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Resumo: O presente artigo tem por objetivo demonstrar como vem se perpetuando a chamada “cultura do estupro",
naturalizada pelos diversos tipos de violências suportadas pelas mulheres e pelo fato de culparem a vítima pela
conduta de seu agressor. Assim, utilizando-se de estudo doutrinário, legislativo e social, partindo do histórico da
previsão legal do estupro como crime, visa analisar os movimentos sociais que buscam desconstruir o ideal
machista sobre o assunto em questão, à medida que a pena por si só é insuficiente, buscando uma forma alternativa
de amenizar os danos causados à vítima com a aplicação da justiça restaurativa.
Palavras-Chave: Estupro. Cultura do Estupro. Violência de Gênero. Culpabilização da vítima. Direitos sexuais.
Justiça restaurativa.
INTRODUÇÃO
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Graduanda do 4º semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail:
moana.direito@hotmail.com
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Graduanda do 4º semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail:
mayalexandre7@gmail.com
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Graduando do 7º semestre do curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail:
igorvasconcelos100@hotmail.com
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Mestre em Ciências Jurídicas Internacionais pela Universidade de Lisboa. Professora do Curso de Direito na
Faculdade Luciano Feijão (FLF). Email: vanessavasconcelos85@gmail.com
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ressalta a mania social de achar que existe um meio termo entre negação e consentimento
quando se trata de violência sexual.
É incontestável que nos últimos tempos as mulheres conquistaram espaço no meio
social, embora, o patriarcalismo reforce a cultura de desvalorização da mulher quando aceita e
naturaliza, mesmo que tacitamente, os crimes sexuais como uma maneira de manter cada um
dentro de seus papeis, oprimindo e agredindo aqueles que se recusam a assumir esses modelos
predeterminados.
Essa naturalização da culpabilização da vítima gera nas vítimas o medo de represália
social, por isso a grande maioria se cala diante da violência, gerando a necessidade de se romper
o silêncio que legitima as mais diversas formas de violências suportadas pelas mulheres.
Essa é uma realidade a ser discutida pela necessidade de uma reavaliação das relações
de gênero, especialmente no que diz respeito à igualdade e liberdade sexual da mulher. Desta
forma, o presente trabalho busca incentivar uma reflexão sobre os aspectos regem o crime de
estupro e as medidas necessárias para a desconstrução da cultura de culpabilização da vítima.
O crime de estupro não está relacionado a sexo ou desejo sexual, estupro é reflexo da
hierarquia sexista, que intimida mulheres e as mantêm em um estado permanente de medo
(BROWNMILLER, 1975). Sexo necessita de consentimento, enquanto o estupro configura-se
no ato abominável de forçar e constranger alguém a praticar atos sexuais contra a sua própria
vontade. Podemos encará-lo como um mecanismo de controle social que tenta submeter
mulheres à autoridade masculina, mediante violência física, psicológica ou moral, colocando-
as como responsáveis pela conduta de seu agressor. Sobral-CE, novembro de 2015.
Já na antiguidade era prevista a punição para aquele que cometesse o crime de estupro,
tanto no meio jurídico como no social. Este crime estava diretamente atrelado a conceitos
sexistas e moralistas no que dizem respeito à liberdade sexual da mulher, que por muito tempo
foi considerada o sujeito passivo do delito (PORTINHO, 2005).
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meio de violência ou ameaças, contra qualquer “mulher honesta”, podendo ter a pena diminuída
caso a mulher em questão fosse prostituta. Já em 1890, o código referido foi revogado, contudo,
estas mesmas expressões foram mantidas.
Estas expressões moralistas como requisito caracterizador do tipo penal
impossibilitavam uma proteção mais abrangente às mulheres, já que a elas estava reservado um
comportamento sexual resignado e submisso.
Tratando-se de dever marital, abre-se espaço para questionar o estupro dentro do
casamento, que por muitas vezes é desconsiderado, já que a conjunção carnal é tida como uma
obrigação matrimonial. Os doutrinadores tradicionais, como Nelson Hungria e Magalhães de
Sobral-CE, novembro de 2015.
