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Introdução
O teatro de sombras, uma arte milenar do oriente que encantou encenadores do
ocidente, ainda é raramente praticado em nosso país. É uma linguagem que integra o
campo do teatro de animação, onde também estão inseridos o teatro de marionetes,
bonecos, objetos e máscaras. Através de uma tela branca onde um foco de luz se acende e
sombras de silhuetas de figuras humanas, animais, ou objetos, recortadas em papel, são
projetadas em conjunto, ou isoladamente nos remetendo a um mundo particular, poético e
mágico de histórias, do faz de conta.
Focaremos neste projeto conceitos relacionados a história deste tipo de teatro, em
diversos países, abordando as técnicas desenvolvidas no passado por povos mais antigos,
bem como as técnicas praticadas atualmente. Através de uma pesquisa teórica da área
educacional verificamos os benefícios comprovados por educadores, que possuem
experiências de encenação e produção de teatro de sombras com os educandos.
Descreveremos as experiências práticas com vários tipos e formas deste teatro, realizadas
por nosso grupo, na sala de aula.
Procuramos através deste projeto averiguar qual seria o envolvimento e as reações
dos educandos ao entrarem em contato com os diversos tipos e formas da linguagem do
teatro de sombras, para responder à questão: o teatro de sombras, seria uma boa ferramenta
para trabalhar em sala de aula e promover conhecimento?
Pretendemos com a realização deste projeto, divulgar essa modalidade teatral e
explorar com ela possibilidades de aguçar a imaginação, estimular o gosto pela leitura,
melhorar a comunicação e a compreensão do outro.
Este projeto nasceu da intenção de levar para a sala de aula, atividades
experimentais com técnicas específicas do teatro de sombras, para estimular processos de
criação, encenação de dramaturgia de outras tradições e culturas. Acreditamos que as
atividades propostas servirão de estímulos aos educandos no que se refere ao
desenvolvimento da coordenação motora, do raciocínio, da percepção do olhar, da
memória, da criatividade, da noção de espaços e da análise crítica dos alunos quanto às
suas produções.
Acreditamos que qualquer linguagem teatral tem a capacidade de envolver os
alunos em um processo de criação, socialização e cooperação em grupo. Esperamos que o
teatro de sombras por ser pouco conhecido pelos profissionais da educação e por
estudantes do Ensino Fundamental e Médio, venha despertar curiosidade e estimulo ao seu
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conhecimento. E que a diversidade dos recursos que o teatro de sombras utiliza, possibilite
o seu emprego em outras disciplinas do conhecimento, trabalhando conjuntamente.
1 HISTÓRICO GERAL
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SANTOS, Marcello Andrade dos – 22/08/1965 – Santa Rosa – RS - Ator; Iluminador; Compositor e Produtor
Artístico, diretor da Cia. Karagoz K. Estudou teatro de sombras com Jean Pierre Lescot no Instituto Del Teatro
de Sevilha (Espanha) em 1986.
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Tendo como requisito para manipuladores, o conhecimento da Cultura Oriental para uma
devida interpretação. Com a invasão da China pelos mongóis no século XIII, o teatro de
sombras passou a ser utilizado em caráter não religioso, uma vez que foi levado aos países
islâmicos como Turquia, Síria, Afeganistão por estes invasores. Ainda no século XIII em
Bursa, na Turquia surgiu a forma mais popular do teatro de sombras do mundo árabe, que tem
como caráter a critica social–política e é chamado de teatro de Karagöz realizado em feiras à
noite cujo espetáculo conta com um único manipulador que controlava tudo: bonecos, texto e
sonoplastia.
mesmo assim vem sendo inserido por diversos grupos teatrais como recurso para
enriquecimento de seus trabalhos.
2 TEATRO DE SOMBRAS ORIENTAL
2.1 Na China
O teatro chinês possui cerca de cinco mil anos de idade. Impérios e dinastias vieram e
se foram durante toda a história da China.
Os primórdios do teatro de sombras de acordo com o cronista Ssu-ma Ch´ien
pertencente à corte do imperador Wu-ti (140-87 a.C.) surgem durante o período de domínio
deste imperador, amante das artes.
Há 2500 e 3000 anos atrás, os chineses baseavam-se em movimentos humanos do
cotidiano para animar seus personagens buscando aproximar-se da realidade através da
semelhança induzindo os espectadores ao convencimento do que viam. Os temas da
dramaturgia do teatro de sombras da China têm como base a vida cotidiana, os
acontecimentos do dia a dia que buscam reforçar valores como amizade, solidariedade,
respeito a autoridade e à natureza. É valorizada principalmente a manipulação das silhuetas
feitas pelo marionetista que busca através da observação do real os movimentos e traços das
figuras representadas (figura 6).
A partir de 1966 com novas tecnologias a estética dos espetáculos foi alterada através
das varas de manipulação trocando as de bambu por acrílico bem como a mudança das formas
de iluminação por lâmpadas fluorescentes.
Para obter um bom resultado, a silhueta permanece bem próxima da tela (figura 7)
para que a fidelidade da imagem seja projetada mais fielmente possível.
O teatro de sombras da China é mais estilizado com movimentos e gesticulações
controladas. Seus figurinos e cores possuem significados próprios, ou seja, utiliza simbologia,
inventividade e não-realismo, se afasta da estética naturalista em que o ator manipulador vai
modulando a voz do narrador.
De acordo com Valmor Beltrame (2005), era encenado por atores que cantavam
durante a apresentação, obedecendo a um só repertório. Era mais comum encontrar apenas um
manipulador-ator, mas também existem companhias formadas por muitos atores-
manipuladores. O manipulador solista também chamado de Mestre porque realizava todas as
funções no teatro de sombras, fazia apresentações itinerantes que iam de cidade em cidade,
para festas. Hoje em dia residem em cada cidade, artistas que circulam por vilas próximas. A
formação do ator-manipulador se dava através de aprendizagem, por tradição, desde criança
aos quatro anos de idade observando o pai ou parente próximo e obedecendo a execução de
rigorosos exercícios de manipulação. O mestre ia apresentando, aos poucos, ao seu aprendiz,
as técnicas de manipulação até que atingisse a maturidade para iniciar seu trabalho
individualmente. Os objetivos do aprendiz a serem conquistados consistiam em: domínio da
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O Imperador Wu Ti, da dinastia dos Han, teve o desgosto de perder sua dançarina
predileta. Havia vinte anos que ele governava com sabedoria e juízo o Império
Celeste e seu reinado era dos mais gloriosos de todos os tempos. Mas Wu Ti era
muito supersticioso e acreditava na arte de mágicas. Quando certa feita sua
dançarina favorita morreu, ele, desesperado, voltou-se para o mágico da corte,
exigindo que fizesse voltar à linda defunta do “Reino das sombras”. Caso contrário
seria decapitado.
