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NEURODIREITO E O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI - MEDIDA

NEUROPSICOSOCIOEDUCATIVA: NEM DIREITO PENAL MÁXIMO, NEM


ABOLICIONISMO PENAL, MAS TRATAMENTO

José Erigutemberg Meneses de Lima *

RESUMO

As contribuições da neurociência à justiça, principalmente ao direito penal juvenil1 são,


ainda, novidade. O entendimento de que a delinquência de adolescentes possa resultar de
disfunções do cérebro físico passa ao largo das preocupações das autoridades responsáveis
pelas sentenças socioeducativas e políticas sociais básicas voltadas aos adolescentes. Não
surpreende a relutância em se aceitar que a nova área de pesquisa, conhecida como
“neurociência do desenvolvimento”, ou ciência do cérebro adolescente, ao analisar as
diferenças havidas entre o desenvolvimento do cérebro de um adolescente normal e o de
um jovem em conflito com a lei, possa contribuir com o mundo jurídico. Ao traçar
considerações acerca da neurociência do desenvolvimento como alternativa, o artigo
propõe-se a subsidiar o aprofundamento temático, discutindo a possibilidade de incorporar
a neurociência ao estudo do comportamento dos adolescentes em conflito com a lei. Diante
disso, também se discute como as técnicas de neurociência poderão auxiliar na reeducação
2
e reinserção social dos adolescentes, substituindo a medida socioeducativa (MSe) de
internação prevista no ECA pelo modelo “neuropsicosocioeducativo”,3 a abranger questões
4
neurais no sentido de neuroplasticidade do cérebro, afetivas no sentido psicológicos,

* Advogado criminalista atuando em Blumenau (SC).


1
O Direito Penal Juvenil nem é invenção, tampouco algo novo: está ínsito ao sistema do ECA, conforme
Armando Afonso Kozen, citado por João Batista Costa Saraiva, em: SARAIVA, João Batista Costa.
Adolescente em conflito com a lei. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
2
Medidas socioeducativas foram introduzidas na legislação brasileira do menor em 1990, com o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). Antes, havia o Código de Menores estabelecendo ações repressivas e
punitivas, em sintonia com a Política Nacional de Bem-Estar do Menor, de 1964, que criou a Fundação
Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem) e autorizou os estados a criarem as Febems. Os juízes detinham
poderes ilimitados sobre tratamento e destino do “menor infrator". A partir d e então, os menores de 12 anos
passaram a estar sujeitos a medidas protetoras, e o atendimento a adolescentes ganhou caráter socioeducativo.
3
Termotomado de empréstimo de Flávio Roberto de Carvalho Santos, extraído do artigo neurociências,
psicopatologia e adolescentes em medida socioeducativa.
4
Define-se neuroplasticidade ou plasticidade cerebral como sendo a capacidade de remapeamento das
conexões das células nervosas. Refere à maneira do cérebro agir e reagir à medida que experimenta mudanças
no ambiente ou envolve-se em nova habilidade.
sociais no sentido das relações humanas e questões educacionais no sentido da
aprendizagem.

Palavras-chave: Neurociências. Adolescentes. Medidas Socioeducativas. Ato Infracional.


Reincidência. Tratamento pré-frontal. Plasticidade cerebral.

1 INTRODUÇÃO

Outro dia, pressionado pelo aumento da delinquência juvenil, certo secretário de


Segurança, em entrevista, fez coro com as vozes favoráveis à redução da maioridade penal,
tendo como pano de fundo a ampliação de uma política de pacificação. Ouviu-se de uma de
suas falas que "A idade e o período de detenção deveriam depender da gravidade do crime
que o menor cometeu. O jovem hoje pode votar, pode abrir uma empresa, tem muito mais
liberdade, informação e maturidade que antigamente. Precisa sofrer as agruras da lei em
cima do que fez", disse ele, em relação à maioridade penal.”
Decerto o secretario e os filiados à corrente que defende a redução da maioridade
penal estribam-se em delitos praticados por adolescentes, como a morte do estudante Victor
Hugo Deppman praticada por um de menor, depois de tomar-lhe o celular e que já tinha
passado pela Fundação Casa (sucessora da Febem) por roubo. Ou o de outro menor que
queimou viva uma dentista que também era freguês da polícia e estariam prontos para usar
a vestimenta camuflada da pacificação social mediante a redução da maioridade penal.
A autoridade era conhecedora de que a sociedade alarmada pelos fazedores de
opinião assimila facilmente tais argumentos. Diferentes pesquisas mostram índices
altíssimos de pessoas que defendem a redução da maioridade para dezesseis anos.
Mas diante do alarme que enclausura a sociedade e a faz sensível aos apelos das
autoridades, seria mesmo caso de se criar um mecanismo penal que iguale a punição do
menor de dezoito anos a um adulto? Seriam os adolescentes iguais em responsabilidade aos
adultos? A neurociência poderia contribuir com o debate?

No instigante artigo Quando o conhecimento jurídico não basta, Murillo José


Digiácomo, Promotor de Justiça no Estado do Paraná, declara que das áreas de atuação dos
profissionais do direito, a mais excitante e desafiadora é, sem quaisquer sombras de dúvida,
por conta da complexidade, a área da infância e juventude. Justifica-se: a transformação da
realidade de crianças e adolescentes brasileirosé possível de acontecer, mediante um
trabalho dialógico entre direito e outras matérias multidisciplinares. 5 Com tal raciocínio o
Promotor, afinado com o relatório da UNICEF, Sobre a Situação da Adolescência
Brasileira, 2011, vê a situação do adolescente não como um problema, mas como uma
oportunidade de trabalho em prol de seu desenvolvimento. 6
A realidade de omissão e descaso subjacentes ao discurso do promotor refere-se a
uma população que, em 2013, era composta de “20.081 adolescentes em cumprimento de
medidas de privação e restrição de liberdade. Destes, 18.378 cumprem medida
socioeducativa de internação (provisória, definitiva e internação-sanção), enquanto 1.703
estão no regime da semiliberdade”.7 A grande maioria pertencia ao sexo masculino,
correspondendo ao sexo feminino apenas 5% do total da população de internos no país.De
maneira geral, os adolescentes em conflito com a lei vem de famílias de baixa renda e em
algum momento teve grandes dificuldades de acesso à educação e a saúde. Ou seja: são
jovens de ambos os sexos com uma história de exclusão social e negação de direitos.8
Em extensão às considerações, o promotor paranaense, afirmou que os técnicos e
socioeducadores precisam, além do domínio pleno das normas e princípios inerentes ao
direito da criança e do adolescente, também, compreender que, para efetiva reeducação e
preparo do adolescente para sua integração à sociedade, o sistema socioeducativo necessita
da colaboração de profissionais de diversas áreas, com conhecimentos capazes de fornecer
os subsídios necessários à proteção integral prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).9

5
DIGIÁCOMO, Murillo José. Quando o conhecimento jurídico não basta - a imprescindibilidade da
intervenção técnica interdisciplinar nas causas que envolvem interesses de crianças e adolescentes.
6
O direito de ser adolescente: Oportunidade para reduzir vulnerabilidades e superar desigualdades / Fundo
das Nações Unidas para a Infância. Brasília: UNICEF, 2011.
7
Conselho Nacional do Ministério Público.Relatório da Infância e Juventude – Resolução nº 67/2011: Um
olhar mais atento às unidades de internação e semiliberdade para adolescentes. Brasília: Conselho Nacional
do Ministério Público, 2013.
8
Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República/Subsecretaria de Promoção dos
Direitos da Criança e do Adolescente. Levantamento Nacional do AtendimentoSocioeducativo ao Adolescente
em Conflito com a Lei. Brasília, 2009.
9
Sobre o tema ver: LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 7.
ed. rev. e ampl., de acordo com o novo Código Civil (ei 10.406/2002). São Paulo: Malheiros Ed., 2003, p.15.
Segundo ele, “A Lei 8.069/90 revolucionou o Direito Infanto-juvenil, inovando e adotando a doutrina da
proteção integral. Essa nova visão é baseada nos direitos próprios e especiais das crianças e adolescentes, que,
na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada, especializada e
É na intenção de incorporar a neurociência ao conjunto de ciências propedêuticas
que fomentam a proteção integral ao adolescente que o artigo avaliará os reais efeitos da
neurociência do desenvolvimento sobre as medidas socioeducativas aplicadas aos
adolescentes em conflito com a lei.
Neste sentido, se avaliará a compreensão do cérebro adolescente como produto do
diálogo direito e neurociência procurando resposta ao porque se o cérebro de um jovem é
bem diferente dos adultos, os jovens devam ser tratados como se fossem iguais aqueles.
Em caráter de argumentação final, a abordagem avaliará o impacto que a
neurociência do desenvolvimento poderá desempenhar na definição da aplicação das
medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes em conflito com a lei, revisando o
modelo MSe e o substituindo por modelo neuropsiquicosocioeducativo (NPSe).