Noronha (2002), apoiam suas argumentações no debitus conjugales e afirmam que o marido
pode obrigar a esposa a ter relações sexuais com ele, mediante violência ou grave ameaça, pois
o mesmo estaria acobertado pela excludente de ilicitude do exercício regular de direito e, ao
marido, pertencia o direito à posse sexual da mulher, como afirma Noronha:
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11.106/05, tal disposição foi revogada, evitando que essas mulheres fossem revitimizadas pelo
seu agressor.
A partir da vigência de tal lei, passou a existir um conflito entre normas, visto que o
Código Civil de 2002, em seu art. 1.520, previa a autorização para o casamento daquela pessoa
que ainda não atingiu a idade núbil na hipótese de gravidez, para evitar imposição de
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cumprimento de pena. Com isso, surgiu a dúvida sobre qual legislação aplicar, já que a
legislação penal revogou a hipótese da extinção de punibilidade com o casamento e o Código
Civilista ainda a trazia em seus dispositivos. Por se tratar de uma lei específica que visava
proteger a criança e o vínculo familiar, a disposição civilista acabou prevalecendo.
Com o decurso do tempo, os legisladores brasileiros decidiram inovar no que tange aos
tipos penais previstos na Parte Especial do Código, que tem como objeto jurídico tutelado a
dignidade sexual, deste modo alterando diversos dispositivos legais. Com isso, foi sancionada
a Lei 12.015/09, onde unificou o crime de estupro e o crime de atentado violento ao pudor,
dando uma nova conotação ao delito, passando a tutelar a liberdade sexual de qualquer
indivíduo, independentemente de sexo ou gênero, dando a eles a faculdade de escolher o seu
parceiro e comportamento diante o ato sexual.
As alterações realizadas por esta lei passaram a alcançar tanto o homem quanto a mulher
como possíveis vítimas de estupro, conceituando o delito como o ato de “constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso”, presente no caput do art. 213 do atual Código Penal
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É preciso ressaltar que essa mesma lei revogou tacitamente a hipótese de extinção de
punibilidade no caso de casamento da vítima com o agressor, encontrada no Código Civil, à
medida que a legislação penal previu a situação do estupro de vulnerável (art. 217-A CP),
entendendo que até a idade de 14 anos, mesmo que haja consentimento, o ato sexual configura-
se em estupro presumido, o mesmo se aplica para os casos de pessoas com qualquer tipo de
doença física ou mental que dificulte sua resistência. Outra conquista foi a inclusão do crime
de estupro na Lei dos Crimes Hediondos (art. 1º, V da L. 8.072/90).
Através dos tempos, a legislação refletiu o raciocínio machista em relação à liberdade
sexual da mulher e mesmo com as adaptações que foram realizadas, as mulheres continuam
Sobral-CE, novembro de 2015.
Os crimes sexuais contra a mulher são os únicos crimes no qual a vítima é julgada junto
com o criminoso. No início da década de 1970, nos Estados Unidos, o estupro era visto como
uma necessidade masculina, uma doença, uma mentira ou culpa da vítima (SEMÍRAMIS,
2013). Em pleno século XXI, o estupro ainda é visto como uma expressão da força masculina,
que coloca a mulher numa posição de propriedade do homem, dando legitimidade a diversos
tipos de violências de gênero.
A violência doméstica se enquadra nesse raciocínio, pois mulheres são tratadas como
propriedade masculina e essa relação se manifesta por meio do espancamento e do
estupro marital. Estupros em casos de escravidão e de guerra (inclusive religiosa)
também se encaixam nessa teoria, pois são uma forma de subjugar por meio da
violência sexual. E o conceito de feminicídio (homicídio de mulheres que não
obedecem aos cânones sociais) claramente deriva dessa observação de que a cultura
legitima a violência contra mulheres. (SEMÍRAMIS, 2013).
A cultura do estupro trata especificamente da naturalização dessa violência no âmbito
social. Sirlanda Maria Selau da Silva (2014), advogada e militante feminista da Marcha
Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul, ressalta que se constrói a falsa ideia de que a
violência faz parte do destino das mulheres, o que geralmente enseja que a vítima passe à
ano, o IPEA divulgou a pesquisa “Tolerância social à violência contra mulher”, em que 58,5%
dos entrevistados acreditam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos
estupros” (IPEA/SIPS, 2014), o que salienta o mito de que a vítima pode evitar o estupro,
atenuando a culpa do agressor que supostamente não consegue controlar seus instintos e
culpando a vítima por provocá-lo.
