Professor 2017

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Índice

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SEC-BA DO ESTADO DA BAHIA

- Comum a Todas as Funções de Professor Substituto -


EDITAL SEC / SUDEPE Nº 003/2017

FV041- 2017

ARTIGO DO WILLIAM DOUGLAS

LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura e interpretação de textos verbais e não-verbais extraídos de livros e periódicos contemporâneos........................... 01


A semântica e o sentido das palavras: relação entre significantes (sinais, símbolos, palavras e frases) e significados.......... 12

CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS

Concepção de educação, ensino e aprendizagem......................................................................................................................... 01


Construção do conhecimento científico, tecnológico e cultural como um processo sócio-histórico........................................ 04
O ensino médio no contexto da educação básica.......................................................................................................................... 05
Os sujeitos e o currículo dos ensinos fundamental e médio para a formação humana integral............................................. 08
Projeto Político Pedagógico da Escola.......................................................................................................................................... 21
O trabalho como princípio educativo e a pesquisa como princípio metodológico.................................................................... 28
Tecnologia da informação e comunicação como ferramenta do processo de ensino e de aprendizagem............................... 29
A reflexão sobre a prática pedagógica........................................................................................................................................... 31
Inclusão e exclusão no contexto das práticas educativas nos sistemas formais de educação................................................... 33
Avaliação da aprendizagem e avaliação externa........................................................................................................................ 347

Didatismo e Conhecimento
Índice

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA ORGANIZAÇÃO


DOS SISTEMAS DE ENSINO

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96: Título IV e Título V – Capítulos I, Capítulo II – Secções I, IV,
IV-A, (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008, que trata da integração do ensino médio com ensino profissional) e Secção V...... 01
Lei nº 11.769/2008 – Ensino de Música nas escolas: implicações, consensos e dissensos......................................................... 06
Decreto nº 7.083/2010 – Educação Integral no Brasil: o legado de Anísio Teixeira na atualidade: novas perspectivas....... 07
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e para o Ensino Fundamental e Médio..................................... 15
O Plano Nacional de Educação...................................................................................................................................................... 36
A Portaria/SEC nº 1.128/2010, de 27 de janeiro 2010, publicada no Diário Oficial do Estado em 28 de janeiro de 2010.... 50
A Portaria/SEC n º 1882/2013, publicada no Diário Oficial do Estado, em de 03 de abril de 2013........................................ 54

CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO


TEÓRICA À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO

Princípios e Fundamentos da Educação do Campo.................................................................................................................... 01


Concepções e conceitos da Educação do Campo: Campo, Educação do Campo, Desenvolvimento Sustentável, Trabalho e
Educação................................................................................................................................................................................................. 05
Marco legal da Educação do Campo (Resolução CNE nº 1/2002 – Diretrizes Operacionais para Educação Básica das
Escolas do Campo e Resolução n° 2/2008, - Diretrizes Complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas
públicas de atendimento da Educação Básica; Decreto 7.342 de 04 de novembro de 2010 – PRONERA - Resolução CEE nº
103/2015 que dispõe sobre a oferta de educação do Campo no Sistema Estadual de Ensino da Bahia, dentre outros)...............11
Politicas de Educação do Campo (Diretrizes e programas em execução)................................................................................. 21

Didatismo e Conhecimento
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Estado/matéria/página). Por exemplo: Apostila Professor do Estado de São Paulo / Comum à todos os cargos
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Didatismo e Conhecimento
Artigo
O conteúdo do artigo abaixo é de responsabilidade do autor William Douglas, autorizado gentilmente e sem cláusula
de exclusividade, para uso do Grupo Nova.
O conteúdo das demais informações desta apostila é de total responsabilidade da equipe do Grupo Nova.

A ETERNA COMPETIÇÃO ENTRE O LAZER E O ESTUDO

Por William Douglas, professor, escritor e juiz federal.

Todo mundo já se pegou estudando sem a menor concentração, pensando nos momentos de lazer, como também já deixou de
aproveitar as horas de descanso por causa de um sentimento de culpa ou mesmo remorso, porque deveria estar estudando.
Fazer uma coisa e pensar em outra causa desconcentração, estresse e perda de rendimento no estudo ou trabalho. Além da
perda de prazer nas horas de descanso.
Em diversas pesquisas que realizei durante palestras e seminários pelo país, constatei que os três problemas mais comuns de
quem quer vencer na vida são:
• medo do insucesso (gerando ansiedade, insegurança),
• falta de tempo e
• “competição” entre o estudo ou trabalho e o lazer.

E então, você já teve estes problemas?


Todo mundo sabe que para vencer e estar preparado para o dia-a-dia é preciso muito conhecimento, estudo e dedicação, mas
como conciliar o tempo com as preciosas horas de lazer ou descanso?
Este e outros problemas atormentavam-me quando era estudante de Direito e depois, quando passei à preparação para concursos
públicos. Não é à toa que fui reprovado em 5 concursos diferentes!
Outros problemas? Falta de dinheiro, dificuldade dos concursos (que pagam salários de até R$ 6.000,00/mês, com status e
estabilidade, gerando enorme concorrência), problemas de cobrança dos familiares, memória, concentração etc.
Contudo, depois de aprender a estudar, acabei sendo 1º colocado em outros 7 concursos, entre os quais os de Juiz de Direito,
Defensor Público e Delegado de Polícia. Isso prova que passar em concurso não é impossível e que quem é reprovado pode “dar a
volta por cima”.
É possível, com organização, disciplina e força de vontade, conciliar um estudo eficiente com uma vida onde haja espaço para
lazer, diversão e pouco ou nenhum estresse. A qualidade de vida associada às técnicas de estudo são muito mais produtivas do que a
tradicional imagem da pessoa trancafiada, estudando 14 horas por dia.
O sucesso no estudo e em provas (escritas, concursos, entrevistas etc.) depende basicamente de três aspectos, em geral,
desprezados por quem está querendo passar numa prova ou conseguir um emprego:
1º) clara definição dos objetivos e técnicas de planejamento e organização;
2º) técnicas para aumentar o rendimento do estudo, do cérebro e da memória;
3º) técnicas específicas sobre como fazer provas e entrevistas, abordando dicas e macetes que a experiência fornece, mas que
podem ser aprendidos.
O conjunto destas técnicas resulta em um aprendizado melhor e em mais sucesso nas provas escritas e orais (inclusive entrevistas).
Aos poucos, pretendemos ir abordando estes assuntos, mas já podemos anotar aqui alguns cuidados e providências que irão
aumentar seu desempenho.
Para melhorar a “briga” entre estudo e lazer, sugiro que você aprenda a administrar seu tempo. Para isto, como já disse, basta
um pouco de disciplina e organização.
O primeiro passo é fazer o tradicional quadro horário, colocando nele todas as tarefas a serem realizadas. Ao invés de servir
como uma “prisão”, este procedimento facilitará as coisas para você. Pra começar, porque vai levá-lo a escolher as coisas que não são
imediatas e a estabelecer suas prioridades. Experimente. Em pouco tempo, você vai ver que isto funciona.
Também é recomendável que você separe tempo suficiente para dormir, fazer algum exercício físico e dar atenção à família ou
ao namoro. Sem isso, o estresse será uma mera questão de tempo. Por incrível que pareça, o fato é que com uma vida equilibrada o
seu rendimento final no estudo aumenta.
Outra dica simples é a seguinte: depois de escolher quantas horas você vai gastar com cada tarefa ou atividade, evite pensar em
uma enquanto está realizando a outra. Quando o cérebro mandar “mensagens” sobre outras tarefas, é só lembrar que cada uma tem
seu tempo definido. Isto aumentará a concentração no estudo, o rendimento e o prazer e relaxamento das horas de lazer.
Aprender a separar o tempo é um excelente meio de diminuir o estresse e aumentar o rendimento, não só no estudo, como em
tudo que fazemos.

*William Douglas é juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 30 obras, dentre elas o best-seller
“Como passar em provas e concursos” . Passou em 9 concursos, sendo 5 em 1º Lugar
www.williamdouglas.com.br
Conteúdo cedido gratuitamente, pelo autor, com finalidade de auxiliar os candidatos.

Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA
Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, expõe
ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura básica;
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso de linguagem
TEXTOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS clara. Ex: ensaios, artigos científicos, exposições etc.
EXTRAÍDOS DE LIVROS E PERIÓDICOS
CONTEMPORÂNEOS. Injunção: Indica como realizar uma ação. É também utilizado
para predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza lingua-
gem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, emprega-
dos no modo imperativo. Há também o uso do futuro do presente.
Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor que tam- Ex: Receita de um bolo e manuais.
bém é transmitida através de figuras, impregnado de subjetivismo.
Ex: um romance, um conto, uma poesia... (Conotação, Figurado, Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas ou mais
Subjetivo, Pessoal). pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e
retomadas.
Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma mensa-
gem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma notícia de Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais pessoas (o
jornal, uma bula de medicamento. (Denotação, Claro, Objetivo, entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas são feitas pelo
Informativo). entrevistador para obter informação do entrevistado. Os repórteres
O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. Nesse entrevistam as suas fontes para obter declarações que validem as
tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia. Exemplos de textos informações apuradas ou que relatem situações vividas por per-
explicativos são os encontrados em manuais de instruções. sonagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe uma pauta que
contém informações que o ajudarão a construir a matéria. Além
Informativo: Tem a função de informar o leitor a respeito de das informações, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim
algo ou alguém, é o texto de uma notícia de jornal, de revista, como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o repór-
folhetos informativos, propagandas. Uso da função referencial da ter costuma reunir o máximo de informações disponíveis sobre o
linguagem, 3ª pessoa do singular. assunto a ser abordado e sobre a pessoa que será entrevistada. Mu-
nido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevista-
Descrição: Um texto em que se faz um retrato por escrito de do a fornecer informações novas e relevantes. O repórter também
um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de pala- deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou ma-
vras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função nipula dados nas suas respostas, fato que costuma acontecer prin-
caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se até des- cipalmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando
crever sensações ou sentimentos. Não há relação de anteriorida- o repórter vai entrevistar o presidente de uma instituição pública
de e posterioridade. Significa “criar” com palavras a imagem do sobre um problema que está a afetar o fornecimento de serviços
objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da à população, ele tende a evitar as perguntas e a querer reverter a
personagem a que o texto se refere. resposta para o que considera positivo na instituição. É importante
que o repórter seja insistente. O entrevistador deve conquistar a
Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictício ou confiança do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por
não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo ele dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas ou
certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma perdendo a objetividade.
relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predo- As entrevistas apresentam com frequência alguns sinais de
minante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que pontuação como o ponto de interrogação, o travessão, aspas, re-
nos contam histórias infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ticências, parêntese e as vezes colchetes, que servem para dar ao
ou a “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano. leitor maior informações que ele supostamente desconhece. O títu-
lo da entrevista é um enunciado curto que chama a atenção do lei-
Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou expli- tor e resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em letra
car um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo maiúscula e recebe maior destaque da página. Na maioria dos ca-
pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto sos, apenas as preposições ficam com a letra minúscula. O subtítu-
de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo lo introduz o objetivo principal da entrevista e não vem seguido de
enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocu- ponto final. É um pequeno texto e vem em destaque também. A fo-
pado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, tografia do entrevistado aparece normalmente na primeira página
sendo, portanto, um texto informativo. da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase dita por ele.
As frases importantes ditas pelo entrevistado e que aparecem em
Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, têm destaque nas outras páginas da entrevista são chamadas de “olho”.
por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista
do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um
também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus
temos um texto dissertativo-argumentativo. grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou
Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de solicita- trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto,
ção, deliberação informal, discurso de defesa e acusação (advo- você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de
cacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial. sua redação e terá exemplos.

Didatismo e Conhecimento 1
LÍNGUA PORTUGUESA
Uma das mais famosas crônicas da história da literatura lu- De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas
so-brasileira corresponde à definição de crônica como “narração até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Es-
histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de sas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela
Caminha”, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura.
descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os
marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretu- O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de
do, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e
Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis: requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a
gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio
O nascimento da crônica da língua.

“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem
É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura pos-
as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sa- terior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de
cudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmos- escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade,
féricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comu-
sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace mente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de
est rompue está começada a crônica. (...) partes, respondem basicamente às seguintes perguntas:
(Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Paulo: - Por que ler este livro?
Editora Ática, 1994) - Será uma leitura útil?
- Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?
Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se
à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se
A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da in- seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de
formação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se pro-
acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, puser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico, rejeitando-o
mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por ou- antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito
tro ângulo, singular. baixo.
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar horizon-
leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que tes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever me-
faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior aten- lhor; relacionar-se melhor com o outro.
ção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contem-
porâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas Pré-Leitura
grandes cidades. Nome do livro
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que a crô- Autor
nica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a ob- Dados Bibliográficos
servação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da Prefácio e Índice 
linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, Prólogo e Introdução
para garantir sua durabilidade no tempo.
O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição do
Interpretação de Texto livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou
sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao livro,
O primeiro passo para interpretar um texto consiste em de- ver o número da edição e o ano de publicação. Se falarmos em ler
compô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado, já esta-
ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os con- remos sabendo muito sobre o livro. É muito importante verificar
ceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos fatos e na
fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler atualidade das informações que ele contém.  Verifique detalhes que
é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpre- possam contribuir para a coleta do maior número de informações
tação dos símbolos gráficos, de códigos,  requer que o indivíduo possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados
seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorpo- lidos no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja
rando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente pensa que
mantenha um comportamento ativo diante da leitura. os três são a mesma coisa, mas não:
Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema
Os diferentes níveis de leitura e de sua experiência pessoal.
Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, referin-
Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para do-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também tecendo
a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento comentários sobre o autor.
ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenha- Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro
mos condições cognitivas para utilizar. e não ao tema.

Didatismo e Conhecimento 2
LÍNGUA PORTUGUESA
O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nes- mente exercícios físicos com o propósito de melhorar a aparência
se caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica. e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições de ver com
o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando
O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vas- melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a prontidão de in-
culharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, formações e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale
é imprescindível que saibamos em qual gênero o livro se enquadra: a pena se esforçar no início e criar um método de leitura eficiente
trata-se de um romance, um tratado, um livro de pesquisa e, neste e rápido.
caso, existe apenas teoria ou são inseridas práticas e exemplos. No
caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure Ideias Núcleo
criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o
que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto.  Note O primeiro passo para interpretar um texto consiste em de-
bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a compô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou
fazer é ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os con-
temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já ceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação
é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o livro, do início fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor.
ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique Exemplo:
atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu.
Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicioná- “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista aus-
rios ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento. tríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade
humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes
O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. Tra- nas camadas mais profundas da psique humana: o inconsciente
ta-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com e subconsciente. Começou estudando casos clínicos de compor-
qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos des- tamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em
conhecidos de um texto são explicitados  neste próprio texto, à me- colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Es-
dida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico tudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obti-
fará com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até dos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela
que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos,
na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário. estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais. Para
interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se uti-
como um todo. Será, também, nessa etapa que sublinharemos os lizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, conside-
tópicos importantes, se necessário. Para ressaltar trechos impor- rando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na
tantes opte por um sinal discreto próximo a eles, visando principal- fase de vigília.
mente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo
fixar a cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose
no livro. é de origem sexual.”
Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é (Salvatore D’Onofrio)
interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um
breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido. Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição
do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a
Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939)
aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique
aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja, humana: o inconsciente e subconsciente.” O autor do texto afirma,
que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciência a compreender
compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada os níveis mais profundos da personalidade humana, o inconsciente
como unir a teoria à prática. Na leitura, quando não passamos pela e subconsciente.
etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos  àqueles
brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos clí-
resumos. nicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a aju-
Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos da da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e
de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com
traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o assunto os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até
lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá-lo com hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias
algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigi-
para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar que das ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações
esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias poste- mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a
riores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou
ao retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, criou
é um exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diaria- o das “livres associações de ideias e de sentimentos”.

Didatismo e Conhecimento 3
LÍNGUA PORTUGUESA
Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior
às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da lin- clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o sig-
guagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como com- nificado;
pensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui, está - Esclarecer o vocabulário;
explicitado que a descoberta das raízes de um trauma se faz por - Entender o vocabulário;
meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem me- - Viver a história;
tafórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a dia. - Ative sua leitura;
- Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se
Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud, pede;
que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação - Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas al-
da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o tex- ternativas;
to afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afir- - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o texto ou
mando a novidade de que todo o trauma psicológico é de origem como o leu;
sexual. - Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem;
- Sentir, perceber a mensagem do autor;
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpre- - Cuidado com a exatidão das questões em relação ao texto;
tação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele;
- Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; valor, sua importância;
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitu- - Todas as orações subordinadas têm oração principal e as
ra, vá até o fim, ininterruptamente; ideias se completam.
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
menos umas três vezes; Vícios de Leitura
- Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas;
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça?
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando
- Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns
compreensão; dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhe-
- Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do tex- cidos como vícios de linguagem.
to correspondente; Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada ques- movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final
tão; de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum
- Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não, efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos.
correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm dificul-
palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a dade de memorizar um assunto, que não compreendem algumas
entender o que se perguntou e o que se pediu; expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movi-
- Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha
mais exata ou a mais completa; de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normal-
- Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamen- mente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter
to de lógica objetiva; uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode
- Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais; se tornar um bicho de sete cabeças!
- Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela respos- Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas pala-
ta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto; vras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto e
- Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denun- perceber o seu significado.
cia a resposta; Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a palavra.
- Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de
autor, definindo o tema e a mensagem; 250 palavras por minuto.
- O autor defende ideias e você deve percebê-las; Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompanhar
- Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são im- a leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que sal-
portantíssimos na interpretação do texto. Exemplos: ta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido
Ele morreu de fome. quando é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer ob-
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na jeto.
realização do fato (= morte de “ele”). Leitura Eficiente
Ele morreu faminto.
faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se Ao ler realizamos as seguintes operações:
encontrava quando morreu.
- Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, encami-
- As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as nhamos o material a ser lido para nosso cérebro.
ideias estão coordenadas entre si;

Didatismo e Conhecimento 4
LÍNGUA PORTUGUESA
- Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sensorial - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para ela.
(palavras, números etc.) e a organizá-lo segundo nossa bagagem Nada de ambientes com muitos estímulos que forcem a dispersão.
de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de moti- Deve ser um local tranquilo, agradável, ventilado, com uma cadei-
vação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível. ra confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a uma altura
- Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arqui- que possibilite postura corporal adequada. Quanto a iluminação,
vo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso cotidiano. deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a
página acontecerá antes de ter sido lida a última linha da página di-
A leitura é um processo muito mais amplo do que podemos reita e, de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página,
imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, o que atrapalharia a leitura.
mas interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos - Objetos necessários: para evitar que, durante a leitura, le-
todo o nosso tempo lendo! vantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante,
O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe confi- devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão.
gura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a partir de Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso apren-
como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então, segundo der a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura, evitando
esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimento com que é rece- que os aspectos sublinhados parecem-se mais com um mosaico de
bido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição, sua informações aleatórias.
experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua expe- Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por
riência será de tranquilidade, etc. Ler está tão relacionado com o finalidade a identificação de um  leitor autônomo. Portanto, o can-
fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este didato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio
processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e estes da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado.
são os responsáveis pela transformação dos fatos em objetos de As frases produzem significados diferentes de acordo com o
nosso sentimento. contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sem-
Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da ci- pre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto.
vilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprovado Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas
pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedi-
história já foi lida em um livro. Quando lemos, associamos as in- mento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura
formações lidas à imensa bagagem de conhecimentos que temos ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar,
imaginar e sonhar.
Como ler e interpretar uma charge
É por meio da leitura que podemos entrar em contato com
Interpretar cartuns, charges ou quadrinhos exigem três habi-
pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças, convic-
lidades: observação, conhecimento do assunto e vocabulário ade-
ções e descobertas que foram imortalizadas por meio da escrita.
quado. A primeira permite que o leitor “veja” todos os ícones pre-
Esta possibilita o avanço tecnológico e científico, registrando os
sentes - e dono da situação - dê início à descrição minuciosa, mas
conhecimentos, levando-os a qualquer pessoa em qualquer lugar
que prioriza as relevâncias. A segunda requer um leitor “antenado”
do mundo, desde que saibam decodificar a mensagem, interpre-
tando os símbolos usados como registro da informação. A leitura com o noticiário mais recente, caso contrário não será possível es-
é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que tabelecer sentidos para o que vê. A terceira encerra o ciclo, pois,
ele vive! sem dar nome ao que vê, o leitor não faz a tradução da imagem.
O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de informa- Desse modo, interpretar charges - ou qualquer outra forma de
ções oferecidas a todo instante. É preciso também tornarmo-nos expressão visual – exige procedimentos lógicos, atenção aos deta-
mais receptivos e atentos, para nos mantermos atualizados e com- lhes e uma preocupação rigorosa em associar imagens aos fatos.
petitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule cada
vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você pretende
acompanhar a evolução do mundo, manter-se em dia, atualizado
e bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua
leitura.
Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma pes-
soa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado, será
que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale sobre
História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro interes-
sante, mas leitores interessados.
A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e
com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como
um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente
eficaz.
- Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler.
Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta Benett. Folha de São Paulo, 15/02/2010
um desgaste físico enorme, pois a retenção da informação será Charges são desenhos humorísticos que se utilizam da ironia
inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito e do sarcasmo para a constituição de uma crítica a uma situação
importante. social ou política vigente, e contra a qual se pretende – ou ao me-

Didatismo e Conhecimento 5
LÍNGUA PORTUGUESA
nos se pretendia, na origem desse fenômeno artístico, na Inglaterra de posicionamentos críticos e ideológicos no debate democrático.
do século XIX – fazer uma oposição. Diferente do cartoon, arte Reafirmando aquele lugar-comum, mas válido, do dramaturgo
também surgida na Inglaterra e que pretendia parodiar situações Nelson Rodrigues (do qual eu nunca encontrei a citação, confes-
do cotidiano da sociedade, constituindo assim uma crítica dos so), “toda unanimidade é burra”. Por isso, é preciso compreender
costumes que ultrapassa os limites do tempo e projeta-se como e identificar a linha editorial do veículo de comunicação no qual a
crítica de época, a charge é caracterizada especificamente por ser charge foi publicada, pois esta revela a ideologia que inspira o foco
uma crônica, ou seja, narra ou satiriza um fato acontecido em de- de parcialidade que este dá às suas notícias.
terminado momento, e que perderá sua carga humorística ao ser
desvencilhada do contexto temporal no qual está inserida. Toda-
via, a palavra cartunista acabou designando, na nossa linguagem
cotidiana, a categoria de artistas que produz esse tipo de desenho
humorístico (charges ou cartoons)
Na verdade, quatro passos básicos para uma boa interpretação
político-ideológica de uma charge. Afinal, se a corrida eleitoral
para a Presidência da República já começou, não vai mal dar uma
boa olhada nas charges publicadas em cada jornal, impresso ou
eletrônico, para ver o que se passa na cabeça dos donos da grande
mídia sobre esse momento ímpar no processo democrático nacio-
nal…

Thiago Recchia. Gazeta do Povo, 01/04/2010

Passo 4: Compreenda qual o posicionamento ideológico fren-


te ao fato, do qual a charge quer te convencer: Assim como a
notícia vem, como já foi comentado, carregada de parcialidade
ideológica, a charge não está longe de ser um meio propício de co-
municação de um ponto de vista. E com um detalhe a mais: a char-
ge convence! Por seu efeito humorístico, a crítica proposta pela
Amarildo. A Gazeta-ES, 12/04/2010 charge permanece enraizada por tempo indeterminado em nossa
imaginação e, por decorrência, como vários autores da consagra-
Passo 1: Procure saber do que a charge está tratando: A char- da psicologia da imagem já demonstraram, nos processos incons-
ge geralmente está relacionada, por meio do uso de ANALOGIAS, cientes que podem influenciar as decisões e escolhas que julgamos
a uma notícia ou fato político, econômico, social ou cultural. Por- serem estritamente voluntárias. Compreender a mensagem ideo-
tanto, a primeira tarefa de um “analista de charges” será compreen- lógica da qual é composta uma charge acaba tendo a função de
der a qual fato ou notícia a charge em questão está relacionada. tornar conscientes estes processos, fazendo com que nossa decisão
seja fundamentada numa decisão mais racional e posicionada, e
Passo 2: Entenda os elementos contidos na charge: Numa ao mesmo tempo menos ingênua e caricata da situação. Aí, sim,
charge de crítica política ou econômica, sempre há um protago- a charge poderá auxiliar na formulação clara e cônscia de um po-
nista e um antagonista da situação – ou seja, um personagem al- sicionamento perante os fatos e notícias apresentados por esses
vejado pela crítica do chargista e outro que faz a vez de porta-voz meios de comunicação!
da crítica do chargista. Não necessariamente o antagonista aparece
Exercícios
na cena… O próprio cenário da charge, uma nota de rodapé ou a
própria situação na qual o protagonista está inserido pode fazer a
Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao texto
vez de antagonista. Já nas charges de caráter social ou cultural, seguinte.
geralmente não há protagonistas e antagonistas, mas elementos do
fato ou da notícia que são caricaturizados – isto é, retratados hu- Fotografias
moristicamente – com vistas a trazer força à notícia representada
na charge. No caso das charges de crítica econômica e política, a Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: o
identificação dos papéis de protagonista e antagonista da situação passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tem-
é fundamental para o próximo passo na interpretação desta charge. po, transformando o que é naquilo que já não é mais, porque o que
Passo 3: Identifique a linha editorial do veículo de comunica- temos diante dos olhos é transmudado imediatamente em passado
ção: Não é novidade para nenhum de nós que a imparcialidade da no momento do clique. Costumamos dizer que a fotografia con-
informação é uma mera ilusão, da qual nos convenceram de tanto gela o tempo, preservando um momento passageiro para toda a
repetir. Não existe imparcialidade nem nas ciências, quanto mais eternidade, e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo
na imprensa! E por mais que a manipulação da notícia seja um ato que descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e
moralmente execrável, a parcialidade na informação noticiada pe- magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda ima-
los meios de comunicação não apenas é inevitável, como também gem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela
pode vir a ser benéfica no que tange ao processo da constituição o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico.

Didatismo e Conhecimento 6
LÍNGUA PORTUGUESA
Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem.
das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de pa- (B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada.
pel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências diversas, (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo.
pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar.
só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará.
de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo
observador. 5. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre
Variam, também, os níveis de percepção de uma fotografia. o texto:
Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exem- (A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fo-
plo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insus- tografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igual-
peitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo profissional mente temporal.
lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desco- (B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se imagine
nhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congela-
imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. da...
(Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. (C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma
São Paulo: Companhia das Letras, 2010) foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal.
(D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiências
1. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da percep- físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais.
ção de uma foto é: (E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficientemen-
(A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tem- te para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal.
po.
(B) a fotografia congela o tempo. Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se ao texto
(C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o ins- seguinte.
tante aprisionado.
(D) o significado de uma imagem muda com o passar do tem- Discriminar ou discriminar?
po.
(E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sen-
de uma foto. tido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses
controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicionário
2. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras,
níveis de percepção de uma fotografia remete estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir;
(A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto. b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo
(B) às diferenças de qualificação do olhar dos observadores. de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da
(C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto. pele, classe social, convicções etc.
(D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes. Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferen-
(E) aos vários tempos que cada fotografia representa em si ças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o senti-
mesma. do positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é
diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no
3. Atente para as seguintes afirmações: caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar
I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discrimi-
tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendida numa nar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.
foto já não pertence a tempo algum. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a de-
II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o alber- sigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de dis-
gue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador cernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de
não interfere no sentido próprio e particular de uma foto. preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da
III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro pa- discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se
rágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma lingua- de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm
gem específica nela fixados. sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem
Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de dis-
em criminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa uni-
(A) I e II. versidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo sentido
(B) II e III. positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As
(C) I. acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do di-
(D) II. cionário e se mostram vivas na mesma sociedade.
(E) III. (Aníbal Lucchesi, inédito)

4. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Todavia, 6. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar
existe algo que descongela essa imagem pode ser substituído, sem debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discri-
prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: minar

Didatismo e Conhecimento 7
LÍNGUA PORTUGUESA
(A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso Bom para o sorveteiro
inúmeras controvérsias entre os usuários.
(B) apresenta um sentido secundário, variante de seu sentido Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a
principal, que não é reconhecido por todos. notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na minha
(C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal,
costuma atribuir a esse vocábulo. depois de quase três dias se debatendo na areia da praia e na tela
(D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se trata de da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar.
determinar a origem de um vocábulo. Até a União Soviética acabou, como foi dito por locutores espe-
(E) desdobra-se em acepções contraditórias que correspon- cializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não
dem a convicções incompatíveis. acabava. Centenas de curiosos foram lá apreciar aquela monta-
nha de força a se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência. Um
7. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a belo espetáculo.
desigualdade. À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar
Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra: do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, to-
(A) Os homens são desiguais porque foram tratados com o dos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula.
mesmo critério de igualdade. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia ficava
(B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora
mesmo critério para casos muito diferentes. teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas para vender com
(C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmente, a ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se
desigualdade definitiva torna-se aceitável. começasse logo a repartir os bifes.
(D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em quinze
os iguais como se fossem desiguais. minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria
(E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de
injustiçados são sempre os mesmos. agora teve mais sorte. Foi salva graças à religião ecológica que
anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua en-
8. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o tre todos nós, animais de sangue quente ou de sangue frio.
sentido de um segmento em: Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo uma
(A) iluminar teses controvertidas (1º parágrafo) = amainar estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da efi-
posições dubitativas. cácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia reco-
(B) um preciso discernimento (2º parágrafo) = uma arraigada lher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que salva,
dissuasão. a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil,
(C) disseminar o juízo preconcebido (2º parágrafo) = dissua- à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil encalhado na
dir o julgamento predestinado. areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs
(D) a forma mais censurável (3º parágrafo) = o modo mais anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo é símbolo.
repreensível.
(E) As acepções são inconciliáveis (3º parágrafo) = as versões (Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo)
são inatacáveis.
10. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso de Sa-
9. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a redação quarema, tal como se observa na relação entre estas duas expres-
da seguinte frase: sões:
(A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que o (A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo na
desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um efeito areia.
contrário. (B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram disputa-
(B) Embora haja quem aposte no critério único de julgamento, das as toneladas da vítima.
para se promover a igualdade, visto que desconsideram o risco do (C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar pas-
contrário. téis e empadinhas para vender com ágio.
(C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo critério (D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e lá se
para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma situação foi, espero que salva, a baleia de Saquarema.
de injustiça. (E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e Logo
(D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções aplican- uma estatal, ó céus.
do-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mesmas dis-
torcidas.
(E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves que
tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de uma ação
corretiva.

Atenção: As questões de números 10 a 14 referem-se à crônica


abaixo.

Didatismo e Conhecimento 8
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11. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto: Atenção: As questões de números 15 a 18 referem-se ao texto
I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua, entre abaixo.
outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes.
II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia encalhada A razão do mérito e a do voto
revelam que, acima das diferentes providências, atinham-se todos
a um mesmo propósito. Um ministro, ao tempo do governo militar, irritado com a
III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o au- campanha pelas eleições diretas para presidente da República,
tor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também figurar buscou minimizar a importância do voto com o seguinte argumen-
o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação. to: − Será que os passageiros de um avião gostariam de fazer uma
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em eleição para escolher um deles como piloto de seu voo? Ou prefe-
(A) I, II e III. ririam confiar no mérito do profissional mais abalizado?
(B) I e III, apenas. A perfídia desse argumento está na falsa analogia entre uma
(C) II e III, apenas. função eminentemente técnica e uma função eminentemente polí-
(D) I e II, apenas. tica. No fundo, o ministro queria dizer que o governo estava indo
(E) III, apenas. muito bem nas mãos dos militares e que estes saberiam melhor que
ninguém prosseguir no comando da nação.
12. Foram irrelevantes para a salvação da baleia estes dois Entre a escolha pelo mérito e a escolha pelo voto há neces-
fatores: sidades muito distintas. Num concurso público, por exemplo, a
(A) o necrológio da União Soviética e os serviços da traineira avaliação do mérito pessoal do candidato se impõe sobre qual-
da Petrobrás. quer outra. A seleção e a classificação de profissionais devem ser
(B) o prestígio dos valores ecológicos e o empenho no lúcido processos marcados pela transparência do método e pela adequa-
objetivo comum. ção aos objetivos. Já a escolha da liderança de uma associação
(C) o fato de a jubarte ser um animal de sangue frio e o prestí- de classe, de um sindicato deve ocorrer em conformidade com o
gio dos valores ecológicos. desejo da maioria, que escolhe livremente seu representante. Entre
(D) o fato de a Petrobrás ser uma empresa estatal e as iniciati- a especialidade técnica e a vocação política há diferenças profun-
vas que couberam a uma traineira. das de natureza, que pedem distintas formas de reconhecimento.
(E) o aproveitamento comercial da situação e a força desco- Essas questões vêm à tona quando, em certas instituições, o
munal empregada pela jubarte. prestígio do “assembleísmo” surge como absoluto. Há quem pre-
tenda decidir tudo no voto, reconhecendo numa assembleia a “so-
13. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o berania” que a qualifica para a tomada de qualquer decisão. Não
sentido de um segmento em: por acaso, quando alguém se opõe a essa generalização, lembran-
(A) em necrológio eufórico (1º parágrafo) = em façanha mor- do a razão do mérito, ouvem-se diatribes contra a “meritocra-
tal. cia”. Eis aí uma tarefa para nós todos: reconhecer, caso a caso, a
(B) Comum, vírgula (2º parágrafo) = Geral, mas nem tanto. legitimidade que tem a decisão pelo voto ou pelo reconhecimento
(C) que se desse por perdida a batalha (2º parágrafo) = que se da qualificação indispensável. Assim, não elegeremos deputado
imaginasse o efeito de uma derrota. alguém sem espírito público, nem votaremos no passageiro que
(D) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3º parágrafo) = deverá pilotar nosso avião.
derrogou uma imunidade para nós todos. (Júlio Castanho de Almeida, inédito)
(E) é preciso dar provas da eficácia (4º parágrafo) = convém
explicitar os bons propósitos. 15. Deve-se presumir, com base no texto, que a razão do mé-
rito e a razão do voto devem ser consideradas, diante da tomada
14. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre de uma decisão,
o último parágrafo do texto. (A) complementares, pois em separado nenhuma delas satis-
(A) Apesar de tratar do drama ocorrido com uma baleia, o faz o que exige uma situação dada.
cronista não deixa de aludir a circunstâncias nacionais, como o (B) excludentes, já que numa votação não se leva em conta
impulso para as privatizações e os custos da alta inflação. nenhuma questão de mérito.
(B) Mormente tratando de uma jubarte encalhado, o cronista (C) excludentes, já que a qualificação por mérito pressupõe
não obsta em tratar de assuntos da pauta nacional, como a inflação que toda votação é ilegítima.
ou o processo empresarial das privatizações. (D) conciliáveis, desde que as mesmas pessoas que votam se-
(C) Vê-se que um cronista pode assumir, como aqui ocorreu, o jam as que decidam pelo mérito.
papel tanto de um repórter curioso como analisar fatos oportunos, (E) independentes, visto que cada uma atende a necessidades
qual seja a escalada inflacionária ou a privatização. de bem distintas naturezas.
(D) O incidente da jubarte encalhado não impediu de que o
cronista se valesse de tal episódio para opinar diante de outros fa-
tos, haja vista a inflação nacional ou a escalada das privatizações.
(E) Ao bom cronista ocorre associar um episódio como o da
jubarte com a natureza de outros, bem distintos, sejam os da eco-
nomia inflacionada, sejam o crescente prestígio das privatizações.

Didatismo e Conhecimento 9
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16. Atente para as seguintes afirmações: LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL
I. A argumentação do ministro, referida no primeiro parágrafo,
é rebatida pelo autor do texto por ser falaciosa e escamotear os Linguagem é a capacidade que possuímos de expressar nossos
reais interesses de quem a formula. pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Está relacionada a
II. O autor do texto manifesta-se francamente favorável à ra- fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem.
zão do mérito, a menos que uma situação de real impasse imponha Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para estabelecermos
a resolução pelo voto. atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e
III. A conotação pejorativa que o uso de aspas confere ao ter- regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem
mo “assembleísmo” expressa o ponto de vista dos que desconsi- mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem
deram a qualificação técnica. pode ser classificada como qualquer sistema de sinais que se valem
Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma os indivíduos para comunicar-se.
em A linguagem pode ser:
(A) I.
(B) II. - Verbal: aquela que faz uso das palavras para comunicar algo.
(C) III.
(D) I e II.
(E) II e III.

17. Considerando-se o contexto, são expressões bastante pró-


ximas quanto ao sentido:
(A) fazer uma eleição e confiar no mérito do profissional.
(B) especialidade técnica e vocação política. As figuras acima nos comunicam sua mensagem através da
(C) classificação de profissionais e escolha da liderança. linguagem verbal (usa palavras para transmitir a informação).
(D) avaliação do mérito e reconhecimento da qualificação.
(E) transparência do método e desejo da maioria. - Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de comuni-
18. Atente para a redação do seguinte comunicado: cação, que não são as palavras. Dentre elas estão a linguagem de
sinais, as placas e sinais de trânsito, a linguagem corporal, uma
Viemos por esse intermédio convocar-lhe para a assembleia figura, a expressão facial, um gesto, etc.
geral da próxima sexta-feira, aonde se decidirá os rumos do nos-
so movimento reivindicatório.

As falhas do texto encontram-se plenamente sanadas em:


(A) Vimos, por este intermédio, convocá-lo para a assembleia
geral da próxima sexta-feira, quando se decidirão os rumos do
nosso movimento reivindicatório.
(B) Viemos por este intermédio convocar-lhe para a assem-
bleia geral da próxima sexta-feira, onde se decidirá os rumos do Essas figuras fazem uso apenas de imagens para comunicar o
nosso movimento reivindicatório. que representam.
(C) Vimos, por este intermédio, convocar-lhe para a assem-
bleia geral da próxima sexta-feira, em cuja se decidirão os rumos A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta
do nosso movimento reivindicatório. por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo de
(D) Vimos por esse intermédio convocá-lo para a assembleia falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comuni-
geral da próxima sexta-feira, em que se decidirá os rumos do nos- car-se e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portu-
so movimento reivindicatório. guesa.
(E) Viemos, por este intermédio, convocá-lo para a assem- A língua possui um caráter social: pertence a todo um con-
bleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirão os rumos junto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada membro da
do nosso movimento reivindicatório. comunidade pode optar por esta ou aquela forma de expressão. Por
outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que
Respostas: 01-C / 02-B / 03-E / 04-D / 05-C / 06-E / 07-B / outros falantes a compreendam. Dessa forma, cada indivíduo pode
08-D / 09-B / 10-C / 11-B / 12-E / 13-B / 14-A / 15-E / 16-A / 17-D usar de maneira particular a língua comunitária, originando a fala.
/ 18-A A fala está sempre condicionada pelas regras socialmente estabe-
lecidas da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um
exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar
um enunciado da seguinte maneira:

A família de Regina era paupérrima.

Didatismo e Conhecimento 10
LÍNGUA PORTUGUESA
Outro, no entanto, pode optar por: Devido ao caráter individual da fala, é possível observar al-
guns níveis:
A família de Regina era muito pobre.
As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diver- - Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das pessoas
sas manifestações da fala de cada um. Note, além disso, que essas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais.
manifestações devem obedecer às regras gerais da língua portu- Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preo-
guesa, para não correrem o risco de produzir enunciados incom- cupamos em saber se falamos de acordo ou não com as regras for-
preensíveis como: mais estabelecidas pela língua.

Família a paupérrima de era Regina. - Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente utilizado
pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um cuidado
Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais
meios de comunicação distintos. A escrita representa um está- estabelecidas pela língua.
gio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea,
abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além Signo
disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mí-
micas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a
É um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o
representação da língua falada, mas sim um sistema mais discipli-
significado e o significante. Ao escutar a palavra “cachorro”, re-
nado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as
mímicas e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos conhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses
falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da língua sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa me-
devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: mória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armaze-
nada em nosso cérebro que é o significante do signo “cachorro”.
- Fatores Regionais: é possível notar a diferença do portu- Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal ir-
guês falado por um habitante da região nordeste e outro da região racional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse con-
sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há varia- ceito que nos vem à mente é o significado do signo “cachorro” e
ções no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exem- também se encontra armazenado em nossa memória.
plo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos
na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado. obedecer às regras gramaticais convencionadas pela própria lín-
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a formação cul- gua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo inde-
tural de um indivíduo também são fatores que colaboram para os finido “um” diante do signo “cachorro”, formando a sequência
diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua “um cachorro”, o mesmo não seria possível se quiséssemos co-
de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola. locar o artigo “uma” diante do signo “cachorro”. A sequência
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de acor- “uma cachorro” contraria uma regra de concordância da língua
do com a situação em que nos encontramos: quando conversamos portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os
com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se esti- signos que constituem a língua obedecem a padrões determina-
véssemos discursando em uma solenidade de formatura. dos de organização. O conhecimento de uma língua engloba tanto
- Fatores Profissionais: o exercício de algumas atividades a identificação de seus signos, como também o uso adequado de
requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas suas regras combinatórias.
técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, quí- Signo: elemento representativo que possui duas partes in-
micos, profissionais da área de direito e da informática, biólogos, dissolúveis: significado e significante. Significado (é o conceito,
médicos, linguistas e outros especialistas. a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + Signifi-
- Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes sofre in-
cante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo,
fluência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança não
suas letras e seus fonemas).
utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-se em
linguagem infantil e linguagem adulta.
Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obede-
Fala cem às regras gramaticais.

É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato indivi- Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao de-
dual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode esco- senvolvimento da liberdade de expressão e compreensão.
lher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e
sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua perso-
nalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc. Desse modo,
dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos
mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, além de  conhecer
o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que
somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus
de cultura, embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente
como a nossa. 

Didatismo e Conhecimento 11
LÍNGUA PORTUGUESA
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos.
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é conside-
A SEMÂNTICA E O SENTIDO DAS rada uma deficiência dos idiomas.
PALAVRAS: RELAÇÃO ENTRE O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico
SIGNIFICANTES (SINAIS, SÍMBOLOS, (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em:
PALAVRAS E FRASES) E SIGNIFICADOS. Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes no
timbre ou na intensidade das vogais.
- Rego (substantivo) e rego (verbo).
- Colher (verbo) e colher (substantivo).
Significação das Palavras - Jogo (substantivo) e jogo (verbo).
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo).
Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguin- - Para (verbo parar) e para (preposição).
tes categorias: - Providência (substantivo) e providencia (verbo).
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo).
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. - Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o).
Exemplo:
- Alfabeto, abecedário. Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e diferentes
- Brado, grito, clamor. na escrita.
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de con-
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo sertar).
outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos dife- - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
renciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de significação - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. Com
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (ani-
- Censo (recenseamento) e senso (juízo).
mal e quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada,
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
vulgar, outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta,
- Paço (palácio) e passo (andar).
literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e oftalmo-
- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
logista, cinzento e cinéreo).
- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, em
anular).
nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos:
- Adversário e antagonista. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
- Translúcido e diáfano. (tempo de uma reunião ou espetáculo).
- Semicírculo e hemiciclo.
- Contraveneno e antídoto. Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.
- Moral e ética. - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
- Colóquio e diálogo. - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
- Transformação e metamorfose. - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
- Oposição e antítese. - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinoní- - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
mia, palavra que também designa o emprego de sinônimos.
Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pronúncia:
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, tetânico e titâni-
- Ordem e anarquia. co, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, prescrever
- Soberba e humildade. e proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir
- Louvar e censurar. (transgredir), osso e ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo
- Mal e bem. ceder), comprimento e cumprimento, deferir (conceder, dar defe-
rimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confir-
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto mar) e retificar (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito
ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/antipático, grande: soma vultosa) e vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/implícito, ativo/
inativo, esperar/desesperar, comunista/anticomunista, simétrico/ Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan-
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de gado.
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Aço (substantivo) e asso (verbo).

Didatismo e Conhecimento 12
LÍNGUA PORTUGUESA
- Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu 05. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
do palato. a) cozer = cozinhar; coser = costurar
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmi- b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país
cas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm dezenas c) comprimento = medida; cumprimento = saudação
de acepções. d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar
e) chácara = sítio; xácara = verso
Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser
empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. Exemplos: 06. Assinale o item em que a palavra destacada está incorre-
- Construí um muro de pedra. (sentido próprio). tamente aplicada:
- Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado). a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
- As águas pingavam da torneira, (sentido próprio). b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros.
- As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado). c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.
d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever.
Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque e) A cessão de terras compete ao Estado.
nos seguintes exemplos:
- Comprei uma correntinha de ouro. 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem.
- Fulano nadava em ouro. a) mandado - caçado
No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa sim- b) mandato - cassado
plesmente o conhecido metal precioso, tem sentido próprio, real, c) mandato - caçado
denotativo. d) mandado - casçado
No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, e) mandado - cassado
glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui várias
conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações que irra- 08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem correta-
diam da palavra). mente as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Necessitando ......
o número do cartão do PIS, ...... a data de meu nascimento.”
Exercícios a) ratificar, proscrevi
b) prescrever, discriminei
01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos c) descriminar, retifiquei
erros do passado. d) proscrever, prescrevi
a) eminente, deflagração, incidiram e) retificar, ratifiquei
b) iminente, deflagração, reincidiram
c) eminente, conflagração, reincidiram 09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os
d) preste, conflaglação, incidiram ..... em astronomia.”
e) prestes, flagração, recindiram a) insipiência tachar expertos
b) insipiência taxar expertos
02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre c) incipiência taxar espertos
diante da ....... demonstrada pelo político”. d) incipiência tachar espertos
a) seção - fragrante - incipiência e) insipiência taxar espertos
b) sessão - flagrante - insipiência
c) sessão - fragrante - incipiência 10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apresen-
d) cessão - flagrante - incipiência tava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras adequadas
e) seção - flagrante - insipiência para preenchimento das lacunas são:
a) censo - lasso - cumprimento - eminentes
03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territoriais a b) senso - lasso - cumprimento - iminentes
..... . c) senso - laço - comprimento - iminentes
a) sessão - cessão - estrangeiros d) senso - laço - cumprimento - eminentes
b) seção - cessão - estrangeiros e) censo - lasso - comprimento - iminentes
c) secção - sessão - extrangeiros
d) sessão - seção - estrangeiros Respostas: (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B)
e) seção - sessão - estrangeiros (08.E)(09.A)(10.B)

04. Há uma alternativa errada. Assinale-a: SINTAXE


a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem po-
lítica. O princípio é o verbo.
b) A catástrofe torna-se iminente.
c) Sua ascensão foi rápida. Essa é a premissa fundamental da Sintaxe, que é a parte da
d) Ascenderam o fogo rapidamente. gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma
e) Reacendeu o fogo do entusiasmo. frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de
ordem. Significa que, ao se realizar a análise sintática de uma

Didatismo e Conhecimento 13
LÍNGUA PORTUGUESA
oração, sempre se inicia pelo verbo. É a partir dele que se descobre O político continuou seu discurso mesmo com todas as vaias
qual o sujeito da oração, se há a indicação de qualidade, estado ou recebidas.
modo de ser do sujeito, se ele pratica uma ação ou se a sofre, se há Continuar, nesta frase, não é de ligação já que não indica
complemento verbal, se há circunstância (adjunto adverbial), etc. qualidade do sujeito, e sim ação.
Nem sempre o verbo se apresenta sozinho em uma oração.
Em muitos casos, surgem dois ou mais verbos juntos, para indicar A professora estava na sala de aula.
que se pratica ou se sofre uma ação, ou que o sujeito possui uma Estar, nesta frase, não é de ligação já que não indica qualidade do
qualidade. A essa junção, dá-se o nome de locução verbal. Toda sujeito, e sim fato.
locução verbal é formada por um verbo auxiliar (ou mais de um) e
um verbo principal (somente um). A garota estava muito alegre.
O verbo auxiliar é o que se relaciona com o sujeito, por isso Estar é verbo de ligação porque indica qualidade do sujeito.
concorda com este, ou seja, se o sujeito estiver no singular, o verbo
auxiliar também ficará no singular; se o sujeito estiver no plural, Se o verbo indicar que o sujeito pratica uma ação, ou que participa
o verbo auxiliar também ficará no plural. Na Língua Portuguesa ativamente de um fato, será denominado de VERBO INTRANSITIVO
os verbos auxiliares são os seguintes: ser, estar, ter, haver, dever, ou VERBO TRANSITIVO, de acordo com o seguinte:
poder, ir, dentre outros.
O verbo principal é o que indica se o sujeito possui uma - Quem ............ , ................. : Todo verbo que se encaixar nessa
qualidade, se ele pratica uma ação ou se a sofre. É o mais frase será INTRANSITIVO. Por exemplo, o verbo correr: Quem
importante da locução. Na Língua Portuguesa, o verbo principal corre, corre.
surge sempre no infinitivo (terminado em –ar, -er, ou –ir), no
gerúndio (terminado em –ndo) ou no particípio (terminado em – - Quem ............ , ................. algo/alguém: Todo verbo que se
ado ou –ido, dentre outras terminações). encaixar nessa frase será TRANSITIVO DIRETO. Por exemplo, o
Veja alguns exemplos de locuções verbais: verbo comer: Quem come, come algo; ou o verbo amar: Quem ama,
ama alguém.
Os funcionários FORAM CONVOCADOS pelo diretor. (aux.:
SER; princ.: CONVOCAR) - Quem ............ , ................. + prep. + algo/alguém: Todo verbo
que se encaixar nessa frase será TRANSITIVO INDIRETO. Por
Os estudantes ESTÃO RESPONDENDO às questões. (aux.: exemplo, o verbo gostar: Quem gosta, gosta de algo ou de alguém.
ESTAR; princ.: RESPONDER) As preposições mais comuns são as seguintes: a, de, em, por, para,
sem e com.
Os trabalhadores TÊM ENFRENTADO muitos problemas.
(aux.: TER; princ.: ENFRENTAR) - Quem ............ , ................. algo/alguém + prep. + algo/alguém:
Todo verbo que se encaixar nessa frase será TRANSITIVO DIRETO
O vereador HAVIA DENUNCIADO seus companheiros. E INDIRETO - também denominado de BITRANSITIVO. Por
(aux.: HAVER; princ.: DENUNCIAR) exemplo, o verbo mostrar: Quem mostra, mostra algo a alguém; ou
o verbo informar: Quem informa, informa alguém de algo ou Quem
Os alunos DEVEM ESTUDAR todos os dias. (aux.: DEVER; informa, informa algo a alguém.
princ.: ESTUDAR)
É importante salientar que um verbo só será TRANSITIVO se
Sujeito: houver complemento (objeto direto ou objeto indireto). A análise
de um verbo depende, portanto, do ambiente sintático em que ele se
Para se descobrir qual o sujeito do verbo (ou da locução encontra. Um verbo que aparentemente seja transitivo direto pode ser,
verbal), deve-se perguntar a ele (ou a ela) o seguinte: Que(m) é na realidade, intransitivo, caso não haja complemento. Por exemplo,
que ..........? A resposta será o sujeito. Por exemplo, analisemos a observe a seguinte frase:
primeira frase dentre as apresentadas acima: O pior cego é aquele que não quer ver.
Os funcionários foram convocados pelo diretor. O verbo “ver” é, aparentemente, transitivo direto, uma vez que
se encaixa na frase Quem vê, vê algo. Ocorre, porém, que não há o
O princípio é o verbo. Procura-se, portanto, o verbo: é a “algo”. O pior cego é aquele que não quer ver o quê? Não aparece na
locução verbal foram convocados. - - Pergunta-se a ela: Que(m) é oração; não há, portanto, o objeto direto. Como não o há, o verbo não
que foi convocado? pode ser transitivo direto, e sim intransitivo.
- Resposta: Os funcionários. Observe, agora, esta frase: Quem dá aos pobres, empresta a Deus.
- O sujeito da oração, então, é o seguinte: os funcionários. Os verbos “dar” e “emprestar” são, aparentemente, transitivos
Encontrado o sujeito, parte-se para a análise do verbo: diretos e indiretos, uma vez que se encaixam nas frases Quem dá, dá
Se ele indicar que o sujeito possui uma qualidade, um estado algo a alguém e Quem empresta, empresta algo a alguém. Ocorre,
ou um modo de ser, sem praticar ação alguma, será denominado de porém, que não há o “algo”. Quem dá o que aos pobres empresta
VERBO DE LIGAÇÃO. Os verbos de ligação mais comuns são os o que a Deus? Não aparece na oração; não há, portanto, o objeto
seguintes: ser, estar, parecer, ficar, permanecer e continuar. Não direto. Como não o há, os verbos não podem ser transitivos diretos e
se esqueça, porém, de que só será verbo de ligação o que indicar indiretos, e sim somente transitivos indiretos.
qualidade, estado ou modo de ser do sujeito, sem praticar ação
alguma. Observe as seguintes frases: FONTE: http://www.gramaticaonline.com.br/texto/1231

Didatismo e Conhecimento 14
LÍNGUA PORTUGUESA
Questões sobre Análise Sintática A)simples, composto
B)indeterminado, composto
01. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os C)simples, simples
trabalhadores passaram mais tempo na escola... D) oculto, indeterminado
O segmento grifado acima possui a mesma função sintática
que o destacado em: 07. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”. Identifique
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. a alternativa que classifica corretamente a função sintática e a classe
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. morfológica dos termos destacados:
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado... A) objeto indireto – substantivo
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio... B) objeto direto - substantivo
E) ...impulsionado pelo aumento do número de universidades... C) sujeito – adjetivo
D) objeto direto – adjetivo
02.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013). Donos de E) sujeito - substantivo
uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...], sabiam
os paulistas como... GABARITO
O segmento em destaque na frase acima exerce a mesma 01. C 02. D 03. B 04. C 05. B 06. C 07. E
função sintática que o elemento grifado em:
A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores RESOLUÇÃO
para a volta.
B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescentariam 1-) Os trabalhadores passaram mais tempo na escola
aqueles de considerável... = SUJEITO
C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal. A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. = objeto direto
D) Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. = objeto
direto
significar uma pista.
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado... =
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a
sujeito paciente
vila de São Paulo como centro...
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio... = objeto
direto
03. Há complemento nominal em:
E) ...impulsionado pelo aumento do número de universidades... =
A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada. agente da passiva
B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de ganhar
a vida. 2-) Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens
C)Ela estava na janela do edifício. [...], sabiam os paulistas como... = SUJEITO
D)... sem saber ao certo se gostávamos dele. A) Nas expedições breves = ADJUNTO ADVERBIAL
E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho B) nada acrescentariam aqueles de considerável...= adjunto
de cinema. adverbial
C) seria perceptível o sinal. = predicativo
04. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o termo D) Uma sequência de tais galhos = sujeito
destacado é: E) apresentam-nos a vila de São Paulo como = objeto direto
A) pronome possessivo
B) complemento nominal 3-)
C) objeto indireto A) o beijo da madrugada. = adjunto adnominal
D) adjunto adnominal B)a sua possibilidade de ganhar a vida. = complemento nominal
E) objeto direto (possibilidade de quê?)
C)na janela do edifício. = adjunto adnominal
05. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito das D)... sem saber ao certo se gostávamos dele. = objeto indireto
seguintes orações em relação aos verbos destacados: E) a brincar de bandido e mocinho de cinema = objeto indireto
- Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de vida. 4-) esta lhe deu cem mil contos = o verbo DAR é bitransitivo, ou
- Neste ano, quero prestar serviço voluntário. seja, transitivo direto e indireto, portanto precisa de dois complementos
A)Tu – vós – dois objetos: direto e indireto.
B)Nós – eu Deu o quê? = cem mil contos (direto)
C)Vós – nós Deu a quem? lhe (=a ele, a ela) = indireto
D) Ele - tu
5-) - Amanhã ( nós ) teremos uma palestra sobre qualidade de vida.
06. Classifique o sujeito das orações destacadas no texto - Neste ano, ( eu ) quero prestar serviço voluntário.
seguinte e, a seguir, assinale a sequência correta.
É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural. 6-) É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural. É
É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo com o caráter
com o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam partido e interferem
partido e interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou atrapalhando-os.
atrapalhando- -os. Ambos os termos apresentam sujeito simples

Didatismo e Conhecimento 15
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7-) Surgiram fotógrafos e repórteres. - Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
O sujeito está deslocado, colocado na ordem indireta (final - Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dançando.
da oração). Portanto: função sintática: sujeito (composto); classe - Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à praia.
morfológica (classe de palavras): substantivos.
Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas principais
Períodos Compostos conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer; seja...seja.
- Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
O período composto caracteriza-se por possuir mais de uma - Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras
oração em sua composição. Sendo Assim: diferentes.
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma oração) - Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto.
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
(Período Composto =locução verbal, verbo, duas orações) Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas principais
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um protetor conjunções são: logo, portanto, por fim, por conseguinte,
solar. (Período Composto = três verbos, três orações). consequentemente, pois (posposto ao verbo)
Cada verbo ou locução verbal sublinhada acima corresponde - Passei no vestibular, portanto irei comemorar.
a uma oração. Isso implica que o primeiro exemplo é um período - Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
simples, pois tem apenas uma oração, os dois outros exemplos são - Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada.
períodos compostos, pois têm mais de uma oração. - A situação é delicada; devemos, pois, agir
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer entre as
orações de um período composto: uma relação de coordenação ou Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas principais
uma relação de subordinação. conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verdade, pois (anteposto
Duas orações são coordenadas quando estão juntas em um ao verbo).
mesmo período (ou seja, em um mesmo bloco de informações, - Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo.
marcado pela pontuação final), mas têm, ambas, estruturas - Só fiquei triste por você não ter viajado comigo.
individuais, como é o exemplo de: - Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/oracoes-
(Período Composto)
coordenadas-assindeticas-e-sindeticas/
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar.
Questões sobre Orações Coordenadas
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independentes.
01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplantação
É esse tipo de período que veremos: o Período Composto por
integral de gosto e de estilo” tem valor:
Coordenação. A) conclusivo
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos dois B) adversativo
tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sindéticas. C) concessivo
D) explicativo
Coordenadas Assindéticas E) alternativo
São orações coordenadas entre si e que não são ligadas através 02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A
de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas. oração em destaque é:
a) coordenada explicativa
b) coordenada adversativa
Coordenadas Sindéticas c) coordenada aditiva
d) coordenada conclusiva
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas entre si, e) coordenada assindética
mas que são ligadas através de uma conjunção coordenativa. Esse
caráter vai trazer para esse tipo de oração uma classificação. As
orações coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos: 03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013-adap.) Releia o
aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. seguinte trecho:
Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas principais Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cultura
conjunções são: e, nem, não só... mas também, não só... como, humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
assim... como. Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a norma-
- Não só cantei como também dancei. -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o termo em destaque,
- Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia. o trecho estará corretamente reescrito em:
- Comprei o protetor solar e fui à praia. A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase
principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretanto, toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
porém, no entanto, ainda, assim, senão. prática.

Didatismo e Conhecimento 16
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C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a GABARITO
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como quase toda a 01. B 02. E 03. D 04. E 05. D
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. 06. A 07. B 08. A 09. D
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. RESOLUÇÃO

04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013-adap.) 1-) “Não se verificou, todavia, uma transplantação integral
Em – ...fruto não só do novo acesso da população ao automóvel de gosto e de estilo” = conjunção adversativa, portanto: oração
mas também da necessidade de maior número de viagens... –, os coordenada sindética adversativa
termos em destaque estabelecem relação de
A) explicação. 2-) Estudamos, logo deveremos passar nos exames = a oração
B) oposição. em destaque não é introduzida por conjunção, então: coordenada
C) alternância. assindética
D) conclusão. 3-) Joyce e Mozart são ótimos, mas eles... = conjunção (e
E) adição. ideia) adversativa
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase
05. Analise a oração destacada: Não se desespere, que toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
estaremos a seu lado sempre. prática. = conclusiva
Marque a opção correta quanto à sua classificação: B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase
A) Coordenada sindética aditiva. toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
B) Coordenada sindética alternativa. prática. = conformativa
C) Coordenada sindética conclusiva. C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a
D) Coordenada sindética explicativa. cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
= conclusiva
06. A frase abaixo em que o conectivo E tem valor adversativo E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a
é: cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = explicativa
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. Dica: conjunção pois como explicativa = dá para eu substituir
C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de por porque; como conclusiva: substituo por portanto.
pedir esmola”.
D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da 4-) fruto não só do novo acesso da população ao automóvel
miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”. mas também da necessidade de maior número de viagens...
E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de estabelecem relação de adição de ideias, de fatos
moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
E à educação”. 5-) Não se desespere, que estaremos a seu lado sempre.
= conjunção explicativa (= porque) - coordenada sindética
07. Assinale a alternativa em que o sentido da conjunção explicativa
sublinhada está corretamente indicado entre parênteses.
A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pretende 6-)
trabalhar como advogado. (explicação) A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = mas não ajuda
B) Não fui ao cinema nem assisti ao jogo. (adição) (ideia contrária)
C) Você está preparado para a prova; por isso, não se preocupe. B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. =
(oposição) adição
D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã. C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de
(alternância) pedir esmola”. = adição
E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam toda a D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da
chuva. (conclusão) miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”. = adição
08. Analise sintaticamente as duas orações destacadas E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de
no texto “O assaltante pulou o muro, mas não penetrou na moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
casa, nem assustou seus habitantes.” A seguir, classifique-as, E à educação”. = adição
respectivamente, como coordenadas:
A) adversativa e aditiva. 7-)
B) explicativa e aditiva. A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pretende
C) adversativa e alternativa. trabalhar como advogado. = adversativa
D) aditiva e alternativa. C) Você está preparado para a prova; por isso, não se preocupe.
= conclusão
09. Um livro de receita é um bom presente porque ajuda as D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã.
pessoas que não sabem cozinhar. A palavra “porque” pode ser = explicativa
substituída, sem alteração de sentido, por E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam toda a
A) entretanto. B) então. C) assim. D) pois. E) porém. chuva. = alternativa

Didatismo e Conhecimento 17
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8-) - mas não penetrou na casa = conjunção adversativa 2- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se - Soube-se -
- nem assustou seus habitantes = conjunção aditiva Conta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado - Ficou
provado
9-) Um livro de receita é um bom presente porque ajuda as Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
pessoas que não sabem cozinhar.
= conjunção explicativa: pois 3- Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
importar - ocorrer - acontecer
1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS Convém que não se atrase na entrevista.

A oração subordinada substantiva tem valor de substantivo e Obs.: quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o
vem introduzida, geralmente, por conjunção integrante (que, se). verbo da oração principal está sempre na 3ª. pessoa do singular.
b) Objetiva Direta
Suponho que você foi à biblioteca hoje. A oração subordinada substantiva objetiva direta exerce função
de objeto direto do verbo da oração principal.
Oração Subordinada Substantiva
Todos querem sua aprovação no concurso.
Objeto Direto
Você sabe se o presidente já chegou?
Oração Subordinada Substantiva
Todos querem que você seja aprovado. (= Todos querem
isso)
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também Oração Principal oração Subordinada Substantiva Objetiva
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem como os Direta
advérbios interrogativos (por que, quando, onde, como). Veja os As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
exemplos: desenvolvidas são iniciadas por:
- Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”:
O garoto perguntou qual era o telefone da moça. A professora verificou se todos alunos estavam presentes.
Oração Subordinada Substantiva
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes
Não sabemos por que a vizinha se mudou. regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
Oração Subordinada Substantiva O pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.

Classificação das Orações Subordinadas Substantivas - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes
regidos de preposição), nas interrogações indiretas:
De acordo com a função que exerce no período, a oração Eu não sei por que ela fez isso.
subordinada substantiva pode ser:
c) Objetiva Indireta
a) Subjetiva A oração subordinada substantiva objetiva indireta atua como
É subjetiva quando exerce a função sintática de sujeito do objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de
verbo da oração principal. Observe: preposição.

É fundamental o seu comparecimento à reunião. Meu pai insiste em meu estudo.


Sujeito Objeto Indireto

É fundamental que você compareça à reunião. Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste nisso)
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Subjetiva Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

Atenção: Observe que a oração subordinada substantiva pode Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na
ser substituída pelo pronome “ isso”. Assim, temos um período oração.
simples: Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
É fundamental isso. ou Isso é fundamental. Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

Dessa forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a d) Completiva Nominal


função de sujeito A oração subordinada substantiva completiva nominal
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração completa um nome que pertence à oração principal e também vem
principal: marcada por preposição.
1- Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo: Sentimos orgulho de seu comportamento.
É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É claro - Complemento Nominal
Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa. de que você se comportou. (= Sentimos
orgulho disso.)
Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal

Didatismo e Conhecimento 18
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Lembre-se: as orações subordinadas substantivas objetivas Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações
subordinadas substantivas completivas nominais integram o sentido Quando são introduzidas por um pronome relativo e
de um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário levar em apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as orações
conta o termo complementado. Essa é, aliás, a diferença entre o objeto subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas,
indireto e o complemento nominal: o primeiro complementa um existem as orações subordinadas adjetivas reduzidas, que não
verbo, o segundo, um nome. são introduzidas por pronome relativo (podem ser introduzidas
e) Predicativa por preposição) e apresentam o verbo numa das formas nominais
A oração subordinada substantiva predicativa exerce papel de (infinitivo, gerúndio ou particípio).
predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
depois do verbo ser.
Nosso desejo era sua desistência. Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Predicativo do Sujeito
No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva
Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo era isso) desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome relativo “que”
Oração Subordinada Substantiva Predicativa e apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo.
Obs.: em certos casos, usa-se a preposição expletiva “de” para No segundo, há uma oração subordinada adjetiva reduzida de
realce. Veja o exemplo: A impressão é de que não fui bem na prova. infinitivo: não há pronome relativo e seu verbo está no infinitivo.

f) Apositiva Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas


A oração subordinada substantiva apositiva exerce função de
aposto de algum termo da oração principal. Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam,
Fernanda tinha um grande sonho: a chegada do dia de seu as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas maneiras
casamento. Aposto diferentes. Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do
(Fernanda tinha um grande sonho: isso.) termo a que se referem, individualizando-o. Nessas orações não
há marcação de pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas
Fernanda tinha um grande sonho: que o dia do seu casamento restritivas. Existem também orações que realçam um detalhe
chegasse.
ou amplificam dados sobre o antecedente, que já se encontra
Oração Subordinada Substantiva Apositiva
suficientemente definido, as quais denominam-se subordinadas
2) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS adjetivas explicativas.
Exemplo 1:
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um homem
e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As orações vêm que passava naquele momento.
introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto Oração Subordinada Adjetiva Restritiva
adnominal do antecedente. Observe o exemplo:
Nesse período, observe que a oração em destaque restringe e
Esta foi uma redação bem-sucedida. particulariza o sentido da palavra “homem”: trata-se de um homem
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal) específico, único. A oração limita o universo de homens, isto é, não
se refere a todos os homens, mas sim àquele que estava passando
Note que o substantivo redação foi caracterizado pelo adjetivo naquele momento.
bem-sucedida. Nesse caso, é possível formarmos outra construção, a Exemplo 2:
qual exerce exatamente o mesmo papel. Veja: O homem, que se considera racional, muitas vezes age
animalescamente.
Esta foi uma redação que fez sucesso. Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva
Nesse período, a oração em destaque não tem sentido restritivo
Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e
o termo da oração principal que ela modifica é feita pelo pronome em relação à palavra “homem”; na verdade, essa oração apenas
relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, explicita uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de
o pronome relativo desempenha uma função sintática na oração “homem”.
subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o Saiba que:
antecede. A oração subordinada adjetiva explicativa é separada da
Obs.: para que dois períodos se unam num período composto, oração principal por uma pausa, que, na escrita, é representada
altera-se o modo verbal da segunda oração. pela vírgula. É comum, por isso, que a pontuação seja indicada
como forma de diferenciar as orações explicativas das restritivas;
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o de fato, as explicativas vêm sempre isoladas por vírgulas; as
pronome relativo “que”: ele sempre pode ser substituído por: o qual - restritivas, não.
a qual - os quais - as quais
Refiro-me ao aluno que é estudioso.
Essa oração é equivalente a:
Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Didatismo e Conhecimento 19
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3) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS c) Condição
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce a função Condição é aquilo que se impõe como necessário para a realização
de adjunto adverbial do verbo da oração principal. Dessa forma, ou não de um fato. As orações subordinadas adverbiais condicionais
pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, causa, condição, exprimem o que deve ou não ocorrer para que se realize ou deixe de
hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem introduzida por uma das se realizar o fato expresso na oração principal.
conjunções subordinativas (com exclusão das integrantes). Classifica- Principal conjunção subordinativa condicional: SE
se de acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz. Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que,
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, uma vez que
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. (seguida de verbo no subjuntivo).
Oração Subordinada Adverbial Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, certamente
Observe que a oração em destaque agrega uma circunstância o melhor time será campeão.
de tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adverbial Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o contrato.
temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios que indicam Caso você se case, convide-me para a festa.
uma circunstância referente, via de regra, a um verbo. A classificação
do adjunto adverbial depende da exata compreensão da circunstância d) Concessão
que exprime. Observe os exemplos abaixo: As orações subordinadas adverbiais concessivas indicam
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de minha vida. concessão às ações do verbo da oração principal, isto é, admitem
Quando vi a estátua, senti uma das maiores emoções de minha vida. uma contradição ou um fato inesperado. A ideia de concessão está
No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto adverbial diretamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa.
de tempo, que modifica a forma verbal “senti”. No segundo período, Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA
esse papel é exercido pela oração “Quando vi a estátua”, que é, Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locuções ainda
portanto, uma oração subordinada adverbial temporal. Essa oração que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que.
é desenvolvida, pois é introduzida por uma conjunção subordinativa Só irei se ele for.
(quando) e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” ir só se
pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la, obtendo-se: realizará caso essa condição seja satisfeita. Compare agora com:
Ao ver a estátua, senti uma das maiores emoções de minha vida. Irei mesmo que ele não vá.
A oração em destaque é reduzida, pois apresenta uma das A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei de
formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é introduzida qualquer maneira, independentemente de sua ida. A oração destacada é,
por conjunção subordinativa, mas sim por uma preposição (“a”, portanto, subordinada adverbial concessiva. Observe outros exemplos:
combinada com o artigo “o”). Embora fizesse calor, levei agasalho.
Obs.: a classificação das orações subordinadas adverbiais é feita Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos metade da
do mesmo modo que a classificação dos adjuntos adverbiais. Baseia- população continua à margem do mercado de consumo.
se na circunstância expressa pela oração. Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / embora não
estudasse). (reduzida de infinitivo)
Circunstâncias Expressas
pelas Orações Subordinadas Adverbiais e) Comparação
As orações subordinadas adverbiais comparativas estabelecem
a) Causa uma comparação com a ação indicada pelo verbo da oração principal.
A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que provoca um Principal conjunção subordinativa comparativa: COMO
determinado fato, ao motivo do que se declara na oração principal. “É Ele dorme como um urso.
aquilo ou aquele que determina um acontecimento”. Saiba que: É comum a omissão do verbo nas orações subordinadas
Principal conjunção subordinativa causal: PORQUE adverbiais comparativas. Por exemplo:
Outras conjunções e locuções causais: como (sempre introduzido Agem como crianças. (agem)
na oração anteposta à oração principal), pois, pois que, já que, uma Oração Subordinada Adverbial Comparativa
vez que, visto que. No entanto, quando se comparam ações diferentes, isso não
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte. ocorre. Por exemplo: Ela fala mais do que faz. (comparação do verbo
Como ninguém se interessou pelo projeto, não houve alternativa falar e do verbo fazer).
a não ser cancelá-lo.
Já que você não vai, eu também não vou. f) Conformidade
As orações subordinadas adverbiais conformativas indicam ideia
b) Consequência de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um modelo adotado
As orações subordinadas adverbiais consecutivas exprimem para a execução do que se declara na oração principal.
um fato que é consequência, que é efeito do que se declara na Principal conjunção subordinativa conformativa: CONFORME
oração principal. São introduzidas pelas conjunções e locuções: Outras conjunções conformativas: como, consoante e segundo
que, de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas (todas com o mesmo valor de conforme).
tão...que, tanto...que, tamanho...que. Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE (precedido Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm direitos iguais.
de tal, tanto, tão, tamanho)
É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa dor.) g) Finalidade
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou concretizando-os. As orações subordinadas adverbiais finais indicam a intenção, a
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzida de Infinitivo) finalidade daquilo que se declara na oração principal.

Didatismo e Conhecimento 20
LÍNGUA PORTUGUESA
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE ser a região mais adensada da metrópole. Mas não é o caso. Temos,
Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a locução hoje, um esvaziamento gradual do centro, com deslocamento das
conjuntiva para que. atividades para diversas regiões da cidade.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos. A visão de adensamento com uso abundante de transporte
Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada entrasse. coletivo precisa ser recuperada. Desse modo, será possível reverter
esse processo de uso cada vez mais intenso do transporte individual,
h) Proporção fruto não só do novo acesso da população ao automóvel, mas também
As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem ideia de da necessidade de maior número de viagens em função da distância
proporção, ou seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal. cada vez maior entre os destinos da população.
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À (Henrique Meirelles, Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)
PROPORÇÃO QUE As expressões mais denso e menos trânsito, no título, estabelecem
Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida que, ao entre si uma relação de
passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior), quanto (A) comparação e adição. (B) causa e consequência.
maior...(menor), quanto menor...(maior), quanto menor...(menor), (C) conformidade e negação. (D) hipótese e concessão.
quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), (E) alternância e explicação
quanto menos...(menos).
À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões. 02. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP –
Visito meus amigos à medida que eles me convidam. 2013). No trecho – Tem surtido um efeito positivo por eles se tornarem
Quanto maior for a altura, maior será o tombo. uma referência positiva dentro da unidade, já que cumprem melhor as
regras, respeitam o próximo e pensam melhor nas suas ações, refletem
i) Tempo antes de tomar uma atitude. – o termo em destaque estabelece entre as
As orações subordinadas adverbiais temporais acrescentam uma orações uma relação de
ideia de tempo ao fato expresso na oração principal, podendo exprimir A) condição. B) causa. C) comparação.
noções de simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. D) tempo. E) concessão.
Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
Outras conjunções subordinativas temporais: enquanto, mal e 03. (UFV-MG) As orações subordinadas substantivas que
locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que, antes aparecem nos períodos abaixo são todas subjetivas, exceto:
que, depois que, sempre que, desde que, etc. A) Decidiu-se que o petróleo subiria de preço.
Quando você foi embora, chegaram outros convidados. B) É muito bom que o homem, vez por outra, reflita sobre sua vida.
Sempre que ele vem, ocorrem problemas. C) Ignoras quanto custou meu relógio?
Mal você saiu, ela chegou. D) Perguntou-se ao diretor quando seríamos recebidos.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando terminou a E) Convinha-nos que você estivesse presente à reunião
festa) (Oração Reduzida de Particípio)
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint29.php 04. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
uestões sobre Orações Subordinadas Considere a tirinha em que se vê Honi conversando com seu
Namorado Lute.
01. (Papiloscopista Policial – Vunesp/2013).

Mais denso, menos trânsito


As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em
processo de deterioração agudizado pelo crescimento econômico da
última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura,
mas é importante também considerar o planejamento urbano.
Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de
desconcentração, incentivando a criação de diversos centros
urbanos, na visão de que isso levaria a uma maior facilidade de
deslocamento.
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros e o
aumento das distâncias multiplicam o número de viagens, dificultando
o investimento em transporte coletivo e aumentando a necessidade do
transporte individual.
Se olharmos Los Angeles como a região que levou a
desconcentração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa
região rica como a Califórnia, com enorme investimento viário, temos
engarrafamentos gigantescos que viraram característica da cidade.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado
adensamento e predominância do transporte coletivo, como mostram
Manhattan e Tóquio.
O centro histórico de São Paulo é a região da cidade mais bem
servida de transporte coletivo, com infraestrutura de telecomunicação, (Dik Browne, Folha de S. Paulo, 26.01.2013)
água, eletricidade etc. Como em outras grandes cidades, essa deveria

Didatismo e Conhecimento 21
LÍNGUA PORTUGUESA
É correto afirmar que a expressão contanto que estabelece entre C) finalidade e concessão.
as orações relação de D) proporção e comparação.
A) causa, pois Honi quer ter filhos e não deseja trabalhar depois E) causa e consequência.
de casada.
B) comparação, pois o namorado espera ter sucesso como cantor romântico. 09. “Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem
C) tempo, pois ambos ainda são adolescentes, mas já pensam em casamento. mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo número de
D) condição, pois Lute sabe que exercendo a profissão de músico imigrantes que o Brasil em um ano.” A alternativa que substitui a
provavelmente ganhará pouco. expressão em negrito, sem prejuízo ao conteúdo, é:
E) finalidade, pois Honi espera que seu futuro marido torne-se um A) já que.
artista famoso. B) todavia.
C) ainda que.
05. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – Apesar D) entretanto.
da desconcentração e do aumento da extensão urbana verificados E) talvez.
no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda mais os diversos
centros já existentes... –, sem que tenha seu sentido alterado, o trecho
em destaque está corretamente reescrito em: GABARITO
A) Mesmo com a desconcentração e o aumento da Extensão 01. B 02. B 03. C 04. D 05. A
urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar 06. C 07. D 08. E 09. C
ainda mais os diversos centros já existentes...
B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumento da RESOLUÇÃO
extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda 1-) mais denso e menos trânsito = mais denso, consequentemente,
mais os diversos centros já existentes... menos trânsito, então: causa e consequência
C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento da
extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda 2-) já que cumprem melhor as regras = estabelece entre as
mais os diversos centros já existentes... orações uma relação de causa com a consequência de “tem um efeito
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão positivo”.
urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar 3-) Ignoras quanto custou meu relógio? = oração subordinada
ainda mais os diversos centros já existentes... substantiva objetiva direta
E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da A oração não atende aos requisitos de tais orações, ou seja, não
extensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e se inicia com verbo de ligação, tampouco pelos verbos “convir”,
adensar ainda mais os diversos centros já existentes... “parecer”, “importar”, “constar” etc., e também não inicia com as
conjunções integrantes “que” e “se”.
06. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – É
fundamental que essa visão de adensamento com uso abundante de 4-) a expressão contanto que estabelece uma relação de condição
transporte coletivo seja recuperada para que possamos reverter esse (condicional)
processo de uso… –, a expressão em destaque estabelece entre as
orações relação de 5-) Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urbana
A) consequência. verificados no Brasil = conjunção concessiva
B) condição. B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumento da
C) finalidade. extensão urbana no Brasil, = causal
D) causa. C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento da
E) concessão. extensão urbana no Brasil = comparativa
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão
07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013 – adap.). Considere urbana verificados no Brasil = causal
o trecho: “Como as músicas eram de protesto, naquele mesmo ano E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da
foi enquadrado na lei de segurança nacional pela ditadura militar e extensão urbana verificados no Brasil = consecutivas
exilado.” O termo Como, em destaque na primeira parte do enunciado,
expressa ideia de 6-) para que possamos = conjunção final (finalidade)
A) contraste e tem sentido equivalente a porém.
B) concessão e tem sentido equivalente a mesmo que. 7-) “Como as músicas eram de protesto = expressa ideia de
C) conformidade e tem sentido equivalente a conforme. causa da consequência “foi enquadrado” = causa e tem sentido
D) causa e tem sentido equivalente a visto que. equivalente a visto que.
E) finalidade e tem sentido equivalente a para que. 8-) com tanto orgulho que chega a contaminar-me. – a
construção estabelece uma relação de causa e consequência. (a
08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Públicas – causa da “contaminação” – consequência)
VUNESP – 2013-adap.) No trecho – “Fio, disjuntor, tomada, tudo!”,
insiste o motorista, com tanto orgulho que chega a contaminar- 9-) Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem
me. –, a construção tanto ... que estabelece entre as construções mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo número
[com tanto orgulho] e [que chega a contaminar-me] uma relação de de imigrantes que o Brasil em um ano.” = conjunção concessiva:
A) condição e finalidade. ainda que
B) conformidade e proporção.

Didatismo e Conhecimento 22
CONHECIMENTOS
CONTEXTUAIS
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Diferentemente da perspectiva dominante, para a classe tra-
CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO, balhadora a “educação é, antes de mais nada, desenvolvimento de
potencialidades e apropriação de ‘saber social’ (conjunto de co-
ENSINO E APRENDIZAGEM.
nhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos
pelas classes, em uma situação histórica dada de relações, para dar
conta de seus interesses e necessidades)”, objetivando a formação
integral do homem, ou seja, o desenvolvimento físico, político,
social, cultural, filosófico, profissional, afetivo, entre outros.
FUNÇÃO SOCIOCULTURAL DA EDUCAÇÃO E DA Nessa ótica, a concepção de educação que estamos preconi-
ESCOLA zando fundamenta-se numa perspectiva crítica que conceba o ho-
mem na sua totalidade, enquanto ser constituído pelo biológico,
Neste texto de Oliveira, Moraes e Dourado, vamos discutir material, afetivo, estético e lúdico. Portanto, no desenvolvimento
a função social da educação e da escola no processo de formação das práticas educacionais, precisamos ter em mente que os sujeitos
dos homens como sujeitos históricos, enfatizando o papel da orga- dos processos educativos são os homens e suas múltiplas e histó-
nização escolar como instituição criada por esses sujeitos e seus ricas necessidades.
desdobramentos na organização da sociedade. Nesse sentido, co- Considerando os sujeitos históricos, o projeto de educação
meçaremos discutindo a concepção e a função da educação como a ser desenvolvido nas nossas escolas tem que estar pautado na
uma construção histórica. realidade, visando a sua transformação, pois se compreende que
Nas comunidades primitivas, os fins da educação derivam da a realidade não é algo pronto e acabado. Não se trata, no entanto,
estrutura homogênea do ambiente social, identificam-se como os de atribuir à escola nenhuma função salvacionista, mas reconhecer
interesses comuns do grupo, e se realizam igualitariamente em to- seu incontestável papel social no desenvolvimento de processos
dos os seus membros, de modo espontâneo e integral: espontâneo
educativos, na sistematização e socialização da cultura historica-
na medida em que não existe nenhuma instituição destinada a in-
mente produzida pelos homens.
culcá-los, integral no sentido que cada membro da tribo incorpo-
rava mais ou menos bem tudo o que na referida comunidade era
A educação e sua função social
possível receber e elaborar.
Com as mudanças da vida em sociedade, do próprio homem e
Ao discutirmos a função social da educação e da escola, es-
com a transição da comunidade primitiva para a antiguidade, no-
tamos entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja,
vas formas de organização vão surgindo, sobretudo com a substi-
tuição da propriedade comum pela propriedade privada. A relação enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os ho-
entre os homens, que na sociedade primitiva se fundamentava na mens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movimentos
propriedade coletiva, passa a ser privada e o que rege as relações sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações.
é o poder do homem, que se impõe aos demais. Assim, com o de- O homem, no processo de transformação da natureza, instaura
saparecimento dos interesses comuns a todos os membros iguais leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria es-
de um grupo e a sua substituição por interesses distintos, pouco a truturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à me-
pouco antagônicos, o processo educativo, que até então era único, dida que se vai constituindo em locus de formação humana. Nesse
sofreu uma partição: a desigualdade econômica entre os ‘organi- sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justifica e se
zadores’ e os ‘executores’ trouxe, necessariamente, a desigualdade legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade para a qual
das educações respectivas. foi criada.
Nesse sentido, os ideais educacionais nessa nova forma de or- Assim, a escola, no desempenho de sua função social de for-
ganização da sociedade não são mais os mesmos para todos, tendo madora de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabili-
em vista que não só a classe dominante tem ideais substancialmen- dade que possibilite a construção e a socialização do conhecimento
te distintos dos da classe dominada, como também tenta fazer com produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado a
que a classe trabalhadora aceite essa desigualdade educacional priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como
como desigualdade natural, sendo, assim, inútil lutar contra ela. processo em construção.
Com o advento da sociedade capitalista e com o aperfeiçoa- A educação, como prática social que se desenvolve nas re-
mento da maquinaria, muda não só a forma de organização da so- lações estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras
ciedade, mas também as relações sociais de produção, a concepção esferas da vida social, se caracteriza como campo social de disputa
de homem, de trabalho e de educação. hegemônica, disputa essa que se dá “na perspectiva de articular as
Na sociedade organizada sob o modo de produção capitalista, concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educa-
o homem não é aquele ser histórico que se humaniza nas relações tivos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida
que estabelece com outros homens, mas resume-se ao indivíduo social, aos interesses de classes”. Assim, a educação se constitui
que vende a sua força de trabalho e, ao vendê-la, transforma-se em numa atividade humana e histórica que se define na totalidade das
fator de produção. relações sociais.
A educação, segundo a ótica dominante, tem como finalidade Nessa ótica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes
habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de esferas da vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em
trabalhadores, para servir ao mundo do trabalho. Segundo Frigot- processos educativos, assim como os processos educativos desen-
to, “trata-se de subordinar a função social da educação de forma volvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde que
controlada para responder às demandas do capital”. este seja entendido como ação e criação humanas.

