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A) Leia o texto:

O BRILHANTE E O OPACO

O Vaga-lume, de vago lume esverdeado, fazia voltas e voltas em torno de si mesmo, no encanto
indisfarçável de seu próprio brilho. E, enquanto revoava pela escuridão da mata, de galho em galho dos
arbustos, pensava com seus botões (luminosos).
- Sou todo uma esmeralda só, brilhante e viva. Deus, Todo-Poderoso, ao me fazer um inseto noturno
e me dar essa luz, evidentemente quis que eu fosse superior a todos os outros insetos, guia e orientador da
mata.
E voava e voava e brilhava e brilhava e pensava e pensava:
- Haverá, em toda a mata, outro como eu? Pois dentro do verde que pisco ainda há outro mistério:
ninguém sabe se apago-e-acendo ou se acendo-e-apago.
Voava mais e, descrevendo parábolas de luz por entre as flores, mais se envaidecia na comparação
com os outros habitantes da floresta:
- Pobres irmãos inferiores, eu vim para protegê-los das trevas. Vocês, grilos de asas cinzentas e sem
brilho, formigas que trabalham e suam sem um instante de luz e de fulgor, mariposas que, por serem opacas,
qualquer luz liquida, míseras lagartas imitadoras de acordeões sem som, aranhas destinadas a serem feias
tecelãs de sedas que jamais verão prontas, cupins que perdem as asas e ficam tontos até morrer, oh, para
vocês todos, aqui está minha luz verde. Imitem-me os que puderem, sigam meu brilho maravilhoso os que
estiverem perdidos nos caminhos.
E voou mais alto e se comparou às estrelas:
- Sou uma de vocês, irmãs! Pisco no céu, como vocês! Sou a Vésper, a estrela da noite, sou Alba, a
estrela da manhã. Faço parte da constelação da selva, vivo, vivo!
Foi descendo de novo quando, súbito, sentiu uma lufada de ar que o envolvia, algo pegajoso que o
segurava e logo estava fechado numa atmosfera nojenta e escorregadia. Sua luz iluminou um pouco a
escuridão intensa e ele viu, em volta, centenas de insetos, apertados uns contra os outros, num cubículo
úmido e sujo. Um dos insetos, uma lesma sonolenta, levantou a cabeça e gritou com voz rouca e irritada:
- Idiota, idiota, se não fosse você, com essa mania de iluminação noturna, o sapo-boi jamais teria nos
engolido nos escuro. Vamos, idiota, apaga essa luz que eu quero dormir!

MORAL: QUANDO A ESCURIDÃO É GRANDE FICA PERIGOSO QUALQUER BRILHO INDIVIDUAL.

(Millôr Fernandes. Novas Fábulas fabulosas)

B) Comente. (Faça-o por escrito, em seu caderno.)

1. O comportamento do vaga-lume diante dos outros insetos.

2. O tipo de pessoa representado pelo vaga-lume.

3. A ironia do final do texto.

4. A moral da história.

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