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Lê o texto seguinte.

A idade da crise

Os neurologistas descobriram que o cérebro começa a reorganizar-se na puberdade e provoca


um tremendo alvoroço que é responsável, em grande medida, pelas atitudes dos mais jovens.
[…]
Psicólogos e sociólogos tentam descobrir se o comportamento adolescente obedece a um rito
social, se é provocado por uma acumulação de fatores biológicos ou uma combinação de ambos.
Procurámos dar resposta a algumas das questões fundamentais que se colocam entre os onze e
5 os dezanove anos de idade. […].

Porque têm mudanças de humor?


As alterações fisiológicas explicam, em grande parte, a razão pela qual os adolescentes
10 costumam estar de mau humor mais vezes do que parece normal. As descargas de hormonas
no organismo podem produzir transições rápidas da tristeza para a alegria ou da afabilidade
para a fúria. Porém, há outro fator que se revela fundamental, segundo um estudo recente da
organização Sleep Scotland (Edimburgo, Escócia): a falta de sono. A investigação detetou que
as alterações no estado de humor coincidem com épocas em que dormimos poucas horas. No
15 caso de jovens na fase da puberdade, deve-se sobretudo à grande quantidade de tempo que

dedicam, todas as noites, aos videojogos, à TV ou à Internet: muitos apenas dormem entre
quatro e cinco horas por noite, o que influi de forma determinante nas suas drásticas alterações
emocionais. […]

Porque gostam tanto de SMS?


20 Um estudo recente da Universidade do Michigan e do Projeto Pew Internet & American Life
revelou que os adolescentes comunicam sobretudo através de mensagens de texto, apesar da
utilização em massa do correio eletrónico e do êxito de redes sociais como o Facebook ou o
Twitter. O volume é impressionante: uma média de 30 SMS por dia, no caso deles, e de 80, no
delas. As razões estão relacionadas com um formato que impõe a brevidade (o que lhes agrada)
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e a transmissão quase universal, pois praticamente toda a gente possui um telemóvel. Além
disso, o estudo descobriu outro fator para explicar a preferência juvenil: o sentido de privacidade.
Os SMS parecem bilhetinhos secretos, o que os transforma no meio ideal para trocar
mensagens íntimas. Todavia, há um dado curioso que nos faz refletir sobre o tipo de
comunicação que se estabelece com os pais: na maior parte dos casos, os miúdos recorrem a
chamadas de voz quando querem falar com os progenitores. Talvez porque não lhes contam
todos os seus segredos? […]

L.M., in SuperInteressante n.º 152 – dezembro 2010

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. As afirmações apresentadas de (A) a (G) correspondem a ideias-chave do texto. Escreve a
sequência de letras que corresponde à ordem pela qual essas ideias aparecem no texto. Começa
a sequência pela letra (F).
(A) Os jovens preferem utilizar SMS, pois possibilitam a troca de mensagens íntimas.
(B) Ao comunicar com os seus pais, os adolescentes preferem as chamadas de voz.
(C) As alterações fisiológicas condicionam o humor dos adolescentes.
(D) Os investigadores procuram descobrir se o comportamento dos adolescentes se deve a
fatores biológicos, sociais ou a ambos.
(E) A falta de sono também pode condicionar as alterações do humor.
(F) A reorganização do cérebro, na puberdade, é responsável pelas atitudes dos mais jovens.
(G) A comunicação entre adolescentes efetua-se, principalmente, através de SMS.
2. Seleciona, em cada item (7.1. a 7.3.), a opção correta relativamente ao sentido do texto.
Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
2.1. Os estudos referidos no texto procuravam
(A) explicações biológicas para o comportamento dos adolescentes.
(B) razões sociais que justificassem o comportamento dos jovens entre os onze e os
dezanove anos.
(C) verificar se os comportamentos dos adolescentes se deviam a fatores biológicos, sociais
ou a ambos.
(D) descobrir como controlar o comportamento dos adolescentes.
2.2. Os jovens dormem poucas horas devido
(A) ao uso excessivo de determinados meios tecnológicos.
(B) às alterações hormonais.
(C) à sua instabilidade emocional.
(D) ao envio constante de SMS.
2.3. A pergunta “Talvez porque não lhes contam todos os seus segredos?” (linhas 30-31)
(A) pretende criticar o comportamento dos jovens.
(B) formula uma hipótese para as diferentes formas de comunicação.
(C) defende que os adolescentes contem todos os seus segredos aos pais.
(D) apresenta a principal preocupação dos pais de adolescentes.

3. Seleciona a única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.


Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
(A) “que” (linha 2) substitui “tremendo alvoroço”.
(B) “que” (linha 6) substitui “questões fundamentais”.
(C) “que” (linha 15) substitui “jovens”.
(D) “que” (linha 28) substitui “dado curioso”.

