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A Vida de Elias Canetti

Elias de Canetti nasceu em 25 de julho de 1905 numa pequena cidade da Bulgária chamada
Ruschuk e faleceu em 14 de agosto de 1994 na cidade de Zurique na Suíça. Sua família era de
origem judaíca serfadins, e a língua materna de sua família era o ladino, uma língua ibérica
semelhante ao castelhano falada falada por comunidades judaicas originárias da península
ibérica. Em 1911 mudou-se com a sua família para Manchester na Inglaterra onde aprendera o
inglês. Em 1912 seu pai morreu e no ano seguinte mudou-se com sua mãe e seus dois irmãos para
Viena na Áustria. Em 1929 graduou-se em química pela Universidade de Viena.
No começo dos anos 30 traduziu a obra do americano Upton Sinclair para o alemão. Começou
a carreira literária escrevendo romances e peças de teatro. Em 1932 publicou "O Casamento" e
em 1934 "Comédia da Vaidade".
Um acontecimento na Áustria teve repercussões importantes para sua obra posterior, pois viu-
se preso no meio de uma multidão de manifestantes que queimaram o Palácio da Justiça. Este
acontecimento teve na gênese de um de seu mais famoso ensaio, "Massa e Poder, sobre a
psicopatologia das massas.
Adotou a língua alemã como sua língua literária. Em 1935 publicou sua obra prima, o
vigoroso romance "Auto da Fé", mas esta obra não despertou muito interesse até 1960, quando
foi reeditada. Fugindo da perseguição nazista aos judeus, viajou para Paris em 1938, e no ano
seguinte emigrou para Inglaterra onde viveu a maior parte da sua vida em Londres. Trabalhava
como escritor free-lancer e em 1952 conseguiu cidadania britânica.
Em 1963 ficou viúvo de Veza Taubner-Caledrón, com quem estava casado havia vinte anos.
Após a publicação de "Massa e Poder" em 1960, Canetti obteve reconhecimento e um grande
número de leitores. Várias obras se sucederam dentre elas: "Sketches" em 1963, "Vozes de
Marrakesh" de 1967, e "O outro Processo-Cartas a Felice" de 1969 em que Canetti examinou
aspectos da obra e da personalidade literaria de Franz Kafka.
Em 1971 Canetti casou-se com Hera Buschor, com quem teve uma filha. O livro "O Todo-
ouvidos" foi lançado em 1974, e dois anos depois Canetti publicou textos de crítica literária num
volume intitulado "A conciência das Palavras".

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Configurando um dos pontos mais altos de sua carreira literária, Canetti reviveu sua infância e
juventude numa obra em dois volumes: "A Língua Absolvida-Historia de uma Juventude" de
1977, e "Uma Luz em Meu Ouvido" de 1980. Nestas duas obras usou o poder de recordar para
criar e passar para o leitor uma imagem da sociedade e dos lugares nos quais ele viveu.
Apesar de ter recebido ao longo de sua vida vários prêmios e distinções por suas obras
literárias, em 1981 Canetti recebeu o prêmio Nobel de Literatura que lhe deu reconhecimento
mundial. A partir desta época passou a viver recluso, mas publicou ainda "O Jogo dos Olhos" em
1985, "O Coração Secreto do Relógio" em 1987, e "O Sofrimento das Mosca" em 1992.
Canetti faleceu em 1994 na cidade de Zurique na Suíça.

