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6
julho
2008
SALVEM AS CRIANÇAS!
esta é a súplica de Lu Xun
em Diário dum Louco
SAMIZDAT 6
julho de 2008
ENTREVISTA
Fernando Bonassi 8
MICROCONTOS
Alian Moroz 11
Henry Alfred Bugalho 11
Volmar Camargo Junior 11
PANORAMA LITERÁRIO
O Medo do Livro 16
Henry Alfred Bugalho
CONTOS
Lucas, o Menino Binário 20
Carlos Alberto Barros
O Convite 24
Volmar Camargo Junior
Capítulos 1 28
Henry Alfred Bugalho
O País 33
José Espírito Santo
Caiu a Sombra 34
Pedro Faria
TRADUÇÃO
Diário dum Louco 40
Lu Xun
Hu Shi, o intelectual da
reforma literária chinesa 50
Não se esqueça 53
Hu Shi
Sonho e Poesia 54
Hu Shi
AUTOR CONVIDADO
A Única Paz Possível é a Jacimeire 56
Leo Borges
TEORIA LITERÁRIA
Por que escrevo? 60
Henry Alfred Bugalho
Três Versos 62
Volmar Camargo Junior
CRÔNICAS
Brasileiros no Exterior:
Patuscada no Carnegie Hall 66
Henry Alfred Bugalho
POESIA
Teatro de Máscaras 70
Carlos Alberto Barros
Utopia 71
Frederico Galhardo
Poesia Concreta 73
Volmar Camargo Junior
Poetrix 74
José Espírito Santo
Dois Momentos 75
Marcia Szajnbok
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
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revistasamizdat@hotmail.com
Por que Samizdat?
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Entrevista
FERNANDO BONASSI
adaptado de 2003); Garotas do estreou no dia 04 de abril de
ABC (de Carlos Reichenbach), 1998.
Cazuza (de Sandra Werneck- Nesse mesmo ano,
Prêmio TAM do Cinema Bra- foi vencedor da bolsa do
sileiro para o melhor roteiro Kunstlerprogramm do DAAD
adaptado de 2004). - Deutscher Akademischer
Em 2006 é co-autor, com o Austauschdienst. Desde 1997 é
cineasta chinês Yu Lik Way, do colunista do jornal Folha de São
roteiro da co-produção Brasil/ Paulo.
China Plastic City.
No teatro, destacam-se as
montagens de Preso Entre Há pouco tempo nós
Fernando Bonassi nas-
Ferragens (dirigida por Eliana tivemos a adaptação do
ceu em São Paulo, em 1962.
É roteirista de cinema e TV, Fonseca); Apocalipse 1,11 (em impressionante livro
dramaturgo, cineasta e escritor colaboração com o Teatro da 'Ensaio sobre a cegueira',
de diversas obras, entre elas Um Vertigem); “Três Cigarros e a do José Saramago, em
Céu de Estrelas (Ed Siciliano) Última Lasanha” (com Rena- uma produção que cau-
Subúrbio; Crimes Conjugais e to Borghi e direção de Débora sou alguma polêmica.
100 Histórias Colhidas na Rua Dubois); Souvenirs (dirigida por Há uma cena impactan-
(Scritta); O Amor é Uma Dor Márcio Aurélio); “Arena Conta
te (a do estupro coleti-
Feliz (Moderna); Uma Carta Danton” com a Cia Livre de
vo) que foi efetivamente
Para Deus e Vida da Gente Teatro; a encenação do fragmen-
to “Estilhaços de São Paulo”,
filmada pelo Meirelles
(Formato) O Céu e o Fundo do e exibida de maneira
Mar (Geração Editorial); 100 no espetáculo “Megalopolis” do
Theater der Klaenge (Sttutgart, experimental. A cena foi
Coisas (Angra) ); Declaração vetada porque a reação
Universal do Moleque Invocado Alemanha) e “Centro Nervoso”,
quando estreou na direção, em foi muito adversa. Nesse
(Cosac & Naify) e São Paulo/
agosto de 2006. sentido, há algum tre-
Brasil (Ed. Dimensão), ambos
finalistas do Prêmio Jabuti nos Em 2007 volta ao texto e cho do livro “Estação
seus anos de lançamento. a direção com o monólogo O Carandiru”, de Dráusio
Incrível Menino na Fotografia, Varela, que você consi-
Em 2003 é publicada a
interpretado pelo ator Eucir de derou melhor não ex-
novela Prova Contrária e em
Souza. por na adaptação para
2005 o romance O Menino que
se Trancou na Geladeira, ambos Tem diversos prêmios como o cinema? E o que você
pela Editora Objetiva. roteirista no Brasil e no exterior, achou do resultado final
além de obras literárias adapta- do filme?
É co-roteirista de filmes
como Os Matadores (de Beto das para o cinema e textos em
Brant); Através da Janela (de antologias na França, Estados
Unidos e Alemanha. Fernando Bonassi:
Tata Amaral); Castelo Ra Tim Não, nenhuma cena de
Bum (de Cao Hamburguer); O romance Subúrbio teve
Carandiru foi censurada
Carandiru (de Hector B abenco os direitos comprados pelo
de qualquer modo pelos
– Prêmio TAM do Cinema Deutsches Schauspielhaus de
Hamburgo. A adaptação teatral roteiristas e responsáveis
Brasileiro para o melhor roteiro
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presa, senão não vale. Se falar de tudo com uma
a crítica fosse importante, criança, já os adultos vi-
haveria só ensaio, não vem se ofendendo... é um
literatura. saco.
Idéias
Alian Moroz
A Beca do Morto
Henry Alfred Bugalho
http://www.flickr.com/photos/woylee/1137932049/sizes/o/
- Ele era um anjo!
- Era um amor de criatura!
- Um santo... nunca fez mal a viv'alma.
- Ele era um desgraçado filho duma puta, isso sim!
Em vida, ele emprestava minhas coisas e nunca de-
volvia. Inclusive, aquele terno que ele está usando é
meu!
Cenário
http://www.flickr.com/photos/premshree/2588299341/sizes/l/
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Autor em Língua Portuguesa
POLÍTIPO
Aluísio Azevedo
http://healthisaright.files.wordpress.com/2008/03/1024magritte-sonofman.jpg
Suicidou-se anteontem o Não conheci ainda cria-
tura de melhor coração, nem
meu triste amigo Boaventura
de pior estrela. Possuía o
da Costa.
desgraçado os mais formosos
Pobre Boaventura! Jamais dotes morais de que é sus-
o caiporismo encontrou ceptível um animal da nossa
asilo tão cômodo para as espécie, escondidos, porém,
suas traiçoeiras manobras na mais ingrata e compro-
como naquele corpinho dele, metedora figura que até hoje
arqueado e seco, cuja exigüi- viram meus olhos por entre
dade física, em contraste com a intérmina cadeia dos tipos
a rara grandeza de sua alma, ridículos.
muita vez me levou a p ensar
O livro era excelente, mas
seriamente na injustiça dos
a encadernação detestável.
céus e na desequilibrada
desigualdade das cousas cá Imagine-se um homenzi-
da terra. nho de cinco pés de altura
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Tomara-o pela pobre, a camisa, era só a ele que se - Mas não me engano! é o
quem na véspera havia des- dirigiam as pessoas chegadas meu caixeiro!
pedido de casa. depois. Nas muitas vezes que - Dir-se-ia que este moço
Não se dava conflito de foi preso como suposto autor era um meu antigo compa-
rua, em que, passando perto de vários crimes, a autorida- nheiro de bilhar!...
o Boaventura, não o tomas- de afiançava sempre que ele
tinha diversos retratos na - E eu aposto como é um
sem imediatamente por velho, que tinha um bote-
um dos desordeiros. Era ele polícia. Verdade era que as
fotografias não se pareciam quim por debaixo da casa
sempre o mais sobressal- onde eu moro!
tado, o mais lívido, o mais entre si, mas todas se pare-
suspeito dos circunstantes. ciam com Boaventura. - Qual velho, o que! Co-
Não conseguia atravessar um Num clube familiar, quan- nheço este defunto. Era estu-
quarteirão, sem que fosse a do o infeliz já no corredor, dante de medicina! Uma vez
cada passo interrompido por reclamava do porteiro o seu até tomamos banho juntos,
várias pessoas desconhecidas, chapéu para retirar-se, uma no boqueirão. Lembro-me
que lhe davam joviais palma- senhora de nervos fortes dele perfeitamente!
das no ombro e na barriga, chegou-se por detrás dele na - Estudante! Ora muito
acompanhando-as de alegres ponta dos pés e ferrou-lhe obrigado! há mais de dois
e risonhas frases de velha e um beliscão. anos chamei-o fora de horas
íntima amizade. - Pensas que não vi o para ir ver minha mulher
Em outros casos era um teu escândalo com a viúva que tinia de cólicas! Era mé-
credor que o perseguia, Sarmento, grandíssimo velha- dico velho!
convencido de que o devedor co?! - Impossível! Afianço que
queria escapar-lhe, fingindo O mísero voltara-se inal- este era um pequeno que
não ser o próprio; ou uma teravelmente, sem a menor vendia jornais. Ia levar-me to-
mulher que o descompunha surpresa. Ah! ele já estava dos os dias a “Gazeta” à casa.
em público; ou um agente mais habituado àqueles en- É que a morte alterou--lhe as
policial que lhe rondava os ganos. feições.
passos; ou um soldado que
Que vida! - Meu pai!
lhe cortava o caminho su-
pondo ver nele um colega Afinal, e nem podia deixar - O Bernardino!
desertor. de ser assim, atirou-se ao - Olha! Meu padrinho!
