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2.1. Introdução........................................................................................................ 18
2.2. Equação Fundamental da Estática dos fluidos ................................................ 18
2.3. Variação da pressão num fluido em repouso – Hidrostática ........................... 23
2.4. Pressão absoluta e pressão manométrica – Manometria ................................. 25
2.5. Aerostática ....................................................................................................... 28
2.6. Forças hidrostáticas sobre superfícies submersas ............................................ 29
2.6.1. Forças hidrostáticas sobre superfícies submersas planas ......................... 33
2.6.2. Forças hidrostáticas sobre superfícies submersas curvas ......................... 39
2.7. Flutuação dos corpos – Princípio de Arquimedes ........................................... 45
2.8. Estabilidade de corpos flutuantes .................................................................... 47
1
Capítulo 5 Escoamento viscoso incompressível em dutos 89
Apêndice 109
2
Capítulo 1
Conceitos Fundamentais
Figura 1.1
1
1.2. Medidas e sistemas de unidades
As leis da Mecânica exprimem relações entre grandezas que apresentam
dimensões de comprimento, tempo, força, energia e temperatura ou uma combinação
delas. As grandezas com dimensão de comprimento (L), de tempo (t), de temperatura
(T) ou de massa (M) são consideradas básicas ou primárias, pois a grande totalidade
das grandezas estudadas na Mecânica pode ser expressa em função dessas grandezas.
Grandezas ou dimensões são quantidades físicas. A partir disso, diz-se que
temperatura, tempo, massa, força e comprimento são consideradas grandezas básicas. Já
um no adimensional não tem dimensão e, portanto, não é uma grandeza física.
Exemplos: π, e,...
A operação de medição envolve a comparação com um valor unitário da
grandeza medida, um valor padrão. A afirmação de que uma certa distância vale 25
metros significa que ela é igual vinte e cinco vezes o comprimento de uma régua ou fita
métrica de 1 metro. O que define o padrão a ser utilizado na medição é a Unidade de
medida.
Uma unidade é um modo particular de ligar um número a uma grandeza
segundo um determinado padrão de medida. Assim, o comprimento, por exemplo, é
uma dimensão associada com variáveis como distância, deslocamento, largura, deflexão
e altura, enquanto centímetros e polegadas são ambas unidades numéricas para
expressar comprimento, cada qual definida a partir de um padrão de medição.
Os sistemas de unidades mecânicas podem ser classificados basicamente da
seguinte forma:
Coerentes tipo A [M], [L], [t], [T]
de
Unidades
Não-coerentes
tipo C [M], [F], [L], [t], [T]
(gc ≠ 1)
2
Sistemas Coerentes são sistemas de unidade nos quais não são necessárias
constantes de ajuste, ou fatores de correção de unidades (gc), para compatibilizar as
definições de massa e força com a 2a Lei de Newton. São eles:
A1) Sistema Internacional (SI) ou MKS
[M] ⇒ g
[L] ⇒ cm
1dyna = 1g·1cm/s2
[t] ⇒ s
[T] ⇒ ºC ou K
[F] ⇒ kgf
1utm – unidade técnica de massa
[L] ⇒ m
1kgf = 1utm·1m/s2
[t] ⇒ s
[T] ⇒ ºC ou K
3
B2) Sistema Gravitacional Métrico
[F] ⇒ lbf
1lbf = 1slug·1ft/s2
[L] ⇒ ft 1slug = 32,2lb
1atm = 14,716lbf/in2 = 14,716psi
[t] ⇒ s
[T] ⇒ ºF ou ºR
1 M ⋅ L
F= ⋅ m ⋅ a ⇔ gC = (1.1)
gC F ⋅ t2
São eles:
[F] ⇒ kgf
[M] ⇒ kg
kg ⋅ m
g C = 9,81 ⋅
[L] ⇒ m kgf ⋅ s 2
[t] ⇒ s
[T] ⇒ ºC ou K
[F] ⇒ lbf
[M] ⇒ lb
lb ⋅ ft
g C = 32,17 ⋅
[L] ⇒ ft lbf ⋅ s 2
[t] ⇒ S
[T] ⇒ ºF ou ºR
4
As diversas escalas de temperatura podem ser correlacionadas entre si
conforme a tabela 1.1.
Tabela 1.1.: Relação entre as escalas de temperaturas
K ºC ºF ºR
K ºC
ºR
ºF
273 0 32 492
ºC − 0 º F − 32
= (1.3)
100 180
º R =º F + 460 (1.4)
5
1.3. Fluidos como meios contínuos
A teoria dos meios contínuos está preocupada com os efeitos médios ou
microscópicos de muitas moléculas. Um contínuo é toda e qualquer substância
infinitamente divisível na qual o efeito individual de cada molécula é desprezado em
contrapartida ao efeito macroscópico (total).
Os fluidos são considerados meios contínuos porque o que interessa no estudo
da Mecânica dos fluidos é o efeito médio das inúmeras moléculas que o compõe. Esses
efeitos são de grande importância para a Engenharia, pois eles são percebidos e
medidos.
Quando o fluido é visto como um meio contínuo, suas propriedades têm valor
definido em cada ponto do espaço, isto é, são funções contínuas da posição e do tempo.
Essas funções, conhecidas também como campos, podem ser escalares, vetoriais ou
tensoriais.
Os principais campos estudados na Mecânica dos Fluidos são:
Campo de Velocidade;
Campo de Densidade;
Campo de Tensões.
.P
z
B (corpo)
X = ( x, y, z )
0 y
x
Figura 1.2.: corpo contínuo
6
Tabela 1.2.: Principais campos estudados na Mecânica dos fluidos
ρ : B × I → ℜ+ Campo de densidade
⇒
( X, t ) ρ ( X, t ) = ρ ( x, y, z, t ) (campo escalar)
v : B × I → ℜ3 Campo de velocidade
⇒
( X, t ) v ( X, t ) = v ( x, y, z, t ) (campo vetorial)
1.4. Viscosidade
Os fluidos são substâncias que se deformam continuamente quando submetidos
à ação de uma tensão de cisalhamento. Existe uma importante relação entre a tensão de
cisalhamento aplicada e a taxa de deformação.
Nos chamados Fluidos Newtonianos, a tensão de cisalhamento é diretamente
proporcional à taxa de deformação do fluido. A constante de proporcionalidade é
chamada de viscosidade absoluta ou dinâmica (µ) e mede a resistência do fluido à
deformação. Num escoamento unidimensional, esta relação pode ser expressa da
seguinte forma:
du
τ yx = µ (1.5)
dy
Dimensões de µ:
[F] [L] [t] [T] ⇒ [µ] = [F] [L] –2 [L] [L] –1 [t] ⇒ [µ] = [F] [L] –2 [t]
7
A viscosidade de um fluido é algo quase intuitivo. Considere dois fluidos A e
B newtonianos sob a ação de uma força F de cisalhamento que atua sobre uma placa de
área A. No fluido A, a velocidade adquirida pela placa é VA e, no fluido B, VB. Sabendo
que VA > VB, conclui-se que o fluido A é menos viscoso que B, isto é: µA < µB
VA VB
F F
y
µA fluido δ µB fluido
x
Entretanto, esta mesma conclusão intuitiva pode ser obtida a partir da equação
(1.5).
fluido A:
du vA − 0 δ ⋅ τ yx
τ yx = µ A ⋅ ∴ τ yx = µ A ∴ µA = (1.6)
dy δ vA
fluido B:
du VB − 0 δ ⋅ τ yx
τ yx = µ B ⋅ ∴ τ yx = µ B ∴ µB = (1.7)
dy δ VB
cm2
Unidade de υ: υ = 1 ⋅ st(stokes) = 1 ⋅
[ ]
s
υ gasolina = 0, 90 ⋅ st
υ diesel = 7, 6 ⋅ st
8
Exemplos:
1- Um bloco de massa M desliza em um plano inclinado formando um ângulo θ com a
horizontal sobre uma película de óleo SAE 30 a 20ºC. A espessura da película vale h.
Sabendo que a viscosidade absoluta do óleo e a aceleração da gravidade valem µ e g,
determine:
A) A equação diferencial do movimento;
B) A velocidade do bloco em função do tempo v = v ( t ) sabendo que v ( 0 ) = 0 ;
C) A velocidade limite em m/s.
Dados: M = 2 kg
A = 4,0 x 10 –3 m2
H = 0,2 mm
θ = 30º
µ = 0,4 N.s/m2
g =10 m/s2
Considerar linear o perfil de velocidades no óleo.
Solução:
y
h N
A)
FAT
θ θ
θ x
P
FAT
N
9
τ yx =
FAT
A
∴ µ⋅
du
dy
F
= AT
A
∴ µ ( V h− 0 ) = FA AT
∴
µ⋅A⋅v
FAT = (1.9)
h
∑ Fy =0 ∴ N − m ⋅ g ⋅ cos θ = 0 (1.11)
µ⋅A dV dV µ ⋅ A
Mg sen θ − V=M ∴ + = g sen ( θ ) (1.12)
h dt dt Mh
B) Integrando a equação diferencial (1.12), obtém-se:
− λ⋅ dt
v(t) = e ∫ ⋅
(∫ e∫
λ⋅ dt
)
⋅ g ⋅ sen θ ⋅ dt + C , λ =
µA
Mh
1
v(t) = e−λ⋅ t ⋅ ⋅ eλ⋅ t ⋅ g ⋅ sen θ + C
λ
g ⋅ sen θ
Como v ( 0 ) = 0 : C = − . Assim:
λ
g ⋅ sen θ
v( t) = ⋅ ( 1 − e−λ⋅ t ) (1.13)
λ
g ⋅ sen θ g ⋅ sen θ
C) vlim = lim v (t) = lim ⋅ (1 − e−λ⋅t ) =
t→+∞ t→+∞ λ λ
10 ⋅ sen (30º)
Vlim = ∴ Vlim = 1, 25 ⋅ m s
0, 4 ⋅ 4, 0 ⋅ 103
0, 2 ⋅ 10−3 ⋅ 2
10
2. Dois discos coaxiais horizontais com diâmetros d estão separados por uma distância h
(figura 1.6). O disco inferior está fixo e o superior gira a uma velocidade angular
constante ω necessitando de um torque T. Desprezando-se os efeitos laterais, calcular a
viscosidade absoluta µ do óleo que preenche o espaço entre os dois discos.
