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Acção Executiva
Plano
Delimitação.
Existem, no esquema do direito processual civil, duas espécies fundamentais de acções:
a acção declarativa e a acção executiva (artigo 4.º n.º 1 do Código de Processo Civil).
Na acção de condenação, vai-se mais longe: sem prejuízo de o tribunal dever ainda
emitir aquele juízo declarativo, dele se pretende também (e fundamentalmente) que, em
sua consequência, condene o réu na prestação duma coisa ou dum facto.
Na acção constitutiva, o juízo do tribunal já não é limitado, como nas duas subespécies
anteriores, pela situação se direito ou de facto pré-existente. Pela sentença, o juiz,
perante o exercício judicial dum direito potestativo, cria novas situações jurídicas entre
as partes, constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres que,
embora fundados em situações jurídicas anteriores, só nascem com a própria sentença.
Tipos.
Resulta do artigo 45.º n.º 2 do Código de Processo Civil, a existência de três tios de
acção executiva: para pagamento de quantia certa, para entrega de coisa certa, para
prestação de facto.
Para tanto, apreendidos pelo tribunal os bens deste que forem considerados suficientes
para cobrir a importância da dívida e das custas, tem lugar, normalmente, a venda
desses bens a fim de, com o preço obtido, se proceder ao pagamento. O exequente
obtém assim o mesmo resultado que com a realização da prestação que, segundo o
título executivo, lhe é devida.
Pode, porém, acontecer que a coisa não seja encontrada e, neste caso, o exequente
procederá à liquidação do seu valor e do prejuízo resultante da falta de entrega,
penhorando-se e vendendo-se bens do executado para pagamento de quantia liquidada
(artigo 931.º Código Processo Civil).
Na acção executiva para prestação de facto, se este for fungível, o exequente poderá
requerer que ele seja prestado por outrem à custa do devedor (artigo 828.º Código
Civil), sendo então apreendidos e vendidos os bens deste que forem necessários ao
pagamento do custo da prestação.
Função.
1. – A acção executiva pressupõe sempre o dever de realização duma prestação. Esta
prestação constituirá normalmente o conteúdo duma relação jurídica obrigacional,
primária ou de indemnização.
2. – Diversamente da acção declarativa, a acção executiva não pode ter lugar perante a
simples previsão da violação dum direito. Através dela, o exequente visa reparar um
direito violado (artigo 4.º n.º 3 Código Processo Civil).
O Acertamento e a Execução.
A declaração ou acertamento (de um direito ou de outra situação jurídica; dum facto),
que é o ponto de partida da acção declarativa, constitui, n acção executiva, o ponto de
partida. Esta constatação leva a concluir que o processo executivo, embora sempre
estruturalmente autónomo, se coordena com o processo declarativo no ponto de vista
funcional, sempre que por ele é precedido; nem sempre, porém, assim sucede e, quando
o título executivo não é uma sentença, cessa esta coordenação funcional dos dois tipos
de processo.
Mas, em qualquer caso, no processo executivo enquanto tal, que visa a satisfação do
direito duma das partes contra a outra, os princípios da igualdade das armas (artigo 3.º -
A do Código de Processo Civil) e do contraditório (artigo 3.º n.º 3 e 4) não têm o
mesmo alcance que no processo declarativo.
O princípio do contraditório, que não se confunde com o direito de defesa (artigo 3.º n.º
1 Código Processo Civil), implica não só que o mesmo jogo de ataque e resposta em
que consistem a acção e a defesa deve ser observado ao longo de todo o processo, de tal
modo que qualquer posição tomada por uma parte deve ser comunicada à contraparte
para que esta possa responder, mas também que às partes deve ser fornecida, ao longo
do processo, a possibilidade de influírem em todos os elementos que se encontrem em
efectiva ligação com o objecto da causa e que em qualquer fase do processo se
pressintam como potencialmente relevantes para a decisão.
Pressupostos específicos.
Para que possa ter lugar a realização coactiva duma prestação devida (ou do seu
equivalente), há que satisfazer dois tipos de condição, dos quais depende a
exequibilidade do direito à prestação:
Pressupostos gerais.
