(...) somos obrigados a renunciar pretenso de determinar para as mltiplas
investigaes psicolgicas um objeto (um campo de fatos) unitrio e coerente. Consequentemente, e por slidas razes, no somente histricas mas doutrinrias, torna-se impossvel Psicologia assegurar-se uma unidade metodolgica. (...) Por isso, talvez fosse prefervel falarmos, ao invs de psicologia, em cincias psicolgicas. Porque os adjetivos que acompanham o termo psicologia podem especificar, ao mesmo tempo, tanto um domnio de pesquisa (psicologia diferencial), um estilo metodolgico (psicologia clnica), um campo de prticas sociais (orientao, reeducao, terapia de distrbios comportamentais etc.), quanto determinada escola de pensamento que chega a definir, para seu prprio uso, tanto sua problemtica quanto seus conceitos e instrumentos de pesquisa. (...) no devemos estranhar que a unidade da Psicologia, hoje, nada mais seja que uma expresso cmoda, a expresso de um pacifismo ao mesmo tempo prtico e enganador. Donde no haver nenhum inconveniente em falarmos de psicologias no plural. Numa poca de mutao acelerada como a nossa, a Psicologia se situa no imenso domnio das cincias exatas, biolgicas, naturais e humanas. H diversidade de domnio e diversidade de mtodos. Uma coisa, porm, precisa ficar clara: os problemas psicolgicos no so feitos para os mtodos; os mtodos que so feitos para os problemas. (...) Interessa-nos indicar uma razo central pela qual a Psicologia se reparte em tantas tendncias ou escolas: a tendncia organicista, a tendncia fisicalista, a tendncia psico-sociolgica, a tendncia psicanaltica etc. Qual o obstculo supremo impedindo que todas essas tendncias continuem a constituir escolas cada vez mais fechadas, a ponto de desagregarem a outrora chamada cincia psicolgica? A meu ver, esse obstculo devido ao fato de nenhum cientista, conseqentemente, nenhum psiclogo, poder considerar-se um cientista puro. Como qualquer cientista, todo psiclogo est comprometido com uma posio filosfica ou ideolgica. Este fato tem uma importncia fundamental nos problemas estudados pela Psicologia. Esta no a mesma em todos os pases. Depende dos meios culturais. Suas variaes dependem da diversidade das escolas e das ideologias. Os problemas psicolgicos se diversificam segundo as correntes ideolgicas ou filosficas que venham reforar esta ou aquela orientao na pesquisa, consigam ocultar ou impedir este ou aquele aspecto dos domnios a serem explorados ou consigam esterilizar esta ou aquela pesquisa, opondo-se implcita ou explicitamente a seu desenvolvimento. (...) Hilton Japiassu. A psicologia dos psiclogos. 2. ed. Rio de Janeiro, Imago, 1983. p. 24-6.[pg. 28]
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)