Nas cautelares 4.1. Noções gerais e finalidade: trata-se de
preparatórias, deve-se fazer referência à ação 11. Substituição (art. 805) X contracautela (art. genuína cautelar, pois viabiliza o resultado útil
principal, pois é preciso identificar a lide principal 804): a referida substituição não se confunde com a de processo que envolve obrigação de pagar,
e seus fundamentos (art. 801, III, do CPC). contracautela, pois esta é prestada pelo requerente assegurando futura penhora. Com o arresto,
9.2. Medida cautelar “inaudita altera parte”: e não anula a medida deferida, mas soma-se a ela há a apreensão judicial provisória de bens
quando houver urgência tamanha que não su- para garantir eventuais prejuízos. Já a substituição indeterminados e penhoráveis (de qualquer
porte esperar o procedimento mais célere das da providência cautelar significa que a caução ou natureza) do devedor, impedindo dilapidação
cautelares, cabe pedir medida cautelar “inaudita outra medida menos gravosa irá tomar o lugar da do patrimônio deste e, assim, favorecendo a
altera parte” (sem ouvir o requerido), que se cautelar concedida, que deixará de existir. penhora e satisfação futura de eventual direito
comporta como uma antecipação da tutela cau- de crédito. Combate, pois, uma possível insol-
telar, mas não da tutela final. Detalhe: condição 12. Eficácia e extinção: as medidas cautelares, vência deliberada do devedor, apta a frustrar
para tal pleito é que o réu, sendo citado, possa de regra, conservam sua eficácia, desde sua efe­ o pagamento de débito. Segue basicamente
tornar ineficaz a medida, não sendo suficiente o ti­va­ção até a prestação da tutela definitiva, perdu­ o procedimento das cautelares inominadas,
“fumus boni juris” e o “periculum in mora”. Contra rando, salvo decisão judicial em contrário, durante com as poucas ressalvas dos arts. 813 a 821,
o Poder Público vigem as limitações impostas a suspensão do processo (art. 807, parágrafo úni­co, todos do CPC.
pela Lei 8.437/92, que podem, à luz do caso do CPC). Normalmente se extinguem com o fim da 4.2. Requisitos: são rigorosos, a saber: 4.2.1.
concreto, ser afastadas, em homenagem ao relação processual onde prestada a tutela definitiva pro­va literal da dívida líquida e certa (“fumus
direito à tutela efetiva. (art. 808, III, do CPC). Extingue-se também quando: boni juris”); 4.2.2. demonstração de uma das
9.3. Contracautela: pode o juiz, diante dos ris- I) não proposta a ação principal no prazo de trinta situa­ções do art. 813 do CPC (“periculum in
cos da liminar e da responsabilidade objetiva do dias, contados da data da efeti­vação da medida, e mora”). Vê-se, assim, a necessidade de um
requerente (art. 811 do CPC), exigir contracau- não de sua concessão; II) não houver a efetivação, credor qualificado e um devedor desqualificado.
tela, consistente em caução real ou fidejussória, por desídia do requerente, da medida cautelar Para o credor, não importa se a dívida não é
a fim de garantir eventuais prejuízos advindos deferida, no prazo de trinta dias. Importante: extinta exigível, bastando seja líquida e certa (com
da concessão da medida. A contracautela não a medida, não é possível reiterar o pedido, salvo o abrandamento do art. 814, parágrafo único,
precisa de pedido da parte (o juiz pode agir de por novo fundamento (art. 808, parágrafo único, do CPC). Se ajuizada sem satis­fação dos
ofício) e não exige as formalidades dos arts. do CPC). requisitos, o juiz pode aplicar a fungibili­dade e
826 a 838 do CPC. Link Acadêmico 3 receber como cautelar inominada ou, se for o
9.4. Citação: deverá ser promovida pelo reque- caso, como busca e apreensão, impedindo a
Procedimentos
rente, que precisa estar atento aos riscos do art. alienação injustificada de bens.