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expresso, configura-se nesse crime, mas muitos fecham os olhos para o problema quando a
palavra estupro é substituída por uma dessas definições mais amenas, como menciona Lola
Aronovich (2014). Um exemplo comumente ignorado é o ato de embebedar alguém a fim de
obter relações sexuais sem resistência, não levando em consideração a ausência de
discernimento da vítima para decidir se queria ou não ter relações com determinada pessoa.
Em vários casos, o estuprador nem acha que estuprou, e a própria vítima leva tempo
para se convencer de que sofreu um estupro. E mais tempo ainda para perceber que não teve
culpa. (ARONOVICH, 2014)
Com o crescimento das redes sociais, casos de pornografia de vingança se tornaram cada
Sobral-CE, novembro de 2015.
vez mais frequentes. Antigamente esses casos ganhavam destaque porque nada acontecia aos
autores, todavia, em junho de 2014, um caso ganhou destaque porque a Justiça de Minas Gerais
entendeu que a vítima também foi culpada por ter se exposto nas imagens íntimas. A justificativa
dos dois desembargadores baseia-se no raciocínio moralista de que às mulheres cabe um
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comportamento sexual resignado. O relator Francisco Batista de Abreu ao justificar sua decisão, que
foi reiterada pelo colega Otávio de Abreu Portes, escreveu:
Para o magistrado, não houve ‘quebra de confiança’ do casal, uma vez que o namoro foi
‘curto e à distância’. ‘As fotos em momento algum foram sensuais. As fotos em posições
ginecológicas que exibem a mais absoluta intimidade da mulher não são sensuais. (...) São
poses para um quarto fechado, no escuro, ainda que para um namorado, mas verdadeiro.
Não para um ex-namorado por um curto período de um ano. Não foram fotos tiradas em
momento intimo de um casal ainda que namorados. E não vale afirmar quebra de
confiança. O namoro foi curto e a distância. Passageiro. Nada sério. ’ (TJ-MG. Apelação
Cível nº 1.0701.09.250262-7/001 - Comarca de Uberaba - Apelante(s): Fernando
Ruas Machado Filho - Apelado(a)(s): Rubyene Oliveira Lemos Borges).
Decisões como essas dão liberdade para que os ofensores continuem praticando o ato.
A cultura do estupro é o processo de constrangimento social que garante a manutenção dos
papéis de gênero e dar aos homens o controle do corpo e da sexualidade da mulher, oprimindo-
as quando reforçam a imagem de que mulheres devem ser sexualmente recatadas, não podendo
usar determinados tipos de roupa ou freqüentar certos lugares. Desta forma, punem-se aquelas
que não aceitam a legitimação da violência por meio de hostilidade ou crimes sexuais.
A doutoranda em Direito Cynthia Semíramis (2013) diz que a expressão “cultura do
estupro” vai além da tolerância e incentivo a violência contra mulheres por meio da violência
vítimas.
Os homossexuais são moldados para agir de acordo com papéis de gênero que
desprezam sua liberdade, forçando-os a uma heterossexualidade compulsória. Quando
não se adequam são ridicularizados, estuprados e agredidos até a morte. Mulheres
lésbicas enfrentam os mesmos problemas, agravados pela ameaça de estupro corretivo
para que a violência sexual as ‘transforme em heterossexuais’. (SEMÍRAMIS, 2013).
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realmente existe, que a sociedade não pode simplesmente fechar os olhos e fingir isso não
acontece enquanto não sente a gravidade do problema na própria pele. É preciso dar voz às
vítimas e não desacreditá-las.
A impunidade dos agressores também é outro grande problema, visto que desestimula
as vítimas a registrarem a denúncia. Obviamente, a punição por si só não basta, o enfrentamento
desta forma de violência passa pela transformação das relações entre homens e mulheres,
Sobral-CE, novembro de 2015.
agride e estupra, por se tratar de uma norma social que representa a condenável prática de
opressão feminina, principalmente, no que diz respeito aos direitos sexuais.
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desnaturalizar a violência, a misoginia e o preconceito. O papel dos movimentos sociais
feministas é fundamental para essa missão, pois cabe a eles desconstruir pensamentos e
comportamentos machistas corriqueiros.