2 NEUROCIÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO

A interseção dos conjuntos de saberes neurocientíficos e jurídicos sobressai no


mundo científico de forma, ainda, bastante difusa. Muitos da comunidade jurídica vêm a
interdisciplinaridade direito e neurociência como se presenciassem a colisão entre duas
placas tectônicas que se chocam e faz surgir dobras de montanhas. Ou seja, a aceitação dos
diferentes sistemas discursivos causa tanto barulho quanto um abalo sísmico de alta
magnitude. É o que se observa com o conjunto de elementos do direito e da neurociência
relacionado ao comportamento humano, que hoje recebe diferentes denominações como
neurociência forense, neurociência jurídica entre outras. Mas na escassa quantidade de
obras dedicadas ao assunto em língua portuguesa vem se fixando o anglicanismo
neurodireito, derivado do termo neurolaw, neologismo usado pela primeira vez por J.
Sherrod Taylor, em 1991.10
Sobre direito, disciplina que se preocupa em regular o comportamento, um dos
termos do neologismo, pouco se há de acrescentar: doutrinadores e juristas, por séculos

integral (TJSP, AC 19.688-0, Rel. Lair Loureiro). É integral, primeiro, porque assim diz a CF em seu art. 227,
quando determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação
de qualquer tipo; segundo, porque se contrapõe à teoria do “Direito tutelar do menor”, adotada pelo Código de
Menores revogado (Lei 6.697/79), que considerava as crianças e os adolescentes como objetos de medidas
judiciais, quando evidenciada a situação irregular, disciplinada no art. 2º da antiga lei”.
10
TAYLOR, j. Sherrod. Neurolaw: medico-legal aspecto of ABI. Disponível em: <http://obia.ca/wp-
content/uploads/2013/02/Neurolawmedicolegalaspectsofabi.pdf. Acesso em: 29 dez. 2013.
debruçam-se sobre a significância, oferecendo cada um, sentido modulado segundo sua
ideologia ou compreensão.
Há, contudo certa celeuma doutrinária sobre o que seja neurociência, disciplina que
busca determinar como o cérebro afeta o comportamento. Sinteticamente, na definição de
Atahualpa Fernandes, neurociência, nada mais é do que o estudo do cérebro, da mente e da
consciência humanos. A seu alvedrio, neurociência é o estudo das bases neuronais do
pensamento, da percepção, do comportamento e da emoção. Já Laurie Lundy-Ekman define
a neurociência como sendo o estudo do desenvolvimento, da química, da estrutura, da
função e das patologias do sistema nervoso11 e na síntese de Miguel Nicolelis, é função da
neurociência mediar as diferentes funções cerebrais ou comportamentais.12
Em verdade, o termo neurociência engloba vários ramos do conhecimento que
podem ser categorizados com base no tema da pesquisa, a exemplo de neurociência
molecular, celular, sistêmica, comportamental, cognitiva e do desenvolvimento. 13
Neurociência do desenvolvimento, interesse direto do artigo, refere-se aos processos
que geram, moldam e remodelam o sistema nervoso, desde a concepção até os últimos anos
da vida humana. O estudo da neurociência do desenvolvimento tem como objetivo
descrever as bases celulares do desenvolvimento do cérebro e abordar os mecanismos
subjacentes. Desenvolve as semelhanças havidas entre neurociência e biologia do
desenvolvimento, fornecendo insights sobre os mecanismos celulares e moleculares
complexos do sistema nervoso.
Seu objeto especifico é o estudo da formação do cérebro a partir da concepção e as
funções cerebrais relacionadas às capacidades individuais de julgamento, raciocínio,
introspecção, controle emocional, capacidade de planejamento, previsão de riscos, respeito
pelas normas e regras.

3 O CÉREBRO ADOLESCENTE

11
LUNDY-EKMAN, Laurie. Neurociências: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Elservier, 2008.
p. 2.
12
NICOLELIS, Miguel. Muito além de nosso eu: a nova neurociência que une cérebros e maquinas – e como
ela pode mudar nossas vidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 19
13
Para o conhecimento dos principais ramos de interesse da neurociência moderna, indica-se WIKIPÉDIA: a
enciclopédia livre. Wikipedia, 2013. Disponível em:< http://en.wikipedia.org/wiki/Neuroscience>. Acesso
em: 28 dez. 2013.
A adolescência, ao longo dos anos, vem sendo reconhecida como uma fase de
crescimento e mudança. Pesquisa sobre o desenvolvimento da adolescência tem
demonstrado ao longo de décadas as profundas e dramáticas mudanças que ocorrem
durante a adolescência, e como essas mudanças afetam o comportamento dos adolescentes.
Em período recente, a imagem do cérebro por ressonância magnética funcional
(fMRI) tem possibilitado aos pesquisadores verificar as mudanças físicas que ocorrem no
cérebro durante a adolescência e início da vida adulta e para saber exatamente como e
quando diferentes áreas do cérebro se desenvolvem. Estudos, recentemente, ao
investigarem as conexões entre o funcionamento e desenvolvimento do cérebro e o
comportamento de adolescentes revelaram que alterações marcantes ocorrem com o cérebro
durante a adolescência.14 Os resultados obtidos fraturam o paradigma de que o cérebro
humano encerra o ciclo de crescimento e amadurecimento aos doze anos de idade e não se
altera mais.15
O consenso cientifico permanecido válido durante muito tempo, ruiu sob o peso das
neuroimagens realizadas com aparelhos de ressonância magnética nuclear e tomografia
computadorizada por pósitrons que comprovaram que algumas regiões do cérebro, a
exemplo do córtex pré-frontal, leva muito mais tempo para amadurecer, não estando
totalmente “maduro”, antes dos vinte e cinco ou vinte e sete anos de idade. 16
Neurocientistas do porte de Atahualpa Fernandes argumentam que esta área
fundamental no controle das emoções e processos cognitivos a desempenhar funções
essenciais no processo de supressão ou inibição dos impulsos comportamentais, bem como
papel central na capacidade de autodisciplina, tem o amadurecimento atrasado em muito
anos em relação a outras áreas do cérebro. Para este autor,

De fato, esta parte do cérebro é basicamente a última parte do cérebro a madurar


por completo e tarda décadas a conectar-se por completo, isto é, não termina de
amadurecer até os 25-27 anos de idade, que é exatamente quando já apareceram
certos neurotransmissores e se terminaram de isolar os cabos d conexão das
neuronas, que é o que permite obter uma informação nítida e precisa dos circuitos

14
Disponível em: < http://www.nimh.nih.gov/health/publications/the-teen-brain-still-under-construction/teen-
brain.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2014
15
Disponível em: < http://www.nimh.nih.gov/health/publications/the-teen-brain-still-under-construction/teen-
brain.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2014.
16
FOLHA DE SÃO PAULO Online. Cérebro se desenvolve até o final da adolescência, diz pesquisa.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u353635.shtml>. Acesso em: 29 dez.
2013.
responsáveis pela codificação destas funções mentais que acabamos de mencionar.
Precisamente e abundando nesse tema, é esta área (o córtex pré-frontal orbitário em
particular) a que, quando resulta lesionada durante o parto ou por um traumatismo
ou um tumor, e em qualquer idade, pode levar o indivíduo a transgredir os valores
morais e éticos mais elementares que tem assumido uma sociedade.17

As diferenças físicas e de desenvolvimento havidas entre o cérebro de adolescentes


e adultos que explicam por que alguns adolescentes se comportam de forma agressivas e, às
vezes, até antissocial, também, foram ratificadas pelo neurologista americano Paul
Thompson, do Laboratório de Neuromapeamento da Universidade da Califórnia.
Em mapeamento cerebral realizado com mais de mil adolescentes, utilizando
técnicas avançadas de neuroimagens, ele comprovou que as alterações mais importantes por
que passa o cérebro nos últimos anos da adolescência têm lugar no córtex pré-frontal, área
responsável pelo planejamento de longo prazo e pelo controle das emoções. Em suas
considerações, "Antes dessas mudanças, o adolescente nem sempre está pronto para
processar todas as informações que precisa considerar quando toma uma decisão".18
No mesmo sentido, Nicholas Mackintosh, professor emérito do Departamento de
Psicologia Experimental da Universidade de Cambridge, no Reino Unido e coordenador de
estudo publicado pela Royal Society, a academia nacional de ciências do Reino Unido, que
trata do amadurecimento do cérebro, afirma que

Há muita evidência comportamental e psicológica de que os adolescentes assumem


mais riscos, comportam-se mais precipitadamente e preocupam-se menos com as
consequências a longo prazo de suas ações do que os adultos (digamos, aqueles
com mais de 18 anos). Há também evidências neurocientíficas de que o córtex pré-
frontal, a parte do cérebro envolvida na tomada de decisão, planejamento e controle
de impulso, é a última parte do cérebro a se desenvolver e não está totalmente
madura até cerca dos 20 anos. Isso certamente implica que a lei deve tratar os
jovens de forma diferente dos adultos. Mas é menos óbvio que isso aponte para uma
determinada idade como a correta para a responsabilidade criminal.19

Esta também é a posição do psiquiatra e neurocientista David Eagleman, diretor do


Laboratório de Percepção e Ação do Baylor College of Medicine, no estado do Texas,
Estados Unidos que, dissertando sobre o tema, destacou:

17
FERNANDEZ, Atahualpa e FERNANDEZ, Marçy. Neuroética, direito e neurociência: conduta humana,
liberdade e racionalidade jurídica. Curitiba: Juruá, 2008. P. 51
18
Disponível em: http://veja.abril.com.br/especiais/jovens_2004/p_034.html. Aceso em: 27 dez. 2013.
19
Por que aos 18. Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1380147. Acesso em: 27 dez. 2013.
A principal diferença entre o cérebro de um adolescente e outro de um adulto é o
desenvolvimento dos lobos frontais. O córtex pré-frontal humano só se desenvolve
plenamente no início dos vinte anos, e isto fundamenta o comportamento impulsivo
dos adolescentes. Os lobos frontais são as vezes chamado o órgão da socialização,
porque tornar-se socializado não passa de desenvolver circuitos para reprimir
nossos impulsos mais básicos. 20

Além dos citados, outros especialistas em neurociência afinam-se com a tese do


atraso de amadurecimento do córtex pré-frontal. Mas não somente esta estrutura, várias
outras continuam em evolução durante a adolescência. Conforme Salvador Nogueira, “os
últimos avanços da neurociência estão demonstrando não só que cada etapa da vida é
marcada por uma configuração cerebral diferente, mas também, e mais surpreendente
ainda, que partes distintas do cérebro têm ritmos de amadurecimento diferentes”.21 A
justificar que os adolescentes fazem o que podem com o cérebro que tem, vem Suzana
Herculano-Houzel, convalidando a tese, afirmar que

As transformações cerebrais da adolescência começam no hipotálamo, que, ao


comandar a produção de hormônios sexuais e tornar-se sensível a eles, permite ao
cérebro descobrir o sexo. Em seguida vêm as alterações no sistema de recompensa,
que sofre uma enorme baixa e deixa de encontrar graça no que antes dava prazer.22

Em outro extrato do mesmo artigo, reforça o afirmado. Para ela,

As transformações cerebrais da adolescência começam no hipotálamo, que, ao


comandar a produção de hormônios sexuais e tornar-se sensível a eles, permite ao
cérebro descobrir o sexo. Em seguida vêm as alterações no sistema de recompensa,
que sofre uma enorme baixa e deixa de encontrar graça no que antes dava prazer.23

Não à toa, os adolescentes tomam decisões “impensadas”, “irresponsáveis”, que os


levam, às vezes, à prática de atos infracionais. Um tema concreto a exemplificar a
correlação existente entre a falta de amadurecimento do córtex pré-frontal e o crime

20
EAGLEMAN, David. Incógnito: as vidas secretas do cérebro. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro:
Rocco, 2012. p.197
21
NOGUEIRA, Salvador. As idades do cérebro. Disponível em:
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG77438-7855-191-1,00-
AS+IDADES+DO+CEREBRO.html. Acesso em: 08 jan. 2014.
22
HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Adolescência é coisa do cérebro. Disponível em:<
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1204200707.htm>. Acesso em: 19 jan. 2014
23
HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Adolescência é coisa do cérebro. Disponível em:<
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1204200707.htm>. Acesso em: 19 jan. 2014
praticado por adolescentes vem dos Estados Unidos e diz respeito ao caso Roper versus
Simmons.
Christopher Simmons, aos dezessete anos cometeu um assassinato brutal e aos vinte
e sete foi condenado à pena de morte.24 Em sua tese, a defesa argumentou não ter o cérebro
do adolescente alcançado o desenvolvimento de uma pessoa adulta e que, portanto, o
adolescente não processava a informação social com a mesma capacidade de uma pessoa
adulta, sendo injusto aplicar-lhe a mesma responsabilidade penal que aos adultos.
Em 2005, a Suprema Corte dos Estados Unidos considerou ser a condenação à
morte de menores de idade inconstitucional. Em veredito, a Corte declarou que pessoas
com idade inferior aos dezoito anos não poderiam ser condenados à morte, por não serem
totalmente responsáveis por suas ações, considerando evidências neurológicas e cognitivas
na sentença. Em fragmentos da sentença é possível ver:

As evidências anotadas pela ressonância magnética funcional indicam que o lóbulo


frontal não estão totalmente desenvolvidos aos 16 e 17 anos de idade. Essas áreas
inacabadas, especificamente o córtex pré-frontal, estão fortemente envolvidas na
inibição emocional e controle de impulsos, tomada de decisão e planejamento e as
decisões que envolvem risco e recompensa. A forma particular em que estas áreas
de córtex pré-frontal são subdesenvolvidas é uma falta de mielinização e uma falta
de 'poda' sináptica (essencialmente de aprendizagem). Assim, 16-17 anos idade ter
uma subdesenvolvido "sede da intencionalidade". Finalmente, a matéria branca (o
que é indicativa de neurônios bem mielinizados e conectividade adequadamente
seletiva) tende a continuar aumentando para o início dos anos vinte. 25

Com a apelação, ainda em curso, no ano anterior, a revista Science preparou extensa
reportagem sobre a contribuição da neurociência no caso. De acordo com a reportagem,
algumas associações médicas confirmaram que o cérebro de um jovem de dezesseis e
dezessete anos ainda não atingiu seu desenvolvimento pleno o que os tornam incapaz de
dominar e restringir ações impulsivas. Relato de especialista confirma que o cérebro
humano só começa seu amadurecimento na idade de vinte e cinco anos e que o lobo frontal,
não começa a amadurecer antes dos dezessete anos.26

24
EAGLEMAN, David. Incógnito: as vidas secretas do cérebro. p.201.
25
Goldberg, Elkhonon, The Executive Brain: Frontal Lobes and the Civilized Mind (2001). Disponível em:
http://www.neulaw.org/blog/1034-class-blog/3819-neuroscience-age-and-the-death-penalty.html. Acesso em:
30 dez. 2013
26
Para pensar sobre a maioridade penal. Disponível em: < http://www.amalgama.blog.br/04/2013/maioridade-
penal/>. Acesso em: 09 jan.2014.
O estado brasileiro, não obstante apelos em favor da redução da maioridade penal,
ainda, não resgatou a pena de morte e castigos cruéis para menores que vigoravam nas
Ordenações Filipinas que “asseguravam apenas, em favor dos menores de dezessete anos, a
inaplicabilidade da pena de morte”.27 É bem verdade que os “menores infratores”,28
internos da antiga Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (FEBEM) estiveram
expostos à pena capital não legalizada, uma vez que naquela verdadeira “fábrica de
monstros”, os internos tinham seus direitos como adolescentes e seres humanos negados.29
Na maioria das vezes, os ingressos saíam da FEBEM piores do que entravam, por
conta dos espancamentos impostos pelos carcereiros, travestidos de “cuidadores” que,
objetivando intimidá-los e humilhá-los, impunham castigos severos aos adolescentes.
Dossiê organizado pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) ao
relatar diversos casos de tortura, maus-tratos e péssimas condições de detenção nas
dependências da FEBEM registrou que nas unidades de internação ocorreram “também a
morte de 30 adolescentes nos últimos três anos”, assassinados pelas formas cruéis e
primitivas, como golpes de “naifas”30, fogo, pauladas, enforcamento e armas de fogo, que
não faltavam para eles.31
A situação de convivência entre internados primários e reincidentes de atos
infracionais gravíssimos, como homicídios e traficância de drogas, em locais insalubres e
violentos, consta de relatório preparado para Nações Unidas. A convite do governo
brasileiro, preposto da ONU, visitando diversas unidades federativas, observou que nas
unidades de acolhimento, os adolescentes em conflito com a lei “não estavam separados por
idade, compleição física ou gravidade do crime pelo qual estavam provisoriamente

27
SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente com conflito com a lei: da indiferença à proteção integral: uma
abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3 ed. Ver. Atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2009. p.29.
28
Até a promulgação da Lei Federal n° 8.069 de 13 de junho de 1990 denominada Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), adolescentes em conflito com a lei eram denominados “menores”, “delinquentes”, dentre
outras expressões correlatas. A substituição veio para “não permitir a marginalização, a marca, o estigma, a
cicatriz, o trauma”. Ver em LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do
Adolescente. 7 ed. Ver. Ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2003.
29
TOGNOLLI, Cláudio Júlio. Reputação em jogo: entidade de Direitos Humanos acusa dirigentes da
Febem. Consultor Jurídico. Disponível em http://www.conjur.com.br/2006-mai-
08/entidade_direitos_humanos_acusa_dirigentes_febem>. Acesso em 18 jan. 2014.
30
Facas improvisadas.
31
TOGNOLLI, Cláudio Júlio. Reputação em jogo: entidade de Direitos Humanos acusa dirigentes da
Febem. Consultor Jurídico. Disponível em http://www.conjur.com.br/2006-mai-
08/entidade_direitos_humanos_acusa_dirigentes_febem>. Acesso em 18 jan. 2014.
recolhidos ou haviam sido sentenciados. Ao contrário, todos eram mantidos juntos, de
modo indiscriminado, inclusive internos com distúrbios mentais”.32
A reparar idêntica situação, Roberto João Elias considerou que:

A separação por critério de idade e da compleição física é desejável, posto


que pode evitar prevalência de uns sobre outros menores, com abusos de
ordem sexual e outros que, infelizmente podem suceder a influencia no
tocante a uma “escolarização”, para a pratica de atos infracionais. Embora
seja difícil na pratica bom seria que todos esses critérios fossem obedecidos.
33

Neste ponto, é importante ressaltar a responsabilidade direta do estado pela


segurança e dignidade dos adolescentes privados da vigilância e cuidados de seus pais. Em
tais condições, os adolescentes, à força do descaso, da omissão do estado ou de lesões
causadas pelos maus tratos, perdiam a sensibilidade, o amor ao próximo e a si mesmo,
saindo dali, revoltados e capazes de cometer os mais horrendos crimes.
Atualmente, os adolescentes em conflito com a lei, apreendidos e custodiados na
Fundação Casa não têm melhor sorte. Explica-se: quando da aplicação da medida
socioeducativa de internação, os direitos básicos garantidos pelo ECA34 e pela Constituição
35
Federal de 1988 (CF/88), em especial os especificados pelo artigo 227,36 são negados, o
que ocorre na prática é aaplicação da pena de morte forma dissimulada.37
Se não pena de morte, “prisão perpétua à brasileira”, situação verificada no caso em
que seis jovens que praticaram atos infracionais na fase adolescente, já adultos permanecem
custodiados na Unidade Experimental de Saúde (UES).

32
Disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/rndh/tortura/informe/menores.html. Acesso em: 29 dez. 2013.
33
ELIAS,Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva, 1998. p.
102
34
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 jul. 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 5ª edição, revista e atualizada.
Brasília, DF: Senado, 2005.
35
Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
Organização do texto: Anne Joyce Angher. VadeMecum Acadêmico de Direito. 6ª Ed. São Paulo: Rideel,
2008.
36
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 2006.
37
A pena de morte existiu no Brasil colônia, na época das Capitanias Hereditárias, no Império e até na
República, Constituição de 1937. As Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas destacavam-se pelo rigor
de suas penas e a pena de morte era contemplada para a maioria das infrações; a execução se processava de
variadas formas: mutilação física, com uso da espada, pelo esquartejamento do condenado, em fogueira,
corpo amarrado na boca de um canhão, etc.
A UES formada da parceria entre Fundação Casa, ONG Santa Fé e Universidade
38
Federal de São Paulo foi instituída pelo Decreto nº 53427/2008 com o objetivo de se
tornar sistema de referência para receber adolescentes e jovens adultos infratores
diagnosticados com transtorno de personalidade, egressos da Fundação Casa e interditados
pelas Varas de Família e Sucessões. Com a parceria desfeita, a Secretaria de Saúde do
Estado de São Paulo assumiu a entidade, perdendo a finalidade de tratamento especializado.
Atualmente, de acordo com o juiz presidente da Associação Juízes para a Democracia e
coordenador da Comissão de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais, “Esta unidade é cópia de um manicômio, mas com uma agravante: os jovens
cumpriram medida socioeducativa e estão presos sem ter sido condenados por outros
crimes. Isso é prisão perpétua.”.39
Enquanto se escrevia o artigo, o grupo de jovens achava-se num limbo legal,
abandonado na UES sem respaldo familiar e social e sem acompanhamento terapêutico a
possibilitar a redução do potencial ofensivo de cada um, permitindo pela triagem, e
confinar em instituição regular, apenas os irrecuperáveis, resguardando a sociedade dos
riscos.
Importante registrar que MSe de internação não é punição, e só está autorizada nas
hipóteses previstas taxativamente nos incisos do artigo 122 do ECA, devendo, ademais, ser
sopesada a espécie de delito praticado assim como a cominação abstrata da pena que
receberia o menor se fosse imputável. Em outros termos, é parte de um processo de
reeducação e ressocialização realizado através de trabalho psicossocial capaz de
proporcionar aos adolescentes tratamento de acordo com suas necessidades
psicopedagógicas.
Como cediço, o atendimento de adolescentes, inclusive aqueles em conflito com a
lei, deve ser prestado pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e pelos

38
BRASIL. Decreto nº 53.427 de 16 de Setembro de 2008. Cria e organiza, na Secretaria da Saúde, a Unidade
Experimental de Saúde e dá providências correlatas. Diário Oficial. Poder Executivo. Estado de São Paulo. Nº
175 – DOE de 17/09/08 – p.3. Disponível em: http://governo-sp.jusbrasil.com.br/legislacao/145344/decreto-
53427-08. Acesso em: 14 jan. 2014.
39
AZEVEDO, Solange. Prisão perpétua à brasileira. Disponível
em:<http://www.istoe.com.br/reportagens/135118_PRISAO+PERPETUA+A+BRASILEIRA?pathImagens=
&path=&actualArea=internalPage>. Acesso em: 31 dez. 2013.
Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), vinculados ao
Sistema Único de Assistência Social (SUA), consolidado pela Lei nº 12.435/2011.40
Os jovens custodiados na UES, entrementes, se acham custodiados à margem da
legalidade, confinados numa espécie de "Guantânamo Brasileira" 41
ou “Prisão-Hospício”,
42
fruto de manobras jurídicas que se prestam a prorrogar o limite improrrogável de três
anos de internação de jovens em conflito com a lei. 43 A situação juridicamente insólita que
“vai à contramão de todas as conquistas da luta antimanicomial e do ECA” e que não passa
de “um manicômio para jovens”, na definição de Fernanda Lavarello, conselheira do
44
Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, agride as disposições do artigo 121,
parágrafo 5º do ECA, que prevê a liberação imediata aos vinte e um anos, do jovem
internado pela prática de ato infracional quando menor de dezoito anos. Nem mesmo a
exceção prevista no parágrafo único do artigo 2º, tem o condão de impedir a liberação, não
sendo possível, após essa idade, qualquer medida socioeducativa.
Não é demasiado enaltecer que as consequências do descaso do Estado para com os
adolescentes em conflito com a lei e a própria sociedade podem ser inimagináveis. À falta
de amadurecimento, entendido como retardo no desenvolvimento do córtex pré-frontal, os
adolescentes agem como pessoas mentalmente retardadas. Ou seja, o cérebro dos
adolescentes pode estar funcionando perfeitamente, isto, porém, não os tornam capazes de
tomar boas decisões.
O retardo mental a que se refere ajusta-se ao entendimento de Maximiliano Roberto
Ernesto Füher. Em trabalho denominado Tratado da Inimputabilidade no Direito Penal, este
autor alerta que o conceito de loucura para a medicina não corresponde exatamente ao
conceito de loucura para o direito penal. Na concepção do médico é “louco” o portador de
um sofrimento mental. Para o direito, é o sujeito que não consegue delimitar as fronteiras

40
BRASIL. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que
dispõe sobre a organização da Assistência Social.. Diário Oficial da república Federativa do Brasil. Brasília,
DF, de 7.7.2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm>. Acesso em: 21 jan. 2014.
41
A síndrome do infrator. Revista Carta Capital, São Paulo, edição541, de 15 abr. 2009.
42
MARTINS. Camila. Unidade misteriosa esconde jovens infratores. Caros Amigos, São Paulo, edição 148,
p. 36/37, julho 2009. Disponível em: < http://issuu.com/carosamigos/docs/148finalleitor>. Acesso em: 14
jan. 2014.
43
http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=325
44
MARTINS. Camila. Unidade misteriosa esconde jovens infratores. Caros Amigos, São Paulo, edição 148,
p. 36/37, julho 2009. Disponível em: < http://issuu.com/carosamigos/docs/148finalleitor>. Acesso em: 14
jan. 2014.
que a sociedade obriga. Nesse ponto de vista, os médicos supervalorizam a influência das
causas psicopatológicas, enquanto o juiz não aceita a irresponsabilidade penal em todos os
casos nos quais foi apontada a loucura ou retardo mental.45
Conhecidos estes dados biológicos, constatáveis e objetivos, pode-se argumentar ser
a neurociência do desenvolvimento ferramenta apta a contribuir com a formação
psicopedagógica, a ressocialização e a reinserir na sociedade de forma produtiva os
adolescentes em conflito com a lei. A aplicação de técnicas de neurociências no campo do
direito juvenil não busca isentar de responsabilidade os adolescentes. A neurociência do
desenvolvimento é importante para orientar a discussão da responsabilidade e da aplicação
de medidas socioeducativas com uma compreensão mais clara de que os adolescentes em
decorrência da estrutura inacabada de seus cérebros, principalmente dos lobos pré-frontais,
não podem ser responsabilizados por seus atos como se adultos fossem.

