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Letramentos Na Educação Bilíngüe para Surdos: Caminhos para A Prática Pedagógica
Letramentos Na Educação Bilíngüe para Surdos: Caminhos para A Prática Pedagógica
Introduo
Lei Federal 10.436/ 2002, regulamentada pelo Decreto Federal 5626, em dezembro de 2005.
hegemnicas no contexto escolar, nas quais os estudantes surdos ainda figuram como
deficientes da linguagem por sua inaptido para se apropriar da lngua portuguesa, nos
padres exigidos pela escola.
Nas relaes de poderes e saberes instaurados em sala de aula ocupam o lugar do
desconhecimento, da ignorncia, da ineficincia, do eternizado no-saber nas prticas
lingsticas. Ges e Tartuci (2002), em pesquisas acerca da incluso, apontam que crianas
e adolescentes surdos simulam o papel de aprendizes e reproduzem os rituais escolares
para ocupar o lugar de aluno em sala de aula. A simulao da aprendizagem uma
estratgia de sobrevivncia em sala de aula e revela uma atitude de resignao, a despeito
da excluso na interao e na aprendizagem, motivada pela ausncia de um territrio
lingstico compartilhado no contexto escolar. Quando se recusam a serem assimilados
pelas prticas logocntricos de um sistema educacional que ignora suas necessidades
lingsticas diferenciadas, so rotulados como agressivos ou indisciplinados e abandonam
a escola, depois de anos de um fracasso escolar anunciado. Em suma, os mecanismos de
resistncia ao institudo acabam por penaliz-los, novamente.
Na anlise realizada por Regina Maria de Souza (1998), o bilingismo dos
surdos praticado no Brasil incipiente por inmeras razes: a ausncia de uma poltica
lingstica oficial de difuso e preservao da Libras, que contribua para a consolidao
de seu status lingstico e valorizao nacional; a falta de uma poltica lingstica
escolar que atribua Libras a qualidade de lngua principal para o ensino o que
requereria, alm dos professores no-surdos 3 fluentes em Libras, educadores surdos que
contribuiriam culturalmente no planejamento e na execuo das polticas e prticas
Utilizarei a expresso no surdos(as) para os sujeitos que podem prescindir das vivncias visuais e da
lngua de sinais para constituir sua subjetividade. Evito a expresso ouvintes em oposio a surdos
para no gerar efeitos de sentidos que reforcem a histria de confrontos entre esses dois grupos, que
essencializou suas diferenas no simples fato do poder, ou no, ouvir (FERNANDES, 2006).
ensinado
como
lngua
materna
no
como
segunda
lngua,
Reafirmamos que em nossa anlise nos ocupamos da discusso das prticas de letramento que envolve
estudantes surdos para os quais a lngua de sinais configura-se como possibilidade privilegiada de acesso
e desenvolvimento da linguagem. No modelo de bilingismo aqui defendido, o espao para o trabalho
com a oralidade reservado a prticas teraputicas realizadas por profissionais da fonoaudiologia.
Reconhecemos o valor de pesquisas ocupando-se de grupos de alunos surdos com surdez parcial,
pressupondo o aproveitamento de resduos auditivos no processo de alfabetizao e o trabalho com o
portugus oral. Entretanto tais pressupostos esto distanciados do corpo terico-filosfico aqui assumido.
prope a tradio gramatical como norma culta e o que, de fato, ocorre nas prticas dos
falantes de variedades cultas da lngua, a chamada norma padro.
H um padro lingstico idealizado, sob a tutela normativa das gramticas e
manuais de estilo, que torna invisvel a heterogeneidade da lngua. Em contrapartida, h
o padro real manifesto pelos falantes cultos (conforme descreve o Projeto NURC) que
se revela na oralidade e na escrita e que condicionado por variveis como gnero,
faixa etria, nvel cultural, scio-econmico, condies de produo do discurso, enfim,
pela heterogeneidade constitutiva da lngua.
Permanece, assim, o desafio aos professores de surdos em oportunizar a imerso
com textos que contemplem essa diversidade de possibilidades de realizao da lngua,
a fim de que seja contemplada sua
dimenso discursiva, pela qual as expresses se relacionam com a situao real de sua
produo, a dimenso semntica, pela qual as expresses se interpretam segundo o
sistema cultural de representao da realidade e pela dimenso sinttica ou gramatical
pela qual se regram sistematicamente as construes da lngua (NEVES, 1996, p. 41),
Consideraes finais
Este trabalho buscou elucidar algumas das dimenses sociais, polticas e tericometodolgicas que repercutem na situao de bilingismo das comunidades surdas
brasileiras, analisando criticamente os paradoxos e disparidades que demarcam a
trajetria escolar desse grupo cultural, historicamente narrado como deficiente da
linguagem. O fato de os surdos assumirem sua diferena lingstica e lutarem
politicamente pelo acesso libras como lngua materna os coloca na situao de
estrangeiros em seu prprio pas. Pelo fato de no aprenderem a lngua nacional como
lngua materna no seio familiar, tal como acontece com a maioria dos brasileiros, e
comunicarem-se por meio de uma lngua fundada em experincias visuais, porm
Referencias bibliogrficas
(orgs.).