A campanha virtual “Primeiro Assédio”, que debutou no Brasil através do blog Think
Olga é um exemplo de movimento social feminista que empoderou e incitou mulheres a falarem
das primeiras violências que sofreram. A jornalista Juliana de Faria, motivada pela indignação
dos comentários inapropriados e brutais de cunho sexual e incitação a pedofilia, direcionados à
participante Valentina, de apenas 12 anos de idade, do programa de TV Master Chef Júnior
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Brasil, deu o pontapé inicial ao relatar seu primeiro assédio em uma rede social, usando a
hashtag #primeiroassedio como forma de protesto (FARIA, 2015).
Esse fato foi o estopim para a mobilização feminina nas redes sociais, que permitiu que
outras mulheres divulgassem em seus perfis virtuais casos de assédio sofridos na infância, pré-
adolescência e adolescência. Feita uma análise a partir das histórias publicadas, se constatou
que a idade média do primeiro assédio é de 9,7 anos (FARIA, 2015). Tornando perceptível que
o problema não está na roupa ou no comportamento da vítima, à medida que uma criança não
tenta seduzir e, sim, que o real problema está no raciocínio patriarcalista que a objetifica.
Mostrando que se apoderar da própria história é importante para que ocorra a mudança
social que tanto precisamos, de forma que a vítima assim se reconheça como vítima. É uma
questão de enxergar que a opressão é, de fato, uma opressão e não “parte da vida”. (FARIA,
2015).
A violência sexual causa danos irreversíveis para a sua vítima, tais como danos físicos,
trauma emocional, medo, insônia, a dificuldade em se relacionar sexualmente e a dificuldade
em retomar o trabalho ou atividade curricular, afetando toda a vida da vítima diante a situação,
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É sabido que as sequelas da violência podem ser atenuadas se a vítima dispor de
tratamento especializado e possuir uma consistente rede de apoio (pessoas que
compreendam sua dor, não atribuam culpa à vítima pelo ocorrido, e procuram
fomentar sua autoestima). Contudo, considerando que as estatísticas apontam que
apenas 10% das vítimas buscam apoio podemos concluir que via de regra a vítima de
violência sexual silencia sua dor e a sufoca internamente. Daí, termos o saldo
desconhecido de crianças, adolescentes e adultos que apresentam diversos
comprometimentos ao nível de saúde física, mental e emocional; onde além de
anônimos, tornam-se incompreendidos. (DIAS, 2003).
Como em praticamente todo crime, a vítima busca justiça através da punição. No Brasil,
existe a ideia de que a maioria dos conflitos, principalmente os penalistas, possui solução no
Poder Judiciário. Neste sentido, o método da justiça retributiva preocupa-se com o Sobral-CE, novembro de 2015.
À medida que para as vítimas de crimes sexuais, a punição sozinha torna-se insuficiente
para o conforto e tranquilidade da vítima, encontra-se por meio da Justiça Restaurativa uma
maneira de saciar essa necessidade de justiça, de modo que haja espaço para ouvir todas as
partes envolvidas no processo.
Este método baseia-se na escuta das partes, mediante a aproximação entre vítima,
agressor, suas famílias e a sociedade, sem que se exclua a pena, preocupando-se mais com as
pessoas e seus relacionamentos e dando oportunidade a figura da vítima e a comunidade onde
o crime ocorreu (FREITAS; BRAGA, 2015).
A Justiça Restaurativa oferece uma estrutura de entendimento e resposta ao crime
fundamentalmente diferente. Esta ressalta a importância de se aumentar a participação das
vítimas do crime e dos membros da comunidade, responsabilizando diretamente os praticantes
do crime frente às pessoas prejudicadas por eles com intuito de restaurar as perdas emocionais
e materiais da vítima.
Visando o diálogo entre as partes, pode-se dar início a negociação de uma possível
resolução do problema, devolvendo a sensação de segurança para a sociedade e o término do
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relata a ONU (2007):
A Justiça Restaurativa refere-se ao processo de resolução do crime focando em uma
nova interpretação do dano causado às vítimas, considerando os ofensores
responsáveis por suas ações e, ademais, engajando a comunidade na resolução desse
conflito. A participação das partes é uma parte essencial do processo que enfatiza a
construção do relacionamento, a reconciliação e o desenvolvimento de acordos
concernentes a um resultado almejado entre vítima e ofensor. (...) Através deles, a
vítima, o ofensor e a comunidade recuperam controle sobre o processo. Além disso, o
processo em si pode frequentemente transformar o relacionamento entre a
comunidade e o sistema de justiça como um todo.
