Você está na página 1de 2

Um Time Especial

Jane Tutikian

Não posso dizer, hoje, que nosso time de futebol fosse o melhor, mas que era
especial, lá isso era. A começar pelo goleiro Ricardo, que enxergava quase nada e usava
uns óculos grossos como fundo de garrafa. Não tinha bola que não pegasse, mas antes
quase matava a gente de susto: esperava que ela chegasse bem perto, tirava os óculos do
rosto — porque se quebrasse não teria outros — botava na cintura, depois sim, defendia.
Isso se passava em milésimos de segundos, mas para nós, até que víssemos a bola presa
no seu abraço, era como se o tempo parasse.
Na zaga, ficava o Montanha. Ele era enorme! A gente que inventou esse nome para
ele. Não falava com ninguém. Uns diziam que era mudo. Outros, bobo. Não importa.
Era uma máquina de defesa e abria um sorriso largo cada vez que derrubava um.
Cláudia era nosso peão. Armava cada jogada! De enlouquecer adversário! Se não
fosse apenas pelo futebol, era porque era bonita, a danada!
O lateral esquerdo, o Julinho, era dos melhores.Magrinho e bem preto, fazia
carnaval com a bola.Entrava na área com a maior facilidade e marcava cada gol! Só que
fazia interromper seguido o jogo, e i às vezes no melhor momento, para usar a
bombinha e respirar.
Acho que Carlos, o lateral direito, era o que tinha a cabeça mais no lugar, até
estudar no colégio estudava e dizia que ia ser médico, porque eu, na outra zaga, eu não
era mais do que um grande sonhador.
Foi por isso que nos inscrevemos no campeonato mirim de futebol da cidade.A
gente passou bem pelas eliminatórias e pelas semifinais e eu ficava, depois do almoço,
antes que seu Romeu abrisse o armazém "Doce Vida" e eu tivesse de começar as
entregas, eu ficava sentado na calçada, assim, um tempão, só vendo a Cláudia, feito o
Maradona, erguendo a taça e o sorriso bobo do Montanha e os óculos molhados de
choro do Ricardo e o Júlio interrompendo a volta no campo para usar a bombinha e o
Carlos imitando Sócrates na entrevista da Gazeta da Cidade:
— Fizemos o que pudemos. Foi um grande jogo.Um jogo difícil, mas o bom
resultado foi resultado do esforço de todos e o apoio da torcida.
Só que...
O sonho explodiu quando não nos quiseram deixar entrar em campo na final.O
treinador do outro time, Dr. Celestino, que também era promotor na cidade, entrou
com um recurso alegando que nosso time não estava de acordo com o regulamento:
— Onde já se viu goleiro de óculos? — Dizia,
fazendo discurso de um lado para outro, como num
tribunal, enquanto outras pessoas nos olhavam como se
fôssemos raros. — E este bobo, que nem sabe quem é?
O Montanha fechou os olhos e enrugou a testa,
como se estivesse fazendo uma força danada para não avançar e usar o jogo de corpo
onde, certamente levaria vantagem.
— E esta menina? Jogando futebol como homem em vez de estar brincando de
fazer comidinhas para suas bonecas? — Cláudia olhou para um lado e olhou para o
outro com aquele perfil de boneca loura que tinha e piscou uma lágrima e disse um
palavrão tão feio que todos fingiram não ouvir.
— E este asmático? — Não adiantara o Julinho ter respirado fundo e levantado os
ombros. Agora a crise já chegara e ele tratava de tirar, do elástico da cintura das calças,
a bombinha.
— E este meio, meio, meio... — O meio era eu. Ele não sabia o que dizer de mim.
Se sabia, não sei. Só sei que me olhei e olhei bem para o meu time e aquele outro time
todo arrumadinho na nossa frente, até de meia, tudo igual! Até de tênis, tudo igual!
Festejando um jogo que nem tinha sido jogado.E vi que tínhamos, mesmo, grandes
diferenças.Não tínhamos quem falasse por nós! Só nosso coração. E ele, meio
machucado, nos chamou tanto para perto um do outro, que saímos do campo, mesmo
sem ser de propósito, abraçados, os cinco.Na tristeza dos nossos 10,11 anos, a gente não
entendia muito o que tinha acontecido, mas sentíamos forte aqui dentro que o jogo não
valia mais muito, nós, o time, é que valíamos muito mais.

Você acabou de ler uma estória em que a amizade mostra ser muito importante para os
jovens.
PROPOSTA: ESCREVA UM TEXTO SOBRE UM GRUPO DE AMIGOS QUE
REALIZA UMA AVENTURA, CORRE PERIGO, ENFRENTA DIFICULDADES,
MAS VENCE POR TER PERMANECIDO UNIDO.

DICA: Narração consiste em contar uma história, um acontecimento real ou


Imaginário (ficção). Os verbos empregados pelo narrador, em sua maioria, devem
expressar ação.
A história é narrada numa seqüência de fatos a que chamamos enredo, em geral
composto de três partes:
 apresentação das personagens e do cenário;
 desenvolvimento das ações das personagens. No desenrolar dos acontecimentos
existe um ponto culminante (clímax), momento de maior interesse e
dramaticidade;
 desfecho ou final, com a resolução dos problemas apresentados durante a
narração.
 Não se esqueça de dar um título ao seu texto.

Você também pode gostar