E tudo isto ia o infeliz mar.
- Jesus! Este é meu tio José!
suportando, sem nunca aliás No necrotério, onde fui
- Coitado do padre Rocha!
ter em sua vida cometido a por acaso, encontrei já muita
menor culpa. gente; e todos aflitos, e todos Pobre Boaventura! Só eu
agoniados defronte daquele compreendi, adivinhei, que
Uma existência impossível!
cadáver que se parecia com aquele cadáver não podia
Se se achava numa repar- um parente ou com um ami- ser senão o teu, ó triste
tição pública, tomavam-no, go de cada um deles. Boaventura da Costa!
infalivelmente, pelo contínuo;
Havia choro a valer e, E isso mesmo porque me
nas igrejas passava sempre
entre o clamor geral, dis- pareceu reconhecer naque-
pelo sacristão, nos cafés, se
tinguiam-se estas e outras le defunto todo o mundo,
acontecia levantar-se da mesa
frases: menos tu, meu desgraçado
sem chapéu, bradava-lhe logo
amigo.
um consumidor, segurando- - Meu filho morto! Meu
lhe o braço: filho morto!
- Garção! Há meia hora - Valha-me Deus! Estou Fonte: Biblioteca Virtual -
que reclamo que me sirva. viúva! Ai o meu rico homem! Literatura
Se ia provar um paletó - Ó senhores! Ia jurar que
à loja do alfaiate, enquan- este cadáver é o do Manduca!
to estivesse em mangas de
ALUÍSIO AZEVEDO
1881, publica "O Mulato", inaugurar o estilo naturalis-
onde choca a sociedade pela ta no Brasil com o romance
forma crua do romance, O mulato (1881). É também
desnudando a questão racial autor dos romances Casa de
- tendo ele já se filiado aos pensão (1884) e O cortiço
abolicionistas. (1890), entre outros.
O sucesso desta obra habi- A influência de Aluísio
lita-o a voltar para a Capital de Azevedo são os escritores
do Império, onde escreve naturalistas europeus, dentre
sem parar novos romances, eles, o mais importante foi
contos, crônicas e até peças Émile Zola. Através dessa
teatrais. óptica naturalista, capta a
Sua obra é vista como ir- mediocridade da rotina, os
regular por diversos críticos, sestros e mesmo as taras do
uma vez que oscilava entre indivíduo, uma opção con-
obras românticas açucaradas, trária dos românticos que o
com cunho comercial e di- precederam.
Biografia recionado ao grande público; As características fun-
e outras mais elaboradas e damentais do naturalismo,
Aluísio Tancredo
onde deixava sua marca de quais sejam influência do
onçalves de Azevedo
G
grande escritor naturalista. meio social e da hereditarie-
(São Luís do Maranhão, 14
Feito diplomata, em 1895, dade na formação dos indi-
de abril de 1857 — Buenos
chega finalmente em [1910] víduos, além do fatalismo,
Aires, 21 de janeiro de 1913)
em [Buenos Aires], cidade estão presentes nas obras de
foi um escritor, diplomata,
onde veio a falecer, menos de Aluísio de forma veemente.
caricaturista e jornalista
três anos depois. Nele "a natureza humana afi-
brasileiro.
Foi homenageado com o gura-se-lhe uma serta selva-
Era filho do português
nome de uma importante geria onde os fortes comem
David Gonçalves de Azevedo
rua no bairro de Santana, da os fracos", afirma o estudioso
e de Emília Amália Pinto de
cidade de São Paulo. Alfredo Bosi.
Magalhães. Seu pai era viúvo
Foi o responsável por
e a mãe , separada do marido
algo que configurava grande
escândalo na sociedade da
época. Irmão do dramaturgo
e jornalista Artur Azevedo.
Aluísio desde muito novo
dedicou-se ao desenho (ca-
http://www.geocities.com/vsportelli/cortico.jpg
ricatura), e ao trabalho. Em
1876 viaja ao Rio de Janeiro,
a fim de estudar Belas Artes,
obtendo desde então susten-
to com seus desenhos para
jornais.
Com o falecimento do
pai (1879), volta para o
Maranhão, onde começa
finalmente a escrever.E em
www.samizdat-pt.blogspot.com 15
http://www.flickr.com/photos/melanieburger/1451941259/sizes/o/
16
16
O
MEDO
DO
L
“...o brasileiro foi
LIVRO
ensinado a temer o
livro e este fenômeno
está enraizado
num triste contexto
histórico-social.”
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mesmo ano que o primeiro minado, para toda a família, a ler Guimarães Rosa ou
canal de TV foi inaugurado ou comprar alguns volumes Euclides da Cunha é criar
no país. finitos (o ponto final é o fim) uma aversão ainda maior
de prazer solitário? ao livro do que a que eles já
Dez anos depois, o anal-
traziam desde casa. Um lar
fabetismo havia caído 10%, Uma população (semi-)
sem livros é uma casa sem
enquanto o número de tele- analfabeta, um mercado lite-
leitores, mas uma escola que
visores havia rário que for-
seleciona os livros errados
aumentado “A Literatura nunca foi ça aos leito- está criando verdadeiros ini-
200 mil vezes.
vista como uma forma res um preço migos da Literatura. Eu bem
surreal, e o
Hoje, a de entretenimento tão mito criado sei quantos anos se passaram
televisão está até eu me reconciliar com
ou mais agradável ao redor do
“Sagarana”.
presente em
88% dos lares do que as outras — livro sepulta-
ram — talvez Parece ser este o grande
brasileiros, TV, cinema, música,
para sempre tabu da Literatura no Brasil
sendo que 98% internet.”
— um rela- — ser popular, ser entreteni-
dos brasilei-
cionamento mento, ser agradável. Qual-
ros assiste a
íntimo entre o brasileiro e o quer autor que porventura
TV pelo menos uma vez por
livro. caia nas graças do público,
semana; por outro lado, os
deste pobre público que mal
índices de alfabetização estão A Literatura nunca foi
consegue comprar dois livros
na casa de 88%, incluindo vista como uma forma de
ao ano, é o alvo da execra-
os analfabetos funcionais entretenimento tão ou mais
ção crítica e moral. Vender e
— capazes de níveis básicos agradável do que as outras
divertir é um convite a uma
de escrita, mas sem grandes — TV, cinema, música, inter-
temporada no inferno literá-
habilidades interpretativas. net. Ao livro é resguardado
rio. No Brasil, o bom autor
o rótulo de “repositório de
Enquanto a França, a In- que se preza abomina cifras,
saber”, o que, nas entrelinhas,
glaterra e os Estados Unidos enredos lineares, personagens
significa: “que chatice!”
haviam criado um gigantesco planas (e, por isto, facilmente
público leitores, acoplado a O modo como as esco- assimiladas pelo “populacho”)
programas educacionais de las apresentam a Literatura e, o mais surpreendente,
qualidade, durante os séculos também não é dos mais parágrafos. O bom autor
XIX e XX, a leitura no Bra- agradáveis. Apesar de todos brasileiro vomita tudo, sem
sil sempre foi precária, até seus méritos literários, for- interrupção, por 500 páginas.
o momento em que teve de çar alunos de 14 ou 15 anos E se o leitor não entender, o
dividir espaço com a desleal
concorrência da TV.
Um meio de entreteni-
mento instantâneo, atraente
e novo disputou — e venceu http://www.flickr.com/photos/memorymotel/375042645/sizes/l/
— o obsoleto e intrincado
universo dos livros. Um
indivíduo com sérias limita-
ções financeiras não deveria
ter dúvida sobre como gastar
seu miserável salário: 200
reais numa TV, ou o mesmo
valor para uma estante com
alguns poucos livros? Adqui-
rir um aparelho que pro-
porciona diversão 24 horas
ao dia, por tempo indeter-
De olho na Educação
http://www.deolhonaeducacao.org.br/Comunicacao.aspx?action=5&mID=832
Desemprego Zero
http://www.desempregozero.org.br/artigos/um_estudo_sobre_a_populacao_brasileira_no_secu-
lo_xx_fonte_ibge.php
Domínio Cultural
http://www.dominiocultural.com/ver_coluna.php?id=6207&PHPSESSID=8b602f1930d00d246d
d2b14aca7c560c
Farol Comunitário
http://farolcomunitario.blogspot.com/2008/05/imprensa-oficial-publica-pesquisa.html
Portal Brasil
http://www.portalbrasil.net/brasil_economia.htm
Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/MOBRAL
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Contos
http://www.msgraphix.com/Wallpaper/Binary/Binary1024x768.jpg
Carlos Alberto Barros Haverá um tempo em que Binário.
os seres humanos quererão O parto de Lucas terá
carloseducador@hotmail.com extravasar seus sentidos, grandes complicações. Seu
seus sentimentos, seu amor, corpo se enroscará no cor-
seu sexo. Uma mulher triste dão umbilical e dificultará
se isolará em sua casa, se sua saída. Os médicos suarão
sentirá solitária, amargurada, por horas, até conseguirem
manterá relações virtuais retirá-lo por completo. Só aí,
para suprir suas carências, perceberão que a dificulda-
quererá satisfazer seus instin- de se deu por conta de uma
tos e passará a copular com das mãos do bebê. E dirão
máquinas. Nessas cópulas mãos por não saberem como
biocibernéticas, será fecun- chamar as formas incomuns
dada e gerará uma criança à apresentadas nas extremida-
qual dará o nome de Lucas des dos braços. Espantados,
e que, posteriormente, será verão, ligado ao pulso direito
conhecida como o Menino do recém-nascido, o número
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terminará o namoro, dizendo primeira vez e o Menino
que não dá mais. Binário se manifestará. Terá
A juventude de Lucas se o motivo de sua presença
seguirá solitária. Chegará o questionado e, então, mos-
ponto de pensar em suicídio. trará seus números a todos.