ω dA
v = ωr τ xy
r
d T
v=0
Tv Tv
(a) (b) (c)
Figura 1.7.: (a) diagrama de corpo livre do disco móvel; (b) diagrama de corpo livre da
película de fluido; (c) perfil de velocidade e distribuição de tensões cisalhantes
O disco superior gira a uma velocidade angular constante. Dessa forma, pela
equação de movimento de rotação de corpos rígidos, pode-se mostrar que o torque T
aplicado ao disco é igual ao torque viscoso:
∑M 0 = Iα ∴ ∑M 0 =0 ∴ − T + Tv = 0 ∴ T = Tv (1.14)
11
O torque viscoso representa a resistência do fluido ao movimento de rotação
que lhe é imposto pelo disco e pode ser calculado através das tensões cisalhantes
atuantes no fluido. Como se trata de um fluido newtoniano, a distribuição de tensões
cisalhantes pode ser determinada através da equação (1.5).
du ωr − 0 µωr
τ xy = µ ∴ τ xy = µ ∴ τ xy = (1.15)
dy h−0 h
A equação (1.15) mostra que as tensões cisalhantes variam linearmente com a
distância polar r. A força e o torque viscosos, portanto, variam com a distância radial r,
de forma que os seus valores globais podem ser calculados integrando sobre área
submetida ao cisalhamento.
dFv µωr dTv µωr µωr2
τ xy = ∴ dFv = dA ∴ = dA ∴ dTv = dA
dA h r h h
d
2 3 2 2π
µωr µωr µωr3
dTv =
h
rdrdθ ∴ dTv =
h
drdθ ∴ Tv = ∫∫ h
drdθ
0 0
πµωd 4
Tv = (1.16)
32h
De (1.14) e (1.16), tira-se:
32hT
µ= (1.17)
πωd 4
12
1.5. Fluidos newtonianos e não newtonianos
Os fluidos newtonianos são fluidos que se caracterizam pelo fato de a tensão de
cisalhamento ser proporcional à taxa de deformação. Água, ar, gasolina, diesel são
exemplos de fluidos newtonianos.
Os fluidos não-newtonianos como, por exemplo, mel, sangue e pastas, são
fluidos que se caracterizam pelo fato de a tensão de cisalhamento não ser proporcional à
taxa de deformação.
τ yx
pseudo-plástico
plástico ideal
newtoniano
não-newtoniano
du
dy
Figura 1.7.: curvas tensão cisalhante versus taxa de deformação
m= ∫ ρ v ⋅ n dS (1.14)
S
Q= ∫ v ⋅ n dS (1.15)
S
3
No sistema internacional de unidades, a unidade de Q é m .
s
13
1.7. Descrição e classificação do movimento dos fluidos
A Mecânica dos fluidos estuda os fluidos em repouso ou em movimento. O
movimento de um fluido é conhecido genericamente como escoamento.
Tal como na Mecânica dos corpos rígidos, a mecânica dos fluidos se subdivide
em dois ramos de estudo: a estática e a dinâmica dos fluidos.
A estática dos fluidos estuda os fluidos em repouso e os seus princípios têm
grande aplicabilidade, principalmente no projeto de sistemas hidráulicos e/ou
pneumáticos, comportas, tanques, reservatórios, dentre outros.
A dinâmica dos fluidos trata dos escoamentos e os seus princípios são todos
conhecidos de estudos anteriores de Mecânica dos corpos rígidos e Termodinâmica,
diferindo-se apenas no seguinte aspecto: no contexto da mecânica dos fluidos, esses
princípios são aplicados a volumes de controle, ao passo que na Termodinâmica e na
Mecânica dos corpos rígidos os mesmos princípios são aplicados a sistemas ou volumes
materiais.
A dinâmica dos fluidos é fortemente influenciada por características físicas do
campo de escoamento. A viscosidade é uma dessas características. Os escoamentos
podem ser classificados em viscosos ou invíscitos.
Os escoamentos invíscitos são aqueles em que os efeitos da viscosidade sobre o
movimento do fluido são desprezados. Embora não existam fluidos invíscitos, a
inviscibilidade do escoamento é uma boa simplificação em alguns casos e produz
resultados aceitáveis.
Os escoamentos viscosos são os mais importantes no estudo da mecânica dos
fluidos. Informações de grande interesse, como perfis de velocidade, distribuição de
tensão e de pressão, estão ligadas à ação das forças de atrito viscoso.
A variação de massa específica do fluido influi também na classificação dos
escoamentos. Quando a variação de massa específica é desprezível num escoamento,
diz-se que o escoamento é incompressível. Os escoamentos líquidos são considerados
freqüentemente como incompressíveis.
Quando a variação da massa específica do fluido é considerada no modelo de
escoamento, diz-se então que o escoamento é compressível. Os escoamentos gasosos
são exemplos típicos de escoamento compressível, o que não significa que sejam
sempre compressíveis. Na realidade, a classificação de um escoamento em
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incompressível ou compressível depende de critérios que serão abordados no momento
oportuno, mas que não tem a ver com o fato de o fluido ser líquido ou gasoso.
{
Hidrostática e Aerostática;
Manometria;
ESTÁTICA
Forças sobre superfícies submersas;
Flutuação e Estabilidade.
Fluido ideal
(µ = 0) { Compressível
Incompressível
{
Permanente, ou;
DINÂMICA Não-permanente.
Escoamento
laminar
Compressível, ou;
Incompressível.
Fluido viscoso
(µ ≠ 0)
{
Permanente, ou;
Não-permanente.
Escoamento
turbulento
Compressível, ou;
Incompressível.
15
Caso contrário, é dito transiente. Se nenhuma de suas propriedades (A) varia com o
tempo numa seção determinada, diz-se que o escoamento é uniforme por seção.
O fato de um escoamento ser potencial está ligado à existência de um
potencial de velocidade. O potencial de velocidade é uma função escalar φ que
satisfaz a seguinte condição:
∇φ = v (1.17)
i j k
∂ ∂ ∂ ∂ 2φ ∂ 2φ
∇ × v = ∇ × (∇φ) = = i − −
∂x ∂y ∂x ∂y∂z ∂z∂y
∂φ ∂φ ∂φ
∂x ∂y ∂z
∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ
− j − + k − = 0
∂x∂z ∂z∂x ∂x∂y ∂y∂x
∇×v = 0 (1.18)
ω ω=0
rotacional irrotacional
16
dependem. Um escoamento é dito n-dimensional, com n = 1, 2, 3, se o campo de
velocidades espaciais apresentar n componentes.
Exemplos:
17
Capítulo 2
Estática dos fluidos
2.1. Introdução
Os fluidos são, por definição, substâncias incapazes de resistir a tensões
tangenciais ou de cisalhamento, mas capazes de resistir a esforços ou tensões normais.
Essa capacidade de resistir e transmitir esforços normais é de grande utilidade em
diversas atividades da Engenharia, sobretudo no funcionamento de sistemas hidráulicos,
instrumentos de medição de pressão, dentre outros.
Nos fluidos em repouso ou experimentando movimento de corpo rígido, não há
tensões de cisalhamento atuantes e, por conseguinte, deformação cisalhante. Este é o
ponto de partida para o estudo de um importante ramo da Mecânica dos fluidos: a
Estática dos fluidos.
18
T : B × I → R3×3
σ 0
xx 0
T(X, t) = 0 σyy 0 ∀ X = (x, y, z) ∈ B, t ∈ I (2.2)
0 0 σzz
Tij = 0 , i ≠ j
T(X, t) = T t n (2.3)
n
z n
X
σ zz
τ zy
τ zx
0 y
τ yz
τ xz
σ yy
x
σ xx τ xy τ yx
Figura 2.1.: as seis componentes que definem o estado geral de tensões do corpo B num
ponto X = (x, y, z)
19
σxx
τ xy τ xz 1
ˆ = τ yx
Superfície 1 : T1 = σxxˆi + τ xyˆj + τ xzk σyy τ yz 0
τ
τ zy σzz 0
zx
σxx
τ xy τ xz 0
ˆ = τ yx
Superfície 2 : T2 = τ yxˆi + σ yyˆj + τ yzk σyy τ yz 1
τ
τ zy σzz 0
zx
σxx
τ xy τ xz 0
Superfície 3 : T3 = τ zx i + τ zy j + σzzk = τ yx
ˆ ˆ ˆ σyy τ yz 0
τ
zx τ zy σzz 1
Como nos fluidos em repouso atuam apenas esforços normais, o vetor tensão
em cada ponto do fluido é paralelo ou colinear ao vetor normal unitário, isto é:
T // n ⇒ T = −λn n (2.4)
No entanto:
T = Tt n = T n (2.5)
Logo:
T = −λn I (2.6)
Como o tensor das tensões independe do vetor normal n , a equação (2.6) pode ser
reescrita da seguinte forma:
T = −λ I (2.7)
Na prática, o termo lâmbida é a pressão do fluido (p) que é sempre igual em módulo
independente da direção. Assim:
−p 0 0
T = −p I = 0 −p 0 (2.8)
0 0 −p
O tensor T da equação (2.8) define o estado geral de tensões para um fluido
20
O estado de tensões de um corpo contínuo, tal como um fluido, é devido à ação
das chamadas forças de superfície. As forças de superfície são aquelas que atuam nas
fronteiras de um meio contínuo através do contato direto como, por exemplo, as forças
hidrostáticas (nos fluidos em repouso) e a força de atrito viscoso (nos fluidos em
movimento).
dFs
T=
dA
∴ dFs = T dA ∴ Fs = ∫ T dA
∂B
Fs = ∫T n dA (2.9)
∂B
FB = ∫ ρ g dV (2.10)
B
∑F S + ∑ FB = 0 ∴ ∫ T n dA + ∫ ρ g dV = 0 (2.11)
∂B B
21
∫ div(T) dV + ∫ ρ gdV = 0 ∴ ∫ (div(T) + ρ g) dV = 0 ∴
B B B
−p 0 0
div(T) + ρ g = 0 ∴ div(−pI) + ρ g = 0 ∴ div 0 −p 0 + ρ g = 0
0 0 −p
Mas:
−p 0 0
∂ p ∂ p ∂ p
div(T) = div(−pI) = div 0 −p 0 = − , , = −∇p
∂ x ∂ y ∂ z
0 0 −p
Assim:
22
2.3. Variação da pressão num fluido em repouso – Hidrostática
A Hidrostática é o ramo da Estática dos fluidos que estuda a variação de
pressão num fluido em repouso. Seus princípios são de grande importância em diversas
aplicações práticas de Engenharia, como no desenvolvimento de sistemas hidráulicos e
instrumentos de medição de pressão, por exemplo.
O princípio fundamental da Hidrostática estabelece que num fluido em repouso
a pressão varia em função da profundidade. Este resultado pode ser deduzido
matematicamente através da equação (2.13).
A figura 2.2 mostra um reservatório que armazena determinado fluido em
repouso, de densidade ρ.
y g = −gjˆ
p0 (pressão atmosférica)
x
h
h0
Fluido
expressão do tipo p = p ( y ) .
p y
Fazendo h = y 0 − y :
p = p0 + ρgh (2.16)
23
A equação (2.15) é conhecida como a Equação fundamental da Hidrostática.
A forma (2.16) é forma integrada da equação fundamental da Hidrostática, supondo que
ρ e g são constantes.
A equação (2.16) é a comprovação matemática de dois princípios da
Hidrostática:
¾ Num fluido em repouso, a pressão varia apenas em função da
profundidade;
¾ A pressão se transmite integralmente a todos os pontos do fluido.