O Aprendizado de Línguas

Não seria necessário ler por completo a autobiografia, A Língua Absolvida - História de uma
Juventude, do literato Elias de Canetti, para certificar-se o porque do autor ter tido tanto êxito em
sua educação, quanto no aprendizado de várias línguas, esse último, imediatamente na sua
infância. Canetti sempre dedicou-se a absorver tudo de conhecimento que fosse possível, e
passou a amar a leitura ainda quando criança. Segundo Canetti, alguns meses depois de ter
ingressado na escola, aconteceu algo solene e exitante que determinou toda sua vida futura. Seu
pai lhe trouxe um livro de histórias em inglês. Ele conta que seu pai o levou para o quarto dos
fundos, onde ninguém costumava dormir, e o explicou o livro para ele. Seu pai lhe disse que
quando ele acabasse de ler este livro, ele traria outro. Canetti leu todo o livro, e como seu pai
prometera, sempre havia um outro livro para ele ler (Canetti, 1989, p. 50).
No acontecimento anterior, ficou claro a importância que a família pode fazer pela educação e
aprendizado de uma criança. Canetti gostava de observar seu pai lendo jornais, e até chegava
emita-lho, deixando bem claro que quase tudo que ele conseguiu em sua formação, devia aos
livros que tinha lido por amor ao seu pai. Sem sombra de dúvida, a infância é a fase na qual a
criança tem curiosidade para descobrir o mundo se lhe for permitido, e cabe ao adulto
responsável pela educação dessa criança saber explorar essa grande força interior que esse
pequeno ser tem, pois a criança é um ser em formação que precisa de pessoas para se espelhar. Se

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a criança vive num ambiente no qual ela é notada e participa de exemplos bons a ser seguido, terá
grandes chances de ter sucesso em sua vida.
O amor de Canetti pela leitura era tão grande, que ele se preocupava com a demanda de livros
no mundo, pois tinha medo em que chegasse um dia no qual ele não tivesse mais livros para ler.
Na época em que ganhou o primeiro livro de seu pai, Canetti já estava morando em Manchester,
onde aprendera a língua inglesa. Estudava em uma escola com crianças inglesas, um ambiente
totalmente favorável para o aprendizado desta língua, ou seja uma nova língua para ele. Neste
caso o aprendizado da língua inglesa era completado com a leitura dos livros que seu pai lhe
dava.
Atualmente existe várias pesquisas sobre o aprendizado de uma segunda língua, merecendo
ser destacada a respeitada teoria sobre o aprendizado de línguas pertencente ao norte americano
Stephen Krashen da Universidade do Sul da Califórnia nos Estados Unidos. Sua teoria está
baseada no que ele considera como as duas principais tendencias para o aprendizado de uma ou
várias línguas estrangeiras. As duas tendencias dão origem aos termos em inglês chamados de
Learning e Acquisition, que quer dizer, Aprendizagem e Aquisição, e em parte baseiam-se no
contraste da dificuldade para se aprender uma segunda língua com a facilidade para aprender a
língua materna.
Segundo Krashen o conceito de Aprendizagem está ligado à abordagem tradicional do ensino
de línguas, assim como é ainda hoje praticada nas escolas secundárias. A atenção volta-se à
língua na sua forma escrita e o objetivo é o entendimento pelo aluno da estrutura gramatical e de
outras regras do idioma através de um grande esforço intelectual. Neste caso é um processo
progressivo e cumulativo, e espera-se que com isso o aluno venha futuramente ter habilidade de
entender e falar essa língua.
O conceito de Aquisição está ligado ao processo de assimilação natural, subconsciente,
intuitivo, ou seja, é fruto de situações reais de interação humana. Neste caso é semelhante a
assimilação da língua materna pelas crianças, processo em que se desenvolve habilidade oral,
produzindo habilidade prática e não necessariamente conhecimento a respeito do idioma.
Conforme a Aquisição, residir em um país diferente do país de origem, e aprender com isso uma
outra língua seria um exemplo deste método, o qual Krashen considera como um processo mais
eficiente do que Aprendizado. Após aprender a parte oral de um idioma, ou seja, comunicar-se

