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Há menos de trinta anos, acreditava-se que o princípio ativo da maconha (Cannabis sativa), o
tetrahidrocanabionol (THC), agia sobre o sistema nervoso central de forma inespecífica, ou
seja, perturbava o cérebro como um todo.
Com a finalidade de aprofundar ainda mais o conteúdo deste artigo, foram incluídas também
informações do livro Cannabis and cognitive function, da pesquisadora da University of New
South Wales – Austrália, Nadia Solowij (Cambridge University Press; 1998). As descrições das
estruturas anatômicas do sistema nervoso foram obtidas no livro Neuroanatomia funcional, do
Prof. Dr. Ângelo Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (Atheneu; 1988).
O THC
O THC é lipossolúvel, ou seja, capaz de ser dissolvido em gorduras. A maneira mais eficaz
para disponibilizar a substância no organismo é fumando os brotos da planta, ou
acrescentando-os a comidas gordurosas.
A anandamida
Os canabinóides do cérebro são liberados em seu local de ação e inativados pela enzima
FAAH. A síntese e a liberação dos endocanabinóides são feitas por estruturas diferentes do
cérebro, sendo o 2-aracdonilglicerol muito mais abundante (50 a 1000 vezes) que a
anandamida.
Os receptores canabinóides
As áreas do sistema nervoso com maior densidade de receptores CB1 são o córtex frontal
(raciocínio, abstração, planejamento, etc), os núcleos da base (motricidade) e o cerebelo
(coordenação e equilíbrio). O sistema límbico, responsável pela elaboração e expressão dos
fenômenos emocionais, também é rico em receptores CB1, especialmente no hipotálamo
(coordenação das manifestações emocionais), hipocampo (memória emocional e inibição da
agressividade) e giro do cíngulo (controle dos impulsos). A ausência de receptores CB1 na
medula espinhal explica a baixa toxicidade do THC quando administrado em doses elevadas.
Parte II
O sistema canabinóide endógeno, conforme o capítulo anterior, está presente de maneira
difusa em todo o cérebro.
O sistema canabinóide
O sistema canabinóide é formado pelo conjunto de receptores CB1 (cerebrais) e CB2
(periféricos) e por neurotransmissores como a anandamida. A atividade do sistema
canabinóide é capaz de inibir tanto o sistema GABA, quanto o sistema glutamato. Dessa
forma, parece ser responsável pela modulação da atividade inibitória e excitatória do
cérebro. Assim, em períodos de maior atividade (trabalho, estudo, jogos que requeiram
atenção e concentração), o sistema canabinóide exerce inibição sobre o sistema GABA.
Já em períodos marcados pela tranqüilidade e pela despreocupação, a ação canabinóide
recai sobre o sistema glutamato.
Parte III
O sistema canabinóide e a função motora
A memória para fatos recentes, especialmente quando depende da atenção, fica visivelmente
prejudicada durante o consumo de maconha. O local responsável pela ocorrência deste
fenômeno é provavelmente o hipocampo. O hipocampo é parte integrante do sistema límbico. A
presença do THC torna esta estrutura incapaz de segregar informações provenientes de
diversos locais e situações, devido a déficits no processamento das informações sensoriais.
A palavra córtex deriva do grego e significa casca. O córtex é uma fina camada entre dois e
seis centímetros que reveste e faz parte do cérebro. Ele é formado pelo agrupamento de
neurônios, que recebem e interpretam as informações do meio ambiente e por neurônios que
planejam e executam a melhor resposta para cada situação. Durante a evolução, o córtex
aumentou significativamente, chegando ao seu maior grau de desenvolvimento na espécie
humana. Isso explica o aparecimento das funções psíquicas e intelectuais no homem.
A partir de sua evolução, o córtex foi dividido em arquicórtex (presente desde os peixes),
paleocórtex (presente desde os anfíbios) e o neocórtex (presente desde os répteis, mas
predominante nos mamíferos). As duas estruturas corticais primitivas ocupam apenas uma
pequena parte do córtex humano, ligadas à olfação e ao comportamento emocional (sistema
límbico).
O neocórtex é responsável pelo controle motor e das funções cognitivas superiores, tais como
inteligência, abstração, raciocínio, planejamento e julgamento. Há uma grande concentração de
receptores canabinóides (CB1) no neocórtex. A ação do sistema canabinóide nesta região
causa sonolência, enquanto a inibição, aumento da atenção e da vigília. Desse modo, conclui-
se que a atividade canabinóide neocortical está relacionado ao controle do ciclo sono-vigília.
Estudos vêm demonstrando que o THC é benéfico na indução do apetite e no combate à perda
de peso em pacientes com AIDS. Seu consumo com estes propósitos é permitido na Holanda,
Canadá, Suíça e em alguns locais dos Estados Unidos.
No século XIX, a maconha foi largamente utilizada para o alívio da dor. Recentemente, esta
propriedade voltou a ser estudada, apesar dos achados até o momento não indicarem
vantagens iguais ou superiores aos medicamentos já existentes.
Há relação paralela, mas não distinta, entre o sistema canabinóide e o sistema opióide. Apesar
de atuarem em vias distintas, ambos atuam comumente em alguns locais do sistema nervoso e
parecem potencializar um ao outro.