24
2.4. Pressão absoluta e pressão manométrica – Manometria
A primeira tentativa em medir pressão foi realizada em meados do século XVII
pelo cientista italiano Evangelista Torricelli. Ele conseguiu medir a pressão que o ar
exercia sobre a superfície da Terra, usando um instrumento bastante simples chamado
Barômetro.
O Barômetro de Torricelli constituía-se de um tubo de ensaio totalmente cheio
de mercúrio que era mergulhado de boca para baixo numa cuba cheia com o mesmo
fluido. Torricelli observou que, uma vez mergulhado na cuba, a coluna de mercúrio
dentro do tubo se estabilizava a uma altura de 760 mm medida a partir da superfície
livre de fluido contido na cuba.Diante desse resultado experimental, ele concluiu que a
pressão exercida pelo ar sobre a superfície da Terra era igual à pressão exercida por uma
coluna de mercúrio de 760mm de altura.
Vapor
de Hg
p0 h = 760mm de Hg
1 2
Hg
Mais uma vez, a equação fundamental da Hidrostática pode ser usada para
comprovar um resultado experimental. O resultado obtido a partir da experiência de
Torricelli pode ser deduzido com base na equação fundamental da Hidrostática.
Como a pressão em um fluido em repouso varia apenas com a profundidade:
p1 = p2 . Mas: p1 = p0 e p2 = p v + ρHg gh . Assim:
p0 = p v + ρHg gh (2.17)
25
Sabendo que a densidade do mercúrio é 13000 kg/m³, g = 9,806 m/s² e h = 760
mm e substituindo-os na equação (2.18):
Kg m
p 0 = 13000 3 9, 806 2 (760 ⋅ 10−3 m) = 1, 01 ⋅ 105 Pa
m s
Outra aplicação do Princípio fundamental da Hidrostática está na medição de
pressão. A esse método experimental para medir pressão dá-se o nome de Manometria.
A Manometria consiste em determinar valores de pressão através do deslocamento de
uma coluna de líquido. Na verdade, os manômetros diferenciais de coluna de líquido,
nome dado aos instrumentos usados na prática da Manometria, medem valores de
pressão manométrica.
A pressão manométrica corresponde à diferença entre a pressão absoluta e a
pressão atmosférica local. A pressão que se mede no pneu de um carro é a pressão
manométrica. Quando o pneu está completamente vazio, a pressão manométrica é zero,
enquanto que a pressão absoluta no pneu é igual à pressão atmosférica.
pman = p − p0 (2.19)
A h1
h
H
Fluido com densidade elevada
26
p1 − pA = ρA gh1 .(−1)
p1 − p2 = ρ0 gH
p − pB = ρBgh2 +
2
pA − pB = ρBgh2 − ρA gh1 + ρ0 gH
pA − pB = ρ0 gH (2.21)
Exercício proposto: Calcule o erro relativo e que se comete ao utilizar o resultado acima
para o caso em que:
Nota:
eA = erro absoluto =| MC − MA |
eA
er = erro relativo =
| MC |
MC = resultado correto
MA = resultado encontrado
27
2.5. Aerostática
Aerostática é o ramo da Estática dos fluidos que se preocupa em estudar a
variação da pressão do ar com a altitude.
A equação (2.15) se aplica a todos fluidos líquidos ou gasosos. O ar é uma
mistura compressível de vários gases, isto é, sua densidade varia em função da pressão e
da temperatura. Em condições especiais de temperatura e pressão, o ar se enquadra no
modelo dos gases perfeitos cuja equação constitutiva é:
pv = k arT (2.22)
onde Kar é a constante do ar, v é o volume específico, T é a temperatura em escala de
temperatura absoluta e p é a pressão.
Da equação (2.22), pode-se deduzir uma expressão que relaciona a densidade
do ar à temperatura e à pressão:
p
ρ= (2.23)
k arT
Substituindo a equação (2.23) em (2.15), obtém-se a seguinte equação diferencial:
dp gp
=− (2.24)
dy k arT
A solução da equação diferencial (2.24) pode fornecer uma relação matemática
que relaciona a pressão (p) com a altitude (y). Resta saber como a temperatura do ar (T)
varia com a altitude. Para isso, é necessário estabelecer modelos com base em algumas
hipóteses simplificadoras.
a)Para pequenas altitudes, é razoável supor que a temperatura é constante. Assim:
g
dp g −
kar T
y
=− dy ∴ p = Ce , y ≥ 0 , T(em kelvin)
p k arT
g
− y
k arT
p = patm e , y ≥ 0 , T (em kelvin) (2.25)
28
b) Para grandes variações de altitude, pode-se supor que a temperatura decresce
linearmente com a altitude, isto é:
T y
dT
dy
= −m , m = const. ∴ dT = −mdy ∴ ∫ dT = ∫ −mdy ∴
T0 0
T = T0 − my (2.26)
p y
dp −g dy dp −g dy
p
=
k ar T0 − my
∴ ∫ p
= ∫ k ar T0 − my
∴
p0 0
g
m mkar
p = p0 1 − y (2.27)
T0
As equações (2.25) e (2.27) são duas expressões analíticas que definem cada
qual um modelo de atmosfera. Os resultados fornecidos por cada uma serão aceitáveis
se as hipóteses do modelo escolhido atender a situação física real proposta.
29
Um sistema força-conjugado no qual as forças distribuídas são substituídas pela
força resultante da distribuição associada ao momento de um binário resultante,
ambos aplicados num dado ponto O.
F4 F M0
F3
F2 = O
F4
Figura 2.6.: sistema de várias forças substituído por um sistema equivalente força-
conjugado
F
F4
F3
F2 O
PA
F1
Figura 2.7.: sistema de varias forças substituído por um sistema equivalente no qual
aparece uma força resultante aplicada a um ponto (PA)
30
Existem, portanto, duas formas de se determinar forças hidrostáticas sobre
superfícies submersas. A primeira consiste em substituí-las por um par força –
Momento resultantes e a segunda, por uma força hidrostática resultante aplicada no
chamado Centro de pressão (C.P) (ponto de aplicação da força hidrostática resultante).
As forças hidrostáticas são forças de superfície, pois resultam do contato físico
direto entre o fluido e a superfície. Sendo assim, considere uma força infinitesimal
n dF
r
θ
0
x
0
F= ∫ −p n dA (2.29)
S
calculado considerando mais uma vez uma superfície S e uma força infinitesimal dF
atuando sobre um elemento infinitesimal de área dA . O momento devido à força
infinitesimal dF em relação ao ponto O é dado por:
dM0 = r × dF (2.30)
31
Integrando (2.31) sobre a superfície submersa S, obtém-se:
M0 = ∫ (n × r) p dA (2.32)
S
y
r*
r
* O*
O x
z
Figura 2.9.: força hidrostática resultante e centro de pressão O*
32
∫ (OO ¨+r ) × dF
* *
OO × F = ∫ r × dF ∴ OO* × F = * ∴
S S
* *
OO × F = ∫ OO × dF + ∫ r * × dF
S S
* *
OO × F = OO × F + M O* = 0
MO* = 0 (2.34)
M0 = (n × r) ∫ p dA (2.36)
S
33
Superfície livre do fluido 0
θ (
F p = p0 + ρgh h
n
y
dy
y C
dA
x
C = ( xc , yc ) - centróide da superfície
O*
η
O* = ( x * , y * ) - centro de pressão
Substituindo (2.37) em (2.35), pode-se obter um resultado tal que a força hidrostática
resultante é descrita em termos da pressão exercida pelo fluido no centróide da
superfície submersa e da sua área.
F = ∫ −p dA n ∴ F = ∫ − (p0 + ρ gh ) dA n (2.38)
S S
Considere p0 0 . Como a pressão varia com a profundidade h, segundo a equação
(2.37) e h = ysen (θ ) :
F = ∫ −ρ gysen (θ ) dA n ∴ F = −ρ gsen (θ ) ∫ y dA n (2.39)
S S
34
∫ ydA = Ay c (2.40)
S
ρ gsen(θ)∫ y²dA
Fy * = ρ gsen(θ)∫ y²dA ∴ y * = S
S
ρ gy c sen(θ)A
∫ y²dA
y* = S
(2.42)
Ay c
ρ gsen(θ )∫ xydA
F x * = ρ gsen(θ )∫ xydA ∴ x* = S
S
ρ gy c sen(θ)A
35
∫ xy dA
x* = S
(2.43)
A yc
I xx
y* = (2.45)
ycA
Pelo Teorema de Steiner:
I xx = I ψψ + y c ²A (2.46)
I xy = I ψη + y c x c A (2.47)
I xy I ψη + y c x cA I ψη
x* = ∴ x* = ∴ x* = x c +
y cA y cA y cA
I xx I ψψ + y c ²A I ψψ
y* = ∴ y* = ∴ y* = y c +
y cA y cA y cA
Finalmente, as coordenadas do centro de pressão são dadas por:
36
I ψη Iψψ
(
)
O* = x*, y* = xc +
yc A
, yc +
yc A
(2.48)
A) Calcular a força exercida pela água sobre a barragem por unidade de largura (em
N.m).
B) Determinar o valor mínimo de b para assegurar a estabilidade da barragem.
g b
H y
L
x
37
Solução:
(A)
M0
d
dA
Fat
F
L
P
N
Figura 2.12.: Diagrama de corpo livre da barragem
dA = L dy
h = H−y
n = −ˆi
H
F = −∫ pdA n ∴ F = −∫ (p0 + ρ gh ) dA n ∴ F = ∫ ρ g (H − y ) dy ˆi
S S 0
y² ˆ
H
ρ gLH² ˆ
F = ρ gL Hy − i ∴ F = i
2 0 2
(B) O somatório dos momentos em relação ao centro de pressão é igual a zero. Assim,
para que a barragem permaneça estável, o valor de b deve ser tal que satisfaça a equação
(2.34).
H
ˆ yρ g(H − y)Ldy ρ gLH³ ˆ
=k ∫ ∴ M0 =
6
k
0
b b ρ gLH³ ρc H²
∑M O*
=0 ∴
2
P − M0 = 0 ∴
2
ρc LHbg −
6
=0 ∴ b=
3ρ
38
2.6.2. Forças hidrostáticas sobre superfícies submersas curvas
As forças sobre superfícies curvas submersas em qualquer fluido em repouso
podem ser determinadas parcialmente pelos métodos usados para superfícies planas
apresentados anteriormente.
Uma superfície curva é mostrada na figura 2.13, submersa em um fluido em
repouso. A força sobre um elemento de área dA dessa superfície tem a direção da
normal ao elemento de área n e é dada por
dF = −p n dA (2.49)
Fx = ∫ −p dA x (2.51)
Sx
Fz = ∫ −p dA z (2.52)
Sz
39
∇ Superfície livre do fluido
y
y
dA ˆ
dAz k
dAx ˆi
x
dAy ˆj x
z
z
Fy = ∫ −p dA y (2.53)
Sy
Fy = ∫ −p dA y ∴ Fy = ∫ −ρg h dA y
Sy Sy dV
Fy = −∫ ρg dV (2.54)
V
40
Superfície livre do fluido
y
dFy
Coluna cilíndrica infinitesimal de fluido
n h
dA y
z
esse resultado.