Além dos pressupostos específicos da acção executiva, têm nela de se verificar os
pressupostos gerais do processo civil: a competência do tribunal, a personalidade e a
capacidade judiciária das partes, a sua representação ou assistência quando incapazes, o
patrocínio judiciário quando obrigatório, a legitimidade das partes.
Porque, relativamente aos restantes, têm aplicação, sem adaptações, as normas gerais
conhecidas do processo declarativo, limitar-nos-emos a analisar aqueles que apresentam
especialidades na acção executiva, ou sejam:
- A competência do tribunal.
- A legitimidade das partes.
- O patrocínio judiciário.
- Os pressupostos no caso de pluralidade de sujeitos da acção.
- Os pressupostos no caso de cumulação de pedidos.
O TÍTULO EXCUTIVO
Noção.
Vimos como o acertamento é o ponto de partida da acção executiva, pois a realização
coactiva da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos (subjectivos e
objectivos) da relação jurídica de que ela é objecto. O título executivo contém esse
acertamento; daí que se diga que constitui a base da execução, por ele se determinando
«o fim e os limites da acção executiva» (artigo 45.º n.º 1 do Código de Processo Civil),
isto é, o tipo de acção e o seu objecto, assim como a legitimidade activa e passiva para
ela (artigo 55.º n.º 1), e, sem prejuízo de poder ter que ser complementado (artigos 803.º
a 809.º), em face dele se verificando se a obrigação é certa, líquida e exigível (artigo
802.º).
Espécies.
O artigo 46.º enumera, nas suas alíneas, quatro espécies de título executivo: a sentença
condenatória o documento exarado ou autêntico por notário, o escrito particular
assinado pelo devedor, o título executivo por força de disposição especial. Embora não
corresponda a um critério doutrinário rigoroso (bastará atender ao carácter residual da
alínea d).
Sentença Condenatória.
Conceito.
Ao utilizar a expressão sentença condenatória, quis o legislador de 1962 (embora por
fórmula não muito feliz) demarcar o conceito do de sentença de condenação, expressão
utilizada no CPC de 1939 e considerada susceptível de ser tomada como equivalente a
sentença proferida em acção declarativa de condenação.
È que, em qualquer tipo de acção (não apenas de condenação, mas também de mera
apreciação, constitutiva ou até de execução), tem, em princípio, lugar a condenação em
custas e a decisão que a profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança
coerciva. O mesmo se diga quanto à condenação da parte em multa ou em indemnização
como litigante de má fé.
O trânsito em julgado.
Para que a sentença seja exequível, é necessário que tenha transitado em julgado, isto é,
que seja já insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação (artigo 677.º), salvo se
contra ela tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (artigo 47.º n.º
1).
Assim, quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão proferida terá
efeito:
- De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,
absolvendo o réu (executado);
- De a modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo
uma condenação parcial do réu.
Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que, por sua vez, seja objecto de
recurso para um tribunal superior, a execução:
- Suspender-se-á ou modificar-se-á, consoante a decisão da 2.ª instância for
total ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso for também
atribuído efeito meramente devolutivo.
- Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com
a decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito
suspensivo, o qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia
proferida (artigo 47.º n.º 2).
Recurso suspensivo
** A execução prossegue nos termos da decisão da 1.ª
instância.
Recurso devolutivo
Suspende-se a execução.
A sentença homologatória.
Na categoria das sentenças condenatórias, tal como ela foi definida, cabem as sentenças
homologatórias, das quais são exemplo a sentença homologatória de transacção ou
confissão do pedido (artigo 300.º n.º 3) e a sentença homologatória de partilha (artigo
1382.º n.º 1).
Em confronto com as sentenças em que o juiz decide o litígio entre as partes, mediante a
aplicação do direito (substantivo) ao caso que lhe é presente, as sentenças
homologatórias caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a composição dos
interesses em litígio pelas próprias partes.
Por esta razão, têm tais sentenças sido, por vezes, classificadas como títulos executivos
parajudiciais ou títulos judiciais impróprios, em oposição às sentenças propriamente
ditas (títulos executivos judiciais, ou judiciais próprios).
Á distinção destes dois tipos de título executivo corresponderiam, pelo menos, ainda
segundo ANSELMO DE CASTRO, duas especialidades de regime:
sentença judicial propriamente dita, pois nela se pode invocar qualquer causa
de nulidade ou anulabilidade desses actos (artigo 815.º n.º 2).