O oculista misterioso

Rui correu até à esquina da rua. Já não havia sinal do carro. Nem da rapariga. Nem da borboleta
branca. Tinha na mão um sapato de fada e só isso lhe dava a certeza de que tudo o resto tinha realmente
acontecido. Voltou ao oculista e lançou à fachada da loja mais uns tantos olhares especiais. Só que
continuava tudo na mesma. Via sempre a “Ótica Coelho”.
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Foi então que ele decidiu passar à ação. Ia entrar na loja e esclarecer o assunto. Afinal, a rapariga
tinha saído dali com um par de sapatos. Deviam ser uns sapatos normais, de pessoas e não de fadas, tal
como a “Ótica Coelho” era sempre a “Ótica Coelho”, fosse qual fosse a maneira como se olhasse para
lá.

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Guardou o sapato no bolso do blusão, avançou para a porta da loja e só parou no degrau de pedra
da entrada, gasto e amaciado pela passagem de muitos pés.
Fez rodar a maçaneta de metal, que tinha a forma de um ovo com uma serpente enrolada, e depois
empurrou a pesada porta de madeira, que rangeu aflitivamente, como se ninguém lhe tocasse há já
muito, muito tempo.
15 Um relógio de pé alto tiquetaqueava e o som mecânico era tudo o que se ouvia ali dentro. Os velhos
expositores de madeira mostravam algumas armações de óculos bastante antiquadas. Havia poeira
acumulada por todo o lado e o soalho rangia a cada passo dele. Também se viam grossas teias de aranha
nos cantos, balançando suavemente como redes de dormir.
Então sempre era verdade o que Ana lhe tinha dito. Aquela loja não era a “Ótica Coelho”, a loja
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moderna com uma fachada de mármore e vidro que se via de fora. Aliás, a prova estava ali mesmo, na
parede atrás do balcão, onde estava escrito com letras floreadas: “Oculista Coelho”. Houve uma vez em
que o rapaz leu “Ocultista Coelho” mas fechou os olhos e voltou a abri-los e lá estava outra vez o
“Oculista Coelho”. […]
O velho afastou-se para o canto mais escuro da loja e regressou de lá com uns óculos feitos de
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tartaruga e com incrustações metálicas nos aros. Eram feios e antiquados.
– É destes óculos que tu precisas...
– Nem pensar. Eu vejo lindamente.
– Mas passas a ver melhor ainda. Quem sabe se não consegues ver até o que desejas? Não há nada
que uns óculos como estes não possam resolver.
30 O Rui segurou os óculos, desconfiado.
– Vai ali para fora e experimenta olhar para aqui outra vez – disse o velho.
– Eu já lhe disse que vejo bem de mais. Tenho olhos de águia.
– Não te fies. Há coisas que nem os teus olhos de águia podem ver. Faz o que te digo e talvez
encontres resposta para as tuas perguntas.
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Quando o Sr. Coelho acabou de dizer isto, já estava outra vez sentado na cadeira de palhinha, a ler o
seu jornal.
O rapaz caminhou até à porta, hesitou e depois voltou a avançar. Saiu em silêncio, atravessou a rua
até ao passeio do outro lado e pôs os óculos. Estava convencido de que o velho oculista tinha um parafuso
40 a menos e que aquilo era uma ridícula perda de tempo.
Viu então uma espécie de nevoeiro com pontinhos brilhantes, apesar de estar um dia limpo e
soalheiro, como se alguém tivesse erguido ali de repente uma cortina de fumo. Depois a névoa foi-se
dissipando e, atrás dela, surgiulhe um mundo novo. A rua era a mesma rua, só que agora estava deserta.
Uma vaca branca com um gorro vermelho e um cachecol da mesma cor amarrado à volta do pescoço
45 bebia água num fontanário, muito calmamente. Olhou para o rapaz mas desinteressouse logo a seguir e
continuou a beber.
O que era aquilo? Onde estava ele?

Álvaro Magalhães, A Ilha do Chifre de Ouro, 3.ª ed., ASA, 2008

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

1. Aponta o motivo que levou Rui a entrar no oculista.


2. Prova que o interior da loja não está de acordo com a sua fachada exterior.
3. Refere as razões pelas quais o rapaz não queria utilizar os óculos.
3.1. O que queria o Sr. Coelho dizer com a frase “Há coisas que nem os teus olhos de águia podem ver.” (l.
33)?
4. Relê o penúltimo parágrafo.
4.1. Transcreve uma comparação.
4.2. Apresenta as diferenças entre os dois mundos.
5. “O que era aquilo? Onde estava ele?” (l. 46)
Explica a função destas questões.
6. Classifica o narrador quanto à presença, justificando.

Às vezes, no nosso quotidiano, deparamo-nos com situações imprevistas, curiosas,


divertidas, trágicas...
Partindo de uma experiência passada ou recorrendo à tua imaginação, cria um texto
narrativo bem estruturado, com um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras,
relatando uma dessas situações.
Na tua narrativa, deves descrever, pelo menos, um dos intervenientes e incluir um
momento de diálogo.

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