Irá até uma estação de trens A assembléia, em uníssono,
e aguardará. No momento exclamará o quanto Lucas
certo, descerá na via, colocará é perfeito e ele, de tão feliz,
os pulsos sobre o trilho e es- erguerá bem alto seu número
perará para ter seus números 1, assim como na briga da
decepados. Ouvirá um forte escola. Também ouvirá uma
som de freios, verá os segu- longa salva de palmas e verá
ranças da estação chegarem, o sorriso de satisfação de
será preso. Sua mãe será in- Silvia, sentada ao seu lado.
formada do ocorrido e cairá Os anos irão avançar e os
em lágrimas, discutirá com o Virtualis aumentarão. Mui-
Menino, dirá que não precisa tas pessoas dirão que são
disso e que o ama. Ele a con- aberrações; outras, que são
denará, dirá que a odeia por seres humanos como todos.
colocá-lo no mundo e fugirá Haverá guerras, mortes. Lucas
para longe. se tornará homem, entenderá
O Menino Binário vagará a injustiça sofrida por seus
até encontrar uma jovem. semelhantes, se juntará a gru-
Perguntará seu nome e ela pos revolucionários e lutará
dirá que é Silvia, mas que por seus direitos.
pode chamá-la de Telemoça. A nova vida trará grandes
Será questionada do porquê, amigos: Daniel, o Dedos-de-
e mostrará que no lugar de antena; Funes, o Memorioso;
sua barriga há uma tela de Glória, a Mulher-remota.
TV que mostra as imagens Numa bela noite, Lucas irá
que ela desejar. Ele achará in- beber com eles e a Telemoça.
teressante, dirá que se chama Ficará alcoolizado e brigará
Lucas, mais conhecido como com um zombador de seus
Menino Binário, e explicará o números. Anunciará sua
motivo de seu nome. Os dois vitória erguendo o braço
se tornarão amigos e ela lhe direito e, olhando para Silvia,
revelará que, além deles, há erguerá também o esquerdo,
muitos outros. Dirá que são juntará os dois e dirá para
conhecidos como Virtualis e todos ouvirem que ela é uma
que o levará para conhecê- mulher nota 10, que sempre
los. a amará e que lhe propõe
Lucas e Silvia chegarão a casamento. Ela ficará feliz e
um local onde haverá um irá beijá-lo. Lucas a olhará
grande grupo de pessoas. À com expressão de volúpia e
frente de todos, terá um ho- introduzirá o número 1 no
mem discursando através de 0. A Telemoça sentirá vergo-
um auto-falante que possui nha, sorrirá e dirá que ele é
no lugar da boca. Ouvirão um pervertido. E os amigos
o inflamado discurso, que darão longas gargalhadas de
falará da luta pelos direitos aprovação.
dos Virtualis. O homem per- Lucas abandonará o nome
guntará quem está ali pela de menino e começará a ser
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Contos
O CONVITE
http://www.reuther.wayne.edu/faces/evicted.jpg
Volmar Camargo Junior Era o ano de 1930 e eu rem a entrada, e terminada a
v.camargo.junior@gmail.com estava de férias. A conversa balbúrdia, as pessoas vol-
dos adultos à noite rendeu- tavam para suas casas com
me um passeio pela manhã. montinhos maiores ou me-
Meu conhecimento sobre nores. O que mamãe enfiou
bancos era que de tempos na bolsa logo após dizer “Boa
em tempos minha mãe ia até Tarde” não era grande. Foi
o mais próximo de casa e lá a primeira vez que vi tanto
deixava algum dinheiro. Uma dinheiro junto.
quantidade enorme de pes-
soas aglomerava-se à porta
da agência aonde íamos, cuja A fábrica onde meu pai
porta encontrava-se fechada. trabalhava fazia trilhos para
Em muitas esquinas do cen- trens, ou peças para trens, ou
tro da cidade havia grupos as duas coisas. Encontramo-
assim, ensandecidos. No final nos com ele a poucos metros
da tarde, depois de permiti- de casa. Estava chorando, em
http://www.lordprice.co.uk/Merchant2/graphics/00000001/WOFI1007,-Wall-Street-Crash.jpg
nós. Ao ouvir o nome, era de pioraram.
alguém que há muito tempo
origem alemã, senti as solas
não via.
dos meus pés formigarem,
um frio percorrer minha
A casa ficou quieta, mas espinha, e os cabelos atrás da
não silenciosa, porque a nuca eriçarem como os de
quietude é diferente do um gato. Eu a odiei, mesmo
silêncio. O outono chegava sem nunca tê-la visto. Ale-
e o vento corria sobre os guei cansaço e fui para meu
telhados fazendo os beirais quarto. Não vi as visitas irem
assoviarem. A porta da fren- embora. Meu irmão saiu
te abriu-se, esparramando logo depois, em seu próprio
o cisco que eu acabara de carro – ou era do exército,
juntar. Não vi ninguém. Cor- nem sei. Chorei até pegar no
ri até a entrada e, fazendo sono.
uma mesura, disse ao recém-
chegado invisível “Queira
Acordei no meio da noite.
entrar, por favor. Sinta-se em
Mãe e pai dormiam. Silên-
sua própria casa.” Ri sozinha,
www.samizdat-pt.blogspot.com 25
nhão. Papai vendeu-a para de capa de couro marrom,
um judeu. Colocamos tudo enfiei-a debaixo do braço
na carroceria. O que levamos e tomei a direção da saída.
resumiu-se às roupas e ao Havia alguém no quarto.
que tinha algum valor senti-
mental. O resto, louça, cris-
Não consegui gritar.
http://66.230.220.70/images/post/nycbw/130.jpg
de um salgueiro ressecado.
Ela fez um lento movimento
com a mão, espalmando-a
para mim.
Curvou-se, imitando a
mesura que eu havia feito à
porta
“Meu nome é Miséria.”
E sumiu. Decididamente,
não se foi. Simplesmente
sumiu. Nunca mais a vi, mas
percebia sua presença, cada
vez mais intensa; seu cheiro
de mofo e seus cabelos secos
tocavam-me todos os dias.
Viajou conosco. Ficou conos-
co. Viveu com minha família
por anos. Ao mesmo tempo,
passou a viver em outras
casas. Em todas as casas. Não
bateu mais nas portas, nem
esperou que uma criança
gentil a convidasse. Parece-
me que faltou aos homens
coragem de pedir-lhe “Senho-
ra, tenha a bondade de se
retirar”.
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Contos
http://www.flickr.com/photos/aromma/189378446/sizes/l/
Capítulos 1
Henry Alfred Bugalho Elijah Abramanoviecz, ser a melhor opção: relatar
cumulado de anos, decidiu como ele, Elijah, cabalista de
henrybugalho@gmail.com
contar sua história, desde Nova York, tomou a reso-
criança em Varsóvia, pelo lução de abrir o livro de
gueto e humilhação do Rei- sua vida para os outros. De
ch, até a fuga para a Améri- todo o esforço davídico por
ca e os filhos que lá teve. conquistar o universo das
Sentou-se para escrever palavras e expor, com toda
seu livro, começando pelo a sinceridade de seu ser, as
começo e traçando toda a lições que aprendera da vida.
genealogia que conhecia No entanto, este princípio,
de sua família. Como rabi que prenunciava um longo
Solomon Abramanón, seu flashback no qual sua histó-
mais antigo antepassado, foi ria se desenrolaria, também
perseguido em Madri no não o agradou.
século XVI pelo Santo Ofício Rascunhou um novo
e como, muitos séculos mais capítulo, desde o momento
tarde, seu pai, Isaac Abra- em que ele leu pela primei-
manoviecz cuidava de sua ra vez o Sepher Yetzerah e,
barbearia e, um dia, conhece- ainda jovem, recém-saído de
ra Rebeca Steinberg, filha de seu bar Mitzva, iniciou seus
um industrial alemão, com a estudos dos sephirots e dos
qual se casaria posteriormen- nomes de Deus.
te e, de cujo amor, ele, Elijah,
nasceria. Um princípio tão hermé-
tico e abstruso, detalhando
Mas aquele longo capítu- anos de aprendizado caba-
lo, não o satisfez. Mais uma lístico, mais se assemelhava
catalogação de memórias a um dos milhares de livros
pretéritas do que um livro sobre ocultismo do que o
autobiográfico, o ritmo mo- que Elijah realmente preten-
roso e a abundância de deta- dia.
lhes enfadariam os supostos
leitores. Tentou novos começos, e a
cada tentativa novos obstácu-
Contar pelo fim pareceu los e objeções surgiam. Nem
http://www.zeropoint.ca/Kalchemist.jpg
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Contos
www.samizdat-pt.blogspot.com 31
o local apressadamente. julgava saber tudo abre-se Em pânico e paralisado pelo
na expressão de espanto medo, o escuro da noite não
lhe permitia ver quase nada
III “Tu, tu… tu escreves?” mas ele sabia onde estava, ima-
Então, o captor, em vez ginava já o impulso e a queda.