Com isto, percebe-se que este novo modelo de justiça busca primordialmente amenizar
os danos sofridos pela vítima, devolvendo-a o controle de sua própria vida, para então analisar Sobral-CE, novembro de 2015.
e restaurar os laços que foram rompidos após a prática do crime, mesmo sabendo que esta
restauração não será absoluta. Neste sentido, afirma ZEHR (2008, p. 176):
(...) O primeiro objetivo da justiça deveria ser, portanto, reparação e cura para
as vítimas.
Cura para as vítimas não significa esquecer ou minimizar a violação. Implica
num senso de recuperação, numa forma de fechar o ciclo. A vítima deveria
voltar a sentir que a vida faz sentido e que ela está segura e no controle. O
ofensor deveria ser incentivado a mudar. Ele ou ela deveriam receber a
liberdade de começara vida de novo. A cura abarca um senso de recuperação
e esperança em relação ao futuro.
Sanar o relacionamento entre vítima e ofensor deveria ser a segunda maior
preocupação da justiça. O movimento de reconciliação vítima-ofensor
chamou esse objetivo de reconciliação.
Em casos de estupro a aplicação do método da Justiça Restaurativa pode ser bastante
eficaz, à proporção que realizaria um diálogo intermediário com o fim de conscientizar a
comunidade a cerca da gravidade do problema em questão, para, deste modo, desconstruir a
ideia de que a vítima tem culpa pela violência que sofreu.
Sendo aplicado este método, cria-se a oportunidade para que todos os sentimentos
resultantes do delito sejam manifestados e de alguma forma solucionados, fazendo com que a
vítima deixe de sentir culpada e demonstre os danos que sofreu do agressor e os que vêm
sofrendo pela sociedade que busca um motivo no seu comportamento para explicar o porquê da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobral-CE, novembro de 2015.
Ante as considerações feitas neste trabalho, foi possível realizar uma reflexão diante o
estudo sobre o crime e a cultura do estupro. Nota-se que o termo cultura do estupro indica o
quanto a violência contra a mulher é tolerada e normalizada dentro da sociedade.
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Não há como ignorar que as mulheres conquistaram mais espaço na sociedade nestes
últimos anos, obtendo cada vez mais igualdade de direitos, principalmente em questões
relacionadas à liberdade sexual, que são cada vez mais garantidas pelo Estado. Contudo, mesmo
com estas conquistas, ainda existe a opressão social, que insiste em atribuir a culpa dos crimes
sexuais as suas vítimas.
No Brasil, a legislação aceitou com o decurso do tempo que é direito de qualquer um
direcionar sua sexualidade de acordo com sua própria vontade e, não, segundo os ditames
sociais, assim como, mudou de modo a reconhecer que o crime de estupro está diretamente
relacionado às relações sexistas, considerando que homens e mulheres podem ser vítimas de
estupro.
O estudo dessa cultura e sua desconstrução ainda é um tema pouco desenvolvido, mas
que vem sendo combatido tanto pelo Estado quanto pelos movimentos sociais, que visam a
igualdade de gênero.
O método da justiça restaurativa, mesmo caminhando lentamente, tem um papel
fundamental na questão de assistência a vítima, ao agressor e a sociedade, a fim de reparar ou
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vista que se trata de uma questão cultural.
Portanto, este trabalho traz uma reflexão geral sobre a necessidade de mudanças nas
bases ideológicas da sociedade como meio de desconstruir essa mania social de culpabilização
da vítima, reprovando as práticas de violência de gênero.
Abstract: This article aims to show how the so-called "rape culture" continues to exist, naturalized by the several
types of violence borne by women and the fact that the victim is blamed for the conduct of his attacker. Thus,
using doctrinal, legislative and social study, based on the history of rape legal provision as a crime, this work aims
to analyze the social movements that seek to deconstruct the sexist ideal on the matter concerned, as the penalty
itself is insufficient, it is seeking an alternative way of softening the damage caused to the victim with the
application of restorative justice.
Key-Words: Rape. Rape culture. Gender violence. Victim blaming. Sexual rights. Restorative justice.
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