∫ xdV
xp = V
(2.55)
V
41
EXEMPLOS:
y
Fluido : água
O (rótula) x
H= 10m
R = 1m
A (batente)
Solução:
Foy
Superfície livre
M0
O
Fox h O y
H
Fax r
x
n
θ
F n
42
∑F x =0 ∴ − Fox − FA + Fx = 0 (2.56)
∑F y =0 ∴ − Foy + Fy = 0 (2.57)
∑M 0 =0 ∴ − FA 2R + M0 = 0 (2.58)
π π
= ∫ (sen(θ)ρ g(H − R cos(θ))LRdθ ˆi − ∫ (cos(θ)ρ g(H − R cos(θ))LRdθ ˆj
0 0
ˆ ρ gπR 2L ˆ
F = 2ρRLH i + j
2
M0 = ∫ (n × r) p dA
S
ˆi ˆj ˆ
k
n × r = R − sen(θ) cos(θ) ˆ
0 = R sen(θ)k
− sen(θ) cos(θ) − 1 0
π
M0 = ∫ R sen(θ)pdA k = ∫ R sen(θ)ρ g(H − R cos(θ))LRdθ k
ˆ ˆ
S
0
ˆ
M0 = 2ρ gHR 2L k
43
2. A comporta parabólica mostrada tem 2m de largura e é articulada em O; c = 0,25
m −1 , D = 2m e H = 3m . Determine a magnitude da força vertical sobre a comporta
decorrente da água.
y
y = cx 2
D
comporta
x
0
d
Projeção da superfície da comporta
sobre um plano perpendicular ao eixo x.
w = 2m
Figura 2.17.: Comporta parabólica
Solução:
p = p0 + ρ gh = ρ gh = ρ g(D − y) = ρ g(D − cx 2 )
dA y = wdx
D
D
C
x 3 C
Fy = −∫ pdA y = −∫ 2
ρ g(D − cx )wdx = ρ g Dx −
3
Sy 0 0
8
kg 2
x 3
Fy = 1000 3 (9, 81m / s )2x − = 73, 9KN
m 3 0
44
2.7. Flutuação dos corpos – Princípio de Arquimedes
Quando um corpo flutua sobre um fluido em repouso, o conjunto de forças
externas que atua sobre ele está em equilíbrio. A equação de equilíbrio de um corpo
contínuo ∑F S + ∑ FB = 0 é essencialmente vetorial, podendo ser reescrita em termos
x
h
E
B ≡ F
H B
Corpo Volume de fluido
deslocado pelo
P corpo B
45
encarregou Arquimedes de Siracusa (287 a.C. - 212 a.C.) de descobrir se havia
mesmo prata misturada ao ouro sem destruir a coroa.
Arquimedes descobriu a solução para o problema quando estava num banho
público e percebeu que o nível da água subia quando ele entrava na banheira. Diz a
lenda que ele teria corrido nu pelas ruas de Siracusa, gritando "Eureka, eureka!" ("achei,
achei"), e ido para casa desenvolver a teoria que viria a se chamar princípio de
Arquimedes. Ele percebeu que seu corpo ficava mais leve quando entrava na banheira e
que essa aparente perda de peso era igual ao peso da água deslocada pelo seu corpo.
Percebeu, também, que o volume da água deslocada era igual ao volume do seu corpo
submerso. As observações durante o banho mostraram-lhe que poderia determinar o
volume da coroa do rei pelo volume de água que ela deslocasse. Se a coroa fosse de
uma mistura de ouro e prata, deslocaria mais água do que um objeto que fosse de ouro
puro e pesasse o mesmo que a coroa. A história afirma que o ourives realmente
trapaceara, e foi condenado à morte.
O raciocínio de Arquimedes pode ser melhor compreendido através da seguinte
experiência ilustrada na figura 2.19: considere um corpo de densidade ρ c , submerso em
Dinamômetro E
T
46
A força T é a força exercida pelo dinamômetro sobre o corpo e o seu módulo
corresponde ao valor registrado no aparelho. Como o corpo está flutuando, é necessário
que a condição de equilíbrio seja satisfeita. Então:
Dessa forma, o valor registrado (T) no dinamômetro é obviamente menor que P. Isto
justifica a existência do empuxo já que, para haver o equilíbrio, é necessário que uma
outra força se subtraia com o peso P, resultando em T.
T
Desenvolvendo-se a equação (2.59), obtém-se uma relação entre as razões e
P
ρ
.
ρc
T E T ρgVc
T = P−E ∴ = 1− ∴ = 1− ∴
P P P ρc gVc
T ρ
= 1− (2.60)
P ρc
ρ
Pela equação (2.60), dependendo da magnitude da razão , é aceitável
ρc
desprezar o empuxo provocado pelo fluido. É o que acontece quando se pesa o bloco no
ar. Como a densidade do ar é muito menor que a densidade do material do bloco, a
ρ
razão se aproxima de zero e, conseqüentemente, o valor de T se aproxima de P.
ρc
47
2.8. Estabilidade de corpos flutuantes
Um corpo está em equilíbrio quando a imposição de um pequeno deslocamento
faz aparecer forças que tendem a restituí-lo para sua posição inicial. No balão da figura
2.19, um pequeno deslocamento em relação a sua posição inicial faz aparecer um
momento restaurador que tende a trazê-lo para sua posição original.
E E
P
P
P
E E
48
Capítulo 3
3.1. Introdução
O estudo da Mecânica dos Fluidos está fundamentado em cinco princípios
básicos:
¾ 2ª Lei da Termodinâmica
49
conveniente analisar os problemas com base no Método dos volumes de controle e/ou
volumes de controle arbitrários.
Os volumes materiais ou sistemas são regiões do espaço que se caracterizam
pela identidade invariável, ao contrário de um volume de controle no qual há, por
exemplo, fluxo de massa. Como o enfoque da Mecânica dos fluidos é o estudo do
movimento dos fluidos em dutos, bombas, compressores, etc., nos quais há fluxo de
massa, quantidade de movimento, energia, a análise de escoamento se faz pelo método
do volume de controle.
É preciso, portanto, desenvolver um equacionamento coerente com o modelo
de análise escolhido (volume de controle ou volume de controle arbitrário). Para tal,
recorre-se a três teoremas: Teorema de transporte de Reynolds, Regra de Leibnitz e
Teorema Geral.
MATERIAL DE CONTROLE
Teorema de Regra
transporte de de
Reynolds Leibnitz
Teorema Geral
50
3.2. Teoremas importantes
d ∂f
∫
dt P
f dV = ∫
∂t
dV + ∫ f (v ⋅ n) dA (3.1)
t Ω ∂Ω
escoamento.
Bt Pt
y
v
Ω
z
Figura 3.2.: volume material Pt e volume de controle Ω .
Pt +∆t
n
Pt ∆Pt
v
51
A figura 3.3 mostra um mesmo volume de controle Ω em dois instantes de
tempo diferentes. Num instante de tempo t o volume de controle Ω tem a mesma
configuração de um sistema Pt . Após o intervalo de tempo ∆t , o volume de controle
assume uma nova configuração, agora de um sistema Pt+∆t . A mudança de uma
configuração para outra é resultado da variação da identidade do volume de controle e
pode ser expresso matematicamente da seguinte forma: Pt+∆t = Pt ∪ ∆Pt . Assim:
d 1
∫
dt P
f(X, t)dV = lim
∆t → 0 ∆ t ∫ f(X, t + ∆ t)dV − ∫ f(X, t)dV
t
Pt+∆t
Pt
d 1
∫
dt P
f(X, t)dV = lim
∆t→0
∆t ∫ f(X, t + ∆t)dV − ∫ f(X, t)dV + ∫ f(X, t + ∆t)dV
(3.2)
t
t
P Pt ∆Pt
Logo:
d f(X, t + ∆t) − f(X, t)
dt ∫P ∫
f(X, t)dV = lim
∆t → 0
dV + ∫ f(v ⋅ n)dA
Pt ∆t ∂ Pt
t
d ∂f
dt ∫P ∫
f(X, t)dV = dV + ∫ f(v ⋅ n)dA (3.4)
Ω
∂t ∂Ω
t
∂f d
Como o volume de controle é fixo, tem-se que: ∫ ∂t
dV =
dt ∫Ω
f dV (3.5).
Ω
d ∂f
dt ∫P ∫ ∂t dV + ∫ f (v ⋅ n) dA
f dV = (3.6)
t Ω ∂Ω
52
3.2.2. Regra de Leibnitz
Seja Ωt ⊂ Bt uma região regular dotada de movimento próprio. Então:
d ∂f
dt ∫P ∫ ∂t dV + ∫ f(vΩ ⋅ n)dA
f dV = (3.7)
t Ω t ∂Ω t
3.2.3.Teorema Geral
Seja um volume material Pt e um volume de controle arbitrário Ωt que se
coincidem num instante de tempo t. Então:
d d
dt ∫P dt ∫
fdV = f dV + ∫ f(v − v Ω ) ⋅ n dA (3.8)
t Ω t ∂Ω t
m= ∫ ρ dV (3.9)
Pt
53
Identificando f como ρ = ρ (x, t) no Teorema de transporte de Reynolds,
d d
∫
dt P
ρ dV =
dt ∫Ω
ρ dV + ∫ ρ(v ⋅ n)dA
t ∂Ω
d
dt ∫Ω
ρ dV + ∫ ρ(v ⋅ n)dA = 0, ∀ Ω ⊂ Bt, t ∈ I (3.11)
∂Ω
d d
∫
dt P
ρ dV =
dt ∫
ρ dV + ∫ ρ(v − v Ω ) ⋅ ndA
t Ω t ∂Ω t
d
dt ∫ ∫
ρ dV + ρ(v − vΩ ) ⋅ ndA = 0, ∀ Ωt ⊂ Bt, t ∈ I (3.12)
Ωt ∂Ωt
54
de massa através das superfícies de controle. Deve-se considerar no cálculo do fluxo
líquido de massa que:
¾ v ⋅ n > 0 → Há fluxo entrando no volume de controle
¾ v ⋅ n < 0 → Há fluxo saindo no volume de controle
¾ v ⋅ n = 0 → Não há fluxo através da superfície de controle
n
v
v v
Ω
n
n
d
y
Γ3 h = h(t)
x
V2
V1
Σ
Γ1 Ω Γ2 D
55
Solução:
Princípios básicos:
d
dt ∫Ω
ρdV + ∫ ρ (v ⋅ n)dA = 0 ∴ ∫ ρ (v ⋅ n)dA = 0 ∴ ∫ (v ⋅ n) dA = 0
∂Ω ∂Ω ∂Ω
Como ∂Ω = Γ1 ∪ Γ2 ∪ Γ 3 ∪ Σ , então:
∫ (v ⋅ n) dA = ∫ (v ⋅ n) dA + ∫ (v ⋅ n) dA + ∫ (v ⋅ n) dA + ∫ (v ⋅ n) dA
∂Ω Γ1 Γ2 Γ3 Σ
0
∫ (v ⋅ n) dA = ∫ (v ⋅ n) dA + ∫ (v ⋅ n) dA + ∫ (v ⋅ n) dA
∂Ω Γ1 Γ2 Γ3
dh
∫ −v 1 cos(ωt)dA + ∫ v 2sen(ωt)dA + ∫
dt
dA = 0
Γ1 Γ2 Γ3
dh
d² = v1 cos(ωt)D² − v 2sen(ω t)D²
dt
D²
h(t) = (v sen(ωt) + v2 cos(ωt)) + C (3.13)
d²ω 1
D²
h(t) = {v1sen(ωt) + v2(1 − cos(ωt))} + h 0 (3.14)
d²ω
56
3.4. Princípio da conservação da quantidade de movimento
O princípio da conservação da quantidade de movimento linear estabelece que,
em relação a um referencial inercial, a taxa de variação temporal da quantidade de
movimento linear de um sistema é igual ao somatório das forças externas que atuam
sobre ele.
