Você está na página 1de 32

PEQUI: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL NA ALIMENTAÇÃO

ESCOLAR DOS POVOS DO CERRADO


João Antonio Pereira – Esp. em Prod. e Org. do Espaço Geog. Mato-grossense
Rosa Schneider- Nutricionista da Rede Municipal Guiratinguense de Ensino

RESUMO

O pequizeiro (caryocar brasiliense – caryocaceae) é uma planta nativa


do cerrado e da Amazônia brasileira, cujo fruto, polpa, amêndoa e casca
são ricos em nutrientes como vitaminas, sais minerais, ácidos graxos,
fibras, proteínas e hidratos de carbono. O objetivo deste artigo é
demonstrar que o consumo regular de pequi na alimentação escolar
pode trazer grandes benefícios à saúde física e mental do
educando. Estudos da caracterização química desse fruto evidenciam
que tanto a polpa , quanto a amêndoa do pequi são ricas em lípides,
(predominando os ácidos graxos oléico e palmítico), fibra alimentar
(sobretudo a pectina), compostos antioxidantes (ácido ascórbico,
vitamina E, carotenóides, licopeno, entre outros), sais minerais (ferro,
cálcio, cobre, zinco, , entre outros) e fenólicos totais. Esses compostos
demonstram que esse alimento consumido de forma moderada poderá
trazer amplos benefícios para a saúde humana, tendo em vista que
tradicionalmente a dieta alimentar do brasileiro é pobre em fibras,
vitaminas e sais minerais; além do que, os carotenóides, atuam
como precursores da vitamina A, ajudando diretamente no combate
aos radicais livres formados no interior do organismo; esses
radicais livres quando em excesso podem lesar várias moléculas,
como proteínas, ácidos graxos insaturados dos fosfolipídios de
membranas, carboidratos e DNA, estando relacionados com o
surgimento e/ou desenvolvimento de uma série de doenças
crônicas não transmissíveis, como aterosclerose, diabetes,
doenças da visão, câncer, mal de Alzheimer dentre outras.

Palavras Chaves: Caryocar brasiliense; alimentação escolar; vitaminas;


sais minerais.
1. INTRODUÇÃO

Artigo produzido em parceria com a Drª. Rosa Schneider CRN 33 47 – 1ª Região


Nutricionista que atua na Alimentação Escolar da Rede Municipal de Ensino de
Guiratinga-MT.

O Brasil possui cerca de trinta por cento das espécies de plantas e de animais
conhecidas no mundo, que estão distribuídas em seus diferentes ecossistemas. É o
país detentor da maior diversidade biológica do planeta. A região dos cerrados, com
seus 204 milhões de hectares – aproximadamente 25% do território nacional –
apresenta grande diversificação faunística e florística em suas diferentes fisionomias
vegetais. A área de estudo está localizada essencialmente no Planalto Central onde
se encontra o divisor de águas das três grandes bacias hidrográficas do Brasil, a
Amazônica, a do Paraná e a do São Francisco. (AVIDOS; FERREIRA, 2003, p. 15).
Esta unidade da paisagem brasileira apresenta uma rica biodiversidade em
alimentos de origem vegetal, entre os quais destacamos uma série de frutos com
elevado potencial para a alimentação humana, tais como o buriti, jatobá, mangaba,
macaúba, muricis, gabirobas, entre outros, no entanto, com o avanço do cultivo das
lavouras de soja e algodão, sobretudo nos topos dos chapadões guiratinguense,
espécies como o pequi (caryocar brasiliense) estão sofrendo ameaças de extinção,
por descaso ou falta de conhecimentos específicos de sua potencialidade, observe:

Todavia, o desconhecimento do potencial e uso dos recursos naturais,


o desrespeito das leis de proteção ambiental, as queimadas a
intensidade de exploração agrícola têm provocado prejuízos
incalculáveis ao solo, à fauna, à flora e aos recursos hídricos,
comprometendo a sustentabilidade desse ecossistema e colocando
muitas espécies animais e vegetais em risco de extinção,
principalmente no tocante às espécies fruteiras nativas (SILVA et al.,
2001, p. 07).

Apesar de nomes bastante sugestivos como “carne dos pobres”, “ouro dos
cerrados” que demonstram mesmo que empiricamente os altos valores econômicos
e nutricionais desta planta, são raros os estudos na área da ciência da nutrição que
estimulem o consumo, o comércio e até mesmo o cultivo do pequi.
Neste artigo abordaremos as contribuições nutricionais do ponto de vista de
sua composição química, sobretudo quanto aos aspectos de proteínas, lipídios,

2
glicídios, vitaminas, sais minerais e fibras e seus efeitos na saúde do ser humano.
Tradicionalmente este fruto é consumido em pratos típicos tais como: arroz
com pequi, peixe com pequi, licor de pequi; no entanto existem inúmeras outras
formas que a população nativa dos cerrados vem utilizando este fruto ao longo dos
séculos, algumas ainda carecem comprovação científica quanto a sua eficácia, mas
convém destacá-las: Óleo: tem efeito tonificante, eficaz para o tratamento de
bronquites, gripes e resfriados além de ser utilizado na fabricação de cosméticos; a
Farinha da Amêndoa: de sabor forte, é utilizada na gastronomia como condimento, a
amêndoa tem efeito revigorante para a pele e cabelo devido seu alto teor de
vitamina A e pela grande quantidade de óleo fino; seu alto teor de ferro contribui
para o combate de anemia ferropriva, entre outros.
Com tantos adjetivos, é difícil entender o porquê desta planta ser tão
maltratada, chegando a desaparecer completamente da paisagem em extensas
áreas local, não se trata apenas de uma competição entre este fruto nativo e a
agricultura de exportação, trata-se entre outros de valorizar um produto brasileiro
com ampla aceitação no consumo dos povos do cerrado e que pode inclusive ser
acrescentado no cardápio da merenda escolar com muitos benefícios a saúde do
povo brasileiro, em função de seus componentes nutricionais, este será nosso
intento nessa jornada.

2. A ESCOLA E A PROMOÇÃO DE HÁBITOS SAUDÁVEIS DE


ALIMENTAÇÃO

A educação nutricional tem um papel muito importante com relação à


promoção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância. Cerqueira (1985) a
considera medida de alcance coletivo com o fim primordial de "proporcionar os
conhecimentos necessários e a motivação coletiva para formar atitudes e hábitos de
uma alimentação sadia, completa, adequada e variada".
Franco (1992) demonstra que a educação alimentar deve ser incentivada
pois além de melhorar os hábitos alimentares da coletividade, colaborar
decisivamente, inclusive com a redução da mortalidade infantil, gerando maior
resistência às infecções e maior produtividade no trabalho.

Por outro lado, FNDE (2006) através da Portaria Interministerial Nº. 1.010,
de 8 de maio que Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável

3
nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e
privadas, em âmbito nacional, considerando que os Parâmetros Curriculares
Nacionais orientam sobre a necessidade de que as concepções sobre saúde ou
sobre o que é saudável, valorização de hábitos e estilos de vida, atitudes perante as
diferentes questões relativas à saúde perpassem todas as áreas de estudo, possam
processar-se regularmente e de modo contextualizado no cotidiano da experiência
escolar; considerando os objetivos e dimensões do Programa Nacional de
Alimentação Escolar ao priorizar o respeito aos hábitos alimentares regionais e à
vocação agrícola do município, por meio do fomento ao desenvolvimento da
economia local; considerando o grande desafio de incorporar o tema da alimentação
e nutrição no contexto escolar, com ênfase na alimentação saudável e na promoção
da saúde, reconhecendo a escola como um espaço propício à formação de hábitos
saudáveis e à construção da cidadania; considerando que no padrão alimentar do
brasileiro encontra-se a predominância de uma alimentação densamente calórica,
rica em açúcar e gordura animal e reduzida em carboidratos complexos e fibras em
seu art 2º destaca que devemos:

Reconhecer que a alimentação saudável deve ser entendida como


direito humano, compreendendo um padrão alimentar adequado às
necessidades biológicas, sociais e culturais dos indivíduos, de acordo
com as fases do curso da vida e com base em práticas alimentares que
assumam os significados sócio-culturais dos alimentos.

