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Referencial Teorico - Emília Ferreiro PDF
Referencial Teorico - Emília Ferreiro PDF
Angela Freire2
O construtivismo não é um método de ensino, voltado para como o/a professor/a deve ensinar,
pelo contrário, é uma teoria psicológica da aprendizagem que tem como objeto a psicogênese da
inteligência e dos conhecimentos, portanto, voltada para como o sujeito aprende.
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[...] Alterou profundamente a concepção do processo de construção da representação da língua escrita,
pela criança, que deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema
de escrita, concepção presente nos métodos de alfabetização até então em uso, hoje designados
tradicionais, e passa a sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de representação,
interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com material para ler,
não com material artificialmente produzido para aprender a ler; os chamados para a aprendizagem pré-
requisitos da escrita, que caracterizariam a criança pronta ou madura para ser alfabetizada - pressuposto
dos métodos tradicionais de alfabetização - são negados por uma visão interacionista, que rejeita uma
ordem hierárquica de habilidades, afirmando que a aprendizagem se dá por uma progressiva construção do
conhecimento, na relação da criança com o objeto língua escrita; as dificuldades da criança, no processo
de construção do sistema de representação que é a língua escrita – consideradas deficiências ou
disfunções, na perspectiva dos métodos tradicionais - passam a ser vistas como erros construtivos,
resultado de constantes reestruturações.
Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as crianças elaboram conhecimentos sobre a leitura e
escrita, passando por diferentes hipóteses – espontâneas e provisórias – até se apropriar de toda a
complexidade da língua escrita. Tais hipóteses, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações e
generalizações, dependem das interações delas com seus pares e com os materiais escritos que
circulam socialmente.
Para a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por níveis estruturais da linguagem escrita até que
se aproprie da complexidade do sistema alfabético. São eles: o pré-silábico, o silábico, que se divide
em silábico-alfabético, e o alfabético Tais níveis são caracterizados por esquemas conceituais que
não são simples reproduções das informações recebidas do meio, ao contrário, são processos
construtivos onde a criança leva em conta parte da informação recebida e introduz sempre algo
subjetivo. É importante salientar que a passagem de um nível para o outro é gradual e depende
muito das intervenções feitas pelo/a professor/a.
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• ESCRITA PRÉ-SILÁBICA: o/a alfabetizando/a não compreende a natureza do nosso sistema
alfabético, no qual a grafia representa sons, e não idéias, como nos sistemas ideográficos (como, por
exemplo, a escrita chinesa).
Na ESCRITA SILÁBICA, a criança supõe que a escrita representa a fala. É a fase que se inicia o
processo de fonetização; nesta fase, ela tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro as letras. Cada
sílaba é representada por uma letra com ou sem conotação sonora. Em frases pode escrever uma
letra para cada palavra. Desvincula o objeto da palavra escrita.
TOMATE = TMAT
CAVALO = CVALU
PÃO = PA
O CAVALO PISOU NO TOMATE = UCVALUPZONUTMAT
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• ESCRITA ALFABÉTICA: a criança faz a correspondência entre fonemas (som) e grafemas
(letras). Ela atinge a compreensão de que as letras se articulam para formar palavras. Escreve como
fala, ou seja, vê a escrita como transcrição da fala, não enxergando as questões ortográficas.
TOMATE = TUMATI
CAVALO = KAVALU
PÃO = PAUM
O CAVALO PISOU NO TOMATE = UKAVALU PIZONU TUMATI
Os principais problemas que emergem quando as crianças se apropriam da escrita alfabética são5:
Leitura
Confusão de letras (trocas). Decodificação sem compreensão.
Soletração sem aglutinação. Leitura soletrada
Escrita
Transcrição fonética: tumati – kavalu = tomate – cavalo
Segmentação indevida: utumati = o tomate, com seguiu = conseguiu.
Juntura vocabular – uka valu = o cavalo, agente = a gente.
Troca do ão pelo am, i por u (e vice versa): paum = pão.
Ausência de nasalização: troca de m por n ou til (vice e versa): comseguiu – cõsegiu =
conseguiu.
Supressão ou acréscimo de letras.
Troca de letras / origem das palavras (etimologia): zino = sino, geito = jeito.
Escrita não segmentada: UKAVALUPIZONUTUMATI = o cavalo pisou no tomate.
Não registra silabas de estruturas complexas: os dígrafos, o padrão consoante-consoante-
vogal, a vogal dos encontros consonantais: vido – vidro.
Escrita sem significado (letras aleatórias).
Frases descontextualizadas.
Textos sem seqüência lógica.
Escrita espelhada: d por b, p por q.
Repetição de elementos de ligação.
Hipercorreção: coloo – colou, medeco – médico.
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Intervenções para superação
Antes da produção de qualquer texto, deve-se fazer um momento preparatório e trabalhar
sempre com os modelos.
Informar os tipos de texto que vai produzir ou reescrever.