Didatismo e Conhecimento 1
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Contudo, na forma como se opera o modo de produção ca- ENSINO E APRENDIZAGEM
pitalista, a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é
compreendida a partir de diversos fatores que interagem entre si e A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre durante
se sobrepõem de forma isolada. toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra infância até a mais
Nessa perspectiva, “a educação e a formação humana terão avançada velhice. Normalmente uma criança deve aprender a andar
como sujeito definidor as necessidades, as demandas do processo e a falar; depois a ler e escrever, aprendizagens básicas para atingir
de acumulação de capital sob as diferentes formas históricas de a cidadania e a participação ativa na sociedade. Já os adultos pre-
sociabilidade que assumem”, e não o desenvolvimento de poten- cisam aprender habilidades ligadas a algum tipo de trabalho que
cialidades e a apropriação dos conhecimentos culturais, políticos, lhes forneça a satisfação das suas necessidades básicas, algo que
filosóficos, historicamente produzidos pelos homens. lhes garanta o sustento. As pessoas idosas embora nossa sociedade
Segundo Frigotto (1999), a escola é uma instituição social seja reticente quanto às suas capacidades de aprendizagem podem
que, mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores, continuar aprendendo coisas complexas como um novo idioma ou
atitudes e, mesmo por sua desqualificação, articula determinados ainda cursar uma faculdade e virem a exercer uma nova profissão.
interesses e desarticula outros. Nessa contradição existente no seu O desenvolvimento geral do indivíduo será resultado de suas
interior, está a possibilidade da mudança, haja vista as lutas que potencialidades genéticas e, sobretudo, das habilidades aprendidas
aí são travadas. Portanto, pensar a função social da escola implica durante as várias fases da vida. A aprendizagem está diretamente
repensar o seu próprio papel, sua organização e os atores que a relacionada com o desenvolvimento cognitivo.
compõem. As passagens pelos estágios da vida são marcadas por cons-
Para Petitat (1994), a escola contribui para a reprodução da tante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, diz a sabedoria po-
ordem social. No entanto, ela também participa de sua transforma- pular. Assim, os indivíduos tendem a melhorar suas realizações
ção, às vezes intencionalmente. Outras vezes, as mudanças se dão, nas tarefas que a vida lhes impõe. A aprendizagem permite ao
apesar da escola. sujeito compreender melhor as coisas que estão à sua volta, seus
Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os pais de companheiros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se
alunos e a comunidade em geral precisam entender que a escola é ao seu ambiente físico e social.
um espaço contraditório e, portanto, se torna fundamental que ela A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um autênti-
construa seu Projeto Políticopedagógico. Cabe ressaltar, nessa di- co representante da abordagem cognitiva, traz contribuições sig-
reção, que qualquer ato pedagógico é um ato dotado de sentido e se nificativas ao processo ensino-aprendizagem, principalmente à
vincula a determinadas concepções (autoritárias ou democráticas), aprendizagem desenvolvida nas escolas. Sendo uma teoria cogni-
que podem estar explícitas ou não. tiva, apresenta a preocupação com os processos centrais do pen-
Assim, pensar a função social da educação e da escola implica samento, como organização do conhecimento, processamento de
problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a informação, raciocínio e tomada de decisão. Considera a aprendi-
escola que queremos. Nesse processo, a articulação entre os di- zagem como um processo interno, mediado cognitivamente, mais
versos segmentos que compõem a escola e a criação de espaços e do que como um produto direto do ambiente, de fatores externos
mecanismos de participação são prerrogativas fundamentais para ao aprendiz. Apresenta-se como o principal defensor do método de
o exercício do jogo democrático, na construção de um processo de aprendizagem por descoberta (insight).
gestão democrática. A teoria de Bruner apresenta muitos pontos semelhantes às
Como você pode perceber, as discussões feitas no decorrer do teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner considera a existência de
texto giraram em torno da administração/gestão escolar. A gestão estágios durante o desenvolvimento cognitivo e propõe explica-
aqui foi entendida no sentido amplo, não apenas como gestão de ções similares às de Piaget, quanto ao processo de aprendizagem.
processos administrativos, mas como gestão de processos político- Atribui importância ao modo como o material a ser aprendido é
pedagógicos, envolvendo os diversos momentos de participação e disposto, assim como Gestalt, valorizando o conceito de estrutura
de estruturação da unidade escolar. e arranjos de ideias. “Aproveitar o potencial que o indivíduo traz
Nessa concepção de gestão, a função do dirigente escolar não e valorizar a curiosidade natural da criança são princípios que de-
se restringe ao desenvolvimento das atividades burocráticas e à vem ser observados pelo educador”.
organização do trabalho na escola. A escola não deve perder de vista que a aprendizagem de um
Pauta-se, sim, em ações colegiadas, articuladas com os atores novo conceito envolve a interação com o já aprendido. Portanto,
sociais que a compõem. as experiências e vivências que o aluno traz consigo favorecem
novas aprendizagens. Bruner chama a atenção para o fato de que
Referências: as matérias ou disciplinas tais como estão organizadas nos cur-
OLIVEIRA, J. F. de; MORAES, K. N. de; DOURADO, L. F. rículos, constituem-se muitas vezes divisões artificiais do saber.
Função social da educação e da escola. Políticas de Gestão. Por isso, várias disciplinas possuem princípios comuns sem que
Disponível em: http://escoladegestores.mec.gov.br/site/4-sa- os alunos – e algumas vezes os próprios professores – analisem tal
la_politica_gestao_escolar/pdf/saibamais_8.pdf fato, tornando o ensino uma repetição sem sentido, em que apenas
respondem a comandos arbitrários, Bruner propõe o ensino pela
descoberta. O método da descoberta não só ensina a criança a re-
solver problemas da vida prática, como também garante a ela uma
compreensão da estrutura fundamental do conhecimento, possibi-
litando assim economia no uso da memória, e a transferência da
aprendizagem no sentido mais amplo e total.

Didatismo e Conhecimento 2
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é que a crian- De modo geral, no meio escolar, quando se faz referência a
ça aprenda a aprender corretamente, ainda que “corretamente” planejamento do ensino – aprendizagem, este se reduz ao processo
assuma, na prática, sentidos diferentes para as diferentes faixas através do qual são definidos os objetivos, o conteúdo programáti-
etárias. Para que se garanta uma aprendizagem correta, o ensino co, os procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemáti-
deverá assegurar a aquisição e permanência do aprendido (memo- ca de avaliação da aprendizagem, bem como a bibliografia básica
rização), de forma a facilitar a aprendizagem subsequente (trans- a ser consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina de
ferência). Este é um método não estruturado, portanto o professor estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento adotado pela
deve estar preparado para lidar com perguntas e situações diversas. maioria dos professores e que passou a ser valorizado apenas em
O professor deve conhecer a fundo os conteúdos a serem tratados. sua dimensão técnica.
Deve estar apto a conhecer respostas corretas e reconhecer quando Em nosso entendimento a escola faz parte de um contexto que
e porque as respostas alternativas estão erradas. Também necessita engloba a sociedade, sua organização, sua estrutura, sua cultura e
saber esperar que os alunos cheguem à descoberta, sem apressa- sua história. Desse modo, qualquer projeto de ensino – aprendiza-
-los, mas garantindo a execução de um programa mínimo. Deve gem está ligado a este contexto e ao modo de cultura que orienta
também ter cuidado para não promover um clima competitivo que um modelo de homem e de mulher que pretendemos formar, para
gere, ansiedade e impeça alguns alunos de aprender. responder aos desafios desta sociedade. Por esta razão, pensamos
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. Ausubel que é de fundamental importância que os professores saibam que
(1980) caracteriza-se como um modelo cognitivo que apresenta tipo de ser humano pretendem formar para esta sociedade, pois
peculiaridades bastante interessantes para os professores, pois disto depende, em grande parte, as escolhas que fazemos pelos
centraliza-se, primordialmente, no processo de aprendizagem tal conteúdos que ensinamos, pela metodologia que optamos e pelas
como ocorre em sala de aula. Para Ausubel, aprendizagem signi- atitudes que assumimos diante dos alunos. De certo modo esta
fica organização e integração do material aprendido na estrutura visão limitada ou potencializada o processo ensino-aprendizagem
cognitiva, estrutura esta na qual essa organização e integração se não depende das políticas públicas em curso, mas do projeto de
processam. formação cultural que possui o corpo docente e seu compromisso
Psicólogos e educadores têm demonstrado uma crescente com objeto de estudo.
preocupação com o modo como o indivíduo aprende e, desde Pia- Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem constitui-se,
get, questões do tipo: “Como surge o conhecer no ser humano? ao longo prazo, num projeto de formação humana, propomos que
Como o ser humano aprende? O conhecimento na escola é diferen-
esta formação seja orientada por um processo de autonomia que
te do conhecimento da vida diária? O que é mais fácil esquecer?”
ocorra pela produção autônoma do conhecimento, como forma de
atravessaram as investigações científicas. Assim, deve interessar
promover a democratização dos saberes e como modo de elaborar
à escola saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu
a crítica da realidade existente.
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a questão
Isto quer dizer que só há crítica se houver produção autônoma
fundamental da educação formal.
do conhecimento elaborado através de uma prática efetiva da pes-
A psicologia cognitiva preocupa responder estas questões es-
quisa. Entendemos que é pela prática da pesquisa que exercitamos
tudando o dinamismo da consciência. A aprendizagem é, portanto,
a reflexão sobre a realidade como forma de sistematizar metodo-
a mudança que se preocupa com o eu interior ao passar de um es-
tado inicial a um estado final. Implica normalmente uma interação logicamente nosso olhar sobre o mundo para podermos agir sobre
do indivíduo com o meio, captando e processando os estímulos os problemas. Isto quer dizer que não pesquisamos por pesquisar
selecionados. e nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto à pesquisa
O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão bem mais são meios pelos quais podemos agir como sujeitos transforma-
abrangente do que o espaço restrito do professor na sala de aula ou dores da realidade social. Isto indica que nosso trabalho, como
às atividades desenvolvidas pelos alunos. Tanto o professor quanto professores, é o de ensinar a aprender para que o conhecimento
o aluno e a escola encontram-se em contextos mais globais que construído pela aprendizagem seja um poderoso instrumento de
interferem no processo educativo e precisam ser levados em consi- combate às formas de injustiças que se reproduzem no interior da
deração na elaboração e execução do ensino. sociedade.
Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: uma vi- Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para compreender-
são de mundo (incluídos aqui os conteúdos da aprendizagem) e mos melhor o processo em que se vivencia a construção do conhe-
planejamento das ações (entendido como um processo de raciona- cimento no indivíduo.
lização do ensino). A prática de planejamento do ensino tem sido Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o desenvolvi-
questionada quanto a sua validade como instrumento de melhoria mento mental e sobre o processo de construção do conhecimento,
qualitativa no processo de ensino como o trabalho do professor: que são adaptação, assimilação e acomodação.
[...] a vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado si- Piaget diz que o indivíduo está constantemente interagindo
tuações bastante questionáveis neste sentido. Percebe-se, de início, com o meio ambiente. Dessa interação resulta uma mudança con-
que os objetivos educacionais propostos nos currículos dos cursos tínua, que chamamos de adaptação. Com sentido análogo ao da
apresentam confusos e desvinculados da realidade social. Os con- Biologia, emprega a palavra adaptação para designar o processo
teúdos a serem trabalhados, por sua vez, são definidos de forma que ocasiona uma mudança contínua no indivíduo, decorrente de
autoritária, pois os professores, via re regra, não participam dessa sua constante interação com o meio.
tarefa. Nessas condições, tendem a mostrar-se sem elos significa- Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subprocessos:
tivos com as experiências de vida dos alunos, seus interesses e assimilação e acomodação. A assimilação está relacionada à apro-
necessidades. priação de conhecimentos e habilidade. O processo de assimila-

Didatismo e Conhecimento 3
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
ção é um dos conceitos fundamentais da teoria da instrução e do toda a natureza, porém de modo transformador, o que tanto lhe
ensino. Permite-nos entender que o ato de aprender é um ato de atesta quanto lhe confere liberdade e universalidade. Desta forma,
conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os fatos, fenô- produz conhecimentos que, sistematizados sob o crivo social e por
menos e relações do mundo, da natureza e da sociedade, através do um processo histórico, constitui a ciência. Nesses termos, com-
estudo das matérias de ensino. Nesse sentido, podemos dizer que a preende-se o conhecimento como uma produção do pensamento
aprendizagem é uma relação cognitiva entre o sujeito e os objetos pela qual se apreende e se representam as relações que constituem
de conhecimento. e estruturam a realidade. Apreender e determinar essas relações
A acomodação é que ajuda na reorganização e na modificação exige um método, que parte do concreto empírico – forma como a
dos esquemas assimilatórios anteriores do indivíduo para ajustá- realidade se manifesta – e, mediante uma determinação mais pre-
-los a cada nova experiência, acomodando-as às estruturas mentais cisa através da análise, chega a relações gerais que são determi-
já existentes. Portanto, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação nantes do fenômeno estudado. A compreensão do real como tota-
e acomodação, e acarreta uma mudança no indivíduo. lidade exige que se conheçam as partes e as relações entre elas, o
A inteligência desempenha uma função adaptativa, pois é que nos leva a constituir seções tematizadas da realidade. Quando
através dela que o indivíduo coleta as informações do meio e as essas relações são “arrancadas” de seu contexto originário e orde-
reorganiza, de forma a compreender melhor a realidade em que nadas, tem-se a teoria. A teoria, então, é o real elevado ao plano do
vive, nela agi, transformando. Para Piaget (1969), a inteligência pensamento. Sendo assim, qualquer fenômeno que sempre existiu
é adaptação na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento como força natural só se constitui em conhecimento quando o
mental, em sua organização progressiva, é uma forma de adapta- ser humano dela se apropria tornando-a força produtiva para si.
ção sempre mais precisa à realidade. É preciso ter sempre em men- Por exemplo, a descarga elétrica, os raios, a eletricidade estática
te que Piaget usa a palavra adaptação no sentido em que é usado como fenômenos naturais sempre existiram, mas não são conheci-
pela Biologia, ou seja, uma modificação que ocorre no indivíduo mentos enquanto o ser humano não se apropria desses fenômenos
em decorrência de sua interação com o meio. conceitualmente, formulando teorias que potencializam o avanço
Portanto, é no processo de construção do conhecimento e na das forças produtivas.
aquisição de saberes que devemos fazer com que o aluno seja mo- A ciência, portanto, que pode ser conceituada como conjun-
tivado a desenvolver sua aprendizagem e ao mesmo tempo superar to de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao
as dificuldades que sentem em assimilar o conhecimento adquiri- longo da história, na busca da compreensão e transformação da
do. natureza e da sociedade, se expressa na forma de conceitos repre-
sentativos das relações de forças determinadas e apreendidas da
Referência:
realidade. O conhecimento de uma seção da realidade concreta ou
MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento e
a realidade concreta tematizada constitui os campos da ciência,
Aprendizagem: Processo de construção do conhecimento e desen-
que são as disciplinas científicas. Conhecimentos assim produzi-
volvimento mental do indivíduo. Disponível em: http://portal.mec.
dos e legitimados socialmente ao longo da história são resultados
gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_desenvolvimento.pdf
de um processo empreendido pela humanidade na busca da com-
preensão e transformação dos fenômenos naturais e sociais. Nesse
sentido, a ciência conforma conceitos e métodos cuja objetividade
permite a transmissão para diferentes gerações, ao mesmo tempo
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
em que podem ser questionados e superados historicamente, no
CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO E movimento permanente de construção de novos conhecimentos.
CULTURAL COMO UM PROCESSO A extensão das capacidades humanas, mediante a apropriação de
SÓCIO-HISTÓRICO. conhecimentos como força produtiva, sintetiza o conceito de tec-
nologia aqui expresso. Pode ser conceituada como transforma-
ção da ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento
científico e a produção, marcada desde sua origem pelas relações
TRABALHO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E CULTURA: sociais que a levaram a ser produzida. O desenvolvimento da tec-
DIMENSÕES DA FORMAÇÃO HUMANA nologia visa à satisfação de necessidades que a humanidade se
coloca, o que nos leva a perceber que a tecnologia é uma exten-
O trabalho é conceituado, na sua perspectiva ontológica de são das capacidades humanas. A partir do nascimento da ciên-
transformação da natureza, como realização inerente ao ser hu- cia moderna, pode-se definir a tecnologia, então, como media-
mano e como mediação no processo de produção da sua existên- ção entre conhecimento científico (apreensão e desvelamento do
cia. Essa dimensão do trabalho é, assim, o ponto de partida para real) e produção (intervenção no real). Entende-se cultura como
a produção de conhecimentos e de cultura pelos grupos sociais. o resultado do esforço coletivo tendo em vista conservar a vida
O caráter teleológico da intervenção humana sobre o meio mate- humana e consolidar uma organização produtiva da sociedade, do
rial, isto é, a capacidade de ter consciência de suas necessidades e qual resulta a produção de expressões materiais, símbolos, repre-
de projetar meios para satisfazê-las, diferencia o ser humano dos sentações e significados que correspondem a valores éticos e es-
outros animais, uma vez que estes não distinguem a sua atividade téticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade. Por
vital de si mesmos, enquanto o homem faz da sua atividade vital essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida no seu sentido
um objeto de sua vontade e consciência. Os animais podem repro- mais ampliado possível, ou seja, como a articulação entre o con-
duzir, mas o fazem somente para si mesmos; o homem reproduz junto de representações e comportamentos e o processo dinâmico

Didatismo e Conhecimento 4
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
de socialização, constituindo o modo de vida de uma população comercial, de 1943; c) Leis orgânicas do ensino primário, de 1946.
determinada. Uma formação integral, portanto, não somente pos- Nas leis orgânicas firmou-se o objetivo do ensino secundário de
sibilita o acesso a conhecimentos científicos, mas também promo- formar as elites condutoras do país, a par do ensino profissional,
ve a reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem este mais voltado para as necessidades emergentes da economia
normas de conduta de um grupo social, assim como a apropriação industrial e da sociedade urbana.
de referências e tendências que se manifestam em tempos e espa- Nessa reforma, o ensino secundário mantinha dois ciclos: o
ços históricos, os quais expressam concepções, problemas, crises e primeiro correspondia ao curso ginasial, com duração de 4 anos,
potenciais de uma sociedade, que se vê traduzida e/ou questionada destinado a fundamentos; o segundo correspondia aos cursos clás-
nas suas manifestações. sico e científico, com duração de 3 anos, com o objetivo de conso-
Assim, evidencia-se a unicidade entre as dimensões científi- lidar a educação ministrada no ginasial. O ensino secundário, de
co-tecnológico-cultural, a partir da compreensão do trabalho em um lado, e o ensino profissional, de outro, não se comunicavam
seu sentido ontológico. O princípio da unidade entre pensamento nem propiciavam circulação de estudos, o que veio a ocorrer na
e ação é correlato à busca intencional da convergência entre teo- década seguinte.
ria e prática na ação humana. A relação entre teoria e prática se Em 1950, a equivalência entre os estudos acadêmicos e os
impõe, assim, não apenas como princípio metodológico inerente profissionais foi uma mudança decisiva, comunicando os dois ti-
ao ato de planejar as ações, mas, fundamentalmente, como prin- pos de ensino. A Lei Federal nº 1.076/50 permitiu que concluintes
cípio epistemológico, isto é, princípio orientador do modo como de cursos profissionais ingressassem em cursos superiores, desde
se compreende a ação humana de conhecer uma determinada rea- que comprovassem nível de conhecimento indispensável à reali-
lidade e intervir sobre ela no sentido de transformá-la. A unidade zação dos aludidos estudos. Na década seguinte, sobreveio a ple-
entre pensamento e ação está na base da capacidade humana de na equivalência entre os cursos, com a equiparação, para todos os
produzir sua existência. É na atividade orientada pela mediação efeitos, do ensino profissional ao ensino propedêutico, efetivada
entre pensamento e ação que se produzem as mais diversas prá- pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
ticas que compõem a produção de nossa vida material e imate- nº 4.024/61).
rial: o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. Por essa razão Novo momento decisivo ocorreu dez anos depois, com a pro-
trabalho, ciência, tecnologia e cultura são instituídos como base mulgação da Lei n° 5.692/71, que reformou a Lei nº 4.024/61, no
que se refere ao, então, ensino de 1º e de 2º graus. Note-se que
da proposta e do desenvolvimento curricular no Ensino Médio de
ocorreu aqui uma transposição do antigo ginasial, até então consi-
modo a inserir o contexto escolar no diálogo permanente com a
derado como fase inicial do ensino secundário, para constituir-se
necessidade de compreensão de que estes campos não se produ-
na fase final do 1º grau de oito anos.
zem independentemente da sociedade, e possuem a marca da sua
Para o 2º grau (correspondente ao atual Ensino Médio), a pro-
condição histórico-cultural.
fissionalização torna-se obrigatória, supostamente para eliminar
o dualismo entre uma formação clássica e científica, preparadora
Fonte: Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação
para os estudos superiores e, outra, profissional (industrial, comer-
Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. cial e agrícola), além do Curso Normal, destinado à formação de
Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, professores para a primeira fase do 1º grau. A implantação gene-
DICEI, 2013. ralizada da habilitação profissional trouxe, entre seus efeitos, so-
bretudo para o ensino público, a perda de identidade que o 2º grau
passara a ter, seja a propedêutica para o ensino superior, seja a
O ENSINO MÉDIO NO CONTEXTO DA de terminalidade profissional. Passada uma década, foi editada a
Lei nº 7.044/82, tornando facultativa essa profissionalização no 2º
EDUCAÇÃO BÁSICA. grau.
O mais novo momento decisivo veio com a atual lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei Federal nº
9.394/96, que ainda vem recebendo sucessivas alterações e acrés-
O Ensino Médio no Brasil cimos. A LDB define o Ensino Médio como uma etapa do nível
denominado Educação Básica, constituído pela Educação Infantil,
Em uma perspectiva histórica (UNESCO, 2009), verifica-se pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino Médio, sendo este sua eta-
que foi a reforma educacional conhecida pelo nome do Minis- pa final.
tro Francisco Campos, que regulamentou e organizou o ensino Das alterações ocorridas na LDB, destacam-se, aqui, as trazi-
secundário, além do ensino profissional e comercial (Decreto n° das pela Lei nº 11.741/2008, a qual redimensionou, institucionali-
18.890/31) que estabeleceu a modernização do ensino secundário zou e integrou as ações da Educação Profissional Técnica de Nível
nacional. Médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profis-
Apesar de modernizadora, essa reforma não rompeu com a sional e Tecnológica. Foram alterados os artigos 37, 39, 41 e 42, e
tradição de uma educação voltada para as elites e setores emergen- acrescido o Capítulo II do Título V com a Seção IV-A, denomina-
tes da classe média, pois foi concebida para conduzir seus estudan- da “Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio”, e com os
tes para o ingresso nos cursos superiores. artigos 36-A, 36-B, 36-C e 36-D. Esta lei incorporou o essencial
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, foi do Decreto nº 5.154/2004, sobretudo, revalorizando a possibilida-
instituído o conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional, de do Ensino Médio integrado com a Educação Profissional Téc-
que configuraram a denominada Reforma Capanema: a) Lei or- nica, contrariamente ao que o Decreto nº 2.208/97 anteriormente
gânica do ensino secundário, de 1942; b) Lei orgânica do ensino havia disposto.

Didatismo e Conhecimento 5
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
A LDB define como finalidades do Ensino Médio a prepara- Função do Ensino Médio no marco legal
ção para a continuidade dos estudos, a preparação básica para o
trabalho e o exercício da cidadania. Determina, ainda, uma base A Lei nº 9.394/96 (LDB), define que a educação escolar brasi-
nacional comum e uma parte diversificada para a organização do leira está constituída em dois níveis:
currículo escolar. Educação Básica (formada pela Educação Infantil, o Ensino
Na sequência, foram formuladas as Diretrizes Curriculares Na- Fundamental e o Ensino Médio) e Educação Superior. A Educação
cionais para o Ensino Médio, em 1998, que destacam que as ações Básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe
administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e das escolas a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
devem ser coerentes com princípios estéticos, políticos e éticos, fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos pos-
abrangendo a estética da sensibilidade, a política da igualdade e teriores.
a ética da identidade. Afirmam que as propostas pedagógicas de- Cury considera o conceito de Educação Básica definido na
vem ser orientadas por competências básicas, conteúdos e formas LDB um conceito novo e esclarece:
de tratamento dos conteúdos previstos pelas finalidades do Ensino A Educação Básica é um conceito mais do que inovador para
Médio. Os princípios pedagógicos da identidade, diversidade e au- um país que por séculos, negou, de modo elitista e seletivo, a seus
tonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização são adota- cidadãos o direito ao conhecimento pela ação sistemática da orga-
dos como estruturadores dos currículos. A base nacional comum nização escolar.
organiza-se, a partir de então, em três áreas de conhecimento: Lin- Resulta daí que a Educação Infantil é a base da Educação Bá-
guagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Mate- sica, o Ensino Fundamental é o seu tronco e o Ensino Médio é seu
mática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias. acabamento, e é de uma visão do todo como base que se pode ter
Mesmo considerando o tratamento dado ao trabalho didático- uma visão consequente das partes.
-pedagógico, com as possibilidades de organização do Ensino Mé- A Educação Básica torna-se, dentro do art. 4º da LDB, um
dio, tem-se a percepção que tal discussão não chegou às escolas, direito do cidadão à educação e um dever do Estado em atendê-lo
mantendo-se atenção extrema no tratamento de conteúdos sem a mediante oferta qualificada. E tal o é por ser indispensável, como
articulação com o contexto do estudante e com os demais com- direito social, a participação ativa e crítica do sujeito, dos grupos a
ponentes das áreas de conhecimento e sem aproximar-se das fina- que ele pertença, na definição de uma sociedade justa e democrá-
lidades propostas para a etapa de ensino, constantes na LDB. Foi tica. A LDB estabelece, portanto, que o Ensino Médio é etapa que
observado em estudo promovido pela UNESCO, que incluiu estu- completa a Educação Básica (art. 35), definindo-a como a conclu-
dos de caso em dois Estados, que os ditames legais e normativos são de um período de escolarização de caráter geral.
e as concepções teóricas, mesmo quando assumidas pelos órgãos Trata-se de reconhecê-lo como parte de um nível de escolari-
centrais de uma Secretaria Estadual de Educação, têm fraca resso- zação que tem por finalidade o desenvolvimento do indivíduo, as-
nância nas escolas e, até, pouca ou nenhuma, na atuação dos profes- segurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício
sores (UNESCO, 2009).O Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e a Reso- da cidadania, fornecendo-lhe os meios para progredir no trabalho
lução CNE/CEB nº 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares e em estudos posteriores (art. 22). Segundo Saviani, a educação
Nacionais Gerais para Educação Básica, especificamente quanto ao integral do homem, a qual deve cobrir todo o período da Educação
Ensino Médio, reiteram que é etapa final do processo formativo da Básica que vai do nascimento, com as creches, passa pela Educa-
Educação Básica e indicam que deve ter uma base unitária sobre a ção Infantil, o Ensino Fundamental e se completa com a conclusão
qual podem se assentar possibilidades diversas. do Ensino Médio por volta dos dezessete anos, é uma educação de
A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma ló- caráter desinteressado que, além do conhecimento da natureza e da
gica que se dirige, predominantemente, aos jovens, considerando cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e das
suas singularidades, que se situam em um tempo determinado. pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem outro objetivo senão
Os sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, com o de relacionar-se com elas.
diferentes alternativas, para que os jovens tenham a oportunidade Ainda, segundo Cury, do ponto de vista legal, o Ensino Médio
de escolher o percurso formativo que atenda seus interesses, neces- não é nem porta para a Educação Superior e nem chave para o
sidades e aspirações, para que se assegure a permanência dos jo- mercado de trabalho, embora seja requisito tanto para a graduação
vens na escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica. superior quanto para a profissionalização técnica.
Pesquisas realizadas com estudantes mostram a necessidade de No contexto desta temática, consideram-se, na LDB, os ar-
essa etapa educacional adotar procedimentos que guardem maior tigos 2º e 35. Um explicita os deveres, os princípios e os fins da
relação com o projeto de vida dos estudantes como forma de am- educação brasileira; o outro trata das finalidades do Ensino Médio.
pliação da permanência e do sucesso dos mesmos na escola. Diz o art. 2º:
Estas Diretrizes orientam-se no sentido do oferecimento de A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos prin-
uma formação humana integral, evitando a orientação limitada da cípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
preparação para o vestibular e patrocinando um sonho de futuro finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para
para todos os estudantes do Ensino Médio. Esta orientação visa à a cidadania e sua qualificação para o trabalho.
construção de um Ensino Médio que apresente uma unidade e que Este artigo possibilita-nos afirmar que a finalidade da educa-
possa atender a diversidade mediante o oferecimento de diferentes ção é de tríplice natureza:
formas de organização curricular, o fortalecimento do projeto polí- I – o pleno desenvolvimento do educando deve ser voltado
tico pedagógico e a criação das condições para a necessária discus- para uma concepção teórico educacional que leve em conta as di-
são sobre a organização do trabalho pedagógico. mensões: intelectual, afetiva, física, ética, estética, política, social
e profissional;

Didatismo e Conhecimento 6
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
II – o preparo para o exercício da cidadania centrado na con- sobre a ação educativa que a escola desenvolve com base nas
dição básica de ser sujeito histórico, social e cultural; sujeito de finalidades e os objetivos que ela define. Uma das principais ta-
direitos e deveres; refas da escola ao longo do processo de elaboração do seu projeto
III – a qualificação para o trabalho fundamentada na perspec- político-pedagógico é o trabalho de refletir sobre sua intencio-
tiva de educação como um processo articulado entre ciência, tec- nalidade educativa.
nologia, cultura e trabalho. O projeto político-pedagógico exige essa reflexão, assim
O Ensino Médio corporifica a concepção de trabalho e ci- como a explicitação de seu papel social, e a definição dos cami-
dadania como base para a formação, configurando-se enquanto nhos a serem percorridos e das ações a serem desencadeadas por
Educação Básica. A formação geral do estudante em torno dos todos os envolvidos com o processo escolar.
fundamentos científico-tecnológicos, assim como sua qualifica-
ção para o trabalho, sustentam-se nos princípios estéticos, éticos Desafios do Ensino Médio
e políticos que inspiram a Constituição Federal e a LDB. Nesse
sentido, não é possível compreender a tríplice intencionalidade É preciso reconhecer que a escola se constitui no principal
expressa na legislação de forma fragmentada e estanque. São fi- espaço de acesso ao conhecimento sistematizado, tal como ele
nalidades que se entrecruzam umas nas outras, fornecendo para foi produzido pela humanidade ao longo dos anos. Assegurar essa
a escola o horizonte da ação pedagógica, quando se vislumbram, possibilidade, garantindo a oferta de educação de qualidade para
também, as finalidades do Ensino Médio explicitadas no art. 35,
toda a população, é crucial para que a possibilidade da transfor-
da LDB:
mação social seja concretizada. Neste sentido, a educação escolar,
Art. 35 O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica,
embora não tenha autonomia para, por si mesma, mudar a socie-
com duração mínima de três anos, terá como finalidade:
dade, é importante estratégia de transformação, uma vez que a
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
inclusão na sociedade contemporânea não se dá sem o domínio de
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prossegui-
determinados conhecimentos que devem ser assegurados a todos.
mento de estudos;
Com a perspectiva de um imenso contingente de adolescen-
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
tes, jovens e adultos que se diferenciam por condições de existên-
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
cia e perspectivas de futuro desiguais, é que o Ensino Médio deve
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
trabalhar. Está em jogo a recriação da escola que, embora não
aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia condições de inclusão social, ao possibilitar o acesso à ciência, à
intelectual e do pensamento crítico; tecnologia, à cultura e ao trabalho.
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológi- O desenvolvimento científico e tecnológico acelerado impõe
cos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a práti- à escola um novo posicionamento de vivência e convivência com
ca, no ensino de cada disciplina. os conhecimentos capaz de acompanhar sua produção acelerada.
Estas finalidades legais do Ensino Médio definem a identida- A apropriação de conhecimentos científicos se efetiva por práticas
de da escola no âmbito de quatro indissociáveis funções, a saber: experimentais, com contextualização que relacione os conheci-
I – consolidação dos conhecimentos anteriormente adquiri- mentos com a vida, em oposição a metodologias pouco ou nada
dos; ativas e sem significado para os estudantes. Estas metodologias
II – preparação do cidadão para o trabalho; estabelecem relação expositiva e transmissivista que não coloca
III – implementação da autonomia intelectual e da formação os estudantes em situação de vida real, de fazer, de elaborar. Por
ética; e outro lado, tecnologias da informação e comunicação modifica-
IV – compreensão da relação teoria e prática. ram e continuam modificando o comportamento das pessoas e es-
A escola de Ensino Médio, com essa identidade legalmente sas mudanças devem ser incorporadas e processadas pela escola
delineada, deve levantar questões, dúvidas e críticas com relação para evitar uma nova forma de exclusão, a digital.
ao que a instituição persegue, com maior ou menor ênfase. De acordo com Silva, privilegiar a dimensão cognitiva não
As finalidades educativas constituem um marco de referên- pode secundarizar outras dimensões da formação, como, por
cia para fixar prioridades, refletir e desenvolver ações em tor- exemplo, as dimensões física, social e afetiva. Desse modo, pen-
no delas. Elas contribuem para a configuração da identidade da sar uma educação escolar capaz de realizar a educação em sua
escola no lugar da homogeneização, da uniformização. Kuenzer plenitude, implica em refletir sobre as práticas pedagógicas já
chama a atenção para as finalidades e os objetivos do Ensino consolidadas e problematizá-las no sentido de produzir a incor-
Médio, que se resumem (…) no compromisso de educar o jovem poração das múltiplas dimensões de realização do humano como
para participar política e produtivamente do mundo das relações uma das grandes finalidades da escolarização básica.
sociais concretas com comportamento ético e compromisso po- Como fundamento dessa necessidade podemos recorrer, por
lítico, através do desenvolvimento da autonomia intelectual e da exemplo, a um dos grandes pensadores dos processos cognitivos,
autonomia moral. Henry Wallon, e apreender, a partir dele, essa natureza multidi-
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que os mensional implicada nas relações de ensinar e aprender. Segundo
profissionais da educação precisam ter clareza das finalidades Wallon, para que a aprendizagem ocorra, um conjunto de con-
propostas pela legislação. Para tanto, há necessidade de refletir dições necessita estar satisfeito: a emoção, a imitação, a motri-

Didatismo e Conhecimento 7
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
cidade e o socius, isto é, a condição da interação social. Esses
quatro elementos, marcados por uma estreita interdependência,
geram a possibilidade de que cada um de nós possa se apropriar OS SUJEITOS E O CURRÍCULO DOS
dos elementos culturais, objeto de nossa formação. Na ausência de ENSINOS FUNDAMENTAL E MÉDIO
qualquer um deles, esse processo ocorre de forma limitada. PARA A FORMAÇÃO HUMANA
Do mesmo modo, assim como a dimensão emocional-afetiva INTEGRAL.
foi, historicamente, tratada de modo periférico, a dimensão físico-
corpórea também não tem merecido a atenção necessária. Aceita,
geralmente, como atributo de um terreno específico – o da Educa-
ção Física Escolar – raramente se têm disseminadas compreensões
mais abrangentes que nos permitam entender que o crescimento ENSINO FUNDAMENTAL
intelectual e afetivo não se realizam sem um corpo, e que, enquan-
to uma das dimensões do humano, tem sua concepção demarcada A população escolar
histórico culturalmente. Desse modo, ao educador é imprescindí-
vel tomar o educando nas suas múltiplas dimensões – intelectual, Como toda a população na faixa do ensino obrigatório deve
social, física e emocional – e situá-las no âmbito do contexto so- frequentar o Ensino Fundamental, nele também estão represen-
ciocultural em que educador e educando estão inseridos. tadas a grande diversidade sociocultural da população brasileira
Tomar o educando em suas múltiplas dimensões tem como e as grandes disparidades socioeconômicas que contribuem para
finalidade realizar uma educação que o conduza à autonomia, in- determinar oportunidades muito diferenciadas de acesso dos alu-
telectual e moral. nos aos bens culturais. Numerosos estudos têm mostrado que as
Para o Ensino Médio, reconhecidos seu caráter de integrante maiores desigualdades em relação às possibilidades de progressão
da Educação Básica e seu necessário asseguramento de oferta para escolar e de realização de aprendizagens significativas na escola,
todos, a própria LDB aponta para a possibilidade de ofertar dis- embora estejam fortemente associadas a fatores sociais e econô-
micos, mostram-se também profundamente entrelaçadas com as
tintas modalidades de organização, inclusive a formação técnica,
características culturais da população. As maiores desigualdades
com o intuito de tratar diferentemente os desiguais, conforme seus
educacionais são encontradas entre ricos e pobres, mas elas tam-
interesses e necessidades, para que possam ser iguais do ponto de
bém são grandes entre brancos, negros e outros grupos raciais e
vista dos direitos.
estão, por sua vez, particularmente relacionadas à oferta educativa
Desse modo, dentre os grandes desafios do Ensino Médio,
mais precária que restringe as oportunidades de aprendizagem das
está o de organizar formas de enfrentar a diferença de qualidade
populações mestiças e negras, ribeirinhas, indígenas, dos morado-
reinante nos diversos sistemas educacionais, garantindo uma es-
res das áreas rurais, das crianças e jovens que vivem nas periferias
cola de qualidade para todos. Além disso, também é desafio indi- urbanas, daqueles em situações de risco, das pessoas com deficiên-
car alternativas de organização curricular que, com flexibilidade, cia, e dos adolescentes, jovens e adultos que não puderam estudar
deem conta do atendimento das diversidades dos sujeitos. quando crianças.
Essa diversidade econômica, social e cultural exige da esco-
Fonte: Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação la o conhecimento da realidade em que vivem os alunos, pois a
Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. compreensão do seu universo cultural é imprescindível para que a
Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, ação pedagógica seja pertinente. Inserida em contextos diferentes,
DICEI, 2013. a proposta políticopedagógica das escolas deve estar articulada à
realidade do seu alunado para que a comunidade escolar venha a
conhecer melhor e valorizar a cultura local. Trata-se de uma con-
dição importante para que os alunos possam se reconhecer como
parte dessa cultura e construir identidades afirmativas o que, tam-
bém, pode levá-los a atuar sobre a sua realidade e transformá-la
com base na maior compreensão que adquirem sobre ela. Ao mes-
mo tempo, a escola deverá propiciar aos alunos condições para
transitarem em outras culturas, para que transcendam seu universo
local e se tornem aptos a participar de diferentes esferas da vida
social, econômica e política.

As múltiplas infâncias e adolescências

Os alunos do Ensino Fundamental regular são crianças e ado-


lescentes de faixas etárias cujo desenvolvimento está marcado por
interesses próprios, relacionado aos seus aspectos físico, emocio-
nal, social e cognitivo, em constante interação. Como sujeitos his-
tóricos que são, as características de desenvolvimento dos alunos
estão muito relacionadas com seus modos próprios de vida e suas
múltiplas experiências culturais e sociais, de sorte que mais ade-
quado seria falar de infâncias e adolescências no plural.

Didatismo e Conhecimento 8
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança desen- para disseminar entre as crianças, jovens e população em geral o
volve a capacidade de representação, indispensável para a apren- excessivo apelo ao consumo e uma visão de mundo fragmentada,
dizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a que induz à banalização dos acontecimentos e à indiferença quanto
compreensão da realidade que a cerca, conhecimentos que se pos- aos problemas humanos e sociais. É importante que a escola con-
tulam para esse período da escolarização. O desenvolvimento da tribua para transformar os alunos em consumidores críticos dos
linguagem permite a ela reconstruir pela memória as suas ações e produtos oferecidos por esses meios, ao mesmo tempo em que se
descrevê-las, bem como planejá-las, habilidades também necessá- vale dos recursos midiáticos como instrumentos relevantes no pro-
rias às aprendizagens previstas para esse estágio. A aquisição da cesso de aprendizagem, o que também pode favorecer o diálogo e
leitura e da escrita na escola, fortemente relacionada aos usos so- a comunicação entre professores e alunos.
ciais da escrita nos ambientes familiares de onde veem as crianças, Para tanto, é preciso que se ofereça aos professores formação
pode demandar tempos e esforços diferenciados entre os alunos adequada para o uso das tecnologias da informação e comunicação
da mesma faixa etária. A criança nessa fase tem maior interação e que seja assegurada a provisão de recursos midiáticos atualiza-
nos espaços públicos, entre os quais se destaca a escola. Esse é, dos e em número suficiente para os alunos.
pois, um período em que se deve intensificar a aprendizagem das Novos desafios se colocam também para a função docente
normas da conduta social, com ênfase no desenvolvimento de ha- diante do aumento das informações nas sociedades contemporâ-
bilidades que facilitem os processos de ensino e de aprendizagem. neas e da mudança da sua natureza. Mesmo quando experiente, o
Mas é também durante a etapa da escolarização obrigatória professor muitas vezes terá que se colocar na situação de aprendiz
que os alunos entram na puberdade e se tornam adolescentes. Eles e buscar junto com os alunos as respostas para as questões sus-
passam por grandes transformações biológicas, psicológicas, so- citadas. Seu papel de orientador da pesquisa e da aprendizagem
ciais e emocionais. Os adolescentes, nesse período da vida, mo- sobreleva, assim, o de mero transmissor de conteúdos.
dificam as relações sociais e os laços afetivos, intensificando suas
relações com os pares de idade e as aprendizagens referentes à A ampliação dos objetivos da escola em face do seu alu-
sexualidade e às relações de gênero, acelerando o processo de rup- nado
tura com a infância na tentativa de construir valores próprios. Am-
pliam-se as suas possibilidades intelectuais, o que resulta na capa- Crianças e adolescentes brasileiros também estão sujeitos à
cidade de realização de raciocínios mais abstratos. Os alunos se violência doméstica, ao abuso e à exploração sexual, a formas de
tornam crescentemente capazes de ver as coisas a partir do ponto trabalho não condizentes com a idade, à falta de cuidados essen-
de vista dos outros, superando, dessa maneira, o egocentrismo pró- ciais com a saúde, aspectos em relação aos quais a escola, como
prio da infância. Essa capacidade de descentração é importante na instituição responsável pelos alunos durante o seu período de for-
construção da autonomia e na aquisição de valores morais e éticos. mação – e muitas vezes o único canal institucional com quem a
Os professores, atentos a esse processo de desenvolvimen- família mantém contato – precisa estar atenta. Essas questões re-
to, buscarão formas de trabalho pedagógico e de diálogo com os percutem na aprendizagem e no desenvolvimento do aluno e, não
alunos, compatíveis com suas idades, lembrando sempre que esse raro, colocam o professor diante de situações para as quais as prá-
processo não é uniforme e nem contínuo. ticas que ele conhece não surtem resultados. O trabalho coletivo na
Entre os adolescentes de muitas escolas, é frequente observar escola poderá respaldá-lo de algum modo. No entanto, ao se tra-
forte adesão aos padrões de comportamento dos jovens da mesma tar de questões que extrapolam o âmbito das atividades escolares,
idade, o que é evidenciado pela forma de se vestir e também pela cabe à escola manter-se articulada com o Conselho Tutelar, com
linguagem utilizada por eles. Isso requer dos educadores maior os serviços de apoio aos sistemas educacionais e com instituições
disposição para entender e dialogar com as formas próprias de ex- de outras áreas capazes de ministrar os cuidados os serviços de
pressão das culturas juvenis, cujos traços são mais visíveis, sobre- proteção social a que esses alunos têm direito.
tudo, nas áreas urbanas mais densamente povoadas. Deve-se considerar, ainda, que o crescimento da violência e
A exposição das crianças e adolescentes de praticamente todas da indisciplina, sobretudo nas escolas das grandes cidades, tem
as classes sociais no Brasil à mídia e, em particular, à televisão dificultado sobremaneira a aprendizagem dos alunos e o trabalho
durante várias horas diárias tem, por sua vez, contribuído para o dos professores, provocando entre estes uma atitude de desânimo
desenvolvimento de formas de expressão entre os alunos que são diante do magistério, revelada pelo alto índice de absenteísmo dos
menos precisas e mais atreladas ao universo das imagens, o que docentes e pelas reiteradas licenças para tratamento de saúde.
torna mais difícil o trabalho com a linguagem escrita, de caráter Eles são reflexos não só da violência das sociedades contem-
mais argumentativo, no qual se baseia a cultura da escola. O tempo porâneas, mas também da violência simbólica da cultura da escola
antes dedicado à leitura perde o lugar para as novelas, os progra- que impõe normas, valores e conhecimentos tidos como universais
mas de auditório, os jogos irradiados pela TV, a internet, sendo e que não estabelece diálogo com a cultura dos alunos, frequen-
que a linguagem mais universal que a maioria deles compartilha temente conduzindo um número considerável deles ao fracasso
é a da música, ainda que, geralmente, a partir de poucos gêneros escolar. Não só o fracasso no rendimento escolar, mas também a
musicais. possibilidade de fracassar que paira na escola, criam um efeito de
Novos desafios se colocam, pois, para a escola, que também halo que leva os alunos a se insurgirem contra as regras escolares.
cumpre um papel importante de inclusão digital dos alunos. Ela O questionamento da escola que está por traz desses com-
precisa valer-se desses recursos e, na medida de suas possibilida- portamentos deriva também da rápida obsolescência dos conheci-
des, submetê-los aos seus propósitos educativos. Há que se consi- mentos provocada pela multiplicação dos meios de comunicação
derar que a multiplicação dos meios de comunicação e informação e do fato de, ao ter-se popularizado, o certificado que ela oferece
nas sociedades de mercado em que vivemos contribui fortemente já não é mais garantia de ascensão e mobilidade social como já

Didatismo e Conhecimento 9
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
foi nos períodos em que a escola pública era altamente seletiva. entre outros. Esse mesmo processo ocorre com os demais com-
Daí decorre que o professor, para assegurar a disciplina em sala ponentes curriculares e áreas de conhecimento, porque devem se
de aula, condição necessária para o trabalho pedagógico, precisa submeter às abordagens próprias aos estágios de desenvolvimento
agora legitimar a sua autoridade pedagógica junto aos alunos, o dos alunos, ao período de duração dos cursos, aos horários e con-
que requer um esforço deliberado para manter o diálogo e a co- dições em que se desenvolve o trabalho escolar e, sobretudo, aos
municação com eles. propósitos mais gerais de formação dos educandos. O acesso ao
Diante desse contexto, se torna imperativo um trabalho en- conhecimento escolar tem, portanto, dupla função: desenvolver
tre as instituições, as famílias e toda a sociedade no sentido de habilidades intelectuais e criar atitudes e comportamentos neces-
valorizar a escola e o professor. Além disso, é necessária forte sários para a vida em sociedade.
articulação da unidade escolar com a família e os alunos no esta- O aluno precisa aprender não apenas os conteúdos escolares,
belecimento das normas de convívio social na escola, construídas mas também saber se movimentar na instituição pelo conheci-
com a participação ativa da comunidade e dos alunos e registradas mento que adquire de seus valores, rituais e normas, ou seja, pela
em um regimento escolar pautado na legislação educacional e no familiaridade com a cultura da escola. Ele costuma ir bem na es-
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90). cola quando compreende não somente o que fica explícito, como
o que está implícito no cotidiano escolar, ou seja, tudo aquilo que
O currículo não é dito mas que é valorizado ou desvalorizado pela escola em
termos de comportamento, atitudes e valores que fazem parte de
Cabe primordialmente à instituição escolar a socialização do seu currículo oculto.
conhecimento e a recriação da cultura. De acordo com as Diretri- É preciso, pois, que a escola expresse com clareza o que es-
zes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Pare- pera dos alunos, buscando coerência entre o que proclama e o que
cer CNE/CEB nº7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010), uma realiza, ou seja, o que realmente ensina em termos de conheci-
das maneiras de se conceber o currículo é entendê-lo como consti- mento.
tuído pelas experiências escolares que se desdobram em torno do Os alunos provenientes de grupos sociais cuja cultura é muito
conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articu- diferente daquela da escola, encontram na diferença entre o que
lar vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos histori- é cobrado e o que é ensinado por ela um obstáculo para o seu
camente acumulados e contribuindo para construir as identidades aproveitamento. Eles precisam fazer um esforço muito maior do
dos estudantes. O foco nas experiências escolares significa que que os outros para entender a linguagem da escola, seus códigos
as orientações e propostas curriculares que provêm das diversas ocultos, uma vez que a instituição pressupõe que certos conheci-
instâncias só terão concretude por meio das ações educativas que mentos que ela não ensina são do domínio de todos, quando na
envolvem os alunos. verdade não são.
Os conhecimentos escolares podem ser compreendidos como A escola constitui a principal e, muitas vezes, a única forma
o conjunto de conhecimentos que a escola seleciona e transforma, de acesso ao conhecimento sistematizado para a grande maioria
no sentido de torná-los passíveis de serem ensinados, ao mesmo da população. Esse dado aumenta a responsabilidade do Ensino
tempo em que servem de elementos para a formação ética, estéti- Fundamental na sua função de assegurar a todos a aprendizagem
ca e política do aluno. dos conteúdos curriculares capazes de fornecer os instrumentos
As instâncias que mantêm, organizam, orientam e oferecem básicos para a plena inserção na vida social, econômica e cultural
recursos à escola, como o próprio Ministério da Educação, as Se- do país. Michael Young (2007) denomina “poderoso” o conheci-
cretarias de Educação, os Conselhos de Educação, assim como mento que, entre as crianças, adolescentes, jovens e adultos não
os autores de materiais e livros didáticos, transformam o conhe- pode ser adquirido apenas em casa e na comunidade, ou ainda nos
cimento acadêmico, segmentando- de acordo com os anos de es- locais de trabalho. Nas sociedades contemporâneas esse conhe-
colaridade, ordenando-o em unidades e tópicos e buscam ainda cimento é o que permite estabelecer relações mais abrangentes
ilustrá-lo e formulá-lo em questões para muitas das quais já se têm entre os fenômenos, e é principalmente na escola que ele tem con-
respostas. Esse processo em que o conhecimento de diferentes dições de ser adquirido.
áreas sofre mudanças, transformando-se em conhecimento esco- Para isso, a escola, no desempenho das suas funções de edu-
lar, tem sido chamado de transposição didática. car e cuidar, deve acolher os alunos dos diferentes grupos sociais,
Também se diz que os conhecimentos produzidos nos diver- buscando construir e utilizar métodos, estratégias e recursos de
sos componentes curriculares, para adentrarem a escola são reco ensino que melhor atendam às suas características cognitivas e
textualizados de acordo com a lógica que preside as instituições culturais. Acolher significa, pois, propiciar aos alunos meios
escolares. Uma vez que as escolas são instituições destinadas à para conhecerem a gramática da escola, oferecendo àqueles com
formação das crianças, jovens e adultos, os conhecimentos esco- maiores dificuldades e menores oportunidades, mais incentivos
lares dos diferentes componentes, além do processo de didatiza- e renovadas oportunidades de se familiarizarem com o modo de
ção que sofrem, passam a trazer embutido um sentido moral e po- entender a realidade que é valorizado pela cultura escolar.
lítico. Assim, a história da escola está indissoluvelmente ligada ao Acolher significa, também, garantir as aprendizagens propos-
exercício da cidadania; a ciência que a escola ensina está impreg- tas no currículo para que o aluno desenvolva interesses e sensibi-
nada de valores que buscam promover determinadas condutas, lidades que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponíveis
atitudes e determinados interesses, como por exemplo, a valori- na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que
zação e preservação do meio ambiente, os cuidados com a saúde, lhe possibilitem, ainda, sentir-se como produtor valorizado desses

Didatismo e Conhecimento 10
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
bens. Ao lado disso, a escola é, por excelência, o lugar em que é O currículo da base nacional comum do Ensino Fundamental
possível ensinar e cultivar as regras do espaço público que condu- deve abranger obrigatoriamente, conforme o artigo 26 da LDB,
zem ao convívio democrático com as diferenças, orientado pelo o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento
respeito mútuo e pelo diálogo. É nesse espaço que os alunos têm do mundo físico e natural e da realidade social e política, espe-
condições de exercitar a crítica e de aprender a assumir respon- cialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação
sabilidades em relação ao que é de todos. Física e o Ensino Religioso.
Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Funda-
A base nacional comum e a parte diversificada: comple- mental serão assim organizados em relação às áreas de conheci-
mentaridade mento:

O currículo do Ensino Fundamental tem uma base nacional I – Linguagens:


comum, complementada em cada sistema de ensino e em cada a) Língua Portuguesa
estabelecimento escolar por uma parte diversificada. A base na- b) Língua materna, para populações indígenas
cional comum e a parte diversificada do currículo do Ensino Fun- c) Língua Estrangeira moderna
damental constituem um todo integrado e não podem ser consi- d) Arte
deradas como dois blocos distintos. e) Educação Física
A articulação entre a base nacional comum e a parte diversi-
ficada do currículo do Ensino Fundamental possibilita a sintonia II – Matemática
dos interesses mais amplos de formação básica do cidadão com
a realidade local, as necessidades dos alunos, as características III – Ciências da Natureza
regionais da sociedade, da cultura e da economia e perpassa todo
o currículo. IV – Ciências Humanas:
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao interesse a) História
social e à preservação da ordem democrática, os conhecimentos b) Geografia
que fazem parte da base nacional comum a que todos devem ter
acesso, independentemente da região e do lugar em que vivem, V – Ensino Religioso
asseguram a característica unitária das orientações curriculares
nacionais, das propostas curriculares dos Estados, Distrito Fede- O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua por-
ral e Municípios e dos projetos político-pedagógicos das escolas. tuguesa, mas às comunidades indígenas é assegurada também
Os conteúdos curriculares que compõem a parte diversifica- “a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
da do currículo serão definidos pelos sistemas de ensino e pelas aprendizagem” (Constituição Federal, art. 210, §2º, e art. 32, §3º
escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, asse- da LDB).
gurando a contextualização dos conhecimentos escolares dian- O ensino da História do Brasil levará em conta as contribui-
te das diferentes realidades. É assim que, a partir das Diretrizes ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo bra-
Curriculares Nacionais e dos conteúdos obrigatórios fixados em sileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia
âmbito nacional, conforme determina a Constituição Federal em (art. 26, §4º da LDB). Ainda conforme o artigo 26 A, alterado
seu artigo 210, multiplicam-se as propostas e orientações curri- pela Lei nº 11.645/2008 (que inclui no currículo oficial da rede
culares de Estados e Municípios e, no seu bojo, os projetos suas de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
respectivas jurisdições e traduzindo a pluralidade de possibili- -Brasileira e Indígena”), a História e a Cultura Afro-Brasileira,
dades na implementação dos currículos escolares diante das exi- bem como a dos povos indígenas, presentes obrigatoriamente nos
gências do regime federativo. conteúdos desenvolvidos no âmbito de todo o currículo escolar,
Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a parte em especial na Arte, Literatura e História do Brasil, assim como
diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no desenvol- a História da África, contribuirão para assegurar o conhecimento
vimento das linguagens, no mundo do trabalho e na tecnologia, e o reconhecimento desses povos para a constituição da nação.
na produção artística, nas atividades desportivas e corporais, na Sua inclusão possibilita ampliar o leque de referências culturais
área da saúde, nos movimentos sociais, e ainda incorporam sa- de toda a população escolar e contribui para a mudança das suas
beres como os que advêm das formas diversas de exercício da concepções de mundo, transformando os conhecimentos comuns
cidadania, da experiência docente, do cotidiano e dos alunos. veiculados pelo currículo e contribuindo para a construção de
Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo identidades mais plurais e solidárias.
são denominados componentes curriculares, os quais, por sua A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,
vez, se articulam às áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, do componente curricular Arte, o qual compreende, também, as
Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. As áreas artes visuais, o teatro e a dança.
de conhecimento favorecem a comunicação entre os conheci- A Educação Física, componente obrigatório do currículo do
mentos e saberes dos diferentes componentes curriculares, mas Ensino Fundamental, integra a proposta políticopedagógica da
permitem que os referenciais próprios de cada componente curri- escola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias pre-
cular sejam preservados. vistas na LDB.

Didatismo e Conhecimento 11
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é parte escondem por trás dos preconceitos e discriminações que alimen-
integrante da formação básica do cidadão e constitui componente tam as desigualdades sociais, etnicorraciais, de gênero e diversi-
curricular dos horários normais das escolas públicas de Ensino dade sexual, das pessoas com deficiência e outras, assim como
Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e reli- os processos de dominação que têm, historicamente, reservado a
giosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo. poucos o direto de aprender, que é de todos.
Na parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental, A perspectiva multicultural no currículo leva, ainda, ao re-
será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano, o ensino de, conhecimento da riqueza das produções culturais e à valoriza-
pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna, cuja escolha ficará ção das realizações de indivíduos e grupos sociais e possibilita
a cargo da comunidade escolar que poderá optar, entre elas, pela a construção de uma autoimagem positiva a muitos alunos que
Língua Espanhola, nos termos da Lei nº 11.161/2005. É necessá- vêm se defrontando constantemente com as condições de fracasso
rio esclarecer que língua indígena ou outras formas usuais de ex- escolar, agravadas pela discriminação manifesta ou escamoteada
pressão verbal de certas comunidades não podem ocupar o lugar no interior da escola. Além de evidenciar as relações de interde-
do ensino de Língua Estrangeira moderna. pendência e de poder na sociedade e entre as sociedades e cultu-
Os componentes curriculares e as áreas de conhecimento de- ras, a perspectiva multicultural tem o potencial de conduzir a uma
vem articular a seus conteúdos, a partir das possibilidades aber- profunda transformação do currículo comum.
tas pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e Quando os conhecimentos escolares se nutrem de temas
contemporâneos, que afetam a vida humana em escala global, da vida social, também é preciso que as escolas se aproximem
regional e local, bem como na esfera individual. Temas como saú- mais dos movimentos que os alimentam, das suas demandas e
de, sexualidade e gênero, vida familiar e social, assim como os encaminhamentos. Ao lado disso, a interação na escola entre os
direitos das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da conhecimentos de referência disciplinar e aqueles provenientes
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio das culturas populares pode possibilitar o questionamento de va-
ambiente, nos termos da política nacional de educação ambiental lores subjacentes em cada um deles e a necessidade de revê-los,
(Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, tra- ao mesmo tempo em que permite deixar clara a lógica que preside
balho, ciência e tecnologia, diversidade cultural, devem permear cada uma dessas formas de conhecimento e que os torna diferen-
o desenvolvimento dos conteúdos da base nacional comum e da tes uns dos outros, mas não menos importantes.
parte diversificada do currículo.
Outras leis específicas, que complementam a LDB, determi- ENSINO MÉDIO
nam ainda que sejam incluídos temas relativos à educação para
o trânsito (Lei nº 9.503/97) e à condição e direitos dos idosos, Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio
conforme a Lei nº 10.741/2003.
A transversalidade constitui uma das maneiras de trabalhar os As juventudes
componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os temas
contemporâneos em uma perspectiva integrada, tal como indicam Os estudantes do Ensino Médio são predominantemente ado-
as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Bá- lescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacional de Juventude
sica. Essa abordagem deve ser apoiada por meios adequados. Aos (CONJUVE), são considerados jovens os sujeitos com idade com-
órgãos executivos dos sistemas de ensino compete a produção e preendida entre os 15 e os 29 anos, ainda que a noção de juventu-
disseminação de materiais subsidiários ao trabalho docente, com de não possa ser reduzida a um recorte etário (Brasil, 2006). Em
o objetivo de contribuir para a eliminação de discriminações, ra- consonância com o CONJUVE, esta proposta de atualização das
cismos e preconceitos, e conduzir à adoção de comportamentos Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio concebe
responsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio am- a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma cate-
biente. goria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas
Na perspectiva de construção de uma sociedade mais demo- dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas
crática e solidária, novas demandas provenientes de movimen- às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas
tos sociais e de compromissos internacionais firmados pelo país, com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais,
passam, portanto, a ser contempladas entre os elementos que in- produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes.
tegram o currículo, como as referentes à promoção dos direitos Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma significa su-
humanos. Muitas delas tendem a ser incluídas nas propostas curri- perar uma noção homogeneizante e naturalizada desse estudante,
culares pela adoção da perspectiva multicultural. Entende-se, que passando a percebê-lo como sujeito com valores, comportamen-
os conhecimentos comuns do currículo criam a possibilidade de tos, visões de mundo, interesses e necessidades singulares. Além
dar voz a diferentes grupos como os negros, indígenas, mulheres, disso, deve-se também aceitar a existência de pontos em comum
crianças e adolescentes, homossexuais, pessoas com deficiência. que permitam tratá-lo como uma categoria social.
Mais ainda: o conhecimento de valores, crenças, modos de Destacam-se sua ansiedade em relação ao futuro, sua neces-
vida de grupos sobre os quais os currículos se calaram durante sidade de se fazer ouvir e sua valorização da sociabilidade. Além
uma centena de anos sob o manto da igualdade formal, propicia das vivências próprias da juventude, o jovem está inserido em
desenvolver empatia e respeito pelo outro, pelo que é diferente de processos que questionam e promovem sua preparação para assu-
nós, pelos alunos na sua diversidade étnica, regional, social, indi- mir o papel de adulto, tanto no plano profissional quanto no social
vidual e grupal, e leva a conhecer as razões dos conflitos que se e no familiar.

Didatismo e Conhecimento 12
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a juventude que o sujeito do Ensino Médio é constituído e constituinte da or-
é entendida como uma condição de transitoriedade, uma fase de dem social, ao mesmo tempo em que, como demonstram os com-
transição para a vida adulta (Dayrell, 2003). Com isso, nega-se a portamentos juvenis, preservam autonomia relativa quanto a essa
importância das ações de seu presente, produzindo-se um entendi- ordem.
mento de que sua educação deva ser pensada com base nesse “vir Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo mais
a ser”. Reduzem-se, assim, as possibilidades de se fazer da escola amplo de constituição de sujeitos, mas que tem especificidades que
um espaço de formação para a vida hoje vivida, o que pode acabar marcam a vida de cada um. A juventude constitui um momento
relegando-a a uma obrigação enfadonha. determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela assume uma
Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias po- importância em si mesma.
bres, vivenciam uma relação paradoxal com a escola. Ao mesmo Todo esse processo é influenciado pelo meio social concreto
tempo em que reconhecem seu papel fundamental no que se refere no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este propor-
à empregabilidade, não conseguem atribuir-lhe um sentido ime- ciona”. (2003).
diato (Sposito, 2005). Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta educa-
Vivem ansiosos por uma escola que lhes proporcione chances cional observa que a ampliação do acesso ao Ensino Médio, nos
mínimas de trabalho e que se relacione com suas experiências últimos 15 anos, não veio acompanhada de políticas capazes de dar
presentes. sustentação com qualidade a essa ampliação. Entre 1995 e 2005,
Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra forma os sistemas de ensino estaduais receberam mais de 4 milhões de
recorrente de representar a juventude vê-la como um tempo de li- jovens no Ensino Médio, totalizando uma população escolar de 9
berdade, de experimentação e irresponsabilidade (Dayrell, 2003). milhões de indivíduos (2009).
Essas duas maneiras de representar a juventude – como um “vir É diante de um público juvenil extremamente diverso, que
a ser” e como um tempo de liberdade – mostram-se distantes da traz para dentro da escola as contradições de uma sociedade que
realidade da maioria dos jovens brasileiros. Para esses, o traba- avança na inclusão educacional sem transformar a estrutura social
lho não se situa no futuro, já fazendo parte de suas preocupações desigual – mantendo acesso precário à saúde, ao transporte, à cul-
presentes. tura e lazer, e ao trabalho – que o novo Ensino Médio se forja. As
Uma pesquisa realizada com jovens de várias regiões bra- desigualdades sociais passam a tensionar a instituição escolar e a
sileiras, moradores de zonas urbanas de cidades pequenas e ca- produzir novos conflitos (idem).
pitais, bem como da zona rural, constatou que 60% dos entre- Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que 47,6%
vistados frequentavam escolas. Contudo, 75% deles já estavam dos jovens da Região Sudeste de 15 a 17 anos frequentavam o En-
inseridos ou buscando inserção no mundo do trabalho (Sposito, sino Médio; no Nordeste apenas 19,9%; e a média nacional era de
2005). Ou seja, o mundo do trabalho parece estar mais presente 35,7%. O autor assinala, com base em dados do IPEA (2008), que
na vida desses sujeitos do que a escola. há uma frequência líquida no Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3%
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir emprego, no Norte/Nordeste. Em que pese essa presença ser expressivamen-
alegando falta de tempo. Todavia, é possível que, se os jovens te maior na Região Sul do país, observa-se um quadro reiterado
atribuíssem um sentido mais vivo e uma maior importância à sua de desistência da escola também nessa região. Esse quadro parece
escolarização, uma parcela maior continuasse frequentando as au- se intensificar no Ensino Médio, devido à existência de forte ten-
las, mesmo depois de empregados. são na relação dos jovens com a escola (Correia e Matos, 2001;
O desencaixe entre a escola e os jovens não deve ser visto Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell, 2009).
como decorrente, nem de uma suposta incompetência da institui- Dentre os fatores relevantes a se considerar está a relação en-
ção, nem de um suposto desinteresse dos estudantes. As análises tre juventude, escola e trabalho. Ainda que não se parta, a priori, de
se tornam produtivas à medida que enfoquem a relação entre os que haja uma linearidade entre permanência na escola e inserção
sujeitos e a escola no âmbito de um quadro mais amplo, conside- no emprego, as relações entre escolarização, formação profissio-
rando as transformações sociais em curso. Essas transformações nal e geração de independência financeira por meio do ingresso
estão produzindo sujeitos com estilos de vida, valores e práticas no mundo do trabalho vêm sendo tensionadas e reconfiguradas
sociais que os tornam muito distintos das gerações anteriores conforme sinalizam estudos acerca do emprego e do desemprego
(Dayrell, 2007). Entender tal processo de transformação é rele- juvenil.
vante para a compreensão das dificuldades hoje constatadas nas O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento calcado
relações entre os jovens e a escola. na distribuição de renda que visa à inclusão de um grande contin-
Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a essas aná- gente de pessoas no mercado consumidor.
lises é a compreensão da constituição da juventude. A formação A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de novos pata-
dos indivíduos é hoje atravessada por um número crescente de mares de desenvolvimento requerem um aporte de trabalhadores
elementos. Se antes ela se produzia, dominantemente, no espaço qualificados em todos os níveis, o que implica na reestruturação
circunscrito pela família, pela escola e pela igreja, em meio a uma da escola com vistas à introdução de novos conteúdos e de novas
razoável homogeneidade de valores, muitas outras instituições, metodologias de ensino capazes de promover a oferta de uma for-
hoje, participam desse jogo, apresentando formas de ser e de viver mação integral.
heterogêneas. Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem essas mo-
A identidade juvenil é determinada para além de uma idade dificações e criam novas expectativas em relação às possibilidades
biológica ou psicológica, mas situa-se em processo de contínua de inserção no mundo do trabalho e em relação ao papel da escola
transformação individual e coletiva, a partir do que se reconhece nos seus projetos de vida.

Didatismo e Conhecimento 13
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Diante do exposto, torna-se premente que as escolas, ao de- O fato de muitos terem retornado aos estudos depois de tê-los
senvolverem seus projetos políticopedagógicos, se debrucem so- abandonado, é um atestado de que acreditam no valor da escolari-
bre questões que permitam ressignificar a instituição escolar diante zação como uma forma de buscar melhores dias e um futuro me-
de uma possível fragilização que essa instituição venha sofrendo, lhor. Em geral são estudantes que, não tendo condição econômica
quando se trata do público alvo do Ensino Médio, considerando, favorável, não têm acesso aos bens culturais e, como tal, esperam
ainda, a necessidade de acolhimento de um sujeito que possui, que a escola cumpra o papel de supridora dessas condições. Não
dentre outras, as características apontadas anteriormente. Assim, raras vezes, a escola noturna é vista por esses estudantes trabalha-
sugerem-se questões como: Que características sócio-econômico- dores como um locus privilegiado de socialização.
culturais possuem os jovens que frequentam as escolas de Ensino Os que estudam e trabalham, em geral, enfrentam dificuldades
Médio? Que representações a escola, seus professores e dirigentes para conciliar as duas tarefas.
fazem dos estudantes? A escola conhece seus estudantes? Quais os Todos têm consciência de que as escolas noturnas convivem
pontos de proximidade e distanciamento entre os sujeitos das es- com maiores dificuldades do que as do período diurno e isso é um
colas (estudantes e professores particularmente)? Quais sentidos e fator de desestímulo.
significados esses jovens têm atribuído à experiência escolar? Que Segundo Arroyo (1986, in Togni e Carvalho, 2008), ao tratar
relações se podem observar entre jovens, escola e sociabilidade? do “aluno (estudante)-trabalhador”, estamos nos referindo a um
Quais experiências os jovens constroem fora do espaço escolar? trabalhador que estuda, ou seja, jovens que, antes de serem estu-
Como os jovens interagem com a diversidade? Que representa- dantes, são trabalhadores e que “dessa diferenciação, não deveria
ções fazem diante de situações que têm sido alvo de preconceito? decorrer qualquer interpretação que indique uma valorização dife-
Em que medida a cultura escolar instituída compõe uma referência rente, por parte dos estudantes, da escolarização, mas sim, especi-
simbólica que se distancia/aproxima das expectativas dos estudan- ficidades nas relações estabelecidas na escola” (Oliveira e Sousa,
tes? Que elementos da cultura juvenil são derivados da experiên- 2008).
cia escolar e contribuem para conferir identidade(s) ao jovem da Desse modo, o enfrentamento das necessidades detectadas no
contemporaneidade? Que articulações existem entre os interesses ensino noturno passa, inicialmente, pelo reconhecimento da diver-
pessoais, projetos de vida e experiência escolar? Que relações se sidade que caracteriza a escola e o corpo discente do ensino no-
estabelecem entre esses planos e as experiências vividas na esco- turno para, em seguida, adequar seus procedimentos aos projetos
la? Em que medida os sentidos atribuídos à experiência escolar definidos para a mesma.
motivam os jovens a elaborar projetos de futuro? Que expectativas A própria Constituição Federal, no inciso VI do art. 208, de-
são explicitadas pelos jovens diante da relação escola e trabalho? termina, de forma especial, a garantia da oferta do ensino noturno
Que aspectos precisariam mudar na escola tendo em vista oferecer regular adequado às condições do educando. A LDB, no inciso VI
condições de incentivo ao retorno e à permanência para os que a do art. 4º, reitera este mandamento como dever do Estado.
abandonaram? Viabilizar as condições para que tais questões pau- Ainda a LDB, no § 2º do art. 23, prescreve que o calendário
tem as formulações dos gestores e professores na discussão do seu escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive cli-
cotidiano pode permitir novas formas de organizar a proposta de máticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino,
trabalho da escola na definição de seu projeto político-pedagógico. sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto.
Considerando, portanto, a situação e as circunstâncias de vida
Os estudantes do Ensino Médio noturno dos estudantes trabalhadores do Ensino Médio noturno, cabe indi-
car e possibilitar formas de oferta e organização que sejam adequa-
O Ensino Médio noturno tem estado ausente do conjunto de das às condições desses educandos, de modo a permitir seu efetivo
medidas acenadas para a melhoria da Educação Básica. Estas Di- acesso, permanência e sucesso nos estudos desta etapa da Educa-
retrizes definem que todas as escolas com Ensino Médio, indepen- ção Básica. É óbice evidente a carga horária diária, a qual, se igual
dentemente do horário de funcionamento, sejam locais de incenti- à do curso diurno, não é adequada para o estudante trabalhador,
vo, desafios, construção do conhecimento e transformação social. que já cumpriu longa jornada laboral. Este problema é agravado
Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário ter em em cidades maiores, nas quais as distâncias e os deslocamentos do
mente as especificidades dos estudantes que compõem a escola local de trabalho para a escola e desta para a morada impõe acrés-
noturna, com suas características próprias. cimo de sacrifício, levando a atraso e perda de tempos escolares.
Em primeiro lugar, cabe destacar que a maioria dos estudan- Essa sobrecarga de horas no período noturno torna-se, sem dúvida,
tes do ensino noturno são adolescentes e jovens. Uma parte está causa de desestímulo e aproveitamento precário que leva a uma
dando continuidade aos estudos, sem interrupção, mesmo que já deficiente formação e/ou à reprovação, além da retenção por faltas
tenha tido alguma reprovação. Outra parte, no entanto, está retor- além do limite legal e, no limite, de abandono dos estudos.
nando aos estudos depois de haver interrompido em determinado Nesse sentido, com base no preceito constitucional e da LDB,
momento. e respeitados os mínimos previstos de duração e carga horária to-
Levantamentos específicos mostram que os estudantes do tal, o projeto pedagógico deve atender com qualidade a singulari-
ensino noturno diferenciam-se dos estudantes do ensino diurno, dade destes sujeitos, especificando uma organização curricular e
pois estes últimos têm o estudo como principal atividade/interesse, metodológica diferenciada, podendo incluir atividades não presen-
enquanto os do noturno são, na sua maioria, trabalhadores antes ciais, até 20% da carga horária diária ou de cada tempo de organi-
de serem estudantes. Do ponto de vista das expectativas destes zação escolar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido
estudantes, uns objetivam prosseguir os estudos ingressando no o atendimento por professores e monitores, ou ampliar a duração
ensino superior, enquanto outros pretendem manter ou retomar sua para mais de 3 anos, com redução da carga horária diária e da
dedicação ao trabalho. anual, garantindo o mínimo total de 2.400 horas.

Didatismo e Conhecimento 14
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Os estudantes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) Os estudantes indígenas, do campo e quilombolas

O inciso I do art. 208 da Constituição Federal determina que O Ensino Médio, assim como as demais etapas da Educação
o dever do Estado para com a educação é efetivado mediante a Básica, assumem diferentes modalidades quando destinadas a con-
garantia da Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 tingentes da população com características diversificadas, como é,
anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos principalmente, o caso dos povos indígenas, do campo e quilom-
os que a ele não tiverem acesso na idade própria. bolas.
A LDB, no inciso VII do art. 4º, determina a oferta de edu- O art. 78 da LDB se detém na oferta da Educação Escolar
cação escolar regular para jovens e adultos, com características e Indígena. Da confluência dos princípios e direitos desta educação,
modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, traduzidos no respeito à sociodiversidade; na interculturalidade;
garantindo-se, aos que forem trabalhadores, as condições de aces- no direito de uso de suas línguas maternas e de processos próprios
so e permanência na escola. O art. 37 traduz os fundamentos da de aprendizagem, na articulação entre os saberes indígenas e os
EJA, ao atribuir ao poder público a responsabilidade de estimular conhecimentos técnico-científicos com os princípios da formação
e viabilizar o acesso e a permanência do trabalhador na escola, me- integral, visando à atuação cidadã no mundo do trabalho, da sus-
diante ações integradas e complementares entre si e mediante ofer- tentabilidade socioambiental e do respeito à diversidade dos su-
ta de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, que não puderam jeitos, surge a possibilidade de uma educação indígena que possa
efetuar os estudos na idade regular, proporcionando-lhes oportuni- contribuir para a reflexão e construção de alternativas de geren-
dades educacionais apropriadas, consideradas as características do ciamento autônomo de seus territórios, de sustentação econômica,
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, median- de segurança alimentar, de saúde, de atendimento às necessidades
te cursos e exames. Esta responsabilidade deve ser prevista pelos cotidianas, entre outros. Esta modalidade tem Diretrizes próprias
sistemas educativos e por eles deve ser assumida, no âmbito da instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 3/99, que fixou Diretrizes
atuação de cada sistema, observado o regime de colaboração e da Nacionais para o Funcionamento das Escolas Indígenas, com base
ação redistributiva, definidos legalmente. no Parecer CNE/CEB nº 14/99, A escola desta modalidade tem
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e Jo- uma realidade singular, inscrita na territorialidade, em processos
vens e Adultos estão expressas na Resolução CNE/CEB nº 1/2000,
de afirmação de identidades étnicas, produção e (re)significação
fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2000, sendo que o Pare-
de crenças, línguas e tradições culturais. Em função de suas espe-
cer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010 insti-
cificidades requer normas e ordenamentos jurídicos próprios em
tuem Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos
respeito aos diferentes povos, como afirmado no Parecer CNE/
(EJA) nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima
CEB nº 14/99: “Na estruturação e no funcionamento das escolas
para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos
indígenas é reconhecida sua condição de escolas com normas e or-
exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por
denamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue,
meio da Educação a Distância.
visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e a
Indicam, igualmente, que mantém os princípios, objetivos e
diretrizes formulados no Parecer CNE/CEB nº 11/2000. afirmação e manutenção de sua diversidade étnica”.
Sendo os jovens e adultos que estudam na EJA, no geral tra- A escola indígena, portanto, visando cumprir sua especifici-
balhadores, cabem as considerações anteriores sobre os estudantes dade, alicerçada em princípios comunitários, bilíngues e/ou mul-
do Ensino Médio noturno, uma vez que esta modalidade é, majo- tilíngues e interculturais, requer formação específica de seu quadro
ritariamente, oferecida nesse período. Assim, deve especificar uma docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional
organização curricular e metodológica que pode incluir amplia- comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira
ção da duração do curso, com redução da carga horária diária e da (artigos 5º, 9º, 10, 11, e inciso VIII do art. 4º da LDB), como des-
anual, garantindo o mínimo total de 1.200 horas, ou incluir ativi- tacado no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, de Diretrizes Curriculares
dades não presenciais, até 20% da carga horária diária ou de cada Nacionais Gerais para a Educação Básica.
tempo de organização escolar, desde que haja suporte tecnológico A educação ofertada à população rural no Brasil tem sido
e seja garantido o atendimento por professores e monitores. objeto de estudos e de reivindicações de organizações sociais há
A aproximação entre a EJA – Ensino Médio – e a Educação muito tempo. O art. 28 da LDB estabelece o direito dos povos
Profissional, materializa-se, sobretudo, no Programa Nacional de do campo a uma oferta de ensino adequada à sua diversidade so-
Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na ciocultural. É, pois, a partir dos parâmetros político-pedagógicos
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), instituí- próprios que se busca refletir sobre a Educação do Campo. As
do pelo Decreto nº 5.840/2006. A proposta pedagógica do PROE- Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do
JA alia direitos fundamentais de jovens e adultos, educação e tra- Campo estão orientadas pelo Parecer CNE/CEB nº 36/2001, pela
balho. É também fundamentada no conceito de educação continua- Resolução CNE/CEB nº 1/2002, pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008
da, na valorização das experiências do indivíduo e na formação de e pela Resolução CNE/CEB nº 2/2008.
qualidade pressuposta nos marcos da educação integral. Esta modalidade da Educação Básica e, portanto, do Ensino
Médio, está prevista no art. 28 da LDB, definindo, para atendi-
mento da população do campo, adaptações necessárias às peculia-
ridades da vida rural e de cada região, com orientações referentes
a conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais ne-
cessidades e interesses dos estudantes da zona rural; organização
escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar as fases

Didatismo e Conhecimento 15
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
do ciclo agrícola e as condições climáticas; e adequação à natureza Currículo e trabalho pedagógico
do trabalho na zona rural. As propostas pedagógicas das escolas
do campo com oferta de Ensino Médio devem, portanto, ter flexi- O currículo é entendido como a seleção dos conhecimentos
bilidade para contemplar a diversidade do meio, em seus múltiplos historicamente acumulados, considerados relevantes e pertinen-
aspectos, observados os princípios constitucionais, a base nacional tes em um dado contexto histórico, e definidos tendo por base o
comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. projeto de sociedade e de formação humana que a ele se articula;
Especificidades próprias, similarmente, tem a educação destina- se expressa por meio de uma proposta pela qual se explicitam as
da aos quilombolas, desenvolvida em unidades educacionais inscri- intenções da formação, e se concretiza por meio das práticas es-
tas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respei- colares realizadas com vistas a dar materialidade a essa proposta.
to à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação Os conhecimentos escolares são reconhecidos como aqueles
específica de seu quadro docente. A Câmara de Educação Básica do produzidos pelos homens no processo histórico de produção de
CNE instituiu Comissão para a elaboração de Diretrizes Curriculares sua existência material e imaterial, valorizados e selecionados
específicas para esta modalidade (Portaria CNE/CEB nº 5/2010). pela sociedade e pelas escolas que os organizam a fim de que
possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se elementos do
Os estudantes da Educação Especial
desenvolvimento cognitivo do estudante, bem como de sua for-
mação ética, estética e política.
Como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e moda-
lidades de ensino a Educação Especial deve estar prevista no projeto Para compreender a dinâmica do trabalho pedagógico esco-
político-pedagógico da instituição de ensino. lar a partir do currículo, é necessário que se tome como referên-
O Ensino Médio de pessoas com deficiência, transtornos glo- cia a cultura escolar consolidada, isto é, as práticas curriculares
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação segue, já vivenciadas, os códigos e modos de organização produzidos,
pois, os princípios e orientações expressos nos atos normativos da sem perder de vista que esse trabalho se articula ao contexto só-
Educação Especial, o que implica assegurar igualdade de condições cio-histórico-cultural mais amplo e guarda com ele estreitas re-
para o acesso e permanência na escola e o atendimento educacional lações.
especializado na rede regular de ensino. Falar em currículo implica em duas dimensões:
Conforme expresso no texto da Convenção sobre os Direitos das I – uma dimensão prescritiva, na qual se explicitam as in-
Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, “a deficiên- tenções e os conteúdos de formação, que constitui o currículo
cia é um conceito em evolução”, resultante “da interação entre pes- prescritivo ou formal; e
soas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente II – uma dimensão não explícita, constituída por relações en-
que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na socie- tre os sujeitos envolvidos na prática escolar, tanto nos momentos
dade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. Consi- formais, como informais das suas atividades e nos quais trocam
derando o “respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, ideias e valores, constituindo o currículo oculto, mesmo que não
inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas” e o entendimento tenha sido pré-determinado ou intencional.
da diversidade dos educandos com necessidades educacionais espe- Ambas as dimensões geram uma terceira, real, que concre-
ciais, as instituições de ensino não podem restringir o acesso ao En- tiza o currículo vivo ou em ação, que adquire materialidade a
sino Médio por motivo de deficiência. Tal discriminação “configura partir das práticas formais prescritas e das informais espontâneas
violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano”. vivenciadas nas salas de aula e nos demais ambientes da escola.
Cabe assim às instituições de ensino garantir a transversalida-
de das ações da Educação Especial no Ensino Médio, assim como O conhecimento é a “matéria prima” do trabalho pedagógi-
promover a quebra de barreiras físicas, de comunicação e de infor- co escolar. Dada sua condição de ser produto histórico-cultural,
mação que possam restringir a participação e a aprendizagem dos isto é, de ser produzido e elaborado pelos homens por meio da
educandos.
interação que travam entre si, no intuito de encontrar respostas
Nesse sentido, faz-se necessário organizar processos de avalia-
aos mais diversificados desafios que se interpõem entre eles e a
ção adequados às singularidades dos educandos, incluindo as pos-
produção da sua existência material e imaterial, o conhecimento
sibilidades de dilatamento de prazo para conclusão da formação e
articula-se com os mais variados interesses. Na medida em que a
complementação do atendimento.
Para o atendimento desses objetivos, devem as escolas definir produção, elaboração e disseminação do conhecimento não são
formas inclusivas de atendimento de seus estudantes, devendo os sis- neutras, planejar a ação educativa, melhor definindo, educar é
temas de ensino dar o necessário apoio para a implantação de salas de uma ação política que envolve posicionamentos e escolhas arti-
recursos multifuncionais; a formação continuada de professores para culados com os modos de compreender e agir no mundo.
o atendimento educacional especializado e a formação de gestores, O trabalho pedagógico ganha materialidade nas ações: no
educadores e demais profissionais da escola para a educação inclu- planejamento da escola em geral e do currículo em particular, no
siva; a adequação arquitetônica de prédios escolares e a elaboração, processo de ensinar e aprender e na avaliação do trabalho reali-
produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilida- zado, seja com relação a cada estudante individualmente ou ao
de, bem como a estruturação de núcleos de acessibilidade com vistas conjunto da escola. No que se refere à avaliação, muito se tem
à implementação e à integração das diferentes ações institucionais questionado sobre seus princípios e métodos. Vale ressaltar a ne-
de inclusão de forma a prover condições para o desenvolvimento cessidade de que a avaliação ultrapasse o sentido de mera averi-
acadêmico dos educandos, propiciando sua plena e efetiva partici- guação do que o estudante aprendeu, e torne-se elemento chave
pação e inclusão na sociedade. do processo de planejamento educacional.

