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Doutoranda-PEMAT-UFRJ
Lev S. Vigotski
Resumo
1.Introdução
A aprendizagem está no centro das discussões atuais sobre educação, neste artigo
procuramos compreender a aprendizagem mediada por signos enquanto um processo
humano. Ao longo deste trabalho buscaremos justificar e embasar esta afirmação pois o
nosso objetivo aqui é o de discutir o papel dos signos na construção do conhecimento.
2.1 Mediação
No próximo tópico iremos discutir o que são instrumentos, uma vez que para que a
mediação aconteça ela necessita de um meio para tal, instrumentos são um dos meios
necessários como será visto na sequência.
2.2 Instrumentos
Instrumentos mediam as nossas relações com o outro seja este outro o mundo que
nos cerca ou outro indivíduo. Esta mediação acontece de forma literal não simbólica, ou
seja, o instrumento representa a si mesmo.
Algumas ideias de Vigotski trazem como discurso as relações de trabalho;
evocando, portanto, uma atividade coletiva trazendo atividades coletivas reconhecidas
como mediadas e a criação e utilização de instrumentos como elementos interpostos entre
o trabalhador e o seu objeto de trabalho como elementos ampliadores das possibilidades de
transformação da natureza. O instrumento é elaborado para um objetivo específico
carregando consigo a função para a qual foi feito além do modo de ser utilizado
desenvolvido durante a história do trabalho sendo, portanto, um objeto social e mediador
da relação entre o indivíduo e o mundo (OLIVEIRA, 2000).
Reelaborando este raciocínio. Rego (2004) esclarece que o instrumento existe para
facilitar o alcance de determinado objetivo atuando como facilitador e, mais do que isso,
facilitador de mudanças externas uma vez que este amplia a possibilidade de intervenção
na natureza (o uso de uma enxada é um bom exemplo, uma vez que esta permite uma
maior facilidade no manuseio da terra do que as mãos humanas). Para Vigotski, o papel do
instrumento é o de condutor da influência humana sobre o objeto da atividade; e como ele
é orientado externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos objetos
(VIGOTSKI, 2002).
Abaixo iremos discutir o outro meio para que a mediação aconteça. O faremos
dentro de uma forma mais elaborada de comunicação, ou seja, trataremos dos sistemas
simbólicos.
2.3 Signos
O uso de sistemas simbólicos separa os seres humanos dos animais, uma vez que
somente com o uso destes sistemas é possível compartilhar e acumular conhecimentos, um
bom exemplo disso são as casas dos passarinhos denominados “joão de barro1” (figura 1),
passarinhos estes que fazem sempre a mesma “casa” recomeçando o processo a cada
animal, ou seja, não há uma transmissão de informações de geração a geração, portanto
não há reelaboração do processo utilizado. Já os seres humanos conseguem acumular e
compartilhar conhecimentos graças à existência de sistemas simbólicos: a própria escrita é
um exemplo, veja que neste momento eu estou compartilhando com você a minha visão
acerca do tema em foco e isso só acontece porque estamos transitando no mesmo sistema
simbólico que é a língua portuguesa em que as palavras se referem ao nosso mundo
culturalmente estabelecido e compartilhado. Observe que a possibilidade de compartilhar
um sistema simbólico só é possível para nós pois somos humanos.
Fonte desconhecida
Segundo Oliveira (2000, 1997) Vigotski trabalha com a função mediadora dos
instrumentos e dos signos na atividade humana; fazendo, portanto, uma analogia entre o
papel dos instrumentos de trabalho na transformação e no controle da natureza e o papel
dos signos enquanto instrumentos psicológicos, ferramentas auxiliares no controle da
1
O joão-de-barro ou forneiro é um pássaro conhecido por seu característico ninho de barro em
forma de forno (característica compartilhada com muitas espécies dessa família).
atividade psicológica. Ela esclarece que os signos são orientados para o próprio sujeito,
para dentro do indivíduo; ou seja, dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do
próprio indivíduo, seja de outras pessoas. Ela completa, mostrando que os signos se
constituem em ferramentas auxiliadoras dos processos psicológicos do indivíduo sendo
diferentes do instrumento por não trabalharem nas ações concretas.
Já vimos neste texto que tal sistema é exclusividade dos seres humanos uma vez
que é sabido que a comunicação não mediatizada pela linguagem ou por outro sistema de
signos como se verifica no reino animal, que utiliza apenas a comunicação do tipo mais
primitivo e em dimensões mais limitadas, não sendo possível, a transmissão e o acúmulo
de informações. Essa comunicação através de movimentos expresssivos ocorrida entre os
animais não deveria ser chamada de comunicação em hipótese alguma, devendo antes ser
denominada contágio. É importante observar que “[...] a comunicação sem signos é tão
impossível quanto sem significado” (VIGOTSKI, 2000, p.11).
Diante do fato de que um conceito não se forma por acaso, pois é fruto de uma
operação mental a serviço da atividade prática, da resolução de problemas, convém
ressaltar que um dos principais objetivos da resolução de problemas matemáticos é
procurar fazer com que o aluno pense na busca de possíveis caminhos para a sua resolução
e, para que isso aconteça, o ideal é propor situações-problema que o envolvam, o desafiem
e o motivem a resolvê-las.
O professor tem um papel privilegiado na aprendizagem uma vez que o seu espaço
de atividade profissional está nas instituições dedicadas a este objetivo. Segundo Moyses
(2014) a formação de conceitos é um processo dinâmico, construído passo a passo pelos
alunos em estreita interação com o professor. É importante destacar que em termos
cognitivos a correção e o questionamento, partindo de quem ensina, tem um relevante
papel na aprendizagem. Tendo conhecimento da zona de desenvolvimento proximal2 do
aluno:
Portanto, o docente bem preparado saberá fazer as perguntas que irão provocar
desequilíbrio na estrutura cognitiva do aluno encaminhando-a a avançar em uma nova e
mais elaborada reestruturação. Abaixo temos um exemplo deste tipo de postura esperada
do professor Vigotski utiliza apresenta um relato acerca do que observou em uma sala de
aula e destacou como exemplo de intervenção bem sucedida, escreve ele: “O professor
trabalhando com o aluno, explicou, deu informações, questionou, corrigiu o aluno e o fez
explicar” (Vigotski apud Moyses, 2014, p.36).
2
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito elaborado por Vigotsky, e define a
distância entre o nível de desenvolvimento atual, determinado pela capacidade de resolver um problema sem
ajuda, e a gama de possibilidades, determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com outro companheiro. Quer dizer, é a série de informações que a pessoa tem a
potencialidade de aprender mas ainda não completou o processo, conhecimentos fora de seu alcance atual,
mas potencialmente atingíveis, para maiores informações remetemos à leitura de Oliveira (1997).
mantendo a enfase no que é essencial, neste sentido observamos que o fato do professor ter
pedido ao aluno que explicasse sua resposta se mostra como ponto alto do processo. Ao
explicar seu raciocínio o aluno pode transparecer as transformações que ocorreram em seu
plano intrapsicológico, assim comoas relações que ocorreram no âmbito interpsicológico.
Isso será possível caso o aluno consiga expor com suas próprias palavras o assunto
tratado,exemplificando dados tirados do seu cotidiano; que consiga fazer generalizações
etc (MOYSÉS, 2014). Podemos entender este processo como desenvolvimento conceitual:
Conclusão
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vigotski e o processo de formação de conceitos. In: Piaget,
Vigotski, Wallon - Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.