d
dt ∫P
ρ v dV = ∑F S + ∑ FB (3.15)
t
d d
dt ∫P dt ∫Ω
ρ v dV = ρ v dV + ∫ ρ v(v ⋅ n)dA (3.16)
t ∂Ω
d
dt ∫Ω
ρ v dV + ∫ ρ v(v ⋅ n)dA = ∑F S + ∑ FB (3.17)
∂Ω
57
¾ v ⋅ n > 0 → Há fluxo de quantidade de movimento entrando no
volume de controle.
¾ v ⋅ n < 0 → Há fluxo de quantidade de movimento saindo do volume
de controle.
¾ v ⋅ n = 0 → Não há fluxo de quantidade de movimento através da
superfície de controle.
Exemplos:
1. Determine a força necessária para equilibrar a tubulação ilustrada. Considere o
escoamento permanente, uniforme por seção e incompressível.
v1 y
v2 x
d
d
dt ∫Ω
ρ vdV + ∫ ρ v(v ⋅n)dA = FS + FB ∴ ∫ ρ v(v ⋅n)dA = F S
∂Ω 0,(3) ∂Ω
0,(1)
58
A superfície de controle (∂Ω ) pode ser decomposta em três superfícies, isto é:
∂Ω = Γ1 ∪ Γ2 ∪ Σ. Na superfície Σ o produto escalar v ⋅ n é nulo, ou seja, não há fluxo
através desta superfície.
Conservação da massa:
∫ ρ v1x (v1 ⋅ i)dA + ∫ ρ v 2x (v 2 ⋅ i)dA = FSx ∴ FSx = ρ v1xA + ρ v 2x A
2 2
Γ1 Γ2
∫ ρv1y (v1 ⋅ i)dA + ∫ ρv2y (v2 ⋅ i)dA = FSy ∴ FSy = 0
Γ1 Γ2
∫ ρv1z(v1 ⋅ i)dA + ∫ ρv2z(v2 ⋅ i)dA = FSz ∴ FSz = 0
Γ1 Γ2
Rx
d
Ry y
(a)
Ry Rx
P1 x
p2
(b)
Figura 3.7.: (a) diagrama de corpo livre da tubulação; (b) diagrama de corpo livre do
volume de controle Ω
59
2 2
Mas: FSx = −P1x + P2x − R x e FSx = ρ v1x A + ρ v 2x A = 2ρ v 2A . Assim:
πd2 (p1 − p2 − 2ρ v 2 )
Rx =
4
θ y
Conservação da massa:
60
Conservação da quantidade de movimento:
∫ ρv(v ⋅ n)dA = ∫ ρv (v
1 1 ⋅ n1 )dA + ∫ ρv2(v2 ⋅ n2 )dA = FS
∂Ω Γ1 Γ2
∫ ρv1x(v1 ⋅ i)dA + ∫ ρv2x(v2 ⋅ i)dA = FSx ∴ FSx = ρv1x 2
A + ρv22xA = 2ρv2A
Γ1 Γ2
ρv (v ⋅ i)dA + ∫ ρv2y(v2 ⋅ (− cos (θ) i − sen (θ) j))dA = FSy ∴ FSy = −ρv2Asen (θ)
∫ 1y 1
Γ1 Γ2
∫ ρv1z(v1 ⋅ i)dA + ∫ ρv2z(v2 ⋅ (−cos (θ) i − sen (θ) j))dA = FSz ∴ FSz = 0
Γ1 Γ2
P1
Fx
θ
Fy
(a)
p2 Ry
Rx
Fx
θ y
Fy
(b)
Figura 3.9.: (a) diagrama de corpo livre do volume de controle Ω;
(b) diagrama de corpo livre da tubulação
61
Como:
FSx = −Fx + P1 − P2 cos (θ) ∴ Fx = P1 − P2 cos(θ) − FSx ∴ Fx = P1 + P2 cos (θ) − 2ρv2A
∑F = 0
x ∴ − Rx + Fx = 0 ∴ Rx = Fx
Rx = (p1 − p2 cos (θ) − 2ρv2 ) A
∑F = 0
y ∴ − Ry + Fy = 0 ∴ Ry = Fy
62
Γ1
Σ Ω
Γ2
Solução :
Objeto de estudo : fluido
Modelo de análise : volume de controle
Hipóteses : (1) cabo inextensível; (2) fluido incompressível
Princípios Básicos :
Conservação da massa:
d
dt ∫Ω
ρ dV + ∫ ρ(v ⋅ n)dA = 0 ∴ ∫ ρ(v ⋅ n)dA = 0 ∴ ∫ (v ⋅ n)dA = 0
∂Ω ∂Ω ∂Ω
63
Diagrama de corpo livre :
Fy
Fx
Fx
Fy
W N N
Fluido
P
Carrinho
64
Considere agora um volume de controle arbitrário Ωt .
Identificando f = ρ (v − v Ω ) no Teorema Geral, pode-se obter a equação do Princípio
d d
∫
dt P
ρ (v − v Ω ) dV =
dt ∫
ρ (v − v Ω ) dV + ∫ ρ (v − v Ω ) (v − v Ω ) ⋅ n dA (3.18)
t Ω t ∂Ω t
d
∫
dt Ωt
ρ (v − v Ω ) dV + ∫ ρ (v − v Ω ) (v − vΩ ) ⋅ n dA = ∑F S + ∑ FB −
∂Ω t
d
dt ∫
− ρ vΩdV
Ωt
(3.19)
A equação (3.19) é também o enunciado matemático do princípio da
conservação da quantidade de movimento aplicado a um volume de controle que
experimenta movimento de corpo rígido.
Exemplo: Encontra-se instalada num carrinho uma aleta de raio R e ângulo de escape θ
conforme ilustrado na figura 3.9. Um jato de líquido não-viscoso e incompressível com
velocidade uniforme v parte de um bocal horizontal estacionário e incide sobre aleta. O
conjunto carrinho - aleta tem massa M e é livre para movimentar-se sem atrito na
direção horizontal. Assumindo-se que a área de seção reta do jato A e sua largura a são
constantes ao longo do movimento do carrinho e que o único efeito da aleta é defletir o
jato, determine a velocidade do conjunto em função do tempo u = u(t) quando no
instante t = 0 o batente D é retirado.
65
a
R θ
A
M
v v
u = u(t)
D
Figura 3.9.: aleta instalada num carro que se move com velocidade u = u(t)
Ho = ∫ (r × ρ v)dV (3.20)
Pt
d
(r ×ρv)dV = ∑MoB + ∑MoS
dt ∫P
(3.21)
t
66
angular aplicado a um volume de controle é obtida identificando f = r × ρ v no teorema
de transporte de Reynolds. Assim:
d
dt ∫Ω
ρ(r × v)dV + ∫ ρ(r × v)(v ⋅ n)dA = ∑M oS + ∑ MoB (3.22)
∂Ω
67
movimento angular aplicado a um volume de controle fixo abrangendo o rotor ou
impelidor da turbomáquina. Admite-se também outra hipótese: os torques devido às
forças de superfície e às forças de campo podem ser desprezados.
A figura 3.12 mostra o rotor de uma bomba centrífuga e o volume de controle
fixo com suas entrada (1) e saída (2). O fluido bombeado penetra axialmente no rotor,
alcança a entrada do volume de controle com velocidade absoluta uniforme v1 e sai do
rotor com velocidade v 2 .
v n2
v n1
v t1
r1 v t2
r2
v1
(a)
ω (b)
Figura 3.12.: (a) vista lateral do rotor; (b) vista frontal mostrando as entradas e saídas do
volume de controle (Ω) e a trajetória descrita por uma partícula fluida.
A trajetória em destaque na figura 3.12, descrita por uma partícula fluida que
atravessa o volume de controle (Ω), é resultado da combinação de dois movimentos: o
escoamento do fluido acompanhando a curvatura da pá e o arrasto devido ao movimento
de rotação do rotor. As velocidades absolutas na entrada e na saída do volume de
controle resultam respectivamente da soma vetorial das suas componentes nas direções
normal ( v n1 , v n2 ) e tangencial ( v t1 , v t2 ), ou seja:
v1 = v n1 ˆen + v t1 ˆet
(3.23)
v = v n2 ˆen + v t2 ˆet
2
68
Aplicando o princípio da conservação da quantidade de movimento angular ao
volume de controle (Ω), obtém-se:
d
ρ(r × v)dV + ∫ ρ(r × v)(v ⋅ n)dA = ∑ MoS + ∑ MoB + T
dt ∫Ω ∂Ω 0 0
0
(
T = r 1 × v1 ) ∫ ρ (v ⋅ n)dA + (r 2 × v2 ) ∫ ρ (v ⋅ n)dA
∂Ω1 ∂Ω2
i i
m1 m2
i i i
Pelo princípio da conservação da massa: m1 = m2 = m . Assim:
( ) (
T = m r 1 × v1 + r 2 × v2 )
i
(3.24)
Mas:
(r 1 ) ( )
× v1 = r1 ˆen × (v n1 ˆen + v t1 ˆe t ) = r1v t1 k
ˆ (3.25)
(r 2 ) ( )
× v1 = r2 ˆen × (v n2 ˆen + v t2 ˆe t ) = r2v t2 k (3.26)
T = m r 2 v t2 − r 1v t1 k
i
ˆ (3.27)
69
( )
i
W = T ⋅ ω = m ω r 2v t2 − r 1v t1 (3.28)
( )
i
W = m u 2 v t2 − u1v t1 (3.29)
u 2 v t2 − u1v t1
h= (3.30)
g
70
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For Evaluation Only.