Didatismo e Conhecimento 16
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
O planejamento educacional, assim como o currículo e a Mais do que o acúmulo de informações e conhecimentos, há
avaliação na escola, enquanto componentes da organização do que se incluir no currículo um conjunto de conceitos e categorias
trabalho pedagógico, estão circunscritos fortemente a esse ca- básicas. Não se pretende, então, oferecer ao estudante um currí-
ráter de não neutralidade, de ação intencional condicionada pela culo enciclopédico, repleto de informações e de conhecimentos,
subjetividade dos envolvidos, marcados, enfim, pelas distintas vi- formado por disciplinas isoladas, com fronteiras demarcadas e
sões de mundo dos diferentes atores do processo educativo escolar. preservadas, sem relações entre si. A preferência, ao contrário,
Desse modo, o trabalho pedagógico define-se em sua complexida- é que se estabeleça um conjunto necessário de saberes integra-
de, e não se submete plenamente ao controle. No entanto, isso não dos e significativos para o prosseguimento dos estudos, para o
se constitui em limite ou problema, mas indica que se está diante entendimento e ação crítica acerca do mundo.
da riqueza do processo de formação humana, e diante, também, Associado à integração de saberes significativos, há que se
dos desafios que a constituição dessa formação, sempre histórica,
evitar a prática, ainda frequente, de um número excessivo de
impõe.
componentes em cada tempo de organização do curso, gerando
O currículo possui caráter polissêmico e orienta a organiza-
ção do processo educativo escolar. não só fragmentação como o seu congestionamento.
Suas diferentes concepções, com maior ou menor ênfase, re- Além de uma seleção criteriosa de saberes, em termos
fletem a importância de componentes curriculares, tais como os sa- de quantidade, pertinência e relevância, e de sua equilibrada
beres a serem ensinados e aprendidos; as situações e experiências distribuição ao longo dos tempos de organização escolar, vale
de aprendizagem; os planos e projetos pedagógicos; as finalidades possibilitar ao estudante as condições para o desenvolvimento
e os objetivos a serem alcançados, bem como os processos de ava- da capacidade de busca autônoma do conhecimento e formas
liação a serem adotados. Em todas essas perspectivas é notável o de garantir sua apropriação. Isso significa ter acesso a diversas
propósito de se organizar e de se tornar a educação escolar mais fontes, de condições para buscar e analisar novas referências e
eficiente, por meio de ações pedagógicas coletivamente planeja- novos conhecimentos, de adquirir as habilidades mínimas ne-
das. cessárias à utilização adequada das novas tecnologias da infor-
O planejamento coletivo promove “a conquista da cidadania mação e da comunicação, assim como de dominar procedimen-
plena, mediante a compreensão do significado social das relações tos básicos de investigação e de produção de conhecimentos
de poder que se reproduzem no cotidiano da escola, nas relações científicos. É precisamente no aprender a aprender que deve
entre os profissionais da educação, o conhecimento, as famílias e se centrar o esforço da ação pedagógica, para que, mais que
os estudantes, bem assim, entre estes e o projeto político-pedagó- acumular conteúdos, o estudante desenvolva a capacidade de
gico, na sua concepção coletiva que dignifica as pessoas, por meio aprender, de pesquisar e de buscar e (re)construir conhecimen-
da utilização de um método de trabalho centrado nos estudos, nas
tos.
discussões, no diálogo que não apenas problematiza, mas também
Por se desejar que as experiências de aprendizagem ve-
propõe, fortalecendo a ação conjunta que busca, nos movimentos
nham a tocar os estudantes, afetando sua formação, mostra-se
sociais, elementos para criar e recriar o trabalho da e na escola”
(Parecer CNE/CEB nº 7/2010). indispensável a promoção de um ambiente democrático em que
Nesse sentido, ressalta-se a inter-relação entre projeto políti- as relações entre estudantes e docentes e entre os próprios estu-
co-pedagógico, currículo, trabalho pedagógico e, concretamente, dantes se caracterizem pelo respeito aos outros e pela valoriza-
condição e jornada dos professores. ção da diversidade e da diferença.
Reitera-se, com base na legislação concernente ao Ensino Faz-se imprescindível uma seleção de saberes e conheci-
Médio, o quanto os princípios adotados e as finalidades persegui- mentos significativos, capazes de se conectarem aos que o es-
das precisam nortear as decisões tomadas no âmbito do currícu- tudante já tenha apreendido e que, além disso, tenham sentido
lo, compreendido esse como o conjunto de experiências escolares para ele, toquem-no intensamente, como propõe Larrosa, e,
que se desdobram a partir do conhecimento, em meio às relações ainda, contribuam para formar identidades pautadas por auto-
sociais que se travam nos espaços institucionais, e que afetam a nomia, solidariedade e participação na sociedade.
construção das identidades dos estudantes. Nesse sentido, deve ser levado em conta o que os estudan-
Currículo tem a ver com os esforços pedagógicos desdobrados tes já sabem, o que eles gostariam de aprender e o que se consi-
na escola, visando a organizar e a tornar efetivo o processo edu- dera que precisam aprender.
cativo que conforma a última etapa da Educação Básica. Expres- Nessa perspectiva, são também importantes metodologias
sa, assim, o projeto político-pedagógico institucional, discutido e de ensino inovadoras, distintas das que se encontram nas salas
construído pelos profissionais e pelos sujeitos diretamente envol- de aula mais tradicionais e que, ao contrário dessas, ofereçam
vidos no planejamento e na materialização do percurso escolar.
ao estudante a oportunidade de uma atuação ativa, interessada e
Pode-se afirmar a importância de se considerar, na construção
comprometida no processo de aprender, que incluam não só co-
do currículo do Ensino Médio, os sujeitos e seus saberes, necessa-
riamente respeitados e acolhidos nesse currículo. O diálogo entre nhecimentos, mas, também, sua contextualização, experimen-
saberes precisa ser desenvolvido, de modo a propiciar a todos os tação, vivências e convivência em tempos e espaços escolares
estudantes o acesso ao indispensável para a compreensão das di- e extraescolares, mediante aulas e situações diversas, inclusive
ferentes realidades no plano da natureza, da sociedade, da cultura nos campos da cultura, do esporte e do lazer.
e da vida. Assume importância, nessa perspectiva, a promoção de Do professor, espera-se um desempenho competente, capaz
um amplo debate sobre a natureza da produção do conhecimento. de estimular o estudante a colaborar e a interagir com seus cole-
Ou seja, o que se está defendendo é como inserir no currículo, o gas, tendo-se em mente que a aprendizagem, para bem ocorrer,
diálogo entre os saberes. depende de um diálogo produtivo com o outro.

Didatismo e Conhecimento 17
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Cabe enfatizar, neste momento, que os conhecimentos e os As decisões sobre o currículo resultam de um processo seleti-
saberes trabalhados por professores e estudantes, assumem contor- vo, fazendo-se necessário que a escola tenha claro quais critérios
nos e características específicas, constituindo o que se tem deno- orientam esse processo de escolha.
minado de conhecimento escolar. O currículo não se limita ao caráter instrumental, assumindo
O conhecimento escolar apresenta diferenças em relação aos condição de conferir materialidade às ações politicamente defi-
conhecimentos que lhe serviram de referência, aos quais se associa nidas pelos sujeitos da escola. Para concretizar o currículo, essa
intimamente, mas dos quais se distingue com bastante nitidez. perspectiva toma, ainda, como principais orientações os seguintes
Os conhecimentos escolares provêm de saberes histórica e pontos:
socialmente formulados nos âmbitos de referência dos currículos. I – a ação de planejar implica na participação de todos os ele-
Segundo Terigi, tais âmbitos de referência podem ser considerados mentos envolvidos no processo;
como correspondendo aos seguintes espaços: II – a necessidade de se priorizar a busca da unidade entre
I – instituições produtoras de conhecimento científico (univer- teoria e prática;
sidades e centros de pesquisa); III – o planejamento deve partir da realidade concreta e estar
II – mundo do trabalho; voltado para atingir as finalidades legais do Ensino Médio e defini-
III – desenvolvimentos tecnológicos; das no projeto coletivo da escola;
IV – atividades desportivas e corporais; IV – o reconhecimento da dimensão social e histórica do tra-
V – produção artística; balho docente.
VI – campo da saúde; Como proporcionar, por outro lado, compreensões globais,
VII – formas diversas de exercício da cidadania; totalizantes da realidade a partir da seleção de componentes e
VIII – movimentos sociais. conteúdos curriculares? Como orientar a seleção de conteúdos no
Nesses espaços são produzidos e selecionados conhecimen- currículo?
tos e saberes dos quais derivam os escolares. Esses conhecimentos A resposta a tais perguntas implica buscar relacionar partes e
são escolhidos e preparados para compor o currículo formal e para totalidade. Segundo Kosik, cada fato ou conjunto de fatos, na sua
configurar o que deve ser ensinado e aprendido. essência, reflete toda a realidade com maior ou menor riqueza ou
Compreender o que são os conhecimentos escolares faz-se completude. Por esta razão, é possível que um fato contribua mais
relevante para os profissionais da educação, pois permite concluir
que outro na explicitação do real. Assim, a possibilidade de se co-
que os ensinados nas escolas não constituem cópias dos saberes e
nhecer a totalidade a partir das partes é dada pela possibilidade de
conhecimentos socialmente produzidos. Por esse motivo, não faz
se identificar os fatos ou conjunto de fatos que esclareçam sobre a
sentido pensar em inserir, nas salas de aula, os saberes e as prá-
essência do real. Outros aspectos a serem considerados estão rela-
ticas tal como funcionam em seus contextos de origem. Para se
cionados com a distinção entre o que é essencial e acessório, assim
tornarem conhecimentos escolares, os conhecimentos e saberes de
como o sentido objetivo dos fatos.
referência passam por processos de descontextualização e recon-
textualização. A atividade escolar, por conseguinte, implica uma Além disso, o conhecimento contemporâneo guarda em si
determinada ruptura com as atividades específicas dos campos de a história da sua construção. O estudo de um fenômeno, de um
referência. problema, ou de um processo de trabalho está articulado com a
Explicitado como a concepção de conhecimento escolar pode realidade em que se insere. A relação entre partes que compõem a
influir no processo curricular, cabe discutir, resumidamente, em realidade possibilita ir além da parte para compreender a realidade
que consistem os mencionados processos de descontextualização em seu conjunto.
e recontextualização do conhecimento escolar. Tais processos in- A partir dos referenciais construídos sobre as relações entre
cluem algumas estratégias, sendo pertinente observar que o profes- trabalho, ciência, tecnologia e cultura e dos nexos estabelecidos
sor capaz de melhor entender o processo de construção do conhe- entre o projeto político-pedagógico e a organização curricular do
cimento escolar pode, de modo mais acurado, distinguir em que Ensino Médio, são apresentadas, em seguida, algumas possibili-
momento os mecanismos implicados nesse processo favorecem ou dades deste.
dificultam as atividades docentes. Ou seja, a compreensão de como Estas possibilidades de organização devem considerar as nor-
se constitui os conhecimentos escolares e saberes é um fator que mas complementares dos respectivos sistemas de ensino e apoiar-
facilita tanto o planejamento quanto o desdobramento do próprio se na participação coletiva dos sujeitos envolvidos, bem como nas
processo pedagógico. teorias educacionais que buscam as respectivas soluções.
Ninguém mais do que os participantes da atividade escolar
Organização curricular do Ensino Médio em seus diferentes segmentos, conhece a sua realidade e, portanto,
está mais habilitado para tomar decisões a respeito do currículo
Toda ação educativa é intencional. Daí decorre que todo pro- que vai levar à prática.
cesso educativo fundamenta-se em pressupostos e finalidades, não Compreende-se que organizar o currículo implica romper com
havendo neutralidade possível nesse processo. Ao determinar as falsas polarizações, oposições e fronteiras consolidadas ao longo
finalidades da educação, quem o faz tem por base uma visão social do tempo. Isso representa, para os educadores que atuam no Ensi-
de mundo, que orienta a reflexão bem como as decisões tomadas. no Médio, a possibilidade de avançar na compreensão do sentido
O planejamento curricular passa a ser compreendido de forma da educação que é proporcionada aos estudantes. Esses professo-
estreitamente vinculada às relações que se produzem entre a escola res são instigados a buscar relações entre a ciência com a qual
e o contexto histórico-cultural em que a educação se realiza e se trabalham e o seu sentido, enquanto força propulsora do desenvol-
institui, como um elemento, portanto, integrador entre a escola e vimento da sociedade em geral e do cidadão de cuja formação está
a sociedade. participando.

Didatismo e Conhecimento 18
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Após as análises e reflexões desenvolvidas, discute-se a orga- Cabem, aqui, observações referentes às atividades integrado-
nização curricular propriamente dita, ou seja, como os componen- ras interdisciplinares, como colocadas nas Diretrizes Curriculares
tes curriculares podem ser organizados de modo a contribuir para Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº
a formação humana integral, tendo como dimensões o trabalho, a 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010):
ciência, a tecnologia e a cultura. A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de métodos
Em geral, quando se discute currículo no Ensino Médio, há de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua finalidade
uma tendência a se questionar, corretamente, o espaço dos sabe- inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar
res específicos, alegando-se que, ao longo da história, a concepção ocorre a transversalidade do conhecimento constitutivo de diferen-
disciplinar do currículo isolou cada um deles em compartimentos tes disciplinas, por meio da ação didáticopedagógica mediada pela
estanques e incomunicáveis. pedagogia dos projetos temáticos.
Os conhecimentos de cada ramo da ciência, para chegarem até A interdisciplinaridade é, assim, entendida como abordagem
a escola precisaram ser organizados didaticamente, transforman- teórico-metodológica com ênfase no trabalho de integração das di-
do-se em conhecimentos escolares. Estes se diferenciam dos co- ferentes áreas do conhecimento.
nhecimentos científicos porque são retirados/isolados da realidade Continua o citado Parecer, considerando que essa orientação
social, cultural, econômica, política, ambiental etc. em que foram deve ser enriquecida, por meio de proposta temática trabalhada
produzidos para serem transpostos para a situação escolar. transversalmente:
Nesse processo, evidentemente, perdem-se muitas das co- A transversalidade é entendida como forma de organizar o
nexões existentes entre determinada ciência e as demais. Como trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos temáticos são
forma de resolver ou, pelo menos, minimizar os prejuízos decor- integrados às disciplinas, às áreas ditas convencionais de forma
rentes da organização disciplinar escolar, têm surgido, ao longo da
a estarem presentes em todas elas. A interdisciplinaridade é, por-
história, propostas que organizam o currículo a partir de outras es-
tanto, uma abordagem que facilita o exercício da transversalidade,
tratégias. É muito rica a variedade de denominações. Mencionam-
constituindo-se em caminhos facilitadores da integração do pro-
se algumas dessas metodologias e estratégias, apenas a título de
cesso formativo dos estudantes, pois ainda permite a sua partici-
exemplo, sendo propostas que tratam da aprendizagem baseada em
problemas; centros de interesses; núcleos ou complexos temáti- pação na escolha dos temas prioritários. A interdisciplinaridade e a
cos; elaboração de projetos, investigação do meio, aulas de campo, transversalidade complementam-se, ambas rejeitando a concepção
construção de protótipos, visitas técnicas, atividades artístico-cul- de conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto
turais e desportivas, entre outras. Buscam romper com a centra- e acabado.
lidade das disciplinas nos currículos e substituí-las por aspectos Qualquer que seja a forma de organização adotada, esta deve,
mais globalizadores e que abranjam a complexidade das relações como indica a LDB, ter seu foco no estudante e atender sempre o
existentes entre os ramos da ciência no mundo real. interesse do processo de aprendizagem.
Tais estratégias e metodologias são práticas desafiadoras na No que concerne à seleção dos conteúdos disciplinares, im-
organização curricular, na medida em que exigem uma articula- porta também evitar as superposições e lacunas, sem fazer redu-
ção e um diálogo entre os conhecimentos, rompendo com a forma ções do currículo, ratificando-se a necessidade de proporcionar a
fragmentada como historicamente tem sido organizado o currículo formação continuada dos docentes no sentido de que se apropriem
do Ensino Médio. da concepção e dos princípios de um Ensino Médio que integre
Nesta etapa de ensino, tais metodologias encontram barreiras sua proposta pedagógica às características e desenvolvimento das
em função da necessidade do aprofundamento dos conceitos ine- áreas de conhecimento. Igualmente importante é organizar os tem-
rentes às disciplinas escolares, já que cada uma se caracteriza por pos e os espaços de atuação dos professores visando garantir o pla-
ter objeto próprio de estudo e método específico de abordagem. nejamento, implementação e acompanhamento em conjunto das
Dessa maneira, tem se revelado praticamente difícil desenvolver atividades curriculares.
propostas globalizadoras que abranjam os conceitos e especifici- Com relação às atividades integradoras, não cabe especificar
dades de todas as disciplinas curriculares. denominações, embora haja várias na literatura, cada uma com
Assim, as propostas voltadas para o Ensino Médio, em geral, suas peculiaridades. Assume-se essa postura por compreender que
estão baseadas em metodologias mistas, as quais são desenvolvi- tal definição é função de cada sistema de ensino e escola, a partir
das em, pelo menos, dois espaços e tempos. da realidade concreta vivenciada, o que inclui suas especificidades
Um, destinado ao aprofundamento conceitual no interior das e possibilidades, assim como as características sociais, econômi-
disciplinas, e outro, voltado para as denominadas atividades in- cas, políticas, culturais, ambientais e laborais da sociedade, do en-
tegradoras. É a partir daí que se apresenta uma possibilidade de
torno escolar e dos estudantes e professores.
organização curricular do Ensino Médio, com uma organização
Entretanto, de forma coerente com as dimensões que susten-
por disciplinas (recorte do real para aprofundar conceitos) e com
tam a concepção de Ensino Médio aqui discutido, é importante que
atividades integradoras (imersão no real ou sua simulação para
as atividades integradoras sejam concebidas a partir do trabalho
compreender a relação parte-totalidade por meio de atividades
interdisciplinares). Há dois pontos cruciais nessa proposta: a de- como primeira mediação entre o homem e a natureza e de suas
finição das disciplinas com a respectiva seleção de conteúdos; e relações com a sociedade e com cada uma das outras dimensões
a definição das atividades integradoras, pois é necessário que am- curriculares reiteradamente mencionadas.
bas sejam efetivadas a partir das inter-relações existentes entre os Desse modo, sugere-se que as atividades integradoras sejam
eixos constituintes do Ensino Médio integrando as dimensões do desenvolvidas a partir de várias estratégias/temáticas que incluam
trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. a problemática do trabalho de forma relacional.

Didatismo e Conhecimento 19
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as ativida- É assim que, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais
des integradoras podem ser planejadas a partir das relações entre e dos conteúdos obrigatórios fixados em âmbito nacional, mul-
situações reais existentes nas práticas sociais concretas (ou simu- tiplicam-se as propostas e orientações curriculares de Estados e
lações) e os conteúdos das disciplinas, tendo como fio condutor as Municípios e, no seu bojo, os projetos político-pedagógicos das
conexões entre o trabalho e as demais dimensões. escolas, revelando a autonomia dos entes federados e das escolas
É, portanto, na busca de desenvolver estratégias pedagógicas nas suas respectivas jurisdições e traduzindo a pluralidade de pos-
que contribuam para compreender como o trabalho, enquanto me- sibilidades na implementação dos currículos escolares diante das
diação primeira entre o ser humano e o meio ambiente, produz exigências do regime federativo.
social e historicamente ciência e tecnologia e é influenciado e in- Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a parte
fluencia a cultura dos grupos sociais. diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no desenvol-
Este modo de organizar o currículo contribui, não apenas para vimento das linguagens, no mundo do trabalho e na tecnologia,
incorporar ao processo formativo, o trabalho como princípio edu- na produção artística, nas atividades desportivas e corporais, na
cativo, como também para fortalecer as demais dimensões estru- área da saúde, nos movimentos sociais, e ainda incorporam saberes
turantes do Ensino Médio (ciência, tecnologia, cultura e o próprio como os que advêm das formas diversas de exercício da cidadania,
trabalho), sem correr o risco de realizar abordagens demasiada- da experiência docente, do cotidiano e dos estudantes.
mente gerais e, portanto, superficiais, uma vez que as disciplinas, Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo são
se bem planejadas, cumprem o papel do necessário aprofunda- denominados componentes curriculares,10 os quais, por sua vez,
mento. se articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências
Base nacional comum e a parte diversificada: integralidade Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a comunicação
entre os conhecimentos e saberes dos diferentes componentes cur-
A organização da base nacional comum e da parte diversifi- riculares, mas permitem que os referenciais próprios de cada com-
cada no currículo do Ensino Médio tem sua base na legislação e ponente curricular sejam preservados.
na concepção adotada nesse parecer, que apresentam elementos A legislação, seja pela LDB seja por outras leis específicas,
fundamentais para subsidiar diversos formatos possíveis. Cada já determina componentes que são obrigatórios e que, portanto
escola/rede de ensino pode e deve buscar o diferencial que atenda devem ser tratados em uma ou mais das áreas de conhecimento
às necessidades e características sociais, culturais, econômicas e para compor o currículo. Outros, complementares, a critério dos
a diversidade e os variados interesses e expectativas dos estudan- sistemas de ensino e das unidades escolares, podem e devem ser
tes, possibilitando formatos diversos na organização curricular incluídos e tratados como disciplinas ou, de forma integradora,
do Ensino Médio, garantindo sempre a simultaneidade das di- como unidades de estudos, módulos, atividades, práticas e proje-
mensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. tos contextualizados e interdisciplinares ou diversamente articula-
O currículo do Ensino Médio tem uma base nacional co- dores de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou outras
mum, complementada em cada sistema de ensino e em cada esta- formas de organização.
belecimento escolar por uma parte diversificada. Esta enriquece Os componentes definidos pela LDB como obrigatórios são:
aquela, planejada segundo estudo das características regionais e I – o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhe-
locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade es- cimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
colar, perpassando todos os tempos e espaços curriculares consti- especialmente do Brasil;
tuintes do Ensino Médio, independentemente do ciclo da vida no II – o ensino da Arte, especialmente em suas expressões re-
qual os sujeitos tenham acesso à escola. gionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos es-
A base nacional comum e a parte diversificada constituem tudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas não
um todo integrado e não podem ser consideradas como dois blo- exclusivo;
cos distintos. A articulação entre ambas possibilita a sintonia dos III – a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da
interesses mais amplos de formação básica do cidadão com a rea- instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante
lidade local e dos estudantes, perpassando todo o currículo. nos casos previstos em Lei;
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao interesse IV – o ensino da História do Brasil, que leva em conta as con-
social e à preservação da ordem democrática, os conhecimentos tribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
que fazem parte da base nacional comum a que todos devem ter brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e euro-
acesso, independentemente da região e do lugar em que vivem, peia;
V – o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena,
asseguram a característica unitária das orientações curriculares
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
nacionais, das propostas curriculares dos Estados, Distrito Fede-
educação artística e de literatura e história brasileiras;
ral e Municípios e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
VI – a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;13
Os conteúdos curriculares que compõem a parte diversifi-
VII – uma língua estrangeira moderna na parte diversificada,
cada são definidos pelos sistemas de ensino e pelas escolas, de
escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter op-
modo a complementar e enriquecer o currículo, assegurando a
tativo, dentro das disponibilidades da instituição.
contextualização dos conhecimentos escolares diante das dife-
Em termos operacionais, os componentes curriculares obriga-
rentes realidades.
tórios decorrentes da LDB que integram as áreas de conhecimento
são os referentes a:

Didatismo e Conhecimento 20
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
I – Linguagens: Na perspectiva das dimensões trabalho, ciência, tecnologia e
a) Língua Portuguesa. cultura, as instituições de ensino devem ter presente que formam
b) Língua Materna, para populações indígenas. um eixo integrador entre os conhecimentos de distintas nature-
c) Língua Estrangeira moderna. zas, contextualizando-os em sua dimensão histórica e em relação à
d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, realidade social contemporânea.
obrigatoriamente, a musical. Essa integração entre as dimensões do trabalho, ciência, tec-
e) Educação Física. nologia e cultura na perspectiva do trabalho como princípio educa-
tivo, tem por fim propiciar a compreensão dos fundamentos cien-
II – Matemática. tíficos e tecnológicos dos processos sociais e produtivos, devendo
orientar a definição de toda proposição curricular, constituindo-se
III – Ciências da Natureza: no fundamento da seleção dos conhecimentos, disciplinas, meto-
a) Biologia; dologias, estratégias, tempos, espaços, arranjos curriculares alter-
b) Física; nativos e formas de avaliação.
c) Química. Estas dimensões dão condições para um Ensino Médio unitá-
rio que, ao mesmo tempo, deve ser diversificado para atender com
IV – Ciências Humanas: motivação à heterogeneidade e pluralidade de condições, interes-
a) História; ses e aspirações dos estudantes. Mantida a diversidade, a unidade
b) Geografia; nacional a ser buscada, no entanto, necessita de alvos mais espe-
c) Filosofia; cíficos para orientar as aprendizagens comuns a todos no país, nos
d) Sociologia. termos das presentes Diretrizes. Estes alvos devem ser constituídos
por expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares da
Em decorrência de legislação específica, são obrigatórios: base nacional comum que devem ser atingidas pelos estudantes em
I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas uni- cada tempo do curso de Ensino Médio, as quais, por sua vez devem
dades escolares, embora facultativa para o estudante (Lei nº necessariamente orientar as matrizes de competência do ENEM.
11.161/2005). Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação deverá apreciar
II – Tratados transversal e integradamente, permeando todo proposta dessas expectativas, a serem elaboradas pelo Ministério
o currículo, no âmbito dos demais componentes curriculares:
da Educação, em articulação com os órgãos dos sistemas de ensino
a) a educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Pro-
grama Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação Básica,
altera outras leis e dá outras providências);
b) o processo de envelhecimento, o respeito e a valorização PROJETO POLÍTICO
do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conheci-
mentos sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003: Estatuto do Idoso);
PEDAGÓGICO DA ESCOLA.
c) a Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99: Política Nacional
de Educação Ambiental);
d) a educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97: Código de
Trânsito Brasileiro). Para Veiga e colegas, o projeto políticopedagógico tem sido
e) a educação em direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009: objeto de estudos para professores, pesquisadores e instituições
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH). educacionais em níveis nacional, estadual e municipal, em busca
Reitera-se que outros componentes complementares, a crité- da melhoria da qualidade do ensino.
rio dos sistemas de ensino e das unidades escolares e definidos O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da cons-
em seus projetos político-pedagógicos, podem ser incluídos no trução do projeto políticopedagógico, entendido como a própria
currículo, sendo tratados ou como disciplinas ou com outro for- organização do trabalho pedagógico de toda a escola.
mato, preferencialmente, de forma transversal e integradora. A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu
Ainda nos termos da LDB, o currículo do Ensino Médio, projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho
deve garantir ações que promovam a educação tecnológica bási- pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é funda-
ca, a compreensão do significado da ciência, das letras e das ar- mental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as
tes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cul- esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que
tura; e a língua portuguesa como instrumento de comunicação, lhe deem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto,
acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. Deve, também, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema
adotar metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a de ensino.
iniciativa dos estudantes, bem como organizar os conteúdos, as Para isso, começaremos conceituando projeto políticopeda-
metodologias e as formas de avaliação de tal modo que ao final gógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas reflexões para a
do Ensino Médio o estudante demonstre domínio dos princípios análise dos princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os
científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna, e elementos básicos da organização do trabalho pedagógico, neces-
conhecimento das formas contemporâneas de linguagem. sários à construção do projeto políticopedagógico.

Didatismo e Conhecimento 21
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
O que é projeto políticopedagógico? Desse modo, o projeto políticopedagógico tem a ver com a or-
ganização do trabalho pedagógico em dois níveis: como organiza-
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim pro- ção de toda a escola e como organização da sala de aula, incluindo
jectu, participio passado do verbo projicere, que significa lançar sua relação com o contexto social imediato, procurando preservar
para diante. Plano, intento, designio. Empresa, empreendimento. a visão de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar
Redação provisoria de lei. Plano geral de edificação. que o projeto políticopedagógico busca a organização do trabalho
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o pedagógico da escola na sua globalidade.
que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para diante, A principal possibilidade de construção do projeto político-
com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capa-
diferente do presente. Nas palavras de Gadotti: Todo projeto su- cidade de delinear sua própria identidade. Isso significa resgatar
põe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar a escola como espaço público, como lugar de debate, do diálogo
significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, fundado na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o
atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabi- projeto políticopedagógico da escola dará indicações necessárias
à organização do trabalho pedagógico que inclui o trabalho do
lidade em função da promessa que cada projeto contém de estado
professor na dinâmica interna da sala de aula, ressaltado anterior-
melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser toma-
mente.
do como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma ou-
tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus
sadia para educadores, pais, alunos e funcionários. Para enfrentar-
atores e autores. mos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamen-
Nessa perspectiva, o projeto políticopedagógico vai além de te a construção do projeto políticopedagógico. A questão é, pois,
um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades di- saber a qual referencial temos que recorrer para a compreensão
versas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arqui- de nossa prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicer-
vado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do çar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que
cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivencia- parta da prática social e esteja compromissada em solucionar os
do em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo problemas da educação e do ensino de nossa escola; uma teoria
educativo da escola. que subsidie o projeto políticopedagógico. Por sua vez, a prática
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação inten- pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses da
cional, com um sentido explícito, com um compromisso defini- maioria da população. Faz-se necessário, também, o domínio das
do coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, bases teóricometodológicas indispensáveis à concretização das
também, um projeto político por estar intimamente articulado ao concepções assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma
compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da Freitas, (...) as novas formas têm que ser pensadas em um contexto
população majoritária. E político no sentido de compromisso com de luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às vezes
a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A dimensão desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com
política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prá- apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas
tica especificamente pedagógica”. Na dimensão pedagógica reside por alguém, longe da escola e da luta da escola.
a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é Isso significa uma enorme mudança na concepção do proje-
a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, to políticopedagógico e na própria postura da administração cen-
crítico e criativo. É pedagógico no sentido de definir as ações edu- tral. Se a escola se nutre da vivência cotidiana de cada um de seus
cativas e as características necessárias às escolas para cumprir seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho peda-
propósitos e sua intencionalidade. gógico à administração central, seja o Ministério da Educação, a
Político e pedagógico têm, assim, uma significação indisso- Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles
ciável. Nesse sentido é que se deve considerar o projeto político- definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular inovações
e coordenar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela
pedagógico como um processo permanente de reflexão e discussão
própria escola. Em outras palavras, as escolas necessitam receber
dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis à efetiva-
assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as ins-
ção de sua intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa,
tâncias superiores do sistema de ensino.
mas é constitutiva”. Por outro lado, propicia a vivência democráti-
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
ca necessária para a participação de todos os membros da comuni- organização das instâncias superiores, implicando uma mudança
dade escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, substancial na sua prática.
mas se trata de uma relação recíproca entre a dimensão política e a Para que a construção do projeto políticopedagógico seja pos-
dimensão pedagógica da escola. sível não é necessário convencer os professores, a equipe escolar
O projeto políticopedagógico, ao se constituir em processo e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma es-
democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de pontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a
organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, bus- pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
cando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritá- O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem
rias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do
da burocracia que permeia as relações no interior da escola, dimi- poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico
nuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de
as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. sua autonomia e qualidade.

Didatismo e Conhecimento 22
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Do exposto, o projeto políticopedagógico não visa simples- c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela Cons-
mente a um rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em tituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, administrati-
todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização va e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na prática adminis-
do trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da trativa da escola, com o enfrentamento das questões de exclusão
sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição e reprovação e da não-permanência do aluno na sala de aula, o
social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior que vem provocando a marginalização das classes populares. Esse
as determinações e contradições dessa sociedade. compromisso implica a construção coletiva de um projeto político-
pedagógico ligado à educação das classes populares.
Princípios norteadores do projeto políticopedagógico A gestão democrática exige a compreensão em profundida-
de dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper
A abordagem do projeto políticopedagógico, como organiza- com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o
ção do trabalho de toda a escola, está fundada nos princípios que fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo
deverão nortear a escola democrática, pública e gratuita: e do produto do trabalho pelos educadores.
a) Igualdade de condições para acesso e permanência na es- A gestão democrática implica principalmente o repensar da
cola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma desigualdade estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A
no ponto de partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve socialização do poder propicia a prática da participação coletiva,
ser garantida pela mediação da escola. O autor destaca que “só é que atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina a ex-
possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob a ploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia,
condição de se distinguir a democracia como possibilidade no pon- que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram
to de partida e democracia como realidade no ponto de chegada”. políticas educacionais das quais a escola é mera executora.
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a am-
Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a ex- pla participação dos representantes dos diferentes segmentos da
pansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento escola nas decisões/ações administrativo-pedagógicas ali desen-
com simultânea manutenção de qualidade. volvidas. Nas palavras de Marques: “A participação ampla asse-
b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias eco- gura a transparência das decisões, fortalece as pressões para que
nômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto políticope- sejam elas legítimas, garante o controle sobre os acordos estabele-
cidos e, sobretudo, contribui para que sejam contempladas ques-
dagógico da escola é o de propiciar uma qualidade para todos.
tões que de outra forma não entrariam em cogitação”.
A qualidade que se busca implica duas dimensões indissociá-
Nesse sentido, fica claro entender que a gestão democrática,
veis: a formal ou técnica e a política. Uma não está subordinada à
no interior da escola, não é um princípio fácil de ser consolidado,
outra; cada uma delas tem perspectivas próprias.
pois se trata da participação crítica na construção do projeto políti-
A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a técnica.
copedagógico e na sua gestão.
A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a conteúdos
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio da
determinados. Demo afirma que a qualidade formal “significa a liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. O que é
habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, pro- necessário, portanto, como ponto de partida, é o resgate do sentido
cedimentos diante dos desafios do desenvolvimento”. dos conceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a liberdade
A qualidade política é condição imprescindível da participa- fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. O significado
ção. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. Quer dizer “a de autonomia remete-nos para regras e orientações criadas pelos
competência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
história, diante dos fins históricos da sociedade humana”. Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade
Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato de que é algo que se experimenta em situação e esta é uma articulação de
a qualidade se centra no desafio de manejar os instrumentos ade- limites e possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma experiên-
quados para fazer a história humana. A qualidade formal está re- cia de educadores e constrói-se na vivência coletiva, interpessoal.
lacionada com a qualidade política e esta depende da competência Portanto, “somos livres com os outros, não apesar dos outros”. Se
dos meios. pensamos na liberdade na escola, devemos pensá-la na relação
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as ma- entre administradores, professores, funcionários e alunos que aí
neiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir a meta assumem sua parte de responsabilidade na construção do projeto
qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade para políticopedagógico e na relação destes com o contexto social mais
todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no amplo.
sentido de que as crianças em idade escolar entrem na escola. É
preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em sín- Heller afirma que:
tese, qualidade “implica consciência crítica e capacidade de ação,
saber e mudar”. A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas liber-
O projeto políticopedagógico, ao mesmo tempo em que exige dade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas como o fato de
de educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara do tipo sermos livres de alguma coisa, encontramo-nos no estado de ar-
de escola que intentam, requer a definição de fins. Assim, todos bítrio, definimo-nos de modo negativo. A liberdade é uma relação
deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de cidadão que preten- e, como tal, deve ser continuamente ampliada. O próprio conceito
dem formar. As ações específicas para a obtenção desses fins são de liberdade contém o conceito de regra, de reconhecimento, de
meios. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a intervenção recíproca. Com efeito, ninguém pode ser livre se, em
construção do projeto políticopedagógico. volta dele, há outros que não o são!

Didatismo e Conhecimento 23
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Por isso, a liberdade deve ser considerada, também, como Como resultante dessa organização, a escola pode ser descaracte-
liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o rizada como instituição histórica e socialmente determinada, ins-
saber direcionados para uma intencionalidade definida coletiva- tância privilegiada da produção e da apropriação do saber. As ins-
mente. tituições escolares representam «armas de contestação e luta entre
e) Valorização do magistério é um princípio central na dis- grupos culturais e econômicos que têm diferentes graus de poder».
cussão do projeto políticopedagógico. Por outro lado, a escola é local de desenvolvimento da consciência
A qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso na crítica da realidade.
tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida socioeco- Acreditamos que os princípios analisados e o aprofundamen-
nómica, política e cultural do país relacionam-se estreitamente a to dos estudos sobre a organização do trabalho pedagógico tra-
formação (inicial e continuada), condições de trabalho (recursos rão contribuições relevantes para a compreensão dos limites e das
didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação integral à escola, possibilidades dos projetos político-pedagógicos voltados para os
redução do número de alunos na sala de aula etc), remuneração, interesses das camadas menos favorecidas.
elementos esses indispensáveis à profissionalização do magistério. Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses princípios
A melhoria da qualidade da formação profissional e a valori- está em garantir sua operacionalização nas estruturas escolares,
zação do trabalho pedagógico requerem a articulação entre insti- pois uma coisa é estar no papel, na legislação, na proposta, no
tuições formadoras, no caso as instituições de ensino superior e a currículo, e outra é estar ocorrendo na dinâmica interna da escola,
Escola Normal, e as agências empregadoras, ou seja, a própria rede no real, no concreto”.
de ensino. A formação profissional implica, também, a indissocia-
bilidade entre a formação inicial e a formação continuada. Construindo o projeto políticopedagógico
O reforço à valorização dos profissionais da educação, garan-
tindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional permanente, O projeto políticopedagógico é entendido, neste estudo, como
significa “valorizar a experiência e o conhecimento que os profes- a própria organização do trabalho pedagógico da escola. A cons-
sores têm a partir de sua prática pedagógica”. trução do projeto políticopedagógico parte dos princípios de igual-
A formação continuada é um direito de todos os profissio- dade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do
magistério. A escola é concebida como espaço social marcado pela
nais que trabalham na escola, uma vez que ela não só possibilita
manifestação de práticas contraditórias, que apontam para a luta e/
a progressão funcional baseada na titulação, na qualificação e na
ou acomodação de todos os envolvidos na organização do trabalho
competência dos profissionais, mas também propicia, fundamen-
pedagógico.
talmente, o desenvolvimento profissional dos professores articula-
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e com-
do com as escolas e seus projetos.
preender a organização do trabalho pedagógico, no sentido de
A formação continuada deve estar centrada na escola e fazer
gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua divisão
parte do projeto políticopedagógico. Assim, compete à escola: a)
do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico. Nessa
proceder ao levantamento de necessidades de formação continua-
perspectiva, a construção do projeto políticopedagógico é um ins-
da de seus profissionais; b) elaborar seu programa de formação, trumento de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação do
contando com a participação e o apoio dos órgãos centrais, no trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos
sentido de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos da admi-
avaliação do referido programa. nistração central.
Assim, a formação continuada dos profissionais da escola A construção do projeto políticopedagógico, para gestar uma
compromissada com a construção do projeto políticopedagógico nova organização do trabalho pedagógico, passa pela reflexão an-
não deve se limitar aos conteúdos curriculares, mas se estender teriormente feita sobre os princípios. Acreditamos que a análise
à discussão da escola de maneira geral e de suas relações com a dos elementos constitutivos da organização trará contribuições re-
sociedade. Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação levantes para a construção do projeto políticopedagógico.
continuada questões como cidadania, gestão democrática, avalia- Pelo menos sete elementos básicos podem ser apontados: a) as
ção, metodologia de pesquisa e ensino, novas tecnologias de ensi- finalidades da escola; b) a estrutura organizacional; c) o currículo;
no, entre outras. d) o tempo escolar; e) o processo de decisão; f) as relações de tra-
Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da escola, ao balho; g) a avaliação.
construir sua autonomia, deixando de lado seu papel de mera ‘re-
petidora’ de programas de ‘treinamento’, é ousar assumir o papel a) As finalidades da escola
predominante na formação dos profissionais”. A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que os
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa tomada educadores precisam ter clareza das finalidades de sua escola. Para
de consciência dos princípios norteadores do projeto políticope- tanto, há necessidade de refletir sobre a ação educativa que a es-
dagógico não pode ter o sentido espontaneísta de cruzar os braços cola desenvolve com base nas finalidades e nos objetivos que ela
diante da atual organização da escola, inibidora da participação de define. As finalidades da escola referem-se aos efeitos intencional-
educadores, funcionários e alunos no processo de gestão. mente pretendidos e almejados.
É preciso ter consciência de que a dominação no interior da - Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, o que a
escola efetiva-se por meio das relações de poder que se expres- escola persegue, com maior ou menor ênfase?
sam nas práticas autoritárias e conservadoras dos diferentes pro- - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de pre-
fissionais, distribuídos hierarquicamente, bem como por meio das parar culturalmente os indivíduos para uma melhor compreensão
formas de controle existentes no interior da organização escolar. da sociedade em que vivem?

Didatismo e Conhecimento 24
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
- Como a escola procura atingir sua finalidade política e so- A análise da estrutura organizacional da escola visa identi-
cial, ao formar o indivíduo para a participação política que implica ficar quais estruturas são valorizadas e por quem, verificando as
direitos e deveres da cidadania? relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que a escola é
- Como a escola atinge sua finalidade de formação profissio- uma organização orientada por finalidades, controlada e permeada
nal, ou melhor, como ela possibilita a compreensão do papel do pelas questões do poder.
trabalho na formação profissional do aluno? A análise e a compreensão da estrutura organizacional da es-
- Como a escola analisa sua finalidade humanística, ao procu- cola significam indagar sobre suas características, seus polos de
rar promover o desenvolvimento integral da pessoa? poder, seus conflitos - O que sabemos da estrutura pedagógica?
As questões levantadas geram respostas e novas indagações Que tipo de gestão está sendo praticada? O que queremos e pre-
por parte da direção, de professores, funcionários, alunos e pais. cisamos mudar na nossa escola? Qual é o organograma previsto?
O esforço analítico de todos possibilitará a identificação de quais Quem o constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções edu-
finalidades precisam ser reforçadas, quais as que estão relegadas cativas predominantes? Como são vistas a constituição e a dis-
e como elas poderão ser detalhadas de acordo com as áreas do tribuição do poder? Quais os fundamentos regimentais? -, enfim,
conhecimento, das diferentes disciplinas curriculares, do conteúdo caracterizar do modo mais preciso possível a estrutura organiza-
programático. cional da escola e os problemas que afetam o processo de ensino e
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar
aprendizagem, de modo a favorecer a tomada de decisões realistas
dentro da escola e como detalhar as finalidades para atingir a al-
e exequíveis.
mejada cidadania.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe de alguma
autonomia na determinação das finalidades e dos objetivos espe- pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola que
cíficos. O autor enfatiza: “Interessará reter se as finalidades são inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a modificar a
impostas por entidades exteriores ou se são definidas no interior do realidade social. Para poderem realizar um ensino de qualidade e
‘território social’ e se são definidas por consenso ou por conflito ou cumprir suas finalidades, as escolas têm que romper com a atual
até se são matéria ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19). forma de organização burocrática que regula o trabalho pedagó-
Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola deve gico - pela conformidade às regras fixadas, pela obediência a leis
assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho de refletir e diretrizes emanadas do poder central e pela cisão entre os que
sobre sua intencionalidade educativa. Nesse sentido, ela procura pensam e executam -, que conduz à fragmentação e ao consequen-
alicerçar o conceito de autonomia, enfatizando a responsabilidade te controle hierárquico que enfatiza três aspectos inter-relaciona-
de todos, sem deixar de lado os outros níveis da esfera administra- dos: o tempo, a ordem e a disciplina.
tiva educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é importante para Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
“a criação de uma identidade da escola, de um ethos científico e avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e vislum-
diferenciador, que facilite a adesão dos diversos atores e a elabora- brar as possibilidades, os educadores vão desvelando a realidade
ção de um projeto próprio” (1992, p. 26). escolar, estabelecendo relações, definindo finalidades comuns e
A ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora configurando novas formas de organizar as estruturas administra-
da educação. Para ser autônoma, a escola não pode depender dos tivas e pedagógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola
órgãos centrais e intermediários que definem a política da qual ela na direção do que se pretende. Assim, considerando o contexto,
não passa de executora. Ela concebe seu projeto políticopedagó- os limites, os recursos disponíveis (humanos, materiais e finan-
gico e tem autonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma ceiros) e a realidade escolar, cada instituição educativa assume
nova atitude de liderança, no sentido de refletir sobre suas finalida- sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto políticopedagógico,
des sociopolíticas e culturais. propiciando consequentemente a construção de uma nova forma
de organização.
b) A estrutura organizacional
c) O currículo
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas estrutu-
Currículo é um importante elemento constitutivo da orga-
ras: as administrativas e as pedagógicas. As primeiras asseguram,
nização escolar. Currículo implica, necessariamente, a interação
praticamente, a locação e a gestão de recursos humanos, físicos
entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um refe-
e financeiros. Fazem parte, ainda, das estruturas administrativas
todos os elementos que têm uma forma material, como, por exem- rencial teórico que o sustente.
plo, a arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se apre- Currículo é uma construção social do conhecimento, pressu-
senta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e materiais pondo a sistematização dos meios para que essa construção se
didáticos, mobiliário, distribuição das dependências escolares e efetive; é a transmissão dos conhecimentos historicamente produ-
espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico (água, esgoto, zidos e as formas de assimilá-los; portanto, produção, transmissão
lixo e energia elétrica). e assimilação são processos que compõem uma metodologia de
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação das construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
administrativas, “organizam as funções educativas para que a es- propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se à organi-
cola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. zação do conhecimento escolar.
As estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera simplifi-
interações políticas, às questões de ensino e aprendizagem e às de cação do conhecimento científico, que se adequaria à faixa etária
currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos os setores e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade de promover, na
necessários ao desenvolvimento do trabalho pedagógico. escola, uma reflexão aprofundada sobre o processo de produção

Didatismo e Conhecimento 25
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
do conhecimento escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, A noção de controle social na teoria curricular crítica é mais
processo e produto. A análise e a compreensão do processo de um instrumento de contestação e resistência à ideologia veiculada
produção do conhecimento escolar ampliam a compreensão sobre por intermédio dos currículos, tanto do formal quanto do oculto.
as questões curriculares. Orientar a organização curricular para fins emancipatórios im-
Na organização curricular é preciso considerar alguns pontos plica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de sociedade,
básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um instrumento concebida como um todo homogêneo, e de ser humano, como al-
neutro. O currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar guém que tende a aceitar papéis necessários à sua adaptação ao
e desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar contexto em que vive. Controle social, na visão crítica, é uma
que a classe dominante utiliza para a manutenção de privilégios. contribuição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideo-
A determinação do conhecimento escolar, portanto, implica uma logia veiculada por intermédio dos currículos escolares.
análise interpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto
da cultura popular. O currículo expressa uma cultura. d) O tempo escolar
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser separado O tempo é um dos elementos constitutivos da organização do
do contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo: deter-
culturalmente determinado. mina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as férias,
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização curri- os períodos escolares em que o ano se divide, os feriados cívicos
cular que a escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os períodos para reu-
sido orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do niões técnicas, cursos etc.
conhecimento escolar. Com base em Bernstein (1989), chamo a O horário escolar, que fixa o número de horas por semana e
atenção para o fato de que a escola deve buscar novas formas de que varia em razão das disciplinas constantes na grade curricular,
organização curricular, em que o conhecimento escolar (conteúdo) estipula também o número de aulas por professor. Tal como afir-
estabeleça uma relação aberta e inter-relacione-se em torno de uma ma Enguita: “Às matérias tornam-se equivalentes porque ocupam
ideia integradora. Esse tipo de organização curricular, o autor de- o mesmo número de horas por semana, e são vistas como tendo
nomina de currículo-integração. O currículo integração, portanto, menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais”.
visa reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas curricula- A organização do tempo do conhecimento escolar é marca-
res, procurando agrupá-las num todo mais amplo. da pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, consequente-
Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo deixa de ter mente, organizado em períodos fixos de tempo para disciplinas
significado por si só, para assumir uma importância relativa e pas- supostamente separadas. O controle hierárquico utiliza o tempo
sar a ter uma função bem determinada e explícita dentro do todo que muitas vezes é desperdiçado e controlado pela administração
de que faz parte”. e pelo professor.
O quarto ponto refere-se à questão do controle social, já que
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, mais
o currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e recursos
hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, reduzindo,
de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica controle. Por
também, as possibilidades de se institucionalizar o currículo-inte-
outro lado, o controle social é instrumentalizado pelo currículo
gração que conduz a um ensino em extensão.
oculto, entendido este como as “mensagens transmitidas pela sala
Enguita, ao discutir a questão de como a escola contribui para
de aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a gama de visões do
a inculcação da precisão temporal nas atividades escolares, assim
mundo, as normas e os valores dominantes são passados aos alunos
se expressa:
no ambiente escolar, no material didático e mais especificamente
A sucessão de períodos muito breves - sempre de menos de
por intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas
uma hora -dedicados a matérias muito diferentes entre si, sem ne-
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto “estimulam a
conformidade a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo cessidade de sequência lógica entre elas, sem atender à melhor ou
tempo que mantêm desigualdades socioeconómicas e culturais”. à pior adequação de seu conteúdo a períodos mais longos ou mais
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social que curtos e sem prestar nenhuma atenção à cadência do interesse e do
têm permeado as principais tendências do pensamento curricular, trabalho dos estudantes; em suma, a organização habitual do horá-
procurou defender o ponto de vista de que controle social não en- rio escolar ensina ao estudante que o importante não é a qualidade
volve, necessariamente, orientações conservadoras, coercitivas e precisa de seu trabalho, a que o dedica, mas sua duração. A escola
de conformidade comportamental. De acordo com o autor, sub- é o primeiro cenário em que a criança e o jovem presenciam, acei-
jacente ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de tam e sofrem a redução de seu trabalho a trabalho abstrato.
controle social orientada para a emancipação. Faz sentido, então, Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se ne-
falar em controle social comprometido com fins de liberdade que cessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo perío-
deem ao estudante uma voz ativa e crítica. dos de estudo e reflexão de equipes de educadores, fortalecendo a
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor chama a escola como instância de educação continuada.
atenção para o fato de que a noção crítica de controle social não É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu co-
pode deixar de discutir “o contexto apropriado ao desenvolvimen- nhecimento sobre os alunos e sobre o que estão aprendendo. E
to de práticas curriculares que favoreçam o bom rendimento e a preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto políticopeda-
autonomia dos estudantes e, em particular, que reduzam os ele- gógico em ação. É preciso tempo para os estudantes se organiza-
vados índices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro rem e criarem seus espaços para além da sala de aula.
grau”.

Didatismo e Conhecimento 26
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
e) O processo de decisão Considerando a avaliação dessa forma, é possível salientar
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas, dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato dinâmico
das ações e principalmente das decisões é orientado por proce- que qualifica e oferece subsídios ao projeto políticopedagógico.
dimentos formalizados, prevalecendo as relações hierárquicas de Segundo, ela imprime uma direção às ações dos educadores e dos
mando e submissão, de poder autoritário e centralizador. educandos.
Uma estrutura administrativa da escola, adequada à realização O processo de avaliação envolve três momentos: a descrição
de objetivos educacionais, de acordo com os interesses da popu- e a problematização da realidade escolar, a compreensão crítica da
lação, deve prever mecanismos que estimulem a participação de realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas
todos no processo de decisão. Isso requer uma revisão das atri- de ação, momento de criação coletiva.
buições específicas e gerais, bem como da distribuição do poder A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser instrumen-
e da descentralização do processo de decisão. Para que isso seja to de exclusão dos alunos provenientes das classes trabalhadoras.
possível é necessário que se instalem mecanismos institucionais Portanto, deve ser democrática, deve favorecer o desenvolvimento
visando à participação política de todos os envolvidos com o pro- da capacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos cientí-
cesso educativo da escola. Paro (1993, p. 34) sugere a instalação ficos, sociais e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser
de processos eletivos de escolha de dirigentes, colegiados com resultante de um processo coletivo de avaliação diagnostica.
representação de alunos, pais, associação de pais e professores,
grêmio estudantil, processos coletivos de avaliação continuada dos Gestão educacional decorrente da concepção do projeto
serviços escolares etc. políticopedagógico

f) As relações de trabalho A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de sua


E importante reiterar que, quando se busca uma nova orga- fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar condições
nização do trabalho pedagógico, está se considerando que as re- para gerar uma outra forma de organização do trabalho pedagó-
lações de trabalho, no interior da escola, deverão estar calcadas gico.
nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de participação A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para
coletiva, em contraposição à organização regida pelos princípios fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o empenho coleti-
da divisão do trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. vo na construção de um projeto políticopedagógico, e isso implica
É nesse movimento que se verifica o confronto de interesses no fazer rupturas com o existente para avançar.
interior da escola. Por isso, todo esforço de gestar uma nova orga- É preciso entender o projeto políticopedagógico da escola
nização deve levar em conta as condições concretas presentes na como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela precisa de um
escola. Há uma correlação de forças e é nesse embate que se origi- tempo razoável de reflexão e ação necessário à consolidação de
nam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a construção sua proposta.
de novas formas de relações de trabalho, com espaços abertos à A construção do projeto políticopedagógico requer continui-
reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação hori- dade das ações, descentralização, democratização do processo de
zontal entre os diferentes segmentos envolvidos com o processo tomada de decisões e instalação de um processo coletivo de ava-
educativo, a descentralização do poder. A esse respeito, Machado liação de cunho emancipatório.
assume a seguinte posição: “O processo de luta é visto como uma Finalmente, é importante destacar que o movimento de luta e
forma de contrapor-se à dominação, o que pode contribuir para a resistência dos educadores é indispensável para ampliar as possi-
articulação de práticas emancipatórias”. bilidades e apressar as mudanças que se fazem necessárias dentro
A partir disso, novas relações de poder poderão ser construí- e fora dos muros da escola.
das na dinâmica interna da sala de aula e da escola.
Referência:
g) A avaliação VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto políticopeda-
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à reflexão, com gógico da escola: uma construção possível. Papirus, 2002.
base em dados concretos sobre como a escola se organiza para
colocar em ação seu projeto políticopedagógico. A avaliação do
projeto políticopedagógico, numa visão crítica, parte da necessida-
de de conhecer a realidade escolar, busca explicar e compreender
criticamente as causas da existência de problemas, bem como suas
relações, suas mudanças e se esforça para propor ações alternativas
(criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global
analisam o projeto políticopedagógico não como algo estanque,
desvinculado dos aspectos políticos e sociais; não rejeitam as con-
tradições e os conflitos. A avaliação tem um compromisso mais
amplo do que a mera eficiência e eficácia das propostas conser-
vadoras. Portanto, acompanhar e avaliar o projeto políticopeda-
gógico é avaliar os resultados da própria organização do trabalho
pedagógico.

Didatismo e Conhecimento 27
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Nesse sentido, entende-se que uma prática pedagógica signifi-
cativa demanda análises do mundo do trabalho (sem reduzi-lo ape-
O TRABALHO COMO PRINCÍPIO
nas ao espaço onde ocorre o trabalho assalariado), que incluam
EDUCATIVO E A PESQUISA COMO a sua cultura, os conflitos nele existentes e suas vinculações aos
PRINCÍPIO METODOLÓGICO. projetos societários em disputa, suas implicações sobre a nature-
za, os conhecimentos construídos a partir do trabalho e das rela-
ções sociais que se estabelecem na sua produção.

Trabalho como princípio educativo1 A pesquisa como princípio metodológico

Esse princípio permite uma compreensão do significado eco- O trabalho de produção do conhecimento Intimamente re-
nômico, social, histórico, político e cultural das ciências e das ar- lacionado ao trabalho como princípio educativo, esse princípio
tes, o que implica considerar o trabalho em seus sentidos ontoló- contribui para a formação de sujeitos autônomos, capazes de com-
preender-se no mundo e nele atuar por meio do trabalho, transfor-
gico e histórico.
mando a natureza em função das necessidades dos demais seres
Na dimensão ontológica, considerar o trabalho como princí-
humanos e cuidando de sua preservação para as gerações futuras.
pio educativo é compreendê-lo como mediação primeira entre o
A construção da autonomia intelectual necessária para assim atuar
homem e a natureza e, portanto, como elemento central na produ-
por meio do trabalho pode e deve ser potencializada pela pesqui-
ção da existência humana. Dessa forma, é na busca da produção
sa, que deve ser intrínseca ao ensino e orientada para o estudo e a
da própria existência que o homem gera conhecimentos, que são
busca de soluções de questões teóricas e práticas da vida cotidiana
histórica, social e culturalmente acumulados, ampliados e trans-
dos sujeitos trabalhadores.
formados.
No ensino médio integrado, o trabalho também é princípio
É necessário que a pesquisa como princípio educativo esteja
educativo em seu sentido histórico na medida em que se consi- presente em toda a educação escolar dos que vivem e viverão do
deram as diversas formas e significados que o trabalho vem as- próprio trabalho. Ela instiga a curiosidade em relação ao mundo,
sumindo nas sociedades humanas. Isso permitirá compreender gera inquietude e evita que se incorporem pacotes fechados de
que, no sistema capitalista, o trabalho “se transforma em trabalho visão de mundo, de informações e de saberes, quer do senso co-
assalariado ou fator econômico, forma específica de produção da mum, quer escolares, quer científicos.
existência humana sob o capitalismo; portanto, como categoria
econômica e práxis produtiva que, baseadas em conhecimentos Quando despertada nas primeiras fases escolares, a inquie-
existentes, produzem novos conhecimentos.” Incorporar a dimen- tação diante da realidade contribui para que, nas faixas etárias e
são histórica do trabalho no ensino médio integrado significa, por- níveis educacionais mais avançados, o sujeito possa, individual
tanto, considerar exigências específicas para o processo educativo, e coletivamente, formular questões de investigação e buscar res-
que visem à participação direta dos membros da sociedade no tra- postas no âmbito acadêmico ou em outros processos de trabalho,
balho socialmente produtivo. num movimento autônomo de (re)construção de conhecimentos.
Além disso, a (re)produção de conhecimento deve ser orien-
Considerado em suas dimensões ontológica e histórica, tada por um sentido ético: é imprescindível potencializar uma
o trabalho integra a base unitária do ensino médio integrado, concepção de pesquisa, aplicada ou não, assim como de ciência
bem como fundamenta e justifica a formação específica para o e de desenvolvimento tecnológico comprometidos com a produ-
exercício profissional, instituindo-se também como contexto da ção de conhecimentos, saberes, bens e serviços que tenham como
formação. Não se restringe, portanto, como princípio educativo, finalidade melhorar as condições da vida coletiva. Não se trata
ao “aprender trabalhando” ou ao “trabalhar aprendendo”: rela- apenas de produzir bens de consumo para fortalecer o mercado
ciona-se com a contribuição da ação educativa para que os indi- e privilegiar o valor de troca em detrimento do valor de uso,
víduos/coletivos compreendam, enquanto vivenciam e constroem concentrando riqueza e aumentando o fosso entre incluídos e ex-
a própria formação, que é socialmente justo que todos trabalhem cluídos.
porque esse é um direito de todos os cidadãos. A edificação da autonomia intelectual dos sujeitos frente à
(re)construção do conhecimento e de outras práticas sociais inclui
Mas o trabalho é também uma obrigação coletiva, porque a conscientização e a autonomia em relação ao trabalho. Poten-
é a partir da produção de todos que se produz e se transforma a cializar a relação entre o ensino e a pesquisa contribui para de-
existência humana e, nesse sentido, não é justo que muitos traba- senvolver, ao longo da vida, entre outros aspectos, as capacidades
lhem para que poucos enriqueçam cada vez mais, enquanto outros de interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar idéias fechadas,
empobrecem e vivem à margem. Ou pior ainda, que muitos não aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas
tenham sequer direito ao trabalho e que isso seja funcional aos pela investigação e pela responsabilidade ética diante das ques-
interesses econômicos hegemônicos. tões políticas, sociais, culturais e econômicas.

1 Texto adaptado de MOURA, D. H. Algumas Possibilidades


de Organização do Ensino Médio a Partir de uma Base Unitária: Tra-
balho, Ciência, Tecnologia e Cultura.

Didatismo e Conhecimento 28
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Pesquisa como princípio pedagógico A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos professores,
implica na identificação de uma dúvida ou problema, na seleção
A produção acelerada de conhecimentos, característica deste de informações de fontes confiáveis, na interpretação e elaboração
novo século, traz para as escolas o desafio de fazer com que esses dessas informações e na organização e relato sobre o conhecimen-
novos conhecimentos sejam socializados de modo a promover to adquirido.
a elevação do nível geral de educação da população. O impacto Muito além do conhecimento e da utilização de equipamentos
das novas tecnologias sobre as escolas afeta tanto os meios a se- e materiais, a prática de pesquisa propicia o desenvolvimento da
rem utilizados nas instituições educativas, quanto os elementos atitude científica, o que significa contribuir, entre outros aspectos,
do processo educativo, tais como a valorização da ideia da ins- para o desenvolvimento de condições de, ao longo da vida, inter-
tituição escolar como centro do conhecimento; a transformação pretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender,
das infraestruturas; a modificação dos papeis do professor e do buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela inves-
aluno; a influência sobre os modelos de organização e gestão; o tigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões
surgimento de novas figuras e instituições no contexto educativo; políticas, sociais, culturais e econômicas.
e a influência sobre metodologias, estratégias e instrumentos de A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos con-
textualizados e interdisciplinares/ articuladores de saberes, ganha
avaliação.
maior significado para os estudantes. Se a pesquisa e os projetos
O aumento exponencial da geração de conhecimentos tem,
objetivarem, também, conhecimentos para atuação na comunida-
também, como consequência que a instituição escolar deixa de ser
de, terão maior relevância, além de seu forte sentido ético-social.
o único centro de geração de informações. A ela se juntam outras
É fundamental que a pesquisa esteja orientada por esse senti-
instituições, movimentos e ações culturais, públicas e privadas, do ético, de modo a potencializar uma concepção de investigação
além da importância que vão adquirindo na sociedade os meios científica que motiva e orienta projetos de ação visando à melhoria
de comunicação como criadores e portadores de informação e de da coletividade e ao bem comum.
conteúdos desenvolvidos fora do âmbito escolar. A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim, propi-
Apesar da importância que ganham esses novos mecanismos ciar a participação do estudante tanto na prática pedagógica quanto
de aquisição de informações, é importante destacar que informa- colaborar para o relacionamento entre a escola e a comunidade.
ção não pode ser confundida com conhecimento. O fato dessas
novas tecnologias se aproximarem da escola, onde os alunos, às Fonte: Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação
vezes, chegam com muitas informações, reforça o papel dos pro- Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.
fessores no tocante às formas de sistematização dos conteúdos e Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB,
de estabelecimento de valores. DICEI, 2013.
Uma consequência imediata da sociedade de informação é
que a sobrevivência nesse ambiente requer o aprendizado contí-
nuo ao longo de toda a vida. Esse novo modo de ser requer que o
aluno, para além de adquirir determinadas informações e desen- TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
volver habilidades para realizar certas tarefas, deve aprender a COMUNICAÇÃO COMO
aprender, para continuar aprendendo. FERRAMENTA DO PROCESSO DE
Essas novas exigências requerem um novo comportamento ENSINO E DE APRENDIZAGEM.
dos professores que devem deixar de ser transmissores de conhe-
cimentos para serem mediadores, facilitadores da aquisição de
conhecimentos; devem estimular a realização de pesquisas, a pro-
dução de conhecimentos e o trabalho em grupo. Essa transforma- Reconhecer que vivemos em uma sociedade cada vez mais
ção necessária pode ser traduzida pela adoção da pesquisa como tecnológica é reconhecer também a importância da capitação e das
habilidades do educador em lidar com as novas tecnologias.
princípio pedagógico.
As tecnologias da informação e da comunicação (TIC) reque-
É necessário que a pesquisa como princípio pedagógico este-
rem do educador novas formas de organização de trabalho, arti-
ja presente em toda a educação escolar dos que vivem/viverão do
culação dos saberes, transdiciplinaridade, interdisciplinaridade e a
próprio trabalho. Ela instiga o estudante no sentido da curiosidade consideração de que o conhecimento tem um valor precioso nesse
em direção ao mundo que o cerca, gera inquietude, possibilitando processo de organização.
que o estudante possa ser protagonista na busca de informações e Agora, a educação e o educador ganham novos conceitos
de saberes, quer sejam do senso comum, escolares ou científicos. frente ao uso das tecnologias. O educador pode desenvolver um
Essa atitude de inquietação diante da realidade potencializa- trabalho buscando práticas pedagógicas mais próximas do uso das
da pela pesquisa, quando despertada no Ensino Médio, contribui tecnologias, auxiliando o educando na aprendizagem dessas “no-
para que o sujeito possa, individual e coletivamente, formular vas” ferramentas.
questões de investigação e buscar respostas em um processo au- As instituições escolares além de incorporarem novas tecno-
tônomo de (re)construção de conhecimentos. Nesse sentido, a re- logias têm a possibilidade de desenvolver uma prática que leve o
levância não está no fornecimento pelo docente de informações, educando a reflexão sobre os conhecimentos e usos tecnológicos.
as quais, na atualidade, são encontradas, no mais das vezes e de Em nossos dias atuais, a informação, o uso das tecnologias são
forma ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. ferramentas para a elaboração do conhecimento. As tecnologias,
O relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa, para os recursos digitais são meios para a obtenção de informações e
que os estudantes busquem e (re)construam conhecimentos. matéria prima para a elaboração do conhecimento.

Didatismo e Conhecimento 29
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Assim, é importante destacar que o conceito de conhecimento Os recursos tecnológicos devem estar a serviço de mudanças
se diferencia do conceito de informação, pois o conhecimento tem na postura do educador, que não é apenas coletar informações, mas
seu caráter enraizado na subjetividade, ultrapassando o limite de trabalhá-las, selecioná-las e aplicá-las às situações de interesse do
um rol de informações e de um caráter mais objetivo. educando, confrontando visões, metodologias e resultados. O edu-
Destacar a diferença entre conhecimento e informação é de cador terá que se atualizar e abrir-se para o que o educando
suma importância, visto que a utilização das tecnologias amplia trazer, aprender acerca das TIC e interagir com este, ou seja,
a possibilidade de não apenas obtermos informações, mas sim, as redefinir a sua própria prática, incorporando a esta as TIC no
múltiplas possibilidades de elaboração do conhecimento, mesmo, processo de sua formação.
que não haja garantias de que esse acesso seja efetivado com su- Barreto (2002) afirma que precisamos de ferramentas cada
cesso. vez mais sofisticadas, não para operar mágicas, mas sim para
(...) A tecnologia amplia as condições de acesso às fontes de não permitir a simplificação da matéria a ser trabalhada.
informações, mas não há nenhuma garantia que tal recurso seja Segundo Barreto (2002) a atratividade e a interatividade
suficiente, por si mesmo, para efetivar a síntese representada pela são características atribuídas à presença das TIC nas salas de
cognição. aula e que para, além disso, as TIC incluem possibilidades de
Assim, surgem novos desafios para a prática educativa, sina- mudanças no espaço escolar que se opõem as velhas tecnolo-
lizando para a necessidade de uma competência mais adequada
gias, onde as carteiras em filas dão espaço para uma organiza-
para o educador que é repensar sua ação perante esses desafios
ção em semicírculo, possibilitando uma relação de interações
de nossa sociedade, que é regida pela informação e comunicação,
verbais e não - verbais incluindo novas possibilidades de troca
ou seja, pelas TIC.
e discussão.
De forma geral, espera-se que a educação esteja em sintonia
com os desafios ditados pela sociedade na qual a escola está inse- A ação pedagógica não se resume a uma representação li-
rida, caso contrário pode-se gerar consequências negativas, erros near e sequencial de conteúdos. A formação de conceitos, en-
que podem favorecer a exclusão social. volvendo articulações, rupturas e superação para a elaboração
As tecnologias de informação e da comunicação (TIC) podem do conhecimento, no plano individual e social são pontos im-
produzir mudanças significativas para a sociedade, influenciando portantes na aprendizagem do educando.
culturas, o mercado de trabalho e padrões de consumo. No entan- Do ponto de vista metodológico o educador precisa apren-
to, enquanto o acesso a uma tecnologia não for estendido a uma der a equilibrar processos de organização e de “provocação” na
parte mais expressiva da sociedade, permanecerá o estigma de ser sala de aula e buscar novos desafios, posicionamentos, valores.
um benefício das classes privilegiadas. Por outro lado, pensar as No entanto, o educador tem utilizado essas tecnologias como
tecnologias apenas sob o aspecto econômico é desconsiderar suas um agente provocador de mudanças tanto na educação formal
influências sobre a educação. ou informal ou tem as utilizado como apenas um complemento,
E para além do aspecto econômico, as TIC podem ser vistas uma incorporação?
como forma de atingir as exigências da sociedade em que vive- Educar para além da burocratização, impulsionando, ques-
mos, no entanto, garantias quanto às transformações qualitativas tionando, inovando, esse pode ser um dos caminhos das “ações”
na prática pedagógica é outra questão que ainda merece ser discu- do educando frente as TIC.
tida com cautela. As TIC nas escolas podem ter diferentes finalidades, por
A apropriação educacional das novas tecnologias exige a mu- exemplo, ser utilizadas como forma de aperfeiçoar o trabalho
dança do modelo de comunicação que tem sustentado as práticas educativo que já feito outrora; como parte do projeto educacio-
escolares. nal; como implantação efetiva da integração das TIC no projeto
As TIC não podem ser analisadas de forma autônoma e des- educacional, entre outras.
vinculadas das condições políticas, humanas e sociais, mas, como O educador possui domínio técnico-pedagógico para fazer
meio de contribuição da minimização das restrições relacionadas a gestão das novas tecnologias no contexto de ensino - apren-
ao tempo e ao espaço e da agilização da comunicação entre educa- dizagem?
dores e educandos. Combinar o que podemos fazer melhor em sala de aula,
A sala de aula é a “ferramenta” mestra quando falamos de es-
pensar o currículo de cada projeto educacional, ampliar concei-
cola, ensino e aprendizagem e com as TIC surgem novos espaços
tos de teoria-prática é uma forma de compreender e vivenciar a
para o processo de ensinoaprendizagem que modificam a “ação”
“ação” do educador.
do educador em sala de aula, com isso, novas propostas vêm sur-
No sentido do preenchimento do que ficou em aberto, vale
gindo, tanto tecnológicas quanto pedagógicas.
As informações adquiridas por essas tecnologias pelo educa- insistir que trabalhar os novos textos, a multimídia e as novas
dor e educando tem modificado o processo de ensino-aprendiza- tecnologias implicam novos multidesafios que não podem ser
gem? desvinculados da discussão do trabalho como um todo, com
Agora, a tarefa do educador não precisa delimitar-se ao espa- seus materiais e ferramentas.
ço de sala de aula, mas, gerenciar atividades a distância, técnicas, Ao contrário de deturpar, a introdução que esses novos con-
projetos, flexibilizando o tempo das aulas e da aprendizagem. ceitos tendem a enriquecer os propósitos centrais do processo
É preciso garantir o direito a TV, vídeo, computador, etc. (Al- pedagógico no desenvolvimento humano, cultural, científico e
ves apud Barreto, 2000) porque a esmagadora maioria dos alunos tecnológico. Lembrando-nos do conceito que educar é também
tem na escola a única possibilidade de acesso ao conjunto destas oportunizar novas formar de conhecermos o mundo, a necessi-
tecnologias. dade de domínio das TIC torna-se fundamental.

Didatismo e Conhecimento 30
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade A função social do ensino e a concepção sobre os processos
curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialetica- de aprendizagem: instrumentos de análise
mente me relaciono, meu papel no mundo não é só de quem cons-
tata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados são
ocorrências. (Freire, 1996). ampliados para além da questão do que ensinar, encontrando sen-
A diferença não está no uso ou não uso das novas tecnologias, tido na indagação sobre por que ensinar. Deste modo, acabam por
mas na compreensão das suas possibilidades. Mais ainda, na com- envolver os objetivos educacionais, definindo suas ações no âm-
preensão da lógica que permeia a movimentação entre os saberes no bito concreto do ambiente de aula. Esses conteúdos assumem o
atual estágio da sociedade tecnológica. papel de envolver todas as dimensões da pessoa, caracterizando
O educador, além da possibilidade de difundir o conhecimento, as seguintes tipologias de aprendizagem: factual e conceitual (o
em todos os aspectos do ensino, conhecimento este que tenha como que se deve aprender?); procedimental (o que se deve fazer?); e
proposta a melhoria da qualidade de vida da sociedade, ser produtor atitudinal (como se deve ser?).
de si próprio e reconhecer também que o conhecimento, a cultura e Para o autor, o papel do objetivo educacional é a formação in-
a sociedade são conceitos que indissociáveis. tegral para a autonomia, equilíbrio pessoal, relações interpessoais,
etc.
Referência: A primeira conclusão que o autor chega quanto ao conheci-
ALMEIDA, N. R. de. A atuação do educador e as tecnologias: mento dos processos de aprendizagem é a atenção à diversidade.
uma relação possível? CNPq. Disponível em: http://www.educa- Para o autor a diversidade deve fazer parte do trabalho do
caoecomunicacao.org/leituras_na_escola/textos/oficinas/textos_ professor, pois alunos e alunas são diferentes em muitos aspectos
completos/a_atuacao_do_educador.pdf (físico, emocional, cognitivo, etc.)

Construtivismo: concepção sobre como se produzem os pro-


cessos de aprendizagem
A REFLEXÃO SOBRE A
PRÁTICA PEDAGÓGICA. O ensino tradicional está relacionado às diferentes disciplinas.
Por conteúdos factuais se entende o conhecimento de fatos, acon-
tecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e singulares: a
idade de uma pessoa, a conquista de um território. São conteúdoss
em que as respostas são inequívocas.
O conteúdo abaixo, será estudado conforme as ideias de Zabala, Um conteúdo procedimental é um conjunto de ações ordena-
propostas no livro “A prática educativa: como ensinar”2.
das e com um fim, para a realização de um objetivo. São conteúdos
procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular, classificar, tradu-
A prática educativa: unidades de análise
zir, recortar, saltar, inferir, espetar, etc.
Os conteúdos atitudinais englobam conteúdos agrupados em
Buscar a competência em seu ofício é característica de qualquer
valores, atitudes e normas cada um destes com natureza diferen-
bom profissional. Zabala elabora um modelo que seria capaz de tra-
ciada.
zer subsídios para a análise da prática profissional. Como opção,
utiliza-se do modelo de interpretação, que se contrapõe àquele em
que o professor é um aplicador de fórmulas herdadas da tradição, As sequências didáticas e as sequências de conteúdo
fundamentando-se no pensamento prático e na capacidade reflexiva
do docente. Certos questionamentos pareceram-nos relevantes: na sequên-
A finalidade da escola é promover a formação integral dos alu- cia há atividades que nos permitam determinar os conhecimentos
nos, segundo Zabala, que critica as ênfases atribuídas ao aspecto prévios? Atividades cujos conteúdos sejam propostos de forma
cognitivo. Para ele, é na instituição escolar, através das relações significativa e funcional? Atividades em que possamos inferir sua
construídas a partir de experiências vividas, que se estabelecem os adequação ao nível de desenvolvimento de cada aluno? Atividades
vínculos e as condições que definem as concepções pessoais sobre que representam um desafio alcançável? Provoquem um conflito
si e os demais. A partir dessa posição ideológica acerca da finalidade cognitivo e promovam a atividade mental? Sejam motivadoras em
da educação escolarizada, é conclamada a necessidade de uma refle- relação à aprendizagem de novos conteúdos? Estimulem a autoes-
xão profunda e permanente da condição de cidadania dos alunos, e tima e o autoconceito? Ajudem o aluno a adquirir habilidades rela-
da sociedade em que vivem. cionadas com o aprender, sendo cada vez mais autônomo em suas
Segundo, o autor, na nossa vida particular e profissional, vive- aprendizagens?
mos questionando sobre o que e como fazemos, e os resultados daí A partir de nossas propostas de trabalho, aparecem para os
decorrentes. Concluímos então que algumas coisas fazemos muito alunos, diferentes oportunidades de aprender diversas coisas; para
bem, outras mais ou menos e, por último, algumas que somos inca- os educadores, uma diversidade de meios para captar os processos
pazes de realizar. de construção que eles edificam, neles incidir e avaliar; nem tudo
As variáveis que condicionam a prática educativa são difíceis se aprende do mesmo modo, no mesmo tempo, nem com o mesmo
de definir, dada a complexidade como se manifesta, pois nelas se ex- trabalho; por que nosso desejo de que sejam tolerantes e respeito-
pressam múltiplos fatores, ideias, valores, hábitos, pedagógicos, etc. sos se vê frustrado justamente naquelas ocasiões em que é mais
necessário exercer a tolerância e respeito?; refletir sobre o que
2 Material consultado em: http://apeoespbebedouro.blogs- aprender o que propomos pode nos conduzir a estabelecer propos-
pot.com.br/2011/07/pratica-educativacomo-ensinar-antoni.html tas suscetíveis de ajudar mais os alunos e ajudar a nós mesmos.

Didatismo e Conhecimento 31
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
As relações interativas em sala de aula: O papel dos profes- A organização dos conteúdos
sores e dos alunos
Ele defende a organização dos conteúdos pelo método de
O autor expõe o valor das relações que se estabelecem en- ensino global, pois os conteúdos de aprendizagem só podem ser
tre os professores, os alunos e os conteúdos no processo ensino considerados relevantes na medida em que desenvolvam nos alu-
e aprendizagem. Comenta que essas se sobrepõem às sequências nos a capacidade para compreender uma realidade que se mani-
didáticas, visto que o professor e os alunos possuem certo grau de festa globalmente. No tocante aos métodos globalizadores, o autor
participação nesse processo, diferente do ensino tradicional, carac- descreve as possibilidades dos centros de interesse de Decroly, os
terizado pela transmissão/recepção e reprodução de conhecimen- métodos de projetos de Kilpatrick, o estudo do meio, e os projetos
tos. Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos de trabalhos globais.
diferentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos, bem Podemos estabelecer três graus de relações disciplinares:
como a relação entre eles no processo, colocando que o professor - A multidisciplinaridade = é a organização de conteúdo mais
necessita diversificar as estratégias, propor desafios, comparar, di- tradicional
rigir e estar atento à diversidade dos alunos, o que significa estabe- - A interdisciplinaridade = é a interação entre duas ou mais
lecer uma interação direta com eles. disciplinas
Das relações interativas para facilitar a aprendizagem se de- - Elaboração do dossiê ou síntese= nesta fase se concretiza o
duz uma série de funções dos professores, que podemos caracteri- produto do projeto que conduziu e justificou todo o trabalho
zá-las da seguinte maneira: - Avaliação=avalia-se todo o processo em dois níveis: um de
- planejamento E plasticidade na aplicação: A complexidade caráter interno onde cada aluno recapitula o que aprendeu, e outro,
dos processos educativos faz com que não se possa prever o que de caráter externo, com a ajuda do professor, os alunos tem que se
acontecerá na aula. Este inconveniente é o que aconselha que os aprofundar no processo de descontextualização.
professores contem com o maior número de meios e estratégias
para poder atender às diferentes demandas que aparecerão no pro- Os materiais curriculares e outros recursos didáticos
cesso ensino/aprendizagem;
- Levar em conta as contribuições dos alunos tanto no início Materiais curriculares são os instrumentos que proporcionam
das atividades como durante o transcurso das mesmas; referências e critérios para tomar decisões: no planejamento, na
- Ajudá-los a encontrar sentido no que fazem; intervenção direta no processo de ensino/aprendizagem e em sua
- Estabelecer metas alcançáveis; avaliação. São meios que ajudam os professores a responder aos
- Oferecer ajuda contingente (a elaboração do conhecimento problemas concretos que as diferentes fases dos processos de pla-
exige ajuda especializada, estímulo e afeto por parte dos professo- nejamento, execução e avaliação lhes apresentam.
res e dos demais colegas); As críticas referentes aos conteúdos dos livros didáticos giram
- Promover canais de comunicação; em torno das seguintes considerações:
- A maioria dos livros trata os conteúdos de forma unidirecio-
A organização social da classe
nal e se alimentam de estereótipos culturais;
- É fácil encontrar os livros com dose consideráveis de elitis-
Antoni Zabala procurou analisar as diferentes formas de orga-
mo, sexismo, centralismo, classicismos, etc.;
nização social dos alunos vivenciadas na escola e sua relação com
- Apesar da grande quantidade de informação não podem ofe-
o processo de aprendizagem. Percebeu que todo tipo de organiza-
recer toda a informação necessária para garantir a comparação;
ção grupal dos alunos, assim como todas as atividades a serem pro-
gramadas/desenvolvidas pela escola e a própria forma de gestão
Os centros de interesse de Decroly: Sequência de ensino/
que esta emprega, devem levar em consideração os tipos de apren-
aprendizagem nas seguintes fases:
dizagens que estão proporcionando a seus alunos e os objetivos
expressos pela própria escola. Desse modo, alertou para o fato de
que inconscientemente a instituição escolar, ao não refletir sobre - Observação-Conjunto de atividades que tem por finalidade
esses aspectos, pode acabar por desenvolver uma aprendizagem pôr os alunos em contato direto com as coisas, os seres, os fatos e
inversa àquilo que apregoa. os acontecimentos.
A escola como grande grupo: - Associação – através de exercícios os alunos relacionam o
- Atividades gerais da escola (durante o ano, a maioria das es- que observaram com outras ideias ou realidades e expressão.
colas organiza uma série de atividades que em geral são de caráter - Expressão- pode ser concreta, quando utiliza os trabalhos
social, cultural, lúdico ou esportivo); manuais, ou abstrata, quando traduz o pensamento com a ajuda de
- Tipos de gestão da escola: pragmática (efetuada com cri- simples convencionais.
térios relativos às necessidades de dinamização, organização e - Justificativa: - a criança é o ponto de partida do método; o
desenvolvimento das diferentes tarefas de uma instituição com respeito à personalidade do aluno; a eficácia da aprendizagem é o
funções complexas); colegiada (define determinadas relações in- interesse; a vida como educadora. A eficácia do meio é decisiva;
terpessoais, uma maneira de conceber as relações de trabalho que os meninos (as) são seres sociais; a atividade mental está presidida
podem ser de ajuda, de colaboração ou de confiança, ou exatamen- pela função globalizadora e é influenciada pelas tendências pre-
te o contrário). ponderantes do sujeito.

Didatismo e Conhecimento 32
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
O método de projetos de Kilpatrick: Sequência de ensino/ Por último, devemos ter presente que na sala de aula e na
aprendizagem compreende quatro fases: escola, avaliamos muito mais do que se pensa, inclusive mais do
-Intenção (os alunos escolhem o objeto ou a montagem que que temos consciência.
querem realizar e a maneira de se organizar);
-Preparação (consiste em fazer o projeto do objeto ou mon- Referência:
tagem); ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Edi-
- Execução (os meios e os processos a serem seguidos); tora: Artmed. 1998.
- Avaliação (momento de comprovar a eficiência e a valida-
de do produto realizado);
Os projetos de trabalhos globais (nasce de uma evolução
dos Project Works de língua e é uma resposta à necessidade de INCLUSÃO E EXCLUSÃO NO
organizar os conteúdos na perspectiva da globalização) CONTEXTO DAS PRÁTICAS
EDUCATIVAS NOS SISTEMAS
A avaliação FORMAIS DE EDUCAÇÃO.
Realiza-se uma severa crítica à forma como habitualmente
é compreendida a avaliação. A pergunta inicial “por que temos
que avaliar”, necessária para que se entenda qual deve ser o ob-
jeto e o sujeito da avaliação, demora um pouco a ser respondida. Inclusão versus Exclusão Social: Uma Relação Contraditória
A proposta elimina a ideia da avaliação apenas do aluno como
sujeito que aprende e propõe também uma avaliação de como o Segundo Faleiros (2006), a dicotomia exclusão e inclusão
professor ensina. Elabora a ideia de que devemos realizar uma apresentam-se enquanto uma “correlação de forças” estabelecida
avaliação que seja inicial, reguladora capaz de acompanhar o dentro da dinâmica da sociedade capitalista e, mais profundamen-
progresso do ensino, final e integradora. Esta divisão é empre- te, na sua fase madura (NETTO, 2011) inserida no contexto da
gada como necessária para se continuar fazendo o que se faz, ou flexibilização proposta pela lógica neoliberal. Portanto, a exclusão
o que se deve fazer de novo, o que é mais uma justificativa para é definida, neste contexto, como negação da cidadania, da garantia
a avaliação, o por quê avaliar. e efetividade de direitos civis, políticos e sociais, ambientais e da
equidade de gênero, raça, etnia e território. A exclusão é um pro-
Avaliação inicial, planejamento, adequação do plano (ava- cesso dialético e histórico, decorrente da exploração e da domina-
liação reguladora), avaliação final, avaliação integradora. ção, com vantagens para uns e desvantagens para outros, estrutu-
rante da vida das pessoas e coletividades, [...] (FALEIROS, 2006).
A partir de uma opção que contempla como finalidade fun- Neste sentido, a inclusão se apresentaria como proposta con-
damental do ensino a formação integral da pessoa, e conforme trária aos princípios pregados pelo neoliberalismo. Além disso, “a
uma concepção construtivista, a avaliação sempre tem que ser perda [...] [da] inclusão, típica da modernidade capitalista, também
formativa, de maneira que o processo avaliador, independente- desestruturou as referências a direitos garantidos, pois os direitos
mente de seu objetivo de estudo, tem que observar as diferentes da cidadania expressam as relações sociais” (FALEIROS, 2006).
fases de uma intervenção que deverá ser estratégica. Quer dizer, Sendo assim,
que permita conhecer qual é a situação de partida, em função de Desta forma, a inclusão e a exclusão se referem às dinâmicas
determinados objetivos gerais bem definidos (avaliação inicial); de expulsão ou de inserção nas esferas socialmente reconhecidas.
um planejamento da intervenção; uma atuação e, ao mesmo tem- A categorização e percepção da pobreza se vincula a experiências
po, flexível , entendido como uma hipótese de intervenção; uma vividas de autodesignação, confrontadas às expectativas sociais,
atuação na aula, em que as atividades , as tarefas e os próprios conforme realidades heterogêneas de nação, Estado e cultura. A
conteúdos de trabalho se adequarão constantemente (avaliação inclusão/exclusão também pode se referir a maior ou menor de-
reguladora) às necessidade que vão se apresentando para chegar pendência de outrem ou de instituições públicas, aos rendimentos,
sobre o processo seguido, que permita estabelecer novas propos- ao valor dos rendimentos, à qualificação ou desqualificação social,
tas de intervenção (avaliação integradora). à presença ou ausência de bens materiais, à solidez ou degradação
Nós, professores (as), temos que dispor de todos os dados moral, à periferização/centralidade no território, à posse ou desa-
que nos permitam reconhecer em todo momento que atividades possamento da terra e ativos, à discriminação/aceitação, à violên-
cada aluno necessita para sua formação; cia maior ou menor, às condições de nacionalidade, raça, etnia, ou
O aluno necessita de incentivos e estímulos. Sem incenti- a opções e modos de vida.
vos, sem estímulo e sem entusiasmo dificilmente poderá enfren- Diante dessa afirmação de Faleiros (2006) direcionamos nossa
tar o trabalho que lhe é proposto; análise baseada na argumentação de que se tenta limitar a ques-
A escola, as equipes docentes têm que dispor de todos os tão da desigualdade social através de um termo usual – inclusão
dados necessários para a continuidade e a coerência no percurso e exclusão – que foi bem aceito. Percebe-se, então, que a aplica-
do aluno; ção desses conceitos não dá conta da problemática em questão,
A administração educacional é gerida por educadores, por- tamanha sua complexidade. Ou seja, não podemos concordar com
tanto, seria lógico que a informação fosse o mais profissional a noção de que a questão da exclusão e inclusão e todos os ele-
possível, com critérios que permitissem a interpretação do ca- mentos que a circunda pode ser resolvida simplesmente a partir de
minho seguido pelos alunos, conforme modelos tão complexos medidas setoriais e segmentadas como se faz, por exemplo, com os
como é complexa a tarefa educativa; portadores de deficiências, idosos, os pobres, dentre outros.