- Por outro lado, a sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro
não teria de ser objecto de revisão e confirmação por um tribunal português,
devendo ser equiparado aos títulos estrangeiros extrajudiciais, que delas não
carecem.
Conceito.
Os documentos exarados ou autenticados por notário são, tal como os documentos a que
se refere a alínea c), títulos extrajudiciais, visto não se produzirem em juízo, ou
negociais, porque emergentes dum negócio jurídico celebrado extrajudicialmente.
São exarados por notário (documentos autênticos), entre outros, o testamento público e
a escritura pública.
São documentos autenticados por notário aqueles que, por ele não exarados, lhe são
posteriormente levados para que, na presença das partes, certifique a conformidade da
sua vontade com o respectivo conteúdo.
Evidentemente que o testamento, acto de disposição de bens por morte, não pode
constituir título executivo enquanto nele radica a transmissão dos bens do testador.
Mas já o será, por nos situarmos então no campo das obrigações, quando o testador nele
confessa uma dívida sua ou constitui uma dívida que impõe a um sucessor.
Por isso, a aceitação tem de ser alegada e, pelo menos no segundo caso, provada pelo
exequente (artigos 56.º n.º 1 e 804.º n.º 1, respectivamente), mas o título executivo é
sempre o testamento e não, contrariamente ao que, para o segundo caso já se defendeu,
o acto de aceitação da herança.
Documento recognitivo.
Os documentos autênticos e autenticados não constituem título executivo apenas
quando formalizem o acto de constituição duma obrigação.
Também o são quando deles conste o reconhecimento, pelo devedor, duma obrigação
pré-existente: confissão do acto (ou mero facto) que a constituiu (artigos 352.º; 358.º n.º
2 e 364.º todos do Código Civil); reconhecimento de dívida (artigo 458.º Código Civil).
É o que hoje consta expressamente do artigo 46.ºalínea b) e anteriormente resultava do
(suprimido) artigo 50.º n.º 1 (prova da existência de uma obrigação).
A prova da obrigação tanto pode ser feita através do documento original como através
duma sua certidão ou fotocópia autêntica (artigos 383.º, 384.º, 386.ºº e 387.º todos do
Código Civil).
No primeiro caso, exige-se a prova de que «alguma prestação foi realizada para a
conclusão do negócio»; no segundo, a de que «alguma obrigação foi constituída na
sequência da previsão das partes».
Quanto á segunda previsão, procura abranger casos em que as partes não se tenham
vinculado, bilateral ou unilateralmente, à celebração dum negócio jurídico, mas se
tenham limitado a prever, em documento autêntico ou autenticado, a possibilidade dessa
celebração.
Também dentro dos contratos de prestações futuras temos a promessa de contrato real.
Requisitos.
O artigo 46.º, na sua alínea c), confere exequibilidade aos documentos particulares,
assinados pelo devedor, constitutivos ou recognitivos de obrigações.
Requisito de fundo.
O primeiro requisito impede a exequibilidade dos documentos particulares dos quais
conste a obrigação de pagamento de quantia ilíquida não liquidável por simples cálculo
aritmético ou de entrega de coisa imóvel.
Requisito de forma.
O reconhecimento, por notário, da assinatura do devedor não constitui, no código
revisto, requisito de exequibilidade do documento particular, embora conserve utilidade
para obstar ao pedido de suspensão da acção executiva pelo executado que, em
embargos, alegue a não genuinidade da assinatura.
Quando aos títulos de crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação, tal
como quanto a qualquer outro documento particular nas mesmas condições, há que
distinguir consoante a obrigação a que se reportem emerja ou não dum negócio jurídico
formal. No primeiro caso, uma vez que a causa do negócio jurídico é um elemento
essencial deste, o documento não poderá constituir título executivo (artigos 221.º n.º 1
CC e 223.º n.º 1 CC).
Títulos administrativos.
Outros exemplos de títulos executivos especiais: títulos de cobrança de contribuições,
impostos, taxas e outros créditos do Estado, etc.
Títulos particulares.
Também documentos particulares podem constituir título executivo por disposição
especial de lei.
No caso dos títulos extrajudiciais ou judiciais impróprios tudo leva a querer que sejam
documentos.