• • dE
Q− W = (3.31)
dt
O enunciado da 1ª lei da Termodinânica está fundamentado numa importante
propriedade: a Energia. A Energia de um volume material corresponde à soma de três
formas de energia: cinética, potencial (gravitacional, elástica, etc.) e interna (energia
atômica, por exemplo), isto é:
1
E(Pt ) = ∫ ρedv = ∫ ρ u + 2 v² + gz dV (3.32)
Pt Pt
Assim:
• • d 1
ρ u + v² + gz dV
dt ∫P
Q− W = (3.33)
2
t
d p
e +
∫
dt Ω
ρ edV + ∫ ρ
(v ⋅ n )dA = Q − W
ρ
(3.35)
∂Ω
Ω 71
Figura 3.13.: Tubo de corrente
Exercícios propostos:
1. Estimar a máxima potência produzida pela instalação hidráulica ilustrada abaixo:
GT
Válvula 72
Turbina
Reservatório
Figura 3.14.: esquema de uma usina hidrelétrica
π D²
A=
4
v1 Ω
v2
73
Figura 3.16.: Processo de estrangulamento numa válvula
S= ∫ ρsdV (3.36)
Pt
d Q
dt ∫P
ρ sdV ≥ H := (3.37)
θ
t
Q
H := (3.38)
θ
74
d d
∫
dt P
ρsdV =
dt ∫Ω
ρsdV + ∫ ρs (v ⋅ n) dA (3.39)
t ∂Ω
d Q
dt ∫Ω ∫
ρ sdV + ρ s (v ⋅ n ) dA ≥ (3.40)
∂Ω
θ
Exercícios propostos:
δQ
1. Mostre que a 2ª lei da Termodinâmica se reduz a ∫ θ
≤ 0 para um processo
cíclico.
2. Mostre que é impossível existir uma máquina térmica que operando ciclicamente
converte integralmente calor em trabalho.
3. Mostre que é impossível existir uma máquina térmica que operando ciclicamente
transfere integralmente calor de uma fonte fria para uma fonte quente.
Capítulo 4
Introdução à análise diferencial do movimento dos
fluidos
4.1. Introdução
75
O capítulo 3 apresentou as leis básicas da Mecânica dos fluidos na forma
integral. O atual capítulo se propõe a apresentar as mesmas leis na forma diferencial.
A formulação diferencial ou local caracteriza-se por ser um estudo mais
detalhado do movimento dos fluidos, ao contrário da formulação integral. As
informações obtidas sobre o escoamento, tais como perfil de velocidade e distribuição
de pressão, são específicas para cada ponto do escoamento.
Equações básicas:
formulação integral X formulação diferencial
d ∂f
dt ∫P ∫
f dV = dV + ∫ f (v ⋅ n) dA (4.1)
Ωt
∂t ∂Ω
t t
d ∂f d ∂f
∫ f dV = ∫ dV + ∫ div(f v)dV ∴ ∫ f dV = ∫ + div(f v) dV
dt P P
∂t P
dt P P
∂t
t t t t t
76
d ∂f
dt ∫P ∫ ∂t
f dV = + div(f v) dV (4.3)
Ω
t t
A identidade (4.3) permite obter a formulação diferencial das equações das leis
básicas da Mecânica dos fluidos.
∂ρ
∫ ∂t + div(ρ v) dV = 0
Ωt
Assim:
∂ρ
+ div(ρ v) = 0 , ∀ Ωt ⊂ Bt (4.5)
∂t
∂ρ ∂ρ
+ div(ρ v) = 0 ∴ + ∇ρ ⋅ v + ρ div(v) = 0
∂t ∂t
Dρ
Dt
77
Dρ
+ ρ div(v) = 0 (4.6)
Dt
Dρ
O termo é a derivada substancial da densidade do fluido ou derivada da
Dt
densidade ao longo do escoamento. Este termo é a soma da taxa de variação da
densidade em relação ao tempo com outro termo referente ao transporte por advecção
de massa fluida.
Exercícios propostos:
78
∫( )
∂
∂t
( ρv ) + div(ρv ⊗ v) dV = ∑ FS + ∑ FB (4.8)
Ωt
FS = ∫ τ dA (4.9)
∂Ωt
FS = ∫ T ⋅ n dA = ∫ div(T)dV (4.10)
∂Ωt Ωt
As forças de campo são forças que se desenvolvem sem contato físico e são
distribuídas por todo volume do fluido. A força gravitacional é um exemplo de força de
campo.
FB = ∫ ρ g dV (4.11)
Ωt
∂
∫ ∂t (ρ v ) + div(ρ v ⋅ v) dV = ∫ div(T)dV + ∫ ρ g dV
Ωt Ωt Ωt
∂
∫ ∂t (ρ v) + div(ρ v ⋅ v) dV = ∫ (div(T) + ρ g ) dV
Ωt Ωt
∂
(ρv) + div(ρv ⋅ v) = div (T) + ρ g (4.12)
∂t
79
A equação (4.12) é a equação do princípio da conservação da quantidade de
movimento na forma diferencial. Representa, portanto, um balanço de forças que atuam
sobre uma partícula fluida ou volume de controle infinitesimal.
∂
( ρv ) + div(ρv ⋅ v) → Força de inércia de uma partícula fluida por unidade de
∂t
volume
div(T) → Forças de superfície atuando sobre uma partícula fluida por unidade de
volume
ρg → Forças de corpo atuando sobre uma partícula fluida por unidade de volume
∂
O termo ( ρv ) + div(ρv ⋅ v) pode ser substituído na equação (4.12) por
∂t
Dv Dv
ρ onde é a derivada substancial da velocidade do fluido ou aceleração total de
Dt Dt
uma partícula fluida, o que possibilita que a equação (4.12) seja escrita como:
Dv
ρ = div (T ) + ρ g (4.13)
Dt
Dv ∂v
= + ∇v ⋅ v (4.14)
Dt ∂t
∂v
onde → Aceleração local e ∇v ⋅ v → Aceleração advectiva ou de transporte
∂t
As equações (4.12) e (4.13) são equações vetoriais. É possível escrevê-las em
termos de suas componentes em x,y,z. Para tal, é preciso computar os termos ∇v e
80
div(T) em função das componentes x,y,z do vetor velocidade v e do tensor das tensões
T.
∂v ∂ v x ∂v x
x
∂x ∂y ∂z
∂v y ∂v y ∂ v y
ˆ
v = v xˆi + v yˆj + v zk → ∇v =
∂x ∂y ∂z
∂v z ∂v z ∂ v z
∂x ∂y ∂z
∂σ ∂τ ∂τ
xx + xy + xz
σ ∂x ∂y ∂z
xx τ xy τ xz
∂τ yx ∂σ yy ∂τ yz
T = τ yx σ yy τ yz → div T = + +
∂x ∂ y ∂ z
τ zx τ zy σzz
∂τ ∂ τ ∂ σ
zx + zy + zz
∂x ∂y ∂z
∂v ∂v ∂v ∂v ∂σxx ∂τ xy ∂τ xz
x : ρ x + x v x + x v y + x v z = + + + ρg x
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
∂v ∂v ∂v ∂v ∂τ ∂σ ∂τ
y : ρ y + y v x + y v y + y v z = yx + yy + yz + ρg y
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
∂v ∂v ∂v ∂v ∂τ ∂τ ∂σ
z : ρ z + z v x + z v y + z v z = zx + zy + zz + ρg z
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
(4.15)
81
descarta-se a existência de tensões cisalhantes, garantindo que no seu estado geral de
tensões predominam as tensões normais. Essas tensões são iguais em todas as direções e
o seu valor é igual ao valor negativo da pressão (p) do fluido.
T = −p I (4.16)
A teoria do fluido ideal criada por Euler assegura que se um fluido tem
viscosidade desprezível, não há tensões cisalhantes atuando sobre ele e o seu estado
geral de tensões passa a ser definido segundo equação (4.16).
A aplicação do princípio da conservação da quantidade de movimento a análise
do escoamento de um fluido ideal tem como resultado a equação de Euler.
∂v ∂v ∂v ∂v ∂p ∂τ xy ∂τ xz
x : ρ x + x v x + x v y + x v z = − + + + ρg x
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
0 0
y : ρ ∂v y + ∂v y v + ∂v y v + ∂v y v = ∂τ yx − ∂p + ∂τ yz + ρ g
∂z
x y z y
∂t ∂x ∂y ∂x ∂y ∂z
0 0
z : ρ ∂v z + ∂v z v + ∂v z v + ∂v z v = ∂τ zx + ∂τ zy − ∂p + ρ g
∂z
x y z z
∂t ∂x ∂y ∂x ∂y ∂z
0 0
∂v x ∂v x ∂v ∂v ∂p
x : ρ + v x + x v y + x v z = − + ρg x
∂ t ∂ x ∂ y ∂ z ∂ x
∂v y ∂v y ∂v ∂v ∂p
y : ρ + v x + y v y + y v z = − + ρg y
∂t ∂x ∂y ∂z ∂y
∂v z ∂v z ∂v ∂v ∂p
z : ρ + v x + z v y + z v z = − + ρg z
∂t ∂x ∂y ∂z ∂z
Dv
ρ = − ∇p + ρ g ∀(X, t) ∈ Bt × I (4.17)
Dt
4.3.2. Equação de Bernoulli
82 v
dV Linhas de corrente
Figura 4.1.: linhas de corrente do escoamento de um fluido
83
s
vx
dx
v
= x x(s) = ∫ v
ds
ds v s0
dy s
dr v vy y(s) = vy
=
ds v
∴
ds
=
v
∴
∫ v
ds
dz v s0
= z s
vz
ds v z(s) = ∫ ds
v
s0
= vz t
dt z(t) = ∫ v zdt
t0
t t t
r(t) = ∫ vxdt i + ∫ vydt j + ∫ vzdt k
ˆ ˆ ˆ (4.20)
t
t0
t0
0
84
Linha de emissão é o lugar geométrico ocupado pelas partículas de um fluido
que passaram por uma determinada posição espacial a partir de um instante de tempo
determinado.
z Posição espacial
fixa
Linha de emissão
y ou “streak line”
r*
Chaminé
x
x ˆ
Exercício Proposto: Dado o campo de velocidade v = i + yjˆ , determine as
1 + t
linhas de corrente e trajetórias e esboce-as num mesmo gráfico.