Didatismo e Conhecimento 33
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Em outras palavras, seria como se a inclusão/exclusão não estabelece o elo entre a gestão escolar, o professor, o estudante, o
fosse parte integrante de um sentido mais abrangente, qual seja: a conhecimento e a sociedade em que a escola se situa. No nível
questão social (constitutiva do capitalismo), já que o conceito se operacional, a avaliação das aprendizagens tem como referência
mostra reduzido a simples ideia de que ao excluído (em condição o conjunto de habilidades, conhecimentos, princípios e valores
momentânea) basta apenas ser incluído através de uma política so- que os sujeitos do processo educativo projetam para si de modo
cial pública, para que o problema seja resolvido. Ao adotar essa integrado e articulado com aqueles princípios e valores definidos
postura, não estaríamos considerando o fato de que este fenômeno para a Educação Básica, redimensionados para cada uma de suas
faz parte de um todo complexo, e por isso, somente poderá ser etapas.
eliminado com a supressão do próprio modo de produção. A avaliação institucional interna, também denominada au-
Esta perspectiva, a nosso ver elimina a visão de totalidade, toavaliação institucional, realiza-se anualmente, considerando as
sendo funcional, portanto, à lógica capitalista, na medida em que orientações contidas na regulamentação vigente, para revisão do
gera em cada indivíduo o pensamento de que pode chegar a ser um conjunto de objetivos e metas, mediante ação dos diversos seg-
incluído social. mentos da comunidade educativa, o que pressupõe delimitação de
Entretanto, a inclusão está mais diretamente ligada à noção de indicadores compatíveis com a natureza e a finalidade institucio-
cidadania plena e atrelada a emancipação, e ao fim da sociedade de
nais, além de clareza quanto à qualidade social das aprendizagens
classes, em que os indivíduos poderiam desfrutar da cidadania, na
e da escola.
medida em que não são incluídos ou excluídos por terem ou não
A avaliação institucional externa, promovida pelos órgãos
bens, por terem ou não direitos. Ou ainda, como bem colocado por
superiores dos sistemas educacionais, inclui, entre outros instru-
Demo,
Inclusão social tornou-se palavra fácil, cujas práticas tendem mentos, pesquisas, provas, tais como as do SAEB, Prova Brasil,
a ser o reverso [...]. Facilmente aceitamos como inclusão social a ENEM e outras promovidas por sistemas de ensino de diferen-
inclusão na margem. Os pobres estão dentro, mas dentro lá na mar- tes entes federativos, dados estatísticos, incluindo os resultados
gem, quase caindo fora do sistema. Continuam marginalizados. O que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
que mudou foi à maquiagem da pobreza (2005). (IDEB) e/ou que o complementem ou o substituem, e os decorren-
Contudo, não se pode negar que as políticas sociais como tes da supervisão e verificações in loco. A avaliação de redes de
via de acesso aos direitos se apresentam como um grande avanço Educação Básica é periódica, feita por órgãos externos às escolas
dentro da forma de sociabilidade capitalista, haja vista que o modo e engloba os resultados da avaliação institucional, que sinalizam
de produção capitalista tem continuamente buscado formas para para a sociedade se a escola apresenta qualidade suficiente para
tentar impedir a efetivação da cidadania plena, incutindo na so- continuar funcionando.
ciedade civil a naturalização da “cultura da pobreza” (GUERRA,
2000) ou da hereditariedade da miséria que se perpetua ao longo Avaliação da aprendizagem
de gerações. Somado a isso temos o pensamento alienado de que
está é sempre foi e, sempre será a sociedade ideal. No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem, na Educação
Básica, é norteada pelos artigos 24 e 31, que se complementam.
Referência: De um lado, o artigo 24, orienta o Ensino Fundamental e Médio,
SILVA, E. S. da. As entrelinhas da inclusão/exclusão social na definindo que a avaliação será organizada de acordo com regras
atualidade. JOINPP, 2011. comuns a essas duas etapas. De outro lado, o artigo 31 trata da
Educação Infantil, estabelecendo que, nessa etapa, a avaliação
será realizada mediante acompanhamento e registro do desenvol-
vimento da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM tratando de acesso ao Ensino Fundamental. Essa determinação
E AVALIAÇÃO EXTERNA. pode ser acolhida para o ciclo da infância de acordo com o Pare-
cer CNE/CEB nº 4/2008, anteriormente citado, que orienta para
não retenção nesse ciclo.
O direito à educação constitui grande desafio para a escola:
requer mais do que o acesso à educação escolar, pois determina
Avaliação
gratuidade na escola pública, obrigatoriedade da Pré-Escola ao
Do ponto de vista teórico, muitas são as formulações que tra- Ensino Médio, permanência e sucesso, com superação da evasão
tam da avaliação. No ambiente educacional, ela compreende três e retenção, para a conquista da qualidade social. O Conselho Na-
dimensões básicas: cional de Educação, em mais de um Parecer em que a avaliação
I – avaliação da aprendizagem; da aprendizagem escolar é analisada, recomenda, aos sistemas de
II – avaliação institucional interna e externa; ensino e às escolas públicas e particulares, que o caráter formati-
III – avaliação de redes de Educação Básica. vo deve predominar sobre o quantitativo e classificatório. A este
respeito, é preciso adotar uma estratégia de progresso individual e
Nestas Diretrizes, é a concepção de educação que fundamenta contínuo que favoreça o crescimento do estudante, preservando a
as dimensões da avaliação e das estratégias didáticopedagógicas a qualidade necessária para a sua formação escolar.
serem utilizadas. Essas três dimensões devem estar previstas no
projeto políticopedagógico para nortearem a relação pertinente que

Didatismo e Conhecimento 34
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Promoção, aceleração de estudos e classificação A mobilidade escolar ou a conhecida transferência também
tem sido objeto de regulamento para o que a LDB dispõe, por meio
No Ensino Fundamental e no Médio, a figura da promoção e de instrumentos normativos emitidos pelos Conselhos de Educa-
da classificação pode ser adotada em qualquer ano, série ou outra ção. Inúmeras vezes, os estudantes transferidos têm a sensação de
unidade de percurso escolhida, exceto no primeiro ano do Ensino abandono ou descaso, semelhante ao que costuma ocorrer com es-
Fundamental. Essas duas figuras fundamentam-se na orientação tudantes que não acompanham o ritmo de seus colegas. A LDB
de que a verificação do rendimento escolar observará os seguintes estabeleceu, no § 1º do artigo 23, que a escola poderá reclassificar
critérios: os estudantes, inclusive quando se tratar de transferências entre
I – avaliação contínua e cumulativa do desempenho do estu- estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base
dante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quanti- as normas curriculares gerais.
tativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais De acordo com essas normas, a mobilidade entre turmas,
provas finais; séries, ciclos, módulos ou outra forma de organização, e escolas
II – possibilidade de aceleração de estudos para estudantes ou sistemas, deve ser pensada, prioritariamente, na dimensão pe-
com atraso escolar; dagógica: o estudante transferido de um para outro regime dife-
III – possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante rente deve ser incluído onde houver compatibilidade com o seu
verificação do aprendizado; desenvolvimento e com as suas aprendizagens, o que se intitula
IV – aproveitamento de estudos concluídos com êxito; reclassificação. Nenhum estabelecimento de Educação Básica,
V – obrigatoriedade de apoio pedagógico destinado à recupe- sob nenhum pretexto, pode recusar a matrícula do estudante que
ração contínua e concomitante de aprendizagem de estudantes com a procura. Essa atitude, de caráter aparentemente apenas adminis-
déficit de rendimento escolar, a ser previsto no regimento escolar. trativo, deve ser entendida pedagogicamente como a continuidade
A classificação pode resultar da promoção ou da adaptação, dos estudos iniciados em outra turma, série, ciclo, módulo ou outra
numa perspectiva que respeita e valoriza as diferenças individuais, forma, e escola ou sistema.
ou seja, pressupõe uma outra ideia de temporalização e espaciali- Em seu novo percurso, o estudante transferido deve receber
zação, entendida como sequência do percurso do escolar, já que cuidadoso acompanhamento sobre a sua adaptação na instituição
cada criatura é singular. Tradicionalmente, a escola tem tratado que o acolhe, em termos de relacionamento com colegas e profes-
o estudante como se todos se desenvolvessem padronizadamente sores, de preferências, de respostas aos desafios escolares, indo
nos mesmos ritmos e contextos educativos, semelhantemente ao além de uma simples análise do seu currículo escolar. Nesse sen-
processo industrial. É como se lhe coubesse produzir cidadãos em
tido, os sistemas educativos devem ousar propor a inversão da ló-
série, em linha de montagem. Há de se admitir que a sociedade
gica escolar: ao invés de conteúdos disciplinados estanques (subs-
mudou significativamente. A classificação, nos termos regidos pela
tantivados), devem investir em ações pedagógicas que priorizem
LDB (inciso II do artigo 24), é, pois, uma figura que se dá em
aprendizagens através da operacionalidade de linguagens visando
qualquer momento do percurso escolar, exceto no primeiro ano do
à transformação dos conteúdos em modos de pensar, em que o que
Ensino Fundamental, e realiza-se:
interessa, fundamentalmente, é o vivido com outros, aproximando
I – por promoção, para estudantes que cursaram, com aprovei-
mundo, escola, sociedade, ciência, tecnologia, trabalho, cultura e
tamento, a unidade de percurso anterior, na própria escola;
vida.
II – por transferência, para candidatos procedentes de outras
escolas; A possibilidade de aceleração de estudos destina-se a estu-
III – independentemente de escolarização anterior, mediante dantes com algum atraso escolar, aqueles que, por alguma razão,
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimen- encontram-se em descompasso de idade. As razões mais indicadas
to e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou têm sido: ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en-
etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema sino-aprendizagem ou outras. A progressão pode ocorrer segundo
de ensino. dois critérios: regular ou parcial. A escola brasileira sempre esteve
A organização de turmas seguia o pressuposto de classes or- organizada para uma ação pedagógica inscrita num panorama de
ganizadas por série anual. Com a implantação da Lei, a concepção relativa estabilidade. Isso significa que já vem lidando, razoavel-
ampliou-se, uma vez que poderão ser organizadas classes ou tur- mente, com a progressão regular. O desafio que se enfrenta incide
mas, com estudantes de séries distintas, com níveis equivalentes sobre a progressão parcial, que, se aplicada a crianças e jovens,
de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, requer o redesenho da organização das ações pedagógicas. Em ou-
artes, ou outros componentes curriculares (inciso IV do artigo 24 tras palavras, a escola deverá prever para professor e estudante o
da LDB). horário de trabalho e espaço de atuação que se harmonize entre es-
A consciência de que a escola se situa em um determinado tes, respeitadas as condições de locomoção de ambos, lembrando-
tempo e espaço impõe-lhe a necessidade de apreender o máximo o se de que outro conjunto de recursos didático-pedagógicos precisa
estudante: suas circunstâncias, seu perfil, suas necessidades. Uma ser elaborado e desenvolvido.
situação cada vez mais presente em nossas escolas é a mobilidade A LDB, no artigo 24, inciso III, prevê a possibilidade de
dos estudantes. Quantas vezes a escola pergunta sobre o que fazer progressão parcial nos estabelecimentos que adotam a progressão
com os estudantes que ela recebe, provenientes de outras institui- regular por série, lembrando que o regimento escolar pode admiti-
ções, de outros sistemas de ensino, dentro ou fora do Município ou -la “desde que preservada a sequência do currículo, observadas as
Estado. As análises apresentadas em diferentes fóruns de discus- normas do respectivo sistema de ensino”.
são sobre essa matéria vêm mencionando dificuldades para incluir
esse estudante no novo contexto escolar.

Didatismo e Conhecimento 35
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
A Lei, entretanto, não é impositiva quanto à adoção de progressão parcial. Caso a instituição escolar a adote, é pré-requisito que a se-
quência do currículo seja preservada, observadas as normas do respectivo sistema de ensino, (inciso III do artigo 24), previstas no projeto
políticopedagógico e no regimento, cuja aprovação se dá mediante participação da comunidade escolar (artigo 13).
Também, no artigo 32, inciso IV, § 2º, quando trata especificamente do Ensino Fundamental, a LDB refere que os estabelecimentos
que utilizam progressão regular por série podem adotar o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo ensino-
-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. A forma de progressão continuada jamais deve ser entendida como
“promoção automática”, o que supõe tratar o conhecimento como processo e vivência que não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas
sim de construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo contínuo de formação, construindo significados.
Uma escola que inclui todos supõe tratar o conhecimento como processo e, portanto, como uma vivência que não se harmoniza com a
ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, está continuamente sendo formado, ou melhor,
formando-se, construindo significados, a partir das relações dos homens entre si e destes com a natureza. Nessa perspectiva, a avaliação
requer outra forma de gestão da escola, de organização curricular, dos materiais didáticos, na relação professor-estudante-conhecimento-es-
cola, pois, na medida em que o percurso escolar é marcado por diferentes etapas de aprendizagem, a escola precisará, também, organizar
espaços e formas diferenciadas de atendimento, a fim de evitar que uma defasagem de conhecimentos se transforme numa lacuna permanen-
te. Esse avanço materializa-se quando a concepção de conhecimento e a proposta curricular estão fundamentadas numa epistemologia que
considera o conhecimento uma construção sociointerativa que ocorre na escola e em outras instituições e espaços sociais. Nesse caso, per-
cebe-se já existirem múltiplas iniciativas entre professores no sentido de articularem os diferentes campos de saber entre si e, também, com
temas contemporâneos, baseados no princípio da interdisciplinaridade, o que normalmente resulta em mudanças nas práticas avaliativas.

Referência:
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Dire-
trizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos
e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

Avaliações externas

As avaliações do desempenho escolar, feitas em larga escala na educação básica, estão presentes na política pública de educação bra-
sileira há duas décadas. Entretanto, a partir de 2005 com a Prova Brasil1 e de 2007 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), passaram a ter maior destaque na agenda político-educacional de municípios e estados. O caráter censitário desses indicadores e a
projeção de metas bianuais do Ideb promoveram maior interesse, adesão e mobilização em torno dessas avaliações por parte de gestores
educacionais, escolas, professores e comunidades.
Mesmo ocupando espaço central no desenho das políticas educacionais de estados e municípios, estudos apontam que as informações
produzidas por essas avaliações ainda não são suficientemente exploradas como subsídio para a gestão educacional e o trabalho pedagógico.
Observam-se dificuldades para a compreensão dos resultados e pouca influência destes nos planejamentos e intervenções educacionais, o
que indica a necessidade de trabalho direcionado para atender às novas demandas de uso, tanto por parte de escolas como de secretarias de
educação.
Considerando este cenário, o Programa Avaliação e Aprendizagem iniciou o seu percurso em 2011, tendo em vista contribuir com os
debates e ampliar o uso das avaliações externas (de larga escala, ou padronizadas), como uma das estratégias para a melhoria da qualidade
na educação básica.

Com essa perspectiva, o Programa vem desenvolvendo:

- pesquisas e estudos sobre os usos das avaliações externas junto a secretarias municipais e estaduais de educação;
- publicações para educadores e o público em geral;
- ações de formação em contextos diversos, diretamente com gestores escolares, professores, pais, e jornalistas, bem como gestores
e técnicos das redes estaduais e municipais de educação.

Didatismo e Conhecimento 36
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS

As possibilidades de diálogo entre essas avaliações e as práticas de ensino e de gestão, tanto no âmbito das escolas como das secretarias
de educação.
Nos encontros de formação são analisadas as informações produzidas pelas avaliações (ou testes padronizados):
Prova Brasil e Ideb, que são comuns a todas as escolas brasileiras e, nos casos específicos de estados e municípios que possuem sistemas
próprios de avaliação, as informações produzidas por estes.
A abordagem metodológica e os conteúdos da formação partem da perspectiva de que as informações produzidas pelas avaliações exter-
nas contribuem para o diagnóstico de necessidades dos sistemas de ensino e escolas e podem induzir à formulação de políticas com efeitos
positivos na prática pedagógica e na aprendizagem. Nesta primeira edição, a publicação
Avaliação e Aprendizagem apresenta alguns dos enfoques, conteúdos e aprendizados desse processo.
O que são sistemas de avaliação do desempenho escolar?

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado pelo MEC em 1988. A partir de 1995 incorporou nova metodologia,
baseada na Teoria de Resposta ao Item, que permite a comparabilidade dos dados ao longo do tempo, em série histórica. Também realizou,
em âmbito nacional, a primeira aplicação amostral de testes padronizados em leitura e resolução de problemas nas séries finais de cada ciclo
do Ensino Fundamental (4ª série/5º ano e 8ª série/9º ano) e 3º ano do Ensino Médio, de todas as unidades da Federação e redes de ensino
público (municipal, estadual, federal) e particular, o que passou a ser feito a cada dois anos.
A partir de 2005, a atenção aos resultados das escolas obtidos nas avaliações se intensificou. Primeiro com a reestruturação do Saeb pela
Portaria Ministerial nº 931 de 21 de março de 2005, que foi desmembrado em duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica
(Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento no Ensino Escolar (Anresc), esta última mais conhecida como Prova Brasil, aplicada de modo
censitário em todas as escolas públicas. Em seguida, com a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que reúne, em
um só indicador, os conceitos de fluxo, expressos nas taxas de aprovação registradas no Censo leitura e resolução de problemas. Calculado
como a média das notas padronizadas, o Ideb varia de 0 a 10 e seus resultados permitem traçar metas bianuais, o que possibilitou que se tor-
nasse ferramenta para o acompanhamento das metas de qualidade para a educação básica do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Desde então, estados e municípios vêm adotando e desenvolvendo sistemas próprios de avaliação. A maioria baseia-se na metodologia
utilizada pelo Saeb, mas com a inclusão de elementos próprios aos interesses de cada rede.

Didatismo e Conhecimento 37
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS

Qual o objetivo dessas avaliações?

Realizar um diagnóstico dos sistemas educacionais brasileiros a partir do desempenho dos estudantes em testes padronizados. As in-
formações produzidas visam monitorar e subsidiar a formulação ou reformulação das políticas públicas educacionais municipais, estaduais
e federais.

- ANEB

Quando é realizada?
A cada dois anos, desde 1990.

Quais escolas são avaliadas?


A avaliação é feita por amostragem.
Participam alunos matriculados no 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio de escolas das redes públicas e
privadas, localizadas em área rural e urbana.

O que é avaliado?
Língua Portuguesa: leitura
Matemática: resolução de problemas
Como são apresentados os resultados?

Oferece resultados de desempenho apenas para o Brasil, regiões e unidades da Federação.

- PROVINHA BRASIL

O que é?
A Provinha Brasil é um instrumento pedagógico elaborado pelo MEC / Inep (com a colaboração de vários centros de alfabetização),
para fornecer informações sobre o processo de alfabetização dos estudantes matriculados no 2º ano do Ensino Fundamental, aos professores
e gestores das redes de ensino. Seus objetivos são: avaliar o nível de alfabetização dos alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental;
diagnosticar possíveis insuficiências das habilidades de leitura e escrita e subsidiar intervenções pedagógicas e na gestão para melhorar a
qualidade da alfabetização.

Quando é aplicada?

A cada ano, em duas etapas: ao início do 2º ano de escolarização e ao final desse mesmo ano letivo. Sugere-se que o Teste 1 seja apli-
cado, preferencialmente, até o mês de abril, e o Teste 2, até o final de novembro.

O que é avaliado?

As habilidades a serem desenvolvidas durante o processo de alfabetização e letramento.

Didatismo e Conhecimento 38
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Quem aplica a prova? E quem corrige?

O kit da Provinha Brasil é impresso e distribuído pela Secretaria de Educação Básica do MEC, em parceria com o FNDE, para todos os
municípios do Brasil. A prova pode ser aplicada diretamente pela escola:
- pelo próprio professor da turma, com o objetivo de monitorar e avaliar a aprendizagem de seus alunos;
- por pessoas indicadas e preparadas pela secretaria de educação.
Os resultados poderão ser corrigidos pelo próprio professor da turma ou pelo aplicador do teste. Assim, o professor, a escola e a secre-
taria de educação poderão saber o nível de desempenho das turmas de modo imediato, o que permitirá intervenções ao longo do ano.

- PROVA BRASIL

Quando é realizada?
A cada dois anos, desde 2005.

Quais escolas são avaliadas?


As escolas que participam da Prova Brasil são divididas em dois grupos. No primeiro grupo (censitário) são avaliadas todas as escolas
e recebem a aplicação da prova todos os alunos de 5º e 9º anos do Ensino Fundamental de escolas públicas das redes municipais, estaduais
e federais de área rural e urbana. No segundo grupo, por amostragem, recebem a aplicação da prova alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fun-
damental das escolas privadas, alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental das escolas públicas com menos de 20 alunos e alunos do 3º
ano do Ensino Médio das escolas públicas.

O que é avaliado?
Língua Portuguesa: leitura
Matemática: resolução de problemas

Como são apresentados os resultados?


São apresentadas as médias de desempenho para o Brasil, regiões e unidades da Federação, para cada um dos municípios e escolas
participantes. O resultado é divulgado por escola. Não são divulgados dados por aluno.

- IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

O que é?
É um indicador, criado em 2007 e verificado a cada dois anos, que procura medir a eficiência da escola pública brasileira a partir de
dois critérios: proficiência média dos alunos e percentual de aprovação escolar. A idéia é assegurar que os alunos aprendam o que precisam
aprender (proficiência), mas que não sejam vítimas da reprovação escolar que sempre foi um fator de seleção na escola pública brasileira.

Como o indicador é calculado?


O indicador combina em sua composição informações sobre a média de desempenho dos estudantes na Prova Brasil (Português e
Matemática) e taxa de aprovação (uma expressão do rendimento escolar) obtida a partir do Censo Escolar realizado anualmente pelo Inep.
Na fórmula para o cálculo, a proficiência média é transformada numa nota de zero a dez. Essa nota é multiplicada pela taxa de aprovação
escolar que varia de 0,0 a 1,0 (sendo de 1,0 quando 100% dos alunos foram aprovados).
O Ideb utiliza uma escala de 0 a 10 e procura induzir escolas e sistemas a melhorarem seus resultados, uma vez que vem associado a
mecanismos de gestão, com o estabelecimento de metas a serem alcançadas.
As metas do Ideb são calculadas por escola, mas o objetivo é que o Brasil consiga Ideb de 6,0 para todo o sistema público até 2022.

Didatismo e Conhecimento 39
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS

O que diferencia a Provinha Brasil da Prova Brasil?

Provinha Brasil Prova Brasil

É aplicada pela escola, pelo próprio professor de cada turma ou É uma avaliação externa elaborada, aplicada e corrigida por
por aplicador preparado pela secretaria de educação. agentes externos à escola.

Aplicada a alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, é uma ava-


Aplicada ao término de cada ciclo do Ensino Fundamental e do
liação diagnóstica que avalia habilidades a serem desenvolvidas
Ensino Médio, avalia habilidades de leitura e resolução de pro-
no processo de alfabetização e letramento. Permite intervenções
blemas.
imediatas no processo de alfabetização e letramento.

A prova passa por tratamento estatístico que verifica níveis de


A pontuação é aferida pelo índice de acertos do aluno na prova.
proficiência alcançados pelos alunos. Não são divulgados resul-
Permite conhecer o desempenho individual dos alunos.
tados individuais, mas por escola e rede de ensino.

Seus resultados não são utilizados na composição do Ideb. Seus resultados são utilizados na composição do Ideb.

Avaliações externas em articulação com o trabalho pedagógico e a gestão do ensino

As avaliações externas podem fornecer pistas importantes para que se reflita sobre o desenvolvimento do trabalho educativo no interior
das escolas, especialmente quando esses resultados se referem a aspectos ou componentes que têm peso para o conjunto das atividades
escolares, como é o caso da leitura e da resolução de problemas.
A avaliação é um ponto de partida, de apoio, um elemento a mais para repensar e planejar a ação pedagógica e a gestão educacional.
Os pontos de chegada são o direito de aprender e o avanço da melhoria global do ensino. Por isso, faz-se necessário que os profissionais de
escolas e de secretarias de educação compreendam os dados e informações produzidos pelas avaliações, saibam o que significam. De tal
modo que, além de utilizá-los para a elaboração e implementação de ações, desmistifiquem a ideia de que a avaliação externa é apenas um
instrumento de controle, ou ainda, que sua função é comparar escolas ou determinar a promoção ou retenção de alunos.

Avaliações externas e avaliações em larga escala

As avaliações externas são elaboradas, organizadas e conduzidas por agentes externos à escola. Também são chamadas de avaliações
em larga escala, por serem aplicadas, por exemplo, a uma rede de ensino inteira, municipal ou estadual; ou ainda a várias redes de ensino,
como é o caso da Prova Brasil.
Essas avaliações informam sobre os resultados educacionais de escolas e redes de ensino a partir do desempenho dos alunos em testes
ou provas padronizadas que verificam se estes aprenderam o que deveriam ter aprendido, permitindo inferências sobre o trabalho educativo
das escolas e redes de ensino.

Diálogo entre diferentes dimensões avaliativas

Embora fundamentais por abrir perspectivas para as diretrizes das políticas educacionais e para os debates sobre a qualidade do ensino,
as avaliações externas não dão conta da amplitude e complexidade do trabalho escolar. A Prova Brasil, por exemplo, mostra a média de
desempenho dos alunos da escola de modo geral, mas não traz detalhamentos ou informações que permitam intervenções imediatas no pro-
cesso pedagógico de um ano para outro. Isso significa que ela não fornece todas as informações necessárias para avançarmos na ampliação
da oferta de oportunidades de aprendizagem.
Para prosseguir com essa busca é necessário considerar as diferentes ferramentas avaliativas disponíveis no âmbito interno das esco-
las, que são capazes de fornecer informações adicionais e qualificadas sobre as práticas escolares, além de complementar e dialogar com
a avaliação externa: a avaliação da aprendizagem (realizada no contexto da ação pedagógica do professor em sala de aula) e a avaliação
institucional (realizada pelo coletivo da escola no escopo de seu projeto pedagógico), ou seja, as avaliações internas, realizadas sistemati-
camente pelas escolas.

Didatismo e Conhecimento 40
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Para concretizar a possibilidade de diálogo entre essas três formas de avaliação, parte-se do entendimento de que as três, quando rela-
cionadas, clarificam a tomada de decisões pertinentes a situações especificas.
Nesse diálogo está presente um movimento de integração, que respeita o lugar de cada uma (com suas características e especificidades)
colocando-as em igual patamar de importância para o avanço da aprendizagem dos alunos.

As escolas necessitam de parâmetros externos para conduzir o seu trabalho

Com a implementação da Prova Brasil no âmbito federal e de outras avaliações de desempenho nas esferas estadual e municipal, as
equipes escolares podem vislumbrar nos resultados dessas avaliações uma “fotografia” da situação de aprendizagem de seus alunos.
Os parâmetros externos permitem às escolas ter uma noção mais clara das qualidades ou fragilidades de seu ensino e de seu projeto
pedagógico; permitem que se comparem consigo mesmas e acompanhem o próprio percurso.
As avaliações externas não substituem as avaliações da aprendizagem elaboradas pelos professores no contexto de sua ação peda-
gógica, e tampouco representam todo o processo pedagógico. Contudo, nem uma nem outra pode ser desmerecida. A análise comparada
das informações fornecidas por ambas pode produzir elementos para subsidiar o trabalho desenvolvido no interior das escolas, seja para o
aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação elaborados internamente, seja para oferecer elementos de contexto para as provas externas.
Além de ser um componente importante para o planejamento e a readequação dos programas de ensino.
Tanto em relação às avaliações internas quanto às externas, coloca-se a necessidade da apreciação crítica e do debate sobre os critérios
envolvidos, com a ressalva de que nas avaliações externas eles são mais explícitos e coletados, em princípio, com procedimentos mais rigo-
rosos. Disso reforça-se a idéia de que os profissionais da educação, ainda que possam e devam levantar questionamentos sobre as avaliações
externas, reconheçam sua relação com a realidade da escola:

- Quais informações os gráficos e tabelas dos boletins estão apresentando?


- Qual o significado dessas informações?
- Todos compreendem essas informações (professores, pais, alunos)?
- O que elas podem nos dizer sobre o trabalho realizado pela escola?
- Nossos alunos estão de fato aprendendo e progredindo no ritmo esperado?
- Por que alguns se saíram bem e outros não?
- Quais elementos a avaliação da aprendizagem realizada pelos professores nos dá para entender melhor os resultados das avalia-
ções externas?

Fonte:
http://www.fundacaoitausocial.org.br/_arquivosestaticos/FIS/pdf/avaliacao_e_aprendizagem.pdf

Didatismo e Conhecimento 41
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
Questões 07. (MOURA MELO/2013) O ensino será ministrado com
base nos seguintes princípios, exceto:
01. (MOURA MELO/2013) Com relação à Educação para a a) Valorização da experiência extraescolar.
Cidadania, podemos afirmar, exceto: b) Desvinculação entre a educação escolar, o trabalho e as prá-
a) Estimula o desenvolvimento de competência. ticas sociais.
b) Não se atém à abordagem de temas transversais. c) Gestão democrática do ensino público, na forma da Lei e da
c) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico. legislação dos sistemas de ensino.
d) Preocupa-se com o apreço pelos valores democráticos. d) Garantia de padrão de qualidade.

02. (MOURA MELO/2013) Para que o conhecimento seja 08. (MOURA MELO/2013) Podemos entender que a dicoto-
pertinente, a educação deverá tornar certos fatores evidentes. São mia entre educação e avaliação:
eles, exceto: a) Não existe.
a) O global. b) É apenas parcial.
b) O complexo. c) É total.
c) O contexto. d) Ocorre apenas na avaliação de perfil construtivista.
d) O unidimensional.
09. (MOURA MELO/2013) Podemos afirmar sobre a ava-
03. (MOURA MELO/2013) O acesso ao ensino fundamental liação:
é direito: a) É essencial à educação. Não é inerente, mas é indissociável
a) Privado objetivo. enquanto concebida como ausência de problematização, questio-
b) Privado subjetivo. namento, reflexão sobre a ação.
c) Público objetivo. b) É essencial à educação. Não é Inerente e nem indissociável
d) Público subjetivo. enquanto concebida como problematização, questionamento, re-
04. (MOURA MELO/2013) Analise os itens abaixo: flexão sobre a ação.
I. O planejamento é um meio para programar as ações docen- c) É essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto
tes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão intimamen- concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre
te ligado à avaliação. a ação.
II. O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui
tanto a previsão das atividades em termos de organização e coor- 10. (Pref. Municipal de Guarulhos/VUNESP) Para Paulo
denação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e Freire, um esforço sempre presente à prática da autoridade demo-
adequação no decorrer do processo de ensino. crática é o de persuadir ou convencer a liberdade de que vá cons-
Dos itens acima: truindo consigo mesma, em si mesma, com materiais que, embora
a) Ambos estão corretas. vindo de fora de si, sejam reelaborados por ela. Assim, o essencial
b) Ambos estão incorretas. nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liber-
c) Apenas I está correta. dade, entre pais e filhos é
d) Apenas II está correta. (A) a responsabilidade dos educandos na realização de seu
projeto de vida.
05. (MOURA MELO/2013) Não consta na LDB como fina- (B) a construção da aprendizagem nas relações sociais, mo-
lidade da educação: rais e físicas.
a) O pleno desenvolvimento do educando. (C) a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua auto-
b) O preparo do educando para o exercício da cidadania. nomia.
c) A preparação do educando para a disputa no mundo com- (D) favorecer a transgressão, a criatividade e a autonomia.
petitivo. (E) fortalecer o indivíduo enquanto ser heterônomo.
d) A qualificação do educando para o trabalho.
11. (Pref. Municipal de Guarulhos/VUNESP) Para Vygot-
06. (MOURA MELO/2013) São objetivos do planejamento, sky, o tema do pensamento e da linguagem situa-se entre as ques-
exceto: tões de psicologia, em que aparece em primeiro plano, a relação
a) Tornar o ensino mais eficiente. entre as diversas funções psicológicas e as diferentes modalidades
b) Evitar improvisações. de atividade da consciência. O ponto central de toda essa questão
c) Proporcionar sequência e progressividade nos trabalhos es- é (A) a relação entre o pensamento e a palavra.
colares. (B) a relação entre o desenvolvimento e a linguagem.
d) Tornar mais lúdicas as atividades docentes e discentes. (C) a priorização das diversas funções psicológicas.
(D) os diversos modos de desenvolver a consciência.
(E) o pensamento e o desenvolvimento ampliado das rela-
ções morais.

Didatismo e Conhecimento 42
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
12. (Pref. Municipal de Guarulhos/VUNESP) O conceito EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
de currículo está associado às diferentes concepções, que derivam
dos diversos modos como a educação é concebida historicamente, 1. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia aten-
e pode ser entendido como as experiências escolares que se desdo- tamente o texto a seguir. Os processos de ensino só podem se
bram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que realizar a medida que o educando estiver maduro para efetivar
contribuem para a construção das identidades dos alunos. Assim, determinada aprendizagem; a prática escolar não desafia, não
um currículo precisa contemplar amplia, nem instrumentiza o desenvolvimento do educando,
(A) um rol de conteúdos a serem transmitidos para os alunos. uma vez que esta se restringe naquilo que o educando já con-
(B) o plano de atividades de ensino dos professores. quistou; a educação pode apenas aprimorar um pouco aquilo
(C) o uso de textos escolares, efeitos derivados das práticas
que o educando é. O texto trata-se de uma:
de avaliação.
A) Maturação.
(D) uma série de estudos do meio que contemplem as rela-
B) Experiência ativa.
ções sociais.
C) Teoria inativa.
(E) conhecimentos, valores, costumes, crenças e hábitos.
D) Comunicação humana
13. (Pref. Municipal de Guarulhos/VUNESP) O sentido so-
A teoria inativa considera que o meio ou ambiente pouco pode
cial que se atribui à profissão docente está diretamente relacionado
à compreensão política da finalidade do trabalho pedagógico, ou fazer pelo indivíduo, quando acredita que o sujeito nasce pronto,
seja, da concepção que se tem sobre a relação entre sociedade e es- pode-se dizer que a subjetividade não é inata devido ao fato de que
cola. Assim, a escola é o cenário onde alunos e professores, juntos, cada pessoa adquire ao longo do seu desenvolvimento, caracte-
vão construindo uma história que se modifica, amplia, transforma rísticas próprias que não seria possível nascer com elas. Segundo
e interfere em diferentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na Torres (2003), a respeito de como as identidades se constroem,
qual está inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. precisamos levar em conta as condições históricas, sociais e eco-
É correto afirmar que a escola nômicas em que o indivíduo está inserido, a compreensão de que a
(A) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe social identidade não é preexistente ao homem e que a analise do “mundo
específica e serve, indistintamente, a todas. interno” exige o conhecimento do “mundo externo” que estão em
(B) não é capaz de funcionar como instrumento para mudan- movimento contínuo de construção e desconstrução.
ças, serve apenas para reproduzir as injustiças. *Texto adaptado de Marcos P. Silva. Disponível em: http://
(C) não tem, de forma alguma, autonomia, é determinada, de marcospsilva7.blogspot.com.br/2008/06/partindo-do-ponto-de-
maneira absoluta, pela classe dominante da sociedade. que-teoria-inativa.html
(D) é o lugar especialmente estruturado para potencializar a
aprendizagem dos alunos. RESPOSTA: “C”.
(E) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a de atuar
no âmbito global da sociedade. 2. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia, aten-
tamente, o texto a seguir. “Desprezar a análise de outros as-
Respostas pectos da conduta humana tais como: o raciocínio, o desejo,
a imaginação, os sentimentos e a fantasia; defende a necessi-
01- B/ 02- D/ 03- D/ 04- A/ 05- C/ 06- D/ 07- B/ 08- A/ 09- C/ dade de medir, comparar, testar, experimentar e controlar o
comportamento e desenvolvimento do educando e sua apren-
10- C/ 11- A/ 12- E/ 14- D dizagem, objetivando com isso, controlar o comportamento do
educando”. O texto trata da:
A) Relação homem/mundo.
B) Afetividade e cognição
C) Interatividade
D) Teoria ambientalista do desenvolvimento

A teoria ambientalista busca sua inspiração na filosofia em-


pirista (a experiência como fonte de conhecimento) e positivista
(objetividade e neutralidade no conhecimento da realidade huma-
na; o ser humano é entendido como objeto e os fatos sociais como
coisas, ou seja, objeto de um interesse meramente prático). A teo-
ria ambientalista, também chamada behaviorista ou comportamen-
talista, atribui exclusivamente ao ambiente a constituição das ca-
racterísticas humanas, privilegiando a experiência como fonte de
conhecimento e de formação de hábitos de comportamento; preo-
cupa-se em explicar os comportamentos observáveis do educando,
desprezando a análise de outros aspectos da conduta humana tais
como: o raciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a fan-

Didatismo e Conhecimento 43
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
tasia, entre outros; defende a necessidade de medir, comparar, tes- Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com a rea-
tar, experimentar e controlar o comportamento e desenvolvimento lidade, operando ativamente objetos e pessoas. O conhecimento é
do educando e sua aprendizagem, objetivando com isso, controlar construído por informações advindas da interação com o ambiente,
o comportamento do educando. na medida em que o conhecimento não é concebido apenas como
* Disponível em: http://penta2.ufrgs.br/edu/intera/cap1-afet- sendo descoberto espontaneamente, nem transmitido de forma me-
-interat-aprend.htm. cânica pelo meio exterior, mas como resultado de uma interação na
qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ativa de com-
RESPOSTA: “D”. preender o mundo que o cerca (MOREIRA, 1999). Entende-se,
então, de acordo com essa teoria, que o desenvolvimento cognitivo
3. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na teoria é resultado de situações e experiências desconhecidas advinda da
ambientalista, atribui-se, exclusivamente, ao ambiente a cons- interação com o meio, onde o sujeito procura compreender e re-
trução das características humanas, privilegiando a experiên- solver as interrogações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e
cia como fonte de conhecimento. Esta teoria preocupa-se em constrói seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando
explicar: informações, propondo soluções, confrontando-as com as de seus
A) Práticas pedagógicas espontâneas. colegas, defendendo-as e discutindo. Essa teoria permite utilizar
B) Os comportamentos observáveis do educando. todo o potencial de interação da internet para criar um ambien-
C) A pedagogia do dom. te que gere conhecimento teórico e prático através da construção
D) Processo de construção. gradual do conhecimento por meio de participação ativa. Oferece
oportunidade para reflexão. A construção do conhecimento pelos
O Ambientalismo, como o próprio nome dá a entender, va- alunos é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada
loriza o ambiente no aprendizado humano. Ou seja, a criança de- vez mais autônomos intelectualmente.
senvolve suas características em função das condições do meio *Referências:
em que vive. Esta visão considera as estimulações que o meio MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São
proporciona como fonte de aprendizado. Para os ambientalistas, Paulo: Epu, 1999.
o mais importante são os fatores exógenos, aquilo que está fora
do indivíduo. A criança nasce sem características psicológicas, se- RESPOSTA: “D”.
ria como uma massa a ser modelada, estimulada e corrigida pelo
meio em que vive. O papel da escola seria o de estimular a criança
5. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A concep-
com novas aprendizagens. Para os ambientalistas, a criança não
ção de organização curricular expressa formas de concreti-
sabe, é uma folha em branco. O saber está com o(a) professor(a) e,
zação das intenções pedagógicas. Com base nesta temática é
portanto, ele(a) precisa transmitir o conhecimento para a criança,
FALSO afirmar:
que o recebe de forma passiva. De acordo com essa concepção,
A) O currículo real acontece dentro da sala de aula com pro-
educar alguém seria moldar o seu comporta- mento, seu caráter,
fessores e alunos a cada dia em decorrência de um projeto pedagó-
seu conhecimento, dando à criança tudo aquilo que ela não tem.
Dentro da concepção ambientalista, a educação é centrada no(a) gico e dos planos de ensino.
professor(a) que, como adulto, é visto como o(a) dono(a) da ver- B) Currículo é o conjunto de todas as experiências de conheci-
dade, devendo ensinar e estimular as crianças. mento, proporcionada pela instituição aos educandos.
* Referências: C) A organização é um currículo a partir da lógica seriada a
LOPES, K. R; MENDES, R. P; FARIA, V. L. B. de. Educa- analise do progresso dos educandos.
ção de crianças: Programa de formação de professores de edu- D) O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade exte-
cação infantil. Coleção PROINFANTIL; (Unidade 1). Brasília: rior à escola e à educação; entre o conhecimento e a cultura herda-
MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a da e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria e a pratica possível,
Distância, 2005. dadas determinadas condições.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
Educinf/mod_ii_vol2unid1.pdf O currículo tem que ser entendido como a cultura real que
surge de uma série de processos, mais que como um objeto deli-
RESPOSTA: “B”. mitado e estático que se pode planejar e depois implantar; aquilo
que é, na realidade, a cultura nas salas de aula, fica configurado em
4. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A Educa- uma série de processos: as decisões prévias acerca do que se vai
ção, neste método, é tecida em conjunto por alunos e profes- fazer no ensino, as tarefas acadêmicas reais que são desenvolvidas,
sores, frente aos exercícios da leitura e da escrita praticadas a forma como a vida interna das salas de aula e os conteúdos de
exaustivamente nas aulas. Assim, mestres e aprendizes atuam ensino se vinculam com o mundo exterior, as relações grupais, o
juntos na construção do conhecimento, assessorados pela inci- uso e o aproveitamento de materiais, as práticas de avaliação, etc
dência da problemática social mais atual e pelo arsenal de sa- (Sacristán, J.G., 1995).
beres já edificados, patrimônio intransferível do ser humano.
O texto se refere a: RESPOSTA: “C”.
A) Teoria do saber.
B) Teoria do Ler e Saber.
C) Teoria da Paradidática.
D) Teoria do Construtivismo.

Didatismo e Conhecimento 44
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
6. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Para ser con- na ação de formação. Alguns autores consideram que a avaliação
siderada como possuidora de certa habilidade, a criança tem que formativa englobe as outras modalidades de avaliação já que ela se
demonstrar que pode cumprir a tarefa sem nenhum tipo de ajuda. dá durante o processo educacional. Seu caráter é especificamente
Denomina- se essa capacidade de realizar tarefas de forma inde- pedagógico.
pendentes: *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/pa-
A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial. gina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-formativa/
B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal.
C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade. RESPOSTA: “D”.
D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.
Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento estão in- 9.(SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A avaliação
ter-relacionados desde o primeiro dia de vida do indivíduo. Nível ______________________ é realizada no início do processo en-
de desenvolvimento real: Referente as conquistas que já estão con- sino-aprendizagem, com a finalidade de detectar eventuais dificul-
solidadas na criança, ela já aprendeu e domina. Indica os processos dades de aprendizagem auxiliando o ______________ no planeja-
mentais da criança que já se estabeleceram. Representa as funções mento de suas ações.
já amadurecidas. Exemplos: andar de bicicleta, cortar com tesoura, Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente
dominar o teclado. as lacunas.
*Texto adaptado de Raquel D`Ely. Disponível em: https:// A) Diagnostica / Professor.
repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/116361/TEO- B) Formativa / Gestor
RIA%20SOCIO%20INTERACIONISTA.pdf?sequence=1 C) Formativa / Coordenador pedagógico.
D) Somativa / Professor.
RESPOSTA: “D”.
O conceito de avaliação diagnóstica não recebe uma defini-
7. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) É um tipo de ção uniforme de todos os especialistas. No entanto pode-se, de
avaliação que tem por função básica a classificação dos alunos, maneira geral, entendê-la como uma ação avaliativa realizada no
sendo realizada no final de um curso ou unidade de ensino, clas- início de um processo de aprendizagem, que tem a função de ob-
sificando os alunos de acordo com os níveis de aproveitamento ter informações sobre os conhecimentos, aptidões e competências
previamente estabelecidos. O texto acima descreve uma: dos estudantes com vista à organização dos processos de ensino e
A) Avaliação formativa. aprendizagem de acordo com as situações identificadas.
B) Avaliação somativa. *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/pa-
C) Avaliação diagnostica. gina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-diagnostica/
D) Avaliação personalizada.
Avaliação Somativa: É uma modalidade avaliativa pontual RESPOSTA: “A”.
que ocorre ao fim de um processo educacional (ano, semestre, bi-
mestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determinação do grau de do- 10. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na relação
mínio de alguns objetivos pré-estabelecidos propondo-se a realizar profesor-aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação
um balanço somatório de uma ou várias sequencias de um trabalho o expoente das consequências, pois a educação é uma das fontes
de formação. É também chamada de avaliação das aprendizagens. mais importantes do desenvolvimento comportamental e agrega-
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/pa- ção de valores nos membros da espécie humana.
gina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-somativa/ Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamen-
talmente:
RESPOSTA: “B”. I. Do clima estabelecido pelo aluno.
II. Da relação empática com seus alunos.
8. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A respeito da III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir.
Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e os deles.
A) A avaliação formativa não tem como objetivo classificar Assinale a alternativa correta.
ou selecionar. A) Somente I, II e III estão corretas.
B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem em seus B) Somente I, II e IV estão corretas
aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. C) Somente II, III e IV estão corretas
C) Uma avaliação não precisa conformar-se a nenhum padrão D) Somente I, III e IV estão corretas
metodológico para ser formativa.
D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa deve ser o Becker (1997), afirma que na transferência, constituir uma
de conhecer melhor o professor, suas competências e suas técnicas identificação simbólica é uma forma de desenvolver ao adolescen-
de trabalho. te sua posição discursiva. Verificar-se, que o aluno precisa admitir
estar numa relação transferencial com o professor que não estar
Também chamada de avaliação para as aprendizagens, a ava- ali só para transferir informações, mais para considerar cada aluno
liação formativa tem seu foco no processo ensino-aprendizagem. singularmente. O sujeito do qual ocupa a psicanálise é o sujeito do
Alguns teóricos chegam a nomear essa modalidade com o nome de inconsciente enquanto manifestação única e singular. Para o aluno
avaliação formativa diagnóstica. A avaliação formativa não tem fi- ser tomado como sujeito é necessário que o educador também o
nalidade probatória e está incorporada no ato de ensinar, integrada seja, que envolva sua prática com aquilo que lhe é peculiar, o esti-

Didatismo e Conhecimento 45
CONHECIMENTOS CONTEXTUAIS
lo. Logo a relação professor-aluno depende fundamentalmente do O FUNDEB não é considerado Federal, Estadual, nem Mu-
clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus nicipal, por se tratar de um Fundo de natureza contábil, formado
alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de com recursos provenientes das três esferas de governo (Federal,
compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhe- Estadual e Municipal); pelo fato da arrecadação e distribuição dos
cimento e o deles. recursos que o formam serem realizadas pela União e pelos Esta-
*Referências: dos, com a participação do Banco do Brasil, como agente finan-
Texto adaptado de Andréia Freitas; ceiro do Fundo e, por fim, em decorrência dos créditos dos seus
BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem recursos serem realizados automaticamente em favor dos Estados
em J.piaget e Paulo Freire. Rio de Janeiro: DPIA Editora Palma- e Municípios de forma igualitária, com base no nº de alunos. Esses
rinca, 1997 aspectos do FUNDEB o revestem de peculiaridades que transcen-
dem sua simples caracterização como Federal, Estadual ou Muni-
RESPOSTA: “C”. cipal. Assim, dependendo da ótica que se observa, o Fundo tem seu
vínculo com a esfera Federal (a União participa da composição e
11. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - distribuição dos recursos), a Estadual (os Estados participam da
BIORIO/2011) Por gestão participativa entende-se: composição, da distribuição, do recebimento e da aplicação final
I - envolvimento de todos que fazem parte direta ou indireta- dos recursos) e a Municipal (os Municípios participam da compo-
mente no processo educacional; sição, do recebimento e da aplicação final dos recursos).
II - compartilhamento na solução de problemas e nas tomadas *Disponível em: http://www.londrina.pr.gov.br/index.
de decisão do diretor escolar; php?option=com_content&view=article&id=734&Itemid=373&-
III - implementação, monitoramento e avaliação dos resulta- fontstyle=f-smaller&limitstart=2
dos;
IV - estabelecimento de objetivos claros e democráticos; RESPOSTA: “D”.
V - visão de conjunto associada a uma posição hierárquica.
Estão corretas as afirmativas: 13. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA
A) I, II e III; - BIORIO/2011) A interação professor-aluno é um aspecto fun-
B) I, III e IV; damental da organização da situação didática. Segundo Libâneo,
C) II, III e V; podem-se ressaltar dois aspectos para a realização do trabalho do-
D) I, IV e V; cente:
O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo, realizado a A) o aspecto social, que se refere à integração de cada aluno
partir da participação conjunta e integrada dos membros de todos ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se refere à aquisição
os segmentos da comunidade escolar. Portanto, afirmar que sua de conhecimentos acadêmicos a serem utilizados na vida pessoal
gestão pressupõe a atuação participativa representa um pleonasmo de cada aluno;
de reforço a essa importante dimensão da gestão escolar. Assim, B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao desenvol-
o envolvimento de todos os que fazem parte, direta ou indireta- vimento da autonomia e das qualidades morais e o aspecto inte-
mente, do processo educacional no estabelecimento de objetivos, lectual, que se refere a aprendizagem com vistas a orientação de
na solução de problemas, na tomada de decisões, na proposição, trabalhos independente dos alunos;
implementação, monitoramento e avaliação de planos de ação, C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito ao
visando os melhores resultados do processo educacional, é im- sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz respeito aos
prescindível para o sucesso da gestão escolar participativa (Luck, objetivos do processo de ensino, a transmissão de conhecimentos,
Freitas, Girling, Keith, 2002). hábitos e atitudes;
D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de co-
RESPOSTA: “B”. municação dos conteúdos escolares e o aspecto sócio- emocional,
que diz respeito às relações pessoais entre professor e alunos e às
12. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA normas disciplinares indispensáveis ao trabalho educativo;
- BIORIO/2011) O FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvol-
vimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Podemos ressaltar dois aspectos da interação professor-aluno
Educação é formado: no trabalho docente: O aspecto cognoscitivo (que diz respeito a
A) por vínculos financeiros com a esfera Federal, Estadual e formas de comunicação dos conteúdos escolares e às tarefas es-
Municipal de acordo com o censo demográfico; colares indicadas pelos alunos) e o aspecto sócio-emocional (que
B) com apoio do Banco do Brasil para a criação de um fundo diz respeito as relações pessoais entre o professor e o aluno e as
de créditos em favor dos Estados e Municípios; normas disciplinares indispensáveis ao trabalho docente) afirma
C) pelos recursos do Governo Federal, Estadual e Municipal Libâneo (1998).
para definir um orçamento exclusivamente para a educação; *Referências:
D) com recursos provenientes das três esferas do governo (Fe- SOUZA, Verônica Alves de M. A relação professor-aluno na
deral, Estadual e Municipal), sendo um fundo contábil; Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Arlindo Rama-
lho nas séries iniciais do Ensino Médio Noturno no município de
Solânea-PB. 2007. 60 f. Monografia (Especialização) CFT/UFPB.

RESPOSTA: “D”.

Didatismo e Conhecimento 46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
DA ORGANIZAÇÃO DOS
SISTEMAS DE ENSINO
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade
EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 9.394/96: permanente, criado por lei.
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
TÍTULO IV E TÍTULO V – CAPÍTULOS União terá acesso a todos os dados e informações necessários de
I, CAPÍTULO II – SECÇÕES I, IV, IV- todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
A, (INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.741, DE § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser de-
2008, QUE TRATA DA INTEGRAÇÃO legadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham
instituições de educação superior.
DO ENSINO MÉDIO COM ENSINO  
PROFISSIONAL) E SECÇÃO V. Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
oficiais dos seus sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
TÍTULO IV oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distri-
Da Organização da Educação Nacional buição proporcional das responsabilidades, de acordo com a popu-
lação a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios or- uma dessas esferas do Poder Público;
ganizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, in-
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo tegrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios;
função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
instâncias educacionais. respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
termos desta Lei. V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com priorida-
Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) de, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o dis-
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração posto no art. 38 desta Lei; 
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. 
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as compe-
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
tências referentes aos Estados e aos Municípios.
oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obri-
oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e
gatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva; planos educacionais da União e dos Estados;
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educa- III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
ção infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos
os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar for- do seu sistema de ensino;
mação básica comum; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em ou-
Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para identifi- tros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plena-
cação, cadastramento e atendimento, na educação básica e na edu- mente as necessidades de sua área de competência e com recursos
cação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação; acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Fe-
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) deral à manutenção e desenvolvimento do ensino.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educa- VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. 
ção; Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se
VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sis-
escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração tema único de educação básica.
com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades
e a melhoria da qualidade do ensino; Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós- comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
graduação; I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das institui- II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e finan-
ções de educação superior, com a cooperação dos sistemas que ceiros;
tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, estabelecidas;
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada
os estabelecimentos do seu sistema de ensino.       docente;

Didatismo e Conhecimento 1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor ren- Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
dimento; I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando pro- infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
cessos de integração da sociedade com a escola; II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus fi- iniciativa privada;
lhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e III – os órgãos municipais de educação.
rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta
pedagógica da escola; Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classi-
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz ficam-se nas seguintes categorias administrativas: (Regulamento)
competente da Comarca e ao respectivo representante do Minis- I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
tério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de mantidas e administradas pelo Poder Público;
faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas
por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabe- Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas
lecimento de ensino; seguintes categorias: (Regulamento)
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são
pedagógica do estabelecimento de ensino; instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; de direito privado que não apresentem as características dos inci-
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de sos abaixo;
menor rendimento; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, in-
de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamen- clusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que incluam
to, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; 
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por
as famílias e a comunidade. grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas
que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
disposto no inciso anterior;
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com
IV - filantrópicas, na forma da lei.
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração
TÍTULO V
do projeto pedagógico da escola;
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
II - participação das comunidades escolar e local em conse-
lhos escolares ou equivalentes.
CAPÍTULO I
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades esco- Da Composição dos Níveis Escolares
lares públicas de educação básica que os integram progressivos
graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão finan- Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
ceira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio;
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:(Regula- II - educação superior.
mento)
I - as instituições de ensino mantidas pela União; CAPÍTULO II
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas DA EDUCAÇÃO BÁSICA
pela iniciativa privada; Seção I
III - os órgãos federais de educação. Das Disposições Gerais

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Fe- Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver
deral compreendem: o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
Público municipal; anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na compe-
mantidas pela iniciativa privada; tência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização,
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o re-
respectivamente. comendar.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de edu- § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando
cação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País
seu sistema de ensino. e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.

Didatismo e Conhecimento 2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsá-
locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo veis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o pro-
sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas fessor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento.
previsto nesta Lei. Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista
das condições disponíveis e das características regionais e locais,
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo.
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, dis- Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamen-
tribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho esco- tal e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser comple-
lar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; mentada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento esco-
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a pri- lar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais
meira do ensino fundamental, pode ser feita: e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. 
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveita- § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
mento, a série ou fase anterior, na própria escola; obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática,
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
escolas; política, especialmente da República Federativa do Brasil, obser-
c) independentemente de escolarização anterior, mediante vado, na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino funda-
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimen- mental, o disposto no art. 32, e no ensino médio, o disposto no art.
to e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou 36. (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões re-
de ensino; gionais, constituirá componente curricular obrigatório da educa-
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular ção infantil e do ensino fundamental, de forma a promover o de-
por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão senvolvimento cultural dos alunos. (Redação dada pela Medida
parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas Provisória nº 746, de 2016)
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
as normas do respectivo sistema de ensino;
escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de
e do ensino fundamental, sendo sua prática facultativa ao aluno:
séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na maté-
(Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
ria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros compo-
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; 
nentes curriculares;
II – maior de trinta anos de idade; 
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
critérios:
situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e de 1969;
dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas V – (Vetado) 
finais; VI – que tenha prole.
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribui-
atraso escolar; ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasilei-
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante ro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia.
verificação do aprendizado; § 5º No currículo do ensino fundamental, será ofertada a lín-
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; gua inglesa a partir do sexto ano. (Redação dada pela Medida
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência Provisória nº 746, de 2016)
paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento es- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as lingua-
colar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus gens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o
regimentos; deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de 2016).
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme § 7º A Base Nacional Comum Curricular disporá sobre os temas
o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de transversais que poderão ser incluídos nos currículos de que trata
ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento o caput. (Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
do total de horas letivas para aprovação; § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá com-
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos esco- ponente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da
lares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) ho-
de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis. ras mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006, de 2014)
Parágrafo único. A carga horária mínima anual de que trata o § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção
inciso I do caput deverá ser progressivamente ampliada, no ensino de todas as formas de violência contra a criança e ao adolescente
médio, para mil e quatrocentas horas, observadas as normas do serão incluídos, como temas transversais, nos currículos escola-
respectivo sistema de ensino e de acordo com as diretrizes, os ob- res de que trata o caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei
jetivos, as metas e as estratégias de implementação estabelecidos no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Ado-
no Plano Nacional de Educação. (Incluído pela Medida Provisória lescente), observada a produção e distribuição de material didático
nº 746, de 2016) adequado. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Didatismo e Conhecimento 3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de cará- II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu-
ter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adap-
aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação tar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfei-
pelo Ministro de Estado da Educação, ouvidos o Conselho Nacio- çoamento posteriores;
nal de Secretários de Educação - Consed e a União Nacional de III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, in-
Dirigentes de Educação - Undime. (Incluído pela Medida Provi- cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia inte-
sória nº 746, de 2016) lectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
Art. 26.A-  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da ensino de cada disciplina.
história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo in- Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base
cluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos especí-
a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos ét- ficos, a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas
nicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional: (Re-
luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e dação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade I - linguagens; (Redação dada pela Medida Provisória nº 746,
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econô- de 2016)
mica e política, pertinentes à história do Brasil.  II - matemática; (Redação dada pela Medida Provisória nº
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira 746, de 2016)
e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de III - ciências da natureza; (Redação dada pela Medida Provi-
todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artísti- sória nº 746, de 2016)
ca e de literatura e história brasileiras. IV - ciências humanas; e (Redação dada pela Medida Provi-
sória nº 746, de 2016)
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica obser-
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Medida
varão, ainda, as seguintes diretrizes:
Provisória nº 746, de 2016)
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
§ 1º Os sistemas de ensino poderão compor os seus currículos
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
com base em mais de uma área prevista nos incisos I a V do caput.
ordem democrática;
(Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que pre-
cada estabelecimento;
sidem a produção moderna;
III - orientação para o trabalho;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
desportivas não-formais. III- (Revogado)
§ 2º (Revogado)
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, § 3º A organização das áreas de que trata o caput e das respec-
os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua tivas competências, habilidades e expectativas de aprendizagem,
adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, espe- definidas na Base Nacional Comum Curricular, será feita de acor-
cialmente: do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. (Reda-
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais ção dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
necessidades e interesses dos alunos da zona rural; § 4º (Revogado)
II - organização escolar própria, incluindo adequação do ca- § 5º Os currículos do ensino médio deverão considerar a for-
lendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáti- mação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado
cas; para a construção de seu projeto de vida e para a sua formação nos
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. aspectos cognitivos e socioemocionais, conforme diretrizes defini-
Parágrafo único.  O fechamento de escolas do campo, indí- das pelo Ministério da Educação. (Incluído pela Medida Provisó-
genas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão ria nº 746, de 2016)
normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a jus- § 6º A carga horária destinada ao cumprimento da Base Na-
tificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do cional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e duzentas
diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade horas da carga horária total do ensino médio, de acordo com a de-
escolar. (Incluído pela Lei nº 12.960, de 2014) finição dos sistemas de ensino. (Incluído pela Medida Provisória
nº 746, de 2016)
Seção IV § 7º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput
Do Ensino Médio do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar inte-
grada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a partir
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural. (In-
duração mínima de três anos, terá como finalidades: cluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- § 8º Os currículos de ensino médio incluirão, obrigatoriamen-
quiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento te, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas es-
de estudos; trangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de

Didatismo e Conhecimento 4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos II - experiência de trabalho supervisionado ou outra experiên-
pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Medida Provisória nº cia adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela Medida Pro-
746, de 2016) visória nº 746, de 2016)
§ 9º O ensino de língua portuguesa e matemática será obriga- III - atividades de educação técnica oferecidas em outras ins-
tório nos três anos do ensino médio. (Incluído pela Medida Provi- tituições de ensino; (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de
sória nº 746, de 2016) 2016)
§ 10. Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de va- IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupacio-
gas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio nais; (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
cursar, no ano letivo subsequente ao da conclusão, outro itinerário V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou
formativo de que trata o caput. (Incluído pela Medida Provisória estrangeiras; e (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
nº 746, de 2016) VI - educação a distância ou educação presencial mediada por
§ 11. A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação tecnologias. (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016)
a que se refere o inciso V do caput considerará: (Incluído pela Me-
dida Provisória nº 746, de 2016) Seção IV-A
I - a inclusão de experiência prática de trabalho no setor pro- Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
dutivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e
fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos estabelecidos pela Art. 36.A-  Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Ca-
legislação sobre aprendizagem profissional; e (Incluído pela Me- pítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do educando,
dida Provisória nº 746, de 2016) poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas.
II - a possibilidade de concessão de certificados intermediá- Parágrafo único.  A preparação geral para o trabalho e, facul-
rios de qualificação para o trabalho, quando a formação for estru- tativamente, a habilitação profissional poderão ser desenvolvidas
turada e organizada em etapas com terminalidade. (Incluído pela nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação
Medida Provisória nº 746, de 2016) com instituições especializadas em educação profissional. 
§ 12. A oferta de formações experimentais em áreas que não
Art. 36.B-  A educação profissional técnica de nível médio
constem do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos dependerá,
será desenvolvida nas seguintes formas:
para sua continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
I - articulada com o ensino médio;
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha con-
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
cluído o ensino médio.
contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela Me-
Parágrafo único.  A educação profissional técnica de nível mé-
dida Provisória nº 746, de 2016)
dio deverá observar:
§ 13. Ao concluir o ensino médio, as instituições de ensino
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curricula-
emitirão diploma com validade nacional que habilitará o diploma-
res nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação; 
do ao prosseguimento dos estudos em nível superior e demais cur- II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
sos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio seja ensino; 
obrigatória. (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016) III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de
§ 14. A União, em colaboração com os Estados e o Distrito seu projeto pedagógico. 
Federal, estabelecerá os padrões de desempenho esperados para
o ensino médio, que serão referência nos processos nacionais de Art. 36.C-  A educação profissional técnica de nível médio ar-
avaliação, considerada a Base Nacional Comum Curricular. (In- ticulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será
cluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016) desenvolvida de forma:
§ 15. Além das formas de organização previstas no art. 23, I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o
o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o sis- ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir
tema de créditos ou disciplinas com terminalidade específica, ob- o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma
servada a Base Nacional Comum Curricular, a fim de estimular o instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; 
prosseguimento dos estudos. (Incluído pela Medida Provisória nº II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio
746, de 2016) ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas distintas para
§ 16. Os conteúdos cursados durante o ensino médio pode- cada curso, e podendo ocorrer: 
rão ser convalidados para aproveitamento de créditos no ensino a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportu-
superior, após normatização do Conselho Nacional de Educação nidades educacionais disponíveis;
e homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (Incluído b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
pela Medida Provisória nº 746, de 2016) oportunidades educacionais disponíveis;
§ 17. Para efeito de cumprimento de exigências curriculares c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de
do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer, me- intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvol-
diante regulamentação própria, conhecimentos, saberes, habilida- vimento de projeto pedagógico unificado.
des e competências, mediante diferentes formas de comprovação,
como: (Incluído pela Medida Provisória nº 746, de 2016) Art. 36.D-  Os diplomas de cursos de educação profissional téc-
I - demonstração prática; (Incluído pela Medida Provisória nº nica de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e
746, de 2016) habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação superior.

Didatismo e Conhecimento 5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Parágrafo único.  Os cursos de educação profissional técnica § 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusi-
de nível médio, nas formas articulada concomitante e subsequente, vo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. ” (NR)
quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade,
possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação para o tra- Art. 2º (VETADO)
balho após a conclusão, com aproveitamento, de cada etapa que
caracterize uma qualificação para o trabalho.  Art. 3º Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se
adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1o e 2o desta Lei.
Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles Brasília, 18 de agosto de 2008; 187o da Independência e 120o
que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fun- da República.
damental e médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jo- LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
vens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade Fernando Haddad
regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de Ensino de música obrigatório nas escolas
trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a Cantos, ritmos e sons de instrumentos regionais e folclóricos.
permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas A música vai invadir salas, pátios e jardins das escolas do país. A
e complementares entre si. disciplina defendida por um dos mais talentosos maestros brasi-
§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, pre- leiros, Heitor Villa-Lobos (1887-1959), volta a ser obrigatória na
ferencialmente, com a educação profissional, na forma do regula- grade curricular dos ensinos fundamental e médio. Para especialis-
mento. tas, a aprovação da Lei nº 11.769 em agosto de 2008, significa uma
formação mais humanística dos estudantes, na qual serão desen-
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames su- volvidas habilidades motoras, de concentração e a capacidade de
pletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, trabalhar em grupo, de ouvir e de respeitar o outro.
habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. A nova legislação altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: ção (LDB), fazendo da música o único conteúdo obrigatório, po-
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maio- rém não exclusivo. As demais áreas artísticas deverão ser contem-
res de quinze anos; pladas dentro do planejamento pedagógico das escolas. Até 2011,
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores uma nova política definirá em quais séries da educação básica a
de dezoito anos. música será incluída e em que frequência.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos Segundo o presidente da Associação Brasileira de Educação
por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. Musical, Sérgio Figueiredo, alguns municípios se anteciparam à
nova lei e já possuem profissionais de música nas escolas públi-
cas e privadas, como: Florianópolis (SC), Franca (SP), São Carlos
(SP), Santos (SP), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS) e Santa
Bárbara (MG). “Nessas cidades, a lei apenas reforça o que já vinha
LEI Nº 11.769/2008 – ENSINO DE MÚSICA
sendo feito e pode servir de exemplo para a implantação da música
NAS ESCOLAS: IMPLICAÇÕES, nas demais escolas do país”, afirma.
CONSENSOS E DISSENSOS. Antes da regra, a música era conteúdo optativo na rede de en-
sino, a cargo do planejamento pedagógico das secretarias estaduais
e municipais de educação. No ensino geral de artes, a escola podia
oferecer artes visuais, música, teatro e dança. “A educação musical
no Brasil é bastante diversificada e descontínua. Existem projetos
LEI Nº 11.769, DE 18 DE AGOSTO DE 2008. duradouros de ótima qualidade, ao lado de muitos trabalhos que
são apenas esporádicos, não oferecendo formação musical para to-
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Di- dos os estudantes. Com a lei, isto vai mudar”, explica Figueiredo.
retrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade Durante os próximos três anos, escolas, diretores e professo-
do ensino da música na educação básica. res terão de se adaptar a nova regra. “A formação de professores
é o principal desafio, por isso, temos que batalhar para que mais
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- vagas sejam criadas”, defende Figueiredo. De acordo com Lucia-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: na Del-Ben, professora da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), estudos mostram um número bastante reduzido
Art. 1º O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de professores licenciados em música atuando nas escolas, assim
passa a vigorar acrescido do seguinte § 6º: como são raras as escolas públicas que oferecem aulas de música
“Art. 26. .................................................................................. como componente curricular. “Conforme estudos de Isabel Bonat
................................................................................................ Hirsch, a porcentagem de professores que ministram a disciplina

Didatismo e Conhecimento 6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
música como parte do currículo escolar ou que trabalham somen- § 3o As atividades poderão ser desenvolvidas dentro do espaço
te a modalidade música nas escolas é de 2,2%, contra 57,5% de escolar, de acordo com a disponibilidade da escola, ou fora dele
professores que declararam trabalhar somente a modalidade artes sob orientação pedagógica da escola, mediante o uso dos equipa-
plásticas ou visuais”, explica Del-Ben. mentos públicos e do estabelecimento de parcerias com órgãos ou
Doutora em música pela UFRGS, Del-Ben, destaca que re- instituições locais.  
sultados de várias pesquisas desenvolvidas no Brasil indicam que,
apesar de não ser conteúdo curricular obrigatório, a música não Art. 2o São princípios da educação integral, no âmbito do Pro-
saiu das escolas. “Trago como exemplo disso os resultados do ma- grama Mais Educação:
peamento que realizei junto a professores de artes e diretores de I - A articulação das disciplinas curriculares com diferentes
74 escolas estaduais de educação básica de Porto Alegre, em 2004 campos de conhecimento e práticas socioculturais citadas no §
e 2005. Em 71,62% dessas escolas havia algum tipo de ativida- 2o do art. 1o;
de musical sendo desenvolvida”, cita. Ela acrescenta ainda que a II - A constituição de territórios educativos para o desenvolvi-
pesquisadora Hirsch entrevistou 139 professores de arte/música de mento de atividades de educação integral, por meio da integração
104 escolas gaúchas e 81,4% delas professores usavam a música dos espaços escolares com equipamentos públicos como centros co-
em suas práticas pedagógicas. O estudo foi realizado entre 2006 e munitários, bibliotecas públicas, praças, parques, museus e cinemas;
2007, em escolas estaduais de ensino fundamental e médio perten- III - a integração entre as políticas educacionais e sociais, em
centes à 5ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado do Rio interlocução com as comunidades escolares;
Grande do Sul, sediada em Pelotas. IV - A valorização das experiências históricas das escolas de
Fonte: Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ tempo integral como inspiradoras da educação integral na contem-
poraneidade;
V - O incentivo à criação de espaços educadores sustentáveis
com a readequação dos prédios escolares, incluindo a acessibilida-
de, e à gestão, à formação de professores e à inserção das temáticas
DECRETO Nº 7.083/2010 – EDUCAÇÃO de sustentabilidade ambiental nos currículos e no desenvolvimento
INTEGRAL NO BRASIL: O LEGADO DE de materiais didáticos;
ANÍSIO TEIXEIRA NA ATUALIDADE: VI - A afirmação da cultura dos direitos humanos, estruturada
NOVAS PERSPECTIVAS. na diversidade, na promoção da equidade étnico-racial, religiosa,
cultural, territorial, geracional, de gênero, de orientação sexual, de
opção política e de nacionalidade, por meio da inserção da temáti-
ca dos direitos humanos na formação de professores, nos currícu-
los e no desenvolvimento de materiais didáticos; e
DECRETO Nº 7.083, DE 27 DE JANEIRO DE 2010. VII - a articulação entre sistemas de ensino, universidades e
escolas para assegurar a produção de conhecimento, a sustentação
Dispõe sobre o Programa Mais Educação.  teórico-metodológica e a formação inicial e continuada dos profis-
sionais no campo da educação integral. 
O  PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso de atribuição
que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em Art. 3o São objetivos do Programa Mais Educação:
vista o disposto no art. 34 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de I - Formular política nacional de educação básica em tempo
1996, na Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001, e na Lei no 11.947, integral;
de 16 de junho de 2009,  II - Promover diálogo entre os conteúdos escolares e os sabe-
res locais;
DECRETA:  III - favorecer a convivência entre professores, alunos e suas
Art. 1o O Programa Mais Educação tem por finalidade contri- comunidades;
buir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliação do IV - Disseminar as experiências das escolas que desenvolvem
tempo de permanência de crianças, adolescentes e jovens matricu- atividades de educação integral; e
lados em escola pública, mediante oferta de educação básica em V - Convergir políticas e programas de saúde, cultura, esporte,
tempo integral.  direitos humanos, educação ambiental, divulgação científica, en-
§ 1o Para os fins deste Decreto, considera-se educação básica frentamento da violência contra crianças e adolescentes, integra-
em tempo integral a jornada escolar com duração igual ou superior ção entre escola e comunidade, para o desenvolvimento do projeto
a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo político-pedagógico de educação integral. 
o tempo total em que o aluno permanece na escola ou em ativida-
des escolares em outros espaços educacionais.  Art. 4o O Programa Mais Educação terá suas finalidades e ob-
§ 2o A jornada escolar diária será ampliada com o desenvol- jetivos desenvolvidos em regime de colaboração entre a União, os
vimento das atividades de acompanhamento pedagógico, experi- Estados, o Distrito Federal e os Municípios, mediante prestação
mentação e investigação científica, cultura e artes, esporte e lazer, de assistência técnica e financeira aos programas de ampliação da
cultura digital, educação econômica, comunicação e uso de mí- jornada escolar diária nas escolas públicas de educação básica. 
dias, meio ambiente, direitos humanos, práticas de prevenção aos § 1o No âmbito federal, o Programa Mais Educação será exe-
agravos à saúde, promoção da saúde e da alimentação saudável, cutado e gerido pelo Ministério da Educação, que editará as suas
entre outras atividades.  diretrizes gerais. 

Didatismo e Conhecimento 7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 2o Para consecução dos objetivos do Programa Mais Edu- por não considerá-la suficientemente precisa e, provavelmente, para
cação, poderão ser realizadas parcerias com outros Ministérios, evitar qualquer identificação com os Integralistas, que, como vimos,
órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal para o estabele- usaram abundantemente, durante os anos 1930, as expressões “ho-
cimento de ações conjuntas, definindo-se as atribuições e os com- mem integral”, “Estado integral” e “educação integral”.
promissos de cada partícipe em ato próprio.  Quando ainda iniciante no campo da educação, como diretor
§ 3o No âmbito local, a execução e a gestão do Programa Mais da Instrução Pública do Estado da Bahia, Anísio Teixeira realizou,
Educação serão coordenadas pelas Secretarias de Educação, que em 1927, sua primeira viagem aos EUA. Nessa viagem, assistiu a
conjugarão suas ações com os órgãos públicos das áreas de espor- cursos na Universidade de Columbia e visitou instituições de ensi-
te, cultura, ciência e tecnologia, meio ambiente e de juventude, no, lá permanecendo por sete meses. No ano seguinte, 1928, vol-
sem prejuízo de outros órgãos e entidades do Poder Executivo es- tou aos EUA para aprofundar seus estudos, com vistas ao diploma
tadual e municipal, do Poder Legislativo e da sociedade civil.  de Master of Arts da Universidade de Columbia. Durante o curso,
Anísio Teixeira tomou contato com as obras de John Dewey e W.
Art. 5o   O Ministério da Educação definirá a cada ano os cri- H. Kilpatrick, as quais marcaram fortemente sua formação e lhe
térios de priorização de atendimento do Programa Mais Educação, deram as bases teórico-filosóficas para a construção de um projeto
utilizando, entre outros, dados referentes à realidade da escola, ao de reforma para educação brasileira.
índice de desenvolvimento da educação básica de que trata o De- Após o retorno ao Brasil, Anísio Teixeira passou a desenvol-
creto no 6.094, de 24 de abril de 2007, e às situações de vulnerabi- ver, gradativamente, com base no pragmatismo americano, uma
lidade social dos estudantes.   concepção de educação escolar ampliada, que, ainda hoje, ecoa no
pensamento e nos projetos educacionais que buscam o aprofunda-
Art. 6o Correrão à conta das dotações orçamentárias consig- mento no caráter público da educação escolar. Durante todo o seu
nadas ao Ministério da Educação as despesas para a execução dos percurso como administrador e como intelectual, permaneceu fiel
encargos no Programa Mais Educação.  à visão de educação escolar que procurou reinventar, tendo como
Parágrafo único.  Na hipótese do § 2o do art. 4o, as despesas do referência e finalidade a realidade educacional brasileira.
Programa Mais Educação correrão à conta das dotações orçamen-
tárias consignadas a cada um dos Ministérios, órgãos ou entidades De onde partiu Anísio Teixeira para essa reinvenção?
parceiros na medida dos encargos assumidos, ou conforme pactua-
do no ato que formalizar a parceria.  Quando de sua viagem aos EUA, já deixou em andamento
uma reforma no sistema educacional da Bahia (Lei nº 1.846 /
Art. 7o O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - 1925) na qual a influência de ideias renovadoras já era perceptível,
FNDE prestará a assistência financeira para implantação dos progra- ainda que predominasse o sentido republicano democratizador.
mas de ampliação do tempo escolar das escolas públicas de educa- Esse sentido, eminentemente político, era característico da épo-
ção básica, mediante adesão, por meio do Programa Dinheiro Direto ca (Nagle, 1974) e esteve presente nas diversas reformas ocorridas
na Escola - PDDE e do Programa Nacional de Alimentação Escolar nos sistemas públicos estaduais de educação, a partir de 1920, tais
- PNAE, instituído pela Lei no 11.947, de 16 de junho de 2009.  como a de São Paulo, com Sampaio Dória em 1920, a do Ceará,
com Lourenço Filho, em 1922, a da Bahia, com Anísio Teixeira, em
Art. 8o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.  1925, e a de Minas Gerais, com Francisco Campos em 1926. Essas
reformas romperam com a estagnação nas políticas educacionais
Brasília, 27 de janeiro de 2010; 189o da Independência e da República e se caracterizaram pela chegada à área educacional
122o da República. de uma efetiva preocupação com a expansão da escolarização. O
discurso republicano começou a adquirir maior concretude e sur-
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA giram, nos estados, as políticas que poderiam conduzir ao processo
Fernando Haddad de escolarização em massa da população brasileira. As reformas es-
Fonte: http://www.planalto.gov.br/com taduais, além da preocupação com a ampliação das vagas, tende-
ram, no decorrer dos anos 20, a também incorporar uma concepção
ANÍSIO TEIXEIRA E A EDUCAÇÃO INTEGRAL de escola com tarefas e responsabilidades sociais ampliadas. Nas
palavras de Nagle (1974, p. 190), deu-se entre os anos de 1920 e
Os anos 1920 e 1930: a educação integral como renovação 1929: a ampliação da rede escolar, o melhoramento das condições
da escola de funcionamento das instituições escolares existentes, a criação de
novas instituições, até mesmo de caráter para escolar – com o que se
As bases de uma concepção de educação escolar que alcan- estende o raio de ação da escola e novas funções lhe são atribuídas.
çasse áreas mais amplas da cultura, da socialização primária, da As consequências do processo de urbanização e industriali-
preparação para o trabalho e para a cidadania estavam presentes zação, a crescente, e cada vez mais visível, desigualdade social
desde os primórdios do percurso de Anísio Teixeira como pensa- e as mazelas dela decorrentes geraram nesse período, de maneira
dor e político. Essa concepção foi sendo desenvolvida e aperfei- generalizada na intelectualidade e na classe política, um forte ape-
çoada por toda a sua obra e envolveu diversos elementos, entre lo pela valorização e pela transformação da educação escolar. O
eles a sua permanente defesa do aumento da jornada escolar dis- ingresso de Anísio Teixeira no campo educacional foi marcado por
cente nos diferentes níveis de ensino. um movimento crítico a um sistema que dava mostras evidentes de
No entanto, é preciso notar que, embora a ideia de uma educa- inoperância, bem como pelas primeiras ideias renovadoras, che-
ção escolar abrangente esteja presente em toda a obra de Anísio Tei- gadas ao Brasil via diferentes áreas de estudo e diferentes autores,
xeira, o autor não faz uso da expressão “educação integral”, talvez inicialmente europeus.

Didatismo e Conhecimento 8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Àquelas primeiras influências renovadoras somaram-se, ao educacional da época vêm sendo tema de estudos. Carvalho (1988,
final da década de 20, a americana, tendo sido Anísio Teixeira seu 2000) levanta a hipótese de que tenha sido justamente o americanis-
principal divulgador. A crítica e a renovação foram, portanto, os mo de Anísio o responsável pelo deslocamento do modo dominante
pontos de partida de suas atividades. de conceber a educação e a causa educacional nesse período. Esse
deslocamento se expressaria, por exemplo, na passagem do consenso
Ambiguidades históricas em torno da bandeira da “alfabetização”, e o conteúdo moralizador
que ela continha, para os movimentos em favor de uma educação de
Foi ainda nos anos 20 que se delinearam ambiguidades dentro caráter formativo mais amplo e efetivamente democrático.
das quais caminharam, por pelo menos mais três decênios – até a Os pensamentos foram se diferenciando até a ruptura com
perda daquele vigoroso impulso reformista –, o pensamento liberal a visão cívico-sanitária. Até ali, o conceito de educação como
em educação e toda uma geração de especialistas. Ambiguidades ajustamento estático a um ambiente fixo estava na base de todo o
que resultavam da coexistência contraditória entre (a) uma visão pensamento educacional brasileiro. Ao trazer, diretamente para o
radicalmente liberal e um liberalismo elitista, ainda “curativo” e campo da educação, de forma sistemática, a filosofia pragmatista
“domesticador” das classes populares; entre (b) a escola com fun- americana, Anísio Teixeira introduziu um elemento perturbador
ções formativas e culturais ampliadas e a escola meramente alfabe- naquela lógica. O conceito deweyano da educação (Cunha, 1994)
tizadora; e entre (c) a busca da qualidade na educação e a urgência como um processo contínuo de crescimento e desenvolvimento,
da expansão, isto é, a urgência do crescimento quantitativo dos tendo como finalidade a maior capacidade de crescimento e de-
sistemas escolares. A rigor, esses três pares antitéticos estão imbri- senvolvimento, não admitia a visão curativa moralizadora: não
cados e irão orientar o caminho que seguiremos para identificar a supunha um modelo já pronto a ser alcançado. Essa concepção de
gênese e o desenvolvimento, no Brasil e, particularmente, na obra educação como vida e descoberta, e não como preparação ou con-
de Anísio Teixeira, da concepção de educação integral. serto, impôs novas maneiras de organização cotidiana da experiên-
cia escolar e criou a necessidade de sua diversificação e ampliação.
O elitismo cívico-higienista e a visão liberal
Alfabetização e formação ampla.
No início dos anos 1920, predominava o espírito higienista-e-
ducacional, que tinha em Miguel Couto seu expoente. Pretendia-se A ideia de educação integral cresceu como uma espécie de con-
“libertar o povo da ignorância”. A bandeira da alfabetização surgia traponto, no interior do processo expansionista do sistema escolar
como uma cruzada moral de salvação da nação, como a solução público. O desafio da expansão esteve, inicialmente, associado estri-
para todos os males. A compreensão da ignorância como doen- tamente à alfabetização. Tratava-se de alfabetizar em massa os bra-
ça, dos analfabetos como seres que “vegetavam”, a formulação sileiros, de torná-los cidadãos através do acesso à leitura e à escrita.
“povo-criança”, a ser educado e preparado para transformar-se em A primeira grande reforma estadual do ensino – a reforma pau-
“povo-nação”, levavam a um projeto autoritário de educação esco- lista de 1920 – caracterizou o momento (Cavaliere, 2003). Elabora-
lar. O desenvolvimento e a radicalização dessa tendência autoritá- da por Sampaio Dória, diretor da Instrução Pública do Estado, teve a
ria conduziriam, anos mais tarde, às formulações educacionais do questão da alfabetização como central. Suas principais medidas vi-
movimento Integralista, anteriormente aqui referidas, mas a ilusão savam ao crescimento rápido do número de alfabetizados no estado.
de que a alfabetização e a escolarização tinham algo de milagrosas Para isso, propôs a redução do ensino primário de quatro para
em si mesmas era, na década de 20, muito generalizada. dois anos. A obrigatoriedade, bem como a gratuidade, também fo-
Disciplina, higiene e alfabetização compunham as bases de ram circunscritas a esses dois anos de escolaridade.
uma visão política ainda muito indiferenciada e que correspondia a Quanto à jornada escolar, esta foi reduzida de quatro ou cinco
uma primeira resposta às necessidades de uma nova ordem econô- horas para a metade disso. A solução da redução do tempo foi tec-
mica, modelada pela indústria e pela vida urbana (Gondra, 2003). nicamente justificada com base na melhor qualidade do trabalho
A contradição que foi se delineando, até se explicitar nos anos desenvolvido em tempo compacto e turmas seriadas (Dória, 1923).
1930, esteve entre essa abordagem sanitária do analfabetismo e da Na reforma paulista de 20, o pensamento predominante foi
educação e a visão que chamaremos aqui de autenticamente libe- ainda o da alfabetização como panaceia. Isso gerou inúmeras crí-
ral. Essa contradição apareceu de forma emblemática na expressão ticas dos intelectuais da educação, que perceberam o equívoco de
“pensar o Brasil”, cunhada por Vicente Licínio Cardoso, que a pro- ter a alfabetização como um fim em si mesmo, sem um projeto
pôs como lema para a sua geração e a utilizou como base em seus de inserção educacional mais amplo e culturalmente consequente.
trabalhos durante os anos 1920 (Carvalho, 2000). Chamamos a aten- Entre o grupo de profissionais da educação que despontava nas
ção para o fato de que a expressão trazia em si um sentido dúbio, primeiras décadas do século XX, a solução de redução do número
podendo o verbo “pensar” ser interpretado como “compreender” o de anos e da jornada escolar no ensino primário foi entendida por
Brasil – condição para transformá-lo – ou como “curar” o Brasil – muitos como um retrocesso para o ensino paulista da época.
da doença já diagnosticada e para a qual já se tinha o remédio. À exceção da reforma paulista de 1920, a primeira do conjun-
As formulações de Anísio Teixeira sobre uma nova concepção to que se seguiu, todas as demais apresentaram em suas justificati-
de escola surgiram nesse contexto, mas passaram, logo em seguida, vas e regulamentos uma concepção de educação primária bastante
a ancorar-se no pensamento de Dewey. Esse pensamento trouxe mais ampliada. Como demonstrou Carvalho (1988), a partir de meados
substância filosófica às ideias renovadoras e o movimento de supe- da década de 20 o “fetichismo da alfabetização” cedeu lugar aos
ração da visão cívico-sanitária tornou-se inevitável. A forma como movimentos em favor de uma concepção de educação integral.
o “americanismo” de Anísio Teixeira chocou-se com o diagnóstico Lourenço Filho era dos que propunham um tipo de escola que
de viés higienista e curativo e a repercussão que teve no pensamento pretendia ir muito além da simples alfabetização.