4 A RESPONSABILIDADE JURIDICA DOS ADOLESCENTES

A questão da responsabilidade penal do adolescente em conflito com a lei assume


relevância, diante da percepção errônea de que os adolescentes atualmente, com a
facilidade das informações, a força da mídia, as transformações sociais “amadurecem” mais
cedo. Tendo compreensão de seus atos, por negligência do Estado, estariam “acima” da lei,
protegidos por uma legislação onírica a lhes conferir direitos demais e deveres de menos.
A cada notícia de casos de violência extrema cometida por adolescente agitam-se os
focos de discussão sobre a redução da maioridade penal.46 Uns defendem que os maiores de
dezesseis anos sejam tratados como adultos e outros que a maioridade penal se reduza –
47
pasme-se! - a treze anos e outros há a posicionarem-se diametralmente contrários às
propostas retributivistas por entenderem haver o estado falhado no enfrentamento da
criminalidade em geral.

45
.FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Tratado da inimputabilidade no direito penal. São Paulo:
Malheiros, 2000.
46
Segundo levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 90 mil brasileiros
de 12 a 21 anos cumpriram medida socioeducativa em 2012. Dados de 2011 levantados pelo Ministério da
Justiça sobre as causas de internação de jovens infratores mostrou que as principais infrações eram furto e
roubo, com 44%, e tráfico de drogas, com 27%. Os crimes graves eram mínimos, destes 8,4% cumpriam
medida socioeducativa por homicídio, e 1,9% por latrocínio.
47
Tramitamna Comissão de Justiça e Cidadania do Senado Federal as seguintes Propostas de Emenda à
Constituição n.º 20, de 1999, 90, de 2003, 74 e 83, de 2011, 33, de 2012 e 21, de 2013, que pretendem alterar
as redações dos artigos. 14, 129 e 228, da Constituição Federal.
Neste ponto, não se pode ignorar o fato de as sociedades científica e jurídica não
funcionarem com base em leis naturais invariáveis, neutras. A balizar a discussão da
redução da maioridade está o aspecto ideológico. Imaginando-se uma escala ideológica,
num dos extremos juntam-se os seguidores da doutrina Lei e Ordem favoráveis à aplicação
do Direito Penal Máximo, confiados que somente haverá segurança com maior rigor penal.
No outro, arregimentam-se os seguidores do Abolicionismo Penal, confiados que a questão
criminalidade tem mais origem social do que penal.
Em discordância de uns e de outros, o jurista Juarez Tavares, palestrando sobre
maioridade penal no auditório do Superior Tribunal de Justiça (STJ), declarou que o
confinamento de adolescentes envolvidos em atos violentos “não irá implicar a diminuição
do número de infrações, irá apenas satisfazer sentimentos de vingança”. Referindo-se ao
ECA, arrematou: “Para menores infratores, sugiro mais assistência, mais educação, mais
recuperação, mais estatuto e menos Código Penal”.48
Quiçá a discordância do jurista apoie-se na doutrina do Direito Penal Mínimo
consentâneo com o ECA a situar-se no meio do espectro, a reconhecer o encarceramento
aplicáveis apenas a situações especialíssimas, ou seja, em casos gravíssimos que
representem risco efetivo às pessoas e a sociedade em geral.
De caráteres essencialmente jurídicos, as posições relatadas sequer tangenciam o
cerne da questão. Se, então, o debate sobre a imputabilidade penal de adolescentes acha-se
eivado de equívocos, alguma coisa deve ser proposta para fazer as MSe funcionarem. E o
que se deve fazer, daqui em diante, para reduzir a atividade infracional e a reincidência é
reconhecer o homem como um organismo evoluído e em evolução como ver o biólogo
evolucionista Ernest Mayr. Para ele o ser humano resulta da evolução natural das espécie e
sendo assim, muitos dos problemas relacionados ao homem somente podem ser entendidos,
sendo ele considerado como um organismo evoluído e em evolução. O conhecimento dos
princípios e mecanismos da evolução é pré-requisito para entender o homem.49
Neste contexto, não é senão a desinformação neurobiológica, a razão de o ECA
continuar sendo constantemente criticado. Obviamente que nenhuma das propostas em

48
Menores infratores merecem mais ECA e menos Código Penal, diz Juarez Tavares. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=112695. Acesso em: 29 dez.
2013.
49
MAYR, E. Populações, Espécies e Evolução. USP: São Paulo, 197
discussão no Congresso Nacional sobre a redução da maioridade penal leva em
consideração o estudo do sistema nervoso. Quiçá seus mentores jamais tenham ouvido falar
em neurociência ou conheçam o repasse do concreto (cérebro) ao mental (psicológico) que
determina o comportamento dos seres humanos. Desconhecerão, com certeza, o que ficou
dito sobre os adolescentes terem retardada a formação do córtex pré-frontal, achando-se
imaturos em faceàs relações sociais, à moralidade e ao direito.
As explicações para o retardo na formação do córtex pré-frontal talvez sejam
50
encontradas na teoria da seleção evolutiva de Darwin. Segundo os biólogos
evolucionistas, o que está por trás dos riscos assumidos pelos adolescentesé o imperativo de
propagação da espécie. Os adolescentes, por um comando natural, devem aventurar-se,
além do conforto da casa dos paisem busca de acasalamento de forma a organizar novos
conjuntos de genes.
A tecnologia disponível de neuroimagens revelam diferentes regiões do cérebro
responsáveis pelo comportamento impulsivo dos adolescentes. Tais experimentos
demonstram que os lobos frontais, as regiões que sintetizam e organizam informações e
consideram as consequências das ações e servem parainibir o comportamento impulsivo,
não estão totalmente desenvolvidos, e nem estarão até depois da adolescência. Em outros
termos, os cérebros dos adolescentes foram projetados pela natureza para encarar riscos e
recompensas imediatas, cedendo ao canto de sereia das tentações mundanas.
A suposta irresponsabilidade do adolescente, então, não passa de comportamento
adquirido através de seleção natural, ou seja, eles se comportam de tal ou qual maneira com
objetivo de aumentar a quantidade de descendentes. Assim, os adolescentes como todos os
seres vivos estão sujeitos a um conjunto de genes que determina características de
comportamento e de funcionamento emocional.
O comportamento impulsivo é bom para a sobrevivência da espécie, mas como a
sociedade moderna, regrada, que impõe ordem e considera os indivíduos responsáveis pelo
51
que fazem lida com o imperativo biológico? E como os adolescentes reagem ao
individualismo, à competição por status, à imitação e ao exibicionismo, valores

50
DARWIN, Charles. A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta pela existência na
natureza, 1 vol., tradução do doutor Mesquita Paul. Versão online disponível em:
<http://ecologia.ib.usp.br/ffa/arquivos/abril/darwin1.pdf>. Acesso em 30 dez. 2013.
51
Disponível em: <http://brainsontrial.com/are-teenagers-responsible/>. Acesso em: 30 dez. 2013.
reproduzidos na sociedade de consumo? Será que o ordenamento jurídico acha-se
adequadamente aparelhado para reagir às recompensas persuasórias para o cérebro
adolescente como o abuso de drogas, associação a gangues, brigas de rua e violência
doméstica?
A “idade do cérebro” deve, sim, ser levada em consideração na apreciação de atos
comportamentais de adolescentes considerados transgressores. E, em parte, a lei já
reconhece este fato, ao considerar desigualmente as pessoas levando-se em conta
amaioridade ou menoridade. Por este prisma, presume a lei que os adolescentes reagem
diferentemente na tomada de decisões: seus cérebros, simplesmente, não correspondem aos
cérebros adultos, mesmo que estrutural e funcionalmente pareçam iguais.
A realidade de diferenças neurológicas, somadas às diferenças biológicas e
psicológicastem expressão no ordenamento jurídico nacional. O Código Penal de 1940
adotou o critério puramente biológico e naturalístico ao estabelecer a inimputabilidade dos
menores: “os menores de dezoito anos são penalmente irresponsáveis” (artigo 23). A
mesmasituação foi mantida na reforma do Código de 1984 que alterou a redação para “os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis” (artigo 27), sendo o mesmo critério
recepcionado pelo legislador constituinte de 1988, ao redigir o artigo 228 da CF/88.
Como marco objetivo da responsabilidade penal, entenda-se que somente os
indivíduos maiores de dezoito anos são imputáveis criminalmente. Esse fato, todavia, não
isenta a responsabilidade penal dos adolescentes em conflito com a lei, eis que o ECA
prevê a responsabilização dosadolescentesenvolvidos em atos infracionais (artigo 104).
Considerando-se conditio sine qua non a imputabilidade penal para menores de
dezoito anos, estar-se diante de uma presunção absoluta, juris et de jure, o que remete a
uma ficção jurídica, uma construção abstrata e apriorística da lei, como se percebe na linha
de pensamento de Guilherme de Souza Nucci, para quem o legislador criou uma: “(...)
presunção absoluta de que o menor de dezoito anos, em face do desenvolvimento mental
incompleto, não tem condições de compreender o caráter ilícito do que faz ou capacidade
de determinar-se de acordo com esse entendimento.” 52