Acorda a meio da noite
e a cabeça dói, pesa-lhe. O de responder, abriu o livro Novamente passos. Desta
candeeiro aceso a seu lado e começou a leitura vez, atrás de atrás de si.
é a única fonte de luz. As “Alto. Nem um movimento!”
imagens que surgem uma rugiu a voz, imperiosa.
Era fim de tarde, uma tarde
por uma, desfocadas e des- chuvosa e triste quando Nuno Ouviu então o estampido
coloridas mostram-lhe que Marques da Silva, escritor do projéctil. Num único se-
está no quarto das visitas, amador, leva o copo de uís- gundo, os passos que morrem,
amarrado à cadeira. Atrás que pela segunda vez à boca o corpo que sai de atrás de si
de si, a voz forte e grave, e pensa se não será melhor para o vazio…
dona dos passos diz desistir daquele projecto. Entre As mãos puxaram nova-
o vidro e ele e o mar, apenas a mente a cadeira para dentro. E
“Como estás, escritor? A rua deserta e as dunas. Ao lon- ele viu então surgir a cara do
cabecinha dói muito?” ge, o cinzento das ondas que Inspector Santos acompanhado
Os passos fazem-se ouvir vão e vêm sempre de forma pelos dois polícias. Que sorte!
diferente, uma inconstância Que sorte tê-los criado tam-
novamente. Está agora bem
digna de Heraclito de Éfeso bém.
à sua frente, pode ver-lhe à qual apenas a perspectiva
claramente a tatuagem. Sabe peculiar do homem conferiria
a resposta mas, para ganhar padrão.
tempo, pergunta
De repente, a ideia surge e
“Porquê? Porquê tudo senta-se e começa a escrever.
isto? Se ao menos soubes- Todo o enredo iria ser cons-
se…” truído a partir do personagem
principal, um ser astuto e for-
“Se soubesses o quê?” te, completamente desprovido
responde-lhe a voz de escrúpulos.
“Se soubesse… nunca “Já chega” Disse o outro,
teria criado essa persona- as mãos aproximando-se da
gem, nunca, NUNCA TE cadeira
TERIA ESCRITO!” O escritor fitou-o com
Obtém como resposta terror
uma gargalhada forte, bem “Que, que me vais fazer?”
sonora. Então, o outro pega O intruso colocou a cadeira
no livro e encara-o. Após junto da janela e retorquiu em
uns segundos, responde voz alta, com um sorriso cruel
“Julgas que me criaste? “Vou ler-te o fim. Não que-
Na verdade, sei tudo sobre res saber como acaba o meu
ti, sobre o que eras dois romance?”
meses atrás, quando ter- A cadeira estava agora junto
minei de escrever. A única à portada aberta, a escassos
coisa que não conhecia era trinta centímetros do vazio.
esta morada, a toca onde te Novamente os passos atrás de
escondeste. Mas esse foi um si. A voz voltou para terminar
a leitura
problema que resolvi facil-
mente…” A portada estava aberta e
ele sentia o vento frio roçar as
A boca do escritor que cordas e entrar roupa adentro.
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Contos
CAIU A SOMBRA
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contra a parede pelo detetive.
- Eu vi o que tu fez com
ela, seu doente -, murmurou
o detetive – e você foi burro
o suficiente pra deixar sua
mensagem no celular dela.
Você sabe, aquela que você
dizia que ela pagaria por ter
te traído.
- Mas eu não fiz nada! Eu
saí ontem, para beber...
- E a matou. Continue ga-
roto, tu só tá se dando mais
corda para se enforcar.
Chorando e batendo os
pés, Carlos foi levado pela
polícia, de cuecas e sem ca-
misa, até a viatura.
*
Penélope viu Carlos ser le-
vado, de sua janela do outro
lado da rua.
Estava satisfeita. Tudo
dera certo. A sombra veio e
se foi, porém a memória do
que fizera com a vadia loira
continuou em sua mente.
Fez uma anotação mental,
de devolver o celular de Má-
rio, aquele que ela usara para
enganar Carlos.
Olhando a viatura se afas-
tar, Penélope lembrou-se da
sensação de enfiar o cutelo
na cabeça de Joana, lembrou
dela emitindo um último
ruído abafado antes da vida
jorrar para fora dela. Havia http://www.flickr.com/photos/sidereal/23416721/sizes/o/
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O TEMPLO DOS
SORRISOS
Alian Moroz rente. Poderia o simpático bar
alian.moroz@hotmail.com vir a ser um templo para
O velho Inácio com seu discussões filosóficas ou
sorriso sempre amigo, por poéticas, como o velho Inácio
Tristeza tremenda invadiu
debaixo daquele bigodão lu- gostava de realizar todos os
minha mente esta semana.
sitano já grisalho, era farto. sábados à noite, mas não,
Junto com minha esposa,
fora também sucumbido
percorremos o bairro num
Saudades em meu coração, perante os apóstolos do nada
passeio diferente e saudo-
não compartilhadas por meu e sacrificado em nome da
sista. Visitar casas e bairros
fígado, visto, hoje, ser um alienação. Estou de luto esta
onde já havíamos morado,
abstêmio. semana. Inácio não merecia
transportou nossas lembran-
isso. Sorte de Deus: o velho
ças, já a tanto guardadas,
era ateu, senão, estaria agüen-
para as retinas. Olhei com surpresa que o
tando as argumentações
antigo local de encontro dos
pertinentes do sábio amigo.
Lugares de benevolente já distantes amigos e colegas
memória e românticas obras. de juventude tornara-se um
Um desses ambientes, pre- templo para arrecadação, não
ferido algures por mim, era de sorrisos, mas de moedas
o Bar do Velho Inácio. Uma para o céu. O velho Inácio
antiga construção de esquina havia morrido e o templo
onde eu, junto com velhos das risadas, do pão com boli-
camaradas, tomava minha nho, e do pastel, nem sempre
cota etílica, acompanhado frescos, havia sucumbido em
de uma boa conversa e risos sua finalidade e fora trans-
da piada mal contada; todos formado, de maneira herege,
conheciam, mas era sempre em mais uma igrejinha de
descrita de um modo dife- seita desconhecida.
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Contos
Rita puxou as cobertas
O BICHO-PAPÃO
e se encolheu na caminha
apertada.
A escuridão e a noite chu-
vosa contribuíam para que
seu pavor aumentasse ainda
mais.
Giselle Sato O som ritmado dos passos
gisellesato@superig.com.br no corredor de tábuas era
quebrado apenas pelo baque
seco do salto contra a ma-
deira.
Mentalmente contava os
tons altos e baixos, dez, nove,
oito....e então silêncio.
A porta do quarto nun-
ca era trancada. O monstro
espreitava.
Ela esperava de olhos bem
fechados, coração pulsando
forte, tremendo de frio e
medo.
Desde menina , Rita era
assombrada por terríveis
monstros. Foi embalada por
uma canção de ninar onde
um boi da cara preta engo-
lia o pranto das criancinhas
com medo de careta. Mais
tarde, corria para casa com
as ameaças do velho do saco
e do bicho papão.
Sempre havia um lobo
mau pronto a atacar se fosse
desobediente.
Os pais eram severos e
não admitiam que a menina
corresse pela casa ou sujasse
as roupas na terra.
As outras crianças brin-
cavam de pique e andavam
de bicicleta enquanto Rita,
sentada no degrau da frente
da bela casa, exibia impecá-
vel laços na bem comportada
“maria –chiquinha”, o vestido
muito bem engomado.
Rita olhava os sapatos
boneca de verniz brilhante
sem um só arranhão e com
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Tradução
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à cabeça, por saber que os III
preparativos delas estavam
completos. Não consigo dormir à
noite. Tudo exige cuidadosa
reflexão para se entender.