Ameaçado o mágico não perdeu a cabeça... O mago usou sua imaginação e através
de uma pele de peixe, cuidadosamente preparada para torná-la macia e transparente,
recortou a silhueta da dançarina, tão linda e graciosa como ela fora. Numa varanda
do palácio imperial, mandou esticar uma cortina branca em frente a um campo
aberto.
Com o Imperador e a corte reunida na varanda, e à luz do sol que se filtrava através
da cortina, ele fez evoluir à sombra da dançarina, ao som de uma flauta e todos
ficaram alucinados com a semelhança. (Beltrame, 2005, p 41)
forma mais fiel possível. Segundo o autor a impressão é de que não houve qualquer ousadia
que incluísse algum detalhe na reprodução da imagem da dançarina da lenda, pela qual o
imperador era apaixonado. Isso se confirma na lenda quando diz: “fez evoluir a sombra da
dançarina e todos ficaram alucinados com a semelhança” e faz pensar que o teatro de sombras
chinês procurava resgatar os movimentos do cotidiano tentando convencer àqueles que
assistiam ao espetáculo de que a silhueta que estavam vendo, por alguns instantes, era a
sombra da dançarina predileta do imperador. Em comparação com o teatro de sombras da
Índia e Ilha de Java, os chineses exploravam mais as referências do cotidiano principalmente
quando se destaca o teatro contemporâneo da China.
O professor e manipulador Qi Yongheng da província de Habei na China, quando
ministrou um curso na França em 1982 no Instituto Internacional de Marionete, destacou que
o teatro de seu país tem a dramaturgia caracterizada por temas do cotidiano, acontecimentos
do dia a dia que procurava valorizar amizade, solidariedade, respeito à autoridade e à
natureza.
2.2 Na Índia
também em passagens contidas nos livros sagrados Mahahbarata e Ramayana além de serem
muito comuns passagens da vida de Krishna, Arjuna, Rama e Sita.
Meher Contractor (Beltrame, 2005, p 43) referindo-se ao teatro de sombras, diz que:
“essa foi durante muito tempo à única forma de educação popular na Índia e combinava
pensamento religioso e normas sociais privilegiando o triunfo do bem sobre o mal” e diz
também que as passagens religiosas foram substituídas por formas cômicas, tendo como
protagonistas os bufões, e desta forma foram se abrindo espaço para improvisações que
introduziam temas contemporâneos, às vezes até brincadeiras obscenas que provocavam o
riso e estimulavam o interesse do espectador.
A estrutura das apresentações do teatro de sombras da Índia tem duração de nove
noites se prolongando até o amanhecer. No ritual, os manipuladores e músicos que cantam ao
ritmo dos tambores trazem o candeeiro do templo em procissão. O marionetista chefe
(Sutradher) no espetáculo apresenta o tema e os personagens e logo em seguida os atores
manipuladores cantam e falam seus textos iniciando a recitação, a apresentação de efeitos
sonoros e cenas de batalhas impressionantes com flechas voando sobre a cabeça, membros e
cabeças decapitados voando através da cena. Na maioria das vezes a manipulação de dois
personagens em combate é feita somente por um manipulador cujo ritmo é ditado por
batimento com os pés sobre uma prancha de madeira com acompanhamento de instrumentos
da orquestra e músicas com gritos dos músicos e cantores. Os atores manipuladores
pertencem às castas nômades ou Brahmins cuja formação se dá por tradição com o
marionetista mestre revelando aos aprendizes os segredos que vão aos poucos se incorporando
com maturidade para exercer o ofício. O marionetista conhece epopéias religiosas, manipula,
toca instrumentos musicais, canta e recita além de confeccionarem as silhuetas. Uma
orquestra composta por diversos instrumentos característicos de acordo com cada região
acompanha o marionetista. Os indianos utilizam este tipo de teatro para pedir fertilidade da
terra, chuva, cura de doenças, boas colheitas ou usam para cerimônias de casamento ou outros
tipos de festas. Eles seguem calendário religioso que depende da utilização de um templo para
fazer sua realização. É uma manifestação predominantemente originaria das zonas rurais e só
recentemente, nos últimos 40-50 anos vem aparecendo nas zonas urbanas.
Devido à existência de poucas fontes, Margot Berthold levanta uma questão que ainda
não foi respondida: Qual teatro de sombras surgiu primeiro? O da Índia ou o da China? Haja
vista que na índia evidenciou-se a existência de um teatro de sombras na caverna de Sitabenga
(citada anteriormente) e a influência cultural do teatro de sombras que se espalhou através do
extremo oriente. Possivelmente seguiu o avanço do budismo pela Ásia Central ou da Indochina
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para China. Entretanto o Império Central Chinês afirma que o teatro de sombras é uma
invenção da China defendendo o pioneirismo numa lenda que evoca espíritos sobre a tela de
linho.
Na década de sessenta do século XX, surgiram na Ìndia, iniciativas de criação de
escolas de teatro de sombras. O instituto de Darpana em Ahmedabad ministrado por Meher
Contractor. Mais recentemente as escolas públicas de algumas regiões estão incluindo no seu
currículo o aprendizado do teatro de marionetes indiano, contudo, não se pode considerar esta,
uma formação de profissionais marionetistas.
2.3 Na Indonésia
figuras wayang precisa conhecer as regras iconográficas além de ter habilidade com as
ferramentas que utiliza para que mostre bem definidos no contorno e desenho dos bonecos:
em cada linha, cada traço decorativo em todas as características do corpo os significados de
cada um dos seus elementos. Ele produz o delicado trançado dos figurinos e dá a esta beleza
estranha e sobrenatural um toque de requinte como o uso de folhas de ouro, turquesa
brilhante, vermelho profundo e preto. A música Gamelan acompanha todos os espetáculos
wayang da Indonésia. Para a sua interpretação é preciso uma orquestra composta por
instrumentos de percussão, gongos, tambores e xilofone e poucos instrumentos de sopro e
cordas. No wayang kulit (figura 8) a peça é apresentada em geral pelo dalang, mestre
manipulador, à noite, exceto em cerimônia especial que simboliza o exorcismo. O numeroso
elenco de sombras é projetado numa tela de linhaço esticada sobre uma moldura de madeira
e o foco de luz é produzido por um lume brando vindo de uma lâmpada abastecida a óleo.
