Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ATUALIDADES BIOLÓGICAS
NÚMERO 10 OUTUBRO DE 1998 EDITORA MODERNA
N
as últimas décadas, em parte devido
ck Photos
à epidemia mundial de aids, o mun-
do científico passou a dedicar espe-
Cadeia pesada
Antígenos
2 ATUALIDADES BIOLÓGICAS
ATIVAÇÃO DE
NEUTRALIZAÇÃO AGLUTINAÇÃO PRECIPITAÇÃO COMPLEMENTO
Proteína de
complemento
Parede
bacteriana
Toxina Antígeno
Vírus Bactéria solúvel
Bactéria
Ruptura
celular
Bactéria
Poro formado
Vaso Neutrófilo pelas proteínas
sangüíneo de complemento
Ação dos anticorpos sobre diferentes tipos de antígeno. Na neutralização, vírus e toxinas são inativados pela
associação com os anticorpos; na aglutinação, os anticorpos causam agrupamento dos antígenos; na precipita-
ção, os anticorpos combinam-se com antígenos solúveis, tornando-os insolúveis. Todos esses processos facilitam
a ação de células fagocitárias, que destroem os antígenos. Na ativação de complemento os anticorpos, depois de
se ligarem aos antígenos, combinam-se a determinadas proteínas do plasma (complemento), as quais formam
poros na célula invasora, levando à sua ruptura (lise) e morte. As proteínas de complemento também estimulam
glóbulos brancos do tipo basófilo e plaquetas a liberar histamina, responsável pelo processo inflamatório.
cia de aminoácidos varia de anticorpo para anticorpo. As bulina, o grupo de proteínas ao qual pertencem os anti-
cadeias pesadas, por sua vez, apresentam uma região corpos, e a letra maiúscula (A, D, E, G, M) refere-se ao
constante, cuja seqüência de aminoácidos é idêntica nos tipo de cadeia pesada presente.
anticorpos de uma mesma classe, e uma região variável,
CARACTERÍSTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS
típica de cada anticorpo.
CLASSE % no Presente Funções
Uma molécula de anticorpo lembra uma letra ipsilon sangue em conhecidas
(Y). Cada “braço” desse Y é constituído por uma cadeia Secreções (lágri-
leve associada a parte de uma cadeia pesada. A “perna” IgA 10-15 mas, saliva, muco), Proteção das superfíci-
sangue e linfa es mucosas
do Y é constituída pela associação das partes restantes
das duas cadeias pesadas. Possivelmente o primei-
IgD 0,2 Superfície dos linfó- ro a ser produzido na
A ponta de cada braço do anticorpo é constituída pela citos B, sangue e lin- resposta imunitária
fa
associação das regiões variáveis de uma cadeia leve e de
uma cadeia pesada. Essa associação origina um encaixe Par ticipa das reações
IgE 0,002 Sangue alérgicas; atua contra pro-
molecular pelo qual o anticorpo reconhece o antígeno. A tozoários parasitas
combinação aleatória entre as regiões variáveis de ca- Facilita a fagocitose, neu-
deias leves e pesadas define a especificidade dos anti- IgG 80 Sangue, linfa e in- traliza toxinas, protege o
testino feto (único anticorpo que
corpos e explica sua enorme diversidade. atravessa a placenta)
Há cinco classes principais de anticorpos, caracteriza- Superfície dos lin- Ativo contra microorganis-
IgM mos; aglutina antígenos; o
das pelo tipo de cadeia pesada e denominadas: IgA, IgD, 5-10 fócitos B, sangue e primeiro a ser produzido
linfa na resposta imunitária
IgE, IgG, IgM. A sigla Ig é a abreviatura de imunoglo-
ATUALIDADES BIOLÓGICAS 3
Células do sistema imunitário Linfócitos T
Os linfócitos T são produzidos na medula óssea, de
Macrófagos onde migram para o timo (daí a letra “T”), local em que
As primeiras células a entrar em ação na resposta imu- ocorre seu amadurecimento. Durante esse processo, os
nitária são geralmente os macrófagos, que fagocitam cé- linfócitos T produzem determinadas proteínas e as expõem
lulas e outros materiais estranhos ao corpo. O material na face externa da membrana plasmática. A função dessas
fagocitado pelo macrófago é digerido, e seus pedaços, proteínas, denominadas receptores da célula T, é reco-
contendo determinantes dos antígenos, ligam-se a uma nhecer antígenos “apresentados” por outras células.