No entanto, eu não estava
amedrontado, mas prossegui Aquelas pessoas, dentre
em meu caminho. Adiante, elas algumas que haviam
um grupo de crianças tam- sido humilhadas pelo juiz, es-
bém falava de mim, e o olhar bofeteadas pela nobreza local,
delas eram exatamente como suas mulheres levadas por
aquele do Sr. Chao, e seus oficiais de justiça, ou seus
rostos eram duma palidez pais forçados ao suicídio por
horrível. Tentei conceber que credores, nunca pareceram
rancor tais crianças pode- tão assustadas e hostis como
riam ter contra mim para ontem.
fazê-las se comportarem des- O mais extraordinário foi
te jeito. Não consegui evitar aquela mulher, ontem, na rua,
de gritar: que dava palmadas no filho
— Digam-me! Mas, então, e dizia:
elas fugiram. — Seu diabinho! Eu gosta-
ria de comer alguns pedaços
seus para aplacar minha
Pergunto-me que rancor raiva!
o Sr. Chao pode ter contra
mim, que rancor as pessoas No entanto, ela olhava
na estrada podem ter contra para mim todo o tempo. Eu
mim. Não consigo pensar em me sobressaltei, incapaz de
nada, excetuando que, vinte me controlar; todas aquelas
anos atrás, eu espezinhei o pessoas, rostos esverdeados,
livro de balancetes de vários dentes longos, começaram
anos do Sr. Ku Chiu1, e ele a rir escarniçadamente. O
1. Ku Chiu significa “Tempos
ficou muito ofendido. Apesar velho Chen apressou-se e me
Antigos”. Lu Hsun tem em mente a
longa história de opressão feudal na de o Sr. Chao não tê-lo co- arrastou para casa.
China. nhecido, ele deve ter ouvido Arrastou-me para casa.
algum boato sobre isto e O pessoal lá de casa fingiu
decidiu vingá-lo, então ele e não me conhecer; tinham o
as pessoas na estrada estão mesmo olhar que os outros.
conspirando contra mim. Quando entrei no escritório,
Mas as crianças? Naquela eles trancaram a porta por
época, elas não haviam nem fora como se engaiolassem
nascido ainda, por que então um frango ou um pato. Este
elas estariam me olhando tão incidente me deixou ainda
estranhamente hoje, como mais perplexo.
se tivessem medo de mim,
Alguns dias antes, um dos
como se quisessem me ma-
nossos inquilinos da Vila
tar? Isto realmente me assus-
Lobato veio relatar o fracasso
ta, é tão incompreensível e
nas colheitas, e disse a meu
perturbador.
irmão mais velho que um
Eu sei. Elas devem ter notório personagem na vila
aprendido com os pais! havia sido espancado até a
morte; então algumas pes-
soas arrancaram o coração
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Eu disse: mente se muniu do pretexto agir de imediato, quase me
— Velho Chen, diga a meu de sentir meu pulso para fazem morrer de rir. Eu não
irmão que estou me sentindo ver quão gordo eu estava; ao conseguia parar de garga-
um pouco sufocado e que fazer isto, ele receberia uma lhar, estava tão surpreso. Eu
gostaria de dar uma volta no cota da minha carne. Mesmo sabia que nesta risada havia
jardim. assim, eu não estava com coragem e integridade. Tanto
medo. Mesmo que eu não o ancião quanto meu irmão
O velho Chen não disse coma homens, minha cora- empalideceram, estupefatos
nada, mas saiu, imediatamen- gem é maior do que a deles. diante de minha coragem e
te retornou e abriu o portão. Estendi meus dois punhos integridade.
Não me mexi, mas espe- para ver o que ele faria. O Mas tão somente por eu
rei para ver como eles me ancião se sentou, fechou os ser corajoso eles anseiam
tratariam, certo de que eles olhos, tateou-os por alguns ainda mais me comer, para
não me deixariam ir. Eu instantes e depois ficou quie- ganharem um pouco da mi-
tinha certeza! Meu irmão to por outros instantes; então nha coragem. O ancião saiu
mais velho entrou lentamen- ele abriu seus olhos malicio- pelo portão, mas antes que
te, conduzindo um ancião. sos e disse: estivesse longe, ele disse ao
Havia um brilho assassino — Não deixe sua imagi- meu irmão, baixinho:
nos olhos deste e, temendo nação o controlar. Descanse
que eu percebesse isto, ele — Deve ser comido logo! e
em silêncio por alguns dias e meu irmão aquiesceu. Então
abaixou a cabeça, olhando- tudo ficará bem.
me de esguelha por detrás de você também faz parte disto!
seus óculos. Esta estupenda descoberta,
Não deixe sua imaginação apesar de ter me chocado,
— Você parece estar muito não era nada mais do que
bem, hoje, meu irmão disse. o controlar! Descanse por
alguns dias! Quando eu hou- eu já esperava: o cúmplice
— Sim, respondi. ver engordado, naturalmente em devorar-me é meu irmão
eles terão mais o que comer; mais velho!
— Convidei o Sr. Ho para
vir aqui hoje, meu irmão mas que bem isto me fará, O devorador de carne
disse, para examiná-lo. ou como é que tudo “ficará humana é meu irmão mais
bem”? Todas estas pessoas velho!
— Tudo bem, eu disse. Na
querendo comer carne huma- Eu sou o irmão mais novo
verdade, eu sabia muito bem
na e, ao mesmo tempo, ten- dum devorador de carne
que este ancião era um exe-
tando sorrateiramente manter humana!
cutor disfarçado! Ele simples-
as aparências, não ousando
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mo grupo podem comer uns ficar olhando para um louco? era falso, então eu lutei, co-
aos outros. Mas se vocês mu- Então entendi parte do berto de suor. Mas eu tinha
darem seus hábitos imediata- ardil deles. Eles nunca es- de dizer:
mente, então todos terão paz. tariam dispostos a mudar — Vocês devem mudar
Apesar de isto ocorrer desde sua posição e seus planos já imediatamente, mudar de
tempos imemoriais, hoje nós estavam traçados; eles ha- todo o coração! Vocês devem
podemos fazer um esforço viam me estigmatizado como saber que, no futuro, não
especial para sermos bons e um louco. No futuro, quando haverá lugar no mundo para
dizer que isto não deve ser eu fosse comido, não apenas devoradores de homens...
feito! Tenho certeza de que não haveria problema algum,
você pode dizer isto, irmão. como as pessoas ficariam
Outro dia, quando o inquili- provavelmente gratas a eles.
no queria que você abaixasse
XI
Quando o nosso inquilino
o aluguel, você disse isto era falou dos vilões comendo um
impraticável. O sol não brilha, a porta
mau sujeito, era exatamente não está aberta, duas refei-
A princípio, ele apenas o mesmo artifício. Este é o ções ao dia.
sorriu cinicamente, então um velho truque deles.
brilho assassino surgiu em Peguei meus hashi, então
O velho Chen veio tam- pensei no meu irmão mais
seus olhos e, quando eu falei bém, em ótimo humor, mas
do segredo deles, ele empa- velho; agora sei como minha
eles não conseguiam me ca- irmã caçula morreu: foi tudo
lideceu. Do outro lado do lar, eu tinha de falar àquelas
portão, havia um grupo de por causa dele. Minha irmã
pessoas: tinha apenas cinco anos,
pessoas, incluindo o Sr. Chao
e seu cão, todos esticando — Vocês devem mudar, naquele tempo. Ainda consi-
os pescoços para espiarem. mudar de todo o coração! go me lembrar quão adorável
Eu não conseguia ver seus eu disse. Quase todos vocês e apaixonante ela era. Ma-
rostos, pois eles pareciam sabem que, no futuro, não mãe chorou e chorou, mas
estar mascarados com panos; haverá lugar no mundo para ele implorou para que ela
alguns deles eram pálidos devoradores de homens. Se não chorasse, provavelmente
e assustadores, escondendo não mudarem, vocês se co- porque ele a havia comido e
suas risadas. Eu sabia que merão uns aos outros. Ape- o choro dela o envergonhava.
eles eram um bando, todos sar de muitos terem nascido, Como se eles tivessem algum
comedores de carne humana. eles serão eliminados pelos senso de vergonha...
Mas eu também sabia que homens de verdade, assim Minha irmã havia sido
nem todos pensavam de ma- como os lobos são mortos comida por meu irmão, mas
neira semelhante. Alguns de- por caçadores. Assim como eu ainda não sei se mamãe
les pensavam que os homens répteis! percebeu isto ou não.
deveriam ser comidos, pois O velho Chen espantou Acho que mamãe devia sa-
sempre havia sido assim. todo mundo. Meu irmão de- ber, mas, quando chorou, ela
Alguns deles sabiam que não sapareceu. O velho Chen me não disse isto com franqueza,
deveriam comer homens, mas aconselhou a voltar para meu provavelmente porque ela
ainda assim tinham vontade; quarto. O quarto estava um também pensava que aquilo
e eles tinham medo que as breu. As traves e vigas tre- fosse apropriado. Lembro-me
pessoas descobrissem seu miam sobre minha cabeça. quando eu tinha quatro ou
segredo; assim, quando me Após tremerem por algum cinco anos, sentado no fres-
ouviram, eles se enfureceram, tempo, elas aumentaram de cor do vestíbulo, meu irmão
mas ainda assim tinham um tamanho. Empilharam-se me disse que se os pais dum
cínico sorriso amarelo. sobre mim. homem estivessem doentes,
De repente, meu irmão os O peso era tão grande que ele deveria cortar um peda-
olhou com fúria e gritou alto: eu não podia me mover. Elas ço de sua pele, cozinhá-lo
— Saiam daqui, todos significavam que eu deveria para eles, se ele desejasse ser
vocês! Qual é o sentido em morrer. Eu sabia que o peso considerado como um bom
XII
verdade?