As personagens que representam o mal: demônios, traidores, espiões e animais selvagens
ficam numa caixa à esquerda do dalang, enquanto em outra caixa à sua direita: damas da
nobreza, rainhas, os fiéis ajudantes, heróis, todos aguardando a sua vez de serem
apresentados.
Figura 8: Encenação de teatro Wayang, local onde está manipulador mestre Dalang e orquestra.
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tradição. A pintura das cores se faz nas duas faces da silhueta mesmo que ela seja
predominantemente preta, os motivos são contornados com preto na silhueta e para proteger a
pintura é aplicada uma camada de verniz. Fios, ossos e prata fazem as amarrações das
articulações. A rigidez da silhueta e a fixação da personagem são garantidas em troncos de
bananeira que faz a sustentação de varas de bambu com partes de chifres de búfalo. Duas
varas de bambu são fixadas nas mãos para acionar a manipulação dos braços. As silhuetas
possuem coloração, detalhes de roupas e de jóias. Duas categorias diferenciam as
personagens: os bons, heróis e vencedores têm o rosto fino com nariz pontudo, orelha em
amêndoa, busto estreito e boca fechada, os maus têm a forma mais grosseira, nariz grande,
orelha arredondada e corpo grande. A personagem nobre tem olho redondo assim como o
gigante. As cores têm a função de caracterizar e dar significados aos personagens. As silhuetas
não têm características realísticas, os clowns têm formas grotescas e são parecidos com
caricaturas e ganham mais destaque em seus detalhes através da manipulação.
Valmor Beltrame diz que segundo a tradição, as mulheres tinham permissão apenas de
ficar do lado da platéia assistindo o espetáculo, impedidas de ver do outro lado da tela os
procedimentos do Dalang (manipulador) e da orquestra, enquanto os homens tinham livre
acesso aos dois lados. A estrutura da produção é formada por Dalang e uma orquestra situada
atrás dele, composta por 14 músicos que tocam instrumentos de sopro, cordas, tambores e
gongos. A comunicação entre Dalang e orquestra se dá por códigos sonoros e verbais
auxiliados com um cone de madeira que ele percute com a mão esquerda para fazer diferentes
ritmos que destacam momentos de um diálogo, pontuam uma marcha e anunciam um combate
do espetáculo. O Dalang (figura 10) é mais que um manipulador é considerado um artista
completo e está entre os homens e os Deuses e precisa dominar e compreender a filosofia dos
180 Lakans, narrativas contidas no Mahahbarata e o Ramayana, recitar parte destes textos em
Kawi (javanês antigo) e além desse domínio ele tem que improvisar o dialeto local do
espetáculo.
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deixe-me ser um wayang em vossas mãos... Ainda não lutei minha batalha até o
fim, e logo vós me levareis: eu poderei descansar com os outros cuja peça esteja
acabada. Estarei na escuridão com as miríades... E então, após centenas ou milhares
de anos, vossa mão mais uma vez me concederá o dom da vida e do movimento... E
eu, novamente, poderei falar e lutar a boa luta. Margot Berthold,(2001, p 51),
2.4 Na Turquia
O sultão ao descobrir tal fato, mandou enforcar os dois, como diz a lenda: Mais tarde
sentiu arrependimento de sua própria atitude. Um dos seus cortesãos teve a idéia de
ressuscitar Karagöz e Hadjeivat na forma de figuras de couro coloridas e translúcidas e
sombras numa tela de linho.
Karagöz tem nariz em forma de gancho, barba negra, olhos astutos de botão e mão
direita movendo-se com violência; Hadjeivat está vestido de mercador é cauteloso e
pensativo, bom caráter e sempre sendo enrolado.
Segundo Borba Filho (Beltrame, 2005 p 45) Karagöz tem como característica um ser
trapalhão, hipócrita, brutal, egoísta e libidinoso que vive fazendo trapaças com seu
inseparável amigo Hacivad que sabe tudo, é mentiroso, inescrupuloso e tem sexualidade
espantosa, tem o corpo barrigudo, calvo, corcunda e tem órgão sexual monstruoso.
Outros personagens completavam o teatro Karagöz: Celebi: jovem que se veste com
extremo excesso; a linda Messalina Zenne; Beberuhi, anão ingênuo; o persa com sua vasilha
de madeira d’água; o albanês e os outros personagens regionais; o viciado em ópio; o
bêbado. Diversão predileta do povo e da corte do sultão, o teatro de sombras era apresentado
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Professora, doutora e pesquisadora em teatro. Publicou o livro “As sombras das Marionetes ou Figuras
de Deus” pelo Instituto de Teatro de Barcelona. BADIOU, Maryse. As marionetes – A duplicidade do
ser e não ser. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 17-24. – Florianópolis:
UDESC, 2005.
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Diretor teatral da Cia. “Le Phosphènes” – Fantenayboir (França). LESCOT, Jean Pierre. Poesia e amor
no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.). Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 9-11 –
Florianópolis: UDESC, 2005.
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4
Grupo Italiano que trabalha com Teatro de Sombras. AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas
animadas – Máscaras, bonecos e objetos. 3a Ed. São Paulo: Editora USP, 1996.
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Cidade do interior da França que sedia a mais importante organização de marionetistas de todo o
mundo. AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação - Da teoria à prática. São Paulo: Ateliê Editorial,
1997. p.10
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Para Fabrizio Montecchi6 (Teatro Gioco vita), o que chegou na Europa foi um
conjunto de técnicas obsoletas, um gênero teatral sem conteúdo e nem contexto. Por
isso as grandes companhias teatrais contemporâneas estudam o teatro de sombras do
Oriente com objetivo de descobrir o significado que seu próprio trabalho esconde. O
Ocidente possui uma imensa distancia cultural que o separa do Oriente. Por isso é
importante buscar no nosso patrimônio cultural a nossa razão de existência para dar
sentido ao teatro de sombras Ocidental do presente.
O que é uma silhueta? É uma sombra? Nem sempre as sombras reais se alargam
e se encurtam dependendo da projeção da luz. Porém uma silhueta se entende sempre
com contorno bem definido e nítido perfil. Então um filme de silhuetas poderia se
chamar um filme de recortes, porém estes recortes podem ser de todas as cores.
Os materiais necessários são: tesoura, cartolina negra, papel adesivo, arame, uma
câmera, luzes, placa de vidro e caixa de madeira para construir a mesa de animação. As
figuras podem ser movimentadas com as mãos, dispensando as varetas colocadas sobre,
uma placa de vidro, iluminada por baixo, (figura 13) fotografa-se todos os movimentos
milímetro por milímetro. Gravando e exibindo todas as fotos a impressão que se tem é
que a figura se movimenta com vontade própria.