52
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 2ª ed. revista, atualizada e
ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
Julga-se parcial o reconhecimento legal porque o legislador ao considerar “se o
agente era ou era ou não capaz de entender o caráter ilícito do fato e de “determinar-se de
acordo com tal entendimento”, os dois requisitos biopsicológicos adotados pela lei penal,
apoiou-se em critérios de política criminal, de postura do Estado em estabelecer e fixar
responsabilidades criminais, apenas, e não na realidade neuronal do adolescente.
É o que se depreende pelo disposto na Exposição de Motivos da Reforma de 1984,
que emprestou ao Código Penal uma nova Parte Geral. Naquele documento, ao explicar a
opção legislativa a Comissão afirmou o seguinte: “Manteve o Projeto a inimputabilidade
penal do menor de 18 anos. Trata-se de opção apoiada em critérios de política criminal.”53
Política criminal como bem conceitua Fernando Rocha, “estabelece o encargo, os
conteúdos e o alcance dos institutos jurídico-penais, bem como a aplicação prática do
direito penal”.54 O estudo do encéfalo por certo não se inclui dentre as opções da política
criminal que entre outras se destacam decidir sobre a tipificação ou não de determinadas
condutas, quem deve ser responsabilizado e como.
É a neurociência do desenvolvimento, dentre as disciplinas propedêuticas que hoje
reúne as melhores condições de dar uma resposta coerente ao porquê da impulsividade,
característica marcante no comportamento dos adolescentes. E, também, subsidiar com
parâmetros científicos os requisitos legais que orientem o processo legislativo, regulando a
responsabilidade e a imputabilidade penal de adolescentes em conflito com a lei.
Enfim, para se ter uma lei racional e completa, o legislador deve relacionar a
estrutura do cérebro à maturidade mental e determinar a responsabilidade e a
imputabilidade de acordo com o entendimento de que o córtex pré-frontal, responsável por
toda cognição: tomada de decisão, capacidade de avaliar riscos, planejamento de estratégias
é a última do cérebro a se completar.
A neurociência do desenvolvimento vem afiançar que o comportamento do
adolescente não pode ser isolado de sua biologia. É graças à imaturidade do cérebro que os
adolescentes tendem a fazer escolhas baseados mais na intensidade das emoções do que em

53
BRASILIA. Lei nº 7.209 de 11/07/1984,Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de
1940 - Código Penal , e dá outras providências. Publicado no DO em 13 jul. 1984.
54
PARECER DA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA, sobre as Propostas de
Emenda à Constituição nº 20, de 1999, 90, de 2003, 74 e 83, de 2011, 33, de 2012 e 21, de 2013, que alteram
as redações dos artigos. 14, 129 e 228, da Constituição Federal. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getTexto.asp?t=138539>. Acesso em: 09 jan. 2014.
análises racionais e tal fator deve ser considerado tanto na apreciação do caso concreto,
quanto na sentença da MSe de internação e no tratamento, visando a reinserção e
ressocialização do adolescente.

5 ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI E AS MEDIDAS


SOCIOEDUCATIVAS

Os limites etários a referenciarem as análises demográficas e definirem às políticas


públicas variam de país para país, até mesmo de instituição para instituição. No Brasil,
costuma-se utilizar os parâmetros do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
regulamentado pela Lei no 8.069/90, que define como adolescente a pessoa com doze a
dezoito anos de idade. O Ministério da Saúde (MS) por sua vez, toma como base a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera adolescente o indivíduo
com idade entre dez a dezenove anos. Notar que para a Organização das Nações Unidas
(ONU) são adolescentes as pessoas que tem entre quinze e vinte e quatro anos de idade.
Mesmo que se atribua esta ou aquela idade para a adolescência, todas as definições
se pautam em critérios biológicos, caracterizando este período comum a todas as pessoas,
independentemente de seu grupo social.
É importante enfatizar que o ECA, além do critério etário, define adolescentes como
55
pessoas em condições peculiares de desenvolvimento e que, na prática de infrações
penais, sendo, “penalmente inimputáveis”, sujeitam-se às normas do Direito Penal Juvenil,
ínsito no Estatuto. O normativo define pois que, os adolescentes, ainda que se encontrem
sujeitos às consequências dos atos infracionais praticados, não são passíveis de
responsabilização penal. Não podem ser condenadas à prisão privativa de liberdade, senão
medidas socioeducativas, cujo objetivo - como o nome já diz – são medidas a serem
aplicadas ao adolescente em face ao cometimento de um ato infracional.
Disciplinadas pela CF/88, pelo ECA e pela recente lei que instituiu o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (Lei 12.594/2012) as medidas socioeducativas
tem por objetivo a ressocialização do autor do ato infracional, posto que, como adolescente,

55
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Florianópolis:
Secretaria de Estado d Justiça e cidadania – Diretoria de Proteção à Criança e ao adolescente, 2001. Artigo 2°
do ECA.
o agente infrator responde de forma mais eficiente à intervenção psicopedagógica,
justamente por estar em processo de desenvolvimento.
Tais medidas estão agrupadas no ECA em dois grupamentos distintos: o grupo das
medidas socioeducativas em meio aberto, não privativas de liberdade, como advertência,
reparação de danos, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida e o grupo das
medidas socioeducativas privativas de liberdade, semiliberdade e internação. De todas, o
trabalho se deterá exclusivamente na internação, medidas privativas de liberdade, norteada
pelos princípios de brevidade e excepcionalidade consagrados no art. 121 do ECA. O
legislador apoiou a restrição nestes princípios ao reconhecer que, em regra, prisão nenhuma
corrige, educa, melhora as expectativas dos indivíduos. Devem ser aplicadas especialmente
para os casos de ato infracional praticado com violência à pessoa ou grave reiteração de
atos infracionais graves.
Ao tratar das verdadeiras finalidades das entidades encarregadas da internação de
adolescentes, o doutrinador Afonso Garrido de Paula pontua que

(...) a internação tem finalidade educativa e curativa. É educativo quando o


estabelecimento escolhido reúne condições de conferir ao infrator escolaridade,
profissionalização e cultura, visando dotá-los de instrumentos adequados para
enfrentar os desafios do convívio social. Tem finalidade curativa quando a
internação se dá em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, hospitalar ou
psiquiátrico, ante a ideia de que o desvio de conduta seja oriundo da presença de
alguma patologia, cujo tratamento a nível terapêutico possa reverter o potencial
criminógeno do qual o menor infrator seja o portador.56

O entendimento de que a MSe de internação deve ter caráter reeducativo e de


inserção do adolescente na sociedade, já esteve em discussão no Superior Tribunal de
Justiça, conforme se depreende da leitura do julgado a seguir:

As medidas socioeducativas impostas ao menor infrator devem ser concebidas em


consonância como os elevados objetivos da sua reeducação, sendo relevantes para a
obtenção desse resultado o respeito à sua dignidade com pessoa humana e a adoção
de posturas demonstrativas de justiça. A internação deve ser reservada a situações
quando, na verdade, a família não tenha controle sobre o menor e que se exija um
tratamento rigoroso. Daí porque, diante desse quadro, impõe prestigiar-se a decisão
do Juízo de Primeiro Grau que examinou a questão à luz dos dados conhecidos
pelos assistentes sociais. Habeas corpus concedido. 57

56
PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Menores, Direito e Justiça. Revista dos Tribunais, 1989, p. 94.
57
BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça, 6.ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, HC 8858/SP.
Entrementes, embora doutrinadores e legisladores pretendam oferecer tratamento
especial garantidor da proteção integral aos adolescentes, verifica-se a ocorrência da
aplicação das medidas de forma descompassada com as determinações da CF/88 e com as
exigências do ECA, dispositivos que preveem a “finalidade educativa e curativa” com
tratamento a nível terapêutico capaz de reverter o potencial criminógeno do qual o
adolescente seja portador.
Os diferentes apanhados na literatura e nos notícias policiais demonstram que,
apesar da previsão legal, o Estado,além de não ter estrutura adequada, sequer tem interesse em
criar condições favoráveis ao fiel cumprimento das medidas socioeducativas, no sentido de atingir o
binômio previsto.
Desta forma, sendo as medidas socioeducativas ineficazes pela incapacidade material de
reeducar eressocializar, surge a necessidade urgente de se pensar em métodos alternativos que dê
aos adolescentes em conflito com a lei nova oportunidade de ressocialização e inserção na
sociedade de forma produtiva.

6. MEDIDA NEUROPSICOSOCIOEDUCATIVA: NEM DIREITO PENAL


MÁXIMO, NEM ABOLICIONISMO PENAL, MAS TRATAMENTO.