85
∂v v 2 ∇p
+ ∇ + ((∇ × v ) × v ) = − + g∇ z (4.22)
∂t
2 ρ
∂v v2 1
⋅ dr + ∇ ⋅ dr + ((∇ × v ) × v ) ⋅ dr = − ∇p ⋅ dr + g ∇z ⋅ dr
∂t 2 ρ dp dz
0,dr // v
v2
d
2
∂v v 2 1
⋅ dr + d = − dp + gdz
∂t
2 ρ
Integrando da seção 1 a 2 :
2
∂v
2
v2 2
1
2
∫ ⋅ dr + ∫ d = ∫ − dp + ∫ gdz
∂t 2 ρ
1 1 1 1
2 2
2
∂v v 2 dp
∫ ⋅ dr + = −
2
+ gz 1 (4.23)
∂t 2 ρ 1
1 1
86
incompressível. Pelo princípio da conservação da massa, o influxo de massa é igual ao
efluxo quando o escoamento é em regime permanente e incompressível. Assim:
Ae
me = ms ∴ ρve Ae = ρvs As ∴ ve Ae = vs As ∴ vs = v (4.24)
As e
Aplicando a equação de Bernoulli entre a seção de entrada e de saída do volume de
controle:
s
∂v v 2 − v 2e p − p
∫ ⋅ dr + s − g zs − ze + s e
=0
∂t
2 0 ρ
e
0
0
v 2s − v 2e ps − p e
+ =0
2 ρ
ps − p e v 2 − v 2s
= e
ρ 2
v2e − v2s
ps − pe = ρ
2 (4.25)
vs
ve Ω
Seção s
Seção e
Figura 4.3.: Contração do duto
Quando o duto se contrai, o seu diâmetro diminui bem como área de seção.
Com a diminuição da área, a velocidade do escoamento na seção aumenta para manter a
continuidade do fluxo de massa segundo a equação (4.24) e, em contrapartida, a pressão
diminui de acordo com (4.25).
87
Ω vs
ve
Seção e
Seção s
Figura 4.4.: expansão do duto
88
fluido pelo rotor é convertida em energia de pressão necessária para impulsionar o
fluido pela linha de recalque.
O
1
U∞
89
Aplicando a Equação de Bernoulli entre os pontos 0 e 1, pode-se definir
matematicamente a pressão de estagnação do fluido.
1 2 p1 1 2 p
v1 + + gz1 = v 0 + 0 + gz0
2 ρ 2 ρ
1 2
p 0 = p1 + ρ U∞ (4.26)
2
Da equação (4.26), conclui-se que:
2(p0 − p1 )
U∞ = (4.27)
ρ
onde
1 T
D= ∇v + ( ∇v ) (4.29)
2
Observe que os fluidos newtonianos não são ideais uma vez que os efeitos da
viscosidade são previstos neste modelo. Essa característica do modelo tem reflexos no
estado geral de tensões e, por conseguinte, na dinâmica do fluido.
Substituindo a equação (4.28) na equação (4.13) do princípio da conservação
de quantidade de movimento, obtém-se a seguinte equação:
Dv
ρ = −∇p + µ∇2 v + ρ g (4.30)
Dt
90
segunda apresenta um termo a mais no balanço de forças que corresponde às forças
viscosas.
A equação de Navier-Stockes é um importante instrumento na resolução de
uma série de problemas em Mecânica dos fluidos. Esses problemas podem admitir
soluções analíticas ou não. Por enquanto, os problemas tratados admitirão solução
analítica. Para tal, são estabelecidas algumas hipóteses simplificadoras, tais como:
1) escoamento permanente
∂( )
2) simetria circular ( = 0)
∂θ
∂v
3) escoamento hidrodinamicamente desenvolvido na direção Z ( = 0)
∂z
4) v(r = R, θ, z) = 0 (condição de não-deslizamento)
91
g=0
v = v(r, θ, z)
r
Equação da continuidade:
∂ρ 1 ∂ 1 ∂ ∂ 1 ∂
+ (r v r ) + (ρ v θ ) + (ρ v z ) = 0 ∴ (r v r ) = 0 ∴
∂t r ∂r r ∂θ ∂z r ∂r
0,(1) 0,(2) 0,(3)
∂
(r v r ) = 0 ∴ r v r = K
∂r
92
Equação de Navier-Stockes:
∂v r ∂v r v θ ∂v r v θ 2
∂v r ∂ 1 ∂ 1 ∂ v r ∂ v r
2 2
2 ∂v θ ∂p
ρ ∂t + v r ∂r + r ∂θ − r + v z ∂z = µ ∂r r ∂r (rv r ) + r2 ∂θ 2 + ∂z2 − r2 ∂θ − ∂r + ρ g r
0, pela eq.da continuidade 0,(2)
0
∂v z ∂v z v θ ∂v z ∂v z
1 ∂ ∂v z 1 ∂ v z ∂ v z ∂p
2 2
∂p
= 0 ⇒ p(r) = const. ∴ p = p(z)
∂r
0=0
µ 1 ∂ r ∂v z − ∂p = 0
r ∂r ∂r ∂z
93
1 d dvz dp
µ r −
= 0 ∴ µ 1 d r dvz = dp ∴ 1 d r dvz = 1 dp
r dr dr dz r dr dr dz r dr dr µ dz
d dvz 1 dp dv 1 dp dvz 1 dp
r
= r ∴ d r z = r dr ∴ ∫ d r = ∫
r dr ∴
dr dr µ dz dr µ dz dr µ dz
dvz 1 dp 2 dvz 1 dp C 1 dp C
r = r + C1 ∴ = r + 1 ∴ dvz = r + 1 dr
dr 2µ dz dr 2µ dz r 2µ dz r
1 dp 2
vz = r + C1 ln(r) + C2
4µ dz
2
dp R
Mas: vz (r = R) = 0 . Então: C1 = 0 e C2 = − . Logo:
dz 4µ
R2 dp r 2
vz(r) = 1 −
4µ dz R
R 2 dp r 2 ˆ
Resp: v = 1 − k
4µ dz R
ω = const
(A) (B)
ω = const
R
R2
R1
94
Capítulo 5
5.1. Introdução
A teoria sobre escoamentos discorrida até o capítulo 4 trata de um fluido ideal
e de um escoamento sem perdas, sem irreversibilidades. O escoamento de um fluido
real é muito mais complicado do que o de um fluido ideal, devido aos fenômenos
causados pela viscosidade.
A viscosidade é a propriedade que provoca tensões de cisalhamento no fluido
quando o mesmo escoa; é também um meio pelo qual se desenvolvem irreversibilidades
ou perdas. Sendo assim, sem viscosidade, não há resistência e/ou perdas e
irreversibilidades.
Com a inclusão da viscosidade no estudo dos escoamentos, pode-se distingüir
dois regimes de escoamento: laminar e turbulento. O critério que estabelece se o
escoamento de um fluido é laminar ou turbulento é um adimensional conhecido como
número de Reynold (Re).
Em detrimento da viscosidade do fluido, produzem-se no escoamento situações
inteiramente diferentes daquelas que existiam no escoamento de um fluido ideal. Assim,
por exemplo, quando se consideram os efeitos da viscosidade, invalida-se a hipótese da
distribuição uniforme de velocidade.
95
KMnO4
H2 O
Seção de teste
96
forças viscosas. No escoamento turbulento, a movimentação das partículas fluidas é
aleatória, predominando as forças de inércia e havendo troca de quantidade de
movimento transversal.
A natureza de um escoamento é indicada pelo número de Reynolds (Re).O
número de Reynolds é um adimensional relacionado à velocidade média do escoamento
(V), ao diâmetro do duto (D) e a viscosidade cinemática (ν) através da equação (5.1):
ρvD vD
Re = = (5.1)
µ ν
Com base na equação (5.1), pode-se provar que o número de Reynolds é igual
a razão entre as forças de inércia e as forças de atrito viscoso.
Demonstração:
Ma
Força de inércia por unidade de volume: = ρa
∀
∂v v
a= + ∇v ⋅ v ⇒ Força de inércia ≈ ρ v
∂t D
97
¾ No escoamento turbulento, por outro lado, as forças de inércia
predominam sobre as forças viscosas. Dessa forma, quanto maior
a turbulência, maior o número de Reynolds.
Q= ∫ v ⋅ n dA (5.4)
A
98
y
v x
1 dp 2 r 2 1 dp 2 r 2
Q= ∫ R 1 − dA ∴ Q= ∫ R 1 − 2πrdr
4µ dz R 4µ dz R
A
π D4 dp
Q=− (5.5)
128 µ dz
99
EXEMPLO: Calcular a queda de pressão por unidade de comprimento numa tubulação
com as seguintes características:
ρ = 900 kg / m 3
µ = 1, 00 Ns / m2
Dados Característicos da Tubulação:
D = 100 mm
Q = 2, 00 l / s
Solução:
dp
Pede-se: =?
dz
Substituindo os valores dados acima na Equação de Hagen-Poiseuille (ainda
sem verificar se o escoamento é laminar), obtém-se:
dp 128 ⋅ 1 ⋅ 2 ⋅ 10−3
= 4 = (−) 815 Pa / m
dz π ⋅ (0,1)
Mas, agora é preciso verificar se o escoamento é de fato laminar. Para tal, calcula-se o
número de Reynolds:
ρ vD ρQD 900 ⋅ 2 ⋅ 10−3 ⋅ 0,1
Re = = = = 22, 9
( )
2
µ µA 1⋅π ⋅ 0,1
2
Como Re = 22,9 < 2000, a condição para a aplicação da Equação de Hagen-
dp
Poiseuille foi satisfeita. Logo: = 815 Pa / m .
dz
Pela equação de Hagen-Poiseuille, a queda de pressão é diretamente
proporcional à vazão (Q), ao comprimento da tubulação, à viscosidade, e inversamente
proporcional a quarta potência do diâmetro.
p2 L
π D4 dp dp 128µQ 128µQ 128µQ
Q=
128 µ dz
⇒
dz
=
πD4
∴ dp =
πD4
dz ∴ ∫ dp = ∫
πD4
dz
p1 0
128µQL
∆p = (5.6)
πD4
100
Independentemente do tipo de escoamento laminar ou turbulento, a queda de
pressão em um escoamento num duto pode ocorrer devido a dois fatores:
1) O atrito viscoso
dp
dz
expansão contração
101
5.4. Perda de Carga
Um fluido quando escoa por uma tubulação contém energia armazenada nas
mais variadas formas (cinética, potencial, interna, etc.). É bem verdade que essa energia
não se conserva, variando ao longo do comprimento do duto.
A energia perdida pelo fluido é convertida em energia interna ou é dissipada na
forma de calor. A soma da parcela energética convertida em energia interna com parcela
dissipada na forma de calor é o que se chama de Perda de carga.
Considere um volume de controle (Ω) através do qual escoa um fluido em
regime permanente. Nessas condições, a equação da 1ª lei da Termodinânica se escreve
como:
• • v2
Q− WS = ∫ h + + gzρ v ⋅ ndA (5.7)
2
∂Ω
p
onde h = u + é a entalpia.
ρ
Admitindo-se escoamento incompressível e uniforme por seção, a equação
anterior, quando aplicada ao volume de controle ilustrado na figura 5.3, reduz-se a:
• •
p1 v12 p v2 W Q
+ + gz1 = 2 + 2 + gz2 + • S − • + (u 2 − u1 ) (5.8)
ρ 2 ρ 2 m m
• •
p1 v12 p2 v 22 W Q
+ + gz1 = + + gz2 + • S − • + (u 2 − u1 )
ρ 2
ρ 2
m m
Variação de
Energia Energia Energia Mecânica
mecânica mecânica por unidade de Energia Mecânica
por unidade por unidade massa adicionada
por unidade de
de massa na de massa na (turbina) ou retirada
seção 2 (bomba) de Ω massa entre as
seção 1
102
P2
. V2
Ws
.
