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HISTÓRIA DO DIREITO

Gustavo Prazeres
RESUMO
OBJETO DA HISTÓRIA DO DIREITO: Paralela ao estudo da História, a História do
Direito estuda os homens e a transformação da sociedade e da cultura numa
perspectiva cronológica. A História do Direito estuda uma parcela específica:
código de direito na sociedade e suas transformações no decorrer do tempo. O
direito está desassociado da escrita, podendo ser estudado como ordenamento (leis
escritas) ou como pensamento jurídico (regido por aspectos morais) ou ainda como
instituição (família, igreja). IMPORTÂNCIA: entendimento dos reflexos da história
na aplicação e execução de leis nos dias de hoje. Importância ainda de desmitificar
o direito como um direito posto e vigente. METODOLOGIA – OFICIAL X CRÍTICA: a
metodologia da história, de empírica (oficial) foi a critica, com o objetivo de
desfazer a objetivação do estudo das Ciências Humanas.

DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA (ágrafos):


→ Pictografia: primeiro momento de tentativa de expressão do homem, por meio de
pinturas rupestres como forma de registrar sua passagem. → Logografia: escrita já
com intuito de passar mensagens, de comunicar. Dentro da logografia, percebe-se a
Ideografia (imagens que passem idéias) e a Fonografia (surgimento dos alfabetos,
como os fenício, árabe, grego etc.) A escrita é decisiva para a história, por isso
chama-se pré-história todo o momento antes da escrita. Vestígios de pré-história
não fornecem as informações necessárias para estudo inteiro das populações, mas já
havia institutos como propriedade e casamento antes mesmo da escrita. OS POVOS
ÁGRAFOS: seu estudo pode ser feito por construção a partir de documentos
posteriores ao descobrimento da escrita ou registro de povos que já conheciam a
escrita sobre povos que ainda não sabiam. Não é correto denominar o seu direito
como um direito primitivo, por mais que seja uma analogia ao seu tempo, pois possui
cunho preconceituoso. O correto é chamar seu direito de direito arcaico, ou
consuetudinário, ou mesmo direito dos povos sem escrita, abrangendo todas as
denominações. CARACTERÍSTICAS GERAIS: as leis dos povos ágrafos eram de limitada
abstração (regras simples), numerosas, impregnadas de religiosidade (indissociados
da moral e da religião), direito em nascimento (segue-se sem saber o motivo, desde
que nasce. Por isso é considerado um pré-direito) e muitas atitudes são reiteradas
por não reflexão de comportamento. FONTES: costumes (reiteração do comportamento),
leis não escritas (mais intenso que os costumes), precedentes (julgamentos
comparados a casos semelhantes) e provérbios e adágios (servem no julgamento).
ESTRUTURA FAMILIAR E SOCIAL: a primeira organização social foi a família, depois
vieram os clãs (famílias com interesses em comum ou ascendentes remotos) e, por
fim, a etnia ( histórias de vida e objetivos comuns que formam nações)

DIREITO DA SOCIEDADE ORIENTAL ANTIGA:

A transição do direito arcaico pro direito antigo se deu por conta do surgimento
das cidades (aumento da interação social), a invenção e o domínio da escrita
(permitindo desenvolvimento do comércio, por exemplo) e o advento do comércio com a
vinda posterior da moeda. MESOPOTÂMIA, O CRESCENTE FÉRTIL: a escrita cuneiforme foi
a criada pelos mesopotâmicos e era ideográfica (imagens que passam idéias).
Encontram-se três leis escritas: as leis de Ur-Nammu, as leis de Eshnunna e a mais
importante, o código de Hammurabi que foi vigente por mil anos mesmo após a morte
de Hammurabi. A BABILÔNIA DE HAMMURABI: Hammurabi, exímio administrador, unificou a
Babilônia com a Suméria, utilizando-se de três expedientes para a unificação: a
língua (todos os registros seriam em Acádio); a religião (o Deus da Babilônia seria
o Deus maior); e o direito (criação do código e de tribunais). A estrutura social
era composta por homens livres ( mais direitos), servos do palácio (presos ao
reino) e escravos (objeto de troca). O CÓDIGO DE HAMMURABI: não é exatamente
correto chamá-lo de código, trata-se apenas de uma lei grande com 282 artigos.
Consta no código diversos dispositivos, como: o princípio da pena de talião (levar
na mesma retribuição o que lhe foi sofrido, “olho por olho, dente por dente”,
princípio da retributibilidade), além de institutos regulamentando crimes (falso
testemunho, roubo, estupro, adultério), casamento e divórcio (contrato), processo
(influencia religiosa), responsabilidade civil (reparação de danos), vícios
redibitórios (devoluções), contratos, bens de família etc. O POVO HEBREU: A
legislação MOSAICA hebraica consiste na Torá ou Pentateuco, dividido em cinco
livros (gênese, êxodo, Levítico, números e deuteronômio). Deuteronômio contém
regras de conduta do povo hebreu. A legislação EXTRA-MOSAICA (talmude), consiste na
Michná (o direito de tradição oral, uma vez que impedidos de escrever suas leis por
estarem em cativeiro, foi escrita assim que obtiveram sua liberdade) e na Guemará
(nova parcela de estudo em cima da Michná, que varia de acordo com a religião).
INSTITUTOS DO DIREITO HEBRAICO: também foram adeptos do princípio da
retributibilidade. Para os hebreus, a realização do direito era um problema humano,
e não um problema divino (direito religioso, sua realização, humana). Possuíam
também o instituto da individualização das penas, exigência de dolo para
homicídio, testemunha e falso testemunho, estupro x deploração (somente crime se
cometido com virgens casadas, a pena era de morte). O POVO HINDU: sociedade
estamental/rígida, com o intuito de não misturar dravinianos e arianos (componentes
do povo hindu). Quatro classes principais: Brâmanes (líderes espirituais), Ksatryas
(guerreiros), Varsyas (comerciantes), Sudras (agricultores). Tinham ainda Chândalas
ou Párias, frutos da miscigenação de castas diferentes, sendo marginalizados e
taxados como não participantes da sociedade. A religião era usada para justificar a
posição social. DIREITO HINDU: Dharma (norma jurídica). Existia apenas o dever.
Religião como ordem de direito, tendo suas fontes no vedismo (busca da verdade)
estudadas e reunidos em livros de estudo do povo hindu. O direito era aplicado
casta/casta, com cada casta resolvendo seus próprios problemas. O CÓDIGO DE MANU:
Manu seria uma divindade que mais próximo chegou ao conhecimento total. É um livro
escrito em poesia. Os institutos jurídicos eram a testemunha (seu valor variando
com sua casta), casamento e divórcio (monogâmico e divorcio não permitido),
adultério (crime de morte), roubo e furto, legítima defesa etc.

DIREITO DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: OS GREGOS: têm uma importância histórica evidente