Cautelares Específicos

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4.3. Outros aspectos: não se confunde com as razões justificativas da medida, além de expor 8.3. Outros aspectos: diferem dos alimentos
o arresto do art. 653 do CPC, que é medida a ciência de estar a pessoa ou a coisa no lugar provisórios (art. 4º da Lei 5478/68), pois estes
executiva (para o caso da não localização do designado (art. 840, CPC). Se indispensável, admite- demandam prova pré-constituída da condição
executado que possua bens). Pode ser medida se a justificação prévia dos requisitos em segredo de credor e os provisionais independem desta
preparatória ou incidental. Alerta: o arresto se de justiça (art. 841 do CPC). Concedida a medida, prova. Cabe nas ações de investigação de
converte em penhora, mas só na fase executiva, liminarmente ou na sentença, há outras exigências paternidade cumulada com alimentos, ante a
e não automaticamente com a procedência do procedimentais (arts. 841 a 843 do CPC). ausência de prova do parentesco. Alerta: não
pedido principal, apesar da dicção do art. 818 do 6.3. Outros aspectos: o termo busca e apreen­ há perda de eficácia se a ação de alimentos de-
CPC. Prazo para o ajuizamento da principal: são é bastante equívoco. No Brasil, significa: I) ato finitivos não for proposta, posto que os alimentos
conta-se do vencimento da dívida, se este for processual de efetivação de sentença impositiva de não podem ser repetidos. Podem ensejar prisão
posterior aos trinta dias previstos no CPC (art. obrigação de dar ou de execução para entrega de civil. No mais, perderam muito em importância
806). Há, ainda, regra própria em caso de arres- coisa (arts. 461-A e 625 do CPC); II) ato pro­cessual diante da admissibilidade, cada vez maior, da
to requerido em sede de liquidação extrajudicial de efetivação da cautelar de arresto e seqüestro; III) tutela antecipada de soma em dinheiro.
(art. 46, parágrafo único, da Lei 6024/74). ato processual do incidente de exibição de documen- Link Acadêmico 7
Link Acadêmico 4 to ou coisa (art. 362 do CPC); IV) ação autônoma,
como ocorre na busca e apreensão de bens aliena- 9. Atentado
5. Seqüestro dos fiduciariamente (art. 3º do Decreto-Lei 911/1969) 9.1. Noções gerais e finalidade: chama-se
5.1. Noções gerais e finalidade: também é ou na ação ajuizada por guardião para apreender atentado a alteração ilícita na situação de fato,
cautelar genuína, pois visa garantir a efetividade menor tirado indevidamente de seu poder (art. 1634, ocorrida no curso do processo. Cabe medida
de processo voltado à entrega de coisa, preser- VI, do CC); V) medidas de urgência, cautelar ou não, cautelar de atentado para, diante do referido
vando determinado bem. Na verdade, impõe a como no caso ora examinado. ilícito (ver art. 879 do CPC), promover o retorno
apreensão judicial do bem litigioso, impedindo Link Acadêmico 6 das coisas ao “status quo ante”. A inovação ilíci-
a dilapidação, destruição ou extravio do mes- ta pode envolver o objeto (bens) da tutela final
mo, a fim de que possa ser entregue em bom 7. Produção antecipada de prova ou sua prova (RT 728/254). Por força do poder
estado após a prestação da tutela final. É da 7.1. Noções gerais e finalidade: é medida que geral de cautela, mesmo à míngua de previsão
sua essência a nomeação de depositário (arts. permite a realização de prova oral ou pericial antes legal expressa, cabe a concessão da medida
824 e 825 do CPC). Ex.: cabe diante de risco da fase própria. Pode ser preparatória ou incidental, cautelar “inaudita altera parte”. A finalidade da
de destruição de bem do casal a ser objeto de mas sempre anterior à instrução. Sua finalidade ação é ordenar o restabelecimento do estado
futura partilha em ação de divórcio. é garantir a existência da prova para utilização anterior, suspender a causa principal e proibir de
5.2. Requisitos: 5.2.1. interesse na preserva- no momento próprio, quando houver perigo de se falar nos autos da ação principal até a purga-
ção da situação de fato (“fumus boni juris”); 5.2.2. perecimento. Qualquer das partes pode requerer e ção do atentado. Pode, ainda, o juiz condenar
perigo concreto de dilapidação, destruição ou o juiz se limita a homologar a prova regularmente o responsável nas perdas e danos que sofreu
extravio do bem litigioso, como nas hipóteses produzida. em conseqüência do atentado (nesta parte, faz
exemplificativas do art. 822 do CPC (“periculum 7.2. Requisitos: a fumaça do bom direito decorre coisa julgada material).