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É membro fundador do grupo italiano de teatro de sombras Teatro Gioco Vita. Diretor do espetáculo “O
corpo sutil” no qual abandona a silhueta de objetos e utiliza exclusivamente a sombra baseada no corpo
humano. O Gioco Vita revolucionou, desde suas primeiras montagens, a linguagem do teatro de sombras
com um uso inovador da luz, tela, silhuetas, o trabalho do ator manipulador e suas múltiplas relações.
Títulos como Gilgamesh (1982), O Pássaro de Fogo (1990) são espetáculos do grupo. MONTECCHIO,
Fabrizio. Viagem pelo reino da sombra. In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e
linguagem, p. 25-30 – Florianópolis: UDESC, 2005.
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Figura 14 : Storyboard.
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A
articulação da figura se faz cuidadosamente com estudo e ensaio de todos os
movimentos. Durante os ensaios é recomendável marcar as posições para assegurar que
a figura esteja no momento oportuno e lugar desejado de modo que mostre a trajetória
de um movimento contínuo, construindo dessa forma a animação das personagens.
(figura 16)
O cenário é o apoio para a narração da história, além de bonito deve ter um significado
de acordo com a trama. Os elementos principais do cenário estão em primeiro plano ao
mesmo nível das figuras, porém para a ação das silhuetas é necessário um fundo claro.
Para tonalidades de cenários mais claros colocar papel manteiga em último plano sobre
a placa de vidro iluminada e para cenários de tons mais escuros colocar em plano acima
mais próximo do plano das figuras, dando a impressão de profundidade para as cenas.
(figura 17)
4.1 Silhuetas:
As silhuetas são peças recortadas que podem ser confeccionadas com papel
como: papelão, papel couro, sola e etc. O material que permite a manipulação da
silhueta pode ser arame, bambu, ripa de madeira. As silhuetas podem ser personagens,
animais, arvores, casas, etc; inspiradas em temas, histórias, contos, contextos.
A partir das suas articulações nos braços e pernas de uma personagem surge o
movimento, a vida das silhuetas. Para iniciantes uma ou duas articulações são
suficientes, pois é preciso habilidade e prática para personagens mais elaboradas.
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Ator, pesquisador CNPQ e aluno de graduação, curso de licenciatura em Artes Cênicas da Universidade
do Estado de Santa Catarina – UDESC. PAULO, Eder da Costa. A dramaturgia no teatro de sombras.
In: V. Beltrame (Org.) Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 85-91 – Florianópolis: UDESC,
2005.
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4.2 Objetos:
A escolha dos objetos tem como critério o tema da ação que será apresentada.
Verifica-se com diversos materiais, testando-os e observando as possibilidades de
sombras que cada objeto projeta na tela. Pode-se produzir com as sombras diversas
formas, algumas pouco expressivas se for apresentada a reprodução real do objeto,
enquanto outras formas ganham significados particulares e podem ser compreendidas
de várias maneiras.
4.3 O Cenário:
O cenário pode ou não ser usado nos espetáculos, dependendo do tema. Ele
situa um lugar, um ambiente. Quando ele trabalha somente com a função de
representação, é conveniente utilizar pouco espaço da tela, geralmente um dos lados
ou na base, serve como símbolo para leitura e entendimento de um lugar.
4.4 A Sonoplastia:
A música contribui, e ajuda a criar o clima, que uma cena quer passar. A
sonoplastia pode ser constituída por músicas ou ruídos, E a música pode ser executada
ao vivo ou já gravada e reproduzida em aparelhos sonoros.
4.5 Cores:
Podem ser utilizadas na tela diante de fonte luminosa. De acordo com a cor
usada na cena, cria-se o ambiente que se deseja refletir, por exemplo uma tela
vermelha cria um clima trágico ou dramático, uma tela amarela pode trazer a sensação
de alegria, grande clareza, o azul, o aspecto de esperança, calma, serenidade, noite.
Enfim dependendo da cor utilizada na tela, poderá arrancar do público diversas
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4.6 Iluminação:
As sombras variam de forma e de tamanho por causa do foco de luz. Seja tanto
na intensidade luminosa quanto na distância entre silhueta e foco de luz.
Geralmente a fonte de luz fica estável e imóvel, exceto em casos particulares,
ela é colocada atrás da tela e afastada da mesma de maneira a não incomodar a visão
do espectador.
Através de diversos modos de manuseio das luzes, podem-se obter muitos
efeitos visuais e provocar sensações e emoções.
A cultura ocidental acrescentou um recurso ao teatro de sombras: o plano
frente de tela, o que fez crescer as possibilidades de experimentações com as imagens
das sombras. O plano de fundo é onde se obtém a bidimensionalidade enquanto o
plano de frente trabalha-se com as três dimensões dos volumes dos objetos.
4.7 O Ator:
Figura 19: Cena do espetáculo “Albertinho, menino voador”, criação: Cia. Luzes e Lendas.
Foto: Julho/2007 (Fabiana)
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Atuou em espetáculos com muito texto cuja matéria prima eram sua voz e seu
corpo. Fez paralelamente cursos de mímica, canto, clown e incorporou a arte em seu
cotidiano. Descobriu como aluno de um curso ministrado na Oficina Cultural Oswald de
Andrade, pertencente a Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, a vertente da
animação: teatro de sombras. Há oito anos trabalha com teatro de sombras e hoje é um
dos poucos e conceituados artistas do gênero que atuam em São Paulo. Valter Valverde
também prestou assessorias no quesito sombras a outros grupos de teatro de animação:
Cia Articularte e Cia de Teatro Por Um Triz. Criou a Cia. Luzes e Lendas onde
desenvolve seus trabalhos utilizando objetos e bonecos para brincar com a luz (ou a
sombra?). Através de historias como ele mesmo diz: “busco na luz e sombra
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“Os Três Porquinhos”, (figura 22) uma adaptação da conhecida história para a
linguagem do teatro de sombras, ressalta valores como amizade, companheirismo e
responsabilidade para buscar uma proximidade com a criança, tanto na leveza do
texto como nas ações, onde o conflito entre o lobo e os porquinhos é apenas uma
diversão saudável.
“O Pescador”, (figura 23) uma historia em que um homem sai para pescar em
seu barco num local que parece poluído, pois somente sujeira vem ao seu anzol e
conseqüentemente isso o faz desistir da pesca. A historia procura trazer para o
publico, uma reflexão a respeito da importância de não se degradar o meio ambiente
e que o lixo nosso de cada dia não deve ser jogado em qualquer lugar.