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fluentemente no idioma aprendido, será muito mais proveitoso aprender a parte gramatical e as
regras desse idioma.
Dentro da tendencia da Aquisição, Krashen destaca várias hipóteses que servem de alicerce
para sua teoria, das quais podemos citar as que ele considera como principais como: o Input e o
Filtro Afetivo.
O Input seria a mensagem oral, escrita, etc..., que o aprendiz estaria recebendo de seu
professor, ou de qualquer outra pessoa com a qual esteja se comunicando. Para ele, o Input é
indispensável, pois é a partir das mensagens que o aprendiz receber, é que ele aprenderá a nova
língua. Ele cita ainda que a qualidade do Input determinará a qualidade do Output (mensagens
geradas pelo aprendiz), pois cita casos de pessoas que aprenderam a língua materna com desvios
na pronúncia, e mesmo depois tendo estudado à risca essa língua, não conseguiu corrigir os erros
correspondentes aos desvios na pronúncia.
O Filtro Afetivo estaria relacionado com a parte psicológica do aprendiz. Estariam inclusos os
fatores como motivação, ansiedade, autoconfiança, desinibição, etc.... Esses fatores poderão ser
afetados pelo ambiente, no qual o aprendiz está inserido. Um ambiente propício para o
aprendizado de línguas, seria um ambiente no qual o aluno pudesse se soltar numa conversação
sem medo de errar. Um aluno com essas características possui um Filtro Afetivo baixo, ou seja, o
Filtro Afetivo pode ser influenciado pelo ambiente.
Segundo Krashen, a infância é a melhor idade para se aprender uma nova língua, por isso é
muito importante salientar que o ambiente e as pessoas com a qual a criança esteja aprendendo a
nova língua, sejam bem selecionados, pois na infância a criança absorve de tudo, e como sua
matriz fonológica ainda não está formada, absorvendo os desvios da língua na infância, será
quase que impossível corrigi-lhos em outra fase da vida.

Canetti e as Línguas

Sabemos que Canetti obteve grande respeito no mundo literário, e que era um grande
estudioso, mas num primeiro momento quero deixar claro que o meu objetivo não é tirar o seu
merecimento, pois não ousaria, mas será que ele teria conseguido entender e falar fluentemente

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vários idiomas somente através da leitura? Seria possível alguém conseguir ser fluente em um
idioma somente lendo livros? Devo deixar claro que quando Canetti disse que devia quase que
por completo sua formação aos livros, ele não estava restringindo sua formação apenas ao
aprendizado de línguas. Por isso, posso inferir que ele poderia ter sido um grande escritor na
língua materna, sem ao menos saber outro idioma, mas com certeza não é comum encontrar
grandes escritores que conheçam apenas a língua materna. Segundo Krashen, aprender a falar
uma língua fluentemente apenas através de livros é quase que impossível. Para ele o idioma tem
que ser aprendido na prática, ou seja, em um ambiente composto por pessoas falantes do idioma,
de preferencia nativos conhecedores do idioma para que não haja desvios na pronúncia. Krashen
afirma que após a pessoa aprender a falar o idioma, aí sim, o aprendizado poderá ser completado
com o uso dos livros.
Desde seu nascimento, canetti sempre esteve em contato com vários falantes nativos de vários
idiomas. A cidade de Ruschuk, localizava-se na parte inferior do rio Danúbio na Bulgária,
fazendo divisa com a Romênia. Canetti descreve sua terra natal desta maneira: " (...) lá viviam
pessoas das mais diferentes origens, e num dia só podiam-se ouvir sete ou oito idiomas. Além dos
búlgaros, frequentemente vindos do campo, havia muitos turcos, que viviam em seu próprio
bairro, e limitando-se com este havia o bairro dos sefardins, o nosso. Havia gregos, albaneses,
armênios, ciganos. Da outra margem do Danúbio vinham os romenos; minha ama, da qual não
me lembro era romena. Havia ainda alguns russos" (Canetti,1989, p. 12).
Notamos no parágrafo anterior, que Canetti em sua infância já estava inserido em um
ambiente de muitas línguas. Devemos saber que uma pessoa que desde cedo está inserido num
ambiente como o descrito anteriormente, terá grandes chances de ser um poliglota. De acordo
com as idéias de Krashen, esse seria um ambiente propício para aprender outros idiomas.
Não querendo tirar o mérito de Canetti que amava a leitura, mas partindo do pressuposto de
que a teoria das aptidões naturais está errada, ou melhor, não é válida, pode-se considerar que ele
foi um privilegiado, por pertencer a uma família com vários integrantes conhecedores de outras
línguas. Seus pais se conheceram e estudaram em Viena onde é falado o alemão. Dominaram
durante sua vida além do ladino; o alemão, o inglês, e outros. Sua mãe era fascinada por obras
literárias e após a morte de seu esposo, passou a praticar muitas sessões de leitura com Canetti. O
patriarca da família, avô de Canetti, cujo nome era o mesmo do neto, dizia-se conhecedor de