proteína chamada MHC (do inglês, major histocompati- Cada linfócito T possui um único tipo de receptor e,
bility complex, complexo principal de histocompatibili- portanto, reconhece apenas uma categoria de antígeno.
dade). O conjunto antígeno-MHC migra então para a face Entretanto, há milhares e milhares de tipos de recepto-
externa da membrana plasmática do macrófago, ficando res, de modo que há linfócitos capazes de reconhecer as
exposto em sua superfície. Esse processo é conhecido por mais diversas categorias de antígeno.
apresentação de antígenos. Os linfócitos T diferenciam-se em dois tipos princi-
Os pedaços de antígenos “apresentados” pelos macró- pais: linfócitos T auxiliadores e linfócitos T matado-
fagos são reconhecidos por uma classe especial de células res. Esses linfócitos diferem, entre outras coisas, por
sangüíneas, os linfócitos T auxiliadores. Esse reconheci- uma classe de proteína que possuem na membrana plas-
mento é fundamental para estimular o sistema imunitário e mática: os auxiliadores possuem a proteína CD4, e os
desencadear os mecanismos de defesa específicos. matadores, a proteína CD8. Por isso, linfócitos auxilia-
dores são também chamados células CD4, e os linfóci-
Macrófago
tos matadores, células CD8.
Os linfócitos auxiliadores (CD4) desempenham papel
Bactéria
central na resposta imunitária: eles estimulam as outras cé-
lulas do sistema de defesa a combater os invasores. Ao re-
Vacúolo conhecer, por meio de seus receptores de membrana, um
digestivo antígeno exposto na superfície de um macrófago, o linfóci-
Antígeno
to CD4 une-se a ele. Essa união permite ao macrófago lan-
Moléculas çar uma substância conhecida como interleucina direta-
de MHC mente sobre o linfócito CD4. A interleucina induz o linfó-
ligando-se a cito a se multiplicar e a secretar outros tipos de interleucina,
antígenos
que estimularão outras células do sistema imunitário.
Quando os linfócitos CD4 são atacados e mortos pelo
Complexo
MHC- vírus HIV, causador da aids, o sistema imunitário torna-
antígeno se incapaz de combater eficientemente mesmo as infec-
Molécula de
ções mais corriqueiras.
histocompatibi- Os linfócitos matadores (CD8) também possuem re-
lidade (MHC) ceptores de membrana capazes de reconhecer complexos
Antígeno MHC-antígenos, presentes na superfície de células infec-
tadas por vírus ou de células estranhas ao organismo. De-
Liberação de
interleucina pois de se ligar ao complexo MHC-antígeno, o linfócito
matador libera moléculas de uma proteína chamada per-
forina, que formam um poro na membrana plasmática
das células infectadas, causando sua lise (destruição).
Receptor do Linfócitos B
linfócito T
Os linfócitos B são produzidos na medula óssea, onde
Linfócito T amadurecem. Ao sair para a corrente sangüínea, eles já
auxiliador apresentam anticorpos expostos em sua membrana plas-
(célula CD4)
mática. Cada linfócito B produz um único tipo de anti-
ESTIMULAÇÃO corpo, mas o organismo é capaz de fabricar milhares e
Receptores
de antígenos DE OUTROS milhares de anticorpos diferentes.
LINFÓCITOS
Os linfócitos B que deixam a medula óssea e ingres-
sam na corrente sangüínea não se multiplicam, a não ser
Apresentação de antígenos. Depois de fagocitar um que ocorram dois eventos simultâneos: a) que os anti-
microorganismo invasor, os macrófagos “apresentam” corpos presos à sua membrana liguem-se ao antígeno cor-
amostras de seus antígenos aos linfócitos T auxilia- respondente; b) que um linfócito T auxiliador, ativado
dores. Estes, por sua vez, alertam outros tipos de lin-
pelo reconhecimento desse mesmo antígeno, despeje so-
fócito, que dão combate aos invasores do corpo.
bre ele interleucinas.