Entre outras produções da Cia. Luzes e Lendas que ao longo de sua existência
apresentou espetáculos em teatros como “Arthur Azevedo”, “Martins Pena
Mesquita” em São Paulo, Casas de Cultura da Prefeitura da Cidade de São Paulo e
teatros situados em outras cidades, além de participar do “Programa Recreio no
Parque” projeto da Prefeitura de São Paulo e de Festivais de teatro de animação.
Na entrevista, Valter Valverde nos fala sobre os seus trabalhos de
experimentações e criações dentro do mundo “luz e sombra”, descreve as técnicas de
manipulação, da confecção de silhuetas, da utilização de objetos para projetar
imagens e da interpretação de ator. Ainda comenta que a arte milenar do teatro de
sombra é importante para as pessoas: ”Vejo que o mundo precisa de histórias para se
entender, para se comunicar com o outro e para melhorar o mundo. Hoje ponho a
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mão na massa: papelão, idéias, estilete, livros e, sobretudo, pessoas. Acredito nessa
dinâmica: historias, ilustração, objetos, material, imaterial, luz e sombra...” (figura
25)
As maiorias das varetas estão fixas na cabeça e nas mãos, mas existem algumas
fixas em outras partes. Por quê?
V.V - A forma clássica é esta, mãos e cabeças (figura 26) reparem que com
movimento dos braços, apesar das bocas não se moverem, dá impressão que estão
falando. Os outros casos dependem da história, da necessidade do personagem de se
movimentar como queremos, então alternamos os locais de fixação das varetas
como: cabeças, pés, mãos, peito e etc.
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Às vezes a imagem fica mais nítida e também altera seu tamanho. Por quê?
V.V - Depende da fonte de luz, de sua potência e também da proximidade dos
personagens da tela. (figura 27)
Figura 28: Cenas do espetáculo “Kumbu, O Menino da Floresta Sagrada” Criação: Karagöz K.
Porque o nome Karagoz? Está relacionado com a lenda de Karagoz (em nossa pesquisa
consta na pagina 30) do teatro de sombras da Turquia?
Marcello: Sim! Estava em Buenos Aires , Argentina e encontrei um livro que trazia esta
lenda,
me interessei, gostei do nome e o adotei para o grupo.
Pelo que notamos, os materiais utilizados por vocês é bem alternativo. Quais são?
Marcello: Sim, os materiais são alternativos. Usamos papel Paraná, papelão, (figura 29)
radiografias
velhas, papelão couro, além do próprio corpo humano.
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A sua tela nos remete a idéia de cinema, devido suas grandes dimensões. Quais materiais
foram utilizados em sua confecção?
Marcello: A estrutura foi idealizada pelo grupo e mandamos fazer a estrutura em alumínio na
serralheria, e a tela é de tecido sintético, mas poderia ser usado um outro tipo de tecido
também, como uma malha.
Notamos várias cores nos efeitos das sombras, como elas são obtidas?
Marcello: Usamos várias fontes, e as variadas cores (figura 30) são obtidas com gelatinas
(películas de celofane) de colorações diferentes.
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O trabalho de vocês é bem complexo, pelo que estamos notando. Requer muito tempo de
preparo?
Marcello: Sim! Tem que haver um sincronismo perfeito entre nós, pois como disse, nos
apresentamos em tempo real e qualquer problema será percebido pelo expectador, seja, falha
de manuseio dos objetos, ou falha de movimento dos próprios dançarinos.
Dia 18/06/2007, haverá uma oficina no Núcleo de Teatro de Animação coordenada pelo
grupo. Qual objetivo deste evento?
Marcello: Queremos mostrar nossas experiências com iluminação, produção de silhuetas e
montagem de cenários, demonstrar técnicas de como se obter alguns efeitos e também passar
dicas de como se explorar sombras do próprio corpo.
Pelo tempo que vocês estão no mercado, devem conhecer vários grupos internacionais.
Algun(s) lhe chamam a atenção?
Marcello: Sim! Vários, entre os quais: “Senhor Z”, grupo francês que trabalha com vários
manipuladores; “Teatro Gioco Vita”, grupo italiano conceituadíssimo e que revolucionou as
técnicas tradicionais do teatro de sombras, ele possui vários manipuladores e um grupo
espanhol que faz um trabalho semelhante ao nosso chamado “As Lacônicas”.
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É claro que vocês já conheceram o trabalho da Cia. Luzes e Lendas e pelo que notamos
o grupo está presente hoje prestigiando o espetáculo Tecno-Shadow. Comente esse
intercâmbio.
Marcello: Sim, nos conhecemos há um bom tempo, e temos um bom relacionamento, isto
entre os grupos é comum, assim fazemos intercâmbio de idéias, relacionadas às técnicas e
atuações, mesmo sendo de temáticas e público de faixa etárias diferentes.
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Neste capítulo apresentamos técnicas sugeridas pela educadora e autora Idalina Ladeira
(1993) que julgamos interessante para trabalhar com educandos em sala de aula.
A confecção do teatro com tela envolve a instalação de fonte luminosa, de tela que
podem ser lençol, papel manteiga, etc e confecção de silhuetas para serem projetadas na tela.
As lâmpadas utilizadas não devem ser leitosas, pois estas não possibilitam a projeção, ou seja,
a formação de sombras na tela. O espote, por projetar luz muito forte, também não é
aconselhado. O mais indicado é utilizar lâmpadas transparentes, de 40 ou 60 watts, colocadas
dentro de latas, para possibilitar a concentração de luz.
Existe a possibilidade de confeccionar figuras coloridas, em que se pode cobrir as latas
com papel celofane na cor desejada ou construir silhueta com elementos vazados em papel
celofane colorido. A tela pode ser um tecido branco, não transparente. Duas lâmpadas ficarão
acesas do lado de dentro do palco, uma de cada lado. As figuras movimentadas atrás do tecido
ou papel, por pessoas escondidas atrás do palco e da luz irão projetar a sombra.
Outra opção é confeccionar o mini teatro com tela utilizando papelão, papel manteiga
ou tecido branco e abajur ou lanterna.
Aproveitando uma caixa de papelão, tamanho médio, mais ou menos 50 x 40 cm,
recortando seu fundo, deixando moldura, será colado ou grampeado papel manteiga, tecido
branco fino e etc., e as molduras externas decoradas, as silhuetas ou bonecos serão com
menores dimensões.
A área operacional do palco é escondida com uma cortina, ou qualquer tecido, o foco
de luz é direcionado para dentro da caixa, e as silhuetas são movimentadas com as mãos ou
manipuladas como marionetes, ou utilizando varas, etc.