in mora”). da pertinência da prova para a pretensão à tutela 9.2. Requisitos: é preciso provar a alteração
5.3. Outros aspectos: não se confunde com o final e de sua legalidade. Já o perigo da demora ilícita no estado de fato (“fumus boni juris”) e o
arresto, já que, diferente deste, envolve bens decorre dos riscos ao interrogatório ou prova tes- prejuízo para o interesse da outra parte (“peri-
determinados e certos, garante processo que temunhal (ver o rol exemplificativo dos arts. 847 e culum in mora”).
cuida de obrigação para entrega de coisa (e não 848 do CPC), ou ainda ao exame pericial (art. 849 9.3. Outros aspectos: é sempre incidental e a
de pagar quantia certa), além de não se trans- do CPC). competência será do juízo originário, mesmo se
mudar em penhora. Não obstante, aplica-se, no 7.3. Outros aspectos: a prova antecipada é cha- a causa estiver no tribunal. Parte da doutrina,
que couber, as normas sobre o arresto (art. 823 mada “ad perpetuam rei memoriam”. Admite-se, com razão, critica esta cautelar, pois o juiz,
do CPC). Outra nuance é a importância do bem também, a inspeção judicial antecipada. Cabe nos próprios autos principais, com apoio nos
seqüestrado, não havendo muita margem para contestação, p. ex., para alegar a desnecessidade arts. 461, 461-A e 14 do CPC, tem poderes
a fungibilidade da medida. da antecipação. Pode ser usada como prova em- suficientes para ordenar o restabelecimento
Link Acadêmico 5 prestada. Detalhe: não exige ajuizamento de ação das coisas ao estado anterior, independente-
principal em trinta dias ou menção à lide principal e mente de medida própria. Para alguns (minoria)
6. Busca e Apreensão seu fundamento. Discute-se, ademais, se previne a sequer seria uma ação cautelar, mas ação de
6.1. Noções gerais e finalidade: tem, em competência da ação principal, prevalecendo tese conhecimento de natureza inibitória cumulada
regra, natureza cautelar e completa o rol das contrária. Descabe condenação do requerido em com ressarcimento de danos, que segue o rito
cautelares de apreensão. É medida complexa, honorários advocatícios. célere da cautelar.
que pressupõe a procura (busca) e a entrega
de coisa, documento ou pessoa (apreensão). 8. Alimentos provisionais Tutela Antecipada
Muitas vezes, tem por fim garantir o resultado útil 8.1. Noções gerais e finalidade: tal medida con- (Art. 273 do CPC)
de tutela final que dependa da referida medida figura, para muitos, hipótese de tutela de urgência
assecuratória. Incluem-se no seu objeto as coi- satisfativa e sumária. Tem o objetivo de antecipar a 1. Conceito e natureza: é modalidade de
sas móveis e pessoas incapazes (menores ou fixação de obrigação alimentar ainda não definida. tutela de urgência que permite a satisfação
interditos). Cabe, ainda, em matéria de direitos Segue as regras das cautelares inominadas, exceto provisória, no todo ou em parte, da pretensão
autorais (vide art. 102 da Lei 9610/98 e art. 842, quanto à competência, que é sempre do juiz de pri- deduzida em juízo ou de seus efeitos. Assim, se
§ 3º, do CPC). Alerta: sem apego ao purismo, meiro grau (art. 853 do CPC). Persiste até a fixação o autor pede “x”, poderá ter, antecipadamente,
cumpre reconhecer que a presente medida de final dos alimentos, não podendo ser cumulada com “x” ou qualquer de seus efeitos. Daí a natureza
urgência também pode ser satisfativa e definiti- os provisórios. provisória e satisfativa do direito material. Difere
va, como na busca e apreensão de filho menor 8.2. Requisitos: demonstração superficial da obri- da cautelar, que garante sem satisfazer, pois
em poder de terceiros, seguindo apenas o rito gação (“fumus boni juris”) e os riscos da ausência satisfaz de modo antecipado. Aparta-se do jul-
da cautelar (RT 627/101). Nesse caso, não há da antecipação dos alimentos (“periculum in mora”). gamento imediato de mérito (art. 330 do CPC),
ação principal a ser ajuizada. Deve-se enfrentar também o binômio necessidade/ pois este permite decisões definitivas, sujeitas
6.2. Requisitos: o requerente deverá trazer possibilidade do alimentante. à coisa julgada material. Por fim, discrepa do
julgamento liminar de demanda repetitiva (art.