Com a finalidade de estudar e difundir a composição nutricional do pequi


(caryocar brasiliense), e incentivar o consumo do mesmo na alimentação de
escolares é que nos propomos a escrever este artigo, uma vez que o pequi é
tradicionalmente consumido por milhões de habitantes do cerrado brasileiro. Para
tanto estrategicamente, faremos a abordagem do mesmo baseado no potencial de
vitaminas, sais minerais, fibras, lipídeos, proteínas e carboidratos, analisando
individualmente cada um de seus componentes e por vezes comparando-o com
outros alimentos tradicionalmente consumidos na dieta básica do brasileiro. Observe
as tabelas abaixo:

2.1 AS FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS VITAMINAS

PRESENTES NO PEQUI

4
Se existe algo que de fato possa caracterizar a modernidade, é a velocidade
da circulação das informações e o avanço da pesquisa científica, as sociedades
modernas têm se tornado cada vez mais complexas, as fronteiras geográficas já não
se constituem barreiras para o intercâmbio alimentar e nutricional, ao contrário a era
digital aproximou povos, cristalizou idéias, derrubou mitos e está provocando uma
verdadeira revolução nos padrões de vida.
Anjo, (2004) demonstra que os paises que tem tradição no consumo de
alimentos funcionais apresentam baixa incidência de câncer, acidentes
cardiovasculares, acidentes vascular cerebral, arterioscleroses, enfermidades
hepáticas, dentre outros.
Oficialmente as vitaminas só foram descobertas no início do século XX, por
cientistas que pesquisavam os efeitos de diferentes tipos de alimentos no corpo
humano, no entanto há inúmeros registros relacionados a pesquisa da importância
das substâncias químicas nas dietas, desde o século XV com o advento das
grandes navegações marítimas e comerciais européias, período em que além das
especiarias, os europeus traziam na bagagem doenças como escorbuto, beribéri
chegando até mesmo a óbito em função de espasmos musculares, tonteiras, falta de
apetite, sangramento nas gengivas, deterioração da pele, infecções, desordens
neurológicas, paralisia, perda de peso, entre outros; A descoberta das vitaminas deu
origem ao campo da nutrição.
O termo “vitamina” surgiu para descrever um grupo de micronutrientes
essenciais para a vida, necessários em doses muito baixas, algumas delas, medidas
em microgramas. Elas desempenham a função de catalisadores no organismo
humano. Por esse motivo, são incluídas no grupo dos biocatalisadores, juntamente
com as enzimas, as hormonas e os oligoelementos.
As vitaminas ativam a oxidação dos alimentos, as reações metabólicas e
facilitam a libertação e a utilização de energia. Desta forma, permitem que o
organismo possa aproveitar as substâncias plásticas e energéticas proporcionadas
pela ingestão de alimentos: as proteínas, os açúcares, as féculas e as gorduras.
São compostos orgânicos imprescindíveis para algumas reações
metabólicas específicas, agindo muitas vezes como coenzimas ou como parte de
enzimas responsáveis por reações químicas essenciais à saúde humana. São
usualmente classificadas em dois grupos, com base na sua solubilidade,

5
estabilidade, ocorrência em alimentos, distribuição nos fluídos corpóreos e sua
capacidade de armazenamento nos tecidos:
Hidrossolúveis: ácido ascórbico, tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina,
biotina, ácido pantotênico, folato e cobalamina. A maioria das vitaminas
hidrossolúveis são componentes de sistemas de enzima essenciais. Várias delas
estão envolvidas em reações de manutenção do metabolismo energético, nosso
organismo normalmente encontra dificuldades para armazena-la em quantidades
apreciáveis e são absorvidas por mecanismo passivo e ativo e transportadas por
carreadores. Estas vitaminas ou seus metabólitos são excretados na urina.
Lipossolúveis: A, D, E, e K tem um papel fisiológico separado e distinto. Na
maior parte, são absorvidos com outros lipídios, e uma absorção eficiente requer a
presença da bile e suco pancreático. São transportadas para o fígado através da
ninfa como uma parte de lipoproteína e são estocadas em vários tecidos corpóreos,
embora não todas nos mesmos tecidos, nem na mesma extensão. Normalmente são
excretadas nas fezes através da circulação êntero-hepática. Observe na Tabela
abaixo a composição vitamínico do pequi

Tabela Nº 01 – Composição Química do Pequi - Vitaminas

Análise Química em g/100


A C B1 B2 B3 B6
20.000 mcg 8,3 mg 0,17 mg 0,48 mg 2,57 mg 0,6 mg
Fonte: TACO, 2006, p. 33 ; FRANCO, 1992, p.97.
Como podemos observar, a composição vitamínico do pequi demonstra que
o pequi pode contribuir decisivamente para uma vida mais saudável, mas é
interessante analisar cada uma de suas propriedades nutricional para melhor
compreendermos sua viabilidade na merenda escolar, para tanto passaremos a
análise bioquímica dos componentes do pequi.
O conhecimento das propriedades vitamínicos dos alimentos, que
consumimos diariamente é de fundamental importância, pois com essa atitude
simples, utilizada de forma planejada evitamos a ingestão desorganizada de
nutrientes e restauramos o equilíbrio do organismo evitando danos à saúde. A
importância do pequi como componente da alimentação de escolares pode ser
avaliada também a partir dos seguintes fatores: É o fruto com maior teor de Vitamina
A (retinol); em Vitamina B-1 (tiamina) é igual ao caju, morango, jenipapo e mamão;
em Vitamina B-2 (riboflavina) é igual a uma gema de ovo; em teor protéico é igual ao

6
abacate e a banana prata; em gordura é igual ao abacate e o buriti; em açúcar
compara-se a jabuticaba e a uva; em cálcio é igual ao caju, maracujá e a laranja; em
ferro é igual ao tomate; em cobre é igual ao amendoim, figo e uva. Observem na
tabela abaixo suas principais funções bioquímicas:

Tabela Nº. 02 PRINCIPAIS FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS

VITAMINAS DO PEQUI

Vitamina Função Deficiência Fontes


Tiamina Coenzima em Beribéri, perda Carnes, grãos
metabolismo de CH, apetite, neuropatia, enriquecidos,
função normal de fatiga, paralisia, legumes.
coração, nervos e insuficiência cardíaca.
músculos.
Riboflavina Coenzima no Queiloses, língua Leite, carnes,
metabolismo protéico avermelhada, vegetais verdes.
e energético. erupções cutâneas.
Niacina B3 Metabolismo (CoA), Pelagra, fraqueza e Carnes,
(precursor: atividade gástrica e falta de apetite, amendoim,
triptofano) intestinal normais, neurite, dermatite, legumes.
sistema nervoso. confusão mental.
Piridoxina B6 essencial ao Sistema Caspa (dermatite Levedo de cerveja,
nervoso e à pele, seborréia, Anemia; Farelo de trigo,
contribui com o Lesões na boca e na Melado, Leite,
metabolismo dos língua, Gengivite, Arroz integral,
aminoácidos, Náuseas e vômitos, Cereais integrais,
produção de células Irritabilidade, etc. Aveia, Banana,
do sangue, Batata, Melão,
anticorpos, age como Aves, Ovos,
diurético natural, reduz Carnes, etc.
os sintomas de vômito
e náuseas, etc.
Vitamina C Parede capilar, Escorbuto Frutas cítricas,
colágeno Absorção do Anemia; tomate, folhas.
ferro.
Vitamina A Adaptação visual, Cegueira noturna, Retinol: alimento
crescimento de pele e xeroftalmia, alteração animal
mucosas. pele e membranas. Caroteno: vegetais
Vitamina E Antioxidante. Fragilidade hemácias, Óleos vegetais,
anemia, neuropatia ovos, carnes,
periférica. cereais, etc.
Fonte: RAMALHO, 2004, p. 464.
É comum a imprensa brasileira dar ênfase a problemas ligados a saúde do
brasileiro, quase sempre as notícias referem-se a epidemias e surtos endêmicos, no
entanto existem problemas crônicos e que afetam parcelas populacionais que por

7
não se enquadrarem nos grupos de risco passam quase que desapercebidos na
sociedade; a deficiência de vitamina A (DVA) entre alunos da educação infantil e do
ensino fundamental seguramente chega a ser um problema de saúde pública no
Brasil, uma vez que via de regra desenvolvemos campanhas e um
acompanhamento mais próximo ao ideal apenas com os grupos populacionais
considerados como de risco nutricional, ou seja, gestantes, recém-nascidos e pré-
escolares.
São amplamente conhecidos os resultados da hipovitaminose A, chegando
inclusive a ser apontada como a principal causa de cegueira evitável no mundo. È
conhecido também no meio científico que a as carências vitamínicas na faixa etária
que compreende a pré-adolescência e a adolescência podem comprometer o
crescimento, a maturação sexual, o desenvolvimento intelectual e o desempenho
escolar, e isto incide diretamente nos custos com a manutenção da saúde pública.
(RAMALHO, et al, 2004, p. 465) afirma:

Para as mulheres em idade fértil a DVA, mesmo que em níveis


marginais ou subclínicos, pode representar maior risco de resultado
obstétrico desfavorável. Esta assertiva justifica-se, uma vez que a
vitamina A é importante para a reprodução normal, crescimento e
desenvolvimento fetais, constituição da reserva hepática fetal e para o
crescimento tecidual materno. Por não serem considerados
classicamente como de risco, os indivíduos em idade escolar
(incluindo os adolescentes) têm sido sistematicamente excluídos de
estudos investigativos e de programas de controle e combate à DVA.
Porém, estudos realizados na última década têm encontrado resultados
que apontam elevados níveis de carência de vitamina A em escolares
em diferentes países.