XIII
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Tradução
HU SHI
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OBRA 1. Escreva com
substância. Hu
queria dizer que
crevem sobre temas
como a morte. Hu
rejeita este modo
estas formas terem
sido o objetivo de
escritores antigos,
Diferente de outras fi- literatura deveria de pensar como Hu acreditava que
guras da Era dos Generais conter sentimen- sendo improduti- os autores mo-
na República da China, Hu tos e pensamentos vo na tentativa de dernos deveriam
era defensor de apenas uma humanos reais. resolver problemas primeiro aprender
corrente de pensamento: A intenção era modernos. o básico da subs-
contrastar à poesia 5. Elimine velhos tância e qualidade
o pragmatismo. Muitos de
recente com rimas clichês. A língua antes de retornar
seus textos utilizaram destas
e métrica, vista por chinesa sempre àqueles assuntos de
idéias para propor mudanças
Hu como sendo possuiu vários sutileza e delica-
na China. vazia. deza.
ditados e senten-
Hu era conhecido como o 2. Não imite os ças com quatro 8. Não evitar ex-
primeiro porta-voz da era da clássicos. Literatura caracteres utiliza- pressões populares
revolução literária, um mo- não deveria conter dos para descrever e formas populares
vimento que visava substituir estilos ultrapassa- eventos. Hu im- de caracteres. Esta
o erudito Chinês Clássico na dos, mas sim um plorou aos autores regra, talvez a mais
escrita pela língua vernácu- estilo moderno dos para usar suas conhecida, relacio-
la falada, além de cultivar e tempos atuais. próprias palavras na-se diretamente
estimular novas formas de 3. Respeite a em descrições e com a crença de
literatura. Num artigo publi- gramática. Hu não desprezou os que Hu de que a litera-
cado originalmente em "Nova dissertou muito não faziam isto. tura moderna de-
Juventude" de janeiro de sobre este ponto, 6. Não fazer alu- veria ser escrita em
1917, entitulado "Uma Dis- apenas afirman- sões. Hu se referia vernacular, ao invés
cussão Preliminar de Refor- do que as formas à prática de com- do Chinês Clássico.
ma Literária", Hu enfatizou recentes de poesia parar eventos pre- Ele acreditava que
originalmente oito diretrizes negligenciavam a sentes a históricos esta prática tinha
que todos escritores chineses gramática. quando não havia precedentes históri-
nenhuma analogia cos e que conduzia
deveriam ter em mente ao 4. Rejeite a
significativa. a uma maior com-
escrever: melancolia. Jovens preensão de textos
autores recentes co- 7. Não utilizar importantes.
mumente escolhem dísticos e parale-
pseudônimos e es- lismos. Apesar de
Hu Shi
tradução: Henry Alfred Bugalho
Tradução
Filho,
Por vinte anos ensinei-o a amar este país,
Mas só Deus sabe como!
Não se esqueça:
Este é o nosso país de soldados,
Que fez sua tia se suicidar em desgraça,
E fez o mesmo com Ah Shing,
E com sua esposa,
E que fuzilou Gao Sheng!
Não se esqueça:
Quem decepou seu dedo,
Quem espancou seu pai até a invalidez!
Quem queimou esta vila?
Merda! O fogo está chegando!
Vai, para o seu próprio bem! Não morra comigo!
Espere!
Não se esqueça:
O único desejo desse pai moribundo é o país invadido
Pelos cossacos,
Ou pelos prussianos,
Por qualquer um!
Há vida pior do que — esta?!
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SONHO E POESIA
Hu Shi
tradução: Henry Alfred Bugalho
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Autor Convidado
Jacimeire
Leo Borges tou que a paz que o mundo que vemos é o óbvio e bati-
busca é impossível porque do: “não agüentamos mais a
O que eu mais gosto no entra em conflito com a pró- violência!”. Roupas brancas
Bar do Setembrino são os pria essência beligerante do de grife desfilando pelas ruas
axiomas do Rildo. Normal- ser humano. pedindo paz.
http://www.flickr.com/photos/marianafaria/2438289318/sizes/l/
mente vêm acompanhados Qualquer conduta reativa – As pessoas se adaptam
de bolinhos de carne – espe- é, antes de mais nada, uma ao jogo. Para novas conquis-
cialidade da casa – e cerveja violação ao que foi explana- tas o homem se reuniu para
barata, muito comum nos su- do anteriormente. Na visão guerrear e criou flechas e
búrbios. Se não vejo o Rildo macro de Rildo essa premis- pólvora. Se quisesse a paz,
em uma das mesas na calça- sa é não apenas primordial teria ficado no seu cantinho,
da, cumprimento o Setembri- como muito pitoresca. no cultivo familiar, trocando
no, jogo uma sinuca, falo um – Quando rompemos o sal e frutas com seus vizi-
pouco sobre futebol, mando padrão, a vida se movimenta nhos. A evolução é a própria
um beijo pra Jacimeire e sigo e as pessoas se desacomo- face da violência e do caos.
meu caminho. Mas com ele dam e com isso, evoluem. Quer coisa mais violenta que
por ali, fato relativamente Sem a bolsa roubada, Lourdes o desenho do Pica-Pau?
raro, fico para um papo mais iria pra casa assar sua carne, No ponto de vista de Ril-
cáustico, onde suas verdades fazer seu arroz. Mas acon- do não há viabilidade na paz.
empíricas vão sendo derra- teceu um fato novo em sua É tão ingênuo quanto tentar
madas sem filtros para quem vida e isso a vai fazer pensar fazer o leão não caçar suas
quiser ouvir. em outras coisas mais apro- presa explicando que a zebra
Hoje ele estava por lá, fundadas, tipo: ‘que mundo vai sentir dor. A comparação
como sempre na mesa é esse em que vivo?’ e ‘quem é tão estapafúrdia que seria
exposta ao ar livre, se mis- são as pessoas a minha uma violência ao diálogo
turando entre os transeuntes volta?’. Ela nunca teria essa tentar ponderar. E ainda que
apressados. Rildo dizia que oportunidade se não tivesse eu quisesse um caminho
o melhor de um bar não é a tido esse contratempo. mais brando para hastear a
comida e nem a bebida, mas Rildo não é um sujeito “bandeira branca” sobre os
a possibilidade de ver as pes- que pode ser classificado argumentos de Rildo, não
soas, nervosas, correndo de como ‘agradável’. Ele é do- conseguiria. Ele não dá essa
um lado para o outro numa lorosamente fiel aos seus opção.
sessão pavorosa de corpos conceitos. Desfia suas pérolas – A verdade é que todo
em movimento. Não me como algum filósofo frustra- mundo gostaria de ser poli-
furtei em puxar uma cadeira do que pretende explicar a cial ou bandido. Há glamour
para acompanhá-lo com uma vida a partir de sua vivência na violência. Estar intima-
gelada. Comentei sobre um boêmia. Mas é gostoso ouvir mente ligado a uma arma é
fato triste que havia presen- colocações que não são poli- prazeroso. Vá a uma locado-
ciado momentos antes, quan- ticamente corretas, já que nos ra de filmes e constate: existe
do um pivete roubara a bolsa jornais, revistas e TV tudo o a categoria “Engenheiro”? A
da dona Lourdes. Ele decre-
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maior que uma canetada pró-violência ou um libelo e violento, vence, sai bem
assinando uma lei estúpi- da destruição, já que seu tra- na fita, é glorificado e ainda
da? Um salário mínimo que tado é uma versão sarcástica posa de ‘bonzinho’.”Deus nos
no papel garante tudo e na e estilizada do mundo real. ajudou a vencer essa guerra
prática só serve como cha- Rildo é o Thomas More ao contra os impuros”. Como
cota. Melhor fazer piada que reverso em meio aos salgadi- disse Sartre, “o inferno são os
chorar com tanta violência. nhos engordurados do Bar do outros”.
Realmente é um mundo Setembrino. Percebi que o papo desse
esquisito o que Rildo vis- - Eu repudio frontalmen- dia já estava ficando cinzento
lumbra... mas e as religiões? te a violência – diz ele. – O além da conta. Enfim, para o
Não cumpririam seus papéis problema é que ela mora meu amigo de cerveja não há
pacíficos numa sociedade em todos os lugares onde paz possível. Seria isso? Nem
despojada de violência? há sinais de inteligência. Dê tanto.