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285-A do CPC), que também é definitivo e não ofício, conceder a medida, ou se esta pode vir a ser fosse, caso presentes os requisitos da primeira.
provisório. solicitada pelo MP, na qualidade de “custus legis”. Há, pois, uma fungibilidade entre as medidas,
permitindo-se trocar uma por outra. É que a
2. Finalidades: servir de antídoto contra os 6. Objeto: antecipa-se o que foi pedido (total ou prática demonstrou que, por vezes, não é fácil
males da demora da fase de conhecimento; parcialmente) ou qualquer efeito da postulação. No identificar qual a adequada. Domina, ademais,
redistribuir os ônus do tempo no processo; pres- máximo, consegue-se a totalidade do pedido, daí a a tese de que tal regra é uma via de mão-dupla,
tigiar a parte que provavelmente tenha razão; vinculação com este ou seus efeitos, não se admitin- admitindo a concessão de tutela antecipada
autorizar a tutela do direito evidente; permitir a do tutela de urgência relativa a algo completamente postulada via processo cautelar. Não importa
prática imediata de atos executivos. dissociado do pedido. o meio, mas a prestação de tutela de urgência
efetiva. Apesar de não ser pacífico, tem-se que
3. Cabimento: em qualquer processo ou fase 7. Requisitos principais não é preciso haver dúvida objetiva para a fungi-
judicial, mediante simples pedido, não ficando, 7.1. Prova inequívoca que convença da veros- bilidade das tutelas de urgência, diferentemente
como outrora, limitado a alguns procedimentos similhança da alegação: deve ser sempre pre- da fungibilidade recursal.
especiais (ex.: ações possessórias). Nas ações enchido. Ante a expressão prova inequívoca, pode
declaratórias e constitutivas, por exemplo, não parecer que se exige prova irrefutável dos fatos e 10. Efetivação: permite providências imediatas,
se admite a antecipação do pedido principal, do direito, que proporcione um juízo de certeza. Na independentes de certeza jurídica. É exceção
mas é possível a concessão antecipada de verdade, exige-se apenas juízo de probabilidade. A ao dogma da “nulla executio sine titulo”. Será
qualquer efeito mandamental ou executivo. prova inequívoca serve apenas para convencer que provisória (ver art. 475-O do CPC) e nos próprios
Ex.: pedido antecipado de sustação do protes- a alegação é verossímil. Predomina a idéia de que autos, lembrando-se de que a parte beneficiada
to na ação em que se pretende desconstituir se exige mais do que simples “fumus boni juris”. A responde objetivamente por eventuais prejuízos.
cambial. prova deve ser mais robusta. Ademais, os poderes de efetivação das deci-
7.2. Fundado receio de dano irreparável ou de sões urgentes são amplos, admitindo-se o uso
4. Principais características difícil reparação: permite a concessão de tutela dos meios coercitivos e executivos do art. 461,
4.1. Cognição sumária: é espécie de tutela antecipada em situação de emergência, desde §4º e 5º, do CPC (ver art. 273, §3º, do CPC).
sumária, pois não impõe exame aprofundado do que também exista o primeiro requisito. Nesses
direito. Exige apenas um juízo de probabi­lidade casos, exige-se o perigo da demora, de forma 11. Algumas aplicações específicas
da existência deste. Tutela a parte que prova- idêntica à tutela cautelar. Poderá ser concedida sem 11.1. Tutela de evidência ou prioritária: nem
velmente tem razão. Para muitos, a cogni­ção é ouvida da parte contrária, em atenção à urgência, sempre a tutela de urgência se impõe ante
mais rígida do que a exigida na tutela cau­te­lar. transportando-se o contraditório para fase posterior uma situação emergencial (perigo da demora).