Tradicionalmente os países latinos não dispõem de inquéritos nacionais


sobre o estado nutricional de vitamina A, o que impede avaliar-se adequadamente a
real magnitude da DVA sobre a saúde desses segmentos, o Brasil apesar de
economicamente ser um gigante e figurar entre as maiores potências do planeta não
se difere dos paises localizados nessa parte do globo.
A ONU enquadra o Brasil como um país com deficiência marginal e de
importância moderada no tocante a questão da DVA e os resultados de estudos de
casos de diversas regiões brasileiras demonstram que este é um problema nacional
e não local e deveria ser tratado de forma diferenciada por nossas autoridades. Por
sua composição vitamínica e, sobretudo pelo alto teor de retinol acreditamos que se

8
justifique acrescentar na dieta dos escolares, alimentos como o pequi.

2.2 FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS VITAMINAS


PRESENTES NO PEQUI

Apesar de constituir em média apenas 5 a 6% do corpo humano, embora


certos macroelementos como o cálcio, o ferro, o magnésio, o sódio o potássio, e o
fósforo, se encontrem em quantidades mais significativas, os sais minerais fazem
parte do grupo de elementos denominados essenciais à nossa saúde. Eles não
podem ser sintetizados pelo organismo, mas podem ser obtidos através de uma
alimentação saudável.
Os sais minerais representam cerca de 1% do total da composição celular e
podem ser encontrados sob a forma insolúvel, entrando na composição de
estruturas esqueléticas e de sustentação, como os ossos. Quando os sais minerais
se encontram dissolvidos em água, formam os íons. É sob essa forma que eles
desempenham a sua atividade reguladora fundamental.
A quantidade de cada mineral que deve ser consumido diariamente varia de
microgramas a gramas. Dessa maneira, o excesso ou falta na ingestão pode
acarretar prejuízos ao organismo, devendo-se tomar cuidado com o uso de
suplementos.
Minerais como cálcio, fósforo, sódio, potássio, cloro, magnésio e enxofre
podem ser classificados como macrominerais, pois são necessários em quantidades
acima 100mg por dia. Já os minerais como o ferro, cobre, cobalto, zinco, manganês,
iodo, molibdênio, selênio, flúor e cromo são classificados como microminerais, pois
são necessários em pequenas quantidades, miligramas ou microgramas por dia.
Riveira, et al. (2001) realizaram estudo de suplementação de múltiplos
micronutrientes (Vitaminas A, D, E, K, C, B1, B6, B12, riboflavina, niacina, biotina,
ácido fólico, ácido pantotênico e ferro, zinco, iodo, cobre, manganês e selênio) e
concluíram que deficiências de micronutrientes são determinantes no crescimento
humano, Observe na tabela abaixo os principais sais minerais presentes no pequi.

Tabela Nº. 03 – Composição Química do Pequi - Sais Minerais

Análise Química em Mg/100


Ca Fe P Cu Na Mg Mn Zn
32 0,3 298 0,21 2,1 30 0,64 1,0

9
Fonte: Fonte: TACO, 2006, p.32-33 ; FRANCO, 1992, p.143.
Com a finalidade de destacar as funções bioquímicas dos sais minerais
encontrados no pequi bem como sua contribuição para a saúde daqueles que optam
por colocá-lo em sua dieta, é interessante observar a tabela Nº. 4:

Tabela Nº 04 - Principais funções bioquímicas dos sais minerais do pequi

Mineral Função Deficiência Principais


Ingestão/dia fontes
Cálcio Atua na formação de tecidos, ossos Deformações Leite e
800mg - e dentes; contração muscular; na ósseas; tetania na derivados,
homem transmissão de impulsos nervosos gravidez. chicória, feijão,
1.200mg - (regulação da batida cardíaca), age lentilha, vegetais
mulher (19-24 na coagulação do sangue e na de folhas verdes
anos) oxigenação dos tecidos; auxilia a (como brócolis,
neurotransmissão, está envolvido couve e
no transporte de membranas mostarda)
celulares, ativação ou liberação de cereais, grãos,
enzimas. frutas, carnes,
mariscos,
sardinha,
salmão e ostras.
Cobre Formação dos ossos; síntese da Não existem Vísceras,
1.5- 3.0mg hemoglobina e colágeno. evidências em mariscos,
Importante como componente de humano. Doença de leguminosas,
diversas enzimas e coenzimas. Menke é um frutas secas,
Colabora na síntese da problema genético cereais
hemoglobina, dos citocromos, da que resulta na integrais.
elastina e mielina. deficiência.

Ferro Constituinte da hemoglobina e Anemia ferropriva. Carne, ovo,


10mg - peixes, aves,
mioglobina; transporte de oxigênio;
homem gema de ovo,
15mg - mulher componentes de enzimas. O ferro cereais,
leguminosas,
tem papel no transporte respiratório
vegetais verde-
do oxigênio e dióxido de carbono e escuros
(espinafre),
é parte ativa das enzimas
feijão e ervilha.
envolvidas no processo de
respiração celular; auxilia na função
imunológica e no desenvolvimento
cognitivo, participando da contração
muscular, nos líquidos
intercelulares, linfa e no plasma

10
sangüíneo,
Fósforo Estrutura de ossos e dentes; Normalmente não Leite e
800mg - constituinte celular, no metabolismo ocorre, desde que a derivados, ovo,
homem dos glucídios, lipídios e protídeos a ingestão de tecido animal,
1.200mg - nível muscular; no metabolismo do proteínas e cálcio cereais e
mulher sistema nervoso, colabora como esteja adequada. leguminosas, as
(19-24 anos) componente em muitos sistemas amêndoas.
enzimáticos.
Magnésio Componente estrutural das células O déficit de Leite,
350mg - e ossos; ativador de diversas magnésio, embora leguminosas,
homem enzimas no metabolismo raro, pode levar a tecidos animais,
280mg - energético do nosso organismo. um aumento de cereais
mulher Cereais, soja, nozes, amêndoas, irritabilidade integrais,
amendoins e caju são muito ricos muscular originando vegetais, caju.
em magnésio. tremores e
convulsões. Parece
interferir com a
capacidade de
recuperação
muscular.
Sódio Contração muscular; regula A diarreia e os Abundante em
500 - 3.000mg osmolaridade, pH e volume dos vómitos intensos quase todos os
líquidos corpóreos. originam grandes alimentos. Leite
perdas de sódio, e derivados,
cãibras musculares, pão, cenoura,
fraqueza; dores de espinafre.
cabeça e colapso
vascular.
Fonte: Pesquisa de Campo

Todos os elementos destacados na tabela são muito importantes para a


formação física e mental dos alunos, mas destacaremos particularmente a influência
do ferro e do cálcio, sobretudo porque na infância e na adolescência apresentam
necessidades aumentadas desses minerais seja na formação de tecidos ósseos,
seja na construção da massa muscular que é acompanhada por volume sangüíneo
maior. As exigências do ferro são aumentadas durante a adolescência, quer para
alcançar o pico máximo de crescimento, quer pelas perdas menstruais. As
exigências de ferro são ainda maiores em países em desenvolvimento devido às
doenças infecciosas, às infestações por parasitas que causam a perda do ferro e à
baixa biodisponibilidade do ferro e das dietas limitadas, observe:

A deficiência de ferro é a deficiência nutricional mais comum, assim


como a causa mais comum de anemia entre crianças e mulheres.
Sendo considerado um problema de saúde pública, especialmente no
período da infância, no qual suas necessidades estão aumentadas O

11
período de rápido crescimento da lactância é marcado por um aumento
tanto na hemoglobina como na massa de ferro total. Além disso, neste
período as crianças não consomem alimentos ricos em ferro,
ressaltando assim os cuidados quanto à quantidade de ferro nos
alimentos, especialmente aqueles de origem vegetal. Muitos estudos
mostram que a deficiência de ferro em crianças pequenas está
associada com desenvolvimento neurológico deficiente, mas não está
claro se este quadro pode ser evitado pela suplementação de ferro
(BUENO & CZEPIELEWSKI, 2007 p. 50)

Por outro lado convém destacar que aproximadamente 70% do peso


corporal é composto por cristais cálcio-fosfato fornecendo informação suficiente para
sugerirmos que o cálcio seja um dos principais nutrientes para o adequado
crescimento ósseo e estatural. Anormalidades na estrutura óssea devido à
deficiência de cálcio ocorrem na osteoporose, osteomalacia e raquitismo, entre
outros.
Além do cálcio, outros minerais e elementos estão envolvidos no
crescimento ósseo, alguns deles como constituintes da matriz, como magnésio e
flúor, outros como componentes do sistema enzimático envolvido nos mecanismos
da matriz, como zinco, cobre e manganês. Uma dieta insuficiente nestes nutrientes
resulta na redução de crescimento ósseo na formação do osso definitivo. Vitaminas
também desempenham papel importante no metabolismo do cálcio como a vitamina
D e as vitaminas C e K, como co-fatores de enzimas chaves no metabolismo ósseo.
Estudos recentes e recomendações dietéticas têm enfatizado a importância
nutricional do cálcio em crianças, especialmente naquelas em fase de rápido
crescimento e de mineralização óssea associados ao desenvolvimento puberal. O
atual consumo dietético de cálcio entre crianças e adolescentes está bem abaixo
dos níveis ótimos de recomendação1.