– As religiões, que de- um pedaço de osso para um – Eu vou te contar qual é
veriam ser ícones de paz, cachorro e ele será feliz. Dê a única paz possível: a Jaci-
fomentam a violência com toneladas de ossadas para meire.
dogmas intolerantes e intran- um ser humano e ele ficará
amargurado com tantos res- Jacimeire é a garçonete do
sigentes. O grande trunfo da Setembrino. Mulata gostosa,
Igreja são, paradoxalmente, as tos mortais à sua disposição.
ela é mais que carinhosa no
trevas. Sem elas, a bonança Seriam os cães mais inteli- atendimento aos fregueses,
seria apenas um quadro do gentes que os homens? trazendo sempre junto com
Rembrandt num consultório - A busca pela felicidade o pedido um sorriso franco
psiquiátrico. é traumática, pois nos co- e um espírito alegre. Quando
Eu normalmente não loca frente a perguntas sem alguém pergunta seu nome
contraponho as assertivas de respostas. A violência, ao ela o fala todo: Jacimeire
Rildo, porque suas definições contrário, é pura, não preci- Francisca da Paz. Acho que
são, como ele próprio alega, sa de arquétipos, sem falar faz isso por gostar muito do
irrepreensíveis. E consiste que é ela quem gera milhões ‘Paz’ no fim. Nada mais cor-
nisso a diversão espinhosa de de empregos, de militares reto, já que sua exuberância
um bate-papo com ele. a jornalistas. Afinal, notícia acaba com qualquer conflito
- Tragédia maior, entre- ruim é que movimenta a entre bêbados mais alterados.
tanto, seria o sombrio clima imprensa. Alheia às loucuras dos
entre um casal impetuoso Para Rildo intolerância é a boêmios, ela trabalha com
num mundo sem violência. prima da ignorância. Moram indescritível préstimo e amor
Entre quatro paredes, o rapaz juntas e são muito compe- e isso confunde os incautos
não poderia nem segurar tentes em criar e cuidar da que acreditam que tal de-
com volúpia os cabelos de violência. Fazem isso com senvoltura possa ser algum
sua amada e muito menos grande esmero. flerte. Mas, que nada. É só
dar uns bons tapas em suas – Veja você que um solda- uma simpatia transbordante
ancas quando a sacanagem do é condecorado ao matar que sempre relaxa a fisio-
esquentasse. Em última duas pessoas, mas é execrado nomia rabugenta de alguns,
análise isso também está no se transar com alguém do que sempre traz esperança
rol de aberrações, de espan- mesmo sexo. A violência em algo melhor. Melhor que
camentos, ainda que consen- prevalece e ainda que lute o bolinho de carne de sol,
tidos. por seu país, nem ele próprio melhor que a tristeza de um
O mais interessante de vai saber quais são os ideais mundo confuso.
Rildo é que seus discursos pelos quais luta. Seus líderes – Que Paz maravilhosa...
são despolitizados, mas não dizem que é a luta pela de- Nesse ponto não há o que
são ocos. No caso em ques- mocracia. Mas o que se quer discordar dele.
tão não dá para acusar o ve- mesmo é a obtenção de ri-
lho como sendo um paladino quezas. Ou seja, quem é forte
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Teoria Literária
Henry Alfred Bugalho Hoje em dia, a última para esta turma. Mas, recen-
moda é criticar a aquisição temente, em vários artigos
henrybugalho@gmail.com
de “capital cultural”. que tenho lido pela internet,
algo semelhante tem sur-
gido, mas agora criticando
Antes, o alvo havia sido o hábito — extremamente
o capital puro e simples — burguês, como negar? — de
grana, bufunfa, prata, money. se escrever livros. “Os autores
Uma legião de esquerdistas, só escrevem para adquirir
de cunho marxista-leninista, capital cultural”, eles dizem.
se proliferou por países
subdesenvolvidos, execrando Tomei ciência deste
os males do capitalismo, a conceito pela primeira vez
exploração da mais-valia e a através da boca duma ami-
sociedade de classes. ga americana, mestranda
de Ciências Sociais, que me
A falência do socialismo explicou o que Bourdieu
foi um balde de água fria entendia por isto. A grosso
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Teoria Literária
TRÊS VERSOS
http://www.flickr.com/photos/pbouchard/2250272920/sizes/o/
Volmar Camargo Junior Há algum tempo, desde do qual apenas havia ouvido
v.camargo.junior@gmail.com que comecei a integrar esse falar.
grupo de escritores, auto-pro-
Depois disso, não parei
clamados “oficineiros”, entrei
mais. É claro que ainda não
em um irremediável proces-
fiz nada de extraordinário
so de auto-descobrimento
(muito pelo contrário, aliás)
literário. Entre as coisas que
Mas estou experimentando.
descobri em mim mesmo foi
O resultado dessas experi-
o quanto escrever poesia é
ências vem sendo publicado
gratificante. A primeira vez
aqui, na SAMIZDAT. São
que fiz um poema na vida
meus Laboratórios Poéticos.
foi para uma das atividades
da oficina: uma coletânea de Bem, continuei escrevendo
haicais. Para minha intei- haicai. Entretanto, eu sim-
ra satisfação, eu consegui plesmente não conseguia
escrever um haicai – que era, manter-me preso à singele-
aliás, um gênero de poesia za e às normas muito bem
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satírico. (...) No Manifesto
Orvalho noturno, Poetrix foram identificadas
Frio e geada - as suas principais caracterís-
Verso branco. ticas, que resultaram na atual
definição do novo vernáculo:
- possui apenas uma estrofe
No entanto, o primeiro de três versos, sem limite de
que escrevi, foi esse: sílabas (depois seria estabele-
cido o limite de 30 sílabas);
Flerte - o título é desejável, mas
não exigível, podendo com-
Roseira branca, plementar o texto (atualmen-
na cerca, ama o céu te, o título é uma exigência);
negro sem culpa.
- não existie rigor quanto
a métrica ou rimas (mas o
ritmo é desejável);
O POETRIX
- metáforas e outras figuras
O Poetrix é uma forma de linguagem, assim como
poética nascida aqui, no neologismos, são uma cons-
Brasil. Surgiu, à maneira dos tante no poetrix;
movimentos vanguardistas - geralmente há uma intera-
do Modernismo, com um ção autor/leitor provocada
manifesto. Seu idealizador, o por mensagens subliminares;
poeta baiano Goulart Go-
mes, é hoje o coordenador - é minimalista, ou seja,
do Movimento Internacional procurr transmitir a mais
Poetrix. Da mesma forma, completa mensagem em um
pretendo falar mais detida- menor número de palavras;
mente sobre a origem do
- passado, presente e futuro
Poetrix em um futuro pró-
podem ser utilizados sem
ximo. O texto abaixo consta
distinção;
na introdução do Volume 1
do Caderno Internacional de - o autor, as personagens e o
Poetrix, distribuído gratuita- fato observado podem inte-
mente na rede (http://www. ragir, mesmo criando condi-
zaz.com.br/virtualbooks/no- ções suprarreais, cômicas ou
valexandria/goulart/poetrix1. ilógicas (non sense).
htm)
Uns e outros
O Poetrix hoje
Uma inportante relação
POETRIX é um terceto entre os dois formatos foi
contemporâneo de temática trazida por Goulart nesta
livre, com título, ritmo e um mesma publicação, referida
máximo acima:
de trinta sílabas, possuin- “(...) POETRIX é, certamente,
do figuras de linguagem, de a primeira linguagem poética a
pensamento, tropos ou teor ganhar uma definição discutida
e elaborada pelos seus próprios
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Crônica
bRASILEIROS NO EXTERIOR:
PATUSCADAS NO CAR
http://www.flickr.com/photos/stelling/65409814/sizes/l/
ARNEGIE HALL
violência, ou por vergonha
dos políticos, basta um ano
morando fora para se criar
uma visão fictícia do país.
Esquece-se de todas as ma-
zelas e o Brasil torna-se uma
Shangri-la.
Esta nostalgia impele os
Henry Alfred Bugalho brasileiros a perseguirem fa-
henrybugalho@gmail.com naticamente tudo que possui
alguma relação com o Brasil:
restaurantes, casas noturnas,
mercadinhos e, principal-
mente, a vinda de algum
artista famoso.
Assistir a algum show
dum artista brasileiro é a
justificação da existência
dos brasileiros no exterior,
a oportunidade para matar
a saudade do que nunca se
teve.
Recentemente, tive a opor-
tunidade de presenciar uma
destas agremiações.
A etiqueta da música
erudita
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consagrada pela aristocra- João Carlos Martins já era completa de Bach para tecla-
cia e burguesia européias uma figurinha carimbada do do. Quando sua outra mão
em contraposição às mani- cenário da música erudita há também ficou lesionada pelo
festações da praça pública. muito tempo. Considerado esforço, João foi obrigado a
Por isto, a reação também um dos maiores intérpretes abandonar o piano.
deve ser oposta, ao invés do de Bach, a carreira do pia- No entanto, este não é o
carnaval dionisíaco, a platéia nista foi brilhante, até que fim da história. Foi justamen-
dum concerto é uma mera os contratempos da vida a te neste momento em que
espectadora, ela vai ao teatro encerraram. Primeiro, João João Carlos Martins passou
para apreciar, não para fazer Carlos Martins perdeu o mo- a ser conhecido pelo públi-
parte da apresentação. vimento duma das mãos, ao co brasileiro. A sua história
se machucar jogando futebol de superação se tornou um
no Central Park; recuperou- ideal, um exemplo, e seu re-
A Atração se, voltou a tocar no auge de torno, posteriormente, como
sua forma; mas outro aci- regente, foi um novo apogeu.