O adolescente em conflito com a lei, ao ingressar no atual sistema socioeducativo,


destinado à sua recuperação, ao invés de apoio e tratamento adequados,depara-se com uma
estrutura completamente descuidada, degradada e de métodos psicopedagógico e
terapêutico ultrapassados.
Nas unidades de internação não há oficinas profissionalizantes, aulas regulares,
atividades físicas e de lazer, muito menos acompanhamento neurológico. Em tal situação, o
crime é quase sempre a saída para muitos dos adolescentes que retornam às ruas. Não à toa,
o índice de reincidência em 2006 chegou a 29%, na Fundação Casa de São Paulo.
Não há solução mágica. Mas, pelas inferências relatadas, fácil é constatar que o
modelo socioeducativo, em face do descaso, da omissão, da falta de investimentos e da
aplicação da lei de proteção ao adolescente culminou no colapso do sistema que não
consegue mais recuperar ninguém.
Urge, reitere-se, se pensar na construção de um novo modelo com bases científicas,
lastreadas na neurociência do desenvolvimento e na psicopatologia que priorize o cérebro e
suas funcionalidades. Argumentos para isso não falta, exemplo claro é a opinião de Flávio
Roberto de Carvalho Santos ao mencionar Cohen e Segre:

(...) a saúde mental de modo geral e, em particular dos adolescentes, é fator


importante pois emcurto período de seis anos os processos bio-socio-psicologicos
se desenvolvem para dar conta da exigência do mundo interno e externo onde a
gama de situações familiares, afetivas, grupais, educacionais, econômicas e de
identidade tomam vulto grandioso e deturpado pelas próprias exigências, bem como
um aprendizado inadequado. Todos essesfatores são processo de um sistema neural
que está em desenvolvimento e parece ser propício o reconhecimento de si via o
funcionamento cerebral.58

Em que pese o ineditismo no Brasil, a aplicação de um programa alternativo voltado


à reabilitação de adolescentes em conflito com a lei, levando em conta o histórico, a
59
plasticidade e modificabilidade do cérebro, não deve ser descartada de pronto pela
descrença ou pelo medo do que for novo.
”Para ajudar um cidadão a se reintegrar à sociedade, deve-se mudá-lo mínimo
possível a fim de que seu comportamento se coadune com as necessidades da sociedade”, é
o conselho deEagleman. E o objetivo dessa mudança mínimapassa necessariamente
pelocontrole dos impulsos, através de estratégia de dar aos lobos frontais e pré-frontais,
ainda, em formaçãonos adolescentes,a prática na repressão dos circuitos de curto prazo.
E porque utilizar estratégias neurocientificas ao invés das ferramentas já elencados
nas cartilhas de aplicação das medidas socioeducativas? As razões residem no fato de, no
modelo atual,a região do cérebro denominada córtex pré-frontal ter mínima ou nenhuma
significação entre os diferentes fatores atribuídos às causas da criminalidade dos
adolescentes, como a genética e o entorno ecossocial.

58
SANTOS, Flávio Roberto de Carvalho. Op. Cit.
59
De acordo com C. B. Miranda Mello, “A Plasticidade cerebral pode ser definida como uma mudança
adaptativa na estrutura e função do sistema nervoso, que ocorre em qualquer fase da ontogenia, como função
de interações com o meio ambiente interno e externo, ou ainda como resultante de lesões que afetam o
ambiente neural.Ou seja, à medida que se expressa o curso do desenvolvimento infantil, também ocorrerão
diferentes expressões do potencial de modificabilidade do cérebro, assim falamos que a plasticidade se insere
em uma perspectiva maturacional, como o próprio desenvolvimento. Ver em: MELLO, C.B.MIRANDA,
M.C.MUSZKAT, M. Neuropsicologia do Desenvolvimento: Conceitos e Abordagens. 1º. Ed - São Paulo:
Memnon, 2005 cap.02 p.26-27.
A necessidade do conhecimento do cérebro em geral e desta região tão importante
na aplicação das MSe reside na constatação de diversos transtornos neurológico entre
adolescentes em conflito com a lei. Em que pese não haver levantamento nacional quanto à
saúde mental dos internos, pesquisa realizada no Rio de Janeiro, que envolveu trinta
adolescentes e jovens do sexo feminino, de doze a vinte e um anos, em cumprimento de
MSe de internação, constatou a prevalência de transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade (33%), transtorno da conduta (77%), transtorno desafiador opositivo (50%),
transtornos de ansiedade (70%), transtorno depressivo (50%), abuso de drogas ilícitas
(70%) e abuso de álcool (52%).60 Cabe reconhecer que os adolescentes com transtorno
mental grave situam-se num extremo da escala de saúde mental. No outro, estão os
adolescentes considerados saudáveis. Ocorre que entre as duas pontas, há um universo de
adolescentes e jovens com transtornos psiquiátricos de natureza e graus os mais diversos.61
O sistema de custódia falha em identificar os adolescentes com neurodeficiências e,
mais ainda, em auxiliá-los antes e depois da internação. Tal deficiência atribui-se à falta de
conhecimento e treinamento dos técnicos e socioeducadores; ferramentas e recursos
aplicáveis em programas que dê a importância devida ao córtex pré-frontal, órgão
diretamente envolvido na avaliação das consequênciassobre as decisões a longo prazo e que
não está totalmente desenvolvida na maioria das pessoas até depois dos vinte anos.
Enfim, a base de um programa alternativo de MSe de internação deve ter por meta a
reabilitação dos adolescentes e ser feita na promoção da maturidade do adolescente de
forma a maximizar a sociabilidade e minimizar a agressividade e os impulsos violentos.
O objetivo de um modelo alternativo não deve ser retributivo, mas essencialmente
reabilitador, como prevê a CF/88 e o ECA, tendo por objetivo a formação de adultos como
membros funcionais da sociedade.
Assim, ao se levar em consideração os aspectos neurológicos destacados pela
neurociência e psicobiologia é provável que se faça necessário uma nova visão sobre a MSe
de internação, como observa Flávio Roberto de Carvalho Santos:

60
Conselho Nacional do Ministério Público.Relatório da Infância e Juventude – Resolução nº 67/2011: Um
olhar mais atento às unidades de internação e semiliberdade para adolescentes. Brasília: Conselho Nacional
do Ministério Público, 2013.
61
Conselho Nacional do Ministério Público. Relatório da Infância e Juventude – Resolução nº 67/2011
(...) talvez o processo que lide com os adolescentes em conflito com alei seja não
mais o socioeducativo, mas neupsicosocioeducativo, onde serão valorizadas e
trabalhadas questões neurais no sentido de neuroplasticidade; questões afetivas no
sentido psicológicos, questões sociais no sentido das relações humanas e questões
educacionais o sentido da aprendizagem que prepara para a vida e com visão de
desenvolvimento. É provável que uma nova visão sobre a medida socioeducativa
tenha que ser revista valorizando o que as ciênciastem disponibilizado para o home,
por isso a neuropsicosocioeducativa.