Didatismo e Conhecimento 9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Como diretor-geral da Instrução Pública do Estado Ceará, en- dos anos 1920. Intelectuais e educadores enxergaram a impossibi-
tre os anos de 1922 e 1923, em entrevista concedida à época, re- lidade de haver uma dissociação entre as duas dimensões e, em ge-
produzida por Nagle (1974) afirmava que O ensino primário deve ral, recusaram a solução de ampliar a oferta de ensino às custas da
ser mais alguma coisa, as noções mais necessárias à vida, no am- redução do tempo de escola para cada criança. A partir dos debates
biente que a criança terá que viver. Afinal de contas, ler e escrever em torno da reforma paulista citada, o tema adquiriu relevância e,
não adianta nem atrasa a ninguém, se, na escola, não se dão outras em 1926, Almeida Júnior, José Escobar e Lourenço Filho questio-
noções que formem equilibradamente o espírito e informem para naram, em pesquisa promovida pelo jornal O Estado de São Paulo,
agir com inteligência, isto é, de modo a aproveitar as forças da os próprios termos em que estava formulada uma das questões da
natureza, na produção de riqueza geral e no conforto da vida Mais pesquisa “Educação integral para poucos ou educação simplificada
adiante, em 1927, a reforma promovida no Distrito Federal por para muitos? É válida a solução da redução do ensino primário?”
Fernando de Azevedo, apresentava no texto de seu “Regulamento Lourenço Filho respondeu afirmando que a melhor solução provi-
do Ensino”, citado por Nagle (1974), o seguinte trecho: sória seria aquela que tornasse mais fácil a execução posterior da
A escola primária se organizará dentro desse espírito de fina- solução definitiva, sem perda de nenhum elemento empregado ou
lidade social: a) como vestíbulo do meio social, para influir sobre conflito com os resultados já obtidos.
ele, integrando as gerações na comunidade pela adaptação cres- A pesquisa foi posteriormente publicada por Fernando de
cente da escola às necessidades do meio, prolongando sobre o lar a Azevedo no livro Educação na Encruzilhada (n.d.).
sua ação educativa e aparelhando-se para reagir sobre o ambiente, Entretanto, o tipo de solução preconizada por Lourenço Filho
por um programa de educação moral que tenda ao desenvolvimen- na resposta ao inquérito jornalístico do “Estado de São Paulo” não
to de qualidades e à reação contra defeitos dominantes no meio foi o que se generalizou. A dicotomia contida na questão se insta-
social; b) como verdadeira escola de trabalho para fim educativo lou. As reformas dos anos 1920, em seu conjunto, não puderam
ou escola comunidade, em que se desenvolve o sentido da ação, o efetivamente contra restar o movimento histórico de perda de qua-
gosto do trabalho manual, o sentimento de cooperação e o espírito lidade. No campo das ideias, elas tiveram um importante papel no
de solidariedade social; c) para atrair e acolher, sem distinção al- estabelecimento do consenso em torno da necessária ampliação do
guma, crianças de todas as proveniências e contribuir eficazmente tempo da escolarização primária e da jornada diária do aluno. Seus
para atenuar e quebrar o sentimento isolador de diferenças sociais, projetos previam a reformulação dos programas, tornando-os mais
criadas pelas diferenças de situações econômicas. diversificados, criando atividades extracurriculares e para escolares
Em diversos momentos, Anísio Teixeira chegou a considerar e fazendo surgir uma nova concepção de educação escolar primária
perniciosa a alfabetização por si mesma e afirmava que “desacom- com grande responsabilidade social e grande amplitude de ação. A
panhado de educação, o miraculoso alfabeto, em verdade, só pro- realização concreta das propostas teóricas e normativas, entretanto,
duz males” (Teixeira, 1997). ficou muito aquém das pretensões dos reformadores, gerando mu-
A defesa de uma escola com funções ampliadas, visível nas danças ainda bastante limitadas no sistema educacional.
reformas dos anos 1920, se aprofundou entre os intelectuais refor- Foi, portanto, durante as décadas de 20 e 30 que a bandeira da
mistas e apareceu no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova educação integral se desenvolveu, adquirindo consistência teórica, a
de 1932, documento elaborado por 26 intelectuais que propunha a partir do contato com o pensamento pragmatista americano, e senti-
renovação educacional do país. do político, com o enfrentamento ao “fetichismo da alfabetização”.
Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decor-
re logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama o dever A experiência do Distrito Federal
de considerar a educação, na variedade de seus graus e manifestações,
como uma função social eminentemente pública, que ele é chamado a Em 1931, Anísio Teixeira voltou a assumir cargo público na
realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais. área educacional, tornando-se diretor da Instrução Pública do Dis-
O termo “educação integral” aparece três vezes no texto do Ma- trito Federal no governo Pedro Ernesto.
nifesto, uma delas para contextualizar uma citação do poeta francês Nesse período, em meio à atuação administrativa, reafirma-
Lamartine, revolucionário de 1848 e defensor dessa concepção de ram-se as mais importantes vertentes de seu pensamento, inclusive
educação. A ideia de educação integral presente no documento é a a concepção ampliada de educação escolar. A laicidade e o fortale-
do direito do indivíduo a uma educação pública que alcance diversas cimento do ensino público destacam-se em seu pensamento.
dimensões de sua formação. Afirma o “direito biológico de cada in- Em sua gestão no Distrito Federal, a constatação da evasão es-
divíduo à sua educação integral” e defende a necessidade de a escola colar e o inconformismo frente a ela foi um dos motores da ação de
aparelhar-se de forma a “alargar os limites e o raio de ação”. Anísio Teixeira. O autor apresentou diversos levantamentos de dados
O texto utiliza ainda a expressão “formação integral das novas que demonstravam o fracasso da escola pública brasileira de então,
gerações”. Sugere a criação de instituições periescolares e postes- ou seja, a enorme quantidade de crianças que eram dela excluídas. No
colares, de caráter educativo ou de assistência social, que deveriam Rio de Janeiro, em 1932, as 39.978 crianças do 1º ano transformavam-
ser incorporadas em todos os sistemas de organização escolar. se em 4.150 no 5º ano. Esse era um de seus principais argumentos
para contestar a qualidade da escola que se fazia no Brasil.
A qualidade e o desafio da expansão Afirmava, ironicamente, que a escola primária, em seus últi-
mos anos, “já entra a funcionar para o doutorado”, ou seja, “são
Outro enfoque necessário à compreensão da gestão e do de- preparatórios para as chamadas faculdades, do mesmo modo por-
senvolvimento da concepção de educação integral em Anísio Tei- que o são os do curso secundário” (Teixeira, 1997). Denunciou a
xeira é o do embate entre a expansão e a manutenção da qualidade finalidade restrita da escola elementar de preparar para a matrícula
dos sistemas públicos. A formação do caminho histórico excluden- no ginásio e na faculdade e não de formar o indivíduo. Daí o alto
te entre a qualidade e a quantidade esboçou-se ainda no decorrer índice de abandono.

Didatismo e Conhecimento 10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
A proposta de mudança dessa realidade teve, em seu cerne, Ideias e ações
as ideias de uma escola complexa e de que cabe a ela garantir que
a civilização “feita pelo homem não o venha esmagar e destruir” Os trechos citados no item anterior fazem parte da obra Edu-
(Teixeira, 1997, p. 85). Mas, afirmava o autor, tais objetivos re- cação para a Democracia, escrita entre os anos de 1931 e 1935,
novadores da escola não são alcançáveis em curto prazo. Ainda no período, portanto, da gestão do educador baiano no Distrito
tendo o “fetichismo da alfabetização” como pano de fundo, afir- Federal. No livro, produzido em período de intensas realizações
mava que depois de atingido o domínio da leitura, da escrita e das concretas, chama atenção o fato de que os textos sempre terminam
quatro operações, resta toda a obra de familiarizar a criança com com uma reflexão mais profunda sobre a condição do ser huma-
os aspectos fundamentais da civilização, habituá-la ao manejo de no aprendiz, a correlação entre civilização e educação, o tipo de
instrumentos mais aperfeiçoados de cultura e dar-lhes segurança educação que favorece a democracia e a realização da condição
de inteligência e de crítica para viver em um meio de mudança e humana da permanente aprendizagem.
transformação permanentes (Teixeira, 1997). A despeito do grande encantamento com as potencialidades
Anísio Teixeira resumiu a realidade existente e justificou as da educação escolar, Anísio Teixeira não deixou de refletir e pon-
mudanças necessárias a uma nova escola nos quatro itens que se derar, nesse período, sobre os limites da mesma afirmando que
seguem: (a) porque as transformações são tão aceleradas que as “representa, realmente, uma observação superficial julgar que é a
instituições mais naturais de educação – a família e a própria so- educação que produz a civilização.
ciedade – não têm elementos para servir à situação nova, tornando- Confusão entre efeito e causa, conforme já acentuamos (...)”
se preciso que a escola amplie as suas responsabilidades, assumin- (Teixeira, 1997, p. 84).
do funções para as quais bastavam, em outros tempos, a família e Acrescenta que, no caso das sociedades que chama “em transi-
a sociedade mesmas, (b) porque o novo critério social de democra- ção”, como a brasileira, começam a aparecer os fatores de progres-
cia exige que todos se habilitem não somente para os deveres de so antes de os homens estarem preparados para eles, resultando
sua tarefa econômica, como para participar da vida coletiva, em daí uma transformação das funções da escola, que não poderá ser
todos os sentidos, devendo cada homem ter possibilidades para apenas perpetuadora dos costumes, hábitos e ideias da sociedade,
vir a ser um cidadão com plenos direitos na sociedade, (c) porque mas terá de ser também renovadora, consolidadora e retificadora
a ciência, invadindo o domínio da educação, criou a necessidade dos costumes, hábitos e ideias, que se vão introduzindo na socie-
de reconstrução dos velhos processos de ensino e de ajustamento
dade pela implantação de novos meios de trabalho e novas formas
de novos materiais de instrução, (d) porque uma concepção nova
de civilização (Teixeira, 1997, p. 85).
esclareceu que educação não é simplesmente preparação para a
Fica claro que a escola pensada pelo autor para a sociedade
vida, mas a própria vida em permanente desenvolvimento, de sorte
brasileira tinha perfil instituidor, o qual estaria atrelado a vetores
que a escola deve-se transformar em um lugar onde se vive e não
sociais mais amplos como, por exemplo, os novos meios de traba-
apenas se prepara para viver (Teixeira, 1997).
lho e os novos costumes.
Com base nesses quatro itens, procedeu à reorganização da
Direção Geral da Instrução Pública do DF, que, pelo decreto nº Sua forte adesão à instituição escolar também não o impedia
3763 de 1º de fevereiro de 1932, criou 13 Inspeções Especializa- de ver a complementaridade entre casa e escola. Sobre a educação
das, entre elas, obras sociais escolares, periescolares e pós-escola- pré-escolar e a importância desse período para a vida dos indiví-
res; educação de saúde e higiene escolar; educação física; música duos, desenvolveu longo raciocínio em que constatou o enfraque-
e canto orfeônicos. Criou ainda a Biblioteca Central de Educação, cimento da família devido à reconstrução social moderna. Segun-
a Filmoteca e o Museu Central de Educação. do ele, a escola veio em socorro da família, cuja atuação primitiva
A medida implantava um aparelhamento que permitisse à edu- e natural já não basta:
cação escolar ampliar efetivamente seu raio de ação. A escola ampliou os seus deveres até participar de todos os
No relato dessa reorganização, aparecia a grande preocupação deveres do lar, assumindo a responsabilidade de dar às crianças
com o ensino de música, artes, desenho, artes industriais, educação todas as condições que lhe asseguram – ou lhe deviam assegurar –
física e saúde, recreação e jogos, rompendo com a visão estrita- na família, a continuidade e a integridade de uma ação formadora
mente utilitária da educação escolar. completa. Educação e não instrução apenas.
Ao descrever as inovações implantadas ou planejadas para a
formação dos professores primários em nível superior, Anísio Tei- Condições de vida e não condições de ensino somente.
xeira destacava a necessidade da Escola de Educação vir a formar
mestres especializados nas áreas de música, artes, desenho, artes Mas nem por isso a escola substitui integralmente o lar. Esse
industriais e domésticas, educação física e saúde, com a participa- continuará e, para continuar, deve também ser refundido em suas
ção de outras unidades da Universidade do Distrito Federal (Tei- bases intelectuais e sociais, como já o foi nas suas bases econômi-
xeira, 1997, p. 206). cas (Teixeira, 1997).
Em suas previsões do horário escolar, apresentou um plano Ainda que os textos de Educação para a Democracia expressem a
que já continha a ideia da conjugação de escolas nucleares com adesão a uma concepção de educação integral e a superação da bandeira
os parques escolares, que viria a adotar, mais tarde, na Bahia e em da alfabetização, é preciso ressaltar que a obra carrega ainda os ecos do
Brasília, respectivamente nos anos 1950 e 1960. Nos quatro anos pensamento que pretendeu superar. Conforme o autor foi aprofundando
em que dirigiu a educação no Distrito Federal, colaborando com o sua reflexão filosófica, a concepção de educação ampliada e as justifica-
governo progressista de Pedro Ernesto, realizou uma gestão inova- tivas que para ela formula também foram se modificando.
dora. Nesse período, redigiu diversos textos, relatando suas ideias Podem-se encontrar, nos diversos capítulos e mesmo dentro de
e feitos, nos quais apareceram, como veremos a seguir, inúmeras um mesmo capítulo, diferentes abordagens que revelam as mudanças
referências à concepção ampliada de educação escolar. teórico-filosóficas por que passava o pensamento do autor no período.

Didatismo e Conhecimento 11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
No capítulo “A educação pré-escolar”, por exemplo, desta- A tônica de todos esses textos escritos no início da década
ca-se uma compreensão ampliada da educação, e muito avançada de 1930 é a forte crença nas amplas potencialidades da educação
para a época: A importância da educação, nos dias de hoje, não escolar. Cada enfoque revela um aspecto diferente, que pode ser o
é apenas uma consequência da complexidade da vida moderna, papel socializador, o criador de cultura, o formador de indivíduos
porém, talvez ainda mais, da inclusão no seu campo de todas as para a democracia, e todos recaem no necessário fortalecimento e
questões da vida humana, que anteriormente possuíam técnicas ou enriquecimento da instituição escolar.
setores diversos de ação (Teixeira, 1997). Segundo Nunes (2000), nesse período, o cultivo entre os agentes
Mais adiante, no capítulo “A educação elementar e os seus escolares do sentimento da escola enquanto instituição pública, assim
objetivos”, ressurge a marca de uma concepção funcionalista e re- como a concepção de Anísio Teixeira quanto à ampliação das elites,
guladora da sociedade: “incomodou a todos que, mesmo dentro das associações de educado-
Só posso compreender a educação como o processo de pre- res (...) defendiam um projeto repartido de educação” (p. 292).
paração e distribuição de homens pelas diversas ocupações que
caracterizam a vida humana, na atualidade. Três anos de escola Os anos 1950 e 1960: a escola ampliada como antídoto à
elementar (...) não bastam para habilitá-los às ocupações corriquei- escola dual
ras, nem ao menos os preparam para fazer um pouco melhor o que
terão que fazer de qualquer modo, mesmo levando a mais rudi- Após um período de afastamento da vida pública, que corres-
mentar das existências (Teixeira, 1997). pondeu à ditadura Vargas, Anísio Teixeira foi chamado, em 1946, a
E até mesmo o sentido moralista de “tratar o povo”, isto é, dar trabalhar na UNESCO, permanecendo em Paris por curto período
a ele a educação necessária para que ele possa “civilizar-se”: a es- para, logo em seguida, assumir o cargo de Secretário de Educação
cola deve ensinar a todos a viver melhor, a ter a casa mais cuidada e Saúde da Bahia. O educador retomou sua ação política e intelec-
e mais higiênica; a dar às tarefas mais atenção, mais meticulosida- tual com a mesma convicção no poder da escola que caracterizara
de, mais esforço e maior eficiência; a manter padrões mais razoá- sua prática nos anos 1930.
veis de vida familiar e social; a promover o progresso individual, No texto “Educação não é privilégio”, escrito em 1953, que
através os cuidados de higiene e os hábitos de leitura e estudo, integra o livro de mesmo nome (Teixeira, 1994), apresenta e de-
indagação e crítica, meditação e conhecimento (Teixeira, 1997).
senvolve a concepção de educação escolar não especializada, não
Barreira (2000) considera que, em Anísio Teixeira, a amplia-
intelectualista, isto é, educação para a formação “comum” do ho-
ção das funções da escola, tomando para si tarefas que até então
mem. Defende a escola “pública” ou escola “comum” que se liga
cabiam às famílias e a outras instituições, é um movimento que
ao trabalho, à prática e à ciência que informa essa prática. É na
visa à equilibração social, e se encontra fundado em uma visão
caracterização de uma escola que deixa de ser da elite, na busca
evolucionista, base do positivismo.
de uma nova política educacional que leve qualidade para a escola
Sem desconsiderar essa interpretação, é preciso lembrar que,
segundo o mesmo autor, Anísio Teixeira trabalhava com a ideia primária, que ele retoma e desenvolve sua concepção de educação
de mudança de mentalidades dos indivíduos em geral e das elites escolar ampliada e defende o horário integral.
como condição para a constituição da sociedade democrática. Nessa retomada, o incremento do ingresso das classes popu-
A possibilidade de mudança de mentalidade está apoiada, em lares no sistema escolar causava grande impacto e suas propostas
Anísio Teixeira, no pragmatismo deweyano, isto é, numa pretensão tentavam responder a essa realidade. As crianças pertencentes a fa-
de que seja possível, nas vivências cotidianas, a reconstrução da ex- mílias não escolarizadas, sem intimidade com a linguagem escrita
periência, para o que o protagonismo dos indivíduos é peça funda- e a cultura escolar, não poderiam inserir-se num modelo de escola
mental. Mesmo considerando-se que Anísio Teixeira concentrou ex- construído para as classes média e alta.
pectativas excessivas nessa possibilidade, esse esperado protagonis- Ainda em “Educação não é privilégio” (1953), afirma que a
mo individual é elemento de antítese a uma organização social equi- escola primária, a qual tem um fim em si mesma e só secundaria-
librada e estável. O pragmatismo, diferentemente do pensamento mente prepara para os níveis posteriores, não pode ser uma escola
marcado pelo positivismo, considera o pensamento reflexivo como de tempo parcial, pois esta não será apenas uma escola de letras,
fruto do enfrentamento com situações problemáticas e gerador, a mas de formação de hábitos de pensar e de fazer, de conviver e
cada momento, de formas momentaneamente mais adequadas e não participar em uma sociedade democrática: não se pode conseguir
padronizadas para enfrentar tais situações. Não haveria, portanto, essa formação em uma escola por sessões, com os curtos períodos
uma linha de evolução necessária ou previsível (Amaral, 1990). letivos que hoje tem a escola brasileira. Precisamos restituir-lhe o
A dificuldade de lidar com a obra de Anísio Teixeira é justa- dia integral, enriquecer-lhe o programa com atividades práticas,
mente a sua constante espontaneidade. Essa espontaneidade per- dar-lhe amplas oportunidades de formação de hábitos de vida real,
mite que se enxergue o desenrolar de seu pensamento, não apenas organizando a escola como miniatura da comunidade, com toda a
ao longo de sua obra, mas dentro de cada texto, com suas idas e gama de suas atividades de trabalho, de estudo, de recreação e de
vindas e suas contradições. arte (Teixeira, 1994, p. 63).
No mesmo capítulo acima citado, pouco adiante, observa-se Além da jornada escolar, a duração do ano letivo era motivo
uma clara posição de base pragmatista: de atenção de Anísio Teixeira que, desde os anos 30, quando a
A escola deve fornecer a cada indivíduo os meios para parti- carga horária anual da educação elementar era de cerca de 640 ho-
cipar, plenamente, de acordo com as suas capacidades naturais, na ras, afirmava ser esse número de horas absolutamente insuficiente,
vida social e econômica da civilização moderna, aparelhando-o, propondo 1080 horas, isto é, 180 dias de seis horas em média.
simultaneamente, para compreender e orientar-se dentro do am- O tempo ampliado tornou-se uma necessidade prática impos-
biente em perpétua mudança que caracteriza esta civilização (Tei- ta pela proposta educacional que defendia, ou seja, foi decorrên-
xeira, 1997, p. 86). cia de sua concepção abrangente de educação escolar. Segundo

Didatismo e Conhecimento 12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
o autor, para uma educação primária efetivamente pública, seria Na contramão da história da escola pública brasileira, que já
necessário (a) manter e não reduzir o número de séries escolares; percorria, àquela altura, o caminho do aligeiramento, o Centro era
(b) prolongar e não reduzir o ano letivo; (c) enriquecer o programa uma realização que simbolizava a posição de toda a obra teórica
com atividades educativas, independentes do ensino propriamente e prática de Anísio Teixeira, fazendo o papel de resistir ao que ele
intelectual; (d) preparar um novo professor para as funções mais chamava de simplificação da escola pública.
amplas da escola: sendo a escola primária a escola por excelência A implantação do Centro Carneiro Ribeiro foi um momento
formadora, sobretudo porque não estamos em condições de ofere- de grande expectativa para o incansável espírito empreendedor de
cer a toda a população mais do que ela, está claro que, entre todas Anísio Teixeira. No discurso oficial da inauguração, relembrou a re-
as escolas, a primária, pelo menos, não pode ser de tempo parcial. forma paulista de 1920, criticando a concessão à perda de qualidade:
Somente escolas destinadas a fornecer informações ou certos li- Foi, com efeito, nessa época que começou a lavrar, como ideia
mitados treinamentos mecânicos podem ainda admitir o serem de aceitável, o princípio de que, se não tínhamos recursos para dar a
tempo parcial (Teixeira, 1994, p. 105). todos a educação primária essencial, deveríamos simplificá-la até
Anísio Teixeira demonstrava muita clareza e segurança quan- o máximo, até a pura e simples alfabetização e generalizá-la ao
to ao fato de que, ao expandirem-se, as escolas passariam por ne- maior número. A ideia tinha a sedução de todas as simplificações.
cessárias modificações estruturais de programa, de métodos e de Em meio como o nosso produziu verdadeiro arrebatamento. São
processos: a escola já não poderia ser a escola dominantemente de Paulo deu início ao que se chamou de democratização do ensino
instrução de antigamente, mas fazer as vezes da casa, da família, primário. Resistiram à ideia muitos educadores.
da classe social e por fim da escola, propriamente dita, oferecendo Resistiu a Bahia antes de 30. Resistiu o Rio, ainda depois da
à criança oportunidades completas de vida, compreendendo ativi- revolução. Mas a simplificação teve forças para congestionar as
dades de estudos, de trabalho, de vida social e de recreação e jogos escolas primárias com os turnos sucessivos de alunos, reduzindo
(Teixeira, 1994, p. 162). a educação primária não só aos três anos escolares de Washington
Luís, mas aos três anos de “meios-dias”, ou seja, ano e meio, até no
O Centro Educacional Carneiro Ribeiro grande São Paulo, aos três anos de “terços de dia”, o que equivale
realmente a um ano de vida escolar. Ao lado dessa simplificação
A solução dos prédios conjugados – as escolas-classe e as es- na quantidade, seguiram-se, como não podia deixar de ser, todas as
colas-parque –, que garantiria a presença da criança na escola du- demais simplificações de qualidade (Teixeira, 1994, p. 173).
rante os dois turnos, aparece nos textos de Anísio Teixeira desde a O projeto obteve grande destaque na imprensa baiana, rece-
década de 1930, em seus planos para a educação do Distrito Fede- bendo críticas, em geral de oposicionistas, cuja tônica era a denún-
ral: Haverá escolas nucleares e parques escolares, sendo obrigada cia do estado precário em que se encontravam as demais escolas
a criança a frequentar regularmente as duas instalações. O sistema do Estado. Recebeu também elogios, principalmente aos aspectos
escolar para isso funcionará em dois turnos, para cada criança. Em arquitetônicos e pedagógicos, vindos inclusive de organismos in-
dois turnos para crianças diversas de há muito vem funcionando. ternacionais (Almeida, 2001).
Daqui por diante será diferente: no primeiro turno a criança rece- Em 1956, ocorreu, em Lima, uma reunião promovida pela Or-
berá, em prédio adequado e econômico, o ensino propriamente dito; ganização dos Estados Americanos com os ministros da educação
no segundo receberá, em um parque-escola aparelhado e desenvolvi- da América Latina. Anísio identificou o início de um movimen-
do, a sua educação propriamente social, a educação física, a educação to de emancipação pela educação e lembrou que a despeito das
musical, a educação sanitária, a assistência alimentar e o uso da leitura vozes, muito nossas conhecidas, dos que ainda julgam possível
em bibliotecas infantis e juvenis (Teixeira, 1997, p. 243). reduzir a educação popular, na América Latina, à mistificação das
Entretanto, foi em 1950, com o Centro Educacional Carneiro escolas primárias de tempo parcial e de curtos períodos anuais – a
Ribeiro, que viria a detalhar e concretizar finalmente a ideia. Afir- assembleia decidiu, com a afirmação de princípio da ‘Declaração
mou-se, na implantação do Centro, a profunda relação entre o pré- de Lima’, por uma escola primária de seis anos de cursos e dias
dio escolar e a qualidade do ensino na escola de horário integral. letivos completos (Teixeira, 1994, p. 78).
O complexo educacional idealizado por Anísio Teixeira consta- Trinta anos após seus primeiros contatos com o pragmatis-
va de quatro escolas- classe com capacidade para mil alunos cada, mo americano, a escola ampliada permaneceu na obra de Anísio
em dois turnos de quinhentos alunos, e uma escola-parque composta Teixeira, então com um sentido político que ia além da ênfase no
dos seguintes setores: (a) pavilhão de trabalho; (b) setor socializan- preparo adequado dos indivíduos para a vida em sociedade. Em
te; (c) pavilhão de educação física, jogos e recreação; (d) biblioteca; sua caracterização, o autor explicitava a concepção de escola “co-
(e) setor administrativo e almoxarifado; (f) teatro de arena ao ar li- mum” em oposição ao dualismo escolar. A educação comum, que
vre e (g) setor artístico. A escola-parque complementava de forma alcançaria a todos em condições de igualdade, teria sentido socia-
alternada o horário das escolas-classe, e assim o aluno passava o dia lizador abrangente e democratizador da vida brasileira e somente
inteiro no complexo, onde também se alimentava e tomava banho. O poderia se realizar pela educação primária integral.
Centro abrigava crianças dos sete aos 15 anos, divididas por grupos
a princípio organizados pela idade cronológica. As propostas de Anísio Teixeira para a LDB
Previa-se a construção de residências para 5% do total das
crianças da escola, que fossem reconhecidamente abandonadas, e Em todo o processo de discussão que veio a desembocar na
que ali viveriam (Éboli, 1983). LDB de 1961, Anísio Teixeira teve posição ativa e de destaque.
O Centro Carneiro Ribeiro tinha capacidade para quatro mil O Plano Nacional de Educação, dela decorrente, elaborado pelo
alunos, que lá permaneciam de 7h30 às 16h30. Anísio Teixeira Conselho Federal de Educação e aprovado em 1962, tinha entre
pretendia construir ao todo nove Centros como esse, que lembra- suas metas qualitativas a instauração do dia completo para as duas
riam uma universidade infantil e ofereceriam às crianças um retra- últimas séries do ensino primário (ampliado então para seis anos).
to da vida em sociedade. As 5ª e 6ª séries deveriam incluir em seu programa o ensino das

Didatismo e Conhecimento 13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
artes industriais. O mesmo plano propunha ainda, para o ensino mento exógeno de aprendizagem formal. Para além das concep-
médio, o estudo dirigido e a extensão do dia letivo para seis ho- ções e movimentos políticos conjunturais, o grande diferencial do
ras de atividades, compreendendo estudo e práticas educativas. O pensamento sobre educação escolar integral desenvolvido por Aní-
ensino superior deveria contar com pelo menos 30% de alunos e sio deveu-se ao aprofundamento de seus fundamentos filosóficos,
professores de tempo integral. a partir, justamente, da filosofia social de John Dewey. Se o otimis-
Anísio Teixeira, que fora relator do Plano, apresentou parecer mo pedagógico estava difundido entre a intelectualidade brasileira
sobre as bases em que este deveria ser estabelecido. Elaborou ain- das décadas de 20 e 30, Anísio Teixeira, em particular, se ancorava
da sugestões para que a articulação das instâncias federal, estadual em um otimismo também filosófico, isto é, na expectativa de ine-
e municipal garantisse aos serviços educacionais a necessária uni- xorabilidade do processo de integração social, presente na obra de
dade, transformando-os nos mais importantes serviços públicos do Dewey (Cavaliere, 2002a). Isto lhe deu fôlego para persistir em
país. Concebeu, para isso, um conjunto de escolas a constituírem o seu projeto reformista até o início da década de 1960, quando novo
sistema nacional com as seguintes características: período autoritário retirou-o, mais uma vez, da vida política.
a) um Centro de Educação em cada vilarejo de menos de 500 Tanto na filosofia social de Dewey, como em todo o pensa-
habitantes, compreendendo a escola primária (...); mento de Anísio, a questão da democracia é a questão crucial. A
b) uma escola primária, organizada por séries em todas as lo- “reconstrução da experiência”, ou seja, a possibilidade de os indi-
calidades de mais de 500 até víduos viverem experiências que são, também, pensamento, é o
1000 habitantes (...); elemento fundamental para a criação do modo de vida democrá-
c) escola primária de seis séries em todas as localidades de tico. Somente uma escola que funcionasse como uma espécie de
mais de 1000 até 2000 habitantes (...); universidade para crianças e adolescentes poderia propiciar esse
d) centros Educacionais com escolas primárias de seis séries, tipo de experiência.
escolas-parque e ginásio em todas as cidades de mais de 2000 até Foi a associação entre o projeto republicano de educação pú-
5000 habitantes; blica e a teoria pragmatista da educação como reconstrução da
e) escolas primárias de seis séries, escolas-parque, ginásios e experiência, ao lado da forte crítica ao sistema escolar vigente,
colégios em todas as cidades de mais de 5000 habitantes; que impulsionou a elaboração do projeto anisiano de educação in-
f) sistemas escolares completos em todas as capitais (Teixeira, tegral. Analisando o conjunto e o percurso das referências à edu-
1994, p. 151). cação escolar ampliada, nas três obras estudadas neste texto, pu-
Segundo o Plano, portanto, as localidades a partir de dois mil demos perceber diferentes ênfases nas justificativas desenvolvidas
habitantes deveriam receber uma escola de tempo integral, por pelo autor.
meio do sistema de escolas-classe e escolas-parque. De formulações nas quais ainda se encontravam presentes
No processo de debates e elaboração de propostas, a partir da resquícios de uma visão moralizadora da educação, voltada para
aprovação da nova Lei, Anísio retomou a experiência que desen- os indivíduos, no sentido de adequá-los a uma sociedade dada, o
volvera em Salvador, no Centro Carneiro Ribeiro e a defesa da autor passou progressivamente para uma visão de educação inte-
educação primária integral, criticando, mais uma vez, os caminhos gral que correspondia a uma clara definição estratégico-política de
simplificadores que a escola pública assumira: construção da sociedade democrática.
E a escola primária, reduzida na sua duração e no seu progra- Percebemos, nessa análise, que a forte adesão de Anísio Tei-
ma, e isolada das demais escolas do segundo nível, entrou em um xeira à escola ampliada foi, provavelmente, uma adesão prévia,
processo de simplificação e de expansão de qualquer modo. Como isto é, doutrinária. A convicção de Anísio Teixeira sobre o poder
já não era a escola da classe média, mas verdadeiramente do povo, transformador da escola passou incólume por todas as mudanças,
que passou a buscá-la em uma verdadeira explosão da matrícula, e fracassos, que presenciou. Esses fracassos não o encaminharam,
logo se fez de dois turnos, com matrículas independentes pela ma- por exemplo, às concepções estruturalistas e economicistas dos
nhã e pela tarde e, nas cidades maiores, chegou aos três turnos e anos 60 que marcaram as interpretações sobre a relação entre so-
até, em alguns casos, a quatro (Teixeira, 1994, p. 160). ciedade e escola e enfraqueceram as expectativas sobre o poder
Cabe ainda destacar que, no início dos anos 60, o sistema transformador dessa última.
educacional da nova capital do país, Brasília, de cuja planificação Em Educação é um direito (1996), publicado no emblemático
Anísio Teixeira participou, foi organizado com base no modelo de ano de 1968, afirma que as teorias democráticas de liberdade in-
Salvador, e pretendia ser uma referência para todo o país. dividual e de laissez-faire do século XIX não eram efetivamente
suficientes para a conjuntura a que se chegara, mas isso não o retira
A escola ampliada como doutrina do marco do liberalismo igualitarista.
Entendia por igualdade política a possibilidade de que todos
Em toda a obra de Anísio Teixeira, que percorre cinco déca- os indivíduos tivessem acesso aos meios de vida do mundo con-
das, poderíamos listar diversas passagens que apresentam a defesa temporâneo, o que abriria caminho para a igualdade social.
e a caracterização de uma escola de educação integral.
As bases sobre as quais o autor formulou sua concepção de A escola, da forma como a imaginava, viabilizaria esse pro-
educação integral são, resumidamente, o entendimento de que cesso.
educação é vida e não preparação para a vida; o entendimento de
que as demais instituições sociais perderam parte de suas capaci- Mesmo se considerarmos que sua adesão à escola ampliada
dades educativas, que devem então ser supridas pela escola; e a era uma espécie de a priori, a trajetória intelectual que cumpriu
busca da escola verdadeiramente “comum”, isto é, democrática. a reforçou ainda mais. É possível que parte de seu encantamento
A concepção de educação integral de Anísio aprofundou-se com o progressivismo deweyano fosse devido ao fato de que ele
com base no pragmatismo, na compreensão de que o homem se lhe possibilitaria permanecer e aprofundar sua elaboração apaixo-
forma e desenvolve na ação, no fazer-se, e não por algum movi- nada sobre uma escola fortalecida e socialmente instituinte.

Didatismo e Conhecimento 14
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Após seu afastamento da vida política, na ditadura militar ini- 36, 36A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996,
ciada em 1964, suas propostas, como o Centros Educacionais, não com a redação dada pela Lei nº 11.741/2008, bem como no Decreto
lograram continuidade. A concepção de educação integral esteve nº 5.154/2004, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010,
esquecida por cerca de 20 anos. homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educa-
Nos anos 80 e 90, o programa dos CIEPs – Centros Integrados ção, publicado no DOU de 9 de julho de 2010.
de Educação Pública do Rio de Janeiro se apresentou como uma
espécie de agiornamento da proposta de Anísio Teixeira. Há enor- RESOLVE:
mes convergências entre as duas propostas. Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares
Embora nos textos oficiais do Programa dos CIEPs (Ribeiro, Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e articula-
1986) apareçam incorporações de um discurso típico do materia- do das etapas e modalidades da Educação Básica, baseando-se no
lismo histórico, como também do pensamento de Paulo Freire, direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação
a predominância, que se revela nos textos de Darcy Ribeiro, seu para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho, na
idealizador, e nas proposições concretas, segue de perto a tradição vivência e convivência em ambiente educativo, e tendo como fun-
do pensamento de Anísio Teixeira. (Cavaliere, 2002b; Maurício, damento a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a
2002). Foi principalmente através de Anísio Teixeira que a educa- sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a inclusão,
ção integral adquiriu a dimensão de alternativa generalizável, ade- a permanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos jovens
quada ao mundo moderno, e não de mero treinamento intensivo, e adultos na instituição educacional, a aprendizagem para conti-
com vistas à adequação das populações “indisciplinadas” às novas nuidade dos estudos e a extensão da obrigatoriedade e da gratuida-
exigências do sistema industrial urbano. de da Educação Básica.
No Brasil do século XXI, surgiram inúmeros programas educa-
cionais de governos estaduais e municipais que incorporam o conceito TÍTULO I
de educação integral. Em 2007, por meio da Portaria interministerial OBJETIVOS
n.17, envolvendo os ministérios da Educação, da Cultura, do Desen-
volvimento Social e Combate à Fome e do Esporte, foi lançado o pro- Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
grama Mais Educação, cujo objetivo é orientar recursos para “fomen- Educação Básica têm por objetivos:
tar a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio de I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da Educação
atividades socioeducativas no contra turno escolar”. Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases da
Nesse momento em que ressurgem, nas políticas educacio- Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos legais, traduzin-
nais, a ideia e o conceito de educação integral, vale a pena revisitar do-os em orientações que contribuam para assegurar a formação
a obra de Anísio Teixeira. A forma como o autor concebeu a edu- básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida
cação integral e a escola de tempo integral é fonte imprescindível ao currículo e à escola;
para uma abordagem do tema que se mantenha orientada pelo sen- II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsi-
tido de democratização da realidade educacional brasileira. diar a formulação, a execução e a avaliação do projeto político-pe-
Fonte: Disponível em http://www.scielo.br/ dagógico da escola de Educação Básica;
III - orientar os cursos de formação inicial e continuada de
docentes e demais profissionais da Educação Básica, os sistemas
educativos dos diferentes entes federados e as escolas que os inte-
DIRETRIZES CURRICULARES gram, indistintamente da rede a que pertençam.
NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para
E PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E as etapas e modalidades da Educação Básica devem evidenciar o
MÉDIO. seu papel de indicador de opções políticas, sociais, culturais, edu-
cacionais, e a função da educação, na sua relação com um proje-
to de Nação, tendo como referência os objetivos constitucionais,
fundamentando-se na cidadania e na dignidade da pessoa, o que
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIO- pressupõe igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade, respeito,
NAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA justiça social, solidariedade e sustentabilidade.

RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 20101 TÍTULO II


REFERÊNCIAS CONCEITUAIS
Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu-
cação Básica. Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de
educação responsabilizam o poder público, a família, a sociedade
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na- e a escola pela garantia a todos os educandos de um ensino minis-
cional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e de confor- trado de acordo com os princípios de:
midade com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º da Lei nº I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, permanên-
4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995, nos artigos cia e sucesso na escola;
1 Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União, Brasília, II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cul-
14 de julho de 2010, Seção 1, p. 824. tura, o pensamento, a arte e o saber;

Didatismo e Conhecimento 15
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III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; I - revisão das referências conceituais quanto aos diferentes
IV - respeito à liberdade e aos direitos; espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na es-
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; cola e fora dela;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das diferen-
VII - valorização do profissional da educação escolar; ças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cultural, resga-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da le- tando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade;
gislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela apren-
IX - garantia de padrão de qualidade; dizagem e na avaliação das aprendizagens como instrumento de
X - valorização da experiência extraescolar; contínua progressão dos estudantes;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as prá- IV - inter-relação entre organização do currículo, do trabalho
ticas sociais. pedagógico e da jornada de trabalho do professor, tendo como ob-
jetivo a aprendizagem do estudante;
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce in- V - preparação dos profissionais da educação, gestores, pro-
dispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da qual fessores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
depende a possibilidade de conquistar todos os demais direitos, de- VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a infraestru-
finidos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Ado- tura entendida como espaço formativo dotado de efetiva disponibi-
lescente (ECA), na legislação ordinária e nas demais disposições lidade de tempos para a sua utilização e acessibilidade;
que consagram as prerrogativas do cidadão. VII - integração dos profissionais da educação, dos estudantes,
das famílias, dos agentes da comunidade interessados na educação;
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as dimen- VIII - valorização dos profissionais da educação, com pro-
sões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, buscando recu- grama de formação continuada, critérios de acesso, permanência,
perar, para a função social desse nível da educação, a sua centralida- remuneração compatível com a jornada de trabalho definida no
de, que é o educando, pessoa em formação na sua essência humana. projeto político-pedagógico;
IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de as-
TÍTULO III sistência social e desenvolvimento humano, cidadania, ciência e
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, meio ambiente.

Art. 7º A concepção de educação deve orientar a institucionali- Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mínimos
zação do regime de colaboração entre União, Estados, Distrito Fe- de qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer que
deral e Municípios, no contexto da estrutura federativa brasileira, a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente, pelos
em que convivem sistemas educacionais autônomos, para assegurar sujeitos da escola.
efetividade ao projeto da educação nacional, vencer a fragmentação § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela escola
das políticas públicas e superar a desarticulação institucional. supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sistema I - aos princípios e às finalidades da educação, além do reco-
Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, com suas pe- nhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice de Desen-
culiares competências, é chamado a colaborar para transformar a volvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros indicadores,
Educação Básica em um sistema orgânico, sequencial e articulado. que o complementem ou substituam;
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade intencional e II - à relevância de um projeto político-pedagógico concebido
organicamente concebida, que se justifica pela realização de ativi- e assumido colegiadamente pela comunidade educacional, respei-
dades voltadas para as mesmas finalidades ou para a concretização tadas as múltiplas diversidades e a pluralidade cultural;
dos mesmos objetivos. III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas pe-
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados pressu- los sujeitos do processo educativo, em seus diversos segmentos,
põe o estabelecimento de regras de equivalência entre as funções respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
distributiva, supletiva, normativa, de supervisão e avaliação da IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-Quali-
educação nacional, respeitada a autonomia dos sistemas e valori- dade Inicial – CAQi);
zadas as diferenças regionais. § 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-se um pa-
drão mínimo de insumos, que tem como base um investimento com
TÍTULO IV valor calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvimento
ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA dos processos e procedimentos formativos, que levem, gradualmen-
QUALIDADE SOCIAL te, a uma educação integral, dotada de qualidade social:
I - creches e escolas que possuam condições de infraestrutura
Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, e adequados equipamentos;
inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na escola II - professores qualificados com remuneração adequada e
e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e da distorção compatível com a de outros profissionais com igual nível de for-
de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação, que é mação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) horas em tempo
uma conquista coletiva de todos os sujeitos do processo educativo. integral em uma mesma escola;
III - definição de uma relação adequada entre o número de alunos
Art. 9º A escola de qualidade social adota como centralidade por turma e por professor, que assegure aprendizagens relevantes;
o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe atendimento aos IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que responda
seguintes requisitos: às exigências do que se estabelece no projeto político-pedagógico.

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TÍTULO V I - concepção e organização do espaço curricular e físico que
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMI- se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e equipa-
TES, POSSIBILIDADES mentos que não apenas as salas de aula da escola, mas, igualmente,
os espaços de outras escolas e os socioculturais e esportivo recrea-
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se tivos do entorno, da cidade e mesmo da região;
ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as iden- II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços curri-
tidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias culares que pressuponham profissionais da educação dispostos a
das diferentes regiões do País. inventar e construir a escola de qualidade social, com responsabi-
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a superação lidade compartilhada com as demais autoridades que respondem
do rito escolar, desde a construção do currículo até os critérios que pela gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias
orientam a organização do trabalho escolar em sua multidimensio- possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilidade da
nalidade, privilegia trocas, acolhimento e aconchego, para garantir família, do Estado e da sociedade;
o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacio- III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar,
namento entre todas as pessoas. pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, que
oriente o projeto político-pedagógico e resulte de pacto estabelecido
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir o entre os profissionais da escola, conselhos escolares e comunidade,
programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou vesper- subsidiando a organização da matriz curricular, a definição de eixos
tino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e contra turno temáticos e a constituição de redes de aprendizagem;
ou turno único com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, durante IV - compreensão da matriz curricular entendida como pro-
todo o período letivo), tendo em vista a amplitude do papel so- pulsora de movimento, dinamismo curricular e educacional, de tal
cioeducativo atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, modo que os diferentes campos do conhecimento possam se coa-
o que requer outra organização e gestão do trabalho pedagógico. dunar com o conjunto de atividades educativas;
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou diferentes V - organização da matriz curricular entendida como alterna-
espaços educativos, nos quais a permanência do estudante vincula-
tiva operacional que embase a gestão do currículo escolar e repre-
se tanto à quantidade e qualidade do tempo diário de escolarização
sente subsídio para a gestão da escola (na organização do tempo
quanto à diversidade de atividades de aprendizagens.
e do espaço curricular, distribuição e controle do tempo dos tra-
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica a ne-
balhos docentes), passo para uma gestão centrada na abordagem
cessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, de ati-
interdisciplinar, organizada por eixos temáticos, mediante interlo-
vidades e estudos pedagogicamente planejados e acompanhados.
§ 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem estabelecer me- cução entre os diferentes campos do conhecimento;
todologia adequada às idades, à maturidade e à experiência de apren- VI - entendimento de que eixos temáticos são uma forma de
dizagens, para atenderem aos jovens e adultos em escolarização no organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do conhe-
tempo regular ou na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. cimento, fornecendo o cenário no qual se constroem objetos de
estudo, propiciando a concretização da proposta pedagógica cen-
CAPÍTULO I trada na visão interdisciplinar, superando o isolamento das pessoas
FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR e a compartimentalização de conteúdos rígidos;
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos utili-
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os princípios zando-se recursos tecnológicos de informação e comunicação, a se-
educacionais garantidos à educação, assegurados no artigo 4º desta rem inseridos no cotidiano escolar, a fim de superar a distância entre
Resolução, configura-se como o conjunto de valores e práticas que estudantes que aprendem a receber informação com rapidez utilizando
proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço a linguagem digital e professores que dela ainda não se apropriaram;
social e contribuem intensamente para a construção de identidades VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida como
socioculturais dos educandos. um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na apren-
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do inte- dizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela consciência de
resse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem que o processo de comunicação entre estudantes e professores é
comum e à ordem democrática, considerando as condições de esco- efetivado por meio de práticas e recursos diversos;
laridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como ferra-
trabalho, a promoção de práticas educativas formais e não-formais. menta didático-pedagógica relevante nos programas de formação
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se assegurar inicial e continuada de profissionais da educação, sendo que esta
o entendimento de currículo como experiências escolares que se opção requer planejamento sistemático integrado estabelecido en-
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações tre sistemas educativos ou conjunto de unidades escolares;
sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os co- § 4º A transversalidade é entendida como uma forma de orga-
nhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para cons- nizar o trabalho didáticopedagógico em que temas e eixos temáti-
truir as identidades dos educandos. cos são integrados às disciplinas e às áreas ditas convencionais, de
§ 3º A organização do percurso formativo, aberto e contextua- forma a estarem presentes em todas elas.
lizado, deve ser construída em função das peculiaridades do meio § 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e ambas
e das características, interesses e necessidades dos estudantes, in- complementam-se, rejeitando a concepção de conhecimento que
cluindo não só os componentes curriculares centrais obrigatórios, toma a realidade como algo estável, pronto e acabado.
previstos na legislação e nas normas educacionais, mas outros, § 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático-peda-
também, de modo flexível e variável, conforme cada projeto es- gógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem epistemológica dos
colar, e assegurando: objetos de conhecimento.

Didatismo e Conhecimento 17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
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CAPÍTULO II escola, previsto no projeto pedagógico, de modo que os estudantes
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E do Ensino Fundamental e do Médio possam escolher aquele pro-
PARTE DIVERSIFICADA grama ou projeto com que se identifiquem e que lhes permitam
melhor lidar com o conhecimento e a experiência.
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica cons- § 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos de
titui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos cultural- modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a comuni-
mente, expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições dade em que a escola esteja inserida.
produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo § 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem asse-
do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades
gurar a transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas
desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas
e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e propiciando a in-
de exercício da cidadania; e nos movimentos sociais.
§ 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua terlocução entre os saberes e os diferentes campos do conhecimento.
Portuguesa;
b) a Matemática; TÍTULO VI
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade so- ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
cial e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da
História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se ob-
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo- servar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas
se a música; etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas as suas
e) a Educação Física; especificidades e as dos sujeitos a que se destinam.
f) o Ensino Religioso. § 1º As etapas e as modalidades do processo de escolarização
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos sis- estruturam-se de modo orgânico, sequencial e articulado, de ma-
temas educativos, em forma de áreas de conhecimento, discipli- neira complexa, embora permanecendo individualizadas ao logo
nas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos diferen- do percurso do estudante, apesar das mudanças por que passam:
tes campos do conhecimento, por meio dos quais se desenvolvem I - a dimensão orgânica é atendida quando são observadas as espe-
as habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo cificidades e as diferenças de cada sistema educativo, sem perder o que
compatível com as etapas do desenvolvimento integral do cidadão. lhes é comum: as semelhanças e as identidades que lhe são inerentes;
§ 3º A base nacional comum e a parte diversificada não podem
II - a dimensão sequencial compreende os processos educa-
se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas específicas
tivos que acompanham as exigências de aprendizagens definidas
para cada uma dessas partes, mas devem ser organicamente pla-
nejadas e geridas de tal modo que as tecnologias de informação em cada etapa do percurso formativo, contínuo e progressivo, da
e comunicação perpassem transversalmente a proposta curricular, Educação Básica até a Educação Superior, constituindo-se em di-
desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção ferentes e insubstituíveis momentos da vida dos educandos;
aos projetos políticopedagógico. III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial das eta-
pas e das modalidades da Educação Básica, e destas com a Educação
Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa a base Superior, implica ação coordenada e integradora do seu conjunto.
nacional comum, prevendo o estudo das características regionais e § 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e suas
locais da sociedade, da cultura, da economia e da comunidade es- fases requer formas de articulação das dimensões orgânica e se-
colar, perpassando todos os tempos e espaços curriculares consti- quencial que assegurem aos educandos, sem tensões e rupturas,
tuintes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, independente- a continuidade de seus processos peculiares de aprendizagem e
mente do ciclo da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola. desenvolvimento.
§ 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas ge-
rais, na forma de eixos temáticos, selecionados colegiadamente Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus prin-
pelos sistemas educativos ou pela unidade escolar. cípios, objetivos e diretrizes educacionais, fundamentando-se na
§ 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua es- inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e educar, pois
trangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua escolha à
esta é uma concepção norteadora do projeto político-pedagógico
comunidade escolar, dentro das possibilidades da escola, que deve
elaborado e executado pela comunidade educacional.
considerar o atendimento das características locais, regionais, na-
cionais e transnacionais, tendo em vista as demandas do mundo do
trabalho e da internacionalização de toda ordem de relações. Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos mentais,
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005, é obriga- sócioemocionais, culturais e identitários é um princípio orienta-
toriamente ofertada no Ensino Médio, embora facultativa para o estu- dor de toda a ação educativa, sendo responsabilidade dos sistemas
dante, bem como possibilitada no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano. a criação de condições para que crianças, adolescentes, jovens e
adultos, com sua diversidade, tenham a oportunidade de receber
Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, determinam a formação que corresponda à idade própria de percurso escolar.
que sejam incluídos componentes não disciplinares, como temas re-
lativos ao trânsito, ao meio ambiente e à condição e direitos do idoso. CAPÍTULO I
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, destinar-
se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária anual ao conjun- Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes momentos
to de programas e projetos interdisciplinares eletivos criados pela constitutivos do desenvolvimento educacional:

Didatismo e Conhecimento 18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando Seção II
as diferentes etapas do desenvolvimento da criança até 3 (três) anos Ensino Fundamental
e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois) anos;
II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com dura- Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração,
ção de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases: a dos de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos 6 (seis) anos
5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III - o Ensino de idade, tem duas fases sequentes com características próprias,
Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de duração, em re-
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de idades gra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos
próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para finais, com 4 (quatro) anos de duração, para os de 11 (onze) a 14
sujeitos com características que fogem à norma, como é o caso, (quatorze) anos.
entre outros: Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher significa tam-
I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar; bém cuidar e educar, como forma de garantir a aprendizagem dos
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia abando- conteúdos curriculares, para que o estudante desenvolva interesses e
nado os estudos; sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponí-
III - de portadores de deficiência limitadora; veis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta in- possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses bens.
completa;
V - de habitantes de zonas rurais; Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, defini-
VI - de indígenas e quilombolas; dos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou interna- do Ensino Fundamental, especialmente no primeiro, e completam-
ção, jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos se nos anos finais, ampliando e intensificando, gradativamente, o
estabelecimentos penais. processo educativo, mediante:
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
Seção I meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) pri-
Educação Infantil
meiros anos;
III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema
Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvi-
político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos
mento integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo, psico-
valores em que se fundamenta a sociedade;
lógico, intelectual, social, complementando a ação da família e da
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, ten-
comunidade.
do em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a forma-
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares contex- ção de atitudes e valores;
tos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso devem ter V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so-
a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas pela escola e pelos lidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a
profissionais da educação, com base nos princípios da individuali- vida social.
dade, igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade.
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferentes con- Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem estabelecer
dições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico-raciais, especial forma de colaboração visando à oferta do Ensino Fun-
socioeconômicas, de origem, de religião, entre outras, as relações damental e à articulação sequente entre a primeira fase, no geral
sociais e intersubjetivas no espaço escolar requerem a atenção in- assumida pelo Município, e a segunda, pelo Estado, para evitar
tensiva dos profissionais da educação, durante o tempo de desen- obstáculos ao acesso de estudantes que se transfiram de uma rede
volvimento das atividades que lhes são peculiares, pois este é o para outra para completar esta escolaridade obrigatória, garantindo
momento em que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da a organicidade e a totalidade do processo formativo do escolar.
brincadeira orientada pelos profissionais da educação.
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade hu- Seção III
mana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social devem Ensino Médio
iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve ocorrer ao
longo da Educação Básica. Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços promoven- da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades que
do ações a partir das quais as unidades de Educação Infantil sejam preveem:
dotadas de condições para acolher as crianças, em estreita relação I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad-
com a família, com agentes sociais e com a sociedade, prevendo quiridos no Ensino
programas e projetos em parceria, formalmente estabelecidos. Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se torna II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho, toma-
necessária a solução de problemas individuais e coletivos pelas do este como princípio educativo, para continuar aprendendo, de
crianças devem ser previamente programadas, com foco nas mo- modo a ser capaz de enfrentar novas condições de ocupação e
tivações estimuladas e orientadas pelos professores e demais pro- aperfeiçoamento posteriores;
fissionais da educação e outros de áreas pertinentes, respeitados III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana,
os limites e as potencialidades de cada criança e os vínculos desta incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da auto-
com a família ou com o seu responsável direto. nomia intelectual e do pensamento crítico;

Didatismo e Conhecimento 19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológi- Seção II
cos presentes na sociedade contemporânea, relacionando a teoria Educação Especial
com a prática.
§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a qual Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal a
podem se assentar possibilidades diversas como preparação geral todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante
para o trabalho ou, facultativamente, para profissões técnicas; na da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pe-
ciência e na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; na dagógico da unidade escolar.
cultura, como ampliação da formação cultural. § 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha-
lógica que se dirige aos jovens, considerando suas singularidades, bilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no
que se situam em um tempo determinado. Atendimento Educacional Especializado (AEE), complementar ou
§ 3º Os sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, suplementar à escolarização, ofertado em salas de recursos multi-
com diferentes alternativas, para que os jovens tenham a oportuni- funcionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições
dade de escolher o percurso formativo que atenda seus interesses, comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
necessidades e aspirações, para que se assegure a permanência dos § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para que
jovens na escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica. o professor da classe comum possa explorar as potencialidades
de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica, inte-
CAPÍTULO II rativa, interdisciplinar e inclusiva e, na interface, o professor do
MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA AEE deve identificar habilidades e necessidades dos estudantes,
organizar e orientar sobre os serviços e recursos pedagógicos e de
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode corresponder uma acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estudantes.
ou mais das modalidades de ensino: Educação de Jovens e Adultos, § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino
Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação devem observar as seguintes orientações fundamentais:
do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância. I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no
ensino regular;
Seção I II - a oferta do atendimento educacional especializado;
Educação de Jovens e Adultos III - a formação de professores para o AEE e para o desenvol-
vimento de práticas educacionais inclusivas;
Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se aos IV - a participação da comunidade escolar;
que se situam na faixa etária superior à considerada própria, no V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e infor-
nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. mações, nos mobiliários e equipamentos e nos transportes;
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de cursos VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes oportuni-
dades educacionais apropriadas, consideradas as características do Seção III
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante Educação Profissional e Tecnológica
cursos, exames, ações integradas e complementares entre si, estru-
turados em um projeto pedagógico próprio. Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no cumpri-
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação Profis- mento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferen-
sional articulada com a Educação Básica, devem pautar-se pela flexibi- tes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho,
lidade, tanto de currículo quanto de tempo e espaço, para que seja(m): da ciência e da tecnologia, e articula-se com o ensino regular e com
I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e outras modalidades educacionais: Educação de Jovens e Adultos,
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e Educação Especial e Educação a Distância.
conteúdos significativos para os jovens e adultos;
II - providos o suporte e a atenção individuais às diferentes ne- Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação
cessidades dos estudantes no processo de aprendizagem, mediante Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de formação
atividades diversificadas; inicial e continuada ou qualificação profissional e nos de Educação
III - valorizada a realização de atividades e vivências sociali- Profissional Técnica de nível médio.
zadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de enrique-
cimento do percurso formativo dos estudantes; Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é
IV - desenvolvida a agregação de competências para o trabalho; desenvolvida nas seguintes formas:
V - promovida a motivação e a orientação permanente dos es- I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a) inte-
tudantes, visando maior participação nas aulas e seu melhor apro- grada, na mesma instituição; ou
veitamento e desempenho; b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
VI - realizada, sistematicamente, a formação continuada, des- II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha con-
tinada, especificamente, aos educadores de jovens e adultos. cluído o Ensino Médio.
§ 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio, organizados
na forma integrada, são cursos de matrícula única, que conduzem
os educandos à habilitação profissional técnica de nível médio ao
mesmo tempo em que concluem a última etapa da Educação Básica.

Didatismo e Conhecimento 20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, ofer- Seção V
tados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla certifi- Educação Escolar Indígena
cação, podem ocorrer:
I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportu- Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades
nidades educacionais disponíveis; educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm uma
II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as realidade singular, requerendo pedagogia própria em respeito à
oportunidades educacionais disponíveis; especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e for-
III - em instituições de ensino distintas, mediante convênios mação específica de seu quadro docente, observados os princípios
de intercomplementaridade, com planejamento e desenvolvimento constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orien-
de projeto pedagógico unificado. tam a Educação Básica brasileira.
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional Téc- Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das es-
nica de nível médio, a organização e a estruturação em etapas que colas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de
possibilitem qualificação profissional intermediária. normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultu-
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser desen- ral e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos
volvida por diferentes estratégias de educação continuada, em ins- indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica.
tituições especializadas ou no ambiente de trabalho, incluindo os
programas e cursos de aprendizagem, previstos na Consolidação Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser consi-
das Leis do Trabalho (CLT). derada a participação da comunidade, na definição do modelo de
organização e gestão, bem como:
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissional e I - suas estruturas sociais;
Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na identificação II - suas práticas socioculturais e religiosas;
das tecnologias que se encontram na base de uma dada formação III - suas formas de produção de conhecimento, processos
profissional e dos arranjos lógicos por elas constituídos. próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
IV - suas atividades econômicas;
V - edificação de escolas que atendam aos interesses das co-
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos tanto
munidades indígenas;
nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, como os ad-
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
quiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem ser objeto
acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento
ou conclusão de estudos.
Seção VI
Educação a Distância
Seção IV
Educação Básica do Campo Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-
se pela mediação didáticopedagógica nos processos de ensino e
Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e tecnologias
educação para a população rural está prevista com adequações ne- de informação e comunicação, com estudantes e professores de-
cessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região, de- senvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.
finindo-se orientações para três aspectos essenciais à organização
da ação pedagógica: Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e progra-
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais mas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; Educação Profissional Técnica de nível médio e Tecnológica, na
II - organização escolar própria, incluindo adequação do calen- modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de ensino,
dário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; atendidas a regulamentação federal e as normas complementares
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. desses sistemas.

Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela vin- Seção VII
culação com as questões inerentes à sua realidade, com propostas Educação Escolar Quilombola
pedagógicas que contemplam sua diversidade em todos os aspec-
tos, tais como sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em
geração e etnia. unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requeren-
Parágrafo único. Formas de organização e metodologias perti- do pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural
nentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a pedago- de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente,
gia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico fundamen- observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e
tado no princípio da sustentabilidade, para assegurar a preservação os princípios que orientam a Educação Básica brasileira.
da vida das futuras gerações, e a pedagogia da alternância, na qual Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das es-
o estudante participa, concomitante e alternadamente, de dois am- colas quilombolas, bem com nas demais, deve ser reconhecida e
bientes/situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo valorizada a diversidade cultural.
parceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis
pelo aprendizado e pela formação do estudante.

Didatismo e Conhecimento 21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
TÍTULO VII VIII - o programa de formação inicial e continuada dos profis-
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANI- sionais da educação, regentes e não regentes;
ZAÇÃO DAS IX - as ações de acompanhamento sistemático dos resultados
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS do processo de avaliação interna e externa (Sistema de Avaliação
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados estatísticos,
pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), incluindo dados
Art. 42. São elementos constitutivos para a operacionalização referentes ao IDEB e/ou que complementem ou substituam os de-
destas Diretrizes o projeto político-pedagógico e o regimento es- senvolvidos pelas unidades da federação e outros;
colar; o sistema de avaliação; a gestão democrática e a organização X - a concepção da organização do espaço físico da instituição
da escola; o professor e o programa de formação docente. escolar de tal modo que este seja compatível com as características
de seus sujeitos, que atenda as normas de acessibilidade, além da
CAPÍTULO I natureza e das finalidades da educação, deliberadas e assumidas
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGI- pela comunidade educacional.
MENTO ESCOLAR
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela co-
Art. 43. O projeto político-pedagógico, interdependentemen- munidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um dos
te da autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira instrumentos de execução do projeto políticopedagógico, com
da instituição educacional, representa mais do que um documento, transparência e responsabilidade.
sendo um dos meios de viabilizar a escola democrática para todos Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e da fi-
e de qualidade social. nalidade da instituição, da relação da gestão democrática com os
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na bus- órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e sujeitos, das suas
ca de sua identidade, que se expressa na construção de seu projeto normas pedagógicas, incluindo os critérios de acesso, promoção,
pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto manifestação de mobilidade do estudante, dos direitos e deveres dos seus sujeitos:
seu ideal de educação e que permite uma nova e democrática orde- estudantes, professores, técnicos e funcionários, gestores, famílias,
nação pedagógica das relações escolares. representação estudantil e função das suas instâncias colegiadas.
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus su-
jeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico com os CAPÍTULO II
planos de educação – nacional, estadual, municipal –, o contexto em AVALIAÇÃO
que a escola se situa e as necessidades locais e de seus estudantes.
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, artís- Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreende 3
tico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e diversidade (três) dimensões básicas:
cultural que compõem as ações educativas, a organização e a gestão I - avaliação da aprendizagem;
curricular são componentes integrantes do projeto político-pedagó- II - avaliação institucional interna e externa;
gico, devendo ser previstas as prioridades institucionais que a identi- III - avaliação de redes de Educação Básica.
ficam, definindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas
da Educação Básica assumidas, de acordo com as especificidades Seção I
que lhes correspondam, preservando a sua articulação sistêmica. Avaliação da aprendizagem

Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de constru- Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na concepção
ção coletiva que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendi- de educação que norteia a relação professor-estudante-conheci-
dos como cidadãos com direitos à proteção e à participação social, mento-vida em movimento, devendo ser um ato reflexo de recons-
deve contemplar: trução da prática pedagógica avaliativa, premissa básica e funda-
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do proces- mental para se questionar o educar, transformando a mudança em
so educativo, contextualizados no espaço e no tempo; ato, acima de tudo, político.
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica, li-
aprendizagem e mobilidade escolar; ga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar, refazer
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos – que o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, aponta para uma
justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de vista in- avaliação global, que vai além do aspecto quantitativo, porque
telectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, como base identifica o desenvolvimento da autonomia do estudante, que é in-
da reflexão sobre as relações vida-conhecimento-culturaprofessor dissociavelmente ético, social, intelectual.
-estudante e instituição escolar; § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendizagem tem,
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho peda- como referência, o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitu-
gógico; des, valores e emoções que os sujeitos do processo educativo proje-
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por conse- tam para si de modo integrado e articulado com aqueles princípios
quência, da escola, no contexto das desigualdades que se refletem definidos para a Educação Básica, redimensionados para cada uma
na escola; de suas etapas, bem assim no projeto político-pedagógico da escola.
VI - os fundamentos da gestão democrática, compartilhada e § 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada mediante
participativa (órgãos colegiados e de representação estudantil); acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança, sem o
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de perma- objetivo de promoção, mesmo em se tratando de acesso ao Ensino
nência dos estudantes e de superação da retenção escolar; Fundamental.

Didatismo e Conhecimento 22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamental Seção IV
e no Ensino Médio, de caráter formativo predominando sobre o Avaliação de redes de Educação Básica
quantitativo e classificatório, adota uma estratégia de progresso in-
dividual e contínuo que favorece o crescimento do educando, pre- Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre pe-
servando a qualidade necessária para a sua formação escolar, sen- riodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e engloba
do organizada de acordo com regras comuns a essas duas etapas. os resultados da avaliação institucional, sendo que os resultados
dessa avaliação sinalizam para a sociedade se a escola apresenta
Seção II qualidade suficiente para continuar funcionando como está.
Promoção, aceleração de estudos e classificação
CAPÍTULO III
Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino Fundamental GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA
e no Ensino Médio podem ser utilizadas em qualquer ano, série, ESCOLA
ciclo, módulo ou outra unidade de percurso adotada, exceto na pri-
Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho pedagógico
meira do Ensino Fundamental, alicerçando-se na orientação de que
e da gestão da escola conceber a organização e a gestão das pes-
a avaliação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
soas, do espaço, dos processos e procedimentos que viabilizam o
I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do estudante, trabalho expresso no projeto político-pedagógico e em planos da
com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos escola, em que se conformam as condições de trabalho definidas
resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; pelas instâncias colegiadas.
II - possibilidade de aceleração de estudos para estudantes § 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as do seu
com atraso escolar; sistema de ensino, têm incumbências complexas e abrangentes,
III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante que exigem outra concepção de organização do trabalho pedagó-
verificação do aprendizado; gico, como distribuição da carga horária, remuneração, estratégias
IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito; claramente definidas para a ação didático-pedagógica coletiva que
V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à recupe- inclua a pesquisa, a criação de novas abordagens e práticas meto-
ração contínua e concomitante de aprendizagem de estudantes com dológicas, incluindo a produção de recursos didáticos adequados
déficit de rendimento escolar, a ser previsto no regimento escolar. às condições da escola e da comunidade em que esteja ela inserida.
§ 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino público e
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudantes com prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que im-
atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, encontram-se em plica decisões coletivas que pressupõem a participação da comu-
descompasso de idade, por razões como ingresso tardio, retenção, nidade escolar na gestão da escola e a observância dos princípios e
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem ou outras. finalidades da educação.
§ 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve se em-
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo que penhar para constituir-se em espaço das diferenças e da pluralidade,
esta deve preservar a sequência do currículo e observar as normas inscrita na diversidade do processo tornado possível por meio de re-
do respectivo sistema de ensino, requerendo o redesenho da orga- lações intersubjetivas, cuja meta é a de se fundamentar em princípio
nização das ações pedagógicas, com previsão de horário de traba- educativo emancipador, expresso na liberdade de aprender, ensinar,
lho e espaço de atuação para professor e estudante, com conjunto pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
próprio de recursos didáticopedagógico.
Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instrumento de
horizontalização das relações, de vivência e convivência colegia-
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série podem
da, superando o autoritarismo no planejamento e na concepção e
adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da avaliação do pro-
organização curricular, educando para a conquista da cidadania
cesso ensino-aprendizagem, diversas formas de progressão, inclu-
plena e fortalecendo a ação conjunta que busca criar e recriar o
sive a de progressão continuada, jamais entendida como promoção trabalho da e na escola mediante:
automática, o que supõe tratar o conhecimento como processo e I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser que
vivência que não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convivência social
sim de construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação, libertadora fundamentada na ética cidadã;
está em processo contínuo de formação, construindo significados. II - a superação dos processos e procedimentos burocráticos, assu-
mindo com pertinência e relevância: os planos pedagógicos, os objeti-
Seção III vos institucionais e educacionais, e as atividades de avaliação contínua;
Avaliação institucional III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comunidade
educacional discutam a própria práxis pedagógica impregnando-a
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista no de entusiasmo e de compromisso com a sua própria comunidade,
projeto políticopedagógico e detalhada no plano de gestão, realiza- valorizando-a, situando-a no contexto das relações sociais e bus-
da anualmente, levando em consideração as orientações contidas cando soluções conjuntas;
na regulamentação vigente, para rever o conjunto de objetivos e IV - a construção de relações interpessoais solidárias, geridas
metas a serem concretizados, mediante ação dos diversos segmen- de tal modo que os professores se sintam estimulados a conhecer
tos da comunidade educativa, o que pressupõe delimitação de in- melhor os seus pares (colegas de trabalho, estudantes, famílias), a
dicadores compatíveis com a missão da escola, além de clareza expor as suas ideias, a traduzir as suas dificuldades e expectativas
quanto ao que seja qualidade social da aprendizagem e da escola. pessoais e profissionais;

Didatismo e Conhecimento 23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
V - a instauração de relações entre os estudantes, proporcio- Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações
nando-lhes espaços de convivência e situações de aprendizagem, para que o projeto de formação dos profissionais preveja:
por meio dos quais aprendam a se compreender e se organizar em a) a consolidação da identidade dos profissionais da educação,
equipes de estudos e de práticas esportivas, artísticas e políticas; nas suas relações com a escola e com o estudante;
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no coti- b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social
diano da escola e nos espaços com os quais a escola interage, em do professor, assim como da autonomia docente tanto individual
busca da qualidade social das aprendizagens que lhe caiba desen- como coletiva;
volver, com transparência e responsabilidade. c) a definição de indicadores de qualidade social da educa-
ção escolar, a fim de que as agências formadoras de profissionais
CAPÍTULO IV da educação revejam os projetos dos cursos de formação inicial e
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL continuada de docentes, de modo que correspondam às exigências
E CONTINUADA de um projeto de Nação.
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamentação da Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua pu-
ação docente e os programas de formação inicial e continuada dos blicação.
profissionais da educação instauram, reflete-se na eleição de um
ou outro método de aprendizagem, a partir do qual é determinado CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
o perfil de docente para a Educação Básica, em atendimento às RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRODE 2010
dimensões técnicas, políticas, éticas e estéticas.
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de for- Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda-
mação dos profissionais da educação, sejam gestores, professores mental de 9 (nove) anos.
ou especialistas, deverão incluir em seus currículos e programas: O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na-
a) o conhecimento da escola como organização complexa que cional de Educação, de conformidade com o disposto na alínea “c”
tem a função de promover a educação para e na cidadania; do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela Lei
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de inves-
nº 9.131/95, no art. 32 da Lei nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006,
tigações de interesse da área educacional;
e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado
c) a participação na gestão de processos educativos e na or-
por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publi-
ganização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino;
cado no DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve:
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à construção
do projeto políticopedagógico, mediante trabalho coletivo de que
todos os que compõem a comunidade escolar são responsáveis. Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a serem
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação nacio- observadas na organização curricular dos sistemas de ensino e de
nal está a valorização do profissional da educação, com a com- suas unidades escolares.
preensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com qualidade Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fun-
gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética, ambiental. damental de 9 (nove) anos articulam-se com as Diretrizes Curricu-
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar vincu- lares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB
la-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas se asso- nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e reúnem princípios,
ciam à exigência de programas de formação inicial e continuada fundamentos e procedimentos definidos pelo Conselho Nacional
de docentes e não docentes, no contexto do conjunto de múltiplas de Educação, para orientar as políticas públicas educacionais e a
atribuições definidas para os sistemas educativos, em que se ins- elaboração, implementação e avaliação das orientações curriculares
crevem as funções do professor. nacionais, das propostas curriculares dos Estados, do Distrito Fede-
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos pro- ral, dos Municípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
fissionais da educação, vinculados às orientações destas Diretrizes, Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais apli-
devem prepará-los para o desempenho de suas atribuições, consi- cam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental previstas
derando necessário: na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como à
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber pes- Educação do Campo, à Educação Escolar Indígena e à Educação
quisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, interpretar e Escolar Quilombola.
reconstruir o conhecimento coletivamente;
b) trabalhar cooperativamente em equipe; FUNDAMENTOS
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os instru-
mentos produzidos ao longo da evolução tecnológica, econômica Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito pú-
e organizativa; blico subjetivo de cada um e como dever do Estado e da família na
d) desenvolver competências para integração com a comuni- sua oferta a todos.
dade e para relacionamento com as famílias.
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino Funda-
Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não es- mental público, gratuito e de qualidade, sem requisito de seleção.
gota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e habilidades Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino deve-
referidas, razão pela qual um programa de formação continuada rão trabalhar considerando essa etapa da educação como aquela
dos profissionais da educação será contemplado no projeto políti- capaz de assegurar a cada um e a todos o acesso ao conhecimento
co-pedagógico. e aos elementos da cultura imprescindíveis para o seu desenvol-

Didatismo e Conhecimento 24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
vimento pessoal e para a vida em sociedade, assim como os be- III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com o
nefícios de uma formação comum, independentemente da grande da racionalidade; do enriquecimento das formas de expressão e do
diversidade da população escolar e das demandas sociais. exercício da criatividade; da valorização das diferentes manifesta-
ções culturais, especialmente a da cultura brasileira; da construção
Art. 5º O direito à educação, entendido como um direito inaliená- de identidades plurais e solidárias.
vel do ser humano, constitui o fundamento maior destas Diretrizes. A
educação, ao proporcionar o desenvolvimento do potencial humano, Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformidade
permite o exercício dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propos-
diferença, sendo ela mesma também um direito social, e possibilita a tas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o
formação cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais. educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no
educação com qualidade social, igualmente entendida como direi- trabalho e em estudos posteriores, mediante os objetivos previstos
to humano. para esta etapa da escolarização, a saber:
§ 2º A educação de qualidade, como um direito fundamental, I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa. meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
I – A relevância reporta-se à promoção de aprendizagens sig- II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
nificativas do ponto de vista das exigências sociais e de desenvol- político, das artes, da tecnologia e dos valores em que se funda-
vimento pessoal. menta a sociedade;
II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender às ne- III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a formação de
cessidades e às características dos estudantes de diversos contex- atitudes e valores como instrumentos para uma visão crítica do mundo;
tos sociais e culturais e com diferentes capacidades e interesses. IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
III – A equidade alude à importância de tratar de forma dife- solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta
renciada o que se apresenta como desigual no ponto de partida, a vida social.
com vistas a obter desenvolvimento e aprendizagens equiparáveis,
assegurando a todos a igualdade de direito à educação. MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9
§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da pobre- (NOVE) ANOS E CARGA HORÁRIA
za e das desigualdades, a equidade requer que sejam oferecidos
mais recursos e melhores condições às escolas menos providas e Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) anos,
aos alunos que deles mais necessitem. Ao lado das políticas uni- abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 (quatorze)
versais, dirigidas a todos sem requisito de seleção, é preciso tam- anos de idade e se estende, também, a todos os que, na idade pró-
bém sustentar políticas reparadoras que assegurem maior apoio pria, não tiveram condições de frequentá-lo.
aos diferentes grupos sociais em desvantagem. § 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de
§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualdade do crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31
acesso de todos ao conhecimento e especialmente empenhada em de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e
garantir esse acesso aos grupos da população em desvantagem na das normas nacionais vigentes.
sociedade, será uma educação com qualidade social e contribuirá § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa data
para dirimir as desigualdades historicamente produzidas, assegu- deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Escola).
rando, assim, o ingresso, a permanência e o sucesso na escola, com § 3º A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental re-
a consequente redução da evasão, da retenção e das distorções de gular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em, pelo
idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/ menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar.
CEB nº 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educação Básica). CURRÍCULO

PRINCÍPIOS Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendido, nesta


Resolução, como constituído pelas experiências escolares que se
Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão, como desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações
norteadores das políticas educativas e das ações pedagógicas, os sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os
seguintes princípios: conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para
I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de construir as identidades dos estudantes.
respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a § 1º O foco nas experiências escolares significa que as orientações
promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar e as propostas curriculares que provêm das diversas instâncias só terão
quaisquer manifestações de preconceito de origem, raça, sexo, cor, concretude por meio das ações educativas que envolvem os alunos.
idade e quaisquer outras formas de discriminação. § 2º As experiências escolares abrangem todos os aspectos do
II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de ambiente escolar, aqueles que compõem a parte explícita do cur-
cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime rículo, bem como os que também contribuem, de forma implícita,
democrático e dos recursos ambientais; da busca da equidade no para a aquisição de conhecimentos socialmente relevantes. Valores,
acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros atitudes, sensibilidade e orientações de conduta são veiculados não
benefícios; da exigência de diversidade de tratamento para asse- só pelos conhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de
gurar a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam di- convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e organiza-
ferentes necessidades; da redução da pobreza e das desigualdades ção do espaço educativo, pelos materiais utilizados na aprendizagem
sociais e regionais. e pelo recreio, enfim, pelas vivências proporcionadas pela escola.

Didatismo e Conhecimento 25
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as diferentes I – Linguagens:
instâncias que produzem orientações sobre o currículo, as escolas a) Língua Portuguesa;
e os professores selecionam e transformam a fim de que possam b) Língua Materna, para populações indígenas;
ser ensinados e aprendidos, ao mesmo tempo em que servem de c) Língua Estrangeira moderna;
elementos para a formação ética, estética e política do aluno. d) Arte; e
e) Educação Física;
BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICA- II – Matemática;
DA: COMPLEMENTARIDADE III – Ciências da Natureza;
IV – Ciências Humanas:
Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma base na- a) História;
cional comum, complementada em cada sistema de ensino e em b) Geografia;
cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada. V – Ensino Religioso.
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua
Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada do cur- portuguesa, assegurada também às comunidades indígenas a utili-
rículo do Ensino Fundamental constituem um todo integrado e não zação de suas línguas maternas e processos próprios de aprendiza-
podem ser consideradas como dois blocos distintos. gem, conforme o art. 210, § 2º, da Constituição Federal.
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte diversi- § 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as contri-
ficada do currículo do Ensino Fundamental possibilita a sintonia dos buições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
interesses mais amplos de formação básica do cidadão com a reali- brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e euro-
dade local, as necessidades dos alunos, as características regionais peia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96).
da sociedade, da cultura e da economia e perpassa todo o currículo. § 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, presen-
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao interesse tes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no âmbito de
social e à preservação da ordem democrática, os conhecimentos que todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de Arte, Litera-
fazem parte da base nacional comum a que todos devem ter acesso, tura e História do Brasil, assim como a História da África, deverão
independentemente da região e do lugar em que vivem, asseguram assegurar o conhecimento e o reconhecimento desses povos para a
a característica unitária das orientações curriculares nacionais, das constituição da nação (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, al-
propostas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí- terado pela Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o
pios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas. leque de referências culturais de toda a população escolar e contri-
§ 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte diver- bui para a mudança das suas concepções de mundo, transformando
sificada do currículo serão definidos pelos sistemas de ensino e os conhecimentos comuns veiculados pelo currículo e contribuin-
pelas escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, do para a construção de identidades mais plurais e solidárias.
assegurando a contextualização dos conhecimentos escolares em § 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,
face das diferentes realidades. do componente curricular Arte, o qual compreende também as artes vi-
suais, o teatro e a dança, conforme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional comum § 5º A Educação Física, componente obrigatório do currículo
e a parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no do Ensino Fundamental, integra a proposta políticopedagógica da
desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho, na cultura escola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias previs-
e na tecnologia, na produção artística, nas atividades desportivas tas no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96.
e corporais, na área da saúde e ainda incorporam saberes como § 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é
os que advêm das formas diversas de exercício da cidadania, dos parte integrante da formação básica do cidadão e constitui com-
movimentos sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do ponente curricular dos horários normais das escolas públicas de
cotidiano e dos alunos. Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo,
Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são constituídos conforme o art. 33 da Lei nº 9.394/96.
por componentes curriculares que, por sua vez, se articulam com as
áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, Matemática, Ciências Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de conhecimento
da Natureza e Ciências Humanas. As áreas de conhecimento favore- devem articular em seus conteúdos, a partir das possibilidades abertas
cem a comunicação entre diferentes conhecimentos sistematizados pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e contem-
e entre estes e outros saberes, mas permitem que os referenciais pró- porâneos que afetam a vida humana em escala global, regional e local,
prios de cada componente curricular sejam preservados. bem como na esfera individual. Temas como saúde, sexualidade e gê-
nero, vida familiar e social, assim como os direitos das crianças e ado-
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino Fun- lescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
damental deve abranger, obrigatoriamente, conforme o art. 26 da nº 8.069/90), preservação do meio ambiente, nos termos da política
Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, nacional de educação ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o
o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e consumo, educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversida-
política, especialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a de cultural devem permear o desenvolvimento dos conteúdos da base
Educação Física e o Ensino Religioso. nacional comum e da parte diversificada do currículo.
§ 1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas relativos à
Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de co- condição e aos direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) e à educa-
nhecimento: ção para o trânsito (Lei nº 9.503/97).

Didatismo e Conhecimento 26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de traba- planejar e executar as ações educativas de modo articulado, avaliar
lhar os componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os os trabalhos dos alunos, tomar parte em ações de formação conti-
temas sociais em uma perspectiva integrada, conforme a Diretrizes nuada e estabelecer contatos com a comunidade.
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer § 5º Na implementação de seu projeto políticopedagógico, as
CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). escolas se articularão com as instituições formadoras com vistas a
§ 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino compete a assegurar a formação continuada de seus profissionais.
produção e a disseminação de materiais subsidiários ao trabalho
docente, que contribuam para a eliminação de discriminações, ra- Art. 21 No projeto políticopedagógico do Ensino Fundamental
cismo, sexismo, homofobia e outros preconceitos e que conduzam e no regimento escolar, o aluno, centro do planejamento curricular,
à adoção de comportamentos responsáveis e solidários em relação será considerado como sujeito que atribui sentidos à natureza e à
aos outros e ao meio ambiente. sociedade nas práticas sociais que vivencia, produzindo cultura e
construindo sua identidade pessoal e social.
Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino Funda-
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno tomará par-
mental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano, o ensino
te ativa na discussão e na implementação das normas que regem
de, pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna, cuja escolha
as formas de relacionamento na escola, fornecerá indicações re-
ficará a cargo da comunidade escolar.
Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras modernas, levantes a respeito do que deve ser trabalhado no currículo e será
a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da Lei nº incentivado a participar das organizações estudantis.
11.161/2005.
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental deve em-
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO penhar-se na promoção de uma cultura escolar acolhedora e respei-
tosa, que reconheça e valorize as experiências dos alunos atendendo
Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) anos as suas diferenças e necessidades específicas, de modo a contribuir
de duração exige a estruturação de um projeto educativo coerente, para efetivar a inclusão escolar e o direito de todos à educação.
articulado e integrado, de acordo com os modos de ser e de se desen-
volver das crianças e adolescentes nos diferentes contextos sociais. Art. 23 Na implementação do projeto políticopedagógico,
o cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, resultarão
Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a que se em ações integradas que buscam articular-se, pedagogicamente,
refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos e espa- no interior da própria instituição, e também externamente, com
ços interdependentes e articulados entre si, ao longo dos 9 (nove) os serviços de apoio aos sistemas educacionais e com as políticas
anos de duração do Ensino Fundamental. de outras áreas, para assegurar a aprendizagem, o bem-estar e o
desenvolvimento do aluno em todas as suas dimensões.
GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO
GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E
ABORDAGENS
Art. 20 As escolas deverão formular o projeto políticopeda-
gógico e elaborar o regimento escolar de acordo com a proposta Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos escolares
do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio de processos no currículo favorece a sua contextualização e aproxima o proces-
participativos relacionados à gestão democrática. so educativo das experiências dos alunos.
§ 1º O projeto políticopedagógico da escola traduz a proposta § 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências assen-
educativa construída pela comunidade escolar no exercício de sua
tadas em diversas concepções de currículo integrado e interdisci-
autonomia, com base nas características dos alunos, nos profissio-
plinar oferecerá aos docentes subsídios para desenvolver propostas
nais e recursos disponíveis, tendo como referência as orientações
pedagógicas que avancem na direção de um trabalho colaborativo,
curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de ensino.
capaz de superar a fragmentação dos componentes curriculares.
§ 2º Será assegurada ampla participação dos profissionais da
escola, da família, dos alunos e da comunidade local na definição § 2º Constituem exemplos de possibilidades de integração do
das orientações imprimidas aos processos educativos e nas for- currículo, entre outros, as propostas curriculares ordenadas em tor-
mas de implementá-las, tendo como apoio um processo contínuo no de grandes eixos articuladores, projetos interdisciplinares com
de avaliação das ações, a fim de garantir a distribuição social do base em temas geradores formulados a partir de questões da co-
conhecimento e contribuir para a construção de uma sociedade de- munidade e articulados aos componentes curriculares e às áreas de
mocrática e igualitária. conhecimento, currículos em rede, propostas ordenadas em torno
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições insti- de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam trabalhar
tucionais adequadas para a execução do projeto políticopedagó- as questões cognitivas e as questões culturais numa perspectiva
gico e a oferta de uma educação inclusiva e com qualidade social, transversal, e projetos de trabalho com diversas acepções.
igualmente garantida a ampla participação da comunidade escolar § 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, redes e
na sua elaboração. sistemas de ensino serão articulados ao desenvolvimento dos com-
§ 4º O projeto políticopedagógico e o regimento escolar, em ponentes curriculares e às áreas de conhecimento, observadas as
conformidade com a legislação e as normas vigentes, conferirão disposições contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
espaço e tempo para que os profissionais da escola e, em especial, para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e
os professores, possam participar de reuniões de trabalho coletivo, nos termos do Parecer que dá base à presente Resolução.