Fazer a correção do texto:
Combinar com os/as alfabetizando/as todos os procedimentos e fazer “legenda” para correção
do texto. Ou seja, para cada tipo de dificuldade criar uma legenda, como, por exemplo:
- V: ERRO DE ORTOGRAFIA.
- +: SEGMENTAÇÃO INDEVIDA.
- ▲: JUNTURA.
- ☼: PONTUAÇÃO.
- ☺: USO DE LETRAS MAIÚSCULA.
- ♥: TROCA DE LETRAS.
- □ : ENGOLIR LETRAS – SUPRESSÃO.
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ESCRITA ESCRITA ESCRITA ESCRITA
PRE-SILÁBICA SILÁBICA SILÁBICA- ALFABÉTICA
ALFABÉTICA
• Iniciar pelos nomes • Fazer listas e ditados • Ordenar frases do • Investir em
dos/as alfabetizando- variados (de alfabeti- texto; conversas e debates
as escritos em cra- zandos/as ausentes e/ou • Completar frases, diários.
chás, listados no qua- presentes, de livros de palavras, sílabas e • Possibilitar o uso
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• Copiar palavras in-
teiras;
• Contar número de
letra ou palavra de
uma frase;
• Pintar intervalos en-
tre as palavras;
• Completar letras
que faltam de uma
palavra;
• Ligar palavras ao
número de letras e a
letra inicial;
• Circular ou marcar
letra inicial ou final;
• Circular ou marcar
letras iguais ao seu
nome ou palavra-
chave.
• Produção de textos,
ditados, listas.
OBSERVAÇÃO
É de fundamental importância que o/a professor:
Iniciar o processo de alfabetização com textos que os/as alfabetizando/as conheçam de
memória, para ajudar na conservação da escrita e na relação entre o escrito e o falado Ele/a
deverá sugerir que as crianças acompanhem a leitura com o dedo, apontando palavra por
palavra.
Trabalhar com modelos estáveis de escrita, como, por exemplo, lista de palavras do texto,
para que se possa conservar a escrita.
Fazer sempre a análise e a reflexão lingüística das palavras, confrontando as hipóteses de
escrita dos/as alfabetizandos/as com a escrita convencional, ou seja, entre o padrão oral e o
padrão escrito.
Propiciar atos de leitura e escrita para as crianças para que elas aprendam ler lendo e a
escrever escrevendo, por meio de atividades significativas e contextualizadas. Elas deverão ler
textos mesmo quando ainda não sabem ler convencionalmente, apoiando-se inicialmente na
memória e ilustração.
Trabalhar em pequenas equipes, agrupando os/as alfabetizandos/as conforme os níveis
próximos de escrita. Isto garante que crianças com diferentes níveis possam confrontar suas
hipóteses, gerando conflitos cognitivos e avanços conceituais.
Propor atividades, por meio de situações problemas, que as crianças possam resolver e
colocar em jogo o que sabem, para aprender o que ainda não sabem. Isto garantirá o trabalho
com a auto-estima e o autoconceito dos/as alfabetizandos/as, que são imprescindíveis para o
processo de aprendizagem. Porém, evitar que crianças com o mesmo nível de escrita sejam
agrupadas entre si, já que a intenção do agrupamento heterogêneo é interação e a troca de
conhecimentos entre os/as alfabetizandos/as com diferentes hipóteses de escrita.
Na sala de aula deve conter: cartazes com o alfabeto escrito em letras maiúsculas e
minúsculas, cursiva e bastão; só com as vogais, só com as consoantes; com os números; com o
nome da escola e do/a professor/a; Listas com os nomes dos/as alfabetizandos/as, dos/as
aniversariantes, palavras, frases e textos (que circulam socialmente) trabalhados. Em outras
palavras, fazer da sala de aula um ambiente rico em atos de leitura e escrita, que é propício para
a alfabetizar letrando, isto é, ensinar ler e escrever por meio das práticas sociais de leitura e
escrita.
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REFERENCIAS
FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1986.
KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUEZ, M.H. Escola, Leitura e Produção de Textos. Porto
Alegre: Artmed Editora.
NOTAS
1
O texto aborda alguns conceitos da Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que é um dos
referencias que dão sustentação teórica ao CEB. Tem a finalidade de subsidiar o saber-fazer pedagógico do/a
professor/a para que ele/a possa promover ações educativas reais e significativas, à luz dos constructos teóricos.
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Texto elaborado e sistematizado por Angela Freire, Pedagoga graduada pela UCSAL, Psicopedagoga (UFBA) e
Coordenadora Pedagógica lotada na Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP) / Núcleo de Tecnologia
Educacional (NET-17), na Fábrica do Saber.
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Citação extraída artigo Letramento e alfabetização: as muitas facetas, de Magda Soares, apresentado na 26ª Reunião
Anual da ANPED.GT Alfabetização, Leitura e Escrita. Poços de Caldas, 7 de outubro de 2003.
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Citação extraída do livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
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Quadro extraído Maleta Pedagógica, publicação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Salvador para os 1º
e 2º anos do Ciclo de Estudos Básicos (CEB).