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Bem mais simples é apagar as luzes, vedar a entrada de luz externa e direcionar uma
lâmpada para a parede que servirá de tela. Na falta da lâmpada, pode se utilizar velas. Com
imaginação e com bom posicionamento a apresentação tem inicio, as silhuetas podem ser
confeccionadas, ou utilizar o próprio corpo, parcial ou total para projetar a sombra.
Inúmeros são os tipos de figuras/ fantoches que são utilizados nesse gênero, como por
exemplo as sombras feitas com as mãos, elas são projetadas na parede durante o dia. É preciso
preparar o ambiente: fechar as janelas e ascender lâmpadas ou velas, com as próprias mãos,
(figuras 33 e 34) faz figuras de animais abrindo e fechando a boca, mexendo as orelhas e etc
Dentre eles estão os mais variados papéis, tecidos, plásticos, madeiras, recursos
naturais, sucatas, fios, fitas e Cia., tintas, etc.
Os papéis são utilizados não apenas para confecção das cabeças e membros, como
também das vestimentas. Podem ser utilizados jornais, papel de embrulho ou de anuncio,
revistas, invólucro de balas, bombons ou presentes, guardanapo, coador de papel e etc.
Quanto mais variado o tipo de papel, melhor. Cartolina e papelão de diversas
espessuras, também podem ser aproveitados.
Já os tecidos usam-se os retalhos de tecidos como: chita, algodão, morim, veludo, filó,
seda, cetim, feltro, tapeçaria, renda, estopa, lenços e guardanapos. Pode-se costurar ou colar.
Com os plásticos podemos aproveitar garrafas, copos, pratos, talheres, caixas,
canudos, cones, isopor, espuma e etc. Podem ser colados com fitas adesivas ou colas.
E na madeira os bonecos são mais difíceis de serem confeccionados, exigem o uso de
instrumentos especiais como serras, formões, grampos, parafusos, pregos etc. Podem se
usar colheres de pau, dão bom resultado.
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Ainda pode se usar palito ou pazinha de sorvete, palito de dente, vareta de bambu,
cabo de vassoura, tocos leves, serragem e etc. As vestimentas podem ser de tecido ou papel.
Os recursos naturais como os galhos, folhas, flores secos ou não, raízes, conchas,
pedras e pedregulhos, terra, areia, argila, grãos, sementes, caroços, algodão, paina, palha,
réstia de cebola e alho, casca de ovo, frutas e etc.
Já as sucatas desde que não sejam deterioráveis, podem ser utilizados em sala de aula,
como por exemplo: roupas velhas e acessórias (chapéus, bijuterias, maquiagens, chalés e etc.),
além de revistas, garrafas, tampinhas, caixas. Com criatividade podem se transformar em
lindos bonecos.
Os fios e cia. para dar movimento as marionetes usa-se o cordonê escuro na falta dele
podem utilizar fios de náilon, barbante, cordão e linhas.
Na confecção de cabelos e vestimentas, empregamos fios, rendas, fitas, cadarços,
botões, contas, lãs, algodão, franjas, penas, peles, sianinha, vieses, cordonês, sutaches,
elásticos e etc.
As tintas podem ser usadas variedades de tintas, isto vários tipos, como exemplo o
látex que é o que mais rende. Guache, anilina, esmalte, pó de pintor, canetas coloridas e
esferográficas, pincéis atômicos, carvão, maquiagens diversas e etc.
O uso do pincel atômico ou caneta hidrocor é desaconselhado, por possuírem
substâncias tóxicas em suas composições.
O teatro de sombra dá mais importância à forma, do que ao acabamento, então é
imprescindível uma pintura básica se necessário, formas bem definidas e elementos interiores
vazados (bocas, olhos, narizes e etc.).
8.7 Sonoplastia
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As mulheres de Atenas e Esparta resolvidas a não se entregar aos belicosos maridos até que finalmente estejam
prontos a fazer a paz.
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É recomendável o professor não deve usar todo material de uma só vez, e sim
planejar as atividades de forma a privilegiar o desenvolvimento de alguns aspectos da
inteligência do educando, pois todo o processo é importante. Também deve racionalizar a
quantidade de objetos empregados para promover um intercâmbio de materiais entre as
salas para que todos se beneficiem e dessa forma possibilitar maior diversificação e
maiores horizontes de aprendizagem.
Durante o manuseio com o material, o diálogo professor-aluno, poderá estimular os
alunos a enriquecer seus conhecimentos, orientando-os e fazendo-os perceber e vivenciar,
por exemplo, o sentido do tato quando estiverem em contato com uma superfície, dando-
lhes dicas, instigando sua curiosidade. Ao manuseá-las os educandos poderão perceber
como são constituídas as superfícies: ásperas, lisas, duras, moles, lixadas, escorregadias,
pastosas, líquidas e etc.
Quanto às formas, podemos separar os materiais semelhantes, agrupando as iguais,
propondo para os alunos a atividade de reconhecer e identificar algumas formas mais
usuais como: quadrado, retângulo, triângulo, círculos e etc, e assim ir construindo o
conhecimento de novas formas.
Na construção, no esquema corporal, na montagem dos bonecos, é necessário
nomear-se as partes do corpo, como: braços, pernas, olhos, bocas, nariz e etc.
Podemos brincar com as cores, dando lhes alternativas para escolherem entre uma
ou várias, que podem ser privilegiadas durante as atividades, como por exemplo, o verde, o
laranja e etc.; desenvolver-se temas correspondentes à faixa etária do educando, como:
Cores primárias, secundárias, monocromia, policromia, cores da bandeira brasileira, de
times de futebol e etc.
Quanto à espessura, podemos instigá-los a perceber com o contato e manuseio do
material, se são grossas, finas, iguais, diferentes, mais grossas, mais finas e etc.
Também a altura, pode ser trabalhada fisicamente, possibilitando aos alunos a tarefa
de distinguir entre alto, baixo, médio, mais alto, mais baixo, nem alto e nem baixo e etc.
Os tamanhos, também serão trabalhados e identificados pelos educandos com
algumas indagações entre: grande, pequeno, comprido, curto, maior e menor.
Ao trabalharmos a distância na colocação dos acessórios, como: olhos, nariz etc., o
aluno ganha noção de espaço e identifica: longe e perto, próximo e distante, mais longe,
mais perto, muito longe, muito próximo e etc.
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mais adequada e mais fácil de confeccionar, de acordo com o texto. O importante é dar ao
aluno o poder de liberdade de escolha para que ele possa demonstrar seu poder de
iniciativa e decisão.
Nos ensaios, as histórias são estudadas quanto ao enredo; cada um decora a parte da
personagem que vai representar. Os ensaios devem ser de preferência, executados na
própria sala, com a presença de todos os alunos para que estes aprendam as suas técnicas.