Didatismo e Conhecimento 27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade so- I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em número
ciocultural da população escolar, as desigualdades de acesso ao suficiente para o atendimento aos alunos;
consumo de bens culturais e a multiplicidade de interesses e neces- II – adequada formação do professor e demais profissionais
sidades apresentadas pelos alunos no desenvolvimento de metodo- da escola.
logias e estratégias variadas que melhor respondam às diferenças
de aprendizagem entre os estudantes e às suas demandas. ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓ-
RIA ESCOLAR
Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão adequa-
das condições de trabalho aos seus profissionais e o provimento de Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um percurso
outros insumos, de acordo com os padrões mínimos de qualidade contínuo de aprendizagens torna imperativa a articulação de todas
referidos no inciso IX do art. 4º da Lei nº 9.394/96 e em normas as etapas da educação, especialmente do Ensino Fundamental com
específicas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação, com a Educação Infantil, dos anos iniciais e dos anos finais no interior
vistas à criação de um ambiente propício à aprendizagem, com base: do Ensino Fundamental, bem como do Ensino Fundamental com o
I – no trabalho compartilhado e no compromisso individual Ensino Médio, garantindo a qualidade da Educação Básica.
e coletivo dos professores e demais profissionais da escola com a § 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam antes da
aprendizagem dos alunos; sua entrada no Ensino Fundamental e a recuperação do caráter lúdico
II – no atendimento às necessidades específicas de aprendiza- do ensino contribuirão para melhor qualificar a ação pedagógica junto
gem de cada um mediante abordagens apropriadas; às crianças, sobretudo nos anos iniciais dessa etapa da escolarização.
III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e nos § 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais do En-
espaços sociais e culturais do entorno; sino Fundamental, especial atenção será dada:
IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando que a I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da oferta educa-
aprendizagem seja relevante e socialmente significativa; tiva dos alunos transferidos das redes municipais para as estaduais;
V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com as II – pelas escolas, à coordenação das demandas específicas
famílias. feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de que os es-
Parágrafo único. Como protagonistas das ações pedagógicas,
tudantes possam melhor organizar as suas atividades diante das
caberá aos docentes equilibrar a ênfase no reconhecimento e va-
solicitações muito diversas que recebem.
lorização da experiência do aluno e da cultura local que contribui
para construir identidades afirmativas, e a necessidade de lhes for-
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem
necer instrumentos mais complexos de análise da realidade que
assegurar:
possibilitem o acesso a níveis universais de explicação dos fenô-
I – a alfabetização e o letramento;
menos, propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e ou-
tras realidades e culturas e participar de diferentes esferas da vida II – o desenvolvimento das diversas formas de expressão, in-
social, econômica e política. cluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Músi-
ca e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da
Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, Matemática, da Ciência, da História e da Geografia;
com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão esforços III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a com-
para assegurar o progresso contínuo dos alunos no que se refere ao plexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a re-
seu desenvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens signi- petência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e,
ficativas, lançando mão de todos os recursos disponíveis e criando particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de
renovadas oportunidades para evitar que a trajetória escolar dis- escolaridade e deste para o terceiro.
cente seja retardada ou indevidamente interrompida. § 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de
§ 1º Devem, portanto, adotar as providências necessárias para sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário
que a operacionalização do princípio da continuidade não seja tra- considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um
duzida como “promoção automática” de alunos de um ano, série bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de inter-
ou ciclo para o seguinte, e para que o combate à repetência não se rupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades
transforme em descompromisso com o ensino e a aprendizagem. de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas,
§ 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a mobilida- imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos.
de e a flexibilização dos tempos e espaços escolares, a diversidade § 2º Considerando as características de desenvolvimento dos
nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens artísticas, a di- alunos, cabe aos professores adotar formas de trabalho que pro-
versidade de materiais, os variados suportes literários, as atividades porcionem maior mobilidade das crianças nas salas de aula e as
que mobilizem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens levem a explorar mais intensamente as diversas linguagens artís-
complementares e as atividades de reforço, a articulação entre a es- ticas, a começar pela literatura, a utilizar materiais que ofereçam
cola e a comunidade, e o acesso aos espaços de expressão cultural. oportunidades de raciocinar, manuseando-os e explorando as suas
características e propriedades.
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e conteúdos
das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento do currículo Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os compo-
contribui para o importante papel que tem a escola como ambiente nentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar a cargo
de inclusão digital e de utilização crítica das tecnologias da infor- do professor de referência da turma, aquele com o qual os alunos
mação e comunicação, requerendo o aporte dos sistemas de ensino permanecem a maior parte do período escolar, ou de professores
no que se refere à: licenciados nos respectivos componentes.

Didatismo e Conhecimento 28
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estrangeira contidas nas propostas políticopedagógicas das escolas, articula-
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor deverá ter das às orientações e propostas curriculares dos sistemas, sem redu-
licenciatura específica no componente curricular. zir os seus propósitos ao que é avaliado pelos testes de larga escala.
§ 2º Nos casos em que esses componentes curriculares sejam
desenvolvidos por professores com licenciatura específica (con- Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos políti-
forme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser assegurada a inte- co-pedagógicos das escolas devem expressar com clareza o que é
gração com os demais componentes trabalhados pelo professor de esperado dos alunos em relação à sua aprendizagem.
referência da turma.
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser
AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO aliados à avaliação das escolas e de seus professores, tendo em
conta os parâmetros de referência dos insumos básicos necessá-
Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos profes- rios à educação de qualidade para todos nesta etapa da educação
sores e pela escola como parte integrante da proposta curricular e e respectivo custo aluno-qualidade inicial (CAQi), consideradas
da implementação do currículo, é redimensionadora da ação peda- inclusive as suas modalidades e as formas diferenciadas de atendi-
gógica e deve: mento como a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena,
I – assumir um caráter processual, formativo e participativo, a Educação Escolar Quilombola e as escolas de tempo integral.
ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a: Parágrafo único. A melhoria dos resultados de aprendizagem
a) identificar potencialidades e dificuldades de aprendizagem dos alunos e da qualidade da educação obriga:
e detectar problemas de ensino; I – os sistemas de ensino a incrementarem os dispositivos da
b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias e abor- carreira e de condições de exercício e valorização do magistério e
dagens de acordo com as necessidades dos alunos, criar condições dos demais profissionais da educação e a oferecerem os recursos e
de intervir de modo imediato e a mais longo prazo para sanar difi- apoios que demandam as escolas e seus profissionais para melho-
culdades e redirecionar o trabalho docente; rar a sua atuação;
c) manter a família informada sobre o desempenho dos alunos; II – as escolas a uma apreciação mais ampla das oportunida-
d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir os resul- des educativas por elas oferecidas aos educandos, reforçando a sua
tados de avaliação, inclusive em instâncias superiores à escola, reven- responsabilidade de propiciar renovadas oportunidades e incenti-
do procedimentos sempre que as reivindicações forem procedentes. vos aos que delas mais necessitem.
II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais como a
observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos indivi- A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
duais e coletivos, os portfólios, exercícios, provas, questionários,
dentre outros, tendo em conta a sua adequação à faixa etária e às Art. 36 Considera-se como de período integral a jornada escolar
características de desenvolvimento do educando; que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, perfazendo uma
III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da aprendiza- carga horária anual de, pelo menos, 1.400 (mil e quatrocentas) horas.
gem do aluno sobre os quantitativos, bem como os resultados ao Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sistemas de en-
longo do período sobre os de eventuais provas finais, tal como sino, conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento da carga
determina a alínea “a” do inciso V do art. 24 da Lei nº 9.394/96; horária mínima diária e, consequentemente, da carga horária anual,
IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os alu- com vistas à maior qualificação do processo de ensino-aprendizagem,
nos com menor rendimento tenham condições de ser devidamente tendo como horizonte o atendimento escolar em período integral.
atendidos ao longo do ano letivo;
V – prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação, de prefe- Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo integral pro-
rência paralelos ao período letivo, como determina a Lei nº 9.394/96; moverá a ampliação de tempos, espaços e oportunidades educativas
VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos conteúdos e o compartilhamento da tarefa de educar e cuidar entre os profissio-
curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com frequência nais da escola e de outras áreas, as famílias e outros atores sociais,
insuficiente, evitando, sempre que possível, a retenção por faltas; sob a coordenação da escola e de seus professores, visando alcançar
VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos com a melhoria da qualidade da aprendizagem e da convivência social e
defasagem idade-série. diminuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos bens cultu-
rais, em especial entre as populações socialmente mais vulneráveis.
Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos profes- § 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido como
sores e pela escola serão articulados às avaliações realizadas em um projeto educativo integrado, implica a ampliação da jornada
nível nacional e às congêneres nos diferentes Estados e Municí- escolar diária mediante o desenvolvimento de atividades como o
pios, criadas com o objetivo de subsidiar os sistemas de ensino e acompanhamento pedagógico, o reforço e o aprofundamento da
as escolas nos esforços de melhoria da qualidade da educação e da aprendizagem, a experimentação e a pesquisa científica, a cultura e
aprendizagem dos alunos. as artes, o esporte e o lazer, as tecnologias da comunicação e infor-
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos indi- mação, a afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
cadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os sistemas do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, articuladas
de ensino e a comunidade escolar a redimensionarem as práticas aos componentes curriculares e às áreas de conhecimento, a vivên-
educativas com vistas ao alcance de melhores resultados. cias e práticas socioculturais.
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos refere-se § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço es-
apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas escolas, de colar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, em es-
sorte que as referências para o currículo devem continuar sendo as paços distintos da cidade ou do território em que está situada a

Didatismo e Conhecimento 29
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
unidade escolar, mediante a utilização de equipamentos sociais e III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das comu-
culturais aí existentes e o estabelecimento de parcerias com órgãos nidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cultivo da língua
ou entidades locais, sempre de acordo com o respectivo projeto materna na escola para estes últimos, como elementos importantes
políticopedagógico. de construção da identidade;
§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, das
comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a cons- rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças relativas às ati-
trução de redes sociais e de cidades educadoras. vidades econômicas e culturais, mantido o total de horas anuais
§ 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos siste- obrigatórias no currículo;
mas estaduais e municipais de educação assegurarão que o atendi- V – superação das desigualdades sociais e escolares que afe-
mento dos alunos na escola de tempo integral possua infraestrutura tam essas populações, tendo por garantia o direito à educação;
adequada e pessoal qualificado, além do que, esse atendimento terá § 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do campo,
caráter obrigatório e será passível de avaliação em cada escola. indígenas e quilombolas devem contemplar a diversidade nos seus
aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos, éticos e estéti-
EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR cos, de gênero, geração e etnia.
INDÍGENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA § 3º As escolas que atendem a essas populações deverão ser
devidamente providas pelos sistemas de ensino de materiais didá-
Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação rural ticos e educacionais que subsidiem o trabalho com a diversidade,
na legislação brasileira, incorpora os espaços da floresta, da pecuá- bem como de recursos que assegurem aos alunos o acesso a outros
ria, das minas e da agricultura e se estende, também, aos espaços bens culturais e lhes permitam estreitar o contato com outros mo-
pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas, conforme as Di- dos de vida e outras formas de conhecimento.
retrizes para a Educação Básica do Campo (Parecer CNE/CEB nº § 4º A participação das populações locais pode também subsi-
36/2001 e Resolução CNE/CEB nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº diar as redes escolares e os sistemas de ensino quanto à produção
3/2008 e Resolução CNE/CEB nº 2/2008). e à oferta de materiais escolares e no que diz respeito a transporte
e a equipamentos que atendam as características ambientais e so-
Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar cioculturais das comunidades e as necessidades locais e regionais.
Quilombola são, respectivamente, oferecidas em unidades educa-
cionais inscritas em suas terras e culturas e, para essas populações, EDUCAÇÃO ESPECIAL
estão assegurados direitos específicos na Constituição Federal que
lhes permitem valorizar e preservar as suas culturas e reafirmar o Art. 41 O projeto políticopedagógico da escola e o regimento
seu pertencimento étnico. escolar, amparados na legislação vigente, deverão contemplar a
§ 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e ordenamen- melhoria das condições de acesso e de permanência dos alunos
tos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares Nacionais especí- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
ficas, terão ensino intercultural e bilíngue, com vistas à afirmação habilidades nas classes comuns do ensino regular, intensificando o
e à manutenção da diversidade étnica e linguística, assegurarão a processo de inclusão nas escolas públicas e privadas e buscando a
participação da comunidade no seu modelo de edificação, organi- universalização do atendimento.
zação e gestão, e deverão contar com materiais didáticos produzi- Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são aqueles que
dos de acordo com o contexto cultural de cada povo (Parecer CNE/ asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com defi-
CEB nº 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99). ciência e mobilidade reduzida, por meio da utilização de materiais
§ 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola deverá didáticos, dos espaços, mobiliários e equipamentos, dos sistemas
ser definido pelo Conselho Nacional de Educação por meio de Di- de comunicação e informação, dos transportes e outros serviços.
retrizes Curriculares Nacionais específicas.
Art. 42 O atendimento educacional especializado aos alunos
Art. 40 O atendimento escolar às populações do campo, povos da Educação Especial será promovido e expandido com o apoio
indígenas e quilombolas requer respeito às suas peculiares con- dos órgãos competentes. Ele não substitui a escolarização, mas
dições de vida e a utilização de pedagogias condizentes com as contribui para ampliar o acesso ao currículo, ao proporcionar inde-
suas formas próprias de produzir conhecimentos, observadas as pendência aos educandos para a realização de tarefas e favorecer
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica a sua autonomia (conforme Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/
(Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). CEB nº 13/2009 e Resolução CNE/CEB nº 4/2009).
§ 1º As escolas das populações do campo, dos povos indí- Parágrafo único. O atendimento educacional especializado po-
genas e dos quilombolas, ao contar com a participação ativa das derá ser oferecido no contraturno, em salas de recursos multifuncio-
comunidades locais nas decisões referentes ao currículo, estarão nais na própria escola, em outra escola ou em centros especializados
ampliando as oportunidades de: e será implementado por professores e profissionais com formação
I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, suas cul- especializada, de acordo com plano de atendimento aos alunos que
turas, tradições e memórias coletivas, como fundamentais para a identifique suas necessidades educacionais específicas, defina os re-
constituição da identidade das crianças, adolescentes e adultos; cursos necessários e as atividades a serem desenvolvidas.
II – valorização dos saberes e do papel dessas populações na
produção de conhecimentos sobre o mundo, seu ambiente natural e
cultural, assim como as práticas ambientalmente sustentáveis que
utilizam;

Didatismo e Conhecimento 30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS II – a distribuição dos componentes curriculares de modo a
proporcionar um patamar igualitário de formação, bem como a sua
Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamente, aos disposição adequada nos tempos e espaços educativos, em face das
jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade pró- necessidades específicas dos estudantes.
pria, oportunidades educacionais adequadas às suas característi-
cas, interesses, condições de vida e de trabalho mediante cursos Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no Sis-
e exames, conforme estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96. tema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluindo, além
da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição de indicadores
Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a ga- institucionais das redes públicas e privadas, concorrerá para a uni-
rantia de formação integral, da alfabetização às diferentes etapas versalização e a melhoria da qualidade do processo educativo.
da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em situação
de privação de liberdade, é pautada pela inclusão e pela qualidade A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COM-
social e requer: PROMISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE
I – um processo de gestão e financiamento que lhe assegure ENSINO
isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular;
II – um modelo pedagógico próprio que permita a apropriação Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretrizes,
e a contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais; cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
III – a implantação de um sistema de monitoramento e avaliação; I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e espaços
IV – uma política de formação permanente de seus professores; dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a distribuição de
V – maior alocação de recursos para que seja ministrada por materiais didáticos e escolares adequados;
docentes licenciados. II – a formação continuada dos professores e demais profissio-
nais da escola em estreita articulação com as instituições responsá-
Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de Educa- veis pela formação inicial, dispensando especiais esforços quanto
ção de Jovens e Adultos e para a realização de exames de conclu- à formação dos docentes das modalidades específicas do Ensino
são de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Parecer CNE/CEB Fundamental e àqueles que trabalham nas escolas do campo, indí-
nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010). genas e quilombolas;
Parágrafo único. Considerada a prioridade de atendimento à III – a coordenação do processo de implementação do currícu-
escolarização obrigatória, para que haja oferta capaz de contem- lo, evitando a fragmentação dos projetos educativos no interior de
plar o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adultos na fai- uma mesma realidade educacional;
xa dos 15 (quinze) anos ou mais, com defasagem idade/série, tanto IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas e ações
na sequência do ensino regular, quanto em Educação de Jovens e educativas nas respectivas redes e escolas e o suprimento das ne-
Adultos, assim como nos cursos destinados à formação profissio- cessidades detectadas.
nal, torna-se necessário:
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas as mo- Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com os Es-
dalidades do Ensino Fundamental; tados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá encaminhar ao
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelecerem Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta pública
política própria para o atendimento desses estudantes, que conside- nacional, proposta de expectativas de aprendizagem dos conheci-
re as suas potencialidades, necessidades, expectativas em relação mentos escolares que devem ser atingidas pelos alunos em diferen-
à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, inclusive com tes estágios do Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução).
programas de aceleração da aprendizagem, quando necessário; Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educação ela-
III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos nos borar orientações e oferecer outros subsídios para a implementa-
períodos diurno e noturno, com avaliação em processo. ção destas Diretrizes.

Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adultos, Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data de sua
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial e a sua publicação, revogando-se as disposições em contrário, especial-
duração ficará a critério de cada sistema de ensino, nos termos do mente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de abril de 1998.
Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como remete o Parecer CNE/
CEB nº 6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos fi- RESOLUÇÃO Nº 2, DE 30 DE JANEIRO 2012
nais, ou seja, do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão ser presen-
ciais ou a distância, devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
e seiscentas) horas de duração.
Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os perfis e as O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na-
faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto polí- cional de Educação, em conformidade com o disposto no artigo 9º,
ticopedagógico da escola e o regimento escolar viabilizarão um § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024/61, de 20 de dezembro de 1961,
modelo pedagógico próprio para essa modalidade de ensino que com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995,
permita a apropriação e a contextualização das Diretrizes Curricu- nos artigos 22, 23, 24, 25, 26, 26-A, 27, 35, 36,36-A, 36-B e 36-C
lares Nacionais, assegurando: da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e tendo em vista o
I – a identificação e o reconhecimento das formas de aprender Parecer CEB/CNE nº 5/2011, homologado por Despacho do Se-
dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização de seus conhe- nhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 24 de
cimentos e experiências; janeiro de 2011, resolve:

Didatismo e Conhecimento 31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
TÍTULO I – Objeto e referencial § 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica
Capítulo I – Objeto de transformação da natureza, como realização inerente ao ser hu-
mano e como mediação no processo de produção da sua existência.
Art. 1º A presente Resolução define as Diretrizes Curriculares § 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimen-
Nacionais para o Ensino Médio, a serem observadas na organiza- tos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na
ção curricular pelos sistemas de ensino e suas unidades escolares. busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade.
Parágrafo único Estas Diretrizes aplicam-se a todas as formas § 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da
e modalidades de Ensino Médio, complementadas, quando neces- ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento científi-
sário, por Diretrizes próprias. co e a produção, marcada, desde sua origem, pelas relações sociais
que a levaram a ser produzida.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mé- § 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de
dio articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais expressões materiais, símbolos, representações e significados que
para a Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e pro- correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam
cedimentos, definidos pelo Conselho Nacional de Educação, para as normas de conduta de uma sociedade.
orientar as políticas públicas educacionais da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios na elaboração, planejamento, Art. 6º O currículo é conceituado como a proposta de ação
implementação e avaliação das propostas curriculares das unidades educativa constituída pela seleção de conhecimentos construídos
escolares públicas e particulares que oferecem o Ensino Médio. pela sociedade, expressando-se por práticas escolares que se des-
dobram em torno de conhecimentos relevantes e pertinentes, per-
Capítulo II – Referencial legal e conceitual meadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos
estudantes e contribuindo para o desenvolvimento de suas identi-
Art. 3º O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dades e condições cognitivas e sócio afetivas.
dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos.
TÍTULO II – Organização curricular e formas de oferta
Art. 4º As unidades escolares que ministram esta etapa da Capítulo I – Organização curricular
Educação Básica devem estruturar seus projetos político-pedagó-
gicos considerando as finalidades previstas na Lei nº 9.394/96 (Lei Art. 7º A organização curricular do Ensino Médio tem uma
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional): base nacional comum e uma parte diversificada que não devem
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- constituir blocos distintos, mas um todo integrado, de modo a ga-
quiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento rantir tanto conhecimentos e saberes comuns necessários a todos
de estudos; os estudantes, quanto uma formação que considere a diversidade e
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu- as características locais e especificidades regionais.
cando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adap-
tar a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conhecimento,
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- a saber:
cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia inte- I – Linguagens;
lectual e do pensamento crítico; II – Matemática;
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos III – Ciências da Natureza;
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. IV – Ciências Humanas.
§ 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do conheci-
Art. 5º O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e mento, com tratamento metodológico que evidencie a contextua-
organização, baseia-se em: lização e a interdisciplinaridade ou outras formas de interação e
I – formação integral do estudante; articulação entre diferentes campos de saberes específicos.
II – trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagó- § 2º A organização por áreas de conhecimento não dilui nem
gicos, respectivamente; exclui componentes curriculares com especificidades e saberes
III – educação em direitos humanos como princípio nacional próprios construídos e sistematizados, mas implica no fortaleci-
norteador; mento das relações entre eles e a sua contextualização para apreen-
IV – sustentabilidade ambiental como meta universal; são e intervenção na realidade, requerendo planejamento e execu-
V – indissociabilidade entre educação e prática social, con- ção conjugados e cooperativos dos seus professores.
siderando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do
processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo Art. 9º A legislação nacional determina componentes obriga-
de ensino-aprendizagem; tórios que devem ser tratados em uma ou mais das áreas de conhe-
VI – integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, cimento para compor o currículo:
técnico-profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinari- I – são definidos pela LDB:
dade e da contextualização; a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhe-
VII – reconhecimento e aceitação da diversidade e da realida- cimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
de concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de pro- especialmente do Brasil;
dução, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes; a) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões regio-
VIII – integração entre educação e as dimensões do trabalho, nais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos estu-
da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do dantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas não
desenvolvimento curricular. exclusivo;

Didatismo e Conhecimento 32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
b) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da ins- Art. 12. O currículo do Ensino Médio deve:
tituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante nos I – garantir ações que promovam:
casos previstos em Lei; a) a educação tecnológica básica, a compreensão do significa-
c) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contri- do da ciência, das letras e das artes;
buições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo b) o processo histórico de transformação da sociedade e da
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia; cultura;
d) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, c) a língua portuguesa como instrumento de comunicação,
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;
Educação Artística e de Literatura e História brasileiras; II – adotar metodologias de ensino e de avaliação de aprendi-
e) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso; zagem que estimulem a iniciativa dos estudantes;
f) uma língua estrangeira moderna na parte diversificada, es- III – organizar os conteúdos, as metodologias e as formas de
colhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter opta- avaliação de tal forma que ao final do Ensino Médio o estudante
tivo, dentro das disponibilidades da instituição. demonstre:
Parágrafo único. Em termos operacionais, os componentes a) domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presi-
curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as dem a produção moderna;
áreas de conhecimento são os referentes a: b) conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
I – Linguagens:
a) Língua Portuguesa; Art. 13. As unidades escolares devem orientar a definição de
b) Língua Materna, para populações indígenas; toda proposição curricular, fundamentada na seleção dos conhe-
c) Língua Estrangeira moderna; cimentos, componentes, metodologias, tempos, espaços, arranjos
d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, alternativos e formas de avaliação, tendo presente:
obrigatoriamente, a musical; I – as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da
e) Educação Física. cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas
II – Matemática. naturezas, contextualizando-os em sua dimensão histórica e em re-
III – Ciências da Natureza: lação ao contexto social contemporâneo;
a) Biologia; II – o trabalho como princípio educativo, para a compreen-
b) Física; são do processo histórico de produção científica e tecnológica,
c) Química. desenvolvida e apropriada socialmente para a transformação das
IV – Ciências Humanas: condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das po-
a) História; tencialidades e dos sentidos humanos;
b) Geografia; III – a pesquisa como princípio pedagógico, possibilitando que o
c) Filosofia; estudante possa ser protagonista na investigação e na busca de respos-
d) Sociologia. tas em um processo autônomo de (re)construção de conhecimentos.
IV – os direitos humanos como princípio norteador, desenvol-
Art. 10. Em decorrência de legislação específica, são obriga- vendo-se sua educação de forma integrada, permeando todo o currícu-
tórios: lo, para promover o respeito a esses direitos e à convivência humana.
I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades es- V – a sustentabilidade socioambiental como meta universal,
colares, embora facultativa para o estudante (Lei nº 11.161/2005); desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e perma-
II – Com tratamento transversal e integradamente, permeando nente, e baseada na compreensão do necessário equilíbrio e respei-
todo o currículo, no âmbito dos demais componentes curriculares: to nas relações do ser humano com seu ambiente.
a) educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009, que
dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Capítulo II – Formas de oferta e organização
Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação Básica);
b) processo de envelhecimento, respeito e valorização do ido- Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica,
so, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos concebida como conjunto orgânico, sequencial e articulado, deve
sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto assegurar sua função formativa para todos os estudantes, sejam
do Idoso); adolescentes, jovens ou adultos, atendendo, mediante diferentes
c) Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a formas de oferta e organização:
Política Nacional de Educação Ambiental); I – o Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares
d) Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/97, que institui o no formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, módulos,
Código de Trânsito Brasileiro); alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
e) Educação em Direitos Humanos (Decreto nº 7.037/2009, que com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
institui o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH 3). forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo
de aprendizagem assim o recomendar;
Art. 11. Outros componentes curriculares, a critério dos siste- II – no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 (três)
mas de ensino e das unidades escolares e definidos em seus proje- anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas mil e quatro-
tos político-pedagógicos, podem ser incluídos no currículo, sendo centas) horas, tendo como referência uma carga horária anual de
tratados ou como disciplina ou com outro formato, preferencial- 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo menos 200 (duzentos)
mente, de forma transversal e integradora. dias de efetivo trabalho escolar;

Didatismo e Conhecimento 33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
III – o Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos XII – formas diversificadas de itinerários podem ser organi-
seus estudantes, pode se organizar em regime de tempo integral zadas, desde que garantida a simultaneidade entre as dimensões
com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias; do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, e definidas pelo
IV – no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições projeto político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios e as-
de trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga pirações dos sujeitos e a realidade da escola e do seu meio;
horária, o projeto político-pedagógico deve atender, com qualida- XIII – a interdisciplinaridade e a contextualização devem as-
de, a sua singularidade, especificando uma organização curricular segurar a transversalidade do conhecimento de diferentes compo-
e metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência nentes curriculares, propiciando a interlocução entre os saberes e
e o sucesso destes estudantes: os diferentes campos do conhecimento.
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com
menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de TÍTULO III –
2.400 (duas mil e quatrocentas) horas; Do projeto político-pedagógico e dos sistemas de ensino
V – na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, observadas Capítulo I – Do projeto político-pedagógico
suas Diretrizes específicas, com duração mínima de 1.200 (mil e du-
zentas) horas, deve ser especificada uma organização curricular e me- Art. 15. Com fundamento no princípio do pluralismo de ideias
todológica diferenciada para os estudantes trabalhadores, que pode: e de concepções pedagógicas, no exercício de sua autonomia e na
a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor gestão democrática, o projeto político-pedagógico das unidades
carga horária diária e anual, garantida sua duração mínima; escolares, deve traduzir a proposta educativa construída coletiva-
VI – atendida a formação geral, incluindo a preparação básica mente, garantida a participação efetiva da comunidade escolar e
para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de local, bem como a permanente construção da identidade entre a
profissões técnicas, por integração com a Educação Profissional e escola e o território no qual está inserida.
Tecnológica, observadas as Diretrizes específicas, com as cargas § 1º Cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu pro-
horárias mínimas de: jeto político-pedagógico, com a proposição de alternativas para
a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio regular a formação integral e acesso aos conhecimentos e saberes neces-
integrado com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio; sários, definido a partir de aprofundado processo de diagnóstico,
análise e estabelecimento de prioridades, delimitação de formas de
b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jo-
implementação e sistemática de seu acompanhamento e avaliação.
vens e Adultos integrada com a Educação Profissional Técnica de
§ 2º O projeto político-pedagógico, na sua concepção e im-
Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e duzentas) horas
plementação, deve considerar os estudantes e os professores como
de educação geral;
sujeitos históricos e de direitos, participantes ativos e protagonis-
c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jovens e
tas na sua diversidade e singularidade.
Adultos integrada com a formação inicial e continuada ou qualifi-
§ 3º A instituição de ensino deve atualizar, periodicamente,
cação profissional, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e duzentas) seu projeto político-pedagógico e dar-lhe publicidade à comunida-
horas de educação geral; de escolar e às famílias.
VII – na Educação Especial, na Educação do Campo, na
Educação Escolar Indígena, na Educação Escolar Quilombola, de Art. 16. O projeto político-pedagógico das unidades escolares
pessoas em regime de acolhimento ou internação e em regime de que ofertam o Ensino Médio deve considerar:
privação de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser ob- I – atividades integradoras artístico-culturais, tecnológicas e
servadas as respectivas Diretrizes e normas nacionais; de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, ao meio ambiente
VIII – os componentes curriculares que integram as áreas de e à prática social;
conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas, sempre de II – problematização como instrumento de incentivo à pesqui-
forma integrada, ou como unidades de estudos, módulos, ativida- sa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento do espírito
des, práticas e projetos contextualizados e interdisciplinares ou di- inventivo;
versamente articuladores de saberes, desenvolvimento transversal III – a aprendizagem como processo de apropriação signifi-
de temas ou outras formas de organização; cativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem limitada à
IX – os componentes curriculares devem propiciar a apropria- memorização;
ção de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informa- IV – valorização da leitura e da produção escrita em todos os
ções e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de campos do saber;
saberes integrados e significativos; V – comportamento ético, como ponto de partida para o reco-
X – além de seleção criteriosa de saberes, em termos de quan- nhecimento dos direitos humanos e da cidadania, e para a prática
tidade, pertinência e relevância, deve ser equilibrada sua distribui- de um humanismo contemporâneo expresso pelo reconhecimento,
ção ao longo do curso, para evitar fragmentação e congestiona- respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação
mento com número excessivo de componentes em cada tempo da da solidariedade;
organização escolar; VI – articulação entre teoria e prática, vinculando o trabalho
XI – a organização curricular do Ensino Médio deve oferecer intelectual às atividades práticas ou experimentais;
tempos e espaços próprios para estudos e atividades que permitam VII – integração com o mundo do trabalho por meio de estágios
itinerários formativos opcionais diversificados, a fim de melhor de estudantes do Ensino Médio, conforme legislação específica;
responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos VIII – utilização de diferentes mídias como processo de di-
interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades namização dos ambientes de aprendizagem e construção de novos
etárias, sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento; saberes;

Didatismo e Conhecimento 34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
IX – capacidade de aprender permanente, desenvolvendo a II – promover, mediante a institucionalização de mecanismos
autonomia dos estudantes; de participação da comunidade, alternativas de organização insti-
X – atividades sociais que estimulem o convívio humano; tucional que possibilitem:
XI – avaliação da aprendizagem, com diagnóstico preliminar, a) identidade própria das unidades escolares de adolescentes,
e entendida como processo de caráter formativo, permanente e jovens e adultos, respeitadas as suas condições e necessidades de
cumulativo; espaço e tempo para a aprendizagem;
XII – acompanhamento da vida escolar dos estudantes, pro- b) várias alternativas pedagógicas, incluindo ações, situações
movendo o seguimento do desempenho, análise de resultados e e tempos diversos, bem como diferentes espaços – intraescolares
comunicação com a família; ou de outras unidades escolares e da comunidade – para atividades
XIII – atividades complementares e de superação das difi- educacionais e socioculturais favorecedoras de iniciativa, autono-
culdades de aprendizagem para que o estudante tenha sucesso em mia e protagonismo social dos estudantes;
seus estudos; c) articulações institucionais e comunitárias necessárias ao
XIV – reconhecimento e atendimento da diversidade e diferen- cumprimento dos planos dos sistemas de ensino e dos projetos po-
tes nuances da desigualdade e da exclusão na sociedade brasileira; lítico-pedagógicos das unidades escolares;
XV – valorização e promoção dos direitos humanos mediante d) realização, inclusive pelos colegiados escolares e órgãos de
temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça e etnia, reli- representação estudantil, de ações fundamentadas nos direitos hu-
gião, orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, bem manos e nos princípios éticos, de convivência e de participação de-
como práticas que contribuam para a igualdade e para o enfrenta- mocrática visando a construir unidades escolares e sociedade livres
mento de todas as formas de preconceito, discriminação e violên- de preconceitos, discriminações e das diversas formas de violência.
cia sob todas as formas; III – fomentar alternativas de diversificação e flexibilização,
XVI – análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de sua pelas unidades escolares, de formatos, componentes curriculares
organização social e produtiva na relação de complementaridade ou formas de estudo e de atividades, estimulando a construção de
entre espaços urbanos e do campo; itinerários formativos que atendam às características, interesses e
XVII – estudo e desenvolvimento de atividades socioambien- necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privi-
tais, conduzindo a Educação Ambiental como uma prática educati-
legiando propostas com opções pelos estudantes.
va integrada, contínua e permanente;
IV – orientar as unidades escolares para promoverem:
XVIII – práticas desportivas e de expressão corporal, que con-
a) classificação do estudante, mediante avaliação pela institui-
tribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
ção, para inserção em etapa adequada ao seu grau de desenvolvi-
XIX – atividades intersetoriais, entre outras, de promoção da
mento e experiência;
saúde física e mental, saúde sexual e saúde reprodutiva, e preven-
b) aproveitamento de estudos realizados e de conhecimentos
ção do uso de drogas;
XX – produção de mídias nas escolas a partir da promoção constituídos tanto no ensino formal como no informal e na expe-
de atividades que favoreçam as habilidades de leitura e análise do riência extraescolar;
papel cultural, político e econômico dos meios de comunicação na V – estabelecer normas complementares e políticas educacio-
sociedade; nais para execução e cumprimento das disposições destas Diretri-
XXI – participação social e protagonismo dos estudantes, zes, considerando as peculiaridades regionais ou locais;
como agentes de transformação de suas unidades de ensino e de VI – instituir sistemas de avaliação e utilizar os sistemas de
suas comunidades; avaliação operados pelo Ministério da Educação, a fim de acompa-
XXII – condições materiais, funcionais e didático-pedagógi- nhar resultados, tendo como referência as expectativas de aprendi-
cas, para que os profissionais da escola efetivem as proposições zagem dos conhecimentos e saberes a serem alcançados, a legisla-
do projeto. ção e as normas, estas Diretrizes, e os projetos político-pedagógi-
Parágrafo único. O projeto político-pedagógico deve, ainda, cos das unidades escolares.
orientar:
a) dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho escolar; Art. 18. Para a implementação destas Diretrizes, cabe aos sis-
b) mecanismos de promoção e fortalecimento da autonomia temas de ensino prover:
escolar, mediante a alocação de recursos financeiros, administrati- I – os recursos financeiros e materiais necessários à ampliação
vos e de suporte técnico necessários à sua realização; dos tempos e espaços dedicados ao trabalho educativo nas unida-
c) adequação dos recursos físicos, inclusive organização dos des escolares;
espaços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e outros ambientes II – aquisição, produção e/ou distribuição de materiais didáti-
educacionais. cos e escolares adequados;
III – professores com jornada de trabalho e formação, inclusive
Capítulo II – Dos sistemas de ensino continuada, adequadas para o desenvolvimento do currículo, bem
como dos gestores e demais profissionais das unidades escolares;
Art. 17. Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação e a IV – instrumentos de incentivo e valorização dos profissionais
normatização nacional e estadual, e na busca da melhor adequação da educação, com base em planos de carreira e outros dispositivos
possível às necessidades dos estudantes e do meio social, devem: voltados para esse fim;
I – criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e V – acompanhamento e avaliação dos programas e ações edu-
responsabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua capaci- cativas nas respectivas redes e unidades escolares.
dade de concepção, formulação e execução de suas propostas po-
lítico-pedagógicas;

Didatismo e Conhecimento 35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Art. 19. Em regime de colaboração com os Estados, o Distrito Institucional e seu Plano Tático Operacional a cada meta do PNE,
Federal e os Municípios, e na perspectiva de um sistema nacional envolveu todas as secretarias e autarquias na definição das ações,
de educação, cabe ao Ministério da Educação oferecer subsídios e dos responsáveis e dos recursos. A elaboração do Plano Plurianual
apoio para a implementação destas Diretrizes. (PPA) 2016-2019 também foi orientada pelo PNE.

Art. 20. Visando a alcançar unidade nacional, respeitadas as LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014
diversidades, o Ministério da Educação, em articulação e colabo-
ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deve Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras
elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de Educação, pre- providências.
cedida de consulta pública nacional, proposta de expectativas de
aprendizagem dos conhecimentos escolares e saberes que devem Art. 1º É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com
ser atingidos pelos estudantes em diferentes tempos de organiza- vigência por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na
ção do curso de Ensino Médio. forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do disposto no art.
214 da Constituição Federal.
Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve,
progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Art. 2º São diretrizes do PNE:
Básica (SAEB), assumindo as funções de: I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
I– avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase
políticas públicas para a Educação Básica; na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de
II– avaliação certificadora, que proporciona àqueles que estão discriminação;
fora da escola aferir seus conhecimentos construídos em processo IV - melhoria da qualidade da educação;
de escolarização, assim como os conhecimentos tácitos adquiridos V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase
ao longo da vida; nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;
III– avaliação classificatória, que contribui para o acesso de- VI - promoção do princípio da gestão democrática da educa-
mocrático à Educação Superior. ção pública;
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;
Art. 22. Estas Diretrizes devem nortear a elaboração da pro- VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos pú-
posta de expectativas de aprendizagem, a formação de professores, blicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto -
os investimentos em materiais didáticos e os sistemas e exames PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com
nacionais de avaliação. padrão de qualidade e equidade;
IX - valorização dos (as) profissionais da educação;
Art. 23. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publi- X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos,
cação, revogando-se as disposições em contrário, em especial a à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.
Resolução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998.
Art. 3º As metas previstas no Anexo desta Lei serão cumpri-
das no prazo de vigência deste PNE, desde que não haja prazo
inferior definido para metas e estratégias específicas.
O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
Art. 4º As metas previstas no Anexo desta Lei deverão ter como
referência a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD,
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (LEI o censo demográfico e os censos nacionais da educação básica e su-
13.005/2014) perior mais atualizados, disponíveis na data da publicação desta Lei.
Parágrafo único. O poder público buscará ampliar o escopo
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, me- das pesquisas com fins estatísticos de forma a incluir informação
tas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos. detalhada sobre o perfil das populações de 4 (quatro) a 17 (dezes-
O primeiro grupo são metas estruturantes para a garantia do direito sete) anos com deficiência.
a educação básica com qualidade, e que assim promovam a garantia
do acesso, à universalização do ensino obrigatório, e à ampliação Art. 5º A execução do PNE e o cumprimento de suas metas se-
das oportunidades educacionais. Um segundo grupo de metas diz rão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas,
respeito especificamente à redução das desigualdades e à valoriza- realizados pelas seguintes instâncias:
ção da diversidade, caminhos imprescindíveis para a equidade. O I - Ministério da Educação - MEC;
terceiro bloco de metas trata da valorização dos profissionais da edu- II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e Co-
cação, considerada estratégica para que as metas anteriores sejam missão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal;
atingidas, e o quarto grupo de metas refere-se ao ensino superior. III - Conselho Nacional de Educação - CNE;
O Ministério da Educação se mobilizou de forma articulada IV - Fórum Nacional de Educação.
com os demais entes federados e instâncias representativas do se- § 1º Compete, ainda, às instâncias referidas no caput:
tor educacional, direcionando o seu trabalho em torno do plano em I - divulgar os resultados do monitoramento e das avaliações
um movimento inédito: referenciou seu Planejamento Estratégico nos respectivos sítios institucionais da internet;

Didatismo e Conhecimento 36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a imple- § 3º Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
mentação das estratégias e o cumprimento das metas; dos Municípios criarão mecanismos para o acompanhamento local
III - analisar e propor a revisão do percentual de investimento da consecução das metas deste PNE e dos planos previstos no art. 8º.
público em educação. § 4º Haverá regime de colaboração específico para a imple-
§ 2º A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigência des- mentação de modalidades de educação escolar que necessitem
te PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais considerar territórios étnico-educacionais e a utilização de estra-
Anísio Teixeira - INEP publicará estudos para aferir a evolução no tégias que levem em conta as identidades e especificidades socio-
cumprimento das metas estabelecidas no Anexo desta Lei, com in- culturais e linguísticas de cada comunidade envolvida, assegurada
formações organizadas por ente federado e consolidadas em âmbito a consulta prévia e informada a essa comunidade.
nacional, tendo como referência os estudos e as pesquisas de que tra- § 5º Será criada uma instância permanente de negociação e coo-
ta o art. 4º, sem prejuízo de outras fontes e informações relevantes. peração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
§ 3º A meta progressiva do investimento público em educação § 6º O fortalecimento do regime de colaboração entre os Esta-
será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e poderá ser am- dos e respectivos Municípios incluirá a instituição de instâncias per-
pliada por meio de lei para atender às necessidades financeiras do manentes de negociação, cooperação e pactuação em cada Estado.
cumprimento das demais metas. § 7º O fortalecimento do regime de colaboração entre os Mu-
§ 4º O investimento público em educação a que se referem o nicípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de arranjos de de-
inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a meta 20 do Ane- senvolvimento da educação.
xo desta Lei engloba os recursos aplicados na forma do art. 212 da
Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições Constitu- Art. 8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deve-
cionais Transitórias, bem como os recursos aplicados nos programas rão elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar
de expansão da educação profissional e superior, inclusive na forma os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes,
de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas no metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano
Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em programas de fi- contado da publicação desta Lei.
nanciamento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas e § 1º Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos
de educação especial na forma do art. 213 da Constituição Federal. de educação estratégias que:
§ 5º Será destinada à manutenção e ao desenvolvimento do I - assegurem a articulação das políticas educacionais com as
ensino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. demais políticas sociais, particularmente as culturais;
212 da Constituição Federal, além de outros recursos previstos em II - considerem as necessidades específicas das populações do
lei, a parcela da participação no resultado ou da compensação fi- campo e das comunidades indígenas e quilombolas, asseguradas a
nanceira pela exploração de petróleo e de gás natural, na forma equidade educacional e a diversidade cultural;
de lei específica, com a finalidade de assegurar o cumprimento da III - garantam o atendimento das necessidades específicas na
meta prevista no inciso VI do art. 214 da Constituição Federal. educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em
todos os níveis, etapas e modalidades;
Art. 6º A União promoverá a realização de pelo menos 2 IV - promovam a articulação Inter federativa na implementa-
(duas) conferências nacionais de educação até o final do decênio, ção das políticas educacionais.
precedidas de conferências distrital, municipais e estaduais, articu- § 2º Os processos de elaboração e adequação dos planos de
ladas e coordenadas pelo Fórum Nacional de Educação, instituído educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de que
nesta Lei, no âmbito do Ministério da Educação. trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação
§ 1º O Fórum Nacional de Educação, além da atribuição re- de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil.
ferida no caput:
I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento de suas Art. 9º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
metas; aprovar leis específicas para os seus sistemas de ensino, discipli-
II - promoverá a articulação das conferências nacionais de nando a gestão democrática da educação pública nos respectivos
educação com as conferências regionais, estaduais e municipais âmbitos de atuação, no prazo de 2 (dois) anos contado da publica-
que as precederem. ção desta Lei, adequando, quando for o caso, a legislação local já
§ 2º As conferências nacionais de educação realizar-se-ão com adotada com essa finalidade.
intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo de ava-
liar a execução deste PNE e subsidiar a elaboração do plano nacio- Art. 10. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os
nal de educação para o decênio subsequente. orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios serão formulados de maneira a assegurar a con-
Art. 7º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios signação de dotações orçamentárias compatíveis com as diretrizes,
atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e metas e estratégias deste PNE e com os respectivos planos de edu-
à implementação das estratégias objeto deste Plano. cação, a fim de viabilizar sua plena execução.
§ 1º Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do
Distrito Federal a adoção das medidas governamentais necessárias Art. 11. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Bá-
ao alcance das metas previstas neste PNE. sica, coordenado pela União, em colaboração com os Estados, o
§ 2º As estratégias definidas no Anexo desta Lei não elidem a Distrito Federal e os Municípios, constituirá fonte de informação
adoção de medidas adicionais em âmbito local ou de instrumentos para a avaliação da qualidade da educação básica e para a orienta-
jurídicos que formalizem a cooperação entre os entes federados, ção das políticas públicas desse nível de ensino.
podendo ser complementadas por mecanismos nacionais e locais § 1º O sistema de avaliação a que se refere o caput produzirá,
de coordenação e colaboração recíproca. no máximo a cada 2 (dois) anos:

Didatismo e Conhecimento 37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
I - indicadores de rendimento escolar, referentes ao desempenho 1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja inferior
dos (as) estudantes apurado em exames nacionais de avaliação, com a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de frequência
participação de pelo menos 80% (oitenta por cento) dos (as) alunos à educação infantil das crianças de até 3 (três) anos oriundas do
(as) de cada ano escolar periodicamente avaliado em cada escola, e quinto de renda familiar per capita mais elevado e as do quinto de
aos dados pertinentes apurados pelo censo escolar da educação básica; renda familiar per capita mais baixo;
II - indicadores de avaliação institucional, relativos a carac- 1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração, le-
terísticas como o perfil do alunado e do corpo dos (as) profissio- vantamento da demanda por creche para a população de até 3 (três)
nais da educação, as relações entre dimensão do corpo docente, do anos, como forma de planejar a oferta e verificar o atendimento da
corpo técnico e do corpo discente, a infraestrutura das escolas, os demanda manifesta;
recursos pedagógicos disponíveis e os processos da gestão, entre 1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, normas,
outras relevantes. procedimentos e prazos para definição de mecanismos de consulta
§ 2º A elaboração e a divulgação de índices para avaliação da pública da demanda das famílias por creches;
qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Bási- 1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas
ca - IDEB, que agreguem os indicadores mencionados no inciso I as normas de acessibilidade, programa nacional de construção e
do § 1º não elidem a obrigatoriedade de divulgação, em separado, reestruturação de escolas, bem como de aquisição de equipamen-
de cada um deles. tos, visando à expansão e à melhoria da rede física de escolas pú-
§ 3º Os indicadores mencionados no § 1º serão estimados por blicas de educação infantil;
etapa, estabelecimento de ensino, rede escolar, unidade da Federa- 1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, ava-
ção e em nível agregado nacional, sendo amplamente divulgados, liação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos,
ressalvada a publicação de resultados individuais e indicadores por com base em parâmetros nacionais de qualidade, a fim de aferir a
turma, que fica admitida exclusivamente para a comunidade do res- infraestrutura física, o quadro de pessoal, as condições de gestão,
pectivo estabelecimento e para o órgão gestor da respectiva rede. os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade, entre outros
§ 4º Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo do Ideb e dos indicadores relevantes;
indicadores referidos no § 1º. 1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches cer-
§ 5º A avaliação de desempenho dos (as) estudantes em exa- tificadas como entidades beneficentes de assistência social na área
mes, referida no inciso I do § 1º, poderá ser diretamente realizada de educação com a expansão da oferta na rede escolar pública;
pela União ou, mediante acordo de cooperação, pelos Estados e 1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) pro-
pelo Distrito Federal, nos respectivos sistemas de ensino e de seus fissionais da educação infantil, garantindo, progressivamente, o
Municípios, caso mantenham sistemas próprios de avaliação do atendimento por profissionais com formação superior;
rendimento escolar, assegurada a compatibilidade metodológica 1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de
entre esses sistemas e o nacional, especialmente no que se refere pesquisa e cursos de formação para profissionais da educação, de
às escalas de proficiência e ao calendário de aplicação. modo a garantir a elaboração de currículos e propostas pedagógi-
cas que incorporem os avanços de pesquisas ligadas ao processo
Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano de vi- de ensino-aprendizagem e às teorias educacionais no atendimento
gência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso da população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos;
Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder, o projeto de 1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das
lei referente ao Plano Nacional de Educação a vigorar no período comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas
subsequente, que incluirá diagnóstico, diretrizes, metas e estraté- respectivas comunidades, por meio do redimensionamento da dis-
gias para o próximo decênio. tribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de escolas e o
deslocamento de crianças, de forma a atender às especificidades
Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específica, dessas comunidades, garantido consulta prévia e informada;
contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema Nacio- 1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar a oferta
nal de Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de do atendimento educacional especializado complementar e suple-
ensino, em regime de colaboração, para efetivação das diretrizes, mentar aos (às) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do
metas e estratégias do Plano Nacional de Educação. desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, assegurando
a educação bilíngue para crianças surdas e a transversalidade da
Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. educação especial nessa etapa da educação básica;
1.12) implementar, em caráter complementar, programas de
ANEXO orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das áreas de
METAS E ESTRATÉGIAS  educação, saúde e assistência social, com foco no desenvolvimen-
to integral das crianças de até 3 (três) anos de idade;
Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-es- 1.13) preservar as especificidades da educação infantil na or-
cola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e am- ganização das redes escolares, garantindo o atendimento da crian-
pliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, ça de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que atendam
no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) a parâmetros nacionais de qualidade, e a articulação com a etapa
anos até o final da vigência deste PNE. escolar seguinte, visando ao ingresso do (a) aluno(a) de 6 (seis)
anos de idade no ensino fundamental;
Estratégias: 1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, os Es- acesso e da permanência das crianças na educação infantil, em es-
tados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de expansão das pecial dos beneficiários de programas de transferência de renda,
respectivas redes públicas de educação infantil segundo padrão na- em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de as-
cional de qualidade, considerando as peculiaridades locais; sistência social, saúde e proteção à infância;

Didatismo e Conhecimento 38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
1.15) promover a busca ativa de crianças em idade correspon- 2.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em especial
dente à educação infantil, em parceria com órgãos públicos de as- dos anos iniciais, para as populações do campo, indígenas e qui-
sistência social, saúde e proteção à infância, preservando o direito lombolas, nas próprias comunidades;
de opção da família em relação às crianças de até 3 (três) anos; 2.11) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino fun-
1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração damental, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas
da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, levan- de profissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante;
tamento da demanda manifesta por educação infantil em creches 2.12) oferecer atividades extracurriculares de incentivo aos
e pré-escolas, como forma de planejar e verificar o atendimento; (às) estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive mediante
1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo integral, certames e concursos nacionais;
para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, conforme estabe- 2.13) promover atividades de desenvolvimento e estímulo a habi-
lecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. lidades esportivas nas escolas, interligadas a um plano de dissemina-
Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos ção do desporto educacional e de desenvolvimento esportivo nacional.
para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garan- Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para
tir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar,
concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de
vigência deste PNE. matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento).

Estratégias: Estratégias:
2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração 3.1) institucionalizar programa nacional de renovação do en-
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o sino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com aborda-
final do 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e enca- gens interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e prá-
minhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta tica, por meio de currículos escolares que organizem, de maneira
pública nacional, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articula-
e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do ensino fundamental; dos em dimensões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia,
2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municí- cultura e esporte, garantindo-se a aquisição de equipamentos e la-
boratórios, a produção de material didático específico, a formação
pios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art.
continuada de professores e a articulação com instituições acadê-
7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendiza-
micas, esportivas e culturais;
gem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum
3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração
curricular do ensino fundamental;
com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta
2.3) criar mecanismos para o acompanhamento individualiza-
pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional
do dos (as) alunos (as) do ensino fundamental;
de Educação - CNE, até o 2o(segundo) ano de vigência deste PNE,
2.4) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do aces-
proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvi-
so, da permanência e do aproveitamento escolar dos beneficiários mento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos
de programas de transferência de renda, bem como das situações nos tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com
de discriminação, preconceitos e violências na escola, visando ao vistas a garantir formação básica comum;
estabelecimento de condições adequadas para o sucesso escolar 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municí-
dos (as) alunos (as), em colaboração com as famílias e com órgãos pios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5o do art.
públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, adoles- 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendiza-
cência e juventude; gem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum
2.5) promover a busca ativa de crianças e adolescentes fora curricular do ensino médio;
da escola, em parceria com órgãos públicos de assistência social, 3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de forma
saúde e proteção à infância, adolescência e juventude; regular, bem como a ampliação da prática desportiva, integrada ao
2.6) desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de currículo escolar;
maneira articulada, a organização do tempo e das atividades di- 3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de fluxo
dáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando as do ensino fundamental, por meio do acompanhamento individua-
especificidades da educação especial, das escolas do campo e das lizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar defasado e pela
comunidades indígenas e quilombolas; adoção de práticas como aulas de reforço no turno complementar,
2.7) disciplinar, no âmbito dos sistemas de ensino, a organi- estudos de recuperação e progressão parcial, de forma a reposicio-
zação flexível do trabalho pedagógico, incluindo adequação do ná-lo no ciclo escolar de maneira compatível com sua idade;
calendário escolar de acordo com a realidade local, a identidade 3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio -
cultural e as condições climáticas da região; ENEM, fundamentado em matriz de referência do conteúdo cur-
2.8) promover a relação das escolas com instituições e movi- ricular do ensino médio e em técnicas estatísticas e psicométricas
mentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de atividades que permitam comparabilidade de resultados, articulando-o com
culturais para a livre fruição dos (as) alunos (as) dentro e fora dos o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB, e
espaços escolares, assegurando ainda que as escolas se tornem po- promover sua utilização como instrumento de avaliação sistêmica,
los de criação e difusão cultural; para subsidiar políticas públicas para a educação básica, de ava-
2.9) incentivar a participação dos pais ou responsáveis no liação certificadora, possibilitando aferição de conhecimentos e
acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do habilidades adquiridos dentro e fora da escola, e de avaliação clas-
estreitamento das relações entre as escolas e as famílias; sificatória, como critério de acesso à educação superior;

Didatismo e Conhecimento 39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de ensino 4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos multi-
médio integrado à educação profissional, observando-se as pecu- funcionais e fomentar a formação continuada de professores e pro-
liaridades das populações do campo, das comunidades indígenas e fessoras para o atendimento educacional especializado nas escolas
quilombolas e das pessoas com deficiência; urbanas, do campo, indígenas e de comunidades quilombolas;
3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o monitora- 4.4) garantir atendimento educacional especializado em salas
mento do acesso e da permanência dos e das jovens beneficiários de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especiali-
(as) de programas de transferência de renda, no ensino médio, zados, públicos ou conveniados, nas formas complementar e suple-
quanto à frequência, ao aproveitamento escolar e à interação com mentar, a todos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais
o coletivo, bem como das situações de discriminação, preconceitos do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matricula-
e violências, práticas irregulares de exploração do trabalho, consu- dos na rede pública de educação básica, conforme necessidade iden-
mo de drogas, gravidez precoce, em colaboração com as famílias tificada por meio de avaliação, ouvidos a família e o aluno;
e com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à 4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares de apoio,
adolescência e juventude; pesquisa e assessoria, articulados com instituições acadêmicas e in-
3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze) a 17 tegrados por profissionais das áreas de saúde, assistência social, pe-
(dezessete) anos fora da escola, em articulação com os serviços de dagogia e psicologia, para apoiar o trabalho dos (as) professores da
assistência social, saúde e proteção à adolescência e à juventude; educação básica com os (as) alunos (as) com deficiência, transtornos
3.10) fomentar programas de educação e de cultura para a po- globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
pulação urbana e do campo de jovens, na faixa etária de 15 (quin- 4.6) manter e ampliar programas suplementares que promo-
ze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação social e vam a acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o
profissional para aqueles que estejam fora da escola e com defasa- acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com deficiência por
gem no fluxo escolar; meio da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível
3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos turnos diur- e da disponibilização de material didático próprio e de recursos de
no e noturno, bem como a distribuição territorial das escolas de tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar, em
ensino médio, de forma a atender a toda a demanda, de acordo com todas as etapas, níveis e modalidades de ensino, a identificação dos
(as) alunos (as) com altas habilidades ou superdotação;
as necessidades específicas dos (as) alunos (as);
4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasi-
3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino mé-
leira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na modalidade
dio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas de pro-
escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos (às) alunos
fissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante;
(as) surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete)
3.13) implementar políticas de prevenção à evasão motivada
anos, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos
por preconceito ou quaisquer formas de discriminação, criando
termos do art. 22 do Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005,
rede de proteção contra formas associadas de exclusão;
e dos arts. 24 e 30 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cursos das com Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura
áreas tecnológicas e científicas. para cegos e surdos-cegos;
Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (de- 4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a exclu-
zessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- são do ensino regular sob alegação de deficiência e promovida a
mento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação bá- articulação pedagógica entre o ensino regular e o atendimento edu-
sica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmen- cacional especializado;
te na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional 4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do aces-
inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou so à escola e ao atendimento educacional especializado, bem como
serviços especializados, públicos ou conveniados. da permanência e do desenvolvimento escolar dos (as) alunos (as)
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Estratégias: habilidades ou superdotação beneficiários (as) de programas de
4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Manuten- transferência de renda, juntamente com o combate às situações de
ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos discriminação, preconceito e violência, com vistas ao estabeleci-
Profissionais da Educação - FUNDEB, as matrículas dos (as) es- mento de condições adequadas para o sucesso educacional, em co-
tudantes da educação regular da rede pública que recebam aten- laboração com as famílias e com os órgãos públicos de assistência
dimento educacional especializado complementar e suplementar, social, saúde e proteção à infância, à adolescência e à juventude;
sem prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica 4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvimento
regular, e as matrículas efetivadas, conforme o censo escolar mais de metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos de
atualizado, na educação especial oferecida em instituições comu- tecnologia assistiva, com vistas à promoção do ensino e da apren-
nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conve- dizagem, bem como das condições de acessibilidade dos (as) estu-
niadas com o poder público e com atuação exclusiva na modalida- dantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
de, nos termos da Lei no11.494, de 20 de junho de 2007; altas habilidades ou superdotação;
4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a universali- 4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas interdiscipli-
zação do atendimento escolar à demanda manifesta pelas famílias nares para subsidiar a formulação de políticas públicas interseto-
de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com deficiência, transtornos riais que atendam as especificidades educacionais de estudantes
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
observado o que dispõe a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, habilidades ou superdotação que requeiram medidas de atendi-
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional; mento especializado;

Didatismo e Conhecimento 40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos e políticas 5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional periódicos
públicas de saúde, assistência social e direitos humanos, em parceria e específicos para aferir a alfabetização das crianças, aplicados a
com as famílias, com o fim de desenvolver modelos de atendimento cada ano, bem como estimular os sistemas de ensino e as escolas a
voltados à continuidade do atendimento escolar, na educação de jo- criarem os respectivos instrumentos de avaliação e monitoramen-
vens e adultos, das pessoas com deficiência e transtornos globais do to, implementando medidas pedagógicas para alfabetizar todos os
desenvolvimento com idade superior à faixa etária de escolarização alunos e alunas até o final do terceiro ano do ensino fundamental;
obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral ao longo da vida; 5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais
4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da edu- para a alfabetização de crianças, assegurada a diversidade de mé-
cação para atender à demanda do processo de escolarização dos todos e propostas pedagógicas, bem como o acompanhamento dos
(das) estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvol- resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas, deven-
vimento e altas habilidades ou superdotação, garantindo a ofer- do ser disponibilizadas, preferencialmente, como recursos educa-
ta de professores (as) do atendimento educacional especializado, cionais abertos;
profissionais de apoio ou auxiliares, tradutores (as) e intérpretes de 5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais
Libras, guias-intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, e de práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a alfabetiza-
prioritariamente surdos, e professores bilíngues; ção e favoreçam a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos
4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, indi- (as) alunos (as), consideradas as diversas abordagens metodológi-
cadores de qualidade e política de avaliação e supervisão para o cas e sua efetividade;
funcionamento de instituições públicas e privadas que prestam 5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, indígenas,
atendimento a alunos com deficiência, transtornos globais do de- quilombolas e de populações itinerantes, com a produção de mate-
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação; riais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos de acompa-
4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação, nhamento que considerem o uso da língua materna pelas comunida-
nos órgãos de pesquisa, demografia e estatística competentes, a des indígenas e a identidade cultural das comunidades quilombolas;
obtenção de informação detalhada sobre o perfil das pessoas com 5.6) promover e estimular a formação inicial e continuada de
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habili- professores (as) para a alfabetização de crianças, com o conheci-
dades ou superdotação de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos; mento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas
4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos de- inovadoras, estimulando a articulação entre programas de pós-gra-
mais cursos de formação para profissionais da educação, inclusive duação stricto sensu e ações de formação continuada de professo-
em nível de pós-graduação, observado o disposto no caput do art. res (as) para a alfabetização;
207 da Constituição Federal, dos referenciais teóricos, das teorias de 5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência, consi-
aprendizagem e dos processos de ensino-aprendizagem relacionados derando as suas especificidades, inclusive a alfabetização bilíngue
ao atendimento educacional de alunos com deficiência, transtornos de pessoas surdas, sem estabelecimento de terminalidade temporal.
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo,
4.17) promover parcerias com instituições comunitárias, con- 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a aten-
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o der, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as)
poder público, visando a ampliar as condições de apoio ao aten- da educação básica.
dimento escolar integral das pessoas com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação Estratégias:
matriculadas nas redes públicas de ensino; 6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educação bá-
4.18) promover parcerias com instituições comunitárias, con- sica pública em tempo integral, por meio de atividades de acompa-
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o nhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive culturais e es-
poder público, visando a ampliar a oferta de formação continuada portivas, de forma que o tempo de permanência dos (as) alunos (as)
e a produção de material didático acessível, assim como os servi- na escola, ou sob sua responsabilidade, passe a ser igual ou superior
ços de acessibilidade necessários ao pleno acesso, participação e a 7 (sete) horas diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação
aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais progressiva da jornada de professores em uma única escola;
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação matricu- 6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de constru-
lados na rede pública de ensino; ção de escolas com padrão arquitetônico e de mobiliário adequado
4.19) promover parcerias com instituições comunitárias, con- para atendimento em tempo integral, prioritariamente em comunida-
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o des pobres ou com crianças em situação de vulnerabilidade social;
poder público, a fim de favorecer a participação das famílias e da 6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração,
sociedade na construção do sistema educacional inclusivo. programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas pú-
Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final blicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laborató-
do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental. rios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais,
bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros
Estratégias: equipamentos, bem como da produção de material didático e da
5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabetização, nos formação de recursos humanos para a educação em tempo integral;
anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os com as estra- 6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes es-
tégias desenvolvidas na pré-escola, com qualificação e valorização paços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos pú-
dos (as) professores (as) alfabetizadores e com apoio pedagógico es- blicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques,
pecífico, a fim de garantir a alfabetização plena de todas as crianças; museus, teatros, cinemas e planetários;

Didatismo e Conhecimento 41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da rede pública de
educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de forma concomitante e em articulação
com a rede pública de ensino;
6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades de ampliação da jor-
nada escolar de alunos (as) das escolas da rede pública de educação básica, de forma concomitante e em articulação com a rede pública de ensino;
6.7) atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo integral, com base em consulta
prévia e informada, considerando-se as peculiaridades locais;
6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educacional especializado complementar e
suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições especializadas;
6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada para o efetivo
trabalho escolar, combinado com atividades recreativas, esportivas e culturais.
Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de
modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb:

IDEB 2015 2017 2019 2021


Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0
Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2

Estratégias:
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional co-
mum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino fundamental
e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local;
7.2) assegurar que:
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental e do ensino
médio tenham alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano
de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) estudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham alcançado nível
suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 80% (oitenta por
cento), pelo menos, o nível desejável;
7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de indicadores de
avaliação institucional com base no perfil do alunado e do corpo de profissionais da educação, nas condições de infraestrutura das escolas,
nos recursos pedagógicos disponíveis, nas características da gestão e em outras dimensões relevantes, considerando as especificidades das
modalidades de ensino;
7.4) induzir processo contínuo de autoavaliação das escolas de educação básica, por meio da constituição de instrumentos de avaliação
que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a melhoria contínua da qualidade
educacional, a formação continuada dos (as) profissionais da educação e o aprimoramento da gestão democrática;
7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a educação
básica pública e às estratégias de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à formação de professores e profes-
soras e profissionais de serviços e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos pedagógicos e à melhoria e expansão da
infraestrutura física da rede escolar;
7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos conforme pactua-
ção voluntária entre os entes, priorizando sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média nacional;
7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avaliação da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma a englobar o ensino
de ciências nos exames aplicados nos anos finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Nacional do Ensino Médio, assegurada a sua
universalização, ao sistema de avaliação da educação básica, bem como apoiar o uso dos resultados das avaliações nacionais pelas escolas
e redes de ensino para a melhoria de seus processos e práticas pedagógicas;
7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da qualidade da educação especial, bem como da qualidade da educação bilíngue
para surdos;
7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a diferença entre as
escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela metade, até o último ano de
vigência deste PNE, as diferenças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito Federal, e dos Municípios;
7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os resultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional de avaliação da educa-
ção básica e do Ideb, relativos às escolas, às redes públicas de educação básica e aos sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, assegurando a contextualização desses resultados, com relação a indicadores sociais relevantes, como os de nível
socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a transparência e o acesso público às informações técnicas de concepção e operação do
sistema de avaliação;

Didatismo e Conhecimento 42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação bási- 7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais
ca nas avaliações da aprendizagem no Programa Internacional de para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas
Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como instrumento exter- públicas da educação básica, criando, inclusive, mecanismos para
no de referência, internacionalmente reconhecido, de acordo com implementação das condições necessárias para a universalização
as seguintes projeções: das bibliotecas nas instituições educacionais, com acesso a redes
digitais de computadores, inclusive a internet;
PISA 2015 2018 2021 7.21) a União, em regime de colaboração com os entes fede-
Média dos rados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois) anos conta-
resultados dos da publicação desta Lei, parâmetros mínimos de qualidade dos
em serviços da educação básica, a serem utilizados como referência
438 455 473 para infraestrutura das escolas, recursos pedagógicos, entre outros
matemática,
leitura e insumos relevantes, bem como instrumento para adoção de medi-
ciências das para a melhoria da qualidade do ensino;
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas públicas
7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e di- e das secretarias de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos
vulgar tecnologias educacionais para a educação infantil, o ensino Municípios, bem como manter programa nacional de formação ini-
fundamental e o ensino médio e incentivar práticas pedagógicas cial e continuada para o pessoal técnico das secretarias de educação;
inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo escolar e a apren- 7.23) garantir políticas de combate à violência na escola, in-
dizagem, assegurada a diversidade de métodos e propostas peda- clusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à capacitação
gógicas, com preferência para softwares livres e recursos educa- de educadores para detecção dos sinais de suas causas, como a
cionais abertos, bem como o acompanhamento dos resultados nos violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das providên-
sistemas de ensino em que forem aplicadas; cias adequadas para promover a construção da cultura de paz e um
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as) estu- ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade;
dantes da educação do campo na faixa etária da educação escolar 7.24) implementar políticas de inclusão e permanência na escola
obrigatória, mediante renovação e padronização integral da frota de para adolescentes e jovens que se encontram em regime de liberdade as-
veículos, de acordo com especificações definidas pelo Instituto Na- sistida e em situação de rua, assegurando os princípios da Lei no 8.069,
cional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO, e finan- de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente;
ciamento compartilhado, com participação da União proporcional às 7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a histó-
necessidades dos entes federados, visando a reduzir a evasão escolar ria e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar ações edu-
e o tempo médio de deslocamento a partir de cada situação local; cacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de aten- e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-se a implementação
dimento escolar para a população do campo que considerem as das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio de ações
especificidades locais e as boas práticas nacionais e internacionais; colaborativas com fóruns de educação para a diversidade etnicorra-
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, cial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil;
o acesso à rede mundial de computadores em banda larga de alta 7.26) consolidar a educação escolar no campo de populações
velocidade e triplicar, até o final da década, a relação computador/ tradicionais, de populações itinerantes e de comunidades indíge-
aluno (a) nas escolas da rede pública de educação básica, promo- nas e quilombolas, respeitando a articulação entre os ambientes
vendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da escolares e comunitários e garantindo: o desenvolvimento susten-
comunicação; tável e preservação da identidade cultural; a participação da co-
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar me- munidade na definição do modelo de organização pedagógica e de
diante transferência direta de recursos financeiros à escola, garan- gestão das instituições, consideradas as práticas socioculturais e
tindo a participação da comunidade escolar no planejamento e na as formas particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue
aplicação dos recursos, visando à ampliação da transparência e ao na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental,
efetivo desenvolvimento da gestão democrática; em língua materna das comunidades indígenas e em língua portu-
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de atendimento guesa; a reestruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta de
ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação básica, por meio programa para a formação inicial e continuada de profissionais da
de programas suplementares de material didático-escolar, trans- educação; e o atendimento em educação especial;
porte, alimentação e assistência à saúde; 7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas específicas
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação básica para educação escolar para as escolas do campo e para as comunida-
o acesso a energia elétrica, abastecimento de água tratada, esgota- des indígenas e quilombolas, incluindo os conteúdos culturais corres-
mento sanitário e manejo dos resíduos sólidos, garantir o acesso pondentes às respectivas comunidades e considerando o fortalecimen-
dos alunos a espaços para a prática esportiva, a bens culturais e ar- to das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade
tísticos e a equipamentos e laboratórios de ciências e, em cada edi- indígena, produzindo e disponibilizando materiais didáticos específi-
fício escolar, garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência; cos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência;
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, 7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, articu-
programa nacional de reestruturação e aquisição de equipamentos lando a educação formal com experiências de educação popular e
para escolas públicas, visando à equalização regional das oportu- cidadã, com os propósitos de que a educação seja assumida como
nidades educacionais; responsabilidade de todos e de ampliar o controle social sobre o
cumprimento das políticas públicas educacionais;

Didatismo e Conhecimento 43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
7.29) promover a articulação dos programas da área da edu- 8.5) promover, em parceria com as áreas de saúde e assis-
cação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas, como tência social, o acompanhamento e o monitoramento do acesso à
saúde, trabalho e emprego, assistência social, esporte e cultura, escola específicos para os segmentos populacionais considerados,
possibilitando a criação de rede de apoio integral às famílias, como identificar motivos de absenteísmo e colaborar com os Estados, o
condição para a melhoria da qualidade educacional; Distrito Federal e os Municípios para a garantia de frequência e
7.30) universalizar, mediante articulação entre os órgãos res- apoio à aprendizagem, de maneira a estimular a ampliação do aten-
ponsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o atendimento aos dimento desses (as) estudantes na rede pública regular de ensino;
(às) estudantes da rede escolar pública de educação básica por 8.6) promover busca ativa de jovens fora da escola pertencen-
meio de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde; tes aos segmentos populacionais considerados, em parceria com as
7.31) estabelecer ações efetivas especificamente voltadas para áreas de assistência social, saúde e proteção à juventude.
a promoção, prevenção, atenção e atendimento à saúde e à inte- Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15
gridade física, mental e emocional dos (das) profissionais da edu- (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco
cação, como condição para a melhoria da qualidade educacional; décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE,
7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira da erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta
União, em articulação com o sistema nacional de avaliação, os por cento) a taxa de analfabetismo funcional.
sistemas estaduais de avaliação da educação básica, com partici-
pação, por adesão, das redes municipais de ensino, para orientar as Estratégias:
políticas públicas e as práticas pedagógicas, com o fornecimento 9.1) assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e adultos a
das informações às escolas e à sociedade; todos os que não tiveram acesso à educação básica na idade própria;
7.33) promover, com especial ênfase, em consonância com 9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensino fun-
as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a formação damental e médio incompletos, para identificar a demanda ativa
de leitores e leitoras e a capacitação de professores e professoras, por vagas na educação de jovens e adultos;
bibliotecários e bibliotecárias e agentes da comunidade para atuar 9.3) implementar ações de alfabetização de jovens e adultos
como mediadores e mediadoras da leitura, de acordo com a especifi- com garantia de continuidade da escolarização básica;
cidade das diferentes etapas do desenvolvimento e da aprendizagem; 9.4) criar benefício adicional no programa nacional de trans-
7.34) instituir, em articulação com os Estados, os Municípios ferência de renda para jovens e adultos que frequentarem cursos
e o Distrito Federal, programa nacional de formação de professo- de alfabetização;
res e professoras e de alunos e alunas para promover e consolidar 9.5) realizar chamadas públicas regulares para educação de
política de preservação da memória nacional; jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regime de cola-
7.35) promover a regulação da oferta da educação básica pela boração entre entes federados e em parceria com organizações da
iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o cumprimen- sociedade civil;
to da função social da educação; 9.6) realizar avaliação, por meio de exames específicos, que
7.36) estabelecer políticas de estímulo às escolas que melho- permita aferir o grau de alfabetização de jovens e adultos com
rarem o desempenho no Ideb, de modo a valorizar o mérito do mais de 15 (quinze) anos de idade;
corpo docente, da direção e da comunidade escolar. 9.7) executar ações de atendimento ao (à) estudante da educação
Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (de- de jovens e adultos por meio de programas suplementares de trans-
zoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 porte, alimentação e saúde, inclusive atendimento oftalmológico e
(doze) anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para fornecimento gratuito de óculos, em articulação com a área da saúde;
as populações do campo, da região de menor escolaridade no País 9.8) assegurar a oferta de educação de jovens e adultos, nas
e dos 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a esco- etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas privadas de li-
laridade média entre negros e não negros declarados à Fundação berdade em todos os estabelecimentos penais, assegurando-se for-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. mação específica dos professores e das professoras e implementa-
ção de diretrizes nacionais em regime de colaboração;
Estratégias: 9.9) apoiar técnica e financeiramente projetos inovadores na
8.1) institucionalizar programas e desenvolver tecnologias educação de jovens e adultos que visem ao desenvolvimento de mo-
para correção de fluxo, para acompanhamento pedagógico indi- delos adequados às necessidades específicas desses (as) alunos (as);
vidualizado e para recuperação e progressão parcial, bem como 9.10) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem os
priorizar estudantes com rendimento escolar defasado, consideran- segmentos empregadores, públicos e privados, e os sistemas de
do as especificidades dos segmentos populacionais considerados; ensino, para promover a compatibilização da jornada de trabalho
8.2) implementar programas de educação de jovens e adultos para dos empregados e das empregadas com a oferta das ações de alfa-
os segmentos populacionais considerados, que estejam fora da escola e betização e de educação de jovens e adultos;
com defasagem idade-série, associados a outras estratégias que garan- 9.11) implementar programas de capacitação tecnológica da
tam a continuidade da escolarização, após a alfabetização inicial; população jovem e adulta, direcionados para os segmentos com
8.3) garantir acesso gratuito a exames de certificação da con- baixos níveis de escolarização formal e para os (as) alunos (as)
clusão dos ensinos fundamental e médio; com deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede Fede-
8.4) expandir a oferta gratuita de educação profissional técni- ral de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as univer-
ca por parte das entidades privadas de serviço social e de formação sidades, as cooperativas e as associações, por meio de ações de
profissional vinculadas ao sistema sindical, de forma concomitante extensão desenvolvidas em centros vocacionais tecnológicos, com
ao ensino ofertado na rede escolar pública, para os segmentos po- tecnologias assistivas que favoreçam a efetiva inclusão social e
pulacionais considerados; produtiva dessa população;

Didatismo e Conhecimento 44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adultos, as 10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de sabe-
necessidades dos idosos, com vistas à promoção de políticas de er- res dos jovens e adultos trabalhadores, a serem considerados na
radicação do analfabetismo, ao acesso a tecnologias educacionais articulação curricular dos cursos de formação inicial e continuada
e atividades recreativas, culturais e esportivas, à implementação de e dos cursos técnicos de nível médio.
programas de valorização e compartilhamento dos conhecimentos Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional téc-
e experiência dos idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento nica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo me-
e da velhice nas escolas. nos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público.
Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento)
das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos funda- Estratégias:
mental e médio, na forma integrada à educação profissional. 11.1) expandir as matrículas de educação profissional técnica
de nível médio na Rede Federal de Educação Profissional, Cien-
Estratégias: tífica e Tecnológica, levando em consideração a responsabilidade
10.1) manter programa nacional de educação de jovens e adul- dos Institutos na ordenação territorial, sua vinculação com arranjos
tos voltado à conclusão do ensino fundamental e à formação profis- produtivos, sociais e culturais locais e regionais, bem como a inte-
sional inicial, de forma a estimular a conclusão da educação básica; riorização da educação profissional;
10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e adultos, 11.2) fomentar a expansão da oferta de educação profissional
de modo a articular a formação inicial e continuada de trabalhado- técnica de nível médio nas redes públicas estaduais de ensino;
res com a educação profissional, objetivando a elevação do nível 11.3) fomentar a expansão da oferta de educação profissional
de escolaridade do trabalhador e da trabalhadora; técnica de nível médio na modalidade de educação a distância, com
10.3) fomentar a integração da educação de jovens e adultos a finalidade de ampliar a oferta e democratizar o acesso à educação
com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo com profissional pública e gratuita, assegurado padrão de qualidade;
as características do público da educação de jovens e adultos e 11.4) estimular a expansão do estágio na educação profissional
considerando as especificidades das populações itinerantes e do técnica de nível médio e do ensino médio regular, preservando-se seu
campo e das comunidades indígenas e quilombolas, inclusive na caráter pedagógico integrado ao itinerário formativo do aluno, visan-
do à formação de qualificações próprias da atividade profissional, à
modalidade de educação a distância;
contextualização curricular e ao desenvolvimento da juventude;
10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e adul-
11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimento de sa-
tos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio do aces-
beres para fins de certificação profissional em nível técnico;
so à educação de jovens e adultos articulada à educação profissional;
11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educação
10.5) implantar programa nacional de reestruturação e aqui-
profissional técnica de nível médio pelas entidades privadas de
sição de equipamentos voltados à expansão e à melhoria da rede
formação profissional vinculadas ao sistema sindical e entidades
física de escolas públicas que atuam na educação de jovens e adul- sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência, com
tos integrada à educação profissional, garantindo acessibilidade à atuação exclusiva na modalidade;
pessoa com deficiência; 11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à educação
10.6) estimular a diversificação curricular da educação de jo- profissional técnica de nível médio oferecida em instituições pri-
vens e adultos, articulando a formação básica e a preparação para vadas de educação superior;
o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações entre teoria e 11.8) institucionalizar sistema de avaliação da qualidade da
prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia e da cultu- educação profissional técnica de nível médio das redes escolares
ra e cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço pedagógi- públicas e privadas;
cos adequados às características desses alunos e alunas; 11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratuito inte-
10.7) fomentar a produção de material didático, o desenvol- grado à formação profissional para as populações do campo e para
vimento de currículos e metodologias específicas, os instrumentos as comunidades indígenas e quilombolas, de acordo com os seus
de avaliação, o acesso a equipamentos e laboratórios e a formação interesses e necessidades;
continuada de docentes das redes públicas que atuam na educação 11.10) expandir a oferta de educação profissional técnica de
de jovens e adultos articulada à educação profissional; nível médio para as pessoas com deficiência, transtornos globais
10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e conti- do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
nuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à educação de 11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cursos
jovens e adultos, em regime de colaboração e com apoio de en- técnicos de nível médio na Rede Federal de Educação Profissional,
tidades privadas de formação profissional vinculadas ao sistema Científica e Tecnológica para 90% (noventa por cento) e elevar, nos
sindical e de entidades sem fins lucrativos de atendimento à pessoa cursos presenciais, a relação de alunos (as) por professor para 20 (vinte);
com deficiência, com atuação exclusiva na modalidade; 11.12) elevar gradualmente o investimento em programas de
10.9) institucionalizar programa nacional de assistência ao es- assistência estudantil e mecanismos de mobilidade acadêmica, vi-
tudante, compreendendo ações de assistência social, financeira e sando a garantir as condições necessárias à permanência dos (as)
de apoio psicopedagógico que  contribuam para garantir o acesso, estudantes e à conclusão dos cursos técnicos de nível médio;
a permanência, a aprendizagem e a conclusão com êxito da educa- 11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais no acesso
ção de jovens e adultos articulada à educação profissional; e permanência na educação profissional técnica de nível médio, inclusi-
10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jovens e ve mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;
adultos articulada à educação profissional, de modo a atender às 11.14) estruturar sistema nacional de informação profissional,
pessoas privadas de liberdade nos estabelecimentos penais, assegu- articulando a oferta de formação das instituições especializadas em
rando-se formação específica dos professores e das professoras e educação profissional aos dados do mercado de trabalho e a con-
implementação de diretrizes nacionais em regime de colaboração; sultas promovidas em entidades empresariais e de trabalhadores 

Didatismo e Conhecimento 45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior 12.12) consolidar e ampliar programas e ações de incentivo
para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três à mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e pós-
por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, graduação, em âmbito nacional e internacional, tendo em vista o
assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% enriquecimento da formação de nível superior;
(quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público. 12.13) expandir atendimento específico a populações do cam-
po e comunidades indígenas e quilombolas, em relação a acesso,
Estratégias: permanência, conclusão e formação de profissionais para atuação
12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física e de nessas populações;
recursos humanos das instituições públicas de educação superior, 12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de formação de
mediante ações planejadas e coordenadas, de forma a ampliar e pessoal de nível superior, destacadamente a que se refere à forma-
interiorizar o acesso à graduação; ção nas áreas de ciências e matemática, considerando as neces-
12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e inte- sidades do desenvolvimento do País, a inovação tecnológica e a
riorização da rede federal de educação superior, da Rede Federal de melhoria da qualidade da educação básica;
Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do sistema Uni- 12.15) institucionalizar programa de composição de acervo di-
versidade Aberta do Brasil, considerando a densidade populacional, gital de referências bibliográficas e audiovisuais para os cursos de
a oferta de vagas públicas em relação à população na idade de refe- graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência; 
rência e observadas as características regionais das micro e mesor- 12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regionais
regiões definidas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e para acesso à educação superior como forma de superar exames
Estatística - IBGE, uniformizando a expansão no território nacional; vestibulares isolados;
12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cur- 12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ociosas em
sos de graduação presenciais nas universidades públicas para 90% cada período letivo na educação superior pública;
(noventa por cento), ofertar, no mínimo, um terço das vagas em 12.18) estimular a expansão e reestruturação das instituições de
cursos noturnos e elevar a relação de estudantes por professor (a) educação superior estaduais e municipais cujo ensino seja gratuito,
para 18 (dezoito), mediante estratégias de aproveitamento de cré- por meio de apoio técnico e financeiro do Governo Federal, me-
ditos e inovações acadêmicas que valorizem a aquisição de com- diante termo de adesão a programa de reestruturação, na forma de
petências de nível superior; regulamento, que considere a sua contribuição para a ampliação de
12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e gratuita vagas, a capacidade fiscal e as necessidades dos sistemas de ensino
prioritariamente para a formação de professores e professoras para a dos entes mantenedores na oferta e qualidade da educação básica;
educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, bem 12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e qua-
como para atender ao défice de profissionais em áreas específicas; lidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os procedimentos
12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência estu- adotados na área de avaliação, regulação e supervisão, em relação
dantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públicas, bol- aos processos de autorização de cursos e instituições, de reconhe-
sistas de instituições privadas de educação superior e beneficiários cimento ou renovação de reconhecimento de cursos superiores e
do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei de credenciamento ou recredenciamento de instituições, no âmbito
no 10.260, de 12 de julho de 2001, na educação superior, de modo a do sistema federal de ensino;
reduzir as desigualdades étnico-raciais e ampliar as taxas de aces- 12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento ao Es-
so e permanência na educação superior de estudantes egressos da tudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº 10.260,
escola pública, afrodescendentes e indígenas e de estudantes com de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade para Todos -
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habili- PROUNI, de que trata a Lei no11.096, de 13 de janeiro de 2005, os
dades ou superdotação, de forma a apoiar seu sucesso acadêmico; benefícios destinados à concessão de financiamento a estudantes
12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do Fundo de regularmente matriculados em cursos superiores presenciais ou a
Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei no 10.260, de 12 distância, com avaliação positiva, de acordo com regulamentação
de julho de 2001, com a constituição de fundo garantidor do financia- própria, nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação;
mento, de forma a dispensar progressivamente a exigência de fiador; 12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios multifuncio-
12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de nais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas pela política e
créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e estratégias nacionais de ciência, tecnologia e inovação.
projetos de extensão universitária, orientando sua ação, priorita- Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar
riamente, para áreas de grande pertinência social; a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo
12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da formação na exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%
educação superior; (setenta e cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta
12.9) ampliar a participação proporcional de grupos historica- e cinco por cento) doutores.
mente desfavorecidos na educação superior, inclusive mediante a Estratégias:
adoção de políticas afirmativas, na forma da lei; 13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
12.10) assegurar condições de acessibilidade nas instituições Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861, de 14 de abril de
de educação superior, na forma da legislação; 2004, fortalecendo as ações de avaliação, regulação e supervisão;
12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a necessi- 13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de Desempenho
dade de articulação entre formação, currículo, pesquisa e mundo de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o quantitativo de es-
do trabalho, considerando as necessidades econômicas, sociais e tudantes e de áreas avaliadas no que diz respeito à aprendizagem
culturais do País; resultante da graduação;