Os mesmos têm natureza documental e é o próprio documento que constitui prova legal.
No plano da validade formal, é óbvio que, quando a lei substantiva exija certo tipo de
documento para a sua constituição ou prova, não se poderá admitir execução fundada
em documento de menor valor probatório para o efeito de cumprimento de obrigações
correspondentes ao tipo de negócio ou acto em causa. Não pode, por exemplo, ser
admitida execução para entrega de um andar com base em documento particular de
compra e venda.
Do mesmo modo, o juiz não pode admitir a execução pretendida se tiver sido
convencionada pelas partes certa forma voluntária e dado conhecimento ao tribunal
desta estipulação, que não tenha sido respeitada no acto de contracção da obrigação
exequenda.
Não constituindo o título executivo um acto ou facto jurídico, esta construção não se
harmoniza com o conceito de causa de pedir.
Só não é assim no caso de execução de sentença, visto que o processo corre então por
apenso àquele onde a decisão foi proferida (artigo 90.º n.º 3), constando o título do
processo principal.
Mas como proceder se, fora do caso excepcional referido, der entrada no tribunal um
requerimento executivo desacompanhado do título que lhe serve de base ou
acompanhado dum título que nada tem a ver com a execução instaurada?
Ela resulta hoje claramente do artigo 812.º. Só quando seja manifesta a falta ou
insuficiência do título tem lugar o indeferimento; não o sendo, o juiz deve convidar o
exequente a suprir a irregularidade, juntando o título em falta ou corrigindo o
requerimento inicial.
Se o juiz mandar citar o executado, quando devia indeferir ou mandar aperfeiçoar, pode
o executado deduzir oposição, nos termos do artigo 813.º n.º 1.
Introdução.
Como verificamos ao tratar de articulação entre o título e a obrigação exequenda, a
existência desta não é pressuposto da execução: presumida pelo título executivo, dela
não há necessidade de fazer prova.
Vimos também dentro de que limites o juiz pode, em face do título, julgar
oficiosamente da validade formal e substancial, bem como da subsistência, da obrigação
exequenda. Ao exequente mais não compete, relativamente à existência desta obrigação,
do que exibir em tribunal o título (executivo) pelo qual ela é constituída ou reconhecida.
Vimos por outro lado, que a acção executiva pressupõe o incumprimento da obrigação.
Ora o incumprimento não resulta do próprio título quando a prestação é, perante este,
incerta, inexigível ou, em certos casos, ilíquida. Há então que a tornar certa, exigível ou
líquida, sem o que a execução não pode prosseguir (artigo 802.º).
A certeza.
É certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente determinada (ainda
que esteja por liquidar ou por individualizar).
Não é certa aquela em que a determinação (ou escolha) da prestação, entre uma
pluralidade, está por fazer (artigo 400.º Código Civil).
Tal acontece nos casos de obrigação alternativa (em que o devedor está obrigado a
efectuar uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a efectuar: artigo 543.º
Código Civil) e nos de obrigação genérica de objecto qualitativamente indeterminado
(o devedor está obrigado a prestar determinada quantidade dum género que contém duas
ou mais espécies diferentes: artigo 539.º Código Civil).
A exigibilidade.
A prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou o seu vencimento
depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma geral supletiva do artigo
777 n.º 1 do Código Civil, de simples interpelação ao devedor, por parte do credor.
Não é exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento, este não está dependente de
mera interpelação. É este o caso quando:
- Tratando-se duma obrigação de prazo certo, este ainda não decorreu (artigo
779.º Código Civil).
- O prazo é incerto e a fixar pelo tribunal (artigo 777.º n.º 2 Código Civil).
- A constituição da obrigação foi sujeita a condição suspensiva, que ainda não
se verificou (artigo 270.º Código Civil).
- Em caso de sinalagma, o credor não satisfaz a contraprestação (artigo 428.º
Código Civil).
A liquidez.
No seu conceito rigoroso de direito das obrigações, é obrigação ilíquida aquela que tem
por objecto uma prestação cujo quantitativo não está ainda apurado.
Se a escolha pertencer ao credor e este não a tiver ainda feito, fá-la-á no requerimento
inicial da execução. Assim, quando este der entrada no tribunal (primeiro acto do
processo executivo), a obrigação é já certa. – Artigo 802.º.