4 ATUALIDADES BIOLÓGICAS
MACRÓFAGO
“apresentando”
antígenos
Complexo
MHC-antígeno Receptores de
antígeno
LINFÓCITO T
AUXILIADOR Estimulação pela
(CD4) interleucina
Estimulação pela
interleucina
LINFÓCITO T LINFÓCITO B
MATADOR
(CD8)
União pelo
antígeno
Anticorpo
Multiplicação e Multiplicação e
desenvolvimento desenvolvimento
LINFÓCITO T LINFÓCITO B
MATADOR MADURO
em ação (PLASMÓCITO)
Liberação de
perforinas (causa
lise celular)
Produção e
liberação de
anticorpos
ATUALIDADES BIOLÓGICAS 5
Dentre os milhões de tipos de linfócito B do organis- do do corpo, o número de linfócitos especializados em
mo, cada qual com seu anticorpo específico preso à mem- combatê-lo também diminui. Entretanto, uma pequena
brana, apenas aqueles que reconhecem um antígeno são população desses linfócitos permanece no organismo pelo
estimulados. Quando isso ocorre, o linfócito B se multi- resto da vida da pessoa, constituindo o que se denomina
plica, originando uma linhagem de células (clone) capaz memória imunitária. No caso de o mesmo antígeno in-
de produzir anticorpos específicos contra o antígeno que vadir novamente o organismo, as células de memória,
induziu sua multiplicação. É, portanto, a presença do como são chamadas os linfócitos B remanescentes de
antígeno que seleciona o tipo de linfócito B que irá se uma resposta imunitária passada, são estimuladas e pas-
multiplicar. Esse fenômeno é chamado seleção clonal. sam a se reproduzir rapidamente. Surge então, em curto
Os anticorpos produzidos por um linfócito B madu- intervalo de tempo, um numeroso exército de células
ro, conhecido como plasmócito, são liberados em gran- produtoras de anticorpos, capazes de combater rápida e
de quantidade no sangue. A multiplicação desses linfó- eficientemente o invasor. Isso explica porque a produção
citos e conseqüente produção de anticorpos continua en- de anticorpos em um segundo encontro com o antígeno
quanto houver antígenos capazes de ativá-los. À medida (resposta secundária) é muito mais rápida que na res-
que um determinado tipo de antígeno vai sendo elimina- posta primária.
Linfócito B
estimulado Seleção clonal e memória imunitária. Entre
Antígeno os diferentes tipos de linfócito B que o orga-
nismo produz, apenas os que se ligam a um
antígeno são estimulados a se diferenciar e
se multiplicar, originando um clone de célu-
las. Algumas delas diferenciam-se em célu-
Estimulação las de memória imunitária. A maioria origina
pelo antígeno plasmócitos, que produzem grande quantida-
de de anticorpos. Abaixo, à esquerda, gráfico
que representa a resposta secundária, de-
Anticorpos sencadeada pelas células de memória.
Linfócitos B
com diferentes
anticorpos Diferenciação e
multiplicação
celular
Células de Células
memória produtoras de
imunitária anticorpos
Primeira Segunda
exposição ao exposição ao
antígeno antígeno
Plasmócitos produzindo
anticorpos
Tempo (dias)
6 ATUALIDADES BIOLÓGICAS
RESUMO: COMPONENTES E ATUAÇÃO DO SISTEMA IMUNITÁRIO
ANTÍGENOS ANTÍGENOS
presentes em vírus, bactérias, “apresentados” na superfície de cé-
protozoários, vermes etc. Substân- lulas infectadas por vírus. Antígenos
cias estranhas (toxinas etc.). de células transplantadas.
MACRÓFAGO
Fagocita e “apresen-
ta” antígenos a linfó-
citos CD4. Produz in-
terleucinas que ati-
vam linfócitos CD4.
Interleucina-1
LINFÓCITO B
Identifica um antíge-
no específico e liga- LINFÓCITO T
se a ele. AUXILIADOR (CD4)
Interleucina-2 Produz interleucinas que ati-
vam a diferenciação de linfóci-
tos B e de linfócitos T citotóxi-
cos (CD8).
LINFÓCITO T
Interleucina-2
CITOTÓXICO (CD8)
Produz perforinas que
causam lise de células
infectadas por vírus ou de
células transplantadas.
CÉLULAS DE MEMÓRIA
Surgem da diferenciação de
linfócitos B e T. Perduram no Perforinas
Lise da célu-
organismo e podem responder la infectada.
rapidamente a um segundo
PLASMÓCITO contato com o antígeno (res-
Surge da diferencia- posta secundária). Anticorpo
ção de um linfócito B.
Produz anticorpos
contra o antígeno.
Anticorpos
BIBLIOGRAFIA
LODISH, H. et al. Molecular cell Biology. 3ª. ed. New York, Scientific American Books, 1995.
SCIENTIFIC AMERICAN. New York, vol. 269, n. 3, set. 1993.
--. vol. 279, n. 1, jul. 1998.
TORTORA, G. J. et al. Microbiology: an introduction. 5ª. ed. California, The Benjamin / Cummings Publ. Co., Inc., 1995.
ATUALIDADES BIOLÓGICAS 7