O professor pode repetir o ensaio fazendo um rodízio com as crianças, para que todos
participem e se integrem.
No que diz respeito a apresentação da dramatização já pronta e ensaiada, onde o
aluno desenvolve seu papel e passa a ser “vidraça”, é importante orienta-lo para alguns
tropeços, preparando-o para improvisações caso seja necessário.
A avaliação deve ser considerada como incentivo ao educando. A observação do
professor é muito importante, com a experiência, os alunos aprendem a conviver uns com
os outros e revelam muito do seu eu. O professor tem a oportunidade de averiguar
habilidades, analisar atitudes, observar comportamentos, aprender a conhecer seus alunos,
o que muito o auxiliará no processo educativo. O esperado da avaliação é a constatação das
mudanças de comportamento da criança, seu crescimento integral ao longo do processo
educativo, não somente a partir do resultado final de um trabalho, mas levando – se em
consideração o desempenho da criança durante todo o decorrer da atividade, ou seja, a
avaliação deve ser contínua.
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12 Os PCN e o Teatro:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte no Ensino Fundamental, Partes 1 e 2
da linguagem do Teatro, traz as seguintes orientações:
Com a sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394, em 20 de
dezembro de 1996, após muita luta debates, manifestações de educadores, a atual
legislação educacional brasileira reconhece a importância da arte na formação e
desenvolvimento de crianças e jovens, com sua inclusão como componente curricular
obrigatório da educação básica, em seus diversos níveis. (artigo 26, parágrafo 2º).
No ensino fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e
trabalho e visa à formação artística e estética dos educandos. A área de Arte refere-se às
linguagens artísticas: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança.
Ao fazer, conhecer, apreciar produções artísticas, o aluno desenvolve sua cultura;
ações estas que integram o perceber, o pensar, o aprender, o recordar, o imaginar, o sentir, o
expressar, o comunicar. A realização de seus próprios trabalhos, assim como apreciação
destes, dos seus colegas, e a produção de artistas, se dá mediante a elaboração de idéias,
sensações, hipóteses e esquemas pessoais, tudo estruturado e transformado com a
interação, com os diversos conteúdos de arte manifestada nesse processo dialógico.
Os objetivos gerais do teatro ao longo dos terceiro e quarto ciclos, são os seguintes:
Conhecer as dimensões artísticas, históricas, estéticas, sociais e antropológicas do
teatro;
Conhecer organização dos papéis sociais e contexto da construção da linguagem
teatral;
Improvisar com elementos da linguagem teatral com recursos disponíveis na escola
e na comunidade;
Apreciação com vocabulário apropriado dos próprios trabalhos, dos colegas e de
diferentes profissionais;
Identificar os momentos históricos do teatro, estéticas predominantes, tradição dos
estilos e sua presença no teatro contemporâneo;
Conhecer acervo histórico do teatro e seus profissionais;
Acompanhar e registrar produção teatral da escola, da comunidade, pela mídia e as
criticas sobre essas produções;
Manter relação de respeito com seu próprio trabalho e o de seus colegas;
Tomar conhecimento de profissões, aspectos artísticos, técnicos e éticos, do teatro e
sobre seus profissionais. Reconhecer a pratica teatral como coletiva e solidária.
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14.1 Cronograma
Aulas: Atividades:
1ª, 2ª e 3ª Histórico, explicação, contos de lendas.
4ª, Encenação de história e manipulação pelos alunos.
5ª, 6ª e 7ª Produção de histórias pelos grupos.
8ª Explicação de técnicas para confecção dos personagens e
cenários.
9ª Levantamento dos personagens, cenários e técnicas de
sonoplastia.
10ª , 11ª e l2ª Confecção dos personagens e cenários pelos grupos.
13ª, 14ª e 15ª Ensaios gerais.
16ª, 17ª e 18ª Apresentações dos espetáculos.
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Figura 35: Mapa rizomatico para o projeto ação. Foto: Agosto/2007 (Giuseppe)
Introdução histórica.
Falamos inicialmente sobre o tema com uma apresentação geral dos conteúdos. No
inicio os alunos imaginavam que o teatro de sombras tratava-se somente das brincadeiras
de sombras que se faz com as mãos. Muitos ficaram surpresos quando falamos que as
sombras poderiam ser obtidas com figuras chapadas e serem manipuladas por detrás de
uma tela, onde está um foco luminoso refletindo luz.
Apresentamos para os alunos o histórico geral do material que reunimos e
interpretamos na pesquisa deste projeto.
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A 5ª, 6ª e 7ª aulas foram destinadas para os primeiros contatos dos alunos com a
elaboração ou escolha da história para produção do Teatro de Sombras, consideramos estas
aulas muito importantes, foram destinadas ao planejamento, à criação da idéia
principal,que fará nascer a produção teatral dos alunos. A maioria dos grupos tinha idéias
pré-definidas para as suas criações literárias.
Eles apresentavam os argumentos, os temas das histórias e nós conversamos a
respeito de possibilidades de criação dos elementos dos textos: diálogos, ações dos
personagens, entre outras. Para os grupos que escolheram uma história montada achamos
necessário verificar o conjunto: bonecos de sombras, encenação e adaptação do texto para
o ritmo do Teatro de Sombras que é diferente das outras vertentes do teatro. Tivemos um
momento para refletir num contexto geral a escolha dos principais materiais a serem
utilizados na construção do espetáculo; dar estimativa de tempo de produção e ensaios e
duração das apresentações finais. Em todos os momentos das aulas deixamos os alunos
conduzirem o processo criativo, porém eles solicitaram a nossa opinião para as suas
escolhas. Nós demos acessórias como sugestões, mas no final a decisão deles é que dava
definição às histórias.
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A maioria dos grupos já está em fase final das histórias, alunos que aparentavam ser
desligados, estão mais antenados e produzindo! Novos diálogos:
Rafael: A nossa história, o final é surpresa, a gente não vai te mostrar antes!
Victor: É , se não, perde a graça!
Lucas: Professor! Lê a nossa? Eu leio pra você, porque é rascunho!
Alessandro: Sim! Nós estamos bolando!
Leonardo: Qualquer nome?
Amanda: Professor! Ó, eles não estão ajudando!
Cainã: Não professor! É que a gente tem outra idéia!
Carlos:Elas não querem ouvir a gente!
Stéphanie: Não professor! A gente vai entrar num acordo!
Apesar das dificuldades com a sonoplastia, essa aula foi produtiva e demonstram
interesse, como mostra o diálogo.