Se o prazo de escolha estiver fixado no título executivo, basta, sem prejuízo de o credor
poder preferir a notificação judicial avulsa do devedor (artigo 261.º), que este seja
convidado, no acto da citação, a escolher a prestação. Neste caso não é notificação
prévia.
Sendo vários os devedores e não sendo possível formar maioria quanto à escolha, cabe
esta ao tribunal, a requerimento do exequente e nos termos aplicáveis do artigo 1429.º.
(artigo 803.º n.º 3).
Se a escolha couber a terceiro, é este notificado para a efectuar, na falta de escolha por
terceiro (artigo 803.º n.º 3), a escolha cabe também a tribunal.
Obrigações a prazo.
Se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido este a execução é possível, pois até ao
dia do vencimento a prestação é inexigível.
No caso de obrigação dependente de prazo a fixar pelo tribunal, terá o credor, na fase
liminar da acção executiva, de promover a fixação judicial do prazo, nos termos
aplicáveis dos artigos 1456.º e 1457.º.
Daí que o artigo 804.º n.º 1 exija ao credor exequente a prova documental da verificação
da condição, para que a execução se torne possível.
Obrigações sinalagmáticas.
Estando o credor obrigado para com o devedor a uma contraprestação a efectuar
simultaneamente, para o que basta não se terem estipulado diferentes prazos de
cumprimento (artigo 428.º Código Civil), incumbe-lhe, independentemente da
invocação, pelo devedor, da excepção de não cumprimento, provar documentalmente
que a efectuou (artigo 804.º n.º 1), sob pena de não poder promover a execução.
Regime: A Liquidez.
Os meios de liquidação.
Como já foi dito, a liquidação (conversão da obrigação em líquida) tem também lugar
na fase liminar do processo executivo.
....
Liquidação por simples cálculo aritmético.
Quando a liquidação dependa de simples cálculo aritmético, o exequente deverá fixar o
seu quantitativo no requerimento inicial da execução – artigo 805.º n.º 1.
Incidente de Liquidação
2 Tipos de liquidação.
(...)
- Quando o título for uma sentença -
Liquidação por árbitros – (artigos 805.º n.º 5 e artigo 380.º-A). É sempre feita
previamente á apresentação do título executivo.
A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL.
Competência em razão da Matéria
Tal como na acção declarativa, a competência dos tribunais judiciais para a acção
executiva determina-se por um duplo critério: um critério de atribuição positiva e um
critério de competência residual.
De acordo com o primeiro critério, cabem na competência dos tribunais judiciais todas
as acções executivas baseadas na não realização duma prestação devida segundo normas
do direito privado.
- No caso de a acção em que foi proferida a decisão exequenda ter sido proposta
num tribunal de 1.ª instância, é competente para a execução o tribunal em que
a causa foi julgada em 1.ª instância (artigo 90.º n.º 1).
- No caso de a acção em que foi proferida a decisão exequenda ter sido proposta
na Relação ou no Supremo, a execução será promovida no tribunal de 1.ª
instância do domicílio do executado (artigo 91.º n.º 1).
Outros títulos.
Baseando-se a execução em título que não seja decisão dum tribunal judicial ou dum
tribunal arbitral, há que distinguir:
- Se a acção for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia real, é
competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe (artigo 94.º
n.º 2).
Hipótese1:
Edite dispõe de sentença da 1.ª vara cível do tribunal de Lisboa contra Carlos e Daniel,
na qual estes foram condenados a pagar os prejuízos pessoais resultantes de acidente
de automóvel que envolveu a camioneta destes e o automóvel da autora.
Neste, após juntar os valores que considerava necessários para a liquidação, concluiu
num pedido de 25.000.00€ contra Carlos e Daniel.
Questões:
1- Verifique se a exequente apresentou o título executivo e se a obrigação exequenda
é certa, líquida e exigível.
Artigo 47.º
A sentença é exigível – está qualitativamente determinada. Logo é certa (prestação
pecuniária).
E é líquida – 25.000.00€ - o seu apuramento depende de simples cálculo (ou nem
isso) aritmético.