V1 Q Z2
P1
Z1
Q
h1−2 := − + (u2 − u1 ) (5.9)
m
103
•
2) Se não há trabalho fornecido ou retirado do volume de controle WS ≡ 0 e perda
de carga h1−2 ≡ 0 , a equação da perda de carga se reduz a equação de Bernoulli.
3) No caso de escoamentos laminares, desenvolvidos em dutos, a perda de carga
D D
Ω
v v
Z1 v
(a) Z2
(b)
104
Aplicando a equação da perda de carga ao volume de controle (Ω) da figura 5.4
(a), obtém-se:
p1 v12 p2 v 22
+ + gz1 = + + gz2 + h1D−2
ρ 2 ρ 2
p1 v 2 p2 v 2
+ + gz = + + gz + h1D−2
ρ 2 ρ 2
p1 − p2
h1D−2 =
ρ
A perda de carga seria a mesma caso a tubulação estivesse inclinada conforme
mostra a figura 5.4 (b). O termo (p1 − p2 ) seria diferente para compensar o termo
adicional g(z1 − z2 ) .Prova-se, dessa forma, que a perda de carga distribuída está
relacionada a outro fator que não é a diferença de pressão ou de cota entre as seções 1 e
2.
Descartando as diferenças de pressão e de cotas existentes entre duas seções do
duto, resta apenas o atrito viscoso entre a parede da tubulação e o fluido, que está
atrelado à rugosidade da parede interna do tubo.
A parede interna de um duto pode ter sua rugosidade média medida por um
índice conhecido como rugosidade relativa (∈), definido pela razão entre a distância
entre os vales e picos e o diâmetro da tubulação.
e
∈= (5.10)
d
105
A rugosidade relativa ∈ é função do diâmetro do tubo, do seu material e do seu
processo de fabricação.
Fe
rro
Aç
g
alv
o
an
co
iza
me
do
rci
Tu
al
bo
ou
est
Fo
ira
Fo
do
Figura 5.6.: gráfico que relaciona o índice de rugosidade (∈) com diâmetro do duto (D)
concluir que:
¾ Existem três grandezas independentes: [L], [M], [t] e, portanto, haverá quatro
grupos adimensionais.
π i i = 1,2,3,4
hD L ρ vD
Grupos adimensionais: π1 = 2 ; π2 = ; π3 = ε ; π4 =
v D µ
≡ Re
(Nº de Reynolds)
hD
Com isso, conclui-se que: = ψ2 (L D , Re, ε) .Porém, para escoamentos
v2
hD L
desenvolvidos, h D ∝ L e, portanto, 2
= ψ3 (Re, ε) , ou seja:
v D
106
D Lv2
h =f (5.11)
D2
64
f= (5.12)
Re
Nos escoamentos turbulentos, não existe uma expressão analítica que define o
fator de fricção. Nesses casos, recorre-se ao Diagrama de Moody (Apêndice 3) que
representa as curvas (Re X f) para um determinado índice de rugosidade.
Região de transição
log x log
0,1
= 64
Re ε = 0,05
Tubos rugosos
Fator de fricção -
Tubos
lisos
107
1 ε 2, 51
= −2, 0 log + (5.13)
f 0,5 3, 7 Re⋅ f 0,5
L v2
h =K (5.14)
2
108
Tabela 5.1.: coeficientes de perda de carga típicos para algumas válvulas e conexões
Válvulas e Conexões
Válvulas K
Conexões
acidentes Le
D
Válvula globo completamente aberta 200
109
Saídas:
Entradas:
Exercícios propostos:
1
D
H Ke
110
2. Calcular a potencia da bomba necessária para deslocar os produtos abaixo no poliduto
ilustrado com uma vazão volumétrica de Q = 245 m 3 / s :
L = 200 km
Refinaria Ø = 10"
do Paraná Base de distribuição
de Itaguaí (SC)
_z = 895 m
Plano de referência
1)
d 1, f 1 , L1
d 2, f 2 , L 2
H d3 , f 3 , L3
111
2)
d 2, f 2, L 2
d1, f 1, L 1
d3 , f 3 , L3
Figura 5.11
Despreze as perdas localizadas
hmáx
1
l , D ou
H
Gasolina L,d?
2
Reservatório 1
Reservatório 2
Figura 5.12
5. Determinar hmáx no problema 3, considerando que o fluido é a água.
112
6. Encontre a equação diferencial que governa o movimento do líquido no interior
do manômetro. Desprezar o atrito viscoso. Dados: h(t = 0) = h 0 e
dh
(t = 0) = 0
dt
h g
h 2
l
Figura 5.13
1
h = h(t)
D
h
Densidade ρ
d
2 Plano de referência
L. Corrente
Figura 5.14
113
9. Determinar a variação de temperatura sofrida pela água entre os pontos 1 e 2. Admitir
o escoamento adiabático.
150 m
g 2
Dados:
ρH 2O
= 1000 kg / m 3
c v = 4187 J / kg ⋅ K
Figura 5.15
d
1 2
D ρF
h g
ρm
Figura 5.16
114
Apêndice
∂ρ 1 ∂ 1 ∂ ∂
+ .
∂t r ∂r
( r ρ vr ) + .
r ∂θ
( ρ vθ ) +
∂z
( ρ vz ) = 0
115
Apêndice 2 : Equação de Navier-Stockes
∂v ∂v ∂ v ∂ v ∂2 v x ∂ 2
v ∂ 2
v x ∂p
x : ρ x
+ vx x
+ vy x
+ vz x = µ + x
+ − + ρg x
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x2 ∂y2 ∂z2 ∂x
∂v y ∂v y ∂v y ∂v y ∂2 v y ∂2 v y ∂ 2 v y ∂p
y : ρ + vx + vy + vz
= µ + + − + ρg y
∂t ∂x ∂y ∂z ∂ x 2
∂ y 2
∂ z 2
∂ y
2 2 2
z : ρ ∂vz + v x ∂vz + v y ∂vz + vz ∂vz = µ ∂ vz + ∂ vz + ∂ v z − ∂p + ρgz
∂t ∂z
∂x ∂y ∂x2 ∂y2 ∂z2 ∂z
r : ρ
∂v r
∂t
+ v r
∂v r
∂ r
+
v θ ∂v r
r ∂θ
−
v θ2
r
+ v z
∂vr
∂ z
= µ
∂ (
∂ 1∂
r r ∂ r
( rv )
r ) +
1 ∂2 vr
r 2
∂θ 2
+
∂2 vr
∂ z2
−
2 ∂v θ ∂p
r
−
2 ∂θ
∂ r
+ ρg r
(
θ : ρ
∂vθ
∂t
+ vr
∂vθ
∂r
+
v θ ∂v θ
r ∂θ
+
vr vθ
r
+ vz
∂v θ
∂z ) = µ
∂ 1∂
(
∂r r ∂r )
( rv θ ) + 2
1 ∂2 vθ
r ∂θ2
+
∂2 vθ
∂z2
+
2 ∂v r 1 ∂p
−
r2 ∂θ r ∂θ
+ ρg θ
( ∂v z ∂v z v θ ∂v z ∂v z
) (
1 ∂ ∂v z
)
z : ρ ∂t + vr ∂r + r ∂θ + vz ∂z = µ r ∂r r ∂r + r2 ∂θ2 + ∂z2 − ∂z + ρgz
1 ∂2 vz ∂ 2 v z ∂p
116
Coordenadas esféricas (r,θ,φ) :
∂v r θ +v φ
( )
2 2
∂ v v ∂ v v ∂ v v ∂ 1 ∂ 2
= µ
φ
2 ∂r (
r : ρ + vr r
+ θ r
+ r
− r vr ) +
∂t
∂ r r ∂θ r sen θ ∂φ r
∂ r r
r 2
1
sen θ
∂
(
∂θ
sen θ
∂v r
∂θ ) +
r 2
1
sen 2
θ
∂2 v r
∂φ 2
−
r 2
2
sen θ
∂
∂θ
( v θ sen θ ) −
r 2
2 ∂v φ ∂ p
sen θ ∂φ
−
∂ r
+ ρg r
∂v θ vφ2 cot gθ
θ : ρ
∂t
+ v r
∂v θ
∂r
+
v θ ∂v θ
r ∂θ
+
vr vθ
r
+
v φ ∂v θ
r sen θ ∂φ
−
r
= µ (
1 ∂ 2 ∂v θ
r2 ∂r
r )
∂r
+
+
r
1 ∂
( 1 ∂
2 ∂θ sen θ ∂θ
( v θ sen θ )) +
r 2
1
sen 2
θ
∂2 v θ
∂φ 2
+
r
2 ∂v r 2 cot gθ ∂vφ 1 ∂p
2 ∂θ
− 2
r sen θ ∂φ
r ∂θ
+ ρg θ
∂v φ ∂v φ v ∂v φ v φ ∂v φ vφ v r v θ vφ 1 ∂ ∂vφ
φ : ρ + vr + θ + + + cot gθ = µ 2 r2 +
∂ t ∂ r r ∂θ r sen θ ∂φ r r
r ∂ r ∂ r
( )
2
+ 1 ∂ 1 ∂ 1 ∂ vφ 2 ∂v r 2 cot gθ ∂vθ 1 ∂p
( v θ sen θ ) + 2 + 2 + 2 − + ρg φ
r 2 ∂θ sen θ ∂θ r sen 2
θ ∂φ 2
r sen θ ∂φ r sen θ ∂φ
r sen θ ∂φ
117
Apêndice 3: Diagrama de Moody
118
Apêndice 4: Fatores de conversão de unidades inglesas e americanas para unidades SI
119
Referências bibliográficas
(I) FOX, K.W. e McDonald, A.T. Introdução à Mecânica dos Fluidos, Guanabara
Dois, 2ª edição, 1999.
(II) MUNSON, B.R., YOUNG, D.F. e OKIISHI, T.H. Fundamentos da Mecânica
dos Fluidos, volumes I e II, Edgard Blücher, 1997.
(III) SISSON, L.F. e PITTS, D.R. Fenômenos de Transporte, Guanabara.
(IV) STRECTER, V.L. e WYLIE, E.B. Mecânica dos Fluidos, McGraw-Hill, 7ª
edição, 1980.
(V) SHAMES, I.H. Mecânica dos Fluidos, volumes I e II, Edgard Blücher, 1973.
(VI) WHITE, F.M. Mecânica dos Fluidos, McGraw-Hill, 4ª edição, 1999.
(VII) BIRD, R.B., STEWART, W.E. e LIGHT FOST, E.N. Transport Phenomena,
Wiley, 1960.
120
1
3
4