ao admitir uma racionalidade ao encarar o mundo

e admitir o homem como dono dessa racionalidade, tendo o poder de controlar o


mundo. Acreditam em uma instância metafísica, em algo que é estabelecido
previamente, numa razão que coloca o homem ainda subalterno à natureza. Essa
racionalidade serve para o povo grego descobrir o que fazer do futuro, tirando a
religiosidade das leis. Deixaram poucos registros, pois acreditam na força da
palavra oral que carrega emoção. Para os gregos, o direito tinha dever de justiça,
recusando a torná-lo objeto de profissão. A POLIS grega tem origem nos povos que se
fixaram em seus territórios. São cidades-estados que tem origem e povo
diferenciado. Atena e Esparta são cidades-estado mais importantes sendo Atenas
voltada para a educação e Esparta voltada ao militarismo. → Esparta tem origem
dórica, um povo naturalmente guerreiro, que deu à cidade o caráter militar. A
constituição aprofundava a relação indivíduo/estado, com tais características:
Educação dos jovens (em certa idade a criança se volta à preparação para a guerra,
sem mais contato familiar), refeições públicas (o estado alimentava os cidadãos),
acampamentos (estado constante de preparação para a guerra). A constituição também
infundia uma cultura militar através da Xenofobia (aversão a outras culturas e
convicções), Laconismo (eram treinado a pouca manifestação para não influenciar a
visão crítica). A estrutura de governo era diárquica, isto é, possuíam dois reis já
visando a morte de um deles. Os cinco éforos eram cinco anciões de respeito que
sempre deliberavam sobre uma decisão importante. Tem-se ainda um conselho chamado
Gerúsia, composto por aqueles que seriam os mais próximos das origens de Esparta,
isto é, os patriarcas. A sociedade era de classes, tendo em seu topo os Eupátridas
(os bem nascidos), os Periecos (vivem ao redor de Esparta cultivando e fazendo
trabalhos manuais), Metecos (estrangeiros que demonstram grande valor e são aceitos
pelos Espartanos), Hilotas (prisioneiros de guerra, a classe mais baixa). As
mulheres de Esparta tinham certo valor, um estatuto jurídico relativamente
privilegiado em comparação a outras sociedades. → Atenas contrapõe-se a Esparta,
possui uma posição privilegiada, tornando-se um entreposto comercial e intercambio
cultural. De um lado tinha-se o mar e de outro uma série de montanhas, limitando o
acesso a algumas vias. A estrutura social também é de classes, formada por
Eupátridas (obtinham as melhores terras, topo da estrutura social), Georgoi e
Thetas (chegaram depois e não conseguiram terras boas), Demiurgos (vivem da
exploração comercial), escravos (utilizados como importante mão-de-obra. A
escravidão era institucionalizada em Atenas). O Governo tinha uma estrutura
denominada Arcontado, organizado em estruturas familiares. O Areópago era a
estrutura máxima de organização, decidindo entre si quem ocuparia seus devidos
cargos (ex: Arcontes). Dentre esses Arcontes existem os legisladores DRÁCON, SÓLON
e CLÍSTENES. Dracón foi característico pela severidade de suas leis, consolidando
as cidades-estado e fez a manutenção do sistema aristocrático. Sólon transformou a
renda em critério de poder político (timocracia), proibiu a escravidão por dívidas
e criou o Baulé, órgão que conduz os interesses da população numa forma de
democratizar o acesso à política pública. Clístenes foi o responsável por
consolidar a democracia ateniense e por dividir a população em Demos. Também
responsável pela reforma no Areópago, além da implantação do Ostracismo, no qual a
população votava no sujeito que menos lhe agradava, podendo acarretar em sua
expulsão. O direito em Atenas era pragmático (feito na prática), não
profissionalizado, assistemático (sem estrutura lógica). Era fundado na retórica. A
estrutura judiciária era composta por Heliaias (tribunais populares que julgavam os
casos), Areópago (julgavam os crimes de sangue), Juízes de Demos (causas de baixo
vaor e apuração de provas em casos que não serão levados ao tribunal), Árbitros
(eram privados ou públicos, resolviam os problemas). AS FORMAS DE GOVERNO: foi uma
grande contribuição dos gregos para a ciência e o Direito Público. PLATÃO – em “A
República” há a busca pela cidade ideal, formada por governantes profissionais
(filósofos), guardiões guerreiros e o povo. Em “A Política”, tratando esta como uma
subdivisão da ética. Os cidadão devem se induzir de formas ideais, aborda a
monarquia, oligarquia e a democracia. Em “As Leis”, em uma discussão entre
democracia e monarquia, acaba por demonstrar predileção por um sistema misto.
ARISTÓTELES – Na “Constituição”, faz o estudo sobre formas de governo de mais de
cem cidades gregas e bárbaras. Na “Política”, aborda três formas de governo, a
monarquia, a democracia e a aristocracia. Defende a divisão de poderes na execução
do governo.

