PRÁTICAS
objetivos do ensino.
(2005) por sua vez, ressaltará a presença de tal perspectiva no “estudo do meio”,
estar impactando a prática docente, se faz necessário, em primeiro lugar, refletir sobre
que História é a “História Local”. Não se trata, portanto, de afirmar-se o local como o
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Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Pernambuco/UFPE, Bacharel e Licenciada em História pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE,
Professora Substituta do Departamento de Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação da UFPE.
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Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, no Departamento de Métodos e Técnicas de
Ensino do Centro de Educação da UFPE, doutor em Ciências da Educação pela Université Paris V -
René Descartes - e Diretor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
conceituação de “local” apresentadas pela Geografia, bem como especificidades
dos currículos da disciplina para a Rede Municipal de Ensino do Recife, através das
opções, presentes nas recentes propostas de ensino, pelo ensino da História da Cidade.
histórias das cidades ou localidades, a que nos referimos ao dizer “História Local”.
que concerne às relações de poder dentro da ordem social, da História ao afirmar que,
nível nacional, quanto com uma nova organização administrativa do sistema de ensino
1980 e 1990, tanto quanto para docentes de História atuantes na Rede desde o período,
vereador ao instituir a disciplina por vias da legislação municipal foi na contramão das
município.
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A dissertação, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Pernambuco – PPGE/UFPE, intitulada “Reformulação da Proposta Curricular de História da Rede
Estadual de Pernambuco (1987 – 1992)”, tratou das reformulações efetivadas durante o Governo Arraes
(PMDB) e se estende até metade do Governo Joaquim Francisco (PFL).
Aprovado o projeto, a Lei Municipal no 15.024/87 não trouxe, em seu texto,
trabalhada nas escolas. A idéia inicial do Vereador Liberato Costa Júnior seria a
pode desprender esta perspectiva que buscava, de certo modo, afirmar as relações entre
a julgar pela estrutura do texto. O que confirma as falas dos educadores em torno de não
maioria afirma que se ensina História do Recife desde a década de 1980 ou, pelos
menos, desde a de 1990, mas não recorda em que momento a disciplina passou a ter
Estas questões, aliás, para a maior parte dos docentes parece irrelevante.
partir de 1985, tem como fruto a publicação, no ano de 1988, da obra “Todos Contam
sua História”.
(conforme documento Anexo), não é, porém, como poderia ser interpretado a partir da
Antes, o livro é parte de uma política curricular que buscava inserir reflexões em torno
e espaços históricos. Vale lembrar que tal política foi construída pelos docentes e
15.024/87.
do Recife, bem como a quase completa ausência de material de apoio didático nas
conclusão de nossa pesquisa vinte anos depois, em 2007, são: a primeira de autoria
do Professor Antônio Paulo Rezende, no ano de 1988, o livro “Todos Contam a sua
professores de História da Rede que foram licenciados durante o ano de 1996 pela
livro “Histórias do Recife”, em 1998. As duas publicações coincidem por ser frutos
livro didático sobre o Recife, não parece, portanto, ter havido debates entre o
na página do Diário Oficial que publiciza a Lei No 15.024/87 destaca “Recife 450
anos” (ver anexo), o que pode apontar também para a possibilidade de a lei ter sido
bem recepcionada4 mediante um contexto comemorativo, não traduzindo uma
texto da Lei não aprofunda questões referentes aos modos como se organizaria
cidade. Em sua fala, o professor Antônio Paulo Rezende rememora que, no início da
livros didáticos produzidos anteriormente – o que não pode ser, segundo ele mesmo,
comprovado. No entanto, se sabe que o livro não foi utilizado na rede municipal
A edição de 1988 foi, portanto, a única edição daquela obra; não tendo
sido produzido, para fins didáticos, mediante financiamento público, nenhum outro
livro “Todos contam a sua História” era lembrado pelos docentes que, muitas vezes,
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A Lei no 15.024/87 foi aprovada por unanimidade na CMR.
segundo eles, para o envolvimento dos estudantes com a aprendizagem da História
da cidade.
É interessante destacar que o livro que durante a década de 1980 teve uso
26 de Julho de 20075.
disciplina, e a reafirmação de que a disciplina foi fruto de uma lei e de que seus
Essa percepção do modo como foi instituída a disciplina parece ter influência sobre a
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Durante um encontro integrante do programa de formação continuada da Secretaria de Educação da
Prefeitura da Cidade do Recife, realizado em Julho passado, o tema abordado foi História do Recife.