Didatismo e Conhecimento 46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
13.3) induzir processo contínuo de autoavaliação das institui- 14.6) ampliar a oferta de programas de pós-graduação stricto
ções de educação superior, fortalecendo a participação das comis- sensu, especialmente os de doutorado, nos campi novos abertos
sões próprias de avaliação, bem como a aplicação de instrumentos em decorrência dos programas de expansão e interiorização das
de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, des- instituições superiores públicas;
tacando-se a qualificação e a dedicação do corpo docente; 14.7) manter e expandir programa de acervo digital de refe-
13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de peda- rências bibliográficas para os cursos de pós-graduação, assegurada
gogia e licenciaturas, por meio da aplicação de instrumento pró- a acessibilidade às pessoas com deficiência;
prio de avaliação aprovado pela Comissão Nacional de Avaliação 14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos de pós-
da Educação Superior - CONAES, integrando-os às demandas e graduação stricto sensu, em particular aqueles ligados às áreas de
necessidades das redes de educação básica, de modo a permitir aos Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática e outros no
graduandos a aquisição das qualificações necessárias a conduzir o campo das ciências;
processo pedagógico de seus futuros alunos (as), combinando for- 14.9) consolidar programas, projetos e ações que objetivem a
mação geral e específica com a prática didática, além da educação internacionalização da pesquisa e da pós-graduação brasileiras, incen-
para as relações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das tivando a atuação em rede e o fortalecimento de grupos de pesquisa;
pessoas com deficiência; 14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico, na-
13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades, dire- cional e internacional, entre as instituições de ensino, pesquisa e
cionando sua atividade, de modo que realizem, efetivamente, extensão;
pesquisa institucionalizada, articulada a programas de pós-gradua- 14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco em de-
ção stricto sensu; senvolvimento e estímulo à inovação, bem como incrementar a
13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de Estu- formação de recursos humanos para a inovação, de modo a buscar
dantes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do curso de o aumento da competitividade das empresas de base tecnológica;
graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, a fim 14.12) ampliar o investimento na formação de doutores de
de apurar o valor agregado dos cursos de graduação; modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por 1.000 (mil)
13.7) fomentar a formação de consórcios entre instituições habitantes;
públicas de educação superior, com vistas a potencializar a atuação
14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o desempe-
regional, inclusive por meio de plano de desenvolvimento institu-
nho científico e tecnológico do País e a competitividade interna-
cional integrado, assegurando maior visibilidade nacional e inter-
cional da pesquisa brasileira, ampliando a cooperação científica
nacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão;
com empresas, Instituições de Educação Superior - IES e demais
13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cur-
Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs;
sos de graduação presenciais nas universidades públicas, de modo
14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e promo-
a atingir 90% (noventa por cento) e, nas instituições privadas, 75%
ver a formação de recursos humanos que valorize a diversidade
(setenta e cinco por cento), em 2020, e fomentar a melhoria dos
resultados de aprendizagem, de modo que, em 5 (cinco) anos, pelo regional e a biodiversidade da região amazônica e do cerrado, bem
menos 60% (sessenta por cento) dos estudantes apresentem de- como a gestão de recursos hídricos no semiárido para mitigação
sempenho positivo igual ou superior a 60% (sessenta por cento) dos efeitos da seca e geração de emprego e renda na região;
no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE e, 14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES e das
no último ano de vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção e registro
cento) dos estudantes obtenham desempenho positivo igual ou su- de patentes.
perior a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em cada área Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União,
de formação profissional; os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1
13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as) pro- (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de formação
fissionais técnico-administrativos da educação superior. dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III
Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós- do caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de assegurado que todos os professores e as professoras da educação
60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores. básica possuam formação específica de nível superior, obtida em
Estratégias: curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stricto sen-
su por meio das agências oficiais de fomento; Estratégias:
14.2) estimular a integração e a atuação articulada entre a 15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estratégico
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - que apresente diagnóstico das necessidades de formação de profis-
CAPES e as agências estaduais de fomento à pesquisa; sionais da educação e da capacidade de atendimento, por parte de
14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do Fies à instituições públicas e comunitárias de educação superior existen-
pós-graduação stricto sensu; tes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e defina obrigações
14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto sen- recíprocas entre os partícipes;
su, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecnologias de 15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudantes ma-
educação a distância; triculados em cursos de licenciatura com avaliação positiva pelo
14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades étni- Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES,
co-raciais e regionais e para favorecer o acesso das populações do na forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, inclusive a
campo e das comunidades indígenas e quilombolas a programas de amortização do saldo devedor pela docência efetiva na rede públi-
mestrado e doutorado; ca de educação básica;

Didatismo e Conhecimento 47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
15.3) ampliar programa permanente de iniciação à docência a 16.2) consolidar política nacional de formação de professores
estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de apri- e professoras da educação básica, definindo diretrizes nacionais,
morar a formação de profissionais para atuar no magistério da edu- áreas prioritárias, instituições formadoras e processos de certifica-
cação básica; ção  das atividades formativas;
15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para organi- 16.3) expandir programa de composição de acervo de obras
zar a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial e con- didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicionários, e programa
tinuada de profissionais da educação, bem como para divulgar e específico de acesso a bens culturais, incluindo obras e materiais
atualizar seus currículos eletrônicos; produzidos em Libras e em Braille, sem prejuízo de outros, a se-
15.5) implementar programas específicos para formação de rem disponibilizados para os professores e as professoras da rede
profissionais da educação para as escolas do campo e de comuni- pública de educação básica, favorecendo a construção do conheci-
dades indígenas e quilombolas e para a educação especial; mento e a valorização da cultura da investigação;
15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura 16.4) ampliar e consolidar portal eletrônico para subsidiar
e estimular a renovação pedagógica, de forma a assegurar o foco no a atuação dos professores e das professoras da educação básica,
aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a carga horária em formação disponibilizando gratuitamente materiais didáticos e pedagógicos
geral, formação na área do saber e didática específica e incorpo- suplementares, inclusive aqueles com formato acessível;
rando as modernas tecnologias de informação e comunicação, em 16.5) ampliar a oferta de bolsas de  estudo  para pós-gradua-
articulação com a base nacional comum dos currículos da educação ção dos professores e das professoras e demais profissionais da
básica, de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE; educação básica;
15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regulação e 16.6) fortalecer a formação dos professores e das professoras
supervisão da educação superior, a plena implementação das res- das escolas públicas de educação básica, por meio da implementa-
pectivas diretrizes curriculares; ção das ações do Plano Nacional do Livro e Leitura e da instituição
15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos cursos de programa nacional de disponibilização de recursos para acesso
de formação de nível médio e superior dos profissionais da educa- a bens culturais pelo magistério público.
ção, visando ao trabalho sistemático de articulação entre a forma- Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magistério das re-
ção acadêmica e as demandas da educação básica; des públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendi-
15.9) implementar cursos e programas especiais para assegu- mento médio ao dos (as) demais profissionais com escolaridade
rar formação específica na educação superior, nas respectivas áreas equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.
de atuação, aos docentes com formação de nível médio na modali- Estratégias:
dade normal, não licenciados ou licenciados em área diversa da de 17.1) constituir, por iniciativa do Ministério da Educação, até
atuação docente, em efetivo exercício; o final do primeiro ano de vigência deste PNE, fórum permanen-
15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e te, com representação da União, dos Estados, do Distrito Federal,
tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas respec- dos Municípios e dos trabalhadores da educação, para acompanha-
tivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da educação de outros mento da atualização progressiva do valor do piso salarial nacional
segmentos que não os do magistério; para os profissionais do magistério público da educação básica;
15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência desta 17.2) constituir como tarefa do fórum permanente o acompa-
Lei, política nacional de formação continuada para os (as) profis- nhamento da evolução salarial por meio de indicadores da Pesqui-
sionais da educação de outros segmentos que não os do magistério, sa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, periodicamente
construída em regime de colaboração entre os entes federados; divulgados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
15.12) instituir programa de concessão de bolsas de estudos tatística - IBGE;
para que os professores de idiomas das escolas públicas de edu- 17.3) implementar, no âmbito da União, dos Estados, do Dis-
cação básica realizem estudos de imersão e aperfeiçoamento nos trito Federal e dos Municípios, planos de Carreira para os (as) pro-
países que tenham como idioma nativo as línguas que lecionem; fissionais do magistério das redes públicas de educação básica, ob-
15.13) desenvolver modelos de formação docente para a edu- servados os critérios estabelecidos na Lei no 11.738, de 16 de julho
cação profissional que valorizem a experiência prática, por meio de 2008, com implantação gradual do cumprimento da jornada de
da oferta, nas redes federal e estaduais de educação profissional, trabalho em um único estabelecimento escolar;
de cursos voltados à complementação e certificação didático-peda- 17.4) ampliar a assistência financeira específica da União aos
gógica de profissionais experientes. entes federados para implementação de políticas de valorização
Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta dos (as) profissionais do magistério, em particular o piso salarial
por cento) dos professores da educação básica, até o último ano nacional profissional.
de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as) profissionais Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de
da educação básica formação continuada em sua área de atuação, planos de Carreira para os (as) profissionais da educação básica e su-
considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos perior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de Car-
sistemas de ensino. reira dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar como
referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal,
Estratégias: nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal.
16.1) realizar, em regime de colaboração, o planejamento estra-
tégico para dimensionamento da demanda por formação continuada Estratégias:
e fomentar a respectiva oferta por parte das instituições públicas de 18.1) estruturar as redes públicas de educação básica de modo
educação superior, de forma orgânica e articulada às políticas de que, até o início do terceiro ano de vigência deste PNE, 90% (no-
formação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; venta por cento), no mínimo, dos respectivos profissionais do ma-

Didatismo e Conhecimento 48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
gistério e 50% (cinquenta por cento), no mínimo, dos respectivos 19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
profissionais da educação não docentes sejam ocupantes de cargos a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com o intuito
de provimento efetivo e estejam em exercício nas redes escolares de coordenar as conferências municipais, estaduais e distrital bem
a que se encontrem vinculados; como efetuar o acompanhamento da execução deste PNE e dos
18.2) implantar, nas redes públicas de educação básica e supe- seus planos de educação;
rior, acompanhamento dos profissionais iniciantes, supervisiona- 19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, a cons-
dos por equipe de profissionais experientes, a fim de fundamentar, tituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e associações de
com base em avaliação documentada, a decisão pela efetivação pais, assegurando-se lhes, inclusive, espaços adequados e condi-
após o estágio probatório e oferecer, durante esse período, curso ções de funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação
de aprofundamento de estudos na área de atuação do (a) professor orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas re-
(a), com destaque para os conteúdos a serem ensinados e as meto- presentações;
dologias de ensino de cada disciplina; 19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de conselhos
18.3) realizar, por iniciativa do Ministério da Educação, a cada escolares e conselhos municipais de educação, como instrumentos
2 (dois) anos a partir do segundo ano de vigência deste PNE, prova de participação e fiscalização na gestão escolar e educacional, in-
nacional para subsidiar os Estados, o Distrito Federal e os Municí- clusive por meio de programas de formação de conselheiros, asse-
pios, mediante adesão, na realização de concursos públicos de ad- gurando-se condições de funcionamento autônomo;
missão de profissionais do magistério da educação básica pública; 19.6) estimular a participação e a consulta de profissionais da
18.4) prever, nos planos de Carreira dos profissionais da edu- educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos
cação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, licenças político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão esco-
remuneradas e incentivos para qualificação profissional, inclusive lar e regimentos escolares, assegurando a participação dos pais na
em nível de pós-graduação stricto sensu; avaliação de docentes e gestores escolares;
18.5) realizar anualmente, a partir do segundo ano de vigência 19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, adminis-
deste PNE, por iniciativa do Ministério da Educação, em regime trativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de ensino;
de colaboração, o censo dos (as) profissionais da educação básica 19.8) desenvolver programas de formação de diretores e ges-
tores escolares, bem como aplicar prova nacional específica, a fim
de outros segmentos que não os do magistério;
de subsidiar a definição de critérios objetivos para o provimento
18.6) considerar as especificidades socioculturais das escolas
dos cargos, cujos resultados possam ser utilizados por adesão.
do campo e das comunidades indígenas e quilombolas no provi-
Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública
mento de cargos efetivos para essas escolas;
de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do
18.7) priorizar o repasse de transferências federais voluntá-
Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de vigência
rias, na área de educação, para os Estados, o Distrito Federal e
desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do
os Municípios que tenham aprovado lei específica estabelecendo
PIB ao final do decênio.
planos de Carreira para os (as) profissionais da educação;
18.8) estimular a existência de comissões permanentes de pro- Estratégias:
fissionais da educação de todos os sistemas de ensino, em todas as 20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e sus-
instâncias da Federação, para subsidiar os órgãos competentes na tentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da educação
elaboração, reestruturação e implementação dos planos de Carreira. básica, observando-se as políticas de colaboração entre os entes
Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para federados, em especial as decorrentes do art. 60 do Ato das Dis-
a efetivação da gestão democrática da educação, associada a crité- posições Constitucionais Transitórias e do § 1o do art. 75 da Lei
rios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comu- no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que tratam da capacidade de
nidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos atendimento e do esforço fiscal de cada ente federado, com vistas a
e apoio técnico da União para tanto. atender suas demandas educacionais à luz do padrão de qualidade
nacional;
Estratégias: 20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompanha-
19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias da mento da arrecadação da contribuição social do salário-educação;
União na área da educação para os entes federados que tenham 20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do ensino, em
aprovado legislação específica que regulamente a matéria na área acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. 212 da Cons-
de sua abrangência, respeitando-se a legislação nacional, e que tituição Federal, na forma da lei específica, a parcela da participa-
considere, conjuntamente, para a nomeação dos diretores e dire- ção no resultado ou da compensação financeira pela exploração
toras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem de petróleo e gás natural e outros recursos, com a finalidade de
como a participação da comunidade escolar; cumprimento da meta prevista no inciso VI do caput do art. 214 da
19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos (às) con- Constituição Federal;
selheiros (as) dos conselhos de acompanhamento e controle social 20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que assegu-
do Fundeb, dos conselhos de alimentação escolar, dos conselhos rem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da Lei Complemen-
regionais e de outros e aos (às) representantes educacionais em tar no 101, de 4 de maio de 2000, a transparência e o controle social
demais conselhos de acompanhamento de políticas públicas, ga- na utilização dos recursos públicos aplicados em educação, espe-
rantindo a esses colegiados recursos financeiros, espaço físico cialmente a realização de audiências públicas, a criação de por-
adequado, equipamentos e meios de transporte para visitas à rede tais eletrônicos de transparência e a capacitação dos membros de
escolar, com vistas ao bom desempenho de suas funções; conselhos de acompanhamento e controle social do Fundeb, com

Didatismo e Conhecimento 49
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
a colaboração entre o Ministério da Educação, as Secretarias de
Educação dos Estados e dos Municípios e os Tribunais de Contas A PORTARIA/SEC Nº 1.128/2010, DE 27 DE
da União, dos Estados e dos Municípios;
20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Estu-
JANEIRO 2010, PUBLICADA NO DIÁRIO
dos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estudos e OFICIAL DO ESTADO EM 28 DE JANEIRO
acompanhamento regular dos investimentos e custos por aluno da DE 2010.
educação básica e superior pública, em todas as suas etapas e mo-
dalidades;
20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, será
implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, referencia- PORTARIA Nº 1.128/2010 - Reorganização Curricular das
do no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação Escolas da Educação Básica da Rede Pública Estadual.
educacional  e cujo financiamento será  calculado com base nos
respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensino-apren-
dizagem e será progressivamente reajustado até a implementação O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAH-
plena do Custo Aluno Qualidade - CAQ; IA, no uso de suas atribuições, e considerando:
20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como
parâmetro para o financiamento da educação de todas etapas e A necessidade de realizar ajustes na organização curricular da
modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do acom- escola de educação básica (ensinos fundamental e médio), tendo em
panhamento regular dos indicadores de gastos educacionais com vista os dados levantados pelo Programa Escola 10, no que tange
investimentos em qualificação e remuneração do pessoal docente às adequações dos componentes curriculares da parte diversificada.
e dos demais profissionais da educação pública, em aquisição, ma- • A premente necessidade de realizar modificações na or-
nutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos ganização curricular da escola de educação básica (ensinos funda-
necessários ao ensino e em aquisição de material didático-escolar, mental e médio), tendo em vista a consolidação das aprendizagens
alimentação e transporte escolar; da base nacional comum.
20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e será
continuamente ajustado, com base em metodologia formulada RESOLVE
pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado pelo Fórum
Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Nacional de Educa- Art. 1º - Ficam Canceladas todas as disciplinas de cunho estrita-
ção - CNE e pelas Comissões de Educação da Câmara dos Deputa- mente profissional da organização curricular do segundo segmento
dos e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal; do ensino fundamental, em todas as escolas da rede pública estadual.
20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211
da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei com- Parágrafo único – Esse ato fundamenta-se no disposto pela
plementar, de forma a estabelecer as normas de cooperação entre a Resolução CNE/CES Nº. 3/98, ao propugnar que “não haverá dis-
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em matéria sociação entre a formação geral e a preparação para o trabalho,
educacional, e a articulação do sistema nacional de educação em nem esta se confundirá com a formação profissional”.
regime de colaboração, com equilíbrio na repartição das responsa-
bilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redis- Art. 2º - Considerar que as indicações para a organização da
tributiva e supletiva da União no combate às desigualdades educa- parte diversificada do currículo da educação básica devem estar
cionais regionais, com especial atenção às regiões Norte e Nordest apoiadas no Anexo II da Portaria Nº. 1.285/2000, publicada do
20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementação DOE em 28 de janeiro de 2000, exceto Educação Ambiental, que
de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e não condiz com o § 1º do Art. 10 da Lei Nº. 9.795/99, não se tradu-
aos Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi e, zindo, todavia, as citadas indicações em componentes curriculares
posteriormente, do CAQ; de cunho profissionalizante.
20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de Responsabili-
dade Educacional, assegurando padrão de qualidade na educação § 1º - Ficam extintas, doravante, todas as disciplinas cuja deno-
básica, em cada sistema e rede de ensino, aferida pelo processo minação seja Educação Ambiental ou Estudos Ambientais, nas matri-
de metas de qualidade aferidas por institutos oficiais de avaliação zes curriculares da escola pública da rede estadual de educação básica.
educacionais; § 2º - A educação ambiental deve estar contida nas orientações
20.12) definir critérios para distribuição dos recursos adicio- do Programa de Educação Ambiental do Sistema Educacional –
nais dirigidos à educação ao longo do decênio, que considerem ProEASE, em que todas as escolas estão aptas a participar.
a equalização das oportunidades educacionais, a vulnerabilidade § 3º - O ProEASE incluirá preocupação sobre os ambientes
socioeconômica e o compromisso técnico e de gestão do sistema naturais e o uso ecoeficiente dos recursos naturais como a água,
de ensino, a serem pactuados na instância prevista no § 5o do art. gastos supérfluos de energia e a lida pela redução de resíduos.
7o desta Lei.
Art. 3º - A Portaria N.º 1.892/2008, que formaliza a progra-
mação dos Projetos Sócio-Educativos está suspensa em 2010, rei-
terando-se que a revisão e reorganização das matrizes curriculares
dos ensinos fundamental e médio terão como foco as aprendiza-
gens prioritárias decorrentes da base nacional comum.

Didatismo e Conhecimento 50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Art. 4º - A presente Portaria estabelece o currículo referencia- d. Escola Aberta
do, com ênfase no cuidado para com os componentes da base na- e. Ensino Médio Inovador
cional comum, sem nenhum componente de natureza estritamente f. Ensino Médio no Campo com Intermediação Tecnológi-
profissional no segundo segmento do ensino fundamental e no en- ca
sino médio, exceto o vinculado diretamente com a formação pro- g. Pro-Jovem Campo/Saberes da Terra
fissional técnica de nível médio assegurado pela Superintendência h. Escola Ativa
de Educação Profissional – SUPROF. i. Rede das Escolas Famílias Agrícolas
j. Artes (Festival Anual da Canção Estudantil; Artes Vi-
Parágrafo único – Entende-se como currículo referenciado o suais Estudantis; Tempos de Arte Literária) k. Ressignificação da
que privilegia a ênfase nos componentes curriculares da base na- Dependência
cional comum, vistos como fonte técnica de apropriação dos con- l. Educação Ambiental – ProEASE
teúdos universalmente aceitos para a estruturação dos currículos m. Altas Habilidades
escolares e, sobremaneira, o alcance disso na ordem social, em n. Gestar
que a escola formal se constitui em um dos elementos essenciais. o. Jogos Estudantis da Rede Pública

Art. 5º - O currículo referenciado da educação básica da rede Parágrafo único – Subentende-se que o ato contido no caput di-
pública de escolas estaduais será constituído à luz das Diretrizes reciona a ação educativa da escola para valorização da base nacional
Curriculares Nacionais em vigência. comum e seus efeitos na ordem social a partir da escolarização for-
malizada, ficando estes mencionados projetos e programas na pauta
§ 1º - Para a escola de ensino fundamental, reitera-se a Reso- da programação da carga horária docente fora do âmbito dos com-
lução CNE/CES Nº. 2/98, destacando-se que as áreas de conhe- ponentes listados no currículo referenciado, no limite de 20 horas.
cimento ali mencionadas devem enfatizar a correlação entre as
disciplinas formais destas áreas com a vida cidadã, por intermédio Art. 9º - O Anexo I estabelece o padrão de organização curri-
dos nexos transversais entre estas ditas disciplinas e os campos da cular que sustenta a noção de currículo referenciado e se constitui
saúde, sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente, traba- no fundamento para as unidades escolares realizarem a programa-
lho, ciência e tecnologia, cultura e linguagens. ção de carga horária dos docentes.
§ 2º - Para a escola de ensino médio, reitera-se a Resolução
CNE/CES Nº. 3/98, destacando-se as referências da organização Art. 10º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publica-
curricular nas três áreas de conhecimento constantes nesta Reso- ção e os casos omissos serão resolvidos pelo núcleo inter-setorial
lução e, também, a importância dos princípios da interdisciplina- da Secretaria da Educação.
ridade e contextualização no desenvolvimento das atividades es-
colares. Salvador, 27 de janeiro de 2010.
§ 3º - Considera-se a Diretoria Regional de Educação – DI-
REC como órgão responsável pela supervisão da proposta curri- OSVALDO BARRETO FILHO
cular advinda das escolas, estando apta para efetuar ajustes e su- Secretário da Educação
gerir alterações para, em seguida, notificar a Superintendência de
Desenvolvimento da Educação Básica – SUDEB sobre a finaliza-
ção da proposição de cada escola, cabendo à mesma a o registro e Anexo I
acompanhamento gerencial. Matriz Curricular Referenciada
MODELO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL DIURNO
Art. 6º - A formação profissional técnica de nível médio pode-
rá conter componentes de profissionalização no sentido estrito, nos Ensino Fundamental
termos das orientações legais advindas do Ministério de Educação 5ª 6ª 7ª 8ª
(2º segmento)
e do Conselho Nacional de Educação.
I – BASE
Art. 7º - Ficam estabelecidas as datas 11 de fevereiro de 2010 NACIONAL
para a conclusão dos trabalhos de organização do currículo pelas COMUM
escolas e seu encaminhamento para a DIREC e 19 de fevereiro de
2010 para a remessa de cada DIREC para a SUDEB.
Português 04 04 04 04
Art. 8º - Estabelecem-se os projetos relacionados a seguir Matemática 04 04 04 04
como aqueles referendados pela Secretaria da Educação para que Geografia 03 03 03 03
as unidades escolares realizem suas programações institucionais História 03 03 03 03
correlatas à programação de carga horária e institucionalização de Ciências 03 03 03 03
projetos. Artes 02 02 02 02
Ed. Física 02 02 02 02
a. Mais Educação Ed. Religiosa xx xx xx xx
b. Centro Juvenil de Ciência e Cultura Sub Total 21 21 21 21
c. Escola de Tempo Integral

Didatismo e Conhecimento 51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
II – PARTE DIVERSIFICADA
Eixo Temático 1 – Meio Ambiente

Foco: Recursos Naturais 02


Eixo Temático 2 – Ciência e Tecnologia
Foco: Leitura de Rótulos de Alimentos 02
Eixo Temático 3 – Identidade e Cultura
Foco: Território, memória histórica e identidade 02
Eixo Temático 4 – Linguagens e Comunicação
Foco: Língua Estrangeira Moderna 02 02 02 02
Eixo Temático 5 – Cidadania
Foco: Consumo e Cidadania 02
Sub Total 04 04 04 04
III- ESTUDOS TRANSVERSAIS xx xx xx xx
TOTAL 25 25 25 25

Nota:
1. Na Parte Diversificada, os docentes serão destinados aos Eixos Temáticos; os focos sobre os quais são materializadas as atividades
didáticas destes citados Eixos são produtos de orientações das escolas e, no caso de haver mais de um deles, será necessária a avaliação sobre
qual (is) Eixo (s) deixará (ão) de ser oferecidos. Os Focos impressos nesta matriz se constituem apenas em exemplos possíveis, com exceção
de Língua Estrangeira Moderna. Caberá, portanto, à Unidade Escolar definir os focos respectivos de cada Eixo.
2. Educação Religiosa é um componente desdobrado em atividades a ser desenvolvida em dias específicos, previstos no Projeto
Político Pedagógico, sem notas/conceitos para efeito de promoção, a ser realizado de forma a assegurar o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil.
3. Arte tem sua dimensão cultural e se propõe a valorizar as possibilidades criadoras e discutir a inserção da arte na sociedade como
elemento dinamizador da cultura.
4. Estudos transversais apontados no Projeto Político Pedagógico, especificados nas disciplinas correspondentes e nas devidas uni-
dades didáticas, sobre as temáticas:
Estudos transversais sobre a temática da Lei Nº. 11.645/2008 – Educação das Relações Étnico-raciais.
a) Estudos transversais sobre a temática da Lei Nº. 9.795/99 – Educação Ambiental no Sistema Educacional.
b) Estudos transversais sobre a temática do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.

5. A Matriz Curricular para a Educação Fundamental para adolescentes de 15 a 17 anos, será objeto de uma Portaria específica.
Matriz Curricular Referenciada
MODELO PARA O ENSINO MÉDIO DIURNO

COMPONENTES CURRICULARES Séries

1ª 2ª 3ª

SEM ANO SEM ANO SEM ANO

I – BASE NACIONAL COMUM

Área de Linguagens, Códigos e suas tecnologias


Ling. Portuguesa e Lit. Brasileira 03 120 03 120 03 120
Educação Física 02 80 02 80 01 40
Arte 02 80 atividade ---- atividade ---
Informática atividade --- atividade --- atividade ---

Didatismo e Conhecimento 52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Sub-total 07 280 05 200 04 160
Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias
Matemática 03 120 03 120 03 120
Química 02 80 02 80 02 80
Física 02 80 02 80 02 80
Biologia 02 80 02 80 02 80
Sub-total 09 360 09 360 09 360
Área de Ciências Humanas e suas tecnologias
História 02 80 02 80 02 80
Geografia 02 80 02 80 02 80
Filosofia 01 40 02 80 02 80
Sociologia 01 40 02 80 02 80
Sub Total 06 240 08 320 08 320
II – PARTE DIVERSIFICADA
Componente Curricular de uma das áreas do 01 40 01 40 02 80
conhecimento
Língua Estrangeira 02 80 02 80 02 80
Sub Total
03 120 03 120 04 160
TOTAL
25 1000 25 1000 25 1000
III – Estudos Transversais xx --- xx --- xx ---

Nota:
1. O foco dessa organização curricular está dirigido para os conteúdos universais e a Parte Diversificada visa à consolidação da habi-
lidade próprias da escrita e do conhecimento em Língua Estrangeira, como acentuam as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio.
2. O desenvolvimento de Informática será através de atividades previstas no Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar.
3. Arte tem sua dimensão cultural e se propõe a valorizar as possibilidades criadoras e discutir a inserção da arte na sociedade como
elemento dinamizador da cultura.
4. A organização da carga horária de Filosofia e Sociologia, componentes obrigatórios em todas as séries do ensino médio está feita
considerando os aspectos: uma carga horária destinada à iniciação ao pensamento filosófico e sociológico no primeiro ano e outra que possa
se tornar compatível com a possibilidade de sua consolidação nos anos seguintes.
5. Estudos transversais apontados no Projeto Político Pedagógico, especificados nas disciplinas correspondentes e nas devidas uni-
dades didáticas, sobre as temáticas:

a) Estudos transversais sobre a temática da Lei Nº. 11.645/2008 – Educação das Relações Étnico-raciais.
b) Estudos transversais sobre a temática da Lei Nº. 9.795/99 – Educação Ambiental no Sistema Educacional.
c) Estudos transversais sobre a temática do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.
d) Estudos transversais sobre a temática da Lei N.º 10.741/03 – Estudo sobre Idosos.

1. O Componente Curricular da parte diversificada exceto Língua Estrangeira poderá ser conduzida de modo que em cada trimestre,
semestre ou ano letivo, seja ofertado um componente diferente entre si. Exemplos: Redação, Cartografia, Estatística, dentre outros.
2. A Matriz Curricular para o turno noturno do Ensino Médio será objeto de uma Portaria específica em conjunto com a Educação
Fundamental para adolescentes de 15 a 17 anos.

Didatismo e Conhecimento 53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
Art. 6º A recuperação paralela tem como objetivos:
A PORTARIA/SEC N º 1882/2013, I - identificar as aprendizagens adquiridas e as dificuldades
dos(as) estudantes;
PUBLICADA NO DIÁRIO OFICIAL DO
II - promover processualmente, na unidade didática, avalia-
ESTADO, EM DE 03 DE ABRIL DE 2013. ções que visem à superação dessas dificuldades de aprendizagem
apresentadas no itinerário formativo do(a) estudante;
III - adequar estratégias de ensino;
IV - oferecer oportunidades de aprendizagens com ações
PORTARIA Nº 1882/2013. que contribuam para que as dificuldades diagnosticadas possam
ser superadas, e;
Dispõe sobre a sistemática de Avaliação do Ensino e da V - acompanhar o desenvolvimento do(a) estudante para
Aprendizagem nas Unidades Escolares da Educação Básica da construção de aprendizagens.
Rede Pública Estadual. O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO DO
ESTADO DA BAHIA, no uso de suas atribuições, e considerando Art. 7º Os estudos paralelos de recuperação consistem em
o disposto: no artigo 24, inciso V, alínea a e da Lei de Diretrizes e momentos planejados e articulados ao andamento dos estudos no
Bases da Educação Nacional (LDB) cotidiano da sala de aula, possibilitando reflexões com vistas aos
avanços de aprendizagem dos(as) estudantes.
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; nos artigos 45 a 50,
que tratam da sistemática da avaliação da aprendizagem; artigos Art. 8º A avaliação da aprendizagem com os estudos da recu-
55 a 59, que tratam dos estudos de recuperação paralela todos do peração paralela devem ser desenvolvidos observando as seguintes
Regimento Escolar Comum, aprovado pela Portaria nº 5.872, de orientações:
15 de julho de 2011; no art. 14 da Resolução CEE n. 127/1997, I - no primeiro momento avaliativo do componente curri-
RESOLVE: cular, o professor deverá utilizar instrumentos avaliativos diversi-
ficados e definir os seus valores, gerando a NOTA 1 como resul-
Art. 1º Estabelecer orientações específicas sobre a sistemática
tado do somatório desses valores atribuídos em cada instrumento
da Avaliação do Ensino e da Aprendizagem a serem adotadas nas
utilizado;
Unidades Escolares da Educação Básica da Rede Pública Estadual.
II - no caso de observar lacunas no desenvolvimento de
habilidades e competências previstas para esse momento previsto
Art. 2º A Avaliação é um dispositivo pedagógico de formação
no inciso anterior e de identificar aprendizagens não consolidadas
que deve orientar todo o processo de ensino e de aprendizagem
pelos (as) estudantes, o professor deverá implementar no seu pla-
contemplando as dimensões qualitativa e quantitativa, configuran-
nejamento, atividades voltadas para a superação das dificuldades
do-se como uma ação de caráter investigativo, processual, contí-
nuo, cumulativo e emancipatório, tendo como objetivo: diagnosticadas, garantindo assim, o processo de recuperação para-
lela a ser realizado no segundo momento avaliativo;
I - Realizar o diagnóstico e o acompanhamento das aprendi- III - no segundo momento avaliativo do componente curricu-
zagens; II - realizar a revisão e o planejamento dos procedimentos lar, o professor deverá utilizar instrumentos avaliativos diversifica-
de ensino e; III - maximizar o aproveitamento escolar. dos e definir os seus valores, gerando a NOTA 2 como resultado do
somatório desses valores atribuídos em cada instrumento utilizado;
Art. 3º Cabe à Unidade Escolar, no desenvolvimento do pro- IV - no caso de observar lacunas no desenvolvimento de ha-
cesso de avaliação do ensino e da aprendizagem, realizar no míni- bilidades e competências previstas para esse momento previsto no
mo, 3 (três) avaliações em cada unidade didática através de testes, inciso III e de identificar aprendizagens não consolidadas pelos
provas, trabalho de pesquisa individual ou em grupo, além de ou- (as) estudantes, o professor deverá implementar no seu planeja-
tros instrumentos didáticos para construção de aprendizagens e/ mento, atividades voltadas para a superação das dificuldades diag-
ou revisão de aprendizagens já construídas, conforme disposto no nosticadas, garantindo assim, o processo de recuperação paralela a
artigo 50 do Regimento Escolar. ser realizado no terceiro momento avaliativo;
V - no terceiro momento avaliativo do componente curricu-
Art. 4º Além das avaliações previstas no artigo anterior, as lar, o professor deverá utilizar instrumentos avaliativos diversifica-
Unidades Escolares deverão desenvolver, durante todo o percurso dos e definir os seus valores, gerando a NOTA 3 como resultado do
das unidades didáticas, estudos e atividades de recuperação parale- somatório desses valores atribuídos em cada instrumento utilizado;
la, obedecendo aos mesmos procedimentos e critérios das demais VI - no caso de observar lacunas no desenvolvimento de
avaliações didáticas. habilidades e competências previstas para esse momento e de
identificar aprendizagens não consolidadas pelos(as) estudantes,
Art. 5º A recuperação paralela é um momento avaliativo que o professor deverá implementar no seu planejamento, atividades
se configura como uma estratégia de recuperação processual da voltadas para a superação das dificuldades diagnosticadas, garan-
aprendizagem devendo ser planejada em todas as unidades didá- tindo assim, o processo de recuperação paralela a ser realizado na
ticas, com foco nas aprendizagens que não foram consolidadas, próxima unidade didática.
refletido no aproveitamento escolar adquirido na avaliação parcial § 1º Caso o professor opte por utilizar mais de três avaliações
em um ou mais componentes curriculares. na unidade didática deverá seguir as mesmas orientações acima,
quanto ao processo da recuperação paralela da aprendizagem.

Didatismo e Conhecimento 54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
§ 2º As atividades avaliativas referentes à recuperação paralela (A) dois anos.
serão realizadas conforme planejamento do professor no momento (B) cinco anos.
avaliativo de cada unidade ou na unidade didática subsequente e (C) oito anos.
todos (as) os(as) estudantes devem participar das aulas e atividades (D) dez anos.
de revisão do conteúdo estudado, de modo a fortalecer a aprendi-
zagem, garantindo outra oportunidade a quem não obteve êxito. 03. (CESPE) Tomando como referência a Proposta Pedagógi-
§ 3º Os valores atribuídos e resultantes do processo de recu- ca da instituição educacional, assinale a opção correta.
peração paralela serão refletidos no resultado das avaliações sub- (A) Os projetos desenvolvidos no âmbito de cada instituição
sequentes previsto em cada momento avaliativo e nas unidades educacional devem ser padronizados e válidos para todas as insti-
didáticas. tuições educacionais.
§ 4º Para efeito de resultado final da unidade didática e regis- (B) Para cada instituição educacional, deve haver uma diretriz
tro no SGE, será considerada sempre a nota obtida pelo (a) estu- que contemple a realidade da comunidade escolar.
dante em cada componente curricular, observando o somatório das (C) Cada instituição educacional deve buscar sua identidade,
notas de cada momento avaliativo realizado. de modo a contemplar sua realidade e sua especificidade.
(D) A elaboração e a vivência da Proposta Pedagógica da ins-
Art. 9º Fica estabelecido que os (as) estudantes dos três pri- tituição educacional devem refletir o pensamento e a identidade
meiros anos do Ensino fundamental deverão ser avaliados nos de seu gestor.
termos do artigo 2º desta Portaria, devido a não retenção nesse
período, conforme dispõe a Resolução CNE/CEB Nº 07, de 14 de 04. (CESPE) O processo de inclusão escolar preconiza a
Dezembro de 2010. igualdade de oportunidades para todos os alunos, indistintamente,
sem exclusão das minorias. Com relação a esse tema, assinale a
Art. 10. Todos (as) os (as) estudantes terão direito aos estudos opção correta.
de recuperação paralela e, aqueles, que por motivos devidamente (A) Inclusão escolar estabelece que a reorganização da insti-
justificáveis e comprovados, não realizaram algum instrumento de tuição educacional é suficiente para que os alunos tenham acesso
avaliação, deverão, conforme legislação em vigor, solicitar a se- ao ensino de qualidade.
gunda chamada no prazo de 48h (quarenta e oito horas). (B) Os educandos devem ter oportunidades educativas e so-
ciais compatíveis com suas diferenças pessoais, sejam elas altas
Art. 11. A progressão do(a) estudante para a série seguinte habilidades ou limitações no desenvolvimento e na aprendizagem.
está sujeito à aprovação nas disciplinas curriculares assim como a (C) A inclusão visa ao benefício de todos os educandos que
frequência de no mínimo 75% da carga prevista para o ano letivo, apresentam deficiências ou dificuldades de aprendizagem, de
conforme previsto nos artigos 51 a 53 do Regimento Escolar. modo a priorizá-los em relação aos demais grupos minoritários.
(D) A matrícula de alunos com necessidades educacionais es-
Art. 12. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publica- peciais, em classes regulares, é a forma de trabalhar sua diversi-
ção. Art. 13. Ficam revogadas todas as disposições em contrário, dade.
em especial, a Portaria nº 5.520/2012. Salvador, 01 de abril de
2013. Osvaldo Barreto Filho - Secretário da Educação. 05. (CESPE) Assinale a opção correta de acordo com os prin-
cípios norteadores da proposta pedagógica, segundo Ilma P. A.
Questões Veiga.
(A) O princípio da liberdade pressupõe a inexistência de re-
01. Leia as assertivas e assinale a alternativa correspondente: gras e orientações, pois só assim é possível atingir a autonomia
I. O direito à educação e o dever do Estado com a educação plena.
escolar pública está efetivado em lei, por exemplo, mediante a ga- (B) O lócus privilegiado para a realização da formação con-
rantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para tinuada, uma das dimensões da valorização do magistério, são as
os que a ele não tiveram acesso na idade própria. instituições formadoras.
II. A União incumbir-se-á de elaborar o Plano Nacional de (C) A dimensão técnica da qualidade está ligada aos métodos,
Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e instrumentos e técnicas, e sua dimensão política, aos fins, valores
os Municípios. e conteúdos.
III. Os Municípios incumbir-se-ão de organizar, manter e de- (D) Conforme o princípio da igualdade, a expansão de oferta
senvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de en- deve ser prioritária em relação à manutenção da qualidade.
sino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e
dos Estados. 06. (CESPE) O eixo administrativo da proposta pedagógica
(A) Duas assertivas estão corretas. refere-se
(B) As três assertivas estão corretas. (A) a ações voltadas para a melhoria da qualidade de ensino e
(C) Apenas duas assertivas estão corretas. ao atendimento das necessidades básicas de aprendizagem.
(D) Nenhuma das assertivas está correta. (B) à gestão de recursos patrimoniais e à aplicação de recursos
transferidos à escola e é associado, frequentemente, à autonomia.
02. Segundo o Artigo 1º da Lei Federal 10.172/01, fica apro- (C) à prestação de contas, aos acordos de cooperação técnica e
vado o Plano Nacional de Educação, constante do documento ane- à racionalidade interna, vertentes importantes para a concretização
xo, com duração de: dessa proposta.

Didatismo e Conhecimento 55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
(D) à organização da escola em sua totalidade, com destaque EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
para as dimensões da forma de gestão e para o controle social.
01. (ALVORADA DO SUL/PR – PEDAGOGIA – AMEAS/
07. (CESPE) Assinale a opção correta quanto aos critérios PROSPERITY/2014) Para Libâneo (1994) O planejamento esco-
operacionais de avaliação. lar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades
(A) A descentralização das ações de planejamento, execução e em termos de organização e coordenação em face dos objetivos
controle é o mesmo que terceirização. propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do pro-
(B) A relevância diz respeito à consistência interna das ações cesso de ensino. O Planejamento é:
desenvolvidas em relação às diretrizes e metas estabelecidas. A) A utilização dos conhecimentos acumulados dos professo-
(C) A importância das propostas de uma atividade em relação res pelo seu caráter inovador.
a outras áreas ou setores visados é caracterizada como coerência. B) É um documento que formula metas, prevê ações, institui
(D) A concepção, a estruturação e a divulgação são indicado- procedimentos e instrumentos de ação e propõe esforço coletivo.
res relacionados à exequibilidade. C) Um processo de racionalização, organização e coordena-
ção da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemá-
08. (CESPE) Assinale a opção correta acerca da avaliação e tica do contexto social.
de sua relação com a formulação de políticas públicas e a análise D) É uma atividade que não depende de reflexão acerca das
de seus resultados. nossas opções e ações, com relação ao rumo que queremos dar ao
(A) É possível utilizar a avaliação, na organização da agenda nosso trabalho.
política, para se verificar a adequação das metas aos problemas
detectados. O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto
(B) Na fase de implementação de uma política pública, a ava- a previsão das atividades em termos de organização e coordenação
liação tem por finalidade o acompanhamento das ações previstas em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação
pelo gestor. no decorrer do processo de ensino. O planejamento é um meio
(C) O diagnóstico dos problemas educacionais mediante a para programar as ações docentes, mas é também um momento de
avaliação ocorre na fase de avaliação de resultados. pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação.
(D) O momento de obtenção de instrumentos para a tomada de
*Referência:
novas decisões relativas a políticas públicas está ligado à organiza-
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994
ção da agenda política.
(Coleção magistério 2° grau. Série formação do professor).

09. (CESPE) De acordo com as Diretrizes Curriculares Na-
RESPOSTA: “C”.
cionais para a Educação Básica, a educação ambiental
(A) deve ser transversal no ensino médio e específica no en-
02. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
sino fundamental.
(B) consiste no desenvolvimento individual de conteúdos es- REIS & REIS/2013) Segundo Barbosa e Horn, no livro “Projetos
pecíficos das áreas de ciências da terra e da vida. Pedagógicos na Educação Infantil, o que tem sido denominada
(C) é restrita ao ensino presencial, devido às suas caracterís- como Crise na Escola”:
ticas específicas. A) O fato de grande parte de a população ter tido acesso a
(D) é específica, no que se refere às populações indígenas em escolaridade ao longo do século, porem essa frequência não ter
face da realidade desses povos. garantido a aprendizagem;
B) O fato de que apenas 76% da população ter tido acesso a
10. As opções a seguir apresentam destaques da Lei nº escolaridade;
9394/96, à exceção de uma. Assinale-a. C) O fato de que apenas 11% da população ter tido acesso ao
(A) Flexibilidade do currículo – permite a incorporação de ensino superior;
disciplinas considerando o contexto e a clientela. D) Nenhuma das anteriores.
(B) Educação Artística e Ensino Religioso – disciplinas obri-
gatórias no Ensino Básico. Podemos pensar no que tem sido denominado como “crise na
(C) Jornada escolar no Ensino Fundamental – pelo menos escola”, o fato de grande parte da população ter tido acesso à es-
quatro horas em sala de aula. colaridade ao longo do século, porém esta frequência não garantiu
(D) Educação Profissional – constitui um curso independente a aprendizagem. Houve ausência de sentido em frequentar uma
do Ensino Médio. instituição com características do início da modernidade em tem-
(E) Educação organizada em dois níveis – Educação Básica e pos pós-modernos.
Educação Superior.
RESPOSTA: “A”.
Respostas
03. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
01. B/ 02. D/ 03. C/ 04. B/05. C/ REIS & REIS/2013) Com base no Livro “10 Novas Competências
06. D/ 07. D/ 08. B/ 09. D/ 10. B para ensinar”, de Perrenoud, assinale a alternativa que não faz par-
te dessas competências:
A) Organizar e dirigir situações de aprendizagem;

Didatismo e Conhecimento 56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
B) Trabalhar individualmente com foco na execução labora- A) Conhecimento da diversidade de produções artísticas,
tiva; como desenhos, pinturas, esculturas, construções, fotografias, co-
C) Participar da administração da escola; lagens, ilustrações, cinema etc.;
D) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seus tra- B) Apreciação das suas produções e das dos outros, por meio
balhos. da observação e leitura de alguns dos elementos da linguagem
plástica;
As 10 competências são: C) Observação e identificação de imagens diversas;
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; D) Observação dos elementos constituintes da linguagem vi-
2. Administrar a progressão das aprendizagens; sual: ponto, linha, forma, cor, volume, contrastes, luz, texturas.
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferencia-
ção; A instituição deve organizar sua prática em torno da aprendi-
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu tra- zagem em arte, garantindo oportunidades para que as crianças se-
balho; jam capazes de: ampliar o conhecimento de mundo que possuem,
5. Trabalhar em Equipe; manipulando diferentes objetos e materiais, explorando suas ca-
6. Participar da administração da escola; racterísticas, propriedades e possibilidades de manuseio e entrando
7. Informar e envolver os pais; em contato com formas diversas de expressões artísticas; utilizar
8. Utilizar novas tecnologias; diversos materiais gráficos e plásticos sobre diferentes superfícies
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; para ampliar suas possibilidades de expressão e comunicação.
10. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. *Disponível em: unipvirtual.com.br/material/UNIP/LICEN-
CIATURA/.../mod_15.doc
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “C”.
04. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
REIS & REIS/2013) Em crianças de 4 a 6 anos o trabalho com a 06. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
– UNIMONTES/2010) Hoffmann (2002) diferencia pesquisar e
apreciação musical deverá apresentar obras que despertem o dese-
avaliar ao dizer “enquanto a pesquisa tem por objetivo a coleta
jo de ouvir e interagir, pois para essas crianças ouvir é, também,
de informações e a análise e a compreensão dos dados obtidos, a
movimentar-se, já que as crianças percebem e expressam-se glo-
avaliação está predominantemente a serviço da ação, colocando o
balmente. Nesse contexto, essas crianças deverão, exceto:
conhecimento obtido, pela observação ou investigação, a serviço
A) Escutar obras musicais de diversos gêneros, estilos, épo-
da melhoria da situação avaliada”. Nessa perspectiva, analise as
cas e culturas, da produção musical brasileira e de outros povos
afirmativas abaixo.
e países;
1. As ações de observar, compreender, explicar não são de
B) Participar em situações que integrem músicas, canções e
avaliá-las.
movimentos corporais; 2. A avaliação está além da investigação e interpretação.
C) Reconhecer elementos musicais básicos: frases, partes, ele- 3. As mudanças fundamentais na avaliação dizem respeito à
mentos que se repetem etc.; finalidade dos procedimentos avaliativos.
D) Saber informações sobre as obras ouvidas e sobre seus 4. A maioria das escolas iniciam processos de mudanças de-
compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a produção lineando, com os professores, princípios norteadores de suas prá-
musical. ticas.
São CORRETAS as afirmativas
Considerando a idade das crianças nesta etapa, o desenvolvi- A) 1 e 2, apenas.
mento da percepção rítmico-melódica, poderá ser feito de modo B) 3 e 4, apenas.
indireto, através das canções folclóricas como ponto de partida e C) 1, 2 e 3, apenas.
posteriormente canções para serem mimadas, ritmadas que levem D) 2, 3 e 4, apenas.
a movimentos regulares corporais e poderão ser criadas também
canções simples para principiantes. O objetivo principal deve ser Alertam os estudos contemporâneos sobre a diferença entre
de despertar a sensorialidade musical da criança realizando ati- pesquisar e avaliar em educação. “Pesquisa Avaliação” está a ser-
vidades que despertem reações afetivas, devendo o professor Ter viço da ação, colocando o conhecimento obtido, pela observação
preocupação constante com a formação de hábitos auditivos, de- ou investigação, a serviço da melhoria da situação avaliada. Coleta
senvolvimento da memória musical e da atenção, condição essa de informações, análise e compreensão dos dados obtidos.
necessária para o desenvolvimento musical, mas de suma impor- *Texto adaptado de Vânia P. Oliveira.
tância para a educação em geral.
*Texto adaptado de Jane de Oliveira Faria. RESPOSTA: “C”.

RESPOSTA: “B”. 07. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –


UNIMONTES/2010) Para Perrenoud (1999), a avaliação na lógica
05. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I - formativa NÃO deve:
REIS & REIS/2013) No tocante a apreciação em artes visuais, qual A) considerar uma pedagogia diferenciada.
das alternativas abaixo se aplicam as crianças de zero a três anos: B) ser ativa e transmissiva.

Didatismo e Conhecimento 57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
C) ser aberta e cooperativa. não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao diagnóstico e, por
D) ser eficiente. isso mesmo, à inclusão; destina-se a melhoria do ciclo da vida.
Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infelizmente, por nossas
Avaliação formativa é uma avaliação que apresenta as se- experiências histórico-sóciais e pessoais, temos dificuldades em
guintes características: é um instrumento que permite a análise assim compreendê-la e praticá-la.
das aprendizagens dos alunos; ele dá condições ao avaliador de *Referências:
perceber quais os saberes que realmente os alunos dominam; os LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. 8 ed. São
instrumentos utilizados são construídos para atender às caracterís- Paulo: Cortez, 1998.
ticas citadas anteriores; esses instrumentos permitem a realização
da análise das aprendizagens. RESPOSTA: “B”.
*Texto adaptado de Edlene do Socorro Teixeira Rodrigues.
10. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –
RESPOSTA: “B”. UNIMONTES/2010) Para Freire (1996), saber ensinar não é trans-
ferir conhecimento e, sim:
08. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – A) criar as possibilidades para a própria produção ou sua
UNIMONTES/2010) O ato de planejar é uma atividade intencio- construção.
nal pela qual se projetam fins e se estabelecem meios para atingi- B) entender que o ensino exige a consciência do fim.
los. (LUCKESI, 1999) Ao fazer essa afirmativa, o autor: C) respeitar a autonomia do ser professor.
A) enfatiza a neutralidade do planejamento. D) compreender que o ensinar exige o distanciamento da rea-
B) reitera que o planejamento tem fim em si mesmo. lidade.
C) lembra a burocratização do planejamento. Freire considera que: “Ensinar não é transferir conhecimento,
D) acredita que o planejamento é ideologicamente compro- mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua constru-
metido. ção” (FREIRE, 1996). Dito de outra forma, o docente deve trans-
O ato de planejar não é um ato simplesmente técnico. Assim mitir o conhecimento buscando proporcionar ao discente a com-
como também não é um ato exclusivamente político-filosófico. Se- preensão do que foi exposto e, a partir daí, permitir que o mesmo
gundo o autor, esse ato será, sim, ao mesmo tempo político-social, dê um novo sentido, quer dizer, a ideia é não dar respostas prontas,
científico e técnico. Não basta pensar nos meios, nas técnicas e na mas criar possibilidades, abrir oportunidades de indagações e su-
sofisticação dos recursos tecnológicos, afirma o autor. Eles são ne- gestões, de raciocínio, de opiniões diversas etc. Jamais impedir as
cessários, mas como meios. Importa que a prática de planejar em interações, as opiniões, os erros e os acertos, isto é, todos esses ele-
todos os níveis – educacional, curricular e de ensino -- ultrapasse mentos permitirão que o aluno alcance o real conhecimento e con-
a dimensão técnica, integrando-a numa dimensão político-social. tinue a buscá-lo incessantemente de forma autônoma e prazerosa.
O ato de planejar, assim assumido, deixará de ser um simples es- *Referências:
truturar de meios e recursos, para tornar-se o momento de decidir FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários
sobre a construção de um futuro. “O ato de planejar é a atividade à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem meios para
atingi-los. Por isso, não é neutro, mas ideologicamente compro- RESPOSTA: “A”.
metido.”
* Texto adaptado de Cipriano Carlos Luckesi. Disponível em 11. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/int_a.php?t=014 – UNIMONTES/2010) Transformar a experiência educativa em
puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamen-
RESPOSTA: “D”. talmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.
(FREIRE, 1996) Considerando o pensamento do autor, marque V
09. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – para verdadeiro e F para falso, nas seguintes afirmativas:
UNIMONTES/2010) De acordo com Luckesi (1999), é importan- ( ) Educar é exercitar o bom senso.
te estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da ( ) Educar é essencialmente formar.
aprendizagem, que é de diagnóstico. Dessa forma, a avaliação cria ( ) Educar relaciona-se à alegria e à esperança.
a base para a tomada de decisão. Articuladas com essa função bá- ( ) Educar é estimular a pergunta e sua reflexão crítica.
sica estão, EXCETO: A sequência CORRETA é:
A) a função de motivar o crescimento. A) V, V, V, V.
B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do educan- B) F, F, F, F.
do quanto da família. C) V, F, V, V.
C) a função de aprofundamento da aprendizagem. D) F, V, F, V.
D) a função de auxiliar a aprendizagem.
Transformar a experiência educativa em puro treinamento
Segundo Luckesi, a avaliação da aprendizagem deverá ter técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no
como premissa a função ontológica (constitutiva), pois busca re- exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natu-
soluções para as decisões e não um julgamento definitivo. O ato reza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio
de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina a um jul- à formação moral do educando (FREIRE, 1996).
gamento “definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou situação, pois *Referências:

Didatismo e Conhecimento 58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários sino propostos ou impostos aos professores. Portanto, poder-se-ia
à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. dizer que, assumida pelo sistema, a progressão não exige nenhuma
competência particular dos professores. Em uma cadeia de mon-
RESPOSTA: “A”. tagem, se os engenheiros conceberam bem a sucessão das tarefas,
cada operário contribui para fazer com que o produto progrida para
12. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – seu estado final sem que seja necessária a tomada de decisões es-
UNIMONTES/2010) Para Libâneo (1994), as práticas educativas tratégicas. A estratégia é inteiramente incorporada ao dispositivo
podem verdadeiramente determinar as ações da escola e seu com- de produção, e os trabalhadores podem limitar-se às suas tarefas,
prometimento social com a transformação. Daí a importância da sem tomar iniciativas intempestivas. Deles se espera uma forma
relação entre ensino e aprendizagem no espaço educativo. Com de habilidade e ajustes marginais dados às operações previstas em
base nas ideias do autor, é INCORRETO afirmar que: razão de pequenas variações dos materiais e das condições de tra-
A) a aprendizagem é uma relação cognitiva entre os aprendi- balho. Não cabe a eles pensar a totalidade do processo. O processo
zes e os objetos de conhecimento. é diferente na escola porque não se podem programar as aprendi-
B) a aprendizagem no ambiente escolar é natural e casual. zagens humanas como a produção de objetos industriais. Não é
C) a assimilação de conhecimentos deriva da reflexão propor- somente uma questão de ética. E simplesmente impossível, devido
cionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações mentais. à diversidade dos aprendizes e à sua autonomia de sujeitos. Desse
D) o ato de aprender é um ato de conhecimento. modo todo ensino digno desse nome deveria ser estratégico, ou
seja, concebido em uma perspectiva em longo prazo, cada ação
O autor coloca que as práticas educativas é que verdadeira- sendo decidida em função de sua contribuição almejada à progres-
mente podem determinar as ações da escola e seu comprometi- são ótima das aprendizagens de cada um.
mento social com a transformação. Afirma que a pedagogia inves- *Disponível em: http://cappf.org.br/tiki-download_wiki_atta-
tiga estas finalidades da educação na sociedade e a sua inserção na chment.php?attId=231
mesma, diz que a Didática é o principal ramo de estudo da peda-
gogia para poder estudar melhor os modos e condições de realizar- RESPOSTA: “C”.
mos o ensino e instrução. A escolarização é o processo principal
para oferecer a um povo sua real possibilidade de ser livre e buscar 14. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –
nesta mesma medida participar das lutas democráticas, o autor en- UNIMONTES/2010) Na concepção de Hernandez (1998), os pro-
dente democracia como um conjunto de conquistas de condições jetos constituem um “lugar”, entendido em sua dimensão simbóli-
sociais, políticas e culturais, pela maioria da população para parti- ca, que podem permitir, EXCETO:
cipar da condução de decisões políticas e sociais (Libâneo, 1994). A) aproximar-se da identidade dos alunos e favorecer a cons-
*Referências: trução da subjetividade.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para que? B) considerar o que ocorre fora da escola, nas transformações
12. ed. São Paulo : Cortez, 2010. sociais e dos saberes.
C) entender que a proposta curricular precisa estar em sintonia
RESPOSTA: “B”. com os interesses e necessidades dos alunos.
D) assumir a organização do currículo por disciplina, enquan-
13. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – to representação do conhecimento fragmentado.
UNIMONTES/2010) Para gerir a progressão das aprendizagens,
não se pode deixar de fazer balanços periódicos das aquisições Os projetos constituem um “lugar”, entendido em sua dimen-
dos alunos. (PERRENOUD, 1999) Analisando a citação acima, é são simbólica, que pode permitir:
CORRETO afirmar que o autor: - Aproximar-se da identidade dos alunos e favorecer a cons-
I - considera esses balanços essenciais para fundamentar as trução da subjetividade, longe de um prisma paternalista, gerencial
decisões do professor quanto à aprendizagem do aluno. ou psicologista, o que implica considerar que a função a Escola
II - enfatiza que tais balanços deveriam confirmar e aprimorar não é apenas ensinar conteúdos, nem vincular a instrução com a
o que o professor já sabe. aprendizagem.
III - adverte que os balanços dispensam a observação contí- - Revisar a organização do currículo por disciplinas e a manei-
nua. ra de situá-lo no tempo e nos espaços escolares.
IV - pondera que os balanços devem também contribuir para - Levar em conta o que acontece fora da Escola, nas transfor-
estratégias de ensino-aprendizagem. mações sociais e nos saberes, a enorme produção de informação
Estão CORRETA(S) a(s) afirmativa(s): que caracteriza a sociedade atual, e aprender a dialogar de uma
A) I e III, apenas. maneira crítica com todos esses fenômenos.
B) II, apenas. *Referências:
C) I, II e IV, apenas. HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Edu-
D) II, III e IV, apenas. cação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ARTMED, 1998

Em princípio, a escola é inteiramente organizada para favore- RESPOSTA: “D”.


cer a progressão das aprendizagens dos alunos para os domínios
visados ao final de cada ciclo de estudos. Os programas são conce-
bidos nessa perspectiva, assim como os métodos e os meios de en-

Didatismo e Conhecimento 59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
15. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – também dos processos de transformação social. CANDAU (2001)
UNIMONTES/2010) Hernandez (1998) considera os projetos de Na perspectiva da escola democrática, coloque V para verdadeiro
trabalho uma concepção da educação e da escola que considera, e F para falso nas afirmativas a seguir:
EXCETO: ( ) A escola democrática é aquela que cria condições para o
A) a abertura para os conhecimentos e problemas que circu- desenvolvimento da capacidade do educando de participar do pro-
lam dentro da sala de aula. cesso decisório de direção da sociedade.
B) a importância da atitude de escuta. ( ) A escola democrática revê sempre seus princípios nortea-
C) o favorecimento da autodireção do aluno a partir de ativi- dores.
dades como o plano de trabalho individual. ( ) Numa escola democrática, o conceito de disciplina está
D) o papel do professor como facilitador da relação dos alunos comprometido com princípios de participação e cooperação.
com o conhecimento. ( ) A escola democrática pressupõe que a organização da vida
escolar é tarefa e responsabilidade do professor.
Para Hernández a organização do currículo deve ser feita por A sequência CORRETA é:
projetos de trabalho, com atuação conjunta de alunos e profes- A) V, F, F, V.
sores. As diferentes fases e atividades que compõem um projeto B) F, F, V, V.
ajudam os estudantes a desenvolver a consciência sobre o próprio C) V, V, V, F.
processo de aprendizagem. “Todas as coisas podem ser ensinadas D) F, V, F, V.
por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que
se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto”. Para Candau a escola deve ser capaz de promover a socializa-
*Referências: ção do saber e o exercício de uma cidadania consciente e crítica.
HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Edu- Escola a que todos tenham acesso e permaneçam nela por reconhe-
cação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ARTMED, 1998 cerem seu potencial na perspectiva da transformação social e sua
articulação com os interesses da maioria da população.
RESPOSTA: “A”. Entendemos que ser cidadão é ter assegurado o direito à par-
ticipação social de modo consciente. Isto não significa somente o
16. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – direito ao trabalho, pela profissionalização, ou ao voto durante as
UNIMONTES/2010) Candau (2001) situa a metodologia como o eleições. Significa ter acesso às riquezas sociais que ele ajudou a
elemento responsável pela mediação saber escolar/condições con- construir. O direito à cidadania deve ser entendido como possibi-
cretas dos alunos. De acordo com a autora, das proposições abai- lidade de o individuo compreender as relações sociais na nossa
xo, NÃO apresenta enfoque mediador: sociedade, de tal modo que contribua para formulações, reflexões,
A) a metodologia deve ser compreendida a partir da teoria uma postura crítica e transformadora da realidade social.
dialética do conhecimento. *Referências:
B) a relação de subordinação do método aos conteúdos na CANDAU, Vera Maria Ferrão. Rumo a uma Nova Didática. 2ª
ação educativa. edição. Petrópolis: Vozes, 1989.
C) a relação forma e conteúdo como elementos indissociáveis
do mesmo processo. RESPOSTA: “C”.
D) a metodologia, como instrumento teórico-prático de co-
nhecer e fazer educação, tem um caráter político. 18. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
– UNIMONTES/2010) Com relação às características e critérios
Candau situa a metodologia como elemento responsável pela definidos para a escolha dos temas transversais, é INCORRETO
mediação saber escolar / condições concretas dos educandos. Tal afirmar que:
mediação se dá na medida em que a metodologia seja referida “ao A) a urgência social indica a preocupação de eleger questões
processo de conhecimento que deve ser realizado para se apropriar graves que impedem a concretização da plenitude e da cidadania.
criticamente da realidade e transformá-la”. Dessa forma, ela passa B) favorecer a compreensão da realidade e a participação so-
a ser entendida na perspectiva da teoria dialética do conhecimento: cial enfoca no aluno o desenvolvimento da capacidade de posicio-
“Partir da prática, teorizar sobre a mesma e voltar à prática. Partin- nar-se frente aos problemas que interferem na vida coletiva.
do do concreto, realizar um processo de abstração e voltar de novo C) a abrangência nacional exclui a possibilidade de que as re-
para o concreto”. des estaduais acrescentem outros temas relevantes à sua realidade.
*Referências: D) possibilidades de ensino e aprendizagem no ensino funda-
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Rumo a uma Nova Didática. 2ª mental referem-se à relação entre os temas e a viabilidade de seu
edição. Petrópolis: Vozes, 1989. desenvolvimento, no nível escolar a que se destina.
A base da proposta é interligar as áreas de conhecimentos atra-
RESPOSTA: “B”. vés de um conjunto de assuntos chamados temas transversais. Os
temas formam um conjunto articulado que possuem objetivos e
17. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – conteúdos coincidentes muito próximos entre eles. Os temas trans-
UNIMONTES/2010) Entendemos que a uma escola democrática, versais são elaborados de modo a ampliar a possibilidade de reali-
no caso brasileiro, é aquela que permite o acesso ao conteúdo que zação dos PCNs e são o elo entre as disciplinas da grade curricular.
dará ao aluno condições de apreensão e compreensão da realidade, Eles não possuem a mesma natureza das áreas de conhecimentos
de modo que ele possa participar não só da produção cultural, mas convencionais. Para a escolha desses temas transversais, alguns

Didatismo e Conhecimento 60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
critérios foram estabelecidos visando sempre questões sociais que A História da Matemática pode ser um instrumento muito efi-
podem ser trabalhadas com total flexibilidade e abertura. Os temas caz no processo de Ensino-Aprendizagem de Matemática, uma vez
transversais escolhidos são os seguintes: Ética, Saúde, Meio Am- que permite entender conceitos a partir de sua origem, consideran-
biente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Con- do todas suas modificações ao longo da história. Com isso, facilita
sumo (Brasil, 1998). a compreensão para o aluno, como também desperta sua curiosida-
*Referências: de para futuras pesquisas. É importante que o conteúdo em estudo
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros esteja voltado para o cotidiano do aluno. Com o estudo da História
Curriculares Nacionais. Brasília: MC/SEF, 1998. da Matemática é possível analisar a construção das noções básicas
de conceitos matemáticos, sendo então possível perceber o caráter
RESPOSTA: “C”. investigatório presente na geração e disseminação desses concei-
tos ao longo do seu desenvolvimento histórico.
19. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- *Texto adaptado de José Sávio Bicho de Oliveira, Angela Xa-
GRI BRASIL/2013) Podemos afirmar que o objetivo do ensinar/ vier Alves e Sandra do Socorro de Miranda Neves.
aprender matemática estaria na procura do equilíbrio constante en-
tre os aspectos: RESPOSTA: “C”.
A) formativo e informativo da matemática.
B) quantitativo e informativo da matemática. 21. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – IN-
C) formativo e quantitativo da matemática. TEGRI BRASIL/2013) Os jogos como atividade, para o ensino
D) qualitativo e quantitativo da matemática. da Matemática constitui uma forma interessante de propor pro-
blemas, pois permitem que sejam apresentados de modo atrativo
Justificativas para a presença da matemática nos currículos e favorecem a criação na elaboração de estratégias de resolução e
escolares podem ser sintetizadas em dois aspectos, igualmente im- busca de soluções. Diante do exposto assinale a alternativa que não
portantes, apontados como objetivos da matemática escolar: “ser concorda com o recurso dos jogos para o ensino da Matemática.
parte da educação geral, preparando o indivíduo para a cidada- A) Propiciam a simulação de situações-problema que exige
nia, e servir de base para uma carreira em ciência e tecnologia” soluções vivas e imediatas.
(D’Ambrósio, 2004). Ou como diz Santaló (1996): “a matemática B) Facilita ao professor analisar a compreensão, ou seja, a fa-
tem um valor formativo que ajuda a estruturar todo o pensamento cilidade para entender o processo do jogo.
e agilizar o raciocínio dedutivo, porém é uma ferramenta que serve C) Permite ao professor avaliar a construção de uma estratégia
para a atuação diária e para muitas tarefas específicas de todas as vencedora.
atividades laborais”. D) Por ser um objeto sociocultural limitado o jogo não é uma
Desse modo, o objetivo do ensinar/aprender matemática esta- atividade cognitiva, não desenvolvendo os processos de raciocí-
ria na procura do equilíbrio constante entre os aspectos formativo nios básicos e lógicos.
e informativo da matemática.
*Referências: A proposta de um jogo em sala de aula é muito importante
SANTALÓ, L. A. Matemática para não-matemáticos. In: para o desenvolvimento social, pois existem alunos que se “fe-
PARRA, C.; SAIZ, I. (orgs.) Didática da matemática: reflexões cham”, tem vergonha de perguntar sobre determinados conteú-
psicopedagógicas. Trad. Juan A. Llorens. Porto Alegre: Artes Mé- dos, de expressar dúvidas, a Matemática se torna um problema
dicas, 1996. para eles. A utilização de atividades lúdicas na Matemática e de
D’AMBRÓSIO, U. Por que se ensina matemática? Texto de materiais concretos é totalmente relacionada ao desenvolvimento
curso a distância, promovido pela SBEM. Disponível em: www. cognitivo da criança. Há de se refletir que alguns conteúdos espe-
sbem.com.br. Acesso em: 24 mar. 2004. cíficos da Matemática não possuem relação com a ideia de serem
aplicados utilizando jogos, mas de certa forma promovem um sen-
RESPOSTA: “A”. so crítico, investigador, que ajuda na compreensão e entendimento
de determinados tópicos relacionados ao ensino da Matemática.
20. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- *Texto adaptado de Marcos Noé.
GRI BRASIL/2013) A História da Matemática proporciona uma
considerável ajuda para o desenvolvimento do ensino e aprendiza- RESPOSTA: “D”.
gem. Seguindo este conceito, a História da Matemática:
A) Deve ser entendida simplesmente pelo aspecto lúdico para 22. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
ser relatados aos alunos. GRI BRASIL/2013) Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia:
B) Não constituem veículos de informação cultural, socioló- saberes necessários à prática educativa” afirma que o respeito à
gica e antropológica de grande valor informativo. C) Ao verificar autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo:
o alto nível de abstração matemática de algumas culturas antigas, A) moral e não um favor que podemos ou não conceder uns
o aluno poderá compreender que o avanço tecnológico de hoje não aos outros.
seria possível sem a herança cultural de gerações passadas. B) ético e não um favor que podemos ou não conceder uns
D) Demonstra como sociedades passadas por não ter conheci- aos outros.
mento das abstrações matemáticas apenas resolviam meros proble- C) estético não um favor que podemos ou não conceder uns
mas para o uso cotidiano. aos outros.

Didatismo e Conhecimento 61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DA
ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE ENSINO
D) disciplinar e não um favor que podemos ou não conceder Começando pela criança no estágio sensório-motor, nesse es-
uns aos outros. tágio, Piaget considera abusivo falar em real socialização da inteli-
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um impe- gência. Essa é essencialmente individual, pouco ou nada devendo
rativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos as trocas sociais.
outros. Saber que se deve respeito à autonomia e à identidade do * Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em dis-
educando exige do indivíduo uma prática em tudo coerente com cussão. Por Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa
esse saber. Dantas.
*Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários RESPOSTA: “C”.
à prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
25. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
RESPOSTA: “B”. GRI BRASIL/2013) Em “Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psi-
cogenéticas em discussão”, as autoras afirmam que a criança pré-
23. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- -operatória não conserva necessariamente, durante uma conversa,
GRI BRASIL/2013) Freire em “Pedagogia da Autonomia: saberes as definições que ela mesma deu e as afirmações que ela mesma
necessários à prática educativa” afirma que toda prática educati- fez. Esse fato se verifica facilmente quando se entrevistam crian-
va demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, ças de até ____________ em média sobre um tema qualquer. Elas
outro que, aprendendo, ensina, daí o seu cunho gnosiológico; a afirmam certas ideias, e, em seguida, sem nada comentar, afirmam
existência de objetos, conteúdos a serem ensinados e aprendidos; o contrário, não parecendo achar que tais contradições represen-
envolve o uso de métodos, de técnicas, de materiais; implica, em tam um fator complicador para o diálogo.
função de seu caráter diretivo, objetivo, sonhos, utopias, ideais. A) 4 anos.
Daí a sua: B) 6 anos.
a) politicidade, qualidade que tem a prática educativa de ser C) 8 anos.
política, de não poder ser neutra. D) 10 anos.
B) dubiedade, qualidade que tem a prática educativa de ser
dúbia, de não poder ser exata. A criança pré-operatória não conserva necessariamente, du-
C) autoridade, qualidade que tem a prática educativa de ser rante uma conversa, as definições que ela mesma deu e as afirma-
autoritária, de não poder ser neutra. ções que ela mesma fez. Esse fato se verifica facilmente quando se
D) organicidade, qualidade que tem a prática educativa de ser entrevistam crianças de até 8 anos em média sobre um tema qual-
organizada, de poder ser neutra. quer. Elas afirmam certas ideias, e, em seguida, sem nada comen-
tar, afirmam o contrário, não parecendo achar que tais contradições
Do ponto de vista metafísico a compreensão do homem e da representam um fator complicador para o diálogo.
mulher é de seres históricos e inacabados e sobre o qual se funda * Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em dis-
a compreensão do processo de conhecer. Quando nossa prática é cussão. Por Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa
ensinar-aprender participamos de uma experiência total, direti- Dantas.
va, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, e ética em que
a estética deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a RESPOSTA: “C”.
seriedade. Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de
aprender tanto mais se constrói e desenvolve a “curiosidade epis-
temológica” pela qual alcançamos o conhecimento cabal do objeto
(FREIRE, 1999).
*Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessá-
rios à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

RESPOSTA: “A”.

24. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – IN-


TEGRI BRASIL/2013) De acordo com as autoras em “Piaget,
Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão”, come-
çando pela criança no estágio sensório-motor, nesse estágio, Piaget
considera abusivo falar em real ___________________. Essa é es-
sencialmente individual, pouco ou nada devendo às trocas sociais.
A) socialização sensorial.
B) socialização da atividade motora.
C) socialização da inteligência.
D) socialização intercomunicativa.

Didatismo e Conhecimento 62
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE
DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA À
EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
pedagógicas inovadoras e apropriadas, transporte, reflexão e
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS aperfeiçoamento das classes multisseriadas, enfim, construir uma
Política Nacional de Educação do Campo.
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO;
Em outras palavras: o que se deseja é que a Educação do
Campo não funcione como um mecanismo de expulsão das po-
pulações campesinas para as cidades, mas que ofereça atrativos
Histórico àqueles que nele desejarem permanecer e vencer. As políticas
implementadas na década de 90, que se fortaleceram a partir de
No decorrer dos anos, têm sido utilizadas expressões dife- 1998, quando se realizou em Luziânia (GO) a primeira conferên-
renciadas quando se trata do enfoque da educação para o desen- cia “Por uma Educação Básica do Campo”, desenvolveram-se
volvimento integral das zonas rurais: educação para o meio rural, nos últimos anos pela ação da SECAD/MEC, em seu trabalho de
ruralização do ensino, educação rural, escola rural, Educação parceria com Secretarias Estaduais e Municipais de Educação,
Básica nas escolas do campo. Ao longo do presente Parecer, será, universidades, movimentos sociais, professores das redes públi-
sempre que possível, utilizada a expressão Educação do Cam- cas e realização de 25 seminários no biênio 2004/2005. Contudo,
po, uma vez que já se tornou consagrada. A SECAD/MEC vem apesar desse esforço que permitiu o alcance de resultados ex-
desenvolvendo políticas para a melhoria dos indicadores na edu- pressivos, como a gradual universalização da oferta de educação
cação do meio rural. Tais políticas têm como objetivo a eleva- escolar para as crianças de 7 a 14 anos, a redução significativa
ção da qualidade das escolas do campo em consonância com as dos índices de analfabetismo e a disseminação dos Centros Fa-
necessidades culturais, os direitos sociais e a formação integral miliares de Formação por Alternância (CEFFA), nas formas das
das crianças, jovens e adultos do campo – agricultores familiares, Escolas Famílias Agrícolas (EFA), das Casas Familiares Rurais
ribeirinhos, extrativistas, pescadores artesanais, assentados de
(EFR) e das Escolas Comunitárias Rurais (ECOR), permanecem
Reforma Agrária, acampados, caiçaras, quilombolas… O IBGE,
sem solução alguns problemas, entre os quais avulta o atendi-
em 2004, informa que 30 milhões e 800 mil pessoas viviam no
mento insuficiente nas etapas da Educação Infantil e do Ensino
campo. Se considerarmos que muitos municípios brasileiros são,
Médio. Acrescente-se, como ponto positivo, a ação do Movimen-
principalmente, rurais – pela sua pequena população e pelas ca-
to dos Trabalhadores Rurais sem Terra, que sempre entendeu a
racterísticas de sua atividade econômica – podemos supor um
educação como sua prioridade. É o que se depreende da leitura
número bem maior de pessoas vivendo em relação com o meio
do seguinte parágrafo às fls. 239 do livro “A história da luta pela
rural.
terra e o MST”: Durante os primeiros anos de sua luta, os sem-
A preocupação com a Educação do Campo é recente no Bra- terra reunidos sob a bandeira do MST, tinham como prioridade a
sil, embora o País tenha tido origem e predominância agrária em conquista da terra.
boa parte de sua história. Por isso, as políticas públicas de educa-
ção, quando chegaram ao campo, apresentaram-se com conceitos Mas eles logo compreenderam que isso não era o bastan-
urbanocêntricos: a escola rural nada mais foi do que a extensão te. Se a terra representava a possibilidade de trabalhar, produzir
no campo da escola urbana, quanto aos currículos, aos professo- e viver dignamente, faltava-lhes um instrumento fundamental
res, à supervisão. A partir do modelo de desenvolvimento econô- para a continuidade da luta. Como você sabe, grande parte dos
mico que se estabeleceu no Brasil, passou-se a dar maior aten- camponeses brasileiros é analfabeta e a outra parte possui baixa
ção ao latifúndio, ao agronegócio, à monocultura. É claro que o escolaridade. A continuidade da luta exigia conhecimentos tanto
agronegócio tem assumido papel importante no que diz respeito para lidar com assuntos práticos, como financiamentos bancários
ao comércio exterior. Contudo, é preciso enfrentar o desafio de e aplicação de tecnologias quanto para compreender a conjuntura
uma Educação do Campo contextualizada, particularmente des- política, econômica e social. Arma de duplo alcance para os sem-
tinada a fortalecer a agricultura familiar. Em outras palavras: há terra e os assentados, a educação tornou-se prioridade no Movi-
necessidade de trabalhar diferentes modelos para a Educação do mento. Nas palavras de uma militante, foi como a descoberta de
Campo, superando a idéia de que existe uma superioridade da ci- uma “mina de ouro”, que exigiria muito trabalho para cavar, uma
dade sobre o campo. Uma política pública adequada à Educação pedagogia a ser criada, milhares de analfabetos a serem alfabeti-
do Campo necessita, desde logo, a adoção de ações conjuntas de zados, um número de crianças sem fim pedindo para conhecer as
colaboração e cooperação entre as três esferas do Poder Público letras, ler o mundo… (Mitsue, Morissawa. A história da luta pela
– União, Estados (mais o Distrito Federal) e Municípios, com a terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001).
finalidade de se expandir a oferta de Educação Básica que viabi-
lize a permanência das populações rurais no campo. É interessante verificar que já nos primórdios do MST –
1975-1985, iniciado no Rio Grande do Sul, surgiu o setor de
Não se trata, é claro, da idéia errônea de pretender fixar o educação formalizado no Primeiro Encontro Nacional de Educa-
homem rural no campo, uma vez que o processo educativo deve ção (São Mateus – Espírito Santo). Foi proposta uma educação
criar oportunidades de desenvolvimento e realização pessoais dirigida ao trabalho e, em 1996, o movimento social recebeu pre-
e sociais; trata-se, entretanto, de trabalhar sobre as demandas e miação do UNICEF pelo seu programa de alfabetização no Rio
necessidades de melhoria sob vários aspectos: acesso, permanên- Grande do Sul. A escola de assentamento idealizada pelo MST
cia, organização e funcionamento das escolas rurais, propostas propõe algumas ações significativas:

Didatismo e Conhecimento 1
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
- Professores simpatizantes da reforma agrária; 7. Ressalte-se, como destaque, que enquanto a escolaridade
média da população de 15 anos na zona urbana é de 7,3 anos, na
- Conteúdos incluindo a história do MST; zona rural só alcança 4 anos.

- Livros contendo a experiência dos sem-terra; e A partir do biênio de 1993/1994 iniciaram-se políticas de
transporte escolar, como parte do processo de nucleação de esco-
- Relação professor-aluno como uma relação de companhei- las. O transporte escolar, que é um problema ainda não resolvido,
rismo. Nasceram assim as concepções, adaptadas a cada situa- pode ocorrer mediante deslocamento intracampo, mas infeliz-
ção, de escola itinerante, escola de acampamento e escola de mente, muitas vezes, atende ao deslocamento indevido campo-
assentamento. A SECAD/MEC tem trabalhado sobre essas op- cidade: em 2006 do total de alunos matriculados na Educação
ções. Retornando à exposição de motivos da SECAD/MEC, que Básica, residentes no campo, 33,2% encontravam-se matricula-
subsidia o presente Parecer, julgamos oportuno apresentar alguns dos em escolas urbanas. Ressalte-se, entretanto, que no mesmo
dados numéricos, cuja fonte é sempre o censo escolar realizado ano verificou-se uma ligeira elevação no transporte intracampo,
anualmente pelo INEP/MEC: principalmente na etapa da Educação Infantil. Porém, no Ensino
Fundamental, no ano em epígrafe, 1.815.860 alunos que utilizam
1. Entre 1999 e 2006 a matrícula por localização rural no transporte escolar foram conduzidos do meio rural para o meio
Brasil decresceu de 6.590.577 para 5.566.432, havendo incre- urbano, correspondendo a 52,58%. No Ensino Médio o quadro
mento apenas na região Norte (1,5%). Mantém-se significativa a é ainda mais preocupante: dos 909.880 alunos do Ensino Mé-
matrícula no Ensino Fundamental na região Nordeste: 3.240.873, dio residentes no meio rural e matriculados em 2006, 831.173
embora tenha ocorrido no período uma redução em torno de 25%. (91,35%) foram transportados do campo para a cidade!