A sentença é de juízo civil e a acção esta intentada na 1ª vara cível. Segundo o artigo
103º LOFT o tribunal competente é o tribunal que profere a sentença, a acção deveria ter sido
intentada quer em razão do valor, quer em razão da competência residual, quer em razão da
matéria quer em razão do território (artigo 90º/1), ou seja o tribunal do lugar em que a causa
tenha sido julgada. Estamos perante um caso de incompetência relativa nos termos do artigo
108º, na oposição à execução pode ser um fundamento cumulativo, ou ser apresentado
individualmente. Nos termos do artigo 110º/1/a, o tribunal deve ter conhecimento da
incompetência.
Poderia ser apresentada oposição à execução com base num dos fundamentos do artigo
814º, individualmente ou cumulativamente. Por exemplo poderia ser feita a oposição à
execução com base na iliquidez da obrigação e na incompetência relativa de que este caso
padece.
Hipótese 2
Em Agosto de 2002 por testamento feito na sua casa em Lisboa assinado a rogo pela
sua secretaria, Fernando que não sabia ler nem escrever, deixou vários bens ao seu único
sobrinho Gonçalo de Santarém e reconhecia ser devedor de 15000 euros a Humberto
morador em Cascais, divida essa garantida por hipoteca sobre a casa que no mesmo
testamento era deixada à sua secretaria. Falecido em Abril de 2003 aceitou depois Gonçalo
a herança em Julho desse ano. Nesse mesmo mês propõe acção executiva contra Gonçalo
exigindo os 15000 euros. O juiz rejeita o requerimento por invalidade formal do título e
ilegitimidade do Gonçalo.
Segundo o artigo 2206º Código Civil o testamento carece de ser autenticado pelo
notário o que na verdade não aconteceu, pondo em causa a validade formal do documento.
Neste sentido o testamento não constitui título executivo, uma vez que é considerado
nulo pela lei civil.
Por outro lado o artigo 2208º vem reforçar esta ideia, referindo este artigo o facto de os
que não sabem ler nem escrever, que era o caso de Fernando, não podem fazer testamento.
Hipótese 3
Pedro viticultor acordou vender o preço de 50.000 euros à sucursal do Cartaxo da
Sociedade de Vinhos Lda. _ sediada em Santarém _ 1000 pipas de produção de vinho que
viesse a ter nesse ano, ou em alternativa, 1000 pipas de aguardente do ano do ano anterior,
Pedro nada entregou até ao fim de 2002, termo limite. Em Janeiro seguinte a Sociedade de
Vinhos Lda. propôs acção executiva contra Pedro pedindo a entrega das 1000 pipas de
vinho, acompanhada por Sandra ex- mulher de Pedro, a qual vem pedir a entrega da
televisão e da aparelhagem de som que lhe couberam na partilha feita por escrito numa
folha A4 assinada por ambos.
O Litisconsórcio.
Litisconsórcio inicial.
O conceito e o regime do litisconsórcio são, na acção executiva, os mesmos que na
acção declarativa.
Há pois, litisconsórcio voluntário sempre que, podendo o pedido ser formulado apenas
por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por vários autores ou contra
vários réus.
Convirá ter presente que tanto a obrigação conjunta (artigo 27.º n.º 1) como a solidária
(artigo 517.º Código Civil) e a garantia por bens de terceiro (artigos 641.º n.º 1 Código
Civil, 667.º n.º 2 CC e 717.º CC), podem configurar casos de litisconsórcio voluntário.
Haverá por outro lado, litisconsórcio necessário quando a lei, o negócio jurídico ou a
própria natureza da prestação a efectuar imponha a intervenção de todos os interessados
na relação controvertida.
Os casos em que esta imposição surge são na acção executiva muito mais raros que na
acção declarativa, no entanto, verificam-se alguns quando:
Litisconsórcio sucessivo
Na acção declarativa, verifica-se a figura do litisconsórcio sucessivo quando, em
consequência da dedução dum incidente de intervenção de terceiro, este fique a ocupar
na acção proposta a posição de autor ou de réu, ao lado da parte primitiva.
É sempre requerida pelo exequente que vem chamar á demanda alguém que figure
no título executivo.
Ao invés, a intervenção principal provocada pelo executado não é admitida.
A Coligação.