Em maio, o Carnegie Hall dente, desta vez durante um
assalto na Bulgária, o fez per- Agora, não como pianista,
recebeu uma atração muito
der novamente o movimento mas como maestro, João Car-
especial: após uma década,
na mão. Isto não o impediu los Martins se apresentaria
João Carlos Martins voltava a
de terminar o seu projeto de no Carnegie Hall.
se apresentar no mais cele-
brado teatro do mundo. vida — a gravação da obra
http://www.flickr.com/photos/digitalink/24052775/sizes/o/
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Poesia
TEATRO
DE
MÁSCARAS
Carlos Alberto Barros
carloseducador@hotmail.com
http://www.flickr.com/photos/afsilva/304414484/sizes/o/
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Poesia
Fotografia
Poetrix
— Sai daí, pobrinho!
Está estragando
A paisagem da Serra.
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
Reveillon
- Saúde e paz!
(...e que um raio te parta,
filho da puta!)
Antes
Na contramão.
Outrora infantes,
Ora entendem, ora não.
Olho
Todos sérios,
Calados, sisudos.
Adultos ministérios.
Professo o temporal
Protesto, é claro!
Preciso, claro,
Natural.
Porque
É mês de Junho,
E está ficando frio
E ainda não é inverno.
Poesia
Por que é frio?
Porque é.
Esquece.
Levanta daí,
concreta
Porque eu ainda
Tenho que arrumar tudo.
É São João!
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Poesia
Contabilidade
Ilusão
Início e fim
Errado que te toca
Último vôo
Dura folha
POETRIX
Queda esquecida
Outono de vida
Indecisão
Atenta reflexão
Alavanca que morre parada
Entre Sim e Não e Nada
Três
O Um
O Dois
O que vem depois
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MOMENTOS
Por mais que tente
Persiga, imagine, invente
II. VIDA
Tempo é trem que segue adiante
Sem paradas, estações, descansos.
Leva corpos, letras e sonhos.
Sobrepõe lembranças ,
Imagens quebradas e enganos.
Mas o amor...
O amor não tem tempo.
O amor não tem memória.
O amor faz da saudade, alimento.
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http://www.sgeier.net/fractals/fractals/06/Robot%20Spider%20Web.jpg
Referências:
Biblioteca Virtual - Literatura
http://biblio.tempsite.ws/defaultz.asp?link=http://
biblio.tempsite.ws/conteudo/AluizioAzevedo/
politipo.htm
Flickr
http://www.flickr.com/
Wikipédia
http://www.wikipedia.org/
Fotos e ilustrações:
Flickr
Capa: http://www.flickr.com/photos/mazintosh/2104768410/
Idéias: http://www.flickr.com/photos/caribb/1561876135/sizes/o/
A Beca do Morto: http://www.flickr.com/photos/woylee/1137932049/sizes/o/
Cenário: http://www.flickr.com/photos/premshree/2588299341/sizes/l/
Polítipo: Magritte http://healthisaright.files.wordpress.com/2008/03/1024magritte-
sonofman.jpg
http://www.geocities.com/vsportelli/cortico.jpg
O Medo do Livro http://www.flickr.com/photos/melanieburger/1451941259/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/memorymotel/375042645/sizes/l/
Lucas, O Menino Binário http://www.msgraphix.com/Wallpaper/Binary/Binary1024x768.jpg
http://techitright.com/img/binary.jpg
O Convite http://www.reuther.wayne.edu/faces/evicted.jpg
http://www.geh.org/fm/feininger/m197806060312.jpg
http://www.lordprice.co.uk/Merchant2/graphics/00000001/
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WOFI1007,-Wall-Street-Crash.jpg
http://66.230.220.70/images/post/nycbw/130.jpg
http://66.230.220.70/images/post/nycbw/113.jpg
Capítulos 1 http://www.flickr.com/photos/aromma/189378446/sizes/l/
http://www.zeropoint.ca/Kalchemist.jpg
O Autor dos Passos http://www.flickr.com/photos/annalisa/74229400/sizes/o/
O País http://www.flickr.com/photos/missmareck/2193567123/sizes/l/
Caiu a Sombra http://www.flickr.com/photos/ableman/1884813924/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/sidereal/23416721/sizes/o/
O Templo dos Sorrisos http://www.flickr.com/photos/diogro/146406821/sizes/l/
O Bicho-Papão http://www.flickr.com/photos/romeo66/2431660788/sizes/o/
Diário dum Louco http://www.flickr.com/photos/hinaet/210499966/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/bricecanonne/2487735696/sizes/l/
http://www.flickr.com/photos/appenz/2434840052/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/yhlee/2257836817/sizes/o/
Hu Shi http://www.theeastisred.com/images/posters/PIC%2000180.jpg
http://www.flickr.com/photos/stoper/418005421/sizes/o/
http://farm1.static.flickr.com/137/402635622_25046b5712_o.jpg
A Única Paz Possível é a Jacimeire http://www.flickr.com/photos/marianafaria/2438289318/sizes/l/
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SAMIZDAT
SOBRE OS AUT
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SAMIZDAT
SOBRE OS AUTORES DA
SAMIZDAT
SOBRE
OS AU
TORES
SAMIZ DA
DAT www.samizdat-pt.blogspot.com 79
79
Alian Moroz
Formado em Matemática pela
UFPR,lecionou durante 20 anos. For-
mado ainda pela Faculdade de Belas
Artes do Paraná em Licenciatura em
Desenho,trabalhou junto a Estúdios de pro-
paganda e no setor editorial. Historiador e
Filósofo amador, venceu em 2006 o Prèmio
‘Destaque cultural’ promovido pela secre-
taria de Cultura de Curitiba com o livro ‘
Desvendando a História e os mitos Bíblicos’.
Lançou em 2007 a primeira edição de ‘ O Manuscrito XXXII’,
seu primeiro
romance , pela Editora Corifeu. Poeta e músico nas horas vagas,
têm como
principais influências,Umberto Eco e Luis Fernando Veríssimo.
alian.moroz@hotmail.com
s
erto Barro nhis-
Carlos Alb e n o r d e s t inos, dese
, filho d o formado,
Paulistano t i s ta plástic o
ta desde s
emp r e , a r sional com
e ç o u s u a vida profis e u r a s -
Com ixou s
escritor. s d e e n tão, já de u r a i s ,
, d e s Cu l t
educador e E s c o l a s e Centro a g ó g i -
G’ s , cos e p e d
tro por ON s a r t í s t i
ia
trabalho te influênc
através de c i a s q ue têm for n i z a
r i ê n te, o r g a
cos – expe r i t o s . Atualmen e s t uda
e s c criança s ,
sobre seus ç ã o p a r a
screve
ilustra a Arte e e
oficinas de i s t ó r i a d
ção em H
pós-gradua nternet.
r a p u b l i c ações na i
pa
il.com
ador@hotma
carloseduc ot.com
t p : / / d e s n ome.blogsp
ht
Giselle Sato
Giselle se autodefine apenas como uma contadora de his-
tórias carioca. Estudou Belas Artes e foi comissária de bordo
— cargo em que não fez muita arte, esperamos. Adora viajar
(felizmente!) e fala alguns idiomas.
Atualmente se diverte com a literatura, participando de
concursos e escrevendo para diversos sites pela net. Gosta de
retratar a realidade, dedicando-se a textos fortes que chegam
a chocar pelos detalhes, funcionando como um eficiente pa-
norama da sociedade em que vivemos, principalmente daquilo que é
comumente jogado
para baixo do tapete pelos veículos de comunicação.
gisellesato@superig.com.br
http://www.trilhasdaimensidao.prosaeverso.net/
o
Henry Alfred Bugalh
a pela UFPR, com
É formado em Filosofi ra e
pecialista em Literatu
http://bonfireblaze.files.wordpress.com/2007/12/grafiti_wall.jpg
ênfase em Estética. Es e de du as
atro romances
História. Autor de qu
.
coletâneas de contos
Nova York, com sua
Mora, atualmente, em
sua cachorrinha.
esposa Denise e Bia,
.com
henrybugalho@gmail
www.maosdevaca.com
jjsanto@gmail.com
http://www.riodeescrita.blogspot.com
/
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Facul-
dade de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo, trabalha
como psiquiatra e psicanalista.
Apaixonada por literatura e lín-
guas estrangeiras, lê sempre que
pode e brinca de escrever de vez Pedro Faria
em quando. Paulistana convicta, Estuda Matemática na Univer-
lo.
vive desde sempre em São Pau sidade Estadual do Rio de Janeiro,
músico amador e escritor quando
marciasz@hotmail.com dá na telha. Nascido e criado no
Rio.
punksterbass@hotmail.com
http://civilizadoselvagem.blogspot.com/
Volmar Camargo Ju
nior é gaúcho. Form
em Letras pela Unive ado
rsidade de Cruz Alta,
leciona por sua próp nã o
ria vontade. Entrou na
em 2004, e desde en ECT
tão já morou em meia
de “Pereirópolis” pelo dúzia
Rio Grande. Atualm
vive com a esposa Na ente
tascha em Canela, na
Gaúcha. Dividem o ap Serra
artamento com Marie,
uma gata voluntario
sa e cínica.
v.camargo.junior@gm
http://recantodasletra ail.com
s.uol.com.br/autores/v
cj
www.samizdat-pt.blogspot.com 81
Também nesta edição,
textos de
Marcia Szajnbok
Giselle Natsu Sato
Pedro Faria
Henry Alfred
Bugalho
Volmar Camargo
Junior