2. No mesmo período, os estabelecimentos de Ensino Funda- Apreciação


mental de localização rural reduziram-se de 114.857 para 86.170,
redução que alcançou todas as regiões do Brasil. O processo de nucleação de escolas rurais não é exclusivo
do Brasil, uma vez que esse modelo, com diferentes nomen-
3. Quando, no mesmo período, faz-se a separação entre as claturas, aplicou-se em países tão diferenciados como Estados
séries iniciais e as séries finais do Ensino Fundamental, obser- Unidos, Costa Rica, Índia, Irã, Colômbia, Canadá… No Brasil,
va-se que, enquanto no primeiro caso a matrícula diminuiu de as primeiras experiências situam-se nas décadas de 70 e 80 e
5.602.088 para 3.920.933, no segundo caso ocorreu o inverso, foram ampliadas em decorrência da atual LDBEN e da criação
pois a matrícula passou de 988.000 para 1.645.499. A uma queda do FUNDEF, de que resultaram uma acentuada municipalização
de 30% correspondeu um crescimento de 66% no segundo caso, no Ensino Fundamental. Este processo corresponde, na prática,
que nas regiões Norte e Nordeste, foi ainda mais expressivo – ao fechamento ou desativação de escolas unidocentes (multisse-
145 e 112%, respectivamente. Sem dúvida nenhuma, esse é um riadas), seguido pelo transporte dos alunos para escolas maiores,
dado bastante animador. melhor estruturadas e abrangendo ciclo ou ciclos completos, fun-
cionando como núcleo administrativo e pedagógico. O processo
4. A matrícula e os estabelecimentos de ensino discrimina- de que estamos tratando encontra amparo na legislação educa-
dos por tamanho apresentam, entre 2002 e 2006, dados estatísti- cional. No que diz respeito ao direito à educação obrigatória a
cos bem interessantes. Assim, da 1ª à 4ª série os estabelecimentos ser oferecida às populações rurais, a Câmara de Educação Básica
com até 50 alunos cresceram de 9.244 para 61.269 e a matrícula manifestou-se pela Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de
foi de 275.216 para 1.455.738 alunos! Significa dizer que as de- 2002, que, ao tratar das Diretrizes Operacionais da Educação nas
nominadas escolas “isoladas”, escolas “unidocentes” ou escolas Escolas do Campo refere-se à construção de uma política especí-
“multisseriadas” continuam sendo uma importante realidade no fica e a necessidade de atender à diversidade das populações que
Brasil. E se considerarmos o ensino de 5ª à 8ª série, as escolas residem no meio rural, de acordo com suas realidades, usando
com até 50 alunos avançaram de 3.472 para 5.735 estabelecimen- uma expressão muito feliz: essa diversidade deve “ancorar-se na
tos de ensino e a matrícula foi de 102.344 para 155.369 alunos! temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória co-
letiva que sinaliza futuros”.
5. Processo inverso ocorreu no Ensino Médio, pois nessa
etapa as escolas com até 50 alunos passaram de 1.724 para 316 e As mesmas diretrizes pronunciam-se, expressamente, sobre
a matrícula de 52.290 para 9.811 alunos. Sem dúvida nenhuma aí a responsabilidade do poder público, dentro dos princípios do
localizamos o processo de nucleação de escolas ou o transporte regime de colaboração, em proporcionar a Educação Infantil e o
de alunos do meio rural para o meio urbano. Ensino Fundamental nas comunidades rurais e dedicar especial
atenção às condições de acesso ao Ensino Médio e à Educação
6. Nota-se, também, a ocorrência de uma ligeira melhoria Profissional de nível técnico. As diretrizes emanadas da CEB es-
no fluxo escolar, isto é, um aumento no tempo de escolarização, tão enriquecidas pela Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e
mas que não foi acompanhado por uma equivalente melhoria na do Adolescente (ECA) que, em seu art. 53, inciso V, ao tratar
relação idade/série: de acordo com o censo escolar de 2005 essa especificamente do direito e proteção a crianças e adolescentes,
defasagem é de 56% nas séries finais do Ensino Fundamental e estabelece que o acesso à escola pública e gratuita será efetivado
de 59,1% no Ensino Médio. em unidade escolar próxima de sua residência. O art. 58 do mes-

Didatismo e Conhecimento 2
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
mo Estatuto dispõe que no processo educacional respeitar-se-ão - Racionalização da gestão e dos serviços escolares; e
os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes liberda- - Melhoria da qualidade da aprendizagem… Como pontos
de de criação e o acesso à fonte de cultura. negativos, há de se mencionar que o processo foi desenvolvi-
do sem qualquer diálogo com as comunidades, provocando, às
Quanto à legislação, cabe uma referência, no que se refere vezes, conflitos entre famílias e comunidades, alimentados por
ao transporte escolar, uma menção ao Código de Trânsito Bra- questões políticas e culturais. Todo esse quadro se agravou com
sileiro. De fato, a Lei nº 9.503/97, em seu capítulo XIII, fixa as os problemas provocados pelo transporte escolar do campo para
condições em que se deve realizar a condução de escolares, em o campo, mas acima de tudo do campo para a cidade. Se tudo isso
termos de segurança e adequação. As diretrizes estabelecidas na não fosse o bastante, muitos municípios, alegando o elevado cus-
Resolução CNE/CEB nº 1/2002, já mencionada, no inciso II do to do transporte escolar, deixaram de cumprir as exigências mí-
art. 15, estabelecem que as especificidades do campo, observadas nimas de duração do ano letivo – 200 dias e 800 horas de efetivo
no atendimento de materiais didáticos, equipamentos, laborató- trabalho escolar, com o retardamento do início ou a antecipação
rios e condições de deslocamento dos professores apenas quando do término das aulas. Embora legislação recente tenha procurado
o atendimento não puder ser assegurado diretamente nas comu- superar o problema do transporte escolar de alunos da rede esta-
nidades rurais. Evidencia-se que, malgrado todo o conjunto de dual ou da rede municipal, estabelecendo as obrigações de cada
leis e normas mencionado, existem lacunas que precisam ser su- sistema, a verdade é que, em decorrência, surgiram outros pro-
peradas, o que referenda a solicitação da SECAD/MEC para que blemas, resultantes da ausência de cooperação entre os sistemas:
a CEB regulamente a oferta de educação apropriada ao atendi- muitos municípios se negam a transportar alunos da rede estadual
mento das populações do campo. Afirma, o documento de enca- e vice-versa. Onde fica o direito subjetivo à educação de crianças
minhamento a que temos nos referido, de forma direta e enfática: e adolescentes, que deve ser cumprido pelos poderes públicos?
…as populações do campo continuam enfrentando os mesmos Poder-se-ia acrescentar outra dúvida: qual é a visão pedagógica
problemas há décadas como fechamento de escolas, transporte que nega às escolas multisseriadas a possibilidade de oferecerem
para os centros urbanos e outros, fazendo com que muitos alunos ensino de boa qualidade?
hoje permaneçam mais tempo dentro do transporte escolar do
A minha experiência pessoal, como ex-Secretário Munici-
que propriamente dentro da sala de aula.
pal de Educação de Juiz de Fora (MG), em uma época – 1967-
1973 – em que o ensino municipal era quase que exclusivamente
A título de observação contundente, acrescente-se que, em
rural – é de que essas escolas podem oferecer bons resultados,
certas regiões de Minas Gerais, essas infelizes crianças foram
pois a qualidade está muito mais relacionada à formação inicial
apelidadas de “crianças-lata de leite”! É verdade que no processo
e continuada de professores e à assistência permanente por ser-
de implantação das escolas de nucleação, começado no Brasil na
viços de supervisão, complementados por prédios especialmente
década de 70 nos Estados do Sul e do Sudeste, quando se seguiu
planejados, equipamentos adequados, material didático especí-
predominantemente o modelo norte-americano, a providência fico e alimentação escolar apropriada. Tudo isso envolvido pela
consistia em reunir várias escolas ou salas ditas “isoladas”, que participação das famílias e da comunidade local. Aliás, o próprio
foram fechadas ou desativadas, agrupando-as em uma única es- Ministério da Educação, dentro do FUNDESCOLA, colheu bons
cola nos distritos ou comunidades que reunissem maior número resultados com o denominado projeto Escola Ativa, positivamen-
de pequenas comunidades em seu entorno, surgindo esse modelo te avaliado nos Estados em que foi implementado.
de organização conhecido como escola nucleada. Isso se fez para
as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental, enquanto A exposição de motivos encaminhada como suporte à con-
para as séries finais e para o Ensino Médio os alunos passaram a sulta da SECAD/MEC à CEB acrescenta, como relevantes para
ser transportados para a sede dos municípios. a oferta da Educação Básica no campo – evidentemente com-
preendendo as três etapas que a compõem e as modalidades em
Tal prática tornou-se a mais comum como procedimento de que se organiza – os seguintes aspectos a título de conclusão que
organização para o atendimento das populações do campo, com antecede as proposições propriamente ditas:
a exceção das regiões Norte e Nordeste onde as escolas multis-
seriadas e de pequeno porte – como já se mostrou anteriormente - As escolas do meio rural, mesmo pequenas, ainda são a
– continuaram sendo em número muito expressivo. Agravando única presença do poder público nas comunidades que atendem;
o modelo e suas variações, o que caracteriza as escolas nuclea-
das é a adoção de uma mesma organização e o mesmo funciona- - A presença da escola na comunidade é forte elemento na
mento das demais escolas urbanas do município em termos de preservação de valores que mantêm as populações rurais vincu-
calendário escolar, currículo, estrutura física, equipamentos. É ladas aos seus modos de vida e convivência;
fato que a favor do modelo de nucleação foram alegados vários
argumentos: - A escola é importante instrumento de mobilização para o
diálogo com a realidade e, na medida em que oferece educação
- Baixa densidade populacional determinando a sala multis- – entendida em seu sentido mais amplo – pode aglutinar as ações
seriada e a unidocência; necessárias ao desenvolvimento rural integrado, trabalhando por
um projeto de ser humano vinculado a um projeto de sociedade
- Facilitação da coordenação pedagógica; mais justa e equilibrada;

Didatismo e Conhecimento 3
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
- O direito à educação somente estará garantido se articulado tucional nº 53, promulgada em 19 de dezembro de 2006, contém
ao direito à terra, à água, ao saneamento, ao alimento, à perma- algumas determinações aplicáveis a projetos de planejamento e
nência no campo, ao trabalho, às diferentes formas de reprodução expansão da Educação Básica do campo de qualidade:
social da vida, à cultura, aos valores, às identidades e às diversi-
dades das populações do campo; - O art. 7º da Constituição Federal passa a vigorar com a
seguinte alteração: XXV – assistência gratuita aos filhos e depen-
- A educação, ao desenvolver o complexo processo de forma- dentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches
ção humana, encontra nas práticas sociais o principal ambiente e pré-escolas;
dos seus aprendizados; ela é mantenedora das raízes e tradições
culturais da comunidade; é o lugar das reuniões comunitárias, do - Acrescenta-se ao art. 23 da Constituição Federal o seguin-
encontro dos sujeitos e espaço de socialização pelas festas e co- te Parágrafo único: Leis Complementares fixarão normas para a
memorações que estimula; muitas pequenas escolas rurais foram cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
construídas com a participação das famílias e da comunidade do Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
seu entorno; e bem-estar em âmbito nacional;

- A manutenção das escolas no campo, com qualidade, sem- - O art. 30 da Constituição Federal tem acrescentado o inciso
pre que possível e desejável, é condição para se assegurar a edu- VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do
cação como direito de todos e, evidentemente, dever do Estado. Estado, programas de Educação Infantil e de Ensino Fundamen-
O aprofundamento em torno da Educação do Campo, pelos in- tal (aplicável aos Municípios);
teressados em seu planejamento e prática, recomenda a leitura
da publicação Cadernos SECAD 2 – Educação do Campo: Di- - O art. 206 da Constituição Federal tem acrescentados o in-
ferenças mudando paradigmas, editada em março de 2007. Essa ciso V – valorização dos profissionais da educação escolar, ga-
publicação contém dois anexos da maior importância: 1º) Anexo rantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclu-
1 – Diretrizes Operacionais da Educação Básica nas Escolas do sivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
Campo, Parecer CNE/CEB nº 36/2001, do Conselho Nacional de públicas; e o inciso VIII – piso salarial profissional nacional para
Educação, aprovado em 4/12/2001, acompanhado da Resolução os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei
CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002, que “Institui Diretrizes federal;
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo”.
Tanto o Parecer, de autoria da Conselheira Edla de Araújo Lira - O art. 208 da Constituição Federal tem acrescentado o inci-
Soares, sua Relatora, como a Resolução são, do ponto de vista so IV – Educação Infantil em creche e pré-escola, às crianças até
analítico, teórico e propositivo, de leitura indispensável pelo seu 5 (cinco) anos de idade;
conteúdo, que continua inteiramente válido e que merece a de-
vida apreciação e ratificação. 2º) Anexo 2 – Parecer CNE/CEB - O art. 212 da Constituição Federal tem acrescentado o § 5º:
nº 1/2006, aprovado em 1º/2/2006, que “Recomenda a adoção da a Educação Básica pública atenderá prioritariamente ao ensino
Pedagogia da Alternância em Escolas do Campo”. regular;

O Parecer trata especificamente dos Centros Familiares de - o art. 60 das Disposições Transitórias da Constituição Fe-
Formação por Alternância (CEFFA), em suas formulações de Es- deral passa a vigorar com nova redação, definindo a complemen-
colas Famílias Agrícolas (EFA, com 123 centros presentes em tação da União aos recursos dos Fundos dos Estados e do Distrito
16 Estados brasileiros), de Casas Familiares Rurais (CFR, com Federal – 2 bilhões de reais no primeiro ano de vigência dos Fun-
91 centros presentes em 6 Estados brasileiros) e de Escolas Co- dos; 3 bilhões de reais no segundo ano de vigência dos Fundos;
munitárias Rurais (ECOR, com 3 centros no Estado do Espírito 4,5 bilhões de reais no terceiro ano de vigência dos Fundos e
Santo). O projeto políticopedagógico dos CEFFA é particular- 10% do total dos recursos dos Fundos a partir do quarto ano de
mente recomendável do ponto de vista da iniciação ao trabalho sua vigência; e incluindo no inciso XII o § 1º com a seguinte
(anos finais do Ensino Fundamental) e da Educação Profissional redação: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
de nível técnico (Ensino Médio). Como os CEFFA, apresentam deverão assegurar, no financiamento da Educação Básica, a me-
constituição e organização de caráter comunitário, atendendo fa- lhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão mínimo
mílias de pequenos agricultores, sendo pouco numerosos os cen- definido nacionalmente.
tros criados e mantidos pelo poder público municipal, é oportuno
que a SECAD/MEC estude formas de viabilizar o financiamento Enquanto isso, a Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, que
dessas instituições de Educação do Campo no campo. regulamenta o FUNDEB, estabelece, entre seus numerosos dis-
positivos, no art. 10, a distribuição proporcional de recursos dos
O momento é particularmente favorável ao planejamento e Fundos levando (levará) em conta as diferentes etapas, modali-
à organização da Educação do Campo pelos sistemas de ensino, dades e tipos de estabelecimento de ensino da Educação Básica,
considerando a recente criação do Fundo de Manutenção e De- com destaque aos seguintes incisos: VI – anos iniciais do Ensino
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profis- Fundamental no campo; VIII – anos finais do Ensino Fundamen-
sionais da Educação – FUNDEB. Com efeito, a Emenda Consti- tal no campo; XI – Ensino Médio no campo. E o art. 36 estabele-

Didatismo e Conhecimento 4
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
ce que no primeiro ano de vigência do FUNDEB, as ponderações ticas públicas, construindo alternativas de resistência econômi-
de distribuição dos recursos dos Fundos, seguirão as seguintes ca, política e cultural que também inclui iniciativas no setor da
especificações (fixando como fator de referência 1 (um) os anos educação.
iniciais do Ensino Fundamental urbano): inciso IV – anos iniciais
do Ensino Fundamental no campo – 1,05 (um inteiro e cinco cen- A concepção de campo tem o seu sentido cunhado pelos mo-
tésimos), inciso VI – anos finais do Ensino Fundamental no cam- vimentos sociais no final do século XX, em referência à identi-
po – 1,15 (um inteiro e quinze centésimos) e inciso IX – Ensino dade e cultura dos povos do campo, valorizando-os como sujei-
Médio no campo – 1,25 (um inteiro e vinte e cinco centésimos). tos que possuem laços culturais e valores relacionados à vida na
terra. Trata-se do campo como lugar de trabalho, de cultura, da
A proposição de consórcios intermunicipais – que já são pra- produção de conhecimento na sua relação de existência e sobre-
ticados em políticas de formação e aperfeiçoamento de recursos vivência.
humanos – poderá auxiliar na solução de questões ligadas, even-
tualmente, à nucleação de escolas e ao transporte escolar. Evi- Assim, essa compreensão de campo vai além de uma defi-
dencia-se, assim, que a legislação se preocupou em ampliar os nição jurídica. Configura um conceito político ao considerar as
recursos destinados à Educação do Campo, favorecendo-a com particularidades dos sujeitos e não apenas sua localização espa-
recursos maiores por aluno e admitindo a efetivação de consór- cial e geográfica. A perspectiva da educação do campo se articula
cios entre dois ou mais Municípios. a um projeto político e econômico de desenvolvimento local e
sustentável, a partir da perspectiva dos interesses dos povos que
Recomenda-se que os estudiosos e demais interessados com nele vivem.
a melhoria da oferta e da qualidade da Educação Básica, tan-
to nas áreas urbanas quanto no meio rural, analisem de forma O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se
contextualizada as citadas Emenda Constitucional nº 53 e Lei nº relacionarem com a natureza, o trabalho na terra, a organização
11.494/2007, bem como o Decreto Presidencial de regulamenta- das atividades produtivas, mediante mão-de-obra dos membros
ção dessa Lei. da família, cultura e valores que enfatizam as relações familiares
e de vizinhança, que valorizam as festas comunitárias e de ce-
Fonte: lebração da colheita, o vínculo com uma rotina de trabalho que
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Edu- nem sempre segue o relógio mecânico.
cação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Consulta re- A identidade dos povos do campo comporta categorias so-
ferente às orientações para o atendimento da Educação do Cam- ciais como posseiros, boias-frias, ribeirinhos, ilhéus, atingidos
po. Brasília, 2013 por barragens, assentados, acampados, arrendatários, pequenos
proprietários ou colonos ou sitiantes – dependendo da região do
Brasil em que estejam – caboclos dos faxinais, comunidades ne-
gras rurais, quilombolas e, também, as etnias indígenas.
CONCEPÇÕES E CONCEITOS
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: A identidade política coletiva é gerada a partir da organiza-
CAMPO, EDUCAÇÃO DO CAMPO, ção das categorias em movimentos sociais, a exemplo do MST,
das etnias indígenas, dos quilombolas, dos atingidos por barra-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL,
gens e daqueles articulados ao sindicalismo rural combativo.
TRABALHO E EDUCAÇÃO;
A identidade sociocultural é dada pelo conceito de cultura.
Schelling (1991) traz uma definição de cultura como práxis que
pode ser útil à educação do campo. Para a autora, a capacidade do
O CAMPO homem de se transformar e ser transformado é uma característica
humano-genérica (estruturar e ser estruturado) e essa capacidade
É importante fazer uma distinção dos termos “rural” e “cam- está na base do conceito de cultura como práxis, por meio da qual
po”. A concepção de rural representa uma perspectiva política
presente nos documentos oficiais, que historicamente fizeram [...] o homem não só se adapta ao mundo, como também o
referência aos povos do campo como pessoas que necessitam de transforma. Essa transformação ocorre em dois níveis: em pri-
assistência e proteção, na defesa de que o rural é o lugar do atra- meiro lugar no nível da interação do homem com a natureza e
so. Trata-se do rural pensado a partir de uma lógica economicista, como ser da natureza, modificando o ambiente natural com o uso
e não como um lugar de vida, de trabalho, de construção de sig- de ferramentas. Ocorre também no nível da consciência, da inte-
nificados, saberes e culturas. ração comunicativa entre os indivíduos e sua organização social
(SCHELLING, 1991).
Como consequência das contradições desse modelo de de-
senvolvimento, está, por um lado, a crise do emprego e a migra- Nas teses sobre Feuerbach (trad. 1999,) Marx afirma que “É
ção campo-cidade e, por outro, a reação da população do campo na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a rea-
que, diante do processo de exclusão, organiza-se e luta por polí- lidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento”. Ele faz a

Didatismo e Conhecimento 5
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
crítica à doutrina materialista tradicional, para a qual os homens [...] apresenta-se como saber que se produz na relação com a
seriam produto das circunstâncias e da educação, bem como que ação, o pensar que cria e transforma [...] os homens são capazes
os homens transformados seriam produtos de outras circunstân- de renovar, de mudar o mundo conhecendo a história e a sua
cias e de uma educação modificada. Destaca que o materialis- própria capacidade de reviver “do seu esforço atual numa força
mo tradicional “esquece que são precisamente os homens que do amanhã”.
transformam as circunstâncias e que o próprio educador deve ser
educado” (FEUERBACH, 1991, p. 126). Por sua vez, Schelling Um desafio está posto à educação do campo: considerar a
cita Marx ao demonstrar o atributo genérico do modo humano cultura dos povos do campo em sua dimensão empírica e fortale-
de existir. cer a educação escolar como processo de apropriação e elabora-
ção de novos conhecimentos.
O animal forma uma unidade com sua atividade vital. Ele
não distingue a atividade de si mesmo. Ele é sua atividade. Mas Assim, o conceito de cultura como práxis guarda relação
o homem faz de sua atividade vital um objeto de sua vontade e com a compreensão da história como processo coletivo de auto-
consciência. Ele tem uma atividade vital consciente. Não é uma criação do homem, sob a possibilidade de criar uma ordem social
determinação com a qual ele se identifique completamente. A de maior liberdade e justiça (SCHELLING, 1991).
atividade vital consciente distingue o homem da atividade vital
dos animais [...] Apenas por essa razão sua atividade é ativida- Entender o campo como um modo de vida social contribui
de livre. O trabalho alienado inverte a relação, na medida em para autoafirmar a identidade dos povos do campo, para valorizar
que o homem, por seu autoconsciente, faz de sua atividade vital, o seu trabalho, a sua história, o seu jeito de ser, os seus conhe-
seu ser, apenas um meio para sua existência [...] (MARX apud cimentos, a sua relação com a natureza e como ser da natureza.
SCHELLING, 1991, p.33). Trata-se de uma valorização que deve se dar pelos próprios povos
do campo, numa atitude de recriação da história. Em síntese, o
É na práxis que o homem tem condições de superar a pró- campo retrata uma diversidade sociocultural, que se dá a par-
pria situação de opressão, mediante a análise de que a divisão do tir dos povos que nele habitam: assalariados rurais temporários,
trabalho é característica de uma determinada formação social e posseiros, meeiros, arrendatários, acampados, assentados, reas-
não um fato natural. A práxis passa a ser condição para a ação sentados atingidos por barragens, pequenos proprietários, vilei-
revolucionária, de modo que os homens podem pensar o sentido ros rurais, povos das florestas, etnias indígenas, comunidades
de suas atividades, a sua organização política e ações conjuntas negras rurais, quilombos, pescadores, ribeirinhos e outros mais.
na luta contra a opressão. Entre estes, há os que estão vinculados a alguma forma de or-
ganização popular, outros não. São diferentes gerações, etnias,
Schelling (1991) cita a crítica de Gramsci ao conceito afir- gêneros, crenças e diferentes modos de trabalhar, de viver, de se
mativo de cultura: organizar, de resolver os problemas, de lutar, de ver o mundo e
de resistir no campo.
Precisamos nos livrar do hábito de ver a cultura como conhe-
cimento enciclopédico, e os homens como simples receptáculos a Tal diversidade encontrada nas populações do campo para-
serem preenchidos com fatos empíricos e um amontoado de fatos naense sinaliza um fato que não pode ser deixado de lado: as
brutos isolados, que tem de ser catalogados no cérebro como nas escolas do campo terão presente no seu interior essa conflituosa,
colunas de um dicionário, permitindo a seu proprietário respon- portanto rica, diversidade sociocultural e política.
der aos vários estímulos do mundo exterior. Essa forma de cultu-
ra é realmente perigosa, em particular para o proletariado. Serve A educação do campo deve estar vinculada a um projeto
apenas para criar pessoas mal ajustadas, pessoas que acreditam de desenvolvimento peculiar aos sujeitos que a concernem. São
ser superiores ao resto da humanidade por terem memorizado povos que ao longo da história foram explorados e expulsos do
um certo número de fatos e datas [...] (GRAMSCI apud SCHEL- campo, devido a um modelo de agricultura capitalista, cujo eixo
LING, 1991, p. 35). é a monocultura e a produção em larga escala para a exporta-
ção, com o agronegócio, os insumos industriais, agrotóxicos, as
Estudiosa de Gramsci, Schlesener (2002, p. 47) demonstra sementes transgênicas, o desmatamento irresponsável, a pesca
a compreensão que o respectivo político e filósofo italiano tem predatória, as queimadas de grandes extensões de florestas, a
sobre cultura: mão-de-obra escrava.

Dou à cultura este significado: exercício do pensamento, Eis por que a educação do campo deve ter como fundamen-
aquisição de ideias gerais, hábitos de conectar causa e efeito. to o interesse por um modelo cujo foco seja o desenvolvimento
Para mim, todos já são cultos, porque todos pensam, todos co- humano. Como afirma Fernandes (2005), que seja um debate da
nectam causas e efeitos. Mas o são empiricamente, primordial- questão agrária mediante o princípio da superação, portanto, da
mente, não organicamente. luta contra o capital e da perspectiva de construção de experiên-
cias para a transformação da sociedade. Na educação do campo,
Schlesener (2002, p. 47) demonstra que a cultura devem emergir conteúdos e debates, entre outros, sobre:

Didatismo e Conhecimento 6
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
- a diversificação de produtos relativos à agricultura e o uso - concepção de mundo: o ser humano é sujeito da história,
de recursos naturais; não está “colocado” no mundo, mas ele é o mundo, faz o mundo,
faz cultura. O homem do campo não é atrasado e submisso; antes,
- a agroecologia e o uso das sementes crioulas; possui um jeito de ser peculiar; pode desenvolver suas atividades
pelo controle do relógio mecânico ou do relógio “observado” no
- a questão agrária e as demandas históricas por reforma movimento da Terra, manifesto no posicionamento do Sol. Ele
agrária; pode estar organizado em movimentos sociais, em associações
ou atuar de forma isolada, mas o seu vínculo com a terra é fecun-
- os trabalhadores assalariados rurais e suas demandas por do. Ele cria alternativas de sobrevivência econômica num mundo
melhores condições de trabalho; de relações capitalistas selvagens;

- a pesca ecologicamente sustentável; - concepção de escola: local de apropriação de conhecimen-


tos científicos construídos historicamente pela humanidade e lo-
- o preparo do solo. cal de produção de conhecimentos em relações que se dão entre o
mundo da ciência e o mundo da vida cotidiana. Os povos do cam-
Vale destacar que tais temas possibilitam o estudo de um po querem que a escola seja o local que possibilite a ampliação
modelo de desenvolvimento do campo que se contraponha ao dos conhecimentos; portanto, os aspectos da realidade podem ser
modelo hegemônico. pontos de partida do processo pedagógico, mas nunca o ponto
de chegada. O desafio é lançado ao professor, a quem compete
EDUCAÇÃO DO CAMPO definir os conhecimentos locais e aqueles historicamente acumu-
lados que devem ser trabalhados nos diferentes momentos peda-
A educação do campo tem sido historicamente marginali- gógicos. Os povos do campo estão inseridos nas relações sociais
zada na construção de políticas públicas. Tratada como política do mundo capitalista e elas precisam ser desveladas na escola;
compensatória, suas demandas e sua especificidade raramente
têm sido objeto de pesquisa no espaço da academia e na formula- - concepção de conteúdos e metodologias de ensino: con-
ção de currículos nos diferentes níveis e modalidades de ensino. teúdos escolares são selecionados a partir do significado que
A educação para os povos do campo é trabalhada a partir de um têm para determinada comunidade escolar. Tal seleção requer
currículo essencialmente urbano e, quase sempre, deslocado das procedimentos de investigação por parte do professor, de forma
necessidades e da realidade do campo. Mesmo as escolas loca- que possa determinar quais conteúdos contribuem nos diversos
lizadas nas cidades têm um currículo e trabalho pedagógico, na momentos pedagógicos para a ampliação dos conhecimentos dos
maioria das vezes, alienante, que difunde uma cultura burguesa educandos. Estratégias metodológicas dialógicas, nas quais a in-
e enciclopédica. É urgente discutir a educação do campo e, em dagação seja freqüente, exigem do professor muito estudo, pre-
especial, a educação pública no Brasil. Será que a educação tem paro das aulas e possibilitam relacionar os conteúdos científicos
servido para desenvolver cultura entendida como práxis, ou tem aos do mundo da vida que os educandos trazem para a sala de
contribuído para afirmá-la na perspectiva do conceito burguês? aula;

A cultura, os saberes da experiência, a dinâmica do cotidia- - concepção de avaliação: processo contínuo e realizado em
no dos povos do campo raramente são tomados como referência função dos objetivos propostos para cada momento pedagógico,
para o trabalho pedagógico, bem como para organizar o sistema seja bimestral, semestral ou anual. Pode ser feita de diversas ma-
de ensino, a formação de professores e a produção de materiais neiras: trabalhos individuais, atividades em grupos, trabalhos de
didáticos. campo, elaboração de textos, criação de atividades que possam
ser um “diagnóstico” do processo pedagógico em desenvolvi-
Essa visão, que tem permeado as políticas educacionais, par- mento. Muito mais do que uma verificação para fins de notas, a
te do princípio que o espaço urbano serve de modelo ideal para avaliação é um diagnóstico do processo pedagógico, do ponto de
o desenvolvimento humano. Esta perspectiva contribui para des- vista dos conteúdos trabalhados, dos objetivos, e da apropriação
caracterizar a identidade dos povos do campo, no sentido de se e produção de conhecimentos. É um diagnóstico que faz emergir
distanciarem do seu universo cultural. os aspectos que precisam ser modificados na prática pedagógica.

Essa lógica faz parte de um modelo de desenvolvimento Para a educação que se quer construir, um procedimento es-
econômico capitalista, baseado na concentração de renda; na sencial é a escuta:
migração do trabalhador rural para as cidades, atuando como
mão-de-obra barata, na grande propriedade e na agricultura - escutar os povos do campo, a sua sabedoria, as suas críti-
para exportação que compreende o Brasil apenas como mercado cas;
emergente, predominantemente urbano e que prioriza a cidade
em detrimento do campo. - escutar os educandos e as suas observações, reclamações
ou satisfações com relação à escola e à sala de aula;
Entre as características da educação do campo que se preten-
de construir, estão:

Didatismo e Conhecimento 7
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
- escutar as carências expostas pelos professores das escolas Quais são os conhecimentos dos povos do campo? Damas-
do campo; enfim, ouvir cada um dos sujeitos que fazem o proces- ceno (1993, p. 57) entende que a prática produtiva e política dos
so educativo: comunidade escolar, professores e governos, nas camponeses é a fonte básica do conhecimento social. Para ela, os
esferas municipal, estadual e federal; saberes sociais dos camponeses podem ser:

- por meio da escuta, será gerado o diálogo e nele serão ex- - engendrados na prática produtiva do campesinato;
plicitadas as propostas políticas e pedagógicas necessárias à es-
cola pública. - elaborados na prática política, envolvendo a construção da
identidade de classe e a organização política do campesinato.
Busca-se uma educação que seja crítica, cuja característica
central é a problematização dos conhecimentos. Problematizar Portanto, são os conhecimentos do mundo do trabalho no
implica discutir os conteúdos de forma a gerar indagações e não campo, das negociações em torno da produção, das necessida-
de forma enciclopédica e mecânica. Para tanto, na educação do des básicas para a produção de determinados produtos, a organi-
campo, o tema questão agrária é essencial para compreender os zação dos trabalhadores em cooperativas, iniciativas na área da
determinantes que levaram a educação do campo a estar histori- agroecologia, organização das comunidades de pescadores, que
camente marginalizada nas políticas educacionais. fortalecem grupos de resistência, que se recusam a inserir-se no
modelo capitalista competitivo de produção e criam alternativas
No Brasil, como diz Martins (2000), a questão agrária não para manter o vínculo com o trabalho e vida no campo.
tem impedido o desenvolvimento do capital, porque no país o
grande capital já se apropriou das grandes parcelas de terras. Po- Os conhecimentos do mundo da política, a participação ou a
rém, há que se discutir a geração de empregos, a condição da observação de como se dá a tomada de decisão, por parte do po-
grande massa de miseráveis, o que, observa Martins (2000) de der público local ou nacional, fazem-se necessários aos povos do
forma crítica, que também não tem impedido o desenvolvimento campo, para que sobrevivam na lógica perversa que o mercado
capitalista, uma vez que impõe àqueles que constituem força de trabalho e/ou vivem da
produção em pequenas parcelas de terras.
[...] a exclusão se tornou parte integrante da reprodução do
Nesse aspecto, a escola deve realizar uma interpretação da
capital [...] há quem fale numa espécie de auxílio estatal à pobre-
realidade que considere as relações mediadas pelo trabalho no
za que dispensaria a reforma agrária, custosa, e asseguraria a so-
campo, como produção material e cultural da existência huma-
brevivência dos pobres em condições mínimas sem necessidade
na. A partir dessa perspectiva, deve construir conhecimentos que
de pagar o custo de grandes transformações econômicas e sociais
promovam novas relações de trabalho e de vida para os povos no
como a reforma agrária (MARTINS, 2000, p.100).
e do campo.
Essas são questões que a educação do campo pode desvelar,
Outra importante reflexão, quando se fala dos povos do cam-
numa atitude de elaboração de um conhecimento que parte dos po, é o conceito de “camponês”, que é polêmico. Embora não seja
próprios povos do campo e de suas experiências vividas, como objeto de reflexão deste texto, indicamos alguns referenciais que
diria Gramsci, uma cultura ligada à vida social. podem auxiliar em sua definição. Segundo Poli (1995, p. 124-
125), os principais elementos para caracterizar o camponês são:
No âmbito da educação do campo, objetiva-se que o estu-
do tenha a investigação como ponto de partida para a seleção e - é um trabalhador que cultiva uma pequena área de terra,
desenvolvimento dos conteúdos escolares, de forma que valori- com uso de ferramentas simples, ou pequenas máquinas de tec-
ze singularidades regionais e localize características nacionais, nologia rudimentar;
tanto em termos das identidades sociais e políticas dos povos do
campo quanto em valorização da cultura de diferentes lugares - está baseado quase exclusivamente na mão-de-obra fami-
do país. liar, podendo empregar, esporadicamente, trabalhadores assala-
riados;
Trata-se de uma educação que deve ser no e do campo - No,
porque - combina a produção dos meios de vida com a produção de
mercadorias, sem as condições de acumular capital;
[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive;
[Do, pois] “o povo tem direito a uma educação pensada desde o - é um sujeito inserido e reproduzido no interior do modo
seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às de produção capitalista, sem ser um capitalista, na sua essência;
suas necessidades humanas e sociais” (CALDART, 2002, p. 26).
- a família é a sua unidade básica de posse, produção e con-
Há uma produção cultural no campo que deve se fazer pre- sumo;
sente na escola. Os conhecimentos desses povos precisam ser
levados em consideração, constituindo ponto de partida das prá-
ticas pedagógicas na escola do campo.

Didatismo e Conhecimento 8
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
- organizado de forma coletiva, tem na própria família, no uma determinada leitura dos acontecimentos e textos já construí-
interior da sociedade global, a função de permitir a oferta de pro- dos. O futuro, porém, é sempre um presente em transformação,
dutos agropecuários a preços inferiores aos das empresas capi- enquanto desejo e utopia.
talistas.
Iniciativas das universidades em parcerias com os movi-
- a família camponesa está sempre ligada a uma unidade mentos sociais precisam ser valorizadas pelo poder público,
maior, o bairro rural, o grupo de vizinhança, a comunidade, sen- pois partir delas a formação inicial e/ou continuada poderá ser
do a família uma das unidades básicas de socialização; incrementada, pela difusão de conhecimentos que permitam aos
professores valorizar o campo e a cultura dos povos do campo no
- mantém contato freqüente com a sociedade urbana, numa Brasil. Também, a atitude de disposição por parte do professor
relação subordinada a ela, de inferioridade, social, política e eco- precisa estar manifesta. É necessário que ele seja sujeito do pro-
nômica; cesso pedagógico, sinta-se sujeito, queira ser sujeito.

- possui grau elevado de autonomia no processo de decisão DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


e gestão da produção;
A interdependência campocidade ficou evidenciada a par-
- o contato com o mercado é freqüente, com caráter parcial e tir do início do século XX, com o início da industrialização no
incompleto; vende seus produtos excedentes e adquire mercado- Brasil. Até então, havia predominância do campo no âmbito das
rias complementares para satisfazer necessidades básicas; relações capitalistas e da inserção do país nas relações econômi-
cas internacionais. Com a ampliação do número de indústrias,
- tem objetivos de produzir valores de uso e não valores de houve necessidade de “atrair” trabalhadores do campo para as
troca; cidades. Com isso, ocorreram as demandas sociais (saúde, edu-
cação, transporte, creches etc) nas cidades. O campo passava por
- sua agricultura está voltada à manutenção de um modo de um momento de “expulsão” dos trabalhadores, em função da
vida e não de um negócio. redefinição das atividades agrícolas, da concentração da terra e
das políticas agrícolas, que mais tarde desencadearam a chamada
Poli entende, portanto, que “o camponês representa um “modernização agrícola conservadora”, em que a questão agrária
modo de vida”, isto é, uma cultura. não foi tocada.

Esses elementos, dentre outros, caracterizam a diversidade No Brasil, imensas áreas de terra encontram-se nas mãos do
sociocultural peculiar ao modo de vida camponês. Compreen- grande capital, grandes fazendas produzem para exportação. O
der a educação a partir da diversidade camponesa, do modo de grande capital e os fazendeiros são proprietários da maioria das
vida, implica construir políticas públicas que assegurem o direito terras agricultáveis do país, enquanto as pequenas parcelas de
à igualdade, com respeito às diferenças; implica a construção de terra estão nas mãos de uma população que se constitui em maio-
uma política pública de educação na qual a formação de profes- ria no campo – os povos do campo. Nas cidades, as favelas e as
sores possa contemplar esses fundamentos. moradias precárias são ampliadas, juntamente com o desempre-
go e com outras formas de violência, como a empreendida pelo
Hoje, os professores saem dos bancos escolares, dos cursos narcotráfico. Pacotes sociais são viabilizados para “acalmar” os
de licenciatura, sem ter estabelecido qualquer discussão sobre o ânimos da população, que carece de tudo o que é elemento básico
modo de vida camponês, pressupondo que o modo de vida urbano para a sobrevivência (comida, saúde, educação, roupa, moradia,
prevalece em todas as relações sociais e econômicas brasileiras. trabalho).
Da mesma forma, a maioria dos cursos de formação continuada
deixa de valorizar a educação do campo. Manifestações sociais acontecem em determinadas con-
junturas políticas e econômicas, tanto de trabalhadores rurais
A formação continuada, conforme era concebida por Frei- quanto de produtores rurais. Elas têm o apoio dos comerciantes
re, permite que o educador faça de sua prática objeto de estudo, e de inúmeros profissionais liberais e organizações de classe. A
reflita-a coletivamente e à luz de teoria, recriando-a permanente- alimentação é o exemplo mais claro da necessidade da ativida-
mente. Apoiando-se em Freire, escrevem Benincá e Caimi (2002, de produtiva no campo, ainda que nos dias atuais muito tenha
p. 100-101): sido dito sobre a produção de frutas e verduras em laboratórios e
muitos produtos já sejam cultivados em estufas, embora estas fa-
A formação continuada, no pensamento de Paulo Freire, tem çam parte da atividade produtiva no campo. Com a alimentação,
como pressuposto a existência de um processo político-pedagó- discute-se o desenvolvimento sustentável, pois cada vez mais a
gico e, ao mesmo tempo, de uma antropologia fenomenológico saúde humana é preocupação internacional e, com ela, as mani-
-hermenêutica. Isto implica um passado que se faz história, um festações favoráveis à produção agroecológica.
presente em permanente transformação e um futuro a ser cons-
truído. O passado se faz história e realidade, embora seja sempre

Didatismo e Conhecimento 9
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
Quando se discute campo, é possível pensar ainda o deserto mostra que o campo está com 35,5 milhões de pessoas, quando
verde – grandes áreas de pastagem, soja, cana-de-açúcar entre aquelas projeções dos anos 80 afirmavam que estaríamos com
outros produtos, com uso de mecanização moderna e de pouca aproximadamente 12 milhões.
mão-de-obra. Ampliam-se os desertos verdes, ao mesmo tempo
em que se tornam frágeis as condições de trabalho e de sobrevi- Em alguns locais, o agronegócio e a plantação em larga es-
vência na terra por parte dos povos do campo. cala são visíveis; em outros, as pequenas parcelas de terra culti-
vadas pela família, com auxílio de trabalho assalariado quando
A interdependência campocidade pode ser problematizada a necessário; em outros, ainda o conflito de terras é notório e de-
partir das atividades cotidianas e das necessidades sociais bási- nunciado pelo confronto entre trabalhadores sem-terra e latifun-
cas, como alimentação e água potável. O desenvolvimento sus- diários. Nas terras indígenas, quilombolas e faxinais existe uma
tentável requer um projeto político de sociedade que contemple forma específica de organização social da vida e da produção,
a dimensão socioambiental do ser humano, da sociedade e do que pode ser mais explorada nas escolas. É dessa organização
planeta. social que emergem características do desenvolvimento susten-
tável, da produção que evita a agressão ao meio ambiente e ao
Outra possibilidade do debate sobre campocidade está na ca- ser humano.
racterização dos estados brasileiros e de seus municípios. Embo-
ra o censo do IBGE aponte cerca de 18% da população brasileira TRABALHO: DIVISÃO SOCIAL E TERRITORIAL
residindo no campo, a realidade da maioria dos pequenos muni-
cípios é de predomínio de características econômicas e sociocul- Tendo em vista que trabalho é atividade humana de transfor-
turais rurais. Para Veiga (2003), 57% da população brasileira faz mação da natureza e do próprio ser humano, considera-se perti-
parte da rede urbana brasileira, sendo 34% em 12 aglomerações nente que um dos eixos temáticos na educação do campo permita
metropolitanas (a exemplo de Rio de Janeiro, São Paulo), 13% a reflexão sobre a organização produtiva na sociedade capitalista
em 37 aglomerações não-metropolitanas (são as grandes cidades, e em outros modos de produção. O ponto de partida é a análise
mas que ainda não se juntaram com aquelas que se localizam ao sobre as atividades humanas produtivas desenvolvidas pelos po-
seu entorno) e 10% em 77 centros urbanos que não pertencem a vos do campo.
aglomerações (cidades de porte médio).
Para Damasceno (1993), os saberes sociais são gestados na
O autor afirma que esses 57% da população vivem em 455 prática produtiva e na prática política do campesinato. Se traba-
municípios. As sedes dos outros 4.485 municípios do país teriam lho é atividade humana que gera transformação humana e territo-
características rurais e nelas vivem 30% da população brasileira. rial, estudar quais atividades os povos do campo desenvolvem e
Portanto, para o autor, o Brasil é menos urbano do que se imagi- quais atividades agrícolas, industriais e de serviços marcam de-
na. “Qualquer pessoa que conheça um município de pequeno ou terminadas conjunturas dos países é uma forma de aprofundar o
médio porte localizado fora de aglomerações poderá confirmar conceito de trabalho e compreender as relações socioterritoriais.
que sua economia é essencialmente alicerçada na utilização dire-
ta de recursos naturais” (VEIGA, 2003, p. 56). Do mesmo modo, é importante identificar quais atividades
humanas marcam a sociedade capitalista e outros modos de pro-
Os dados alertam para uma análise crítica, frente às teses dução. Mediante a análise do trabalho, estuda-se a sua divisão
anunciadas algumas décadas atrás que apontavam o campo como social e territorial. Divisão social é a organização da atividade
fadado ao êxodo. Cabe destacar a avaliação feita por Duarte humana em função das especialidades das características sociais,
(2003, p. 24), que expressa a análise dos movimentos sociais do como no caso das comunidades indígenas, em que a divisão do
campo: trabalho pode ser organizada em função da idade e do sexo, não
em função do aumento da produtividade de cada mercadoria e da
Vivemos um longo período de hegemonia das teses que afir- geração de lucro.
mavam a extinção do campo enquanto espaço social significati-
vo ao desenvolvimento da sociedade, condição que não deixava Na sociedade capitalista, a divisão social do trabalho é mar-
muitas possibilidades para pensar esta realidade. Quebrando a cada pela fragmentação do trabalho humano, uma vez que cada
linearidade e o absolutismo destes enfoques, no linear do sécu- indivíduo fica responsável por uma parte do produto que está
lo, dois indicadores do IBGE restabelecem perspectivas distintas sendo elaborado. O objetivo é a ampliação da produtividade e o
das tidas como seguras. O primeiro deles aponta para o fato de aumento do lucro por parte dos donos dos meios de produção. E
que o crescimento da população das cidades brasileiras é ve- no campo, como se dá a divisão social do trabalho? Como os jo-
getativo, mostrando uma desaceleração significativa do êxodo vens, mulheres, homens, vizinhos se organizam para a atividade
campo/cidade pelo esgotamento do modelo de industrialização. produtiva?
O segundo indicador, mais surpreendente, é de que a população
do campo teve crescimento relativo, permitindo projeções inver- É sabido que os povos do campo conhecem o ciclo completo
sas às tradicionais para as próximas décadas, crescimento esse da produção: plantio, cuidados técnicos e colheita. Em algumas
provocado pelo retorno em busca de trabalho e sossego, mas, lavouras, pode haver a necessidade de que um grupo de trabalha-
principalmente, pelas lutas da Reforma Agrária. Assim, o censo dores se dedique à capina, enquanto outros se dedicam à colhei-

Didatismo e Conhecimento 10
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
ta, sejam eles proprietários ou não. A divisão social do trabalho,
seja no campo ou na cidade, é fundamentada na “especialida- MARCO LEGAL DA EDUCAÇÃO DO
de” em determinada função e assim são originadas as diferentes CAMPO (RESOLUÇÃO CNE Nº 1/2002
profissões: técnicos agrícolas, agrônomos, professores, médicos – DIRETRIZES OPERACIONAIS PARA
etc, mas também pode estar assentada em valores ligados aos
EDUCAÇÃO BÁSICA DAS ESCOLAS
costumes de um determinado grupo social. É a formação educa-
cional que dará a peculiaridade à função social de determinado DO CAMPO E RESOLUÇÃO N° 2/2008,
indivíduo na lógica produtiva capitalista. Mas, entre os povos do - DIRETRIZES COMPLEMENTARES,
campo, há uma lógica da divisão social do trabalho que é cultu- NORMAS E PRINCÍPIOS PARA O
ral, podendo estar centralizada na organização da família, ou nas DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS
particularidades de cada atividade produtiva. PÚBLICAS DE ATENDIMENTO DA
Diante do exposto, nesse eixo temático são inúmeras as pos-
EDUCAÇÃO BÁSICA; DECRETO
sibilidades de trabalho em sala de aula, pois a própria lógica da 7.342 DE 04 DE NOVEMBRO DE 2010 –
divisão do trabalho na escola pode ser explorada com as crianças. PRONERA - RESOLUÇÃO CEE Nº 103/2015
A formação do professor e sua disposição para problematizar os QUE DISPÕE SOBRE A OFERTA DE
aspectos da vida cotidiana são essenciais à educação que se quer EDUCAÇÃO DO CAMPO NO SISTEMA
dos povos do campo.
ESTADUAL DE ENSINO DA BAHIA,
A divisão territorial do trabalho demonstra a organização dos DENTRE OUTROS),
países e a função que cada um ocupa no âmbito internacional.
Por exemplo, o Brasil desde o período da colonização, caracteri-
za-se como fornecedor de matéria-prima para o exterior. Sua es-
pecialidade, naquele período, era preparar a matéria-prima para CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA
a exportação. Nos dias atuais, o Brasil continua a exportar maté- DE EDUCAÇÃO BÁSICA
ria-prima (madeira, café, soja, trigo etc.) e importar materiais in-
dustrializados, embora tenha um parque industrial significativo. RESOLUÇÃO CNE/CEB 1, DE 3 DE ABRIL DE 2002.
Também, no Brasil, cada um dos estados possui particularidades
produtivas que demonstram uma divisão territorial do trabalho. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
nas Escolas do Campo.
Também, cada um dos municípios do Estado e do país pos-
sui particularidades produtivas e explorá-las poderá subsidiar o O Presidente da Câmara da Educação Básica, reconhecido
processo pedagógico. o modo próprio de vida social e o de utilização do espaço do
campo como fundamentais, em sua diversidade, para a constitui-
No eixo trabalho, estão as discussões sobre relações sociais ção da identidade da população rural e de sua inserção cidadã na
produtivas e o lugar que cada país ocupa no âmbito econômico, definição dos rumos da sociedade brasileira, e tendo em vista o
político e social no planeta. Trabalho é um conceito que guar- disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 -LDB, na
da relação com classe social. Trabalhador é aquele que vende a Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e na Lei nº 10.172, de
sua força de trabalho e dono do meio de produção é aquele que 9 de janeiro de 2001, que aprova o Plano Nacional de Educação,
detém o capital. Terra, indústria, dinheiro constituem o capital. e no Parecer CNE/CEB 36/2001, homologado pelo Senhor Mi-
Questões como essas auxiliam no desenvolvimento do conceito nistro de Estado da Educação em 12 de março de 2002, resolve:
trabalho, divisão social e territorial do trabalho, modo de produ-
ção e classes sociais. Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Operacio-
nais para a Educação Básica nas escolas do campo a serem ob-
Fonte: servadas nos projetos das instituições que integram os diversos
sistemas de ensino.
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dire-
trizes/diretrizescurricularesestaduaisdaeducacaodocampo.pdf Art. 2º Estas Diretrizes, com base na legislação educacio-
nal, constituem um conjunto de princípios e de procedimentos
que visam adequar o projeto institucional das escolas do campo
às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o
Ensino Fundamental e Médio, a Educação de Jovens e Adultos,
a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profis-
sional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível
Médio na modalidade Normal.

Didatismo e Conhecimento 11
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida § 2° As atividades constantes das propostas pedagógicas das
pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, an- escolas, preservadas as finalidades de cada etapa da educação bá-
corando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, sica e da modalidade de ensino prevista, poderão ser organizadas
na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e e desenvolvidas em diferentes espaços pedagógicos, sempre que
tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em o exercício do direito à educação escolar e o desenvolvimento
defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas da capacidade dos alunos de aprender e de continuar aprendendo
questões à qualidade social da vida coletiva no país. assim o exigirem.

Art. 3º O Poder Público, considerando a magnitude da im- Art. 8° As parcerias estabelecidas visando ao desenvolvi-
portância da educação escolar para o exercício da cidadania ple- mento de experiências de escolarização básica e de educação
na e para o desenvolvimento de um país cujo paradigma tenha profissional, sem prejuízo de outras exigências que poderão ser
como referências a justiça social, a solidariedade e o diálogo acrescidas pelos respectivos sistemas de ensino, observarão:
entre todos, independente de sua inserção em áreas urbanas ou
rurais, deverá garantir a universalização do acesso da população I - articulação entre a proposta pedagógica da instituição
do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível e as Diretrizes Curriculares
Técnico.
Nacionais para a respectiva etapa da Educação Básica ou
Art. 4° O projeto institucional das escolas do campo, expres- Profissional;
são do trabalho compartilhado de todos os setores comprometi-
dos com a universalização da educação escolar com qualidade II - direcionamento das atividades curriculares e pedagó-
social, constituir-se-á num espaço público de investigação e arti- gicas para um projeto de desenvolvimento sustentável;
culação de experiências e estudos direcionados para o mundo do
trabalho, bem como para o desenvolvimento social, economica- III - avaliação institucional da proposta e de seus impactos
mente justo e ecologicamente sustentável. sobre a qualidade da vida individual e coletiva;

Art. 5º As propostas pedagógicas das escolas do campo, res- IV - controle social da qualidade da educação escolar, me-
peitadas as diferenças e o direito à igualdade e cumprindo ime- diante a efetiva participação da comunidade do campo.
diata e plenamente o estabelecido nos artigos 23, 26 e 28 da Lei
9.394, de 1996, contemplarão a diversidade do campo em todos Art. 9º As demandas provenientes dos movimentos sociais
os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gê- poderão subsidiar os componentes estruturantes das políticas
nero, geração e etnia. educacionais, respeitado o direito à educação escolar, nos termos
da legislação vigente.
Parágrafo único. Para observância do estabelecido neste ar-
tigo, as propostas pedagógicas das escolas do campo, elaboradas Art. 10. O projeto institucional das escolas do campo, con-
no âmbito da autonomia dessas instituições, serão desenvolvidas siderado o estabelecido no artigo 14 da LDB, garantirá a gestão
e avaliadas sob a orientação das Diretrizes Curriculares Nacio- democrática, constituindo mecanismos que possibilitem estabe-
nais para a Educação Básica e a Educação Profissional de Nível lecer relações entre a escola, a comunidade local, os movimentos
Técnico. sociais, os órgãos normativos do sistema de ensino e os demais
setores da sociedade.
Art. 6º O Poder Público, no cumprimento das suas responsa-
bilidades com o atendimento escolar e à luz da diretriz legal do Art. 11. Os mecanismos de gestão democrática, tendo como
regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Fe- perspectiva o exercício do poder nos termos do disposto no pará-
deral e os Municípios, proporcionará Educação Infantil e Ensino grafo 1º do artigo 1º da Carta Magna, contribuirão diretamente:
Fundamental nas comunidades rurais, inclusive para aqueles que I - para a consolidação da autonomia das escolas e o for-
não o concluíram na idade prevista, cabendo em especial aos Es- talecimento dos conselhos que propugnam por um projeto de de-
tados garantir as condições necessárias para o acesso ao Ensino senvolvimento que torne possível à população do campo viver
Médio e à Educação Profissional de Nível Técnico. com dignidade;

Art. 7º É de responsabilidade dos respectivos sistemas de II - para a abordagem solidária e coletiva dos problemas
ensino, através de seus órgãos normativos, regulamentar as es- do campo, estimulando a autogestão no processo de elaboração,
tratégias específicas de atendimento escolar do campo e a flexi- desenvolvimento e avaliação das propostas pedagógicas das ins-
bilização da organização do calendário escolar, salvaguardando, tituições de ensino.
nos diversos espaços pedagógicos e tempos de aprendizagem, os
princípios da política de igualdade. Art. 12. O exercício da docência na Educação Básica, cum-
prindo o estabelecido nos artigos 12, 13, 61 e 62 da LDB e nas
§ 1° O ano letivo, observado o disposto nos artigos 23, 24 Resoluções 3/1997 e 2/1999, da Câmara da Educação Básica,
e 28 da LDB, poderá ser estruturado independente do ano civil. assim como os Pareceres 9/2002, 27/2002 e 28/2002 e as Reso-
luções 1/2002 e 2/2002 do Pleno do Conselho Nacional de Edu-

Didatismo e Conhecimento 12
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
cação, a respeito da formação de professores em nível superior III - remuneração digna, inclusão nos planos de carreira e
para a Educação Básica, prevê a formação inicial em curso de institucionalização de programas de formação continuada para os
licenciatura, estabelecendo como qualificação mínima, para a profissionais da educação que propiciem, no mínimo, o disposto
docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fun- nos artigos 13, 61, 62 e 67 da LDB.
damental, o curso de formação de professores em Nível Médio,
na modalidade Normal. Art. 16. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publi-
cação, ficando revogadas as disposições em contrário.
Parágrafo único. Os sistemas de ensino, de acordo com o
artigo 67 da LDB desenvolverão políticas de formação inicial e FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
continuada, habilitando todos os professores leigos e promoven- Presidente da Câmara de Educação Básica
do o aperfeiçoamento permanente dos docentes.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Art. 13. Os sistemas de ensino, além dos princípios e dire- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
trizes que orientam a Educação Básica no país, observarão, no CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
processo de normatização complementar da formação de pro-
fessores para o exercício da docência nas escolas do campo, os RESOLUÇÃO Nº 2, DE 28 DE ABRIL DE 2008
seguintes componentes:
Estabelece diretrizes complementares, normas e princípios
I - estudos a respeito da diversidade e o efetivo prota- para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da
gonismo das crianças, dos jovens e dos adultos do campo na Educação Básica do Campo.
construção da qualidade social da vida individual e coletiva, da
região, do país e do mundo; A Presidenta da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e de
II - propostas pedagógicas que valorizem, na organiza- conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da
ção do ensino, a diversidade cultural e os processos de interação
Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995,
e transformação do campo, a gestão democrática, o acesso ao
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 23/2007, reexaminado
avanço científico e tecnológico e respectivas contribuições para
pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008, homologado por despacho do
a melhoria das condições de vida e a fidelidade aos princípios
Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de
éticos que norteiam a convivência solidária e colaborativa nas
11/4/2008, resolve:
sociedades democráticas.
Art. 1º A Educação do Campo compreende a Educação Bá-
Art. 14. O financiamento da educação nas escolas do campo,
sica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Fundamental,
tendo em vista o que determina a Constituição Federal, no arti-
Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível médio
go 212 e no artigo 60 dos Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias, a LDB, nos artigos 68, 69, 70 e 71, e a regulamen- integrada com o Ensino Médio e destina-se ao atendimento às
tação do Fundo de populações rurais em suas mais variadas formas de produção da
vida – agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesa-
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e nais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrária,
de Valorização do Magistério - Lei 9.424, de 1996, será assegu- quilombolas, caiçaras, indígenas e outros.
rado mediante cumprimento da legislação a respeito do financia-
mento da educação escolar no Brasil. § 1º A Educação do Campo, de responsabilidade dos Entes
Federados, que deverão estabelecer formas de colaboração em
Art. 15. No cumprimento do disposto no § 2º, do art. 2º, da seu planejamento e execução, terá como objetivos a universali-
Lei 9.424, de 1996, que determina a diferenciação do custo-aluno zação do acesso, da permanência e do sucesso escolar com quali-
com vistas ao financiamento da educação escolar nas escolas do dade em todo o nível da Educação Básica.
campo, o Poder Público levará em consideração:
§ 2º A Educação do Campo será regulamentada e oferecida
I - as responsabilidades próprias da União, dos Estados, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, nos res-
do Distrito Federal e dos Municípios com o atendimento escolar pectivos âmbitos de atuação prioritária.
em todas as etapas e modalidades da Educação Básica, contem-
plada a variação na densidade demográfica e na relação profes- § 3º A Educação do Campo será desenvolvida, preferente-
sor/aluno; mente, pelo ensino regular.

II - as especificidades do campo, observadas no atendi- § 4º A Educação do Campo deverá atender, mediante pro-
mento das exigências de materiais didáticos, equipamentos, la- cedimentos adequados, na modalidade da Educação de Jovens
boratórios e condições de deslocamento dos alunos e professores e Adultos, as populações rurais que não tiveram acesso ou não
apenas quando o atendimento escolar não puder ser assegurado concluíram seus estudos, no Ensino Fundamental ou no Ensino
diretamente nas comunidades rurais; Médio, em idade própria.

Didatismo e Conhecimento 13
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
§ 5º Os sistemas de ensino adotarão providências para que Art. 7º A Educação do Campo deverá oferecer sempre o in-
as crianças e os jovens portadores de necessidades especiais, ob- dispensável apoio pedagógico aos alunos, incluindo condições
jeto da modalidade de Educação Especial, residentes no campo, infraestruturais adequadas, bem como materiais e livros didáti-
também tenham acesso à Educação Básica, preferentemente em cos, equipamentos, laboratórios, biblioteca e áreas de lazer e des-
escolas comuns da rede de ensino regular. porto, em conformidade com a realidade local e as diversidades
dos povos do campo, com atendimento ao art. 5º das Diretrizes
Art. 2º Os sistemas de ensino adotarão medidas que asse- Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo.
gurem o cumprimento do artigo 6º da Resolução CNE/CEB nº
1/2002, quanto aos deveres dos Poderes Públicos na oferta de § 1º A organização e o funcionamento das escolas do campo
Educação Básica às comunidades rurais. respeitarão as diferenças entre as populações atendidas quanto
à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua cultura e suas
Parágrafo único. A garantia a que se refere o caput, sempre tradições.
que necessário e adequado à melhoria da qualidade do ensino,
deverá ser feita em regime de colaboração entre os Estados e seus
§ 2º A admissão e a formação inicial e continuada dos pro-
Municípios ou mediante consórcios municipais.
fessores e do pessoal de magistério de apoio ao trabalho docente
deverão considerar sempre a formação pedagógica apropriada à
Art. 3º A Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino
Fundamental serão sempre oferecidos nas próprias comunidades Educação do Campo e às oportunidades de atualização e aper-
rurais, evitando-se os processos de nucleação de escolas e de des- feiçoamento com os profissionais comprometidos com suas es-
locamento das crianças. pecificidades.

§ 1º Os cincos anos iniciais do Ensino Fundamental, excep- Art. 8º O transporte escolar, quando necessário e indispen-
cionalmente, poderão ser oferecidos em escolas nucleadas, com sável, deverá ser cumprido de acordo com as normas do Código
deslocamento intracampo dos alunos, cabendo aos sistemas esta- Nacional de Trânsito quanto aos veículos utilizados.
duais e municipais estabelecer o tempo máximo dos alunos em
deslocamento a partir de suas realidades. § 1º Os contratos de transporte escolar observarão os artigos
137, 138 e 139 do referido Código.
§ 2º Em nenhuma hipótese serão agrupadas em uma mes-
ma turma crianças de Educação Infantil com crianças do Ensino § 2º O eventual transporte de crianças e jovens portadores de
Fundamental. necessidades especiais, em suas próprias comunidades ou quan-
do houver necessidade de deslocamento para a nucleação, deverá
Art. 4º Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental não adaptar-se às condições desses alunos, conforme leis específicas.
puderem ser oferecidos nas próprias comunidades das crianças, a
nucleação rural levará em conta a participação das comunidades § 3º Admitindo o princípio de que a responsabilidade pelo
interessadas na definição do local, bem como as possibilidades transporte escolar de alunos da rede municipal seja dos próprios
de percurso a pé pelos alunos na menor distância a ser percorrida. Municípios e de alunos da rede estadual seja dos próprios Esta-
dos, o regime de colaboração entre os entes federados far-se-á em
Parágrafo único. Quando se fizer necessária a adoção do conformidade com a
transporte escolar, devem ser considerados o menor tempo pos-
sível no percurso residência-escola e a garantia de transporte das Lei nº 10.709/2003 e deverá prever que, em determinadas
crianças do campo para o campo. circunstâncias de racionalidade e de 2 economicidade, os veícu-
los pertencentes ou contratados pelos Municípios também trans-
Art. 5º Para os anos finais do Ensino Fundamental e para o
portem alunos da rede estadual e vice-versa.
Ensino Médio, integrado ou não à Educação Profissional Téc-
nica, a nucleação rural poderá constituir-se em melhor solução,
Art. 9º A oferta de Educação do Campo com padrões míni-
mas deverá considerar o processo de diálogo com as comunida-
des atendidas, respeitados seus valores e sua cultura. mos de qualidade estará sempre subordinada ao cumprimento da
legislação educacional e das Diretrizes Operacionais enumeradas
§ 1º Sempre que possível, o deslocamento dos alunos, como na Resolução CNE/CEB nº 1/2002.
previsto no caput, deverá ser feito do campo para o campo, evi-
tando-se, ao máximo, o deslocamento do campo para a cidade. Art. 10 O planejamento da Educação do Campo, oferecida
em escolas da comunidade, multisseriadas ou não, e quando a nu-
§ 2º Para que o disposto neste artigo seja cumprido, deverão cleação rural for considerada, para os anos do Ensino Fundamen-
ser estabelecidas regras para o regime de colaboração entre os tal ou para o Ensino Médio ou Educação Profissional Técnica de
Estados e seus Municípios ou entre Municípios consorciados. nível médio integrada com o Ensino Médio, considerará sempre
as distâncias de deslocamento, as condições de estradas e vias, o
Art. 6º A oferta de Educação de Jovens e Adultos também estado de conservação dos veículos utilizados e sua idade de uso,
deve considerar que os deslocamentos sejam feitos nas menores a melhor localização e as melhores possibilidades de trabalho
distâncias possíveis, preservado o princípio intracampo. pedagógico com padrão de qualidade.

Didatismo e Conhecimento 14
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
§ 1º É indispensável que o planejamento de que trata o caput § 2º Serão consideradas do campo as turmas anexas vincu-
seja feito em comum com as comunidades e em regime de cola- ladas a escolas com sede em área urbana, que funcionem nas
boração, Estado/Município ou Município/Município consorcia- condições especificadas no inciso II do § 1o.
dos.
§ 3º As escolas do campo e as turmas anexas deverão elabo-
§ 2º As escolas multisseriadas, para atingirem o padrão de rar seu projeto político pedagógico, na forma estabelecida pelo
qualidade definido em nível nacional, necessitam de professores Conselho Nacional de Educação.
com formação pedagógica, inicial e continuada, instalações físi-
cas e equipamentos adequados, materiais didáticos apropriados e § 4º A educação do campo concretizar-se-á mediante a oferta
supervisão pedagógica permanente. de formação inicial e continuada de profissionais da educação, a
garantia de condições de infraestrutura e transporte escolar, bem
Art. 11 O reconhecimento de que o desenvolvimento rural como de materiais e livros didáticos, equipamentos, laboratórios,
biblioteca e áreas de lazer e desporto adequados ao projeto po-
deve ser integrado, constituindo-se a Educação do Campo em
líticopedagógico e em conformidade com a realidade local e a
seu eixo integrador, recomenda que os Entes Federados – União,
diversidade das populações do campo.
Estados, Distrito Federal e Municípios – trabalhem no sentido
de articular as ações de diferentes setores que participam desse
Art. 2º São princípios da educação do campo:
desenvolvimento, especialmente os Municípios, dada a sua con-
dição de estarem mais próximos dos locais em que residem as I - respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais,
populações rurais. culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracio-
nal e de raça e etnia;
Art. 12 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publi-
cação, ficando ratificadas as Diretrizes Operacionais instituídas II - incentivo à formulação de projetos político-pedagógicos
pela Resolução CNE/CEB nº 1/2002 e revogadas as disposições específicos para as escolas do campo, estimulando o desenvolvi-
em contrário. mento das unidades escolares como espaços públicos de investi-
gação e articulação de experiências e estudos direcionados para o
CLÉLIA BRANDÃO ALVARENGA CRAVEIRO desenvolvimento social, economicamente justo e ambientalmen-
te sustentável, em articulação com o mundo do trabalho;
DECRETO Nº 7.352, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2010
III - desenvolvimento de políticas de formação de profissio-
Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa nais da educação para o atendimento da especificidade das esco-
Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA. las do campo, considerando-se as condições concretas da produ-
ção e reprodução social da vida no campo;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da Cons- IV - valorização da identidade da escola do campo por meio
tituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 9.394, de 20 de de projetos pedagógicos com conteúdos curriculares e metodolo-
dezembro de 1996, e no art. 33 da Lei no 11.947, de 16 de junho gias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo, bem
de 2009, DECRETA: como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
Art. 1º A política de educação do campo destina-se à am- climáticas; e
pliação e qualificação da oferta de educação básica e superior às
V - controle social da qualidade da educação escolar, me-
populações do campo, e será desenvolvida pela União em regime
diante a efetiva participação da comunidade e dos movimentos
de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
sociais do campo.
pios, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano
Nacional de Educação e o disposto neste Decreto.
Art. 3º Caberá à União criar e implementar mecanismos que
§ 1º Para os efeitos deste Decreto, entende-se por: garantam a manutenção e o desenvolvimento da educação do
campo nas políticas públicas educacionais, com o objetivo de su-
I - populações do campo: os agricultores familiares, os ex- perar as defasagens históricas de acesso à educação escolar pelas
trativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados populações do campo, visando em especial:
e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados
rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os cabo- I - reduzir os indicadores de analfabetismo com a oferta de
clos e outros que produzam suas condições materiais de existên- políticas de educação de jovens e adultos, nas localidades onde
cia a partir do trabalho no meio rural; e vivem e trabalham, respeitando suas especificidades quanto aos
horários e calendário escolar;
II - escola do campo: aquela situada em área rural, confor-
me definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e II - fomentar educação básica na modalidade Educação de
Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que Jovens e Adultos, integrando qualificação social e profissional ao
atenda predominantemente a populações do campo. ensino fundamental;

Didatismo e Conhecimento 15
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
III - garantir o fornecimento de energia elétrica, água potável IX - oferta de transporte escolar, respeitando as especificida-
e saneamento básico, bem como outras condições necessárias ao des geográficas, culturais e sociais, bem como os limites de idade
funcionamento das escolas do campo; e e etapas escolares.

IV - contribuir para a inclusão digital por meio da ampliação § 1º A União alocará recursos para as ações destinadas à pro-
do acesso a computadores, à conexão à rede mundial de compu- moção da educação nas áreas de reforma agrária, observada a
tadores e a outras tecnologias digitais, beneficiando a comunida- disponibilidade orçamentária.
de escolar e a população próxima às escolas do campo.
§ 2º Ato do Ministro de Estado da Educação disciplinará as
Parágrafo único. Aos Estados, Distrito Federal e Municípios condições, critérios e procedimentos para apoio técnico e finan-
que desenvolverem a educação do campo em regime de colabo- ceiro às ações de que trata este artigo.
ração com a União caberá criar e implementar mecanismos que
garantam sua manutenção e seu desenvolvimento nas respectivas Art. 5º A formação de professores para a educação do campo
esferas, de acordo com o disposto neste Decreto. observará os princípios e objetivos da Política Nacional de For-
mação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, con-
Art. 4º A União, por meio do Ministério da Educação, pres- forme disposto no Decreto no 6.755, de 29 de janeiro de 2009, e
tará apoio técnico e financeiro aos Estados, ao Distrito Federal será orientada, no que couber, pelas diretrizes estabelecidas pelo
e aos Municípios na implantação das seguintes ações voltadas à Conselho Nacional de Educação.
ampliação e qualificação da oferta de educação básica e superior
às populações do campo em seus respectivos sistemas de ensino, § 1º Poderão ser adotadas metodologias de educação a dis-
sem prejuízo de outras que atendam aos objetivos previstos neste tância para garantir a adequada formação de profissionais para a
Decreto: educação do campo.

I - oferta da educação infantil como primeira etapa da educa- § 2º A formação de professores poderá ser feita concomi-
ção básica em creches e pré-escolas do campo, promovendo o de- tantemente à atuação profissional, de acordo com metodologias
senvolvimento integral de crianças de zero a cinco anos de idade; adequadas, inclusive a pedagogia da alternância, e sem prejuízo
de outras que atendam às especificidades da educação do campo,
II - oferta da educação básica na modalidade de Educação e por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão.
de Jovens e Adultos, com qualificação social e profissional, ar-
ticulada à promoção do desenvolvimento sustentável do campo; § 3º As instituições públicas de ensino superior deverão
incorporar nos projetos político-pedagógicos de seus cursos de
III - acesso à educação profissional e tecnológica, integra- licenciatura os processos de interação entre o campo e a cidade
da, concomitante ou sucessiva ao ensino médio, com perfis ade- e a organização dos espaços e tempos da formação, em conso-
quados às características socioeconômicas das regiões onde será nância com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional
ofertada; de Educação.

IV - acesso à educação superior, com prioridade para a for- Art. 6º Os recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos,
mação de professores do campo; culturais e literários destinados à educação do campo deverão
atender às especificidades e apresentar conteúdos relacionados
V - construção, reforma, adequação e ampliação de escolas aos conhecimentos das populações do campo, considerando os
do campo, de acordo com critérios de sustentabilidade e acessi- saberes próprios das comunidades, em diálogo com os saberes
bilidade, respeitando as diversidades regionais, as características acadêmicos e a construção de propostas de educação no campo
das distintas faixas etárias e as necessidades do processo educa- contextualizadas.
tivo;
Art. 7º No desenvolvimento e manutenção da política de
VI - formação inicial e continuada específica de professo- educação do campo em seus sistemas de ensino, sempre que o
res que atendam às necessidades de funcionamento da escola do cumprimento do direito à educação escolar assim exigir, os entes
campo; federados assegurarão:

VII - formação específica de gestores e profissionais da edu- I - organização e funcionamento de turmas formadas por alu-
cação que atendam às necessidades de funcionamento da escola nos de diferentes idades e graus de conhecimento de uma mesma
do campo; etapa de ensino, especialmente nos anos iniciais do ensino fun-
damental;
VIII - produção de recursos didáticos, pedagógicos, tecno-
lógicos, culturais e literários que atendam às especificidades for- II - oferta de educação básica, sobretudo no ensino médio e
mativas das populações do campo; e nas etapas dos anos finais do ensino fundamental, e de educação
superior, de acordo com os princípios da metodologia da pedago-
gia da alternância; e

Didatismo e Conhecimento 16
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
III - organização do calendário escolar de acordo com as fa- II - melhorar as condições do acesso à educação do público
ses do ciclo produtivo e as condições climáticas de cada região. do PNRA; e

Art. 8º Em cumprimento ao art. 12 da Lei no 11.947, de 16 III - proporcionar melhorias no desenvolvimento dos assen-
de junho de 2009, os entes federados garantirão alimentação es- tamentos rurais por meio da qualificação do público do PNRA
colar dos alunos de acordo com os hábitos alimentares do con- e dos profissionais que desenvolvem atividades educacionais e
texto socioeconômico-cultural-tradicional predominante em que técnicas nos assentamentos.
a escola está inserida.
Art. 13. São beneficiários do PRONERA:
Art. 9º O Ministério da Educação disciplinará os requisitos I - população jovem e adulta das famílias beneficiárias dos
e os procedimentos para apresentação, por parte dos Estados, projetos de assentamento criados ou reconhecidos pelo INCRA e
Municípios e Distrito Federal, de demandas de apoio técnico e do Programa Nacional de Crédito Fundiário - PNFC, de que trata
financeiro suplementares para atendimento educacional das po- o § 1o do art. 1º do Decreto no 6.672, de 2 de dezembro de 2008;
pulações do campo, atendidas no mínimo as seguintes condições:
II - alunos de cursos de especialização promovidos pelo IN-
I - o ente federado, no âmbito de suas responsabilidades, de- CRA;
verá prever no respectivo plano de educação, diretrizes e metas
para o desenvolvimento e a manutenção da educação do campo; III - professores e educadores que exerçam atividades educa-
cionais voltadas às famílias beneficiárias; e
II - os Estados e o Distrito Federal, no âmbito de suas Secre-
tarias de Educação, deverão contar com equipes técnico-pedagó- IV - demais famílias cadastradas pelo INCRA.
gicas específicas, com vistas à efetivação de políticas públicas de
educação do campo; e Art. 14. O PRONERA compreende o apoio a projetos nas
seguintes áreas:
III - os Estados e o Distrito Federal deverão constituir instân-
cias colegiadas, com participação de representantes municipais, I - alfabetização e escolarização de jovens e adultos no en-
das organizações sociais do campo, das universidades públicas e sino fundamental;
outras instituições afins, com vistas a colaborar com a formula-
ção, implementação e acompanhamento das políticas de educa- II - formação profissional conjugada com o ensino de nível
ção do campo. médio, por meio de cursos de educação profissional de nível téc-
nico, superior e pós-graduação em diferentes áreas do conheci-
Parágrafo único. Ato do Ministro de Estado da Educação mento;
disporá sobre a instalação, a composição e o funcionamento de
comissão nacional de educação do campo, que deverá articular- III - capacitação e escolaridade de educadores;
se com as instâncias colegiadas previstas no inciso III no acom-
panhamento do desenvolvimento das ações a que se refere este IV - formação continuada e escolarização de professores de
Decreto. nível médio, na modalidade normal, ou em nível superior, por
meio de licenciaturas e de cursos de pós-graduação;
Art. 10. O Ministério da Educação poderá realizar parcerias
com outros órgãos e entidades da administração pública para o V - produção, edição e organização de materiais didático-pe-
desenvolvimento de ações conjuntas e para apoiar programas e dagógicos necessários à execução do PRONERA; e
outras iniciativas no interesse da educação do campo, observadas
as diretrizes fixadas neste Decreto. VI - realização de estudos e pesquisas e promoção de semi-
nários, debates e outras atividades com o objetivo de subsidiar e
Art. 11. O Programa Nacional de Educação na Reforma fortalecer as atividades do PRONERA.
Agrária - PRONERA, executado no âmbito do Ministério do De- Parágrafo único. O INCRA celebrará contratos, convênios,
senvolvimento Agrário pelo Instituto Nacional de Colonização termos de cooperação ou outros instrumentos congêneres com
e Reforma Agrária - INCRA, nos termos do art. 33 da Lei no instituições de ensino públicas e privadas sem fins lucrativos e
11.947, de 16 de junho de 2009, integra a política de educação demais órgãos e entidades públicas para execução de projetos no
do campo. âmbito do PRONERA.

Art. 12. Os objetivos do PRONERA são: Art. 15. Os projetos desenvolvidos no âmbito do PRONERA
poderão prever a aplicação de recursos para o custeio das ativida-
I - oferecer educação formal aos jovens e adultos beneficiá- des necessárias à sua execução, conforme norma a ser expedida
rios do Plano Nacional de Reforma Agrária - PNRA, em todos os pelo INCRA, nos termos da legislação vigente.
níveis de ensino;
Art. 16. A gestão nacional do PRONERA cabe ao INCRA,
que tem as seguintes atribuições:

Didatismo e Conhecimento 17
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
I - coordenar e supervisionar os projetos executados no âm- GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
bito do Programa; SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
II - definir procedimentos e produzir manuais técnicos para
as atividades relacionadas ao Programa, aprovando-os em atos RESOLUÇÃO CEE Nº 103, de 28 de setembro de 2015
próprios no âmbito de sua competência ou propondo atos norma-
tivos da competência do Ministro de Estado do Desenvolvimento Dispõe sobre a oferta da Educação do Campo, no Sistema
Agrário; e Estadual de Ensino da Bahia.

III - coordenar a Comissão Pedagógica Nacional de que trata A PRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DE EDU-
o art. 17. CAÇÃO, no uso das atribuições que lhe confere a lei de sua cria-
ção nº 172, de 25 de maio de 1842, considerando a Lei Federal
Art. 17. O PRONERA contará com uma Comissão Pedagó- – LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei nº 11.947, de
gica Nacional, formada por representantes da sociedade civil e 16 de junho de 2009, principalmente o seu art.33, Lei nº 11.352,
do governo federal, com as seguintes finalidades: de 23 de dezembro de 2008; Lei nº 12.960 de 27 de março de
2014; o Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009, Decreto nº
I - orientar e definir as ações político-pedagógicas; 7.352, de 04 de novembro de 2010, Resolução CNE/CEB nº1, de
03 de abril de 2002, Resolução CNE/CEB nº 02, de 28 de abril
II - emitir parecer técnico e pedagógico sobre propostas de de 2008, Resolução CNE/CEB nº 05 de 22 de junho de 2012 e
trabalho e projetos; e Resolução CEE/CEB nº 106 de dezembro de 2004, Resolução
CEE/CEB nº 68 de 30 de julho de 2013; e as normas vigentes do
III - acompanhar e avaliar os cursos implementados no âm- CNE e do CEE-BA,
bito do Programa.
RESOLVE:
§ 1º A composição e atribuições da Comissão Pedagógica
Art. 1º. Estabelecer que a oferta da Educação do Campo,
Nacional serão disciplinadas pelo Presidente do INCRA.
no nível da Educação Básica, destina-se à formação integral das
populações do campo, em escolas do campo, entendidas como
§ 2º A Comissão Pedagógica Nacional deverá contar com
unidades de ensino situadas na área rural, caracterizada conforme
a participação de representantes, entre outros, do Ministério do
a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE
Desenvolvimento Agrário, do Ministério da Educação e do IN-
ou aquelas situadas em áreas urbanas, desde que atendam priori-
CRA.
tariamente as populações do campo.
Art. 18. As despesas da União com a política de educação do Parágrafo único. A Educação Profissional do Campo, funda-
campo e com o PRONERA correrão à conta das dotações orça- da nos princípios da Educação do Campo, desenvolver-se-á com
mentárias anualmente consignadas, respectivamente, aos Minis- base nas normativas vigentes e, principalmente, o disposto nesta
térios da Educação e do Desenvolvimento Agrário, observados Resolução.
os limites estipulados pelo Poder Executivo, na forma da legisla-
ção orçamentária e financeira. Art. 2º. As populações do campo compreendem os agricul-
tores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os
Art. 19. Este Decreto entra em vigor na data de sua publi- ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os
cação. trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os povos in-
dígenas, os caboclos, os moradores de fundo de pastos e outros
Brasília, 4 de novembro de 2010; 189º da Independência e que produzam suas condições materiais de existência com base
122º da República. no trabalho rural.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad Art. 3º. A Educação do Campo compreende a oferta da Edu-
Daniel Maia cação Básica e da Superior, em todas as suas modalidades, ten-
do em vista a formação inicial e continuada das populações do
campo e de profissionais da educação, e contemplando a política
da Educação Inclusiva, da sustentabilidade e bem-estar, em con-
sonância com a realidade local e a diversidade das populações
do campo.

Parágrafo único. Entende-se por educação inclusiva aquela


que se fundamenta no respeito à diversidade humana, que requer
uma organização nos aspectos: administrativo, estrutural, arqui-
tetônico, material e pedagógico, para favorecer a aprendizagem
de todos os estudantes.

Didatismo e Conhecimento 18
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
Art. 4º. A Educação do Campo tem como princípios: VII - transporte escolar, observando as normas de seguran-
ça e de qualidade, adequado às condições locais e priorizando o
I - compreensão do trabalho como princípio educativo e da intracampo;
cultura como matriz do conhecimento;
Parágrafo único. As Escolas do Campo devem observar, nos
II - respeito à diversidade da população do campo em todos seus projetos políticos- pedagógicos, as Diretrizes Curriculares
seus aspectos; Nacionais Gerais para a Educação Básica, em todas as suas eta-
pas e modalidades.
III - garantia da definição de projetos educativos com peda-
gogias condizentes às condições e aos anseios das populações Art. 6º. Compete ao Estado, em regime de colaboração com
do campo; a União e Municípios, instituir e implementar políticas de educa-
ção pública do campo e viabilizar mecanismos para:
IV - reconhecimento das unidades escolares como espaços
públicos de ensino e aprendizagem, produção de conhecimento e I - a oferta de educação de qualidade, em todas as etapas e
articulação de experiências de vida dos educandos; modalidades, integrando a Educação Básica com a Profissional,
enfatizando a ampliação de vagas no Ensino Médio;
V - desenvolvimento de políticas de formação de profissio-
nais da educação para o atendimento às especificidades, conside- II - a valorização das tecnologias sociais tanto como equipa-
rando-se as condições concretas da produção e reprodução social mento escolar, quanto como objeto pedagógico;
da vida no campo;
III - a inclusão digital, ampliando o acesso e conexão à rede
VI - valorização da identidade da escola por meio de proje- mundial de computadores e a outras tecnologias digitais, benefi-
tos político-pedagógicos com organização curricular e metodoló- ciando estudantes, profissionais de educação e a comunidade do
gicas adequadas às necessidades dos educandos e comunidades entorno;
do campo;
IV - o atendimento com equidade no sistema escolar do Es-
VII - flexibilização na organização escolar, visando à ade-
tado da Bahia entre escolas situadas nas áreas urbanas e rurais;
quação do tempo pedagógico, à definição do calendário, os pro-
cessos de organização de turmas, sem prejuízos das normas de
V - o levantamento da demanda das populações do campo
proteção da infância contra o trabalho infantil; e
por meio da Chamada Escolar dentro do princípio da busca ativa;
VIII - controle social da qualidade da educação escolar, me-
VI - o reconhecimento de saberes construídos na vida e no
diante a efetiva participação da comunidade e dos movimentos
trabalho para fins de equivalência e certificação da escolaridade
sociais relacionados às questões do campo, na gestão da escola.
na Educação Básica, na modalidade de Educação Profissional;
Art. 5º. A oferta da Educação no Campo deve garantir:
VII - o apoio técnicopedagógico e financeiro, inclusive os
I - criação e reabertura de escolas e reestruturação das exis- específicos, visando à efetivação das políticas públicas;
tentes, no campo, prioritariamente para oferta da Educação In-
fantil; VIII - a constituição de instâncias colegiadas, com partici-
pação de representantes das organizações e movimentos sociais
II - condições de infraestrutura, atendendo os critérios de populares e de instituições educacionais, com vistas a colaborar
sustentabilidade socioambiental e bem-estar estabelecidos nas com a formulação, implementação e acompanhamento das polí-
normas vigentes, incluindo ainda as áreas de lazer, desporto e ticas públicas, no âmbito da Educação do Campo;
atividades culturais adequadas aos processos pedagógicos;
IX - a realização de parcerias, com a anuência da escola, com
III - materiais e livros didáticos que dialoguem com o con- outros órgãos e entidades da administração pública e/ou organi-
texto local; zações da sociedade civil ligadas a questões do campo para o de-
senvolvimento de ações conjuntas de apoio a programas e outras
IV - equipamentos, laboratórios, bibliotecas e brinquedote- iniciativas de fortalecimento da educação escolar, a exemplo da
cas previstos nos respectivos projetos educativos; pesquisa e extensão rural;

V - alimentação Escolar, preferencialmente produzida na X - a garantia da oferta de formação continuada para os pro-
própria escola; fissionais de Educação.

VI - profissionais qualificados para atuar na Educação do Parágrafo único. As instâncias colegiadas referidas no inciso
Campo; e VIII deste artigo deverão articular-se com o Fórum Estadual de
Educação do Campo (FEEC) e/ou sucedâneos, e com os respec-

Didatismo e Conhecimento 19
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
tivos movimentos sociais demandantes da educação, tendo em b) respeitar e garantir os referenciais nutricionais, os hábitos
vista o atendimento das necessidades comuns e a superação dos alimentares saudáveis, a cultura e a tradição alimentar da localidade.
problemas coletivos.
Parágrafo único. A Alimentação Escolar deve priorizar a
Art.7º A organização curricular das etapas educação infantil, produção local, tendo em vista a dinamização da base econômica
ensino fundamental e médio deverá atender às especificidades da agricultura familiar.
do público para o qual serão ofertadas, em formas diferenciadas,
conforme recomende o interesse do processo de aprendizagem. Art. 11. O transporte escolar do campo deverá atender as
necessidades dos Projetos Políticos Pedagógicos, garantindo
§ 1º A organização dos espaços e tempos pedagógicos dife- qualidade e segurança para o deslocamento dos estudantes e pro-
renciados requer elaboração de planos de estudos adequados à fissionais da educação.
realidade, à pesquisa, aos trabalhos práticos, à avaliação e acom-
panhamento docente, e ao envolvimento dos diferentes segmen- § 1º O transporte deverá ser realizado considerando o menor tem-
tos que constituem as comunidades escolares, sendo permitida a po possível no percurso dando prioridade para que seja intracampo.
alternância, a itinerância docente e a contabilização dos períodos
vivenciados na comunidade (com supervisão da escola) como § 2º O atendimento do transporte escolar, nas comunidades
dias e horas letivos. situadas nos limites entre municípios, poderá ser efetuado me-
diante consórcio sob a responsabilidade dos municípios e/ou em
§ 2º O calendário escolar na oferta da Educação do Campo parceria com o Estado.
deverá ser flexibilizado, independente do ano civil, considerando
as condições climáticas, as fases de produção agrícola, os tempos § 3º O transporte de estudantes com deficiência deverá ser
formativos e atividades práticas apropriadas às reais necessida- feito, quando necessário, em veículos adaptados, conforme le-
des e interesses do Projeto Político Pedagógico de cada escola. gislação específica.

§ 4º O transporte deverá ser realizado considerando horários de


Art. 8º. A organização de turmas formadas por estudantes da
acordo com as peculiaridades e as necessidades da vida no campo,
mesma etapa na educação básica poderá observar, quando neces-
especialmente nas creches e nos primeiros anos do ensino básico.
sário, diferentes possibilidades de funcionamento:
Art. 12. A formação inicial e continuada dos profissionais
a) unidocência na educação infantil e nos anos iniciais do
para a Educação do Campo observará o Plano do Fórum Perma-
ensino fundamental;
nente de Formação de Professores do Estado da Bahia, além da
Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da
b) multidocência, por área do conhecimento, para atender
Educação Básica, das diretrizes operacionais do Conselho Nacio-
estudantes dos anos finais do ensino fundamental e médio;
nal de Educação e as normas do Conselho Estadual de Educação.
c) multisseriação, na perspectiva da inovação pedagógica, § 1º A formação inicial e permanente dos profissionais da
no ensino fundamental, respeitando os segmentos anos iniciais e Educação do Campo deverá ser garantida com base em concepