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Por Caius Brandão

Filosofia Contemporânea Analítica


Prof. Marcos Rosa
Faculdade de Filosofia
Universidade Federal de Goiás

05/11/09

FICHAMENTO

DA DENOTAÇÂO

(1) RUSSEL, B., Os pensadores. Ensaios escolhidos. Da denotação. Abril Cultural,


1978. (p 03 - 14)

(2) Uma expressão é considerada denotativa em razão de sua forma, como nos três
casos seguintes: a) aquela que não denota nada; b) aquela que denota um objeto
definido; e c) aquela que denota algo de forma ambígua. O problema que Russel se
propõe a resolver através de sua teoria é acerca da interpretação de tais expressões
denotativas.

(3) Além da lógica e da matemática, o objeto da denotação tem grande importância para
a teoria do conhecimento. Certos objetos são objetos definidos, acerca dos quais
podemos afirmar um número de proposições, mas são conhecidos por nós somente via
descrição, ou seja, não se pode ter deles um “conhecimento de trato” (p. 03) imediato.
Conhecimento de trato é o conhecimento daquilo que podemos ter uma representação
mental – tais como os objetos da percepção ou “objetos de caráter lógico abstrato”. Em
contrapartida, temos o “conhecimento acerca de”, o qual se refere ao conhecimento
daquilo que somente alcançamos via expressões denotativas. O pensamento deve se dar
a partir do conhecimento de trato, mesmo que se possa pensar com sucesso acerca
daquilo do qual não se tem conhecimento de trato.

(4) Em primeiro lugar, Russel explicita brevemente a sua teoria. Em seguida, expõe e
critica as teorias de Frege e Meinong. Por fim, ele defende e avalia as consequências
filosóficas de sua teoria.
(5) Para Russel, a noção de variável é fundamental. Ele utiliza a função proposicional
C(x) para indicar que a variável (x) é “essencialmente e totalmente indeterminada”. (p.
04) Assim, ele considera C(x) como sendo uma proposição “sempre” ou “algumas
vezes” verdadeira. Assim, Russel interpreta as expressões denotativas mais primitivas
(tudo, nada e algo) da seguinte forma: “C(tudo) significa “C(x) é sempre verdadeira”;
C(nada) significa “‘C(x) é falsa’ é sempre verdadeira”; e C(algo) significa “É falso que
‘C(x) é falsa’ é sempre verdadeira”. Assim, Russell chega ao cerne de sua teoria, a
saber: “as expressões denotativas nunca tem qualquer significado em si próprias, mas
cada proposição, em cuja expressão verbal elas ocorrem, tem um significado.” (p. 04)

(6) Sob esta perspectiva, primeiro, Russell interpreta proposições que cotem artigos
indefinidos (“eu encontrei um homem”), em seguida, analisa proposições que contem
artigos definidos (“o pai de Carlos II foi executado”). O método analítico proposto por
ele efetua uma redução das proposições, onde existe uma expressão denotativa, em
“formas” que eliminam tais expressões.

(6) Russell apresenta, então, as dificuldades que ele identifica naquelas teorias que
consideram “as expressões denotativas como representativas genuínas das proposições
em cujas expressões verbais elas ocorrem.” (p. 06) Para Meinong, por exemplo,
qualquer expressão denotativa gramaticalmente correta corresponde a um objeto
genuíno, mesmo que tal objeto não subsista. O problema com essa teoria, para Russell,
é que tais objetos poderiam ferir a lei de contradição (ex.: “o quadrado-redondo” é
redondo, e também não é redondo”). Logo, Russel busca elaborar uma teoria que evite
este resultado.

(7) Frege, por outro lado, não infringe a lei de contradição ao fazer a distinção, numa
expressão denotativa, entre significado e denotação. Tais expressões podem ser
complexas em significados, enquanto que sua denotação expressa “um ponto
determinado, que é simples” (p. 06). Assim, fica evidenciada a vantagem de se
explicitar a “identidade de denotação com uma diferença de significado.” (p. 06) Mas
Russell identifica um problema com essa perspectiva, particularmente nos casos em que
“a denotação parece estar ausente”.
(8) Se de antemão a denotação parece estar ausente, ou se provem uma denotação, ou se
abandona por completo o paradigma de que “a denotação é o que concerne nas
proposições que contem expressões denotativas”. (p. 07) Russel defende essa última
posição como sendo a mais válida.

(9) Para justificar sua teoria das descrições, Russel expõe três enigmas a serem
resolvidos por ela, a saber: a) “Se a é idêntico a b, o que quer que seja verdadeiro em
um é verdadeiro no outro, e até mesmo pode-se substituir um pelo outro em qualquer
proposição sem alteração da verdade ou falsidade dessa proposição;” b) “Pela lei de
exclusão dos meios, ou “A é B” ou “A não é B”. Mas isso significaria dizer que ou “o
atual rei da França é careca” ou “o atual rei da França não é careca” é verdadeira,
quando, na realidade, para Russel, ambas as sentenças são falsas; e c) Enquanto que
parece ser sempre contraditório negar o ser de alguma coisa, admiti-lo pode também
levar à contradição (como foi visto na teoria de Meinong). Aqui, Russel re-coloca a
questão do não-ser no Sofista, de Platão: “mas como pode uma não-entidade ser o
sujeito de uma proposição?”

(10) Usamos aspas quando queremos nos referir ao significado de uma expressão
denotativa, enquanto oposto à sua denotação. Assim, ao analisarmos uma expressão
denotativa, devemos nos ater à relação entre significado e denotação. Nas palavras de
Russell: “Ora, a relação entre significado e denotação tal com ela se dá na expressão não
é meramente linguística: deve haver uma relação lógica envolvida, que expressamos
dizendo que o significado denota a denotação.” (p. 09)

(11) Russell procura explicitar a forma lógica encoberta pela forma gramatical, ou seja,
o descompasso entre a gramática e a lógica (o sujeito gramatical nem sempre é o sujeito
lógico, como em “o atual rei da França”) que, de acordo com a filosofia analítica, é a
origem dos problemas filosóficos.

(12) Quando há apenas definição por meio de expressões denotativas daquilo que não se
tem um conhecimento de trato, “as proposições, nas quais essa coisa é introduzida por
meio de uma expressão denotativa, não contem realmente essa coisa como um
constituinte, mas contem, ao contrário, os constituintes expressos por várias palavras da
expressão denotativa.” (p. 14) Consequentemente, os constituintes são de fato entidades
das quais temos conhecimento de trato imediato.

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