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0.1.

Funções Contı́nuas em Intervalos Fechados

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Docente: Osmar Tharlles Borges de Oliveira
RESUMO

0.1 Funções Contı́nuas em Intervalos Fechados


A importância de uma função ser contı́nua ou não para a matemática é fundamen-
tal. Na prática (numericamente), uma função ser contı́nua significa que erros pequenos
na variável independente nos dá, também, pequenos erros na variável dependente. Por
exemplo, seja f (x) = x2 e que queremos calcular f (π); se f for contı́nua então podemos ter
uma boa aproximação de f (π) com π = 3, 14, mais ainda, que quanto mais casas decimais
considerarmos à π, obteremos aproximações de f (π) ainda melhores.
Neste texto estudaremos alguns dos resultados fundamentais das funções contı́nuas
em intervalos fechados. São eles os teoremas da Limitação, do Valor Extremo (ou de Wei-
erstrass) e do Valor Intermediário. Primeiramente recordemos que:

Definição: Dado um ponto a , dizemos que f é contı́nua num ponto a quando as seguintes
condições são satisfeitas:

1. f (a) está definida;

2. O limite lim f (x) existe e


x→a

3. lim f (x) = f (a)


x→a

Dizemos ainda que, f : A → R é contı́nua em A, quando é contı́nua em todos os pontos


de seu domı́nio. Em relação aos intervalos fechados, uma função f é contı́nua sobre um
intervalo fechado [a, b] se é contı́nua em cada ponto do intervalo.

Teorema 0.1 (da Limitação). Seja f uma função contı́nua sobre um intervalo fechado
[a, b]. Então f é limitada sobre o intervalo [a, b], isto é, existe um número M tal que
|f (x)| ≤ M , ∀ x ∈ [a, b].
1
Por exemplo, a função f (x) = definida em todo x real, com x 6= 0, é evidentemente
x
(como mostra a figura abaixo) contı́nua no intervalo fechado [1, 2].

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De acordo com o Teorema 0.1 f deve ser limitada sobre o intervalo [1, 2]. De fato,
é possı́vel encontrar M tal que |f (x)| ≤ M. Observe que para todo ponto em [1, 2] tem-se
1
que |f (x)| ≤ 1; mais ainda, f é contı́nua em [ , 2], com n ∈ Z e, evidentemente, temos
n
1
que ∀ x ∈ [ , 2] temos |f (x)| ≤ n.
n
Se uma função f é limitada sobre um intervalo [a, b], então sua imagem tem um limite
superior e um inferior. Se M e m são, respectivamente, o supremo e o ı́nfimo da imagem
tem-se que m ≤ f (x) ≤ M, ∀ x ∈ [a, b]. Para funções limitadas em geral, m e M não
precisam pertencer à imagem, no entanto o próximo resultado nos garante que, se f for
contı́nua sobre um intervalo fechado [a, b], então m e M assumem valores da função.

Teorema 0.2 (do Valor Extremo ou de Weierstrass). Se f é uma função contı́nua


sobre um intervalo fechado [a, b], então f assume valores de máximo e mı́nimo, ou seja,
existem pontos x1 , x2 ∈ [a, b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ).

É indispensável o fato de a hipótese de f ser contı́nua sobre um intervalo fechado.


1
Pois, por exemplo, sendo f (x) = , x ∈ (0, 1], f é contı́nua neste intervalo mas não
x 
x, se 0 ≤ x < 1
assume valor máximo nele. A função g definida por g(x) = , embora
0, se 1 ≤ x ≤ 2
seus pontos x ∈ [0, 2], também não assume valor máximo, pois g é descontı́nua em x = 1.

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O Teorema de Weierstrass diz que uma função f contı́nua sobre um intervalo fechado
[a, b] realmente assume valores de máximo e mı́nimo sobre o intervalo. Um outro teorema
afirma que tal função assume todos os valores entre o máximo e o mı́nimo (além deles é
claro), ou seja, a imagem de um intervalo fechado é também um intervalo fechado.

Teorema 0.3 (Valor Intermediário).

i) (do anulamento ou de Bolzano) - Seja f uma função contı́nua sobre um intervalo


fechado [a, b]. Se f (a) e f (b) têm sinais contrários (f (a) < 0 < f (b) ou f (a) > 0 >
f (b)), então existe um ponto c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0.

ii) (do valor intermediário) - Seja f uma função contı́nua sobre um intervalo fechado
[a, b]. Se M e m são os valores de máximo e mı́nimo, respectivamente de f sobre
[a, b] e se P é qualquer número de modo que m < P < M , então existe um ponto
c ∈ [a, b] tal que f (c) = P .

É importante observar que o item i) do teorema é, na verdade, um caso particular


de ii), no entanto é mais cômodo provar i) primeiro e deduzir ii) como uma consequência
(ou uma generalização) do particular.

Podemos interpretar o teorema como “uma função contı́nua que não tem quaisquer
‘pulos’ em seu gráfico”. Uma das aplicações deste resultado consiste no trabalho de ga-
rantair que, em um determinado intervalo, existe uma raı́z de uma dada equação. Por
exemplo, seja f (x) = x3 − x − 1 e queremos saber se em determinado intervalo (contı́nuo)
existe uma raı́z que zera a nossa f (x). Então, pelo teorema, basta que f seja contı́nua no
intervalo e que f (a) · f (b) < 0, assim podemos garantir a existência de tal raı́z que pode
ser exata ou não. Com efeito, temos que f (1) = −1 e que f (3) = 5, logo existe uma raı́z
neste intervalo.

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O que o teorema não pode garantir é a exatidão de tal número que pode ser encontrado
(ou aproximado na maioria das vezes) por métodos numéricos como, por exemplo, os
métodos iterativos.

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Referências Bibliográficas

[1] ÁVILA, Geraldo, Análise Matemática Para Licenciatura, Editora Edgard Blucher, 3a
Ed., 2006.

[2] GUIDORIZZI, Hamilton Luiz, Um curso de cálculo, vol. 1. Editora LTC, 5a Ed., 2005.

[3] HUGHES-HALLETT, Deborah, GLEASON, Andrew M., Cálculo Aplicado, Editora


LTC, 4a Ed., 2012.

[4] SIMMONS, George F., Cálculo com geometria analı́tica, vol. 1. Makron Books, 1a
Ed., 1987.

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