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Os ensaios da 13ª., 14ª.e 15ª. aulas foram experiências para verificar se os alunos
estavam satisfeitos com os elementos que produziram nas aulas anteriores. Nesses testes
utilizamos um recurso que os alunos gostaram muito. Na frente da tela colocamos um espelho
que mostrava todo o espaço visual do espetáculo. Dessa maneira os alunos conseguiam ver as
ações das silhuetas e em cada teste de manipulação eles treinavam a percepção visual. Ao
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Os grupos que ensaiaram nesta aula saíram-se bem, pois mesclaram alunos
extrovertidos com introvertidos, com exceção de um grupo que desde o inicio foi
problema, os outros dois, com pequenas correções, ficaram prontos para se apresentarem.
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Os grupos que não se saíram bem nos ensaios repetiram os exercícios para
aprimoramento.
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Os grupos que se apresentam neste dia tiveram bom desempenho durante o trabalho
e se saíram muito bem.
O grupo da Amanda, Flavio, Stéphanie, Carlos e Cainã, no inicio deu algum
trabalho mas depois seguiram e deixaram os demais para trás e com as pequenas correções
dos ensaios se saíram muito bem com a história: “O grande mentiroso”.
Alexander, Caio, Henrique, Rafael e Vitor, com a história: “O sonho dos Pan-
americanos”, inspirados pelo evento realizado em nosso país neste ano se saíram muito
8
A dupla Aline e Jacqueline, que com a nova constituição passou a ser um trio, se
saiu muito bem em sua apresentação e não tiveram seu desempenho atrapalhado pela nova
integrante, muito pelo contrário, contribuiu muito, pois estavam sobre-carregadas na
apresentação.
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Os grupos que se apresentaram por último, apesar de terem dado trabalho durante
as atividades, se saíram dentro do esperado, pois também tiveram as outras apresentações
como exemplo.
O grupo da Érika, Tamiris e Thayna, como já era esperado se saíram bem, após os
reajustes necessários de confecção de personagens, cenário e sonoplastia; depois que se
“ligaram” melhoraram muito seu desempenho.
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15 CONCLUSÃO
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O teatro de sombras é uma arte milenar oriental, nasce da mistura da matéria com a
projeção da luz, sua imagem projetada em plano revela um sinal oculto e nos remete a um
ambiente flutuante. Sabe-se que o teatro de sombras já era praticado na pré-história quando o
homem projetava imagens de sombras nas paredes das cavernas.
A linguagem das sombras em nossa interpretação é um mergulho não intencional na
essência das coisas. É uma arte do irreal transformado em realidade. Ela nos fez refletir sobre
outras possibilidades diferentes do teatro objetivo e imediato, real ou racional. Ela explora o
imaginário algo além do que vemos com os “olhos da razão”. O teatro de sombras faz parte
do teatro de formas animadas que está ligado a rituais primitivos devido as suas características
animistas, objetos sagrados e visual incorporado de simbologias. Este teatro está ligado ao
mundo da fantasia infantil e pensamento poético do adulto. Trabalhar com a linguagem de
sombras é exercitar-se em gêneros que são diferentes do teatro convencional. É desenvolver
formas mais abstratas, mais visuais que exploram a sensibilidade, os meios de expressão, da
comunicação interna e externa.
Propor o desafio de realizar um espetáculo teatral é dar ao aluno um exercício de
comunicação em que ele precisará se expressar e encontrar meios de se fazer entender.
Através das atividades deste projeto cada aluno teve um encontro com um espaço para
expressar a si mesmo e uma cultura diferenciada como o teatro de sombras. Na experiência
prática notamos nos alunos envolvimento num processo de aprendizagem que desenvolveu
habilidades como a socialização, a criatividade, a coordenação, a memorização, vocabulário,
o pensamento crítico entre outras importantes para a formação de um individuo. As atividades
proporcionaram uma vivência com a linguagem do teatro de sombras que possivelmente
ampliou o universo cultural do aluno.
Este projeto nos trouxe um entusiasmo de trilhar um caminho desconhecido.
Descobrimos técnicas diferentes, sensações inéditas, dificuldades novas. E proporcionar aos
alunos uma vivência de algo estranho à cultura brasileira foi um desafio porque tínhamos
poucas referências e também prazeroso pela tentativa de experimentar.
Consideramos esta experiência uma tentativa de resgatar o primitivo do ser humano.
Percebemos que não existe o certo ou errado, o importante é conseguir estimular a
curiosidade, a vontade de fazer e se arriscar sem medo de errar, incorporar a experiência como
uma brincadeira que diverte. Cada aluno passou e recebeu um significado das encenações de
todos os seus elementos: nos personagens, nas formas das projeções das sombras, nas
manipulações dos bonecos, nas experimentações das projeções, na criação das histórias, nas
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
• AMARAL, Ana Maria. Teatro de animação - Da teoria à prática. São Paulo: Ateliê
Editorial, 1997.
• AND, Metin. Aspectos e funções do teatro de sombras turco. In: V. Beltrame (Org.)
Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 31-39 – Florianópolis: UDESC, 2005.
• LADEIRA , Idalina; CALDAS, Sarah; Fantoche & Cia. 2 a Ed. São Paulo: Editora
Scipione, 1993.
8
• LESCOT, Jean Pierre. Poesia e amor no teatro de sombras. In: V. Beltrame (Org.).
Teatro de sombras: técnica e linguagem, p. 9-11 – Florianópolis: UDESC, 2005.
OUTRAS REFERÊNCIAS:
• SOMBRA, Clube da. Ensaio – Sombras sobre o corpo, Adriana Donato – Artista
Visual. Disponível em: http://www.clubedasombra.com.br/artigos_full.php?id=29 -
Acesso em:13 abr.2007.
• Figura 1:
BERTHOLD, Margot. Historia mundial do teatro. [ tradução Maria Paula V. Zurawski,
J. J. Guinsburg, Sergio Coelho e Clóvis Garcia ] – São Paulo: Perspectiva, 2001, p 15
• Figuras 2, 8 e 10:
WARD, Keeler. Javanese Puppets
• Figura 11:
AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas – Máscaras, bonecos e objetos. 3a Ed.
São Paulo: Editora USP, 1996, p 81
• Figuras 13 e 17:
DVD the art of Lotte Reiniger (Criação de um filme de silhuetas), 1969.
8
• 14 a 16:
REINIGER, Lotte. Filme/Películas. Insituto Goethe. Editora Mayr – Miesbach. Munich,
1999, p 25, 30 e 32 respectivamente.
• Figura 28:
Disponível em: http://www.marcello.pro.br/sombras.htm Acesso em: 12 mar. 2007