Não há modelo pronto nem provas de eficiência ou eficácia de um projeto desse


porte. Contudo, um esboço do que poderá ser experimentalmente aplicado em populações
de adolescentes em conflito com a lei encontra-se nos estudos de Eagleman, com o nome de
treinamento pré-frontal aplicado coma técnica do biofeedback.
A neuroterapia proposta baseia-se no mapeamento de áreas cerebrais e medição de
estímulos à semelhança de tratamento behaviorista, em que o comportamento seria
condicionado através do binômio estímulo/resposta. Não confundir com lobotomia62 ou
com o “condicionamento mental” imposto ao protagonista do livro Laranja Mecânica, onde
um jovem que liderava uma gangue praticando estupros, espancamentos e mortes passou a
ser submetido a um processo de ressocialização, com base em experimento behaviorista
onde o cérebro era estimulado para reagir aos estímulos de sexo e violência.63
Nos dois métodos, os pacientes eram reinseridos na sociedade, como zumbis e
incapazes de esboçar defesas contra condutas agressivas que lhes fossem dirigidas.
O modelo proposto por Eagleman leva em conta o fraco controle dos impulsos,
característica marcante da personalidade dos criminosos de uma maneira geral
encarcerados. Sua estratégia de reabilitação é dar aos lobos frontais a prática na repressão
dos circuitos de curto prazo. O experimento de estimular a prática dos lobos frontal na
repressão dos circuitos cerebrais de curto prazo foi testada por Stephen LaConte e Pearl Chiu.
No experimento começaram a influenciar o feedback em tempo real em
imagiamento do cérebro. Durante o exame, as pessoas recrutadas, desejosas de parar de
fumar, olhavam fotos de cigarros em chamaenquanto seus cérebros eram escaneados. Em
seus monitores oscientistas mediam quais regiões do cérebro estavam envolvidas na
vontade de fumar. Em seguida, a atividade das redes neurais foi representada na tela do
computador por uma barra vertical que agia como termômetro do desejo de fumar: se as
62
Técnica de psicocirurgia, desenvolvida pelo médico português Antônio Egas Moniz e que consistia em
cortar as fibras nervosas que conectam o córtex pré-frontal com o resto do cérebro, usando uma faca especial
63
BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. Tradução Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2004.
áreas de desejo de fumar tinham fluxo acelerado, o nível da barra subia. Se o individuo
controlasse o seu desejo, o nível da barra baixava. O trabalho do participante era fazer com
que o nível da barra abaixasse. Ou seja, deveria resistir ao desejo de fumar. Para esta
finalidade poderia experimentar diferentes caminhos mentais até que a barra começasse a
descer lentamente. Quando as barra atingisse o mais baixo nível, a pessoa tinha aprendido a
represar o circuito frontal controlando a atividade das redes neurais, envolvidas no desejo
impulsivo de fumar
O objetivo é fazer o longo prazo vencer o curto prazo. O método permite visualizar a
atividade nas partes do cérebro que precisam de modulação, e testemunhar os efeitos de
diferentes abordagens mentais que o participante pode tomar.
O uso da ressonância magnética funcional a tomografia computadorizada por
pósitrons e outras formas de geração de neuroimagem tem suscitado grande interesse na
determinação de regiões do cérebro relacionadas com os estados ou comportamentos
mentais. Assim, a partir do reconhecimento das áreas responsáveis por determinadas
funções torna-se possível a aplicação de técnicas de modulação cerebral.
A Estimulação Cerebral Profunda (ECP) e Estimulação Magnética Transcraniana
(EMT) são métodos disponíveis, não invasivos, capazes de excitar as funções cerebrais.
A estimulação cerebral profunda consiste na colocação de fios chamados de leads,
com eletrodos que são implantados em determinadas regiões do cérebro, enquanto um
gerador de impulsos é ajustado para fornecer estimulação em tensão e frequência
particulares, que os médicos podem mudar.
Considere-se que a FDA (Food and Drug Administration), poderosa agência
americana que regula remédios e alimentos já aprovou o uso da ECP para tratamento de
várias patologias, como a doença de Parkinson, tremor essencial, e distonia. Mas o sistema
tornou-se também importante para o sistema de justiça criminal. Há relatos do uso da
técnica voltada para o tratamento da "agressividade." Em 2005 Angelo Franzini e seus
colegas relataram o uso de ECP no hipotálamo póstero em dois pacientes com retardo
mental, com comportamento agressivo e perturbador e resistentes a quaisquer tratamentos
farmacológicos. Os pesquisadores relataram "melhora consistente de comportamento
perturbador em ambos os pacientes na avaliação de tratamento com duração superior a um
ano. "
Em diferentes pontos do trabalho discorreu-se sobre a estreita relação havida entre o
córtex pré-frontal e o comportamento compulsivo ou criminoso. Em teoria tal ocorre
porque os criminosos não têm controle de impulso apropriado por causa da subestimação
dessas regiões. Mas é possível queoutras áreas do cérebro estejam implicados no
comportamento criminoso, como o hipocampo, a amígdala, o corpo caloso, todos passiveis
de estimulação por este método. 64
A Estimulação Magnética Transcraniana, como a ECP, é procedimento não-
invasivo destinado a estimular ou reprimir as atividades neuronais no cérebro. Ela funciona
através de um campo magnético gerado por uma bobina localizadapróximo ao crânio do
paciente. O campo magnético atravessa o crânio, induzindo corrente elétrica no cérebro, o
que afeta o disparo de neurônios.65
Desde 2006, esta técnica vem sendo utilizada no Brasil para o tratamento de
diversas patologias e em 2010, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da
Universidade de São Paulo (USP), aplicou a técnica com a finalidade de conter a
dependência de cocaína em pó e reorganizar o funcionamento cerebral dos pacientes. Esta
foi a primeira vez que cientistas brasileiros decidiram averiguar, se os benefícios da técnica
podem ser ampliados para dependentes crônicos da droga. Anteriormente, uma equipe de
Israel analisou os efeitos dessa estimulação contra a dependência provocado pelo fumo,
com resultados que mostraram uma queda no desejo de fumar, nos primeiros três meses.66
Programa piloto, similar ao proposto por Eagleman, foi desenvolvido e aplicado por
Peter N. Smith e Marvin W. Sams, intitulado Neurofeedback with juvenile offenders: a
pilot study in the use of QEEG-Based and analog-based remedial neurofeedback training e
pode ser acessado online e ter sua metodologia e resultados analisados.
Os resultados de outro modelo parecido, este aplicado no Brasil, foram apresentados
por Flávio Roberto de Carvalho Santos no Seminário Internacional Socioeducativo,
realizado no Rio de Janeiro em novembro de 2013, também com consulta online.

64
Disponível em: http://www.law.ku.edu/sites/law.drupal.ku.edu/files/docs/law_review/v56/04-
Greely_Final.pdf
65
Disponível em: http://www.law.ku.edu/sites/law.drupal.ku.edu/files/docs/law_review/v56/04-
Greely_Final.pdf
66
Disponível em: http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/10285/ciencia-e-tecnologia/usp-testa-tecnica-de-
estimulacao-cerebral-em-dependentes-quimicos. Acesso em: 30 dez. 2013
7 UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA

Porque muitos jovens delinquentes demonstram complicações neurológicas o uso de


neurofeedback tem sido considerado como uma opção de tratamento terapêutico viável para
este grupo de risco. Entrementes, a excitação sobre os avanços da neurociência, combinado
com o enorme interesse em reduzir a reincidência de adolescentes em conflito com a lei,
pode levar ao erro da aplicação rápida de métodos que precisam ser devidamente validados.
Serve a cautela para evitar que no “tratamento de cérebros criminosos", não se renovem os
equívocos ocorridos com a lobotomia e eletrochoques, práticas que no século passado eram
usadas para tratar doenças mentais. A aplicação desses métodos resultou em mais malefício
do que em benefícios aos pacientes.
De outro lado, o Estado não pode intervir na privacidade das pessoas,
principalmente de adolescentes, a menos que a intervenção seja, legalmente e autorizada e
comprovadamente segura e eficaz. O Brasil, atualmente, não conta com um marco
regulatório para normatizar possíveis intervenções neurocientificas destinadas ao
tratamento do comportamento dos adolescentes.
Deste modo, por uma série de razões, muitos experimentos clínicos buscando a
redução do comportamento compulsivo, através de intervenções neurocientificas, ainda,
precisam ser feitos. É pouco provável que se realizem no curto prazo, contudo, isso não
significa necessariamente que as intervenções não seja possível de serem aplicadas.
E se os tratamentos baseados na neurociência visando a modificabilidade do cérebro
para alterar o comportamento compulsivo de adolescente fossem seguros? O estado deveria
aplicá-los compulsoriamente? Questões relativas à ética e aos direitos constitucionais e do
ECA não são a preocupação do trabalho que se resume identificar as falhas no sistema
socioeducativo e apontar alternativas. Claro que elas merecem uma abordagem mais
aprofundada em outro contexto, não neste ensaio. Mas quais as diferenças qualitativas
existentes entre agir diretamente para alterar cérebro de adolescentes através de fármacos
ou indiretamente, por meio de treinamento do córtex pré-frontal?
A verdade é que, diante da falácia dos métodos tradicionais de tentar mudar o
comportamento dos adolescentes através de medidas socioeducativas,levando-se em
consideração os aspectos humanos destacados, talvez o processo que lide com adolescentes
em conflitocom a lei não seja mais o socioeducativo, mas neuropsicosocioeducativo, onde
sejam valorizadas e trabalhadas questões neurais no sentido de neuroplasticidade, questões
afetivas no sentido psicológico, questões sociais no sentido das relações humanas e
questões educacionais no sentido da aprendizagem que prepara para a vida e com visão de
desenvolvimento.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo que se finda não esgota o tema desenvolvido. Em decorrência de seu


caráter falível, novas abordagens devem ser feitas, especialmente, no que tange à aplicação
das técnicas da neurociência do desenvolvimento, buscando aprimorar a eficácia e
efetividade do modelo neuropsicosocioeducativo definido como alternativa ao falido
modelo tradicional socioeducativo.
Não há como se negar que a pesquisa neurocientífica atual oferece um grande
potencial para o tratamento de adolescentes portadores de comportamento desviante e nem
que sejam diversos os desafios impostos à aceitação de ideias inovadoras, que mais se
alentam na abordagem de uma área de atuação excitante e desafiadora como a da infância e
juventude.
Neste aspecto, o projeto terapêutico aqui sugerido, talvez, demore anos para ser
posto em prática, contudo, almejando que os profissionais que lidam com MSe devam ter
conhecimentos amplos, espera-se que o artigo desperte neles o interesse sobre o encéfalo,
especialmente o retardo do córtex pré-frontal em adolescente. E assim, se preparem para
novos enfrentamentos na aplicação das NMPSe que visem à inserção dos adolescentes na
sociedade.
O processo de reabilitação pode, sim, ocorrer nas conexões internas do cérebro e, no
futuro, novas tecnologias, incorporadas ao arsenal hoje existente, permitirão avanços
inimagináveis no estudo das funcionalidades cerebrais, deixando abertas possibilidades de
tratamento das disfunções mentais corriqueiramente, como se trata hoje uma raladura ou de
um braço fraturado.
Buscou-se, pretensiosamente, incorporar a neurociência do desenvolvimento ao
conjunto de ciências propedêuticas que fomentam a proteção integral ao adolescente e
avaliar seus reais efeitos sobre as medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes em
conflito com a lei.
Não se pode afirmar se tais objetivos foram atingidos, contudo, pensa-se que seja
tão importante quanto, a contribuição oferecida para uma ação profissional competente e
inovadora na área de execução das medidas socioeducativas junto ao adolescente a partir de
subsídios da neurociência do desenvolvimento.
Enfim, a medicalização do crime e a explicação da violência por motivos
neurobiológicos parece ser uma solução capaz de satisfazer a necessidade social de
compreender e reduzir a criminalidade. Ou seja: o desafio do futuro é a utilização da
neurociência do desenvolvimento como ferramenta terapêutica que venha a substituir a
punição.

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