OS ROMANOS:

Roma possuía um centro de vida urbano, uma economia agrícola (sociedade


escravagista) e uma sociedade de classes. No topo estavam os Patrícios
(descendentes diretos dos povos que deram origem a Roma), seguido pelos Clientes
(juravam fidelidade às famílias Patrícias em troca de defesa), depois vinham os
Plebeus (classe mais baixa) e os escravos (coisas). A história jurídica de Roma é
dividida em três períodos: Período Arcaico, Período Clássico e o Período Pós-
clássico.

PERÍODO ARCAICO
Os Reis e as famílias (realeza): estrutura interna em torno do pater família, o
direito desenvolvido é privado de cada família e o Senado (deliberações públicas) é
constituído por Patrícios. República – a elevação do Senado: magistrados eram todos
aqueles que possuíam cargo político. Entre eles estão os Cônsules (principal
ocupação), os Pretores (administradores da justiça), os Censores (contagem da
população), Edis (a polícia) e os Questores (eram necessários apenas em momentos de
crise, delatavam traidores). Havia Assembléias para regulamentar cada grupo. Leis
das XII Tábuas: surgiu com as reivindicações dos Plebeus por um mínimo de direito
em Roma. Sistema das legis actiones (ações das leis): era o direito aplicado aos
cidadãos romanos (ius civile), provido de um formalismo (ritualismo não religioso)
com as ações previamente previstas em lei (aplicadas por sacerdotes)

PERÍODO CLÁSSICO
A ascensão dos Pretores: eram os administradores da justiça, tinham o poder de
mando disciplina e de dizer o direito. Surgiram os Editos (proclamação anual de
intenção). O Lex Cornelia tornou obrigatório o cumprimento dos Editos. Mais pra
frente, surge o Edito Perpétuo que eram coisas repetidas pelos Pretores sendo
incorporado nos costumes do povo Romano. Sistema das Fórmulas ou Processo Formular:
Na primeira fase desse processo, transformava-se a controvérsia em conflito
judicial em frente ao pretor, mediante elaboração de uma fórmula. Na segunda fase,
dever-se-ia julgar e responder o quesito da fórmula perante um juiz.
Flexibilização: há a possibilidade de criar soluções para casos além dos previstos
com as legis actiones. Pretores peregrinos surgem para julgar casos estrangeiros,
aplicando o ius gentium grego.

PERÍODO PÓS-CLÁSSICO
Declínio do Direito Romano: no período pós-clássico percebe-se o declínio do
direito de Roma. Cognitio extra ordinem (sistema de ordem de vontade do imperador):
há o abandono do processo formular e início de uma centralização do poder. O
Imperador passa a dizer as leis e a julgar casos concretos. Há também a ascensão
dos juriconsultos, que foram estabelecidos pelo imperador para julgar os casos e
dizer o direito com possibilidade de recursos. Preocupação em superar o saber
clássico: Há, por isso, compilações de todo o conhecimento já produzido em Roma. O
Corpus Iuris Civiles de Justiniano reuniu todo o conhecimento jurídico de Roma,
sendo dividido em Códex (leis imperiais), Digesto (lições dos juriconsultos),
Instituições (manual de estudo do direito), e Novelas (novas leis produzidas por
Justiniano).

IDADE MÉDIA – DIREITO MEDIEVAL

A idade média foi um prelúdio aos tempos modernos. Embora seu início tenha sido
obscuro, a ruptura que ela gerou deu início a inspirações para o direito.
Dividindo-se em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, têmse três importantes
personagens: Os germânicos (bárbaros), os Romanos (sobreviventes aos bárbaros) e
Igreja (que sofre um golpe à queda do Império Romano, mas se reestabiliza na BIM)
ALTA IDADE MÉDIA: Há a queda do império Romano do Ocidente devido a problemas
gerenciais associados às invasões bárbaras e talvez a incorporação da Igreja
católica como religião oficial. As invasões bárbaras eram uma característica da
Idade Média, os bárbaros gerenciam os territórios Fo Império, sendo um povo
inclusive sem escrita. O regresso demográfico, proveniente de guerras, doenças,
saques etc. também foi característico dessa época. O regresso cultural também
ocorreu, uma vez que passa-se a se preocupar com alimentação, sobrevivência, não
sobrando tempo pra dedicar-se à arte, arquitetura etc. Há ainda o regresso
material, já que os bárbaros não conheciam irrigação, técnica de plantio,
construção de estradas etc. O regresso religioso também acontece com a adoção do
catolicismo e o fracasso deste, surgindo o paganismo e o arianismo. Marcado pelo
direito germânico ou bárbaro (Vândalos, Ostrogodos, Visigodos, Francos) povos de
costumes parcos e desenvolvimento precário, reconheciam a superioridade da cultura
romana. O grande problema da época era como conciliar os costumes bárbaros e os
romanos, algo que foi decidido posteriormente que cada povo continuaria proferindo
sua cultura, direito dos romanos para os romanos, direito dos bárbaros para os
bárbaros. A Líber iudiciorium visigótica em 654 foi uma tentativa de unificação lãs
leis bárbaras e romanas. BAIXA IDADE MÉDIA: Houve o Feudalismo, um novo modelo de
organização social característico pela dispersão do poder, marcado pela
sobrevivência e necessidade como embasamento do modelo. Nesse contexto, surgem os
contratos feudo-vassálicos, que consistiam num juramento de fidelidade entre
suseranos e vassalos (ambos nobres), com um intuito de proteção e sustento por
parte do senhor feudal e conselho e ajuda militar e material por parte do vassalo.
Isso acontecia através de um rito de formalidade,
onde se firmava um vínculo sagrado e perpétuo. O Direito Feudal regulamentava o uso
e propriedade do feudo. As relações feudais e a justiça tinham sua representação na
sujeição ao senhor feudal e as decisões do Conselho de Vassalos. O Direito canônico
assume o lugar do direito privado, uma vez que o direito feudal não se preocupava
com relações além de nobre-nobre. É um direito religioso, tendo fontes no direito
divino. OS GRANDES SISTEMAS DE DIREITO:

DIREITO MUÇULMANO

O mundo mulçumano (1/5 da população mundial) acredita no islamismo, sendo o fator


religioso a causa de diferenciação dos outros povos. O direito mulçumano, portanto,
não poderia deixar de ser baseado na religião, com caráter personalista, isto é, se
aplica ao fiel, não importando em que lugar ele esteja. Tem como fonte do Direito o
Corão (que era insuficiente pra regulamentar todas as condutas sociais), buscando
complemento na Suna (conta a vida de Maomé, servindo de pauta para os muçulmanos).
Outra importante fonte do direito mulçumano é a Idjma, uma compilação de opiniões
dos doutores e jurisconsultos do islã. HADITH eram frases da Suna, funcionavam como
dogmas e tinham caráter de lei. Exemplo: o dogma da infalibilidade que dizia “A
minha comunidade nunca se conciliará com um erro”; outra “O que os muçulmanos
consideram justo é justo pra Deus”. A interpretação dos textos sagrados tornou-se
proibida para que não houvesse dispersão da fé mulçumana. Qiyãs eram interpretações
por analogia com outros casos semelhantes (não era aceitado por parte dos
mulçumanos pois estes acreditavam que as respostas estavam implícitas no Corão). A
aplicação do direito mulçumano nos estados modernos se dá através do estatuto
pessoal (famílias, sucessores, pessoas como ramo mais sagrado), a adoção do direito
mulçumano como modelo social por alguns estados ou ainda como lei por outros,
flexibilização em outros ramos (como comércio, tributos etc.), existência de
tribunais para julgar questões de fé e tribunais para julgar questões do estado
(desapareceu posteriormente).

DIREITO INGLÊS

Mesmo estando sob o domínio de Roma, a Grã-Bretanha não estava sob as leis romanas,
mas sim do próprio povo que habitava a região. Os germânicos, por serem povos
bárbaros para os romanos, produzem leis em inglês, não em latim como era costume. O
feudalismo inglês era conservador e com uma descentralização administrativa (eram
delegados xerifes para administrar), havendo a fácil identificação do rei. Henrique
II unifica as leis do antecessor Guilherme e cria os tribunais reais vinculados à
figura do rei. O STATUTE LAW era como uma constituição inglesa baseada em
documentos históricos. Um desses documentos é a Magna Charta Libertatum de 1215 que
limitava os poderes do rei e reconhecia direitos aos nobres e à igreja. É
considerada o embrião da democracia moderna. A partir dela criou-se o Conselho de
Nobres que, posteriormente, transformou-se no Parlamento Inglês. O “due process of
Law” designava um nobre no julgamento de um nobre (iguais julgando iguais). Outro
documento do STATUTE LAW foi o Petition of Rights que relembrava ao rei a
importância do Parlamento. O terceiro documento é o Habeas Corpus que surgiu num
contexto de prisões arbitrárias por conta da opressão do rei ao parlamento. O
quarto documento é o Bill of Rights que marcou o golpe final do parlamento para a
afirmação do parlamentarismo na Inglaterra com separação de poderes e direitos e
serventias individuais. A aplicação do direito Inglês poderia ser por meio do: →
Common Law – origem dos tribunais de justiça com representantes dos reis, julgando
com base nos costumes. → Equity – origem dos tribunais de Chancelarias com
estudiosos do direito julgando casos de jurisdição especial. São complementares ao
Common Law. Hoje em dia há uma tendência de aproximação entre ambos os tribunais no
intuito de formar uma lei única.

DIREITO ROMANO é a base do direito brasileiro. Há a superação do feudalismo para a


construção
do direito romano por meio de um resgate da cultura romana. O CORPUS JÚRIS CIVILIS
tem seu estudo retomado, surgindo as UNIVERSIDADES para atender a necessidade de
assistir a população. É por meio do estudo do Corpus Júris Civiles nas
Universidades que surgem três grandes grupos de estudiosos: os GLOSADORES
acreditavam no direito romano como uma “razão escrita”, voltados para o estudo
erudito, isto é, sem finalidade prática, tendo como primeiro esforço a tradução.
Sistematizaram o direito romano com explicações, esclarecimentos e referências
cruzadas (brocardia, quaestiones, distinctiones); os PÓS-GLOSADORES buscaram
soluções para problemas práticos, usando lacunas do direito próprio para introduzir
o direito romano. Houve a formulação de um direito comum aplicável com base em
princípios. Utilizavam-se do método de estudo escolástico (quaesto, propositio,
opposito, soluto). Tanto para os Glosadores quanto para os Pós-Glosadores, o Corpus
Júris Civilis era perfeito e sonhavam em ver o direito romano aplicado na
sociedade. Não queriam adaptar o direito à sociedade e sim o contrário; os
HUMANISTAS não entendiam o direito romano como perfeito, mas sim os homens. Há uma
revaloração histórica destacando as questões humanas e estudando o direito como
mera fonte histórica.

DIREITO MODERNO A idade Moderna implica em Estados Nacionais (influenciados por uma
base
divina, gerando absolutismo, intolerância religiosa e pouca liberdade de comércio,
uma vez que era necessária a aprovação do rei). A pouca liberdade de comercio
começa a incomodar os burgueses, que para limitar o poder absoluto do Rei, busca
corroboração no Direito Natural (baseado na razão humana, acreditando que “a função
do estado não é a justiça e sim a paz social”). A partir daí, percebe-se novas
formas de governo, como o DESPOTISMO ESCLARECIDO, pregando um direito antes do rei.
Posteriormente
vem a REVOLUÇÃO BURGUESA, cuja revolução Francesa foi a mais importante. Então
surge a ideia de fazer leis que, inicialmente tem caráter jusnaturalista, mas
posteriormente adquire cunho positivista (estudando o que é válido e o que é
inválido). Há, por fim, a crise do positivismo com a crise do pensamento moderno e
da política.

HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL:

o início da história jurídica brasileira se dá antes da vinda dos portugueses, com


os índios. Os índios praticavam o direito arcaico. Sofreram uma colonização
extrativista, usando “a fé, a coroa e a lei” para legitimar e argumentar a
colonização quando na verdade era um interesse puramente econômico, corroborado
pelo PACTO COLONIAL, limitando as relações comerciais da colônia à metrópole. A
mão-de-obra utilizada era a escrava negra, mais barata pra Portugal por causa do
lucro com o tráfico negreiro. A história do direito brasileiro é marcada por
tratados internacionais como o TRATADO DE TOLEDO feito por Portugal para evitar
conflitos com o reino de Castelo, o TRATADO DE TORDESILHAS que ocupou-se da divisão
das terras descobertas, a BULA INTERCETERA, uma divisão anterior a Tordesilhas
entre Portugal e Espanha, mas sem a inclusão do Brasil. Há a privatização da
colonização do Brasil por meio das Capitanias Hereditárias, que ficavam sob o
domínio de uma família de nobres (nomeados por meio das Cartas de Doação e
autorizados a utilizar de lei diferente da de Portugal por meio das Cartas de
Foral) sem, no entanto, deixar de pertencer a Portugal. As Capitanias fracassaram.
O sistema de Capitanias funcionava da seguinte forma: havia a centralização
administrativa por meio do sistema dos governos-gerais. Houve a criação de uma
estrutura centralizada e burocrática com a criação do Governadorgeral, Procurador-
mor, Ouvidor-mor e Capitão-mor. Para garantir, montou-se uma Estrutura de Poder
Judiciário com uma 1° instância (regidos pelos juízes ordinários e juízes de Fora),
uma 2° instância (com Tribunais de Relação que recebe casos com veredicto não
satisfatório) e uma 3° instância que poderia levar os casos à Portugal, se fosse de
interesse da coroa. Em 1808 o Brasil vira Reino Unido com a vinda da Família Real,
possibilitando uma estrutura econômica autônoma por meio da Carta Régia. A
declaração da independência possibilitou uma emancipação negociada e manutenção do
status quo. Houve a necessidade de legislação, obtida com a Carta Constitucional de
1824 consagrando a centralização de poder e a separação de poderes (o poder
moderador). Houve a necessidade de criação de leis brasileiras: Código criminal de
1830 (princípio da legalidade); Código de Processo criminal (criação do Habeas
Corpus e autonomia dos municípios); posterior à abdicação de D. Pedro I há o Ato
Adicional de 1834 (aumentando a autonomia dos estados federais) e o Golpe da
Maioridade (reestruturação da unidade política quando D. Pedro II assume ainda
menor). Depois vem a abolição da escravidão com uma série de etapas que juntas
consolidaram o processo: Bill Aberdun (repressão inglesa ao tráfico de escravos por
meio de interceptação); Eusébio de Queiroz (proibição do tráfico negreiro); Ventre
Livre (liberdade aos filhos dos escravos que nasciam a partir de 1871); Lei dos
sexagenários (liberdade a escravos maiores de 60 anos) e, por fim, a Lei Áurea, que
trouxe a “emancipação” dos escravos.

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