4.2. Provisoriedade: daí decorre que tem do procedimento. Algumas vezes a tutela rápida do pretendido se
existência limitada no tempo, até a prestação 7.3. Abuso do direito de defesa ou manifesto justifica em atenção à evidência do direito. É o
da tutela final. Ademais, não se trata de decisão propósito protelatório do réu: permite concessão que ocorre quando um dos pedidos ou o pedido
definitiva, pois pode ser revogada ou modificada de tutela antecipada independente de qualquer risco único é incontroverso (art. 273, §6º, do CPC).
a qualquer tempo, em decisão fundamentada de dano, ainda que não seja dispensado o juízo de Se não há discussão, a probabilidade de êxito é
(art. 273, §4º, do CPC). Esta característica probabilidade. Pode ter lugar quando a defesa for tamanha que permite a antecipação dos efeitos
pode vir a ser relativizada, caso seja aprovado apenas formal (sem consistência), um expediente da tutela. Resta dúvida se tal caso - identificado
projeto de lei que permite a estabilização da meramente protelatório. Faltar, em suma, boa-fé. como um reconhecimento jurídico parcial do
tutela antecipada e cria uma tutela urgente sa- Importante: só há de ser admitida após a resposta pedido - impõe decisão interlocutória ou jul-
tisfativa (antecedente ou incidental), com ampla da parte ré. gamento definitivo de parte do mérito, abrindo
possibilidade de se tornar definitiva. 7.4. Perigo de irreversibilidade do provimento porta, com isso, para a execução definitiva da
4.3. Caráter incidental: pressupõe, atualmen- final: comporta-se como requisito negativo, já que parte antecipada. Prevalece a tese de que com-
te, um processo já iniciado, sendo concedida tal perigo não deve existir (art. 273, §2º, do CPC). Pri- porta apenas efetivação provisória (art. 475-O
incidentalmente. Se, em razão da urgência, for vilegia, na verdade, o contraditório e a ampla defesa do CPC), submetendo-se às regras desta. Outro
utilizada a via cautelar, deve o juiz examinar a (art. 5º, LV, da CF/88), sendo de bom tom que possa exemplo de tutela de evidência é a prestada na
tutela antecipada e promover a adaptação do haver reversibilidade ao estado anterior. Algumas ação possessória (art. 928 do CPC).
procedimento. vezes, contudo, os efeitos fáticos dos provimentos 11.2. Tutela antecipada na sentença: a tutela
4.4. Ampliação dos poderes do juiz: para fins de urgência são absolutamente irreversíveis (ex.: antecipada pode ser concedida em qualquer
de efetivação de qualquer tutela antecipada, são determinação de cirurgia cardíaca ou transfusão de fase do processo, inclusive na sentença. Em
amplos os poderes do juiz, que pode se utilizar, sangue). Nesses casos, em homenagem à propor- tal caso, é permitida a medida conquanto já
quando necessário e proporcional, das medidas cionalidade, admite-se a tutela do direito provável exista cognição exauriente, pois a prova já foi
coercitivas e executivas do art. 461 do CPC. em detrimento do menos provável. Faz-se um juízo produzida. Detalhe: tal sentença, pelo princípio
4.5. Responsabilidade objetiva: a efetivação de mal maior, autorizando-se a prestação de uma da singularidade, desafia um só recurso: a ape-
da tutela antecipada corre por conta e risco tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva lação, mas a parte (capítulo) onde foi concedida
do beneficiário da medida, que responderá (art. 5º, XXXV, da CF/88). a tutela de urgência não se submete ao efeito
objetivamente pelos prejuízos causados. Deve suspensivo.
ser utilizado, por extensão, o sistema do art. 8. Controle da atividade judicial: é feito com 11.3. Antecipação da tutela recursal: tem base
811 do CPC. Pode, também, ser manejado o base no princípio da proporcionalidade. O juiz deve nos arts. 527, III, e 558, ambos do CPC. Pode
sistema de contracautelas (ver arts. 804 e 805 prestigiar a tutela efetiva, mas privilegiar sempre a o relator, diante de relevante fundamentação e
do CPC). medida menos gravosa ao devedor. Daí a necessi- do risco de lesão grave ou de difícil reparação,
dade da motivação, que serve de parâmetro para antecipar o que se pretende com o recurso.
5. Legitimidade ativa: pode ser postulada por fundamentar eventual recurso. Este normalmente Daí se falar em antecipação da tutela recursal.
quem deduz pretensão em juízo. Inclusive o o agravo de instrumento, já que não há interesse Na prática, consiste em dar efeito ativo (no
réu, se este formular pedido próprio (ex.: ações para o agravo retido. caso de decisão negativa no primeiro grau) ou
dúplices, reconvenção ou ação declaratória suspensivo à decisão impugnada pelo recurso.
incidental). Há menção expressa a requerimento 9. Fungibilidade: diante do art. 273, §7º, do CPC, Como é dirigido ao tribunal (art. 800, parágrafo
da parte no “caput” do art. 273 do CPC. Não pode-se conceder tutela cautelar incidentalmente único, do CPC, por extensão), há casos em que
obstante, pairam dúvidas se pode o juiz, de no processo principal, como se tutela antecipada o pleito se faz necessário antes da subida dos

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autos ao segundo grau, pelo que se admite a 3. Aspecto importante: não é espécie de tutela modificá-lo ou até reduzir o montante. Ademais,
tutela antecipada por via autônoma, instruindo- de urgência, pois não é provisória e sumária. Na deve incidir sobre a pessoa física do agente
se o pedido com as peças necessárias. verdade, impõe o ajuizamento de ação principal, público que descumpriu a decisão. Outro meio
11.4. Tutela antecipada contra a Fazenda submetida a cognição exauriente (embora parcial), coercitivo é a interdição de direitos (ver, por
Pública: se existem situações (art. 1º da Lei já que voltada à busca de um provimento que, de- analogia, o art. 24 da Lei 8884/94). No que toca
9494/97) onde se impede tutela antecipada finitivamente, previna o ilícito. Não obstante, como à prisão civil por descumprimento de decisão
contra a Fazenda Pública, é porque, ao menos quase nunca os ilícitos esperam o tempo normal judicial, prevalece a doutrina que não a admite
fora delas, a medida é permitida em face do de um processo, é da sua essência a previsão da como medida coercitiva, pois a CF/88 proíbe a
Poder Público. Ademais, até tais restrições, antecipação dos efeitos da tutela inibitória (art. 461, prisão civil, salvo as hipóteses previstas no art.
no caso concreto, podem ser afastadas para §3º, do CPC). 5º, LXVII, da CF).
prestigiar a efetividade. Importante: a decisão 9.3. Medidas executivas: são as do art. 461,
que concede a tutela antecipada não é defini- 4. A tutela inibitória antecipada: aplica-se à ante- §5º, do CPC (rol exemplificativo). Alguns defen-
tiva e admite efetivação imediata, não estando cipação da tutela inibitória (art. 461, §3º, do CPC) o dem até a possibilidade de intervenção judicial,
sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório mesmo regime jurídico da tutela antecipada gené- por analogia ao art. 69 da Lei 8884/94.
(art. 475 do CPC). Tampouco este constitui óbice rica (art. 273 do CPC). Desse modo, ambas têm a
para a medida em face do Poder Público, pois mesma natureza, finalidade, características etc. Não 10. Extensão: o art. 461, §3º, do CPC também
se aplica à sentença e impede a coisa julgada obstante, há aspectos específicos relativos: à legiti- se aplica às demais tutelas do art. 461 do CPC
e não os efeitos da tutela, os quais podem ser midade, aos requisitos, à prova, dentre outros. (ex.: tutela de remoção do ilícito, ressarcitória
antecipados. Sempre que possível, deve-se na forma específica etc.).
ouvir a Fazenda Pública antes do exame da 5. Legitimidade: não há exigência de requeri-mento
tutela de urgência. das partes. Assim, prevalece a tese de que pode Outras Tutelas
11.5. Tutela antecipada de soma em dinheiro ser concedida de ofício pelo juiz e ser requerida até de Urgência
contra o Poder Público: é hipótese controverti- por quem não é parte, como o MP na condição de
da em face do sistema de precatório (art. 100 da “custus legis”. Compreensão: tanto no CPC (ex.: ações pos-
CF/88). Por força do atual modelo constitucional, sessórias, embargos de terceiros etc.) como
normalmente tal tutela antecipada não dispensa 6. Requisitos: exige relevante fundamentação (pro- em legislação extravagante (mandado de se-
o precatório, nem mesmo no crédito alimentar, babilidade do ilícito) e justificado receio de ineficácia gurança, ação civil pública etc.) existem tutelas
apenas adiantando sua expedição. Em casos do provimento final. Não cabe examinar perigo de de urgência com aplicação específica, que não
particulares, contudo, quando presentes valores dano, já que não há tutela do dano, mas do ilícito. cabem ser tratadas neste breve resumo, por
fundamentais (ex.: vida, saúde etc.), sequer há No mais, à tutela inibitória antecipada aplicam-se os limitações espaciais.
necessidade do precatório, podendo o juiz exigir requisitos da tutela do art. 273 do CPC, podendo ser
da Fazenda Pública, com os meios do art. 461, concedida quando houver pedido incontroverso ou
§§ 5º e 6º, do CPC, imediatamente a entrega abuso do direito de defesa, por exemplo.
de soma em dinheiro.