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vários idiomas, e Canetti cita que "com todas as pessoas ele procurava falar na língua delas, mas
como havia aprendido tais línguas apenas de passagem, em suas viagens, seus conhecimentos,
excetuadas as línguas balcânicas (entre as quais se contava o ladino), eram bastantes limitados.
Gostava de contar nos dedos os idiomas que falava, e a graciosa certeza com que, nesta contagem
- sabe Deus como - , chegava às vezes a dezessete, às vezes a dezenove línguas, apesar de sua
pronúncia engraçada, era irresistível para a maioria das pessoas (Canetti, 1989, p. 102).
Ora, Canetti se surpreendeu na época com o exagero do seu avô com relação ao domínio de
várias línguas, mas sabemos que o surgimento de um idioma sempre teve sua origem em um, ou
vários idiomas. Podemos tomar como exemplos as línguas neolatinas modernas que foram
derivadas do latim, essa última uma língua indo-européia. Podemos também citar a escrita
fenícia, que deu origem a quase todos os idiomas da Europa, inclusive o latim. Isso significa que
pode haver palavras parecidas em alguns idiomas, ou até mesmo comuns à alguns idiomas. Não
sei dizer se seria possível falar dezessete idiomas, mas poderia afirmar com certeza, que o
aprendizado de uma terceira língua pode ser facilitado pelo conhecimento das outras duas.
Além de pertencer à uma família com vários poliglotas, Canetti teve a oportunidade de morar
em vários países. O pai de Canetti era um comerciante que juntamente com sua esposa ansiava
pela saída da Bulgária. A mãe de Canetti não suportava mais viver em Ruschuk, e seu pai não
aguentava mais ficar sob a pesada opressão do patriarca Canetti, que no passado o fizera abrir
mão de sua maior paixão, o teatro, pois sonhava em ser ator. Decidem então partir para
Manchester na Inglaterra, onde iria trabalhar com seu cunhado Salomon. Canetti tinha apenas seis
anos quando foi morar em Manchester, e imediatamente foi matriculado em uma escola inglesa.
Morando em Manchester, os pais de Canetti que até então só conversavam com ele em ladino,
passarão a conversar em inglês.
Na Bulgária, seus pais conversavam como de costume a sois na língua alemã, e em
Manchester isso continuará a acontecer, pois esta era a língua dos seus anos de estudos em Viena,
época em que se conheceram. Desde pequeno Canetti tinha o hábito de escutar escondido as
conversas de seus pais na língua alemã, mas até então não entendia nada. Mesmo sem entender
coisa alguma, Canetti costumava a repetir frases em alemão, e a alegria com que seu pai e sua
mãe conversavam a sóis, lhe causava curiosidade e ao mesmo tempo exclusão, porque não lhe era
permitido participar das conversas (Canetti, 1989, p. 34).

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Percebemos dessa maneira a curiosidade da criança sendo despertada a favor de entender algo
que ela não conhecia, neste caso descrito por Canetti como língua mágica, a alemã. É comum
nessa idade a criança se comportar desta maneira, mas é também nesta faixa etária que se torna
importante que as pessoas responsáveis pela educação da criança, sejam elas país ou professores,
saibam tirar proveito dessa vontade de aprender, dessa vontade de saber da criança. Se nesta
idade a criança for submetida a traumas, poderá influenciar negativamente em seu aprendizado
para toda sua vida. Segundo Kraushen, esta idade também é a melhor idade para se aprender uma
nova língua, pois na infância a matriz fonológica da criança ainda não está formada, o que evitará
que a criança cometa desvios na pronúncia da nova língua devido a língua materna. Mas
Kraushen cita ainda o enorme cuidado que devemos ter com a criança nessa idade, pois nessa
fase se a criança aprender um novo idioma de forma errada, talvez ela assimilará esses erros para
sempre.
Com a morte do pai de Canetti em Manchester, sua mãe decide ir morar em Viena com ele e
seus dois irmãos Nissin e Georg. Para sua mãe, Canetti teria que aprender imediatamente o
alemão para poder estudar nas escolas de Viena. Durante os meses do verão, ficaram em
Lausanne na Suíça, e foi neste tempo que Canetti teve que aprender alemão de uma forma, que
para ele foi traumática, pois sua mãe ensinava-lhe a frase em alemão e pedia que ele repetisse até
acertar a pronúncia, e só depois disto que lhe seria dado a tradução. Não tinha acesso a nenhum
livro que pudesse facilitar o aprendizado, pois para sua mãe, o livro era prejudicial ao
aprendizado de qualquer língua.
Sua mãe queria um aprendizado do alemão à curto prazo, e durante as lições castigava Canetti
com seu escárnio quando ele não correspondia ao que ela esperava. Ao longo do dia ele ficava
repetindo as frases, onde quer que ele estivesse. Nos passeios que ele fazia, andava calado,
ausente, e só tinha cabeça para as frases em alemão e seu significado em inglês. Sempre que
podia, ele se afastava dos outros e ensaiava as frases em voz alta, e acontecia de repetir
obsessivamente um erro, crente de estar dizendo a frase certa. Não tinha livro pelo qual pudesse
se guiar. Sua mãe recusava ceder o livro para Canetti, achando que não devia facilitar as coisas;
que os livros eram prejudiciais para o aprendizado de um língua; que se devia aprender falando, e
o livro só não prejudica quando já se conhece um pouco o idioma (Canetti, 1989, p. 83).
Qualquer mãe que ame seu filho, não desejará o sofrimento desse, mas a mãe Canetti estava

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querendo desenvolver um bom conhecimento do seu filho a respeito da língua alemã em pouco
tempo, pois ele teria que começar a estudar em Viena logo após o verão, por isso ela o submeteu
a tudo isso que Canetti descreve como traumático. Indo de encontro às idéias de Kraushen, sua
mãe até certo ponto estava certa à respeito do uso dos livros no início do aprendizado de uma
língua. Para aprender uma nova língua tem que ter a prática, ou seja, interação entre pessoas. O
livro pode até acompanhar, mas o aprendiz necessitará do Input oral com qualidade para que ele
possa desenvolver seu Output também com qualidade. Se não fosse assim, poderíamos aprender
uma língua somente assistindo filmes na língua a qual se pretende aprender. Após ele ter
aprendido a falar alemão, sua mãe deu lhe em seguida o livro. Canetti aprendeu o Alemão em três
meses, e o êxito do seu aprendizado foi confirmado quando ele começou à estudar em Viena.
Como já foi citado anteriormente, o conhecimento das outras línguas que Canetti possuía pode ter
ajudado a Canetti assimilar o alemão mais rápido que o normal.
Quando entrou para escola em Viena, seu professor perguntou-lhes com quem e em quanto
tempo ele aprendera o alemão, e ele respondeu com sua mãe e em três meses. O professor não se
conformou e atestou Canetti que passou nos teste. Ele contou para sua mãe que encarou com
naturalidade o acontecido pois, "para ela era natural que o alemão de seu filho não fosse apenas
igual, mas superior ao das crianças vienenses"(Canetti, 1989, p. 96).
Mas, qual seria a causa do alemão de Canetti ser superior ao das crianças de Viena? A resposta
poderia está na qualidade do Input fornecido à Canetti. Não devemos nos esquecer que sua mãe
estudou em Viena onde possivelmente aprendeu o alemão, ou na pior das hipóteses, melhorou seu
alemão, e que mesmo fora do convívio da língua alemã, continuou comunicando-se nesse idioma
com seu marido e lendo vários livros escritos nesta língua.
Com a eclosão da primeira Guerra Mundial, na qual a Áustria estava totalmente envolvida, os
alimentos começam a ficar escassos em Viena, e sua mãe se viu obrigada a levar Canetti e seus
irmãos para morar em Zurique na Suíça por ser um país neutro na guerra. Após residir um tempo
em Zurique, sua mãe retorna à Viena com seus outros filhos, mas Canetti continua estudando e
morarando em Zurique. Canetti passa a viver em uma pensão com estudantes de vários países,
todas do sexo feminino. Foi nesta época que ele escreveu seu primeiro livro, que dedicou à sua
mãe, com o título de "Junius Brutus".
Canetti foi mesmo um grande estudioso, com uma vontade enorme de saber sobre tudo que ele

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jugava ser interessante. Teve também um grande interesse pelas línguas. Durante uma visita da
sua mãe à Zurique, Canetti e ela planejaram um passeio sem as presenças de Georg e Nissin.
Resolveram visitar o Vale do Lötsch, uma região de difícil acesso da Suíça. Durante o passeio
eles passaram por uma localidade, onde Canetti escutou uma mulher anciã chamar o menino que
corria em sua direção, e duas palavras chamaram-lhe a atenção: "Chuom, Buobilu!". Ele sabia
que naquela época se falavam vários dialetos na Suíça, e essas palavra lembravam uma outra
palavra do alto-alemão antigo que ele estudara na escola (Canetti,1989, p.290).
Em uma nova visita a Zurique, após o fim da Primeira Guerra Mundial, sua mãe decide
mandar Canetti para estudar na Alemanha, que segundo ela, serviria para ele entender realmente
o significado do mundo, principalmente depois de uma guerra, pois ela não estava gostando
nenhum pouco do comportamento do seu filho. Canetti se opôs com todos os meios contra essa
mudança, mas ela não lhes deu ouvidos e o levou da Suíça. Para ele, esses foram os únicos anos
completamente felizes de sua vida. Canetti finaliza seu livro fazendo uma analogia de Zurique
com o paraíso de Adão e Eva (Canetti, 1989, p. 308-309).
Quando Canetti escreveu "A Língua Absolvida-História de uma Juventude" em 1977, ele
ainda não tinha recebido o prêmio Nobel de Literatura. Talvez essa felicidade incompleta que o
autor viveu fora do que ele chamou de paraíso, estava ligada ao desejo por um maior
reconhecimento do autor no mundo literário, que veio em 1981.

Conclusão

Refletindo sobre o aprendizado da língua materna, percebemos que a criança aprende a falar
as primeiras palavras naturalmente no convívio com as pessoas que a cercam. Isso quando é
ainda apenas um bebê. Ao longo do seu desenvolvimento físico e mental a criança vai
aumentando significavelmente seu vocabulário, até que consiga formar frases por si só, e isso
acontece em todas as civilizações e povos . É óbvio que se durante toda sua vida essa criança não
freqüentar uma escola para aprender regras de seu idioma, não fará com que ela quando adulta,
deixe de comunicar-se com qualquer pessoa que fale seu idioma, pois ela teve o Input necessário
para tal.

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Através dessa reflexão, percebemos que é muito comum vermos casos de pessoas que
estudaram vários anos uma língua estrangeira, em instituições de grande aceitação no mercado,
mas que não possui confiança para desenvolver um diálogo com um falante nativo da língua
estudada, ou seja não entende quase nada do que se conversa em uma roda de conversa composta
por falantes nativos, ou mesmo durante um programa de televisão nessa língua. Essa pessoa vive
desmotivada, pois não tem segurança para se expressar na língua estrangeira.
É comum também vermos casos de pessoas que foram morar em outro país a trabalho, e que
após alguns anos, aprendeu a falar a língua desse país. Essa pessoa sente-se a vontade no meio de
uma roda de conversa composta por falantes nativos do país no qual trabalhou, tanto para ouvir,
quanto para se expressar, sem o menor medo de cometer erros. Essa pessoa poderá infligir as
regras gramaticais dessa língua, o que é comum acontecer até mesmo com o nativo. Essa pessoa
não saberá quase nada ou nada de regras gramáticais da língua estrangeira, ao contrário do caso
anterior, mas sente-se segura numa conversação. Se perguntarmos a ela sobre a gramática da
língua estrangeira que ela aprendeu, dirá que não sabe, pois não aprendeu nada disso. Porém essa
pessoa terá um grande grau de desembaraço, e certamente terá auto-confiança para continuar a
aprender sobre o idioma estrangeiro. Diante destes dois casos, qual seria o método mais eficiente
para o aprendizado de uma língua estrangeira?
Krashen em sua teoria conclui que Aquisição é mais eficaz do que Aprendizagem para se
alcançar habilidade funcional na língua estrangeira, e que o ensino de línguas eficiente não é
aquele que segue a risca um pacote didático predeterminado, nem aquele que utiliza recursos
tecnológicos, mas sim aquele que é individualizado, em ambiente bicultural, que está ligado a
situações de comunicação real voltadas às áreas de interesse da pessoa que está querendo
aprender o novo idioma. As possíveis possibilidades de intercâmbio cultural, ou estudar em
instituições que adotem este método natural de aprendizado seria uma boa maneira de aprender a
segunda língua.
Diante dos fatos citados, o melhor método para aprender um idioma seria Aquisição, pois ao
fazer uma análise da tendencia natural das coisas, percebemos que a linguagem é um elemento de
relacionamento humano desde quando surgiu, e todos desenvolve conhecimento em língua, mais
pela assimilação natural, intuitiva, inconsciente, em ambientes de interação humana do que pelo
estudo formal com memorização regras. Portanto línguas não podem ser ensinadas, e sim
aprendidas se houver um ambiente apropriado. A mãe de Canetti estava certa quando disse que

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ao aprender uma língua, não se pode fazer o uso de livros, mas somente depois de ter aprendido o
idioma para poder melhorar este aprendizado.
A formação das idéias tem que ser espontânea. Uma pessoa será considerada uma boa
conhecedora de uma língua estrangeira, quando esta pessoa estiver relacionando
espontaneamente as ações no idioma em que estiver se comunicando. Quando Canetti escreveu
sua obra, não procurou traduzir nenhuma frase dos acontecimentos que ouvira em búlgaro para o
alemão, pois nem sequer sabia mais o idioma búlgaro. Na época em que sabia o idioma búlgaro,
ainda não sabia o alemão. Isto aconteceu, porque Canetti pensava em búlgaro e depois passou a
pensar em alemão. Por não praticar o idioma búlgaro, Canetti o esqueceu completamente, mas
mesmo assim, os acontecimentos da época em que falava o búlgaro, e ainda não falava o alemão,
se traduziram para o alemão espontaneamente, sendo uma grande prova de que o aprendizado de
uma língua, seja ela materna ou não, é, em sua maior parte um processo subconsciente.

Biografias

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letras, 1989.

CAMPOS, Raymundo. História geral 1. São Paulo: Atual editora LTDA, 1985.

BISSERET, Noelle. A Ideologia das Aptidões Naturais. In: DURAND, José. ORG. Educação e
hegemonia de classes. Rio de Janeiro: 1979.

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Acesso em: 14/01/2009

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http://www.doneforyou.com.br/padrao.aspx?texto.aspx?idContent=240&idContentSection=1836
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