Nesta ocasião, o livro “Todos contam sua História” foi redistribuído.
b) Planejamento diferente para as disciplinas História e História do Recife,
considerando a grade oficial de aulas;
c) Confusão na organização do ensino das disciplinas, acontecendo aulas de
História do Recife apenas quando parece não haver atividades ou conteúdos
pendentes de História.
questões locais, talvez porque, enquanto conteúdo curricular seja compreendido, pelo
Embora seja possível afirmar que a maior parte dos docentes que defende a
importância do ensino de História do Recife utiliza horários de suas aulas para resolver
através de suas falas, maior interesse e convicção no estudo e ensino das questões
locais.
Ensino não estabelecemos, contudo, um juízo de valor sobre a prática de cada professor
professor ou professora.
Recife para tratar de temáticas de História Geral, parece revelar que há uma
fossem tratados para fins de avaliação, foi verificada. Nesse sentido é interessante
colocando a questão espacial como algo que não justifica a separação da organização do
possível, inclusive pelo fato de não ter acontecido avaliação em História do Recife,
2002 parece avançar em relação ao documento anterior (Recife, 1996), por destacar a
formal autonomia disciplinar da História da Cidade, ou seja, ela já não está colocada no
posteriores, bem como as narrativas fornecidas pelos docentes apontam para uma
a carga horária de uma (01) aula semanal não propicia condições de aprofundamento
diferenciado dos estudantes com o estudo da História da cidade. Nas falas dos
afirmou:
afirmações como:
outras disciplinas, o horário não se estendeu até às 17:30 horas e, ainda, alguns
tempo, ressaltou:
duas 6ª séries ao mesmo tempo fez o professor saltar do estudo de dados demográficos,
aulas de História do Recife não raramente era utilizado para repor aulas de História
Outra dificuldade que foi apontada por alguns docentes era a de completar a
carga horária contratual com aulas de História do Recife, dado ao pequeno número de
horas aula de história do Recife, contribuindo para tornar o trabalho dos professores
ainda mais exaustivo, por conta do maior número de turmas a serem assumidas pelo
de uma gestora:
mas enquanto uma vivência pedagógica que propicie a integração entre os educando,
vozes que buscam repensar e redirecionar um ensino de História que possa constituir-se,
legitimação das organizações sociais mediante possíveis (ou vencedoras) narrativas que
historiador Georges Duby (1993). Quem falará (sempre) por este passado que cala,
ainda que permaneça entre nós como herança ou modelo a ser rejeitado, são os
da História.
educacionais claras. A decisão sobre o currículo reflete, algumas vezes, interesses antes
o político. Educar é ação política. Quem educa, não estando limitado à condição de
As realidades com as quais nos deparávamos no dia a dia das escolas nos
entre o tratamento de dados de uma História Global - que seria, supostamente, ampla e
distanciada da realidade dos discentes - e uma História Local - desenvolvida dentro dos
espaços conhecidos e pisados pelos que fazem a comunidade escolar - sem prestarmos
atenção ao fato de que, por motivos diversos, inclusive, da organização da mídia e das
de professores não estarão extremamente ligados aos modos como são inseridos na
epistemológica e didática para desenvolver estratégias de ensino, foi instituída por Lei
crise no âmbito escolar. Crise manifesta no desânimo (quase nunca disfarçado) dos
docentes, crise manifesta nas estruturas físicas com discrepâncias abismais (escolas em
descaso, que uma disciplina escolar existe apenas para “completar carga horária”.
Nesse momento, não fazemos distinção entre essas múltiplas faces da crise
estruturas precárias.
Sobretudo no mundo periférico, o atendimento à demanda de
qualidade de serviço oferecido (Gentili, 1998). As escolas, dentro dos sistemas públicos,
situação da Educação. Os debates difundidos pela grande mídia são simplistas e a lógica
Dizer “crise da Educação” é, para nós, dizer “crise da sociedade”. É dizer, portanto,
desenvolvimento.
desafiam-na mediante inúmeras perguntas; perguntas que, talvez, não sejam percebidas
socializada e refletida, vive o duplo impacto de uma crise epistemológica e da crise das
realidades para onde direciona o seu olhar: as organizações sociais. Que estratégias
espaços;
talvez, aponte para uma crise do modelo disciplinar dos processos de escolarização.
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