Por força do artigo 58.º, a coligação é admitida em processo executivo quando,
cumulativamente, se verifiquem os seguintes pressupostos:
Por virtude da remissão do artigo 58.º n.º 3 para o n.ºs 2, 3, 4 do artigo 53.º,
observam-se na coligação, quanto à competência em razão de valor e do território, as
seguintes regras:
2.- O exequente pode também apresentar reclamação para o juiz nos termos do
n.º 2 do artigo 811.º -
- O vício pode ser suprido pelo exequente – artigo 269.º n.º 2.??????????
Supondo que a secretaria deixa passar o vício e o executado vê isso, pode opor-se
nos termos do artigo 814.º alínea c).
O artigo 811.º n.º 1 alínea a) remete-nos para o artigo 810.º n.º 3, que por sua vez
nos remete para o 467.º alínea e) – formular o pedido.
Pode também reclamar para o juiz. Qual o prazo que terá para fazer a reclamação?
- Neste caso como a norma do 811.º nada nos diz vamos ao artigo 153.º
relativamente á regra geral sobre o prazo, onde se estabelece um prazo de 10 dias, a
partir da notificação.
Excepções ao regime-regra.
A regra geral da legitimidade para a acção executiva carece de ser adaptada nos
casos de sucessão e de título ao portador.
Pode acontecer que a garantia real dum crédito incida sobre bens de terceiro, ou
porque já assim tenha sido constituída, ou porque, constituída embora sobre bens do
devedor, este os tenha posteriormente alienado, em data anterior à propositura da acção
executiva.
Dado não ser possível a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha a
posição de executado, a acção executiva terá, na medida em que se quiser actuar a
garantia prestada, de ser proposta contra o proprietário do bem.
Ora, o artigo 56.º nos seus números 2 e 3, estabelece que, quando os bens dados
em garantia pertençam a terceiro, o exequente que queira fazer valer a garantia na
execução tem opção entre:
Pode ainda acontecer que, sendo o devedor o proprietário pleno dos bens dados
em garantia, estes estejam na posse de terceiro. Neste caso, o credor pode livremente
escolher entre a propositura da execução só contra o devedor ou contra este e o
possuidor, visto que em qualquer dos casos a penhora dos bens é possível - artigo 56.º
n.º 4.
a) Transmissão da situação jurídica do réu, por acto entre vivos, sem subsequente
intervenção do adquirente no processo.
Hipótese 4:
Resolução:
1- Primeiro que tudo o executado tem de ser citado e só após a citação poderá
opor-se á execução. – Artigo 813.º.
Hipótese 5:
Rui, morador em Bragança, dispõe de um documento assinado por Carlos, seu
irmão, morador em Mirandela, no qual este declara dever-lhe 5.000.00€ relativos a
uma dívida de jogo.
Rui tem ainda uma sentença condenatória do tribunal da comarca de Mirandela
contra o mesmo irmão pela compra de 10 cabeças de gado no valor de 10.000.00€,
sem entrega do preço.
Em Outubro de 2003, Rui intentou naquele tribunal acção executiva contra
Carlos para pagamento das dívidas, acrescido dos juros de mora vencidos e
vincendos.
No requerimento de execução não indicou o valor da acção.
Carlos opõe-se alegando que:
a) A dívida de 5.000.00€ não é exigível além de que não exige título executivo.
Resolução:
1- É possível, de acordo com o artigo 53.º n.º 1.
Os títulos são diferentes mas ambos para pagamento de quantia certa. (o fim é
igual).
Seguidamente verifica-se a aplicação do n.º 3 do mesmo artigo 53.º.
b) O executado poderia opor-se á execução nos termos do 814.º alínea e), por
remissão do 816.º.
PARTE II
Artigo 810.º -
N.º 2 – O requerimento executivo deve constar de modelo aprovado por decreto-
lei.
Alínea b) – Exposição dos factos que fundamentam o pedido, quando estes não
constem do título executivo.
_____________________
Temos 2 situações:
Citação prévia – imediata, sem despacho liminar – artigo 812.º n.º 7 e 812.º - A
- Artigo 812.º n.º 7 alínea b) – No caso do n.º 4 do artigo 805.º, ou seja, o título
executivo não é sentença e a liquidação não depende de simples cálculo aritmético.
- Artigo 864.º n.º 2 – Nos casos em que a citação é feita simultaneamente com a
penhora.