2.3 PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICA DAS FIBRAS

PRESENTES NO PEQUI

O conceito de fibra alimentar (FA) vem-se modificando a medida em que


ocorrem avanços nas metodologias de análise da fibra, e nos estudos sobre o
comportamento dos alimentos no trato digestivo de humanos. Segundo
KANASHIRO, 2005, p. 95, os conceitos recentes mais adotados são:
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (Resolução RDC n.40 de
1
BUENO & CZEPIELEWSKI, Micronutrientes Envolvidos no Crescimento 2007 p. 52

12
21/03/2001) define FA como“.. qualquer material comestível que não seja hidrolisado
pelas enzimas endógenas do trato digestivo de humanos e determinado segundo os
métodos publicados pela AOAC2 em sua edição mais atual”.
Associação Americana de Químicos de Cereais: “A fibra da dieta é a parte
comestível das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes à digestão e
absorção no intestino delgado de humanos com fermentação completa ou parcial no
intestino grosso. A fibra da dieta inclui polissacarídeos, oligossacarídeos, lignina, e
substâncias associadas à planta. A fibra da dieta promove efeitos fisiológicos
benéficos, incluindo laxação, e/ou atenuação do colesterol do sangue e/ou
atenuação da glicose do sangue”3.
Os componentes da FA estão presentes na maioria das vezes em dietas
consumidas diariamente pelas populações e são encontrados principalmente em
vegetais, frutas e grãos integrais e podem, também, ser extraídos de sementes,
exsudatos de plantas, algas marinhas e raízes tuberosas. Compostos como
lactulose, lactose, amido resistente, inulina e frutoligossacarídeos, podem ser
incorporados aos alimentos com a finalidade de melhorar seus atributos sensoriais e
suas características funcionais. Proteínas não digeridas e produtos de reações
formados durante o processamento de alimentos também podem estar presentes na
fração fibra.
Estudos recentes demonstram que o pequi se constitui uma importante fonte
de fibras alimentares, OLIVEIRA, et al 2006, p.1 demonstra que o teor de pectina
total na polpa varia de 178,8 U/g a 197,3 U/g, não apresentando uma tendência de
variação definida em função do grau de maturação dos frutos. Observe o teor de
fibras existentes nesse alimento.

Tabela Nº 05 - Teor de fibras totais no pequi – comparação

com alimentos tradicionais

Tipo de alimento Total de fibras %


2
Association of Official Analytical Chemists.
3
Em função de seus efeitos benéficos, e por proporcionar efeitos prebióticos, a FA faz parte da
categoria dos alimentos funcionais. A Fundação Americana de Saúde recomenda, para crianças
saudáveis acima de 2 anos, a ingestão diária mínima, baseada na idade em anos mais 5g e a
ingestão diária máxima, na idade em anos mais 10g, até o máximo de 35g. Por exemplo, para uma
criança de 4 anos, a ingestão diária mínima é de 9g, e a máxima é de 14g. Porém, estas
recomendações não informam qual a composição de fibras deve ser utilizada, indicando apenas a
quantidade total da FA3.

13
Casca do pequi 39,97
Polpa do pequi 10
Amêndoa do pequi 5,5
Arroz cozido 0,4
Aveia farelo 17,0
Batata frita 2,3
Beterraba 1,7
Cenoura cozida 2,5
Laranja 1,9
Maçã com casca 2,7
Pão francês 2,7
Farinha de milho fina 1,5
Flocos de cereais 4,3
(milho)
Fonte: Pesquisa de Campo

GARBELOTTI, et al 2003, p. 19 demonstram que o papel da fibra alimentar


(FA) na dieta passou a ser reconhecido na nutrição e saúde somente após a década
de 60. Desde então, muitos estudos epidemiológicos têm sido realizados para
verificar os possíveis efeitos da fibra na saúde, o que tem demonstrado importância
considerável no tratamento e na prevenção de doenças. Segundo Hernandez, o
termo fibra alimentar foi proposto por Hipsely (1953) e definido por TrowelL (1972),
como sendo o componente da parede celular de vegetais incluído na dieta humana
que resiste à ação das secreções do nitrato gastrintestinal.
MAHAN & STUMP, 2004, p. 02 recomenda uma quantidade entre 19 e 26
g/dia aos alunos em idade escolar no ensino fundamental com variação significativa
entre meninos e meninas. Observe as propriedades físico-químico bem como suas
funções no organismo humano.

Tabela Nº 06 - Propriedades físico-química do pequi

Propriedade Tipo de fibra Efeito Fisiológico Significância Clínica


físico-Quimíca
-viscosidade Gomas, Descreve o -diabetes,
mucilagens e esvaziamento hipercolesterolemia
pectinas gástrico, descreve a
taxa de absorção no
intestino grosso
Tamanho da Farelo de trigo, Aumenta o - constipação, úlcera
partícula e conteúdo esvaziamento péptica, doença
capacidade de se pentosana gástrico, descreve o diverticular, dilui
ligar à àgua tempo de trânsito potencial
trato carcinogênico.
gastrointestinal,

14
descreve pressão
intraluminal no
cólon, aumento do
volume fecal
Absorção e não Lignina, misturas Aumento da -hipercolesterolemia,
específcos efeitos de fibras-pectina produção de anticarcinogenio
esteróide fecal,
aumento da perda
de gordura e
hodrogênio
Troca catiônica Polissacarídeos Aumento da perda -negativo balanço
ácidico de minerais, traço mineral, efeito
(pectinas) de elementos, antioxidante.
metais pesados.

Antioxidante Lignina (reduz Diminui os radicais -anticarcinogênico


grupos fenólicos) livres no trato
digestivo
Degradabilidade Polissacarídeos -aumenta -flatulência, produção
(colônia (menos a lignina) produções de gás e de energia,
bacteriana) ácidos graxos de anticarconogênico,
cadeia curta, Metabolismo/carboidr
descreve pH fecal atos/lípideos
Fonte: GARBELOTTI, 2003, p. 19

Existem alimentos denominados de funcionais, e o pequi se enquadra nesta


denominação que apresentam componentes nutricionais tão interessantes que
convêm destacar, observe:

“Nas últimas décadas, novas tecnologias, como a biotecnologia,


engenharia genética, processamento de alimentos, inovações de
produtos e produção em massa, habilitaram os cientistas de alimentos
a planejar novos produtos saudáveis. Há em todo o mundo um
crescente interesse pelo papel desempenhado na saúde por alimentos
que contêm componentes que influenciam em atividades fisiológicas
ou metabólicas, ou que sejam enriquecidos com substâncias isoladas
de alimentos que possuam uma destas propriedades, os quais estão
sendo chamados "alimentos funcionais" e que estão invadindo os
mercados, tendo em vista as perspectivas de ganhos nesta área.
(VIEIRA et al, 2006, p. 2)

Enquanto o mundo todo investe milhões em pesquisa visando obter


alimentos mais saudáveis e assim gastar menos com a saúde curativa, o Brasil
simplesmente destrói milhares de hectares de matas nativas contendo plantas que
seguramente poderiam contribuir para uma melhor qualidade de vida de sua
população pois como afirmara Hipócrates “somos aquilo que comemos”.

15
2.4 COMPOSIÇÃO LIPÍDICA DO PEQUI

Lípides ou lipídios são ésteres elaborados pelos organismos vivos, que por
hidrólise fornecem ácidos graxos ao lado de outros compostos e classificam-se em
Lipídeos simples, (não saponificáveis) Representados pelos esteróis; carotenóides e
tocoferóis. Complexos (saponificáveis) Representados pelos Acilgliceróis; ceras;
fosfolipídeos; diglicerídeos e monoglicerídeos, D´Arc (2006). A matéria
insaponificável corresponde à quantidade total de substâncias dissolvidas nos óleos
e gorduras que após saponificação com álcalis são insolúveis em solução aquosa,
mas solúveis em solventes comuns de gorduras (KOBORI; JORGE, 2005).
Os lipídeos de modo geral podem ser definidos como um conjunto de
substâncias químicas que, ao contrário das outras classes de compostos orgânicos,
não são caracterizadas por algum grupo funcional comum, e sim pela sua alta
solubilidade em solventes orgânicos e baixa solubilidade em água. Juntamente com
as proteínas, ácidos nucléicos e carboidratos, os lipídios são componentes
essenciais das estruturas biológicas, e fazem parte de um grupo conhecido como
biomoléculas. Os lipídios se encontram distribuídos em todos os tecidos,
principalmente nas membranas celulares e nas células de gordura.
Existem diversos tipos de moléculas diferentes que pertencem à classe dos
lipídios. Embora não apresentem nenhuma característica estrutural comum todas
elas possuem muito mais ligações carbono-hidrogênio do que as outras
biomoléculas, e a grande maioria possui poucos heteroátomos. Isto faz com que
estas moléculas sejam pobres em dipolos localizados. Embora possam apresentar
uma estrutura química relativamente simples, as funções dos lipídios são complexas
e diversas, atuando em muitas etapas cruciais do metabolismo e na definição das
estruturas celulares.
Os óleos vegetais e as gorduras animais pertencem a este grupo de
compostos orgânicos chamados ésteres, e são produzidos pela união entre um
ácido e um álcool. Em síntese podemos afirmar que os óleos e gorduras, vegetais
ou animais, são substâncias que contém glicerina combinada com vários ácidos
graxos. Há uma variedade de plantas das quais se podem extrair óleo, tais como
soja, amendoim, girassol, algodão, milho, canola, coco, mamona, pequi, macaúba,
babaçu, dendê, pequi que contém cerca de 60% de óleo comestível em sua polpa e
é rico em proteínas e vitaminas, entre outros.

