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O roteiro aborda a afinidade de um pai com seu filho, suas histórias e seu
passado. O filho de Ed, Will, não acredita nas façanhas contadas repetidamente pelo
seu benfeitor e acaba procurando por conta própria a verdade por trás delas. Billy
Crudup fica com a missão mais difícil do longa: ir contra o espectador que se identifica
de cara com Ed.
Este filme mostra histórias e acontecimentos bizarros que o diretor faz questão
de humanizar de forma sutil. Todos os principais acontecimentos são rodados com
atores e sem grandes efeitos especiais, desde as cenas com animais, até o homem-
bala que é lançado pelo canhão. Tudo isso dá uma dimensão do conflito da fantasia e
da realidade presente na obra. Burton conta todas as histórias partindo do imaginário,
e estabelece logo em seguida conexão firme com o factual. Mesmo sendo uma
adaptação do livro homônimo de Daniel Wallace, o roteiro se mostra complexo e com
ótimas mudanças, distanciando as duas obras.
Tim Burton possui uma admiração grande pelo cinema silencioso, pelos atores
deste período e principalmente pela linguagem corporal presente na época. Desta
forma, utiliza a pantomima como atributo fundamental em cenários como a
cidadezinha de Espectro, onde os habitantes possuem ótima qualidade de vida, mas
passam ao espectador a necessidade daquela população em viver emoções e
conflitos. A transição de Ed pelo mundo convencional e pela cidade maravilhosa de
Espectro pode ser lida como uma referência ao imaginário perfeito realizado por
Chaplin em O Garoto, onde os conflitos de um homem e seu filho esbarram em uma
cidade dos sonhos onde o pecado não existe.
Uma das cenas mais belas do filme é o encontro de Ed com a mulher de sua
vida. Burton utiliza mímicos treinados para estabelecer como símbolo o tempo, que
pára quando o amor aparece para o protagonista, estabelecendo uma proximidade do
cinema com a realidade, do sentimento maior existente com a função estética que o
cinema possui. Parar o tempo é imortalizá-lo, e desta forma o cinema funciona, não só
para contar histórias, mas para deixá-las permanentes no imaginário comum.