- Artigo 864.º n.º 7 – Nos casos em que houve citação prévia e só depois de dá a
penhora. A citação é então substituída pela notificação.
Artigo 812.º-B
Em que casos não há despacho liminar nem citação prévia e se procede á penhora?
- Nos casos do artigo 812.º-A alíneas a) a d).
Artigo 812.º-B n.º 2 – Admite-se o despacho liminar mas o exequente tem medo
que o património do executado se dissipe.
O exequente tem então de alegar o receio sustentado, da perda da garantia do
património. (confrontar com o artigo 810.º n.º 3 alínea f)). Nos termos deste mesmo
artigo vou dizer ao juiz que tenho esse receio.
Efeitos da oposição.
Artigo 818.º n.º 1 – Havendo lugar à citação prévia do executado, só suspende o
processo de execução quando o opoente preste caução...
2º Princípio - bens de 3º, só podem ser objecto de execução quando tenha sido
constituído sobre eles garantia real especialmente afecta á obrigação exequenda.
Ex.: A tem uma dívida e convence B a constituir uma garantia real (ex.: hipoteca
de apartamento no Montijo) como garante da minha dívida (garantia real a favor da
dívida de A). Tem que nomear os bens à penhora, que está como garantia, senão não
oferecesse. Ofereceu como garantia a penhora. A não paga.
- Situação em que existe impugnação pauliana (é feita uma alienação a terceiros
dolosamente com o intuito de defraudar o credor, de forma a que o devedor dissipe os
seus bens e o credor não possa ir buscar os bens do devedor.
Quando este existe há obrigação de restituição dos bens ao devedor e estes
tornam-se susceptíveis de penhora.
3º Princípio - nunca poderão ser penhorados senão bens do executado seja este o
devedor principal, o devedor subsidiário (ex.: caso das responsabilidades solidárias, ex.:
um avalista) ou um 3º. O próprio 3º é considerado executado e segundo o Professor
Lebre de Freitas esta regra não tem excepções. Os bens têm que ser de um executado.
exequenda.
Não devem ser penhorados bens que excedam largamente o valor da obrigação
exequenda causando um prejuízo ao executado.
Ex.: para pagamento de uma dívida de €5000 eu tenho um património (carro,
andar, quadros). É proporcional que a penhora ou incida sobre o carro, ou sobre um ou
dois quadros. Basta penhorar 2 quadros para cobrir a dívida.
São-no também os bens inalienáveis do domínio privado (artigo 822.º alínea b)).
Não podem, por isso penhorar-se, entre outros, o direito a alimentos (artigo 2008.º
n.º 1 do Código Civil), o direito de uso e habitação (artigo 1488.º C.C.), o direito á
sucessão de pessoa viva (artigo 2028.º), etc..
Indisponibilidade subjectiva.
Também os regimes de indisponibilidade subjectiva geram, em regra, regimes de
impenhorabilidade.
(...)
Impenhorabilidade convencional.
No âmbito da disponibilidade das partes, podem estas, por negócio jurídico,
estipular a impenhorabilidade específica de determinados bens por dívidas também
determinadas. Isso é permitido, entre outros, pelos seguintes preceitos da lei civil:
- Artigo 602.º Código Civil – permite que, por convenção entre credor e
devedor, se limite a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens e, por
maioria de razão, que determinados bens do devedor sejam excluídos da
sujeição à execução pela dívida contraída.
- Artigo 833.º Código Civil – o artigo 831.º prevê a cessão de bens aos credores
para estes os alienarem e, com o produto da alienação, satisfazerem os seus
créditos. Os credores que não participarem na cessão poderão penhorar os bens
cedidos, enquanto a alienação não tiver lugar. Mas, relativamente aos credores
cessionários e aos posteriores à cessão, já assim não é e os bens cedidos são
por eles impenhoráveis.
Esta impenhorabilidade é, em alguns casos, absoluta e total (os bens não podem, na sua
totalidade, ser penhorados, seja qual for a dívida exequenda), enquanto que, noutros
casos, é relativa (os bens podem ser penhorados apenas em determinadas circunstâncias
ou para pagamento de certas dívidas) ou parcial (os bens só podem ser penhorados em
certa parte).
Penhorabilidade subsidiária.