Você está na página 1de 3

5694 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.

o 254 — 3-11-1998

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 3 — A actividade referida nos números anteriores tem


de revestir interesse social e comunitário e pode ser
desenvolvida nos domínios cívico, da acção social, da
Lei n.o 71/98 saúde, da educação, da ciência e cultura, da defesa do
de 3 de Novembro património e do ambiente, da defesa do consumidor,
da cooperação para o desenvolvimento, do emprego e
Bases do enquadramento jurídico do voluntariado da formação profissional, da reinserção social, da pro-
tecção civil, do desenvolvimento da vida associativa e
A Assembleia da República decreta, nos termos do da economia social, da promoção do voluntariado e da
artigo 161.o, alínea c), do artigo 166.o, n.o 3, e do solidariedade social, ou em outros de natureza análoga.
artigo 112.o, n.o 5, da Constituição, para valer como
lei geral da República, o seguinte:
CAPÍTULO II
CAPÍTULO I Princípios
Disposições gerais Artigo 5.o
Princípio geral
Artigo 1.o
Objecto O Estado reconhece o valor social do voluntariado
como expressão do exercício livre de uma cidadania
A presente lei visa promover e garantir a todos os activa e solidária e promove e garante a sua autonomia
cidadãos a participação solidária em acções de volun- e pluralismo.
tariado e definir as bases do seu enquadramento jurídico. Artigo 6.o
Princípios enquadradores do voluntariado
Artigo 2.o
Voluntariado
1 — O voluntariado obedece aos princípios da soli-
dariedade, da participação, da cooperação, da comple-
1 — Voluntariado é o conjunto de acções de interesse mentaridade, da gratuitidade, da responsabilidade e da
social e comunitário realizadas de forma desinteressada convergência.
por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras 2 — O princípio da solidariedade traduz-se na res-
formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das ponsabilidade de todos os cidadãos pela realização dos
famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucra- fins do voluntariado.
tivos por entidades públicas ou privadas. 3 — O princípio da participação implica a intervenção
2 — Não são abrangidas pela presente lei as actuações das organizações representativas do voluntariado em
que, embora desinteressadas, tenham um carácter iso- matérias respeitantes aos domínios em que os volun-
lado e esporádico ou sejam determinadas por razões tários desenvolvem o seu trabalho.
familiares, de amizade e de boa vizinhança. 4 — O princípio da cooperação envolve a possibili-
dade de as organizações promotoras e as organizações
representativas do voluntariado estabelecerem relações
Artigo 3.o e programas de acção concertada.
Voluntário 5 — O princípio da complementaridade pressupõe
que o voluntário não deve substituir os recursos huma-
1 — O voluntário é o indivíduo que de forma livre, nos considerados necessários à prossecução das acti-
desinteressada e responsável se compromete, de acordo vidades das organizações promotoras, estatutariamente
com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, definidas.
a realizar acções de voluntariado no âmbito de uma 6 — O princípio da gratuitidade pressupõe que o
organização promotora. voluntário não é remunerado, nem pode receber sub-
2 — A qualidade de voluntário não pode, de qualquer venções ou donativos, pelo exercício do seu trabalho
forma, decorrer de relação de trabalho subordinado ou voluntário.
autónomo ou de qualquer relação de conteúdo patri- 7 — O princípio da responsabilidade reconhece que
monial com a organização promotora, sem prejuízo de o voluntário é responsável pelo exercício da actividade
regimes especiais constantes da lei. que se comprometeu realizar, dadas as expectativas cria-
das aos destinatários do trabalho voluntário.
Artigo 4.o 8 — O princípio da convergência determina a har-
monização da acção do voluntário com a cultura e objec-
Organizações promotoras tivos institucionais da entidade promotora.
1 — Para efeitos da presente lei, consideram-se orga-
nizações promotoras as entidades públicas da adminis- CAPÍTULO III
tração central, regional ou local ou outras pessoas colec-
tivas de direito público ou privado, legalmente cons- Direitos e deveres do voluntário
tituídas, que reúnam condições para integrar voluntários
e coordenar o exercício da sua actividade, que devem Artigo 7.o
ser definidas nos termos do artigo 11.o Direitos do voluntário
2 — Poderão igualmente aderir ao regime estabele-
cido no presente diploma, como organizações promo- 1 — São direitos do voluntário:
toras, outras organizações socialmente reconhecidas que a) Ter acesso a programas de formação inicial e
reúnam condições para integrar voluntários e coordenar contínua, tendo em vista o aperfeiçoamento do
o exercício da sua actividade. seu trabalho voluntário;
N.o 254 — 3-11-1998 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5695