16
Dados da composição em ácidos graxos do óleo da polpa e da amêndoa do
pequi (Caryocar brasiliense Camb) mostram que são constituídos na sua maior parte
por ácido oléico e ácido palmítico (Tabela nº 07 e Tabela 08 ) (FACIOLI e
GONÇALVES, 1998), estudos recentes tem comprovado que a adoção de dietas
equilibradas contendo esses elementos pode contribuir decisivamente para melhoria
da qualidade de vida, pois não basta viver mais; precisamos viver melhor.

Tabela Nº 07 - Composição em ácidos graxos do óleo do pequi.

TEOR DE ÓLEO DE PEQUI % (p/p) 100g


ÁCIDO GRAXO POLPA AMÊNDOA CASCA
Palmítico (16:0) 40,2 34,4 34,0
Palmitoléico (16:1) 1,4 2,1 1,6
Esteárico (C18:0) 2,3 1,8 3,7
Oléico (C18:0) 53,9 57,4 54,3
Linoléico (C18:2) 1,5 2,8 4,2
Linolênico (C18:3) 0,7 1,0 1,8
Araquidico (C20:0) 0,2 - -
SATURADOS 36,2 34,1 37,7
INSATURADOS 63,8 65,9 62,3
FONTE: (FACIOLI; GONÇALVES, 1998 & EMBRAPA 1987).

Tabela Nº 08 - Composição triglicerídia do óleo do pequi

TEOR DE TRIGLICERÍDEOS NO ÓLEO DO


PEQUI % (p/p) 100g
TRIGLICERÍDEOS POLPA
LOO 3,8
POL 2,7
OOO 5,4
POO 22,9
POP 27,6
SOO 9,1
POS 18,2
PPS 0,3
SOS 8,7
Fonte: (FACIOLI; GONÇALVES, 1998).

(PIMENTEL, et al., 2005).demonstram que os principais ácidos graxos da

17
família ômega 3 são o alfa-linolênico (C18:3 – 18 carbonos e 3 insaturações), o
eicosapentanóico-EPA (C20:5 – 20 carbonos e 5 insaturações) e o
docasahexanóico-DHA (C22:6 – 22 carbonos e 6 insaturações). Os ácidos graxos da
família ômega 6 mais importantes são o linoléico (C18:2 – dezoito carbono e 2
insaturações) e o araquidônico (C20:4 – 20 carbonos e 4 insaturações)
Os ácidos graxos de cadeia longa da família ômega 3 (EPA e DHA) são
sintetizados nos seres humanos a partir do ácido linolênico. Este ácido graxo é
também o precursor primordial das prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos
com atividade antiinflamatória, anticoagulante, vasodilatadora e antiagregante, na
prevenção do câncer (mama, próstata e cólon) e redução da incidência de
arteriosclerose, Rodruguez, et al (2003)
Os ácidos graxos ômega 3 são também indispensáveis para os recém-
nascidos por representarem um terço da estrutura de lipídeos no cérebro, carências
destas substâncias podem ocasionar redução da produção de enzimas relacionadas
às funções do aprendizado. O suprimento adequado de DHA na alimentação dos
bebês é fundamental para o desenvolvimento da retina.
(MORAES; COLLA, 2006 p. 118) destaca que além de seu papel nutricional
na dieta, os ácidos graxos ômega 3 podem ajudar a prevenir ou tratar uma
variedade de doenças, incluindo doenças do coração, câncer, artrite, depressão e
mal de Alzheimer entre outros, no entanto devem ser consumidos numa proporção
equilibrada com os ácidos graxos ômega 6 numa proporção de aproximadamente de
5:1 de ômega 6 para ômega 3.
O ácido linoléico, presente no óleo de pequi, pertencente ao grupo dos
ácidos graxos ômega 6, é transformado pelo organismo humano no ácido
araquidônico e em outros ácidos graxos poliinsaturados. Os ômega 6 derivados do
ácido linoléico exercem importante papel fisiológico: participam da estrutura de
membranas celulares, influenciando a viscosidade sangüínea, permeabilidade dos
vasos, ação antiagregadora, pressão arterial, reação inflamatória e funções
plaquetárias. Estudos mostram os efeitos causados pela substituição de gordura
saturada por gordura monoinsaturada na dieta, com a redução nos níveis de
colesterol total e de LDL, sem alterar significativamente os níveis de HDL4.

4
High density lipoprotein

18
2.5 COMPOSIÇÃO PROTEICA DO PEQUI

O termo proteína deriva do grego “proteios”, “que tem prioridade”, “o mais


importante”, são compostos orgânicos de alto peso molecular, formadas pelo
encadeamento de aminoácidos. Podem ser classificadas em proteínas simples,
denominadas também de homoproteínas (albuminas, globulinas, escleroproteínas
ou proteínas fibrosas), conjugadas, denominadas também de heteroproteínas
(cromoproteínas,fosfoproteínas, glicoproteínas, lipoproteínas, nucleoproteínas) e
derivadas (proteoses e as peptonas).
As proteínas desempenham as funções estrutural, enzimática, hormonal, de
defesa, nutritivo, coagulação sangüínea e transporte nos seres vivos estas podem
ser de origem animal ou vegetal. As proteínas formam o que chamamos de massa
corporal magra, juntamente com os ossos e líquidos corporais. Além disso, são de
extrema importância tanto dentro das células quanto fora delas, pois cumprem as
mais diversas funções no nosso organismo.
A principal função das proteínas no nosso organismo é sem dúvida a de
constituir os nossos músculos e vísceras, uma vez que a maioria absoluta da
proteína corporal está presente neles. A proteína muscular tem a função de executar
a contração muscular, função primordial que possibilita movimentarmos. Outras
funções de extrema importância são as proteínas que constituem os hormônios que
regulam o funcionamento dos mais diversos órgãos do nosso corpo. Além disso,
existem proteínas que têm o objetivo de defender o nosso corpo de agentes
agressores são os anticorpos.
As enzimas que fazem o nosso organismo funcionar, metabolizando os
alimentos em energia, reconstruindo a nossa massa corporal que está sempre em
processo de degradação e reconstrução, são outros tipos importantes de proteínas.
Por fim, existem proteínas que transportam substâncias no nosso sangue, como a
hemoglobina, a albumina e as lipoproteínas HDL, LDL e VLDL, entre outras.
Ocorrem muitas divergências quanto ao teor de proteína encontrados tanto
na polpa, como na casca ou amêndoa, (Ribeiro, 2000) afirma ser (13,5) o teor da
polpa, superior ao encontrado no arroz, na batata , entre outros.
Vilela (1998) afirma que os teores da polpa variam entre 3,54 e 6,0%. Para
frutos coletados na localidade de Brasilândia-MG, respectivamente. Em frutos
procedentes de outras regiões, Ferreira et al. (1987) obtiveram um valor de

19
1,61g/100g (Luiziânia-GO).
Existem inúmeras explicações plausíveis para a variação que podem estar
ligados desde a fase de maturação, incidência solar ou se o fruto estava caído no
chão há muitos dias ou não, mas o que todas as pesquisas confirmam é que este
fruto do cerrado faz valer o nome popular que recebe, “a carne do cerrado”.
Franco, (1982) destaca que, dos frutos tropicais mais consumidos pela
população brasileira, o teor protéico da polpa do pequi só está abaixo do coco da
Bahia, que apresenta um teor de 5,5g/100g, os dados demonstram de forma
inequívoca que o pequi é um alimento que merece ser tratado com mais atenção
principalmente nesse momento em que o planeta todo inicia acalorados debates no
tocante a produção de alimentos e biocombustíveis, pois o pequi se enquadra em
ambos os casos, há que destacar que é uma planta nativa, logo aclimatada e pode
contribuir inclusive com a recuperação de áreas degradadas unindo o útil ao
agradável, somente paises tão antagônicos como o Brasil pode se dar ao luxo de
desperdiçar ao longo de séculos essa fonte inesgotável de vida e alimento.

2.6 HIDRATOS DE CARBONO PRESENTES NO PEQUI

Os carboidratos são substâncias orgânicas chamadas de hidratos de


carbono. Estes nomes foram dados porque, na molécula da maior parte dos
carboidratos, para cada carbono presente existem 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo
de oxigênio, na mesma proporção existente na molécula de água. Sua fórmula
empírica é (CH2O)n. Daí o nome carbo (carbono) hidrato (hidros = água).Os
carboidratos são a maior reserva de energia de todo o reino vegetal, sendo produto
do processo fotossintético. Por outro lado, no reino animal, os carboidratos são
encontrados em pequenas quantidades no sangue, sob a forma de glicose, e no
fígado e músculos, sob a forma de glicogênio. Os carboidratos também são
conhecidos como açúcares.
Os carboidratos têm função estrutural (construtora ou plástica) e
armazenamento energético nos animais, sob a forma de glicogênio, e principalmente
nos vegetais, sob a forma de polissacarídeos. Também tem função anticoagulante
(heparina), lubrificante, cicatrizante (quitina) e antigênica (ativa o sistema
imunológico, por exemplo, a alergia causada por crustáceos). Segundo a ocorrência
ou não de hidrólise os carboidratos são classificados em:

20
Monossacarídeos: São glicídios simples que não sofrem hidrólise são
nomeados de acordo com a quantidade de Carbono da cadeia. Os mais importantes
são as Hexoses (6C) e as pentoses (5C). As Pentoses mais importantes são Ribose
e Desoxirribose componentes estruturais do RNA e DNA respectivamente. Hexoses
mais importantes são: Glicose, Frutose e Galactose todos com funções energéticas.
Oligossacarídeos: São glicídios formados pela junção de 2 a 10
Monossacarídeos através de uma ligação covalente denominada Ligação
Glicosídica sofrem hidrólise e os mais importantes oligossacarídeos são os
dissacarídeos formandos pela junção de 2 monossacarídeos os mais importantes
são: Sacarose (glicose+frutose); Lactose(Glicose+Galactose);
Maltose(Glicose+Glicose).
Polissacarídeos: São glicídios formados pela junção de mais de 10
Monossacarídeos os mais importantes são: Amido, Glicogênio, Celulose, Quitina.
As principais fontes de hidratos de carbono na alimentação do Homem são
os cereais, raízes, tubérculos, leguminosas, vegetais e frutos e produtos lácteos. Os
hidratos de carbono, e os açúcares em particular, são as principais fontes de energia
para o corpo, mas também desempenham um papel importante no prazer que
sentimos ao alimentar-mo-nos. Eles adicionam sabor doce, aroma, textura,
palatabilidade a uma larga variedade de alimentos que de outra forma não
conseguiríamos ingerir.
Os hidratos de carbono têm efeitos fisiológicos como o impacto na
saciedade e esvaziamento gástrico e influência sobre a glicemia. A fibra dietética é
conhecida como um importante moderador da digestão no intestino delgado e como
o principal substrato de fermentação ao nível do cólon. Os hidratos de carbono
desempenham um papel importante na manutenção da saúde como parte integrante
de uma alimentação equilibrada e saudável e na prevenção de doenças.
Damaso, (2001) aponta cinco importantes funções dos hidratos de carbono
no organismo humano:
Fonte energética: uma das principais funções dos carboidratos é fornecer
energia para o desenvolvimento e manutenção das funções celulares, sendo que as
reservas de glicogênio promovem um equilíbrio no organismo pela geração de ATP
e coenzimas ativas no metabolismo;
Ação poupadora de proteínas: um nível adequado de carboidratos na dieta
impede que ocorra uma degradação das proteínas para geração de energia, mesmo

21
quando o organismo é exposto a situações que aumentam significativamente a
demanda energética. Esta poupança de substrato protéico promove uma maior
quantidade de proteína armazenada, o que favorece a "construção" dos tecidos;
Efeito anticetogênico: a cetose é uma condição na qual são observadas
elevações da produção de corpos cetônicos decorrentes da grande mobilização de
gordura. Tal situação resulta em aumento da acidez dos fluidos orgânicos, o que
pode ser prejudicial. Isto ocorre quando as quantidades de hidratos de carbono
ingeridas são insuficientes e prejudicam o transporte de glicose para dentro das
células. Este quadro é freqüentemente observado em casos de administração de
dietas restritivas e/ou realização de esforços físicos extenuantes;
Constituição de compostos estruturais: a função plástica dos hidratos de
carbono é representada pela constituição da ribose e da desoxirribose na estrutura
do DNA e RNA. Além destes, as glicoproteínas das membranas plasmáticas, dos
anticorpos, de alguns fatores de coagulação sangüínea, entre outros, têm em sua
estrutura componentes glicídicos;
Combustível para o sistema nervoso central: é de conhecimento geral
que o tecido cerebral "alimenta-se" quase que exclusivamente de glicose, o que
numa situação de interrupção prolongada glicêmica resulta em danos irreversíveis
ao cérebro.
Existem diferentes dados acerca da composição química do pequi, no
tocante aos carboidratos não é diferente. TACO (2006) demonstra que existem
13,0g para cada 100 gramas da parte comestível do pequi cru. Lima et al (2007)
demonstra que cerca de 8,33% da polpa é formado por carboidratos. já o Relatório
Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais,
Montes Claros, 2003 aponta um valor total de 8,95%. Há uma carência enorme de
pesquisas seguras nessa área com o objetivo de padronizar os valores, as margens
aceitáveis de erros e até mesmo detectar as diferenças regionais que ocorrem
desde o período de maturação e colheita dos frutos até mesmo as variações que
ocorrem de plantas da mesma família mas com variedades diferentes tais como o
pequi anão e o pequi sem espinhos que vem sendo estudado pela EMBRAPA isso
tudo só valorizaria ainda mais este fruto e colocaria na discussão sobretudo dos
povos do cerrado a importância de desenvolver leis específicas que protejam essa
planta como também a difusão nas mídias locais sobre a importância do consumo
do mesmo sobretudo, mas não somente, por crianças em idade escolar.

22
3. REVISÃO DE LITERATURA
O pequi (Caryocar brasilense) planta típica do cerrado brasileiro ocorre em
boa parte do território nacional. (PEREIRA 2004 p. 08) afirma que esse fruto de
aspecto bruto é o mais utilizado pela culinária guiratinguense; podendo-se concluir
que tempo de pequi é essencialmente tempo de festa.
FERREIRA, et al, 1988 p. 01 demonstra que a polpa do pequi contém 61,79%
de óleo e 42,2% de proteína e a amêndoa possui 6,71% e 24,6% respectivamente
se configurando em um importante complemento alimentar.
Convém destacar que a amêndoa do pequi, pela alta quantidade de óleo que
contém e por suas características químicas, pode ser também utilizada com
vantagem na indústria de cosméticos para a produção de sabonetes e cremes, entre
outros.
Franco, (1996) demonstra que foram encontradas 20.0000 mcg de vitamina A
e 463 mcg de vitamina B2. Dados da Organização Mundial de Saúde afirma que
10% dos alunos da 1ª série do ensino fundamental público apresentam deficiências
visuais, necessitando de medidas corretivas; o problema é tão grave que em 1984 o
Ministério da Educação criou o “PNSE”, Programa Nacional Saúde do Escolar e
desde então vem concedendo apoio financeiro aos municípios em caráter
suplementar para a realização de consultas oftalmológicas, aquisição e distribuição
de óculos para os alunos com problemas visuais regularmente matriculados na rede
pública. Contraditoriamente, o pequizeiro, planta que poderia oferecer enorme apoio
no combate a deficiência de visão, em função da rápida expansão das fronteiras
agrícolas no cerrado mato-grossense vem sendo eliminado da paisagem regional.
Almeida; Silva (1994) destacam que o fruto do pequizeiro apresenta alto teor
de caroteno (120mg). A polpa de pequi contém 78,272mg de vitamina C, valor acima
de quatro frutas tradicionalmente cultivadas e consumidas pela população brasileira
como laranja-pera (40,9mg), limão (26,4mg), banana d’água (6,4mg) e maçã
argentina (59mg) Sano;Almeida, (1998).
A polpa de pequi é composta de 66% de óleo e 13,5% de proteína e a
amêndoa tem 47% de óleo e 54% de proteína (Oliveira, 1988). O percentual de
proteínas presente na polpa do pequi (13,5%) é superior ao encontrado no arroz e
na batata Ribeiro, (2000).
Parece incrível como uma fruta tão pequena pode conter tantos antioxidantes,

23
as célebres substâncias que combatem os radicais livres. Uma das que mais
aparecem no pequi é a vitamina C, mas o licopeno, composto que protege a próstata
e o coração, não fica tão atrás, ressalta José Orlando Madalena 2001, técnico da
EMBRAPA.
Mondine, et al (2007) demonstra a importância dos frutos do cerrado no
combate a anemia de crianças indígenas da nação Kaiamurá do Alto Xingu, Brasil
central.
Pereira, (2004) define o pequi como “o ouro do cerrado” e relata como uma
cidade inteira do Estado de Minas Gerais, conseguiu gerar emprego e renda a uma
comunidade rural que graças ao sucesso do projeto provocou a emancipação
política do distrito.
Campbeell, (1996) afirma que cerca de cinqüenta milhões de pessoas que
vivem nas florestas e nas redondezas dependem de produtos fornecidos por ela, tais
como frutos, óleos essenciais, alimentos corantes entre outros para sobreviver.
Moço, (2008) demonstra que além do sabor marcante é uma das plantas do
cerrado que apresenta enorme número de antioxidantes “as célebres substâncias
que combatem os radicais livres”. O pequi apresenta uma enorme quantidade de
vitamina C, mas o licopeno composto que protege a próstata e o coração, não fica
tão atrás ressalta José Orlando Madalena- engenheiro agrônomo da Embrapa.
Existem relatos do estudo do pequi desde o início do século XX p or ser um
fruto altamente nutritivo, com polpa rica em vitaminas (é o fruto mais rico em
vitamina A, com uma quantidade 20 vezes maior que a cenoura), gorduras (o
óleo extraído é utilizado para vários fins) e proteínas, é considerado um alimento
indispensável para a população do cerrado Carvalho;Burguer, (1960.Vitaminas...,
2007; Vilela, 1998).
Araújo, (1995); Almeida et al., (1998), afirmam que o pequi é um fruto
proveniente de uma planta arbórea da família Caryocaraceae, gênero Caryocar L. e
existem, aproximadamente, vinte espécies dessa planta, sendo a espécie C.
brasiliense Camb. encontrada com maior incidência no Brasil, especialmente no
cerrado. Os estados que apresentam esta espécie são Bahia, Distrito Federal,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins,
Ceará, Piauí e Maranhão. Esse fruto, de acordo com a região de ocorrência, é
conhecido como pequi, piqui, pequiá, piquiá, piquiá- bravo, entre outros.

24
4. METODOLOGIA

a produção deste artigo conduziu-se terminantemente pelas seguintes fases


e ou/ metodologias:
1ª Fase - Pesquisa Bibliográfica: Nesta fase visando obter fontes
bibliográficas concernentes ao tema abordado realizamos visitas a Biblioteca Pública
Municipal Castro Alves, Biblioteca Pública da UFMT/ CUR - Centro Universitário
Rondonopolitano e visitas a sítios da web voltados à divulgação de trabalhos
científicos.
2ª Fase - Pesquisa de Campo: Nesta etapa realizou-se uma série de visitas
a zona rural do município de Guiratinga MT, localizado na Região Sul de MT visando
coletar dados e imagens no habitat natural do pequi..
3ª Fase: Elaboração dos textos provisórios.
4ª Fase: Revisões e elaboração dos textos definitivos.

5. RESULTADOS ALCANÇADOS

O Ministério da Saúde e o Ministério de Educação através de ações


conjuntas têm estimulado a implantação de programas de educação alimentar para
incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A e em outros nutrientes.
Muitos destes alimentos, como as frutas nativas, apresentam custo acessível,
mesmo para as populações mais carentes.
O uso sustentado das fruteiras nativas pode ser uma excelente opção para
melhorar a saúde da população brasileira e para agregar valor aos recursos naturais
disponíveis no cerrado, melhorando a renda das pequenas comunidades rurais e
favorecendo a preservação das espécies nativas. Partindo dessa premissa bem
como das propriedades nutricionais destacadas ao longo desta pesquisa, algumas
das quais destacadas na Tabela Nº 09 recomenda-se a utilização do pequi na
merenda escolar como uma forma de evitar e ou corrigir doenças que
tradicionalmente afetam nossos alunos e prejudicam diretamente o desempenho dos
mesmos se constituindo seguramente em um dos principais responsáveis pela
repetência e ou mau desempenho dos mesmos.
Observe algumas das principais substâncias presentes no pequi que podem
ser são consideradas como funcionais:

25
Tabela Nº 09 - Substância funcionais presentes no pequi5

Substância funções fontes alimentares


ÁCIDOS GRAXOS MONO- Efeito protetor sobre cânceres de
Azeite de oliva
INSATURADOS mama e de próstata
Efeito protetor de doenças
cardiovasculares
Evita a formação de coágulos
sanguíneos na parede arterial
Diminui a pressão sanguínea Peixes de água fria e
ÔMEGA – 3:
Aumenta o HDL plasmático frutos do mar.
(colesterol bom) e reduz o colesterol
LDL (ruim)
Pode diminuir a quantidade de
triglicérides no sangue
Óleos vegetais, como
azeite, óleo de canola,
Efeito protetor para as doenças
ÔMEGA – 6: milho e girassol, bem
cardiovasculares.
como nas nozes, soja e
gergelim
Age precipitando o colesterol
dietético presente no intestino, pode
colaborar a redução da absorção do
Óleos vegetais, cremes
colesterol.
vegetais com adição
Têm propriedade de auxiliar no
FITOESTERÓIS desta substância,
controle de alguns hormônios
legumes, gergelim, e
sexuais e, eventualmente aliviar os
semente de girassol
sintoma de TPM por atenuar a
queda de estrógeno que ocorre
nesta fase
Menor incidência de doenças
FITOESTRÓGENOS cardiovasculares
Soja
isoflavona Câncer de mama
Inhame
(genisteína e a daidzina) Câncer de próstata
Osteoporose
Antocianinas (flavonóides) Possuem propriedades anti- cerejas, jambolão, uvas,
carcinogênicas, anti-inflamatórias e vinho, morangos, amoras
anti - alérgicas vermelhas, uvas, vinho,

5
Sgarbieri & Pacheco (1999): "qualquer alimento, natural ou preparado, que contenha uma ou mais
substâncias, classificadas como nutrientes ou não nutrientes, capazes de atuar no metabolismo e na
fisiologia humana, promovendo efeitos benéficos, para a saúde, podendo retardar o estabelecimento
de doenças crônico-degenerativas e melhorar a saúde e a expectativa de vida das pessoas".
ANVISA define Alimento funcional como sendo "aquele alimento ou ingrediente que, além das
funções nutritivas básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produza efeitos metabólicos
e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão
médica" (RDC 18/99)

26
berinjelas entre outros
Possuem propriedades anti-
Antoxantinas (flavinóides) carcinogênicas, anti-inflamatórias e batata e repolho branco
anti - alérgicas
Essenciais para a visão,
diferenciação das células,
desenvolvimento embriológico e
outros processos fisiológicos, e
Cenoura, abóbora e
CAROTENÓIDES ainda possuem ação estimulante ao
mamão
sistema imunológico, inibem a
mutagênese e protegem contra a
oxidação e contra doenças
cardiovasculares
Reduz a concentração de radicais
livres
LICOPENO Tomate, melancia
Previne o ataque cardíaco por
impedir a oxidação de LDL
Absorvente sobre os ácidos e sais
Algumas frutas, vegetais,
biliares que atenuam a velocidade
FIBRAS SOLÚVEIS leguminosas
de absorção de diversos nutrientes,
(feijão, lentilha)
entre eles a glicose e o colesterol
Como celulose e lignina, por não
serem digeridos favorecem o bom
funcionamento dos intestinos,
aumentando o volume fecal, e
FIBRAS INSOLÚVEIS cascas de cereais
atualmente sendo citados como
fator importante na redução de
incidência de câncer de intestino
(cólon).
Fonte: VIEIRA, et al, 2006 p. 3

Por outro lado, o consumo de frutas e vegetais tem sido associado a uma
menor incidência e mortalidade por diversas doenças crônicas não-transmissíveis. A
proteção que esses alimentos oferecem contra as enfermidades degenerativas,
como câncer, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, está associada ao seu
alto conteúdo de constituintes químicos com propriedades importantes, como as de
antioxidantes (vitamina C, E, carotenóides e polifenóis).

6. CONCLUSÃO
Estudos de literatura existente acerca do pequi exaustivamente abordado ao
longo deste artigo demonstram que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios
(33,4%) se constituindo em uma fonte importante de fibra alimentar (10,02%) e um
27
teor de 13,5% de proteínas, fornecendo cerca de 358Kcal/100g de material, as quais
correspondem a 18% das necessidades calóricas de um adulto com uma dieta de
2.000Kcal e 40% das necessidades de fibra alimentar. Isso mostra que o consumo
da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população, tendo em vista o
conhecimento de que o consumo regular de fibra alimentar na dieta está relacionado
com a redução do risco de diversos quadros patológicos Lima et al, (2007).
Na amêndoa do pequi os quatros componentes majoritários foram os lipídios
(51,51%), as proteínas (25,27%), os carboidratos (8,33%) e a fibra alimentar (2,2%),
apresentando um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais
representado pelas cinzas. Tanto na polpa como na amêndoa do pequi, pode ser
observado o predomínio dos ácidos graxos insaturados com 61,35% e 52,17%,
respectivamente. O ácido oléico está presente em maior concentração na polpa,
com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico (35,17%). Na amêndoa do pequi,
predominam os ácidos palmítico e oléico em quantidades praticamente iguais,
43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoléico com
5,51%, esteárico com 2,04%, palmitoléico com 1,23%, sendo detectado em menores
quantidades outros ácidos graxos. Assim, tanto a polpa como a amêndoa do pequi
possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável.
A polpa do pequi possui 209mg/100g de fenólicos totais, valores superiores
aos encontrados na maioria das polpas de frutas consumidas no Brasil, como: Açaí
(Euterpe oleracea), com 136,8mg/100g; goiaba (Psidium guayava), com
83,1mg/100g; morango (Gingo biloba), com 132,1mg/100g; abacaxi (Ananas sativa),
com 21,7mg/100g; graviola (Anona muricato), com 84,3mg/100g, e maracujá
(Passiflora edulis), com 20,2mg/100g, sendo inferior apenas à acerola (Malpighia
glabra), com 580,1mg/100g, e à manga (Mangifera indica), com 544mg/100g. Esses
resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade
antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos
totais e a proteção antioxidante, Kuskoski et al., (2005).
Constata-se que, na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os
constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oléico e
palmítico. Na polpa, também se detectam um teor elevado de fibra alimentar e a
presença de compostos fenólicos e carotenóides totais, os quais estão associados à
prevenção de processos oxidativos. Os teores vitamínicos e de sais minerais
presentes nesse fruto podem contribuir positivamente para o crescimento e

28
desenvolvimento da saúde física e mental de crianças e jovens em idade escolar,
corroborando com as orientações do Ministério da Saúde e do Ministério de
Educação de nosso país. Diante dos resultados obtidos, sugere-se que o pequi seja
adotado regularmente nas merendas escolares nas regiões de cerrado; sugere se
ainda uma maior investigação visando aferir e padronizar os dados referentes aos
micro e macronutrientes para elaborar cardápios que atendam as necessidades de
cada fase da vida do escola.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA Aprova o regulamento


técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise e comprovação de
propriedades funcionais e ou de saúde alegadas em rotulagem de alimentos.
Resolução nº 18, de 3 de dezembro de 1999.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA. Aprova o


regulamento técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de
propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem. Resolução nº 19, de 10
de dezembro de 1999

ALMEIDA, S. P. de. Frutas nativas do cerrado:caracterização físico-químico e


fonte potencial de nutrientes. EMBRAPA, 1998.

ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado:


espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. 464p.

ALMEIDA, S. P.; SILVA, J. A. piqui e buriti: importância alimentar para a


população dos cerrados. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1994. 38 P. (documentos,
54).

ANJO, D. L. C. Alimentos funcionais em angiologia e cirurgia vascular. Jornal


Vascular Brasileiro. v. 3, n. 2, p. 145-154, 2004.

ARAÚJO, F.D. A review of Caryocar brasiliense (Caryocaraceae) – Na


economical valuable species of the central Brasilian Cerrados. Economic Botany,
Bronx, v.49, n.1, p.40-48, 1995

ÁVIDOS, M. F. D.; FERREIRA, L. T. Frutos dos Cerrados – Preservação gera


muitos frutos. 2003.

BUENO, A. L. & CZEPIELEWSKTLZ, M. A. Micronutrientes Envolvidos no


Crescimento. Ufrgs. 2001.

BRASIL. Portaria Interministerial, Nº 1010 de 8 de maio de 2006. Institui as


diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação
infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito

29
nacional.

CARVALHO, M. C.; BURGER, O. N. Contribuição ao estudo do pequi de Brasília.


Brasília: SPS, 1960. 15p. (Coleção Estudo e Pesquisa Alimentar, 50).

CERQUEIRA, M. T., 1985. Educación en nutrición: Metas e metodología. Boletín


de la Oficina Sanitaria Panamericana, 99:498-509.

CHITARRA, A.B.; CHITARRA, M.I.F. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia


e manuseio. Lavras. Ed. Gráfica Nagy, 1990. 293p. 1990. Revista brasileira de
fruticultura

DÂMASO, A. Nutrição e exercício na prevenção de doenças. Rio de Janeiro:


MEDSI, 2001.

D ARCE, M. R. Fundamento da Química dos Lipídeos para a Produção de


Biodiesel. II Simpósio do Agronegócio de Plantas Oleaginosas: Matérias-primas
para Biodiesel. ESALQ/USP, Maio, 2006.

FRANCO, G. Nutrição: texto básico e tabela de composição química de alimentos. .


In: Composição química dos alimentos e valor energético. 6.ed. In. Rio de Janeiro:
Atheneu, 1982. p.180-193.

__________ Tabela de composição química dos alimentos. 9. ed. São Paulo:


Atheneu, 1992.

FERREIRA, F. R.; BIANCO, S.; DURIGAN, J. F.; BELINGIERE, P. A.


Caracterização física e química de frutos maduros de pequi. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 9., 1987, Campinas. Anais. Campinas: SBF,
1988.

GARBELOTTI, M. L. et al. Papel da fibra na alimentação. 1976. Instituto Adolfo


Lutz - Central - Divisão de Bromatologia e Química - Seção de Doces e Amiláceos.

KANASHIRO, M. Fibras na Alimentação Iinfantil. Rev Med Minas Gerais 2005;


15(2 Supl 4): S295-S300

KOBORI, C. N.; JORGE, N. Caracterização dos Óleos de Algumas Sementes de


Frutas como Aproveitamento de Resíduos Industriais. Ciênc. Agrotec. Lavras,
v.29, n. 5, p. 1008-1014, set/out, 2005.

KUSKOSKI, E.M.; ASUERO, G.A.; TRONCOSO, A.M.; MANCINI-FILHO, J.; FETT,


R. Aplicación de diversos métodos químicos para determinar actividad
antioxidante em pulpa de frutos. Revista de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Campinas, v.25, n.4, p.726-732, 2005.

LIMA, A. de. Et al. Composição Química e Compostos Bioativos Presentes na


Polpa e Amêndoa do Pequi (Caryocar brasiliense Cmb). Rev. Bras.
Frtic. v.29 n.3 Jaboticabal 2007. ISSN 0100-2945 versão impressa

30
LIMA, A.; MANCINI-FILHO, J. Compostos com atividade antioxidante no fruto
Pequi (Caryocar brasiliense, L), Revista da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição (NUTRIRE), São Paulo, v. 30, p. 310, 2005.

MOÇO, A. Delícias do Cerrado. Revista Saúde! é vital. ABRIL. Março, 2008.

MONDINI, L. et al. Condições de nutrição em crianças Kamaiurá – povo


indígena do Alto Xingu, Brasil Central.Rev. Brasileira de Epidemologia. 2007;
10(1):39-47.

MORAES F. P. e Colla L. M. Alimentos Funcionais - Revista Eletrônica de


Farmácia Vol 3 (2), 99-112, 2006

OLIVEIRA, S. Pequi. Rev. Globo Rural, n. 38, p. 82-83, 1988.

PEREIRA, A. C. S. Projeto Casos de Sucesso. SEBRAE, MG, Ed. 2004.

PEREIRA, J. A. Produção e Organização do Espaço Geográfico Guiratinguense.


UFMT, MT, 2004. Monografia (Curso de Especialização Produção e Organização do
Espaço Geográfico. Universidade Federal de MT/CUR)

PIMENTEL, B. M. V. Et al. Alimentos Funcionais: Introdução as principias


substâncas bioativas em alimentos. São Paulo: Editora Varella, 2005.

RAMALHO, R. A. et al. Níveis séricos de retinol em escolares de 7 a 17 anos no


município do Rio de Janeiro, Brasil. In Revista
Nutrição. vol.17 no.4 Campinas Oct./Dec. 2004

RIBEIRO, R. F. Pequi: o rei do cerrado. Rede Cerrado: Belo Horizonte: Rede


Cerrado, 2000.

Rivera J.A. et al. Multiple micronutrient supplementation increases the growth


of Mexican infants. Am J Clin Nutr.2001; 74:657-63.

RODRÍGUEZ, M. B. S.et al. Alimentos Funcionales y Nutrición óptima. Revista


da Espanha de Salud Pública. v. 77, n. 3, p. 317-331, 2003.

SANO,S. M; ALMEIDA, S. P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-


CPAC, 1998.

SGARBIERI, V.C.; PACHECO, M.T.B. Revisão: alimentos funcionais fisiológicos.


Braz. J. Food Technol., v.2, n.1-2, p.7-19, 1999.

Silva, D.B. da; et al., 2001. Frutas do Cerrado. Brasília: EMBRAPA - Informação
Tecnológica.

TACO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - NEPA-UNICAMP.


Versão II, - 2ª ed. – Campinas, SP: NEPA UNICAMP, 2006. 113 p.

Trowel H C. Definition of dietary fiber and hypotesis that is as a protective

31
factor in certain disease. Am J Clin Nutr, 29:417-27, 1976.

VIEIRA et al. Alimentos Funcionais: Aspectos Relevantes Para o Consumidor.


2006

VILELA, G.F. Variações em populações naturais de Caryocar brasiliense.


(Cariocaceae): fenológicas, genéticas e de valores nutricionais de frutos. 1998.88f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Lavras.
Lavras, 1998.

32

Você também pode gostar