Link Acadêmico 8 7. Prova: questão intrigante envolve a prova ne-
cessária à concessão de tutela antecipada para
Antecipação da inibir a prática de um ilícito que ainda não ocorreu. A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida dos es-
Em princípio, exige-se prova objetiva e concreta da tudos das disciplinas dos cursos de graduação, devendo
Tutela Inibitória ser complementada com o material disponível nos Links
(Art. 461, §3º, do CPC) ameaça, como no interdito proibitório. Em alguns e com a leitura de livros didáticos.
casos, contudo, é particularmente difícil a prova de
Processo Civil – Tutelas de Urgência –2ª edição - 2009
1. Tutela inibitória: é modalidade de tutela dife- algo que não ocorreu no mundo dos fatos. Nessas
renciada que visa à prevenção de ilícitos futuros, situações, a doutrina admite que o juiz reduza o Coordenador:
individuais (art. 461 do CPC) ou coletivos (art. módulo da prova, concedendo a tutela antecipada Carlos Eduardo Brocanella Witter: Professor universitario e de
cursos preparatorios ha mais de 10 nos, Especialista em Direito
84 do CDC). Tem o fim de impedir a prática, a ainda que os elementos de prova sejam mais frágeis Empresarial; Mestre em Educacao e Semiotica Juridica; Membro
da Associacao Brasileira para o progresso da Ciencia; Palestrante;
repetição ou a continuação de um ato ilícito. (ex.: indícios) do que os necessários para firmar um Advogado e Autor
Enfim, combate ameaça de violações futuras juízo de probabilidade.
a direito. É bastante empregada em face de Autor:
Marcus Aurélio de Freitas Bastos, Promotor de Jus-
direitos personalíssimos (ex.: honra, imagem, 8. A demanda e o juiz: o juiz tem liberdade para tiça, Especialista em Direito Processual Civil e Direito
vida privada etc.) e de direitos difusos e coletivos conceder providência antecipada diversa da pedida, Público, Mestre em Direito Constitucional, Professor de
(ex.: meio ambiente, saúde, educação etc.), a fim de garantir o bem da vida postulado. Se o juiz Processo Civil.
Marcus Vinícius, Juiz de Direito, Especialista em Proces-
que não têm natureza patrimonial, exigindo verificar que o ilícito temido ocorreu, ainda assim so Civil, Professor de Processo Civil.
uma atuação preventiva (“ex ante”), bem mais poderá determinar providência apta a inibir sua A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da Memes
adequada que a simples reparação de danos repetição. Também pode o juiz aplicar a fungibilidade Tecnologia Educacional Ltda. São Paulo-SP.
Endereço eletrônico: www.memesjuridico.com.br
(indenização). Permite, pois, a tutela da ameaça entre as tutelas de urgência (ex.: quando o autor usar Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a
(art. 5º, XXXV, do CF/88) aos chamados novos a via cautelar como veículo da tutela antecipada, reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
meio ou processo, sem a expressa autorização do autor
direitos. movido pela falta de elementos suficientes para
e da editora. A violação dos direitos autorais caracteriza
ajuizar sua ação principal). crime, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
2. Algumas características: é preventiva (vol-
tada para o futuro); é tutela do ilícito e não do 9. Efetivação
dano; é prestada via processo sincrético (onde 9.1. Noções gerais: o juiz pode se valer de medidas
há conhecimento, execução e tutela de urgên- coercitivas e executivas. Deve escolher sempre a
cia); independe de prova do dano, assim como menos gravosa.
do dolo ou culpa do agente; permite amplos 9.2. Medidas coercitivas: a principal é a multa coer-
poderes ao juiz (art. 461, §§ 5º e 6º, do CPC); citiva, que pode incidir por dia, hora, mês ou por ato
envolve obrigações de fazer ou não fazer (art. de descumprimento. Pode ser fixa ou progressiva.
461 do CPC e 84 do CDC) e de entrega de coisa Não se confunde com a multa do art. 14, parágrafo
(art. 461-A do CPC). único, do CPC. Seu valor é instável, podendo o juiz

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