b) Dispor de um cartão de identificação de volun- g) Não assumir o papel de representante da orga-


tário; nização promotora sem o conhecimento e prévia
c) Enquadrar-se no regime do seguro social volun- autorização desta;
tário, no caso de não estar abrangido por um h) Garantir a regularidade do exercício do trabalho
regime obrigatório de segurança social; voluntário de acordo com o programa acordado
d) Exercer o seu trabalho voluntário em condições com a organização promotora;
de higiene e segurança; i) Utilizar devidamente a identificação como volun-
e) Faltar justificadamente, se empregado, quando tário no exercício da sua actividade.
convocado pela organização promotora, nomea-
damente por motivo do cumprimento de mis-
sões urgentes, em situações de emergência, cala- CAPÍTULO IV
midade pública ou equiparadas;
Relações entre o voluntário e a organização promotora
f) Receber as indemnizações, subsídios e pensões,
bem como outras regalias legalmente definidas,
em caso de acidente ou doença contraída no Artigo 9.o
exercício do trabalho voluntário; Programa de voluntariado
g) Estabelecer com a entidade que colabora um
programa de voluntariado que regule as suas Com respeito pelas normas legais e estatutárias apli-
relações mútuas e o conteúdo, natureza e dura- cáveis, deve ser acordado entre a organização promotora
ção do trabalho voluntário que vai realizar; e o voluntário um programa de voluntariado do qual
h) Ser ouvido na preparação das decisões da orga- possam constar, designadamente:
nização promotora que afectem o desenvolvi- a) A definição do âmbito do trabalho voluntário
mento do trabalho voluntário; em função do perfil do voluntário e dos domí-
i) Beneficiar, na qualidade de voluntário, de um nios da actividade previamente definidos pela
regime especial de utilização de transportes organização promotora;
públicos, nas condições estabelecidas na legis- b) Os critérios de participação nas actividades pro-
lação aplicável; movidas pela organização promotora, a defini-
j) Ser reembolsado das importâncias despendidas ção das funções dela decorrentes, a sua duração
no exercício de uma actividade programada pela e as formas de desvinculação;
organização promotora, desde que inadiáveis e c) As condições de acesso aos locais onde deva
devidamente justificadas, dentro dos limites ser desenvolvido o trabalho voluntário, nomea-
eventualmente estabelecidos pela mesma enti- damente lares, estabelecimentos hospitalares e
dade. estabelecimentos prisionais;
d) Os sistemas internos de informação e de orien-
2 — As faltas justificadas previstas na alínea e) con- tação para a realização das tarefas destinadas
tam, para todos os efeitos, como tempo de serviço efec- aos voluntários;
tivo e não podem implicar perda de quaisquer direitos e) A avaliação periódica dos resultados do trabalho
ou regalias. voluntário desenvolvido;
3 — A qualidade de voluntário é compatível com a f) A realização das acções de formação destinadas
de associado, de membro dos corpos sociais e de bene- ao bom desenvolvimento do trabalho volun-
ficiário da organização promotora através da qual exerce tário;
o voluntariado. g) A cobertura dos riscos a que o voluntário está
sujeito e dos prejuízos que pode provocar a ter-
Artigo 8.o ceiros no exercício da sua actividade, tendo em
Deveres do voluntário consideração as normas aplicáveis em matéria
de responsabilidade civil;
São deveres do voluntário: h) A identificação como participante no programa
a desenvolver e a certificação da sua parti-
a) Observar os princípios deontológicos por que cipação;
se rege a actividade que realiza, designadamente i) O modo de resolução de conflitos entre a orga-
o respeito pela vida privada de todos quantos nização promotora e o voluntário.
dela beneficiam;
b) Observar as normas que regulam o funciona-
mento da entidade a que presta colaboração Artigo 10.o
e dos respectivos programas ou projectos; Suspensão e cessação do trabalho voluntário
c) Actuar de forma diligente, isenta e solidária;
d) Participar nos programas de formação destina- 1 — O voluntário que pretenda interromper ou cessar
dos ao correcto desenvolvimento do trabalho o trabalho voluntário deve informar a entidade promo-
voluntário; tora com a maior antecedência possível.
e) Zelar pela boa utilização dos recursos materiais 2 — A organização promotora pode dispensar a cola-
e dos bens, equipamentos e utensílios postos boração do voluntário a título temporário ou definitivo
ao seu dispor; sempre que a alteração dos objectivos ou das práticas
f) Colaborar com os profissionais da organização institucionais o justifique.
promotora, respeitando as suas opções e seguindo 3 — A organização promotora pode determinar a sus-
as suas orientações técnicas; pensão ou a cessação da colaboração do voluntário em
5696 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 254 — 3-11-1998

todos ou em alguns domínios de actividade no caso de dores admitidos por contrato sem termo com idade não
incumprimento grave e reiterado do programa de volun- superior a 30 anos são levados a custo em valor cor-
tariado por parte do voluntário. respondente a 150 %.
2 — Para efeitos do disposto no número anterior, o
montante máximo dos encargos mensais, por posto de
CAPÍTULO V trabalho, é de 14 vezes o ordenado mínimo nacional.
Disposições finais e transitórias 3 — A majoração referida no n.o 1 terá lugar durante
um período de cinco anos a contar da vigência do con-
Artigo 11.o trato de trabalho.»
Regulamentação Artigo 2.o
1 — O Governo deve proceder à regulamentação da A produção de efeitos financeiros da presente lei ini-
presente lei no prazo máximo de 90 dias, estabelecendo cia-se com a vigência do próximo Orçamento do Estado.
as condições necessárias à sua integral e efectiva apli-
cação, nomeadamente as condições da efectivação dos Aprovada em 1 de Outubro de 1998.
direitos consignados nas alíneas f), g) e j) do n.o 1 do
artigo 7.o O Presidente da Assembleia da República, António
2 — A regulamentação deve ter ainda em conta a de Almeida Santos.
especificidade de cada sector da actividade em que se
exerce o voluntariado. Promulgada em 21 de Outubro de 1998.
3 — Até à sua regulamentação mantém-se em vigor
a legislação que não contrarie o preceituado na presente Publique-se.
lei. O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.

Artigo 12.o Referendada em 23 de Outubro de 1998.


Entrada em vigor
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira
A presente lei entra em vigor 30 dias após a sua Guterres.
publicação.
Resolução da Assembleia da República n.o 52/98
Aprovada em 24 de Setembro de 1998.
O Presidente da Assembleia da República, António Constituição da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar
de Almeida Santos. às Denúncias de Corrupção na Junta Autónoma de Estradas

A Assembleia da República resolve, nos termos dos


Promulgada em 21 de Outubro de 1998.
artigos 166.o, n.o 5, e 178.o, n.os 1, 2 e 5, da Constituição
Publique-se. e dos artigos 1.o e 2.o, n.o 1, alínea a), da Lei n.o 5/93,
de 1 de Março, o seguinte:
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
1 — É constituída a Comissão Eventual de Inquérito
Parlamentar às Denúncias de Corrupção na Junta Autó-
Referendada em 23 de Outubro de 1998.
noma de Estradas.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira 2 — A Comissão referida no número anterior tem
Guterres. por objecto principal:
a) A averiguação e fiscalização dos actos de cor-
Lei n.o 72/98 rupção denunciados pelo ex-presidente da Junta
de 3 de Novembro Autónoma de Estradas, general Garcia dos
Santos;
Incentivo fiscal à criação de emprego para jovens b) O apuramento das responsabilidades das pes-
soas envolvidas e das medidas que a Junta Autó-
A Assembleia da República decreta, nos termos dos
noma de Estradas e o Governo tomaram para
artigos 161.o, alínea c), 165.o, n.o 1, alínea i), 166.o, n.o 3,
concretizar essa responsabilidade;
e 112.o, n.o 5, da Constituição, para valer como lei geral
c) A identificação das medidas concretas tomadas
da República, o seguinte:
pelo Governo a propósito das situações que lhe
foram dadas a conhecer;
Artigo 1.o d) A inventariação das medidas de incidência legis-
lativa que podem ser adoptadas para dotar os
É aditado um novo artigo 48.o-A ao Decreto-Lei
procedimentos legais de contratação de obras
n.o 215/89, de 1 de Julho (Estatuto dos Benefícios Fis-
e fornecimentos públicos de regras eficazes de
cais), com a seguinte redacção:
imparcialidade, de objectividade e de efectiva
igualdade de tratamento entre os concorrentes
«Artigo 48.o-A à adjudicação dessas obras e fornecimentos.
Criação de empregos para jovens
Aprovada em 22 de Outubro de 1998.
1 — Para efeitos do imposto sobre o rendimento das
pessoas colectivas (IRC), os encargos correspondentes O Presidente da Assembleia da República, António
à criação líquida de postos de trabalho para trabalha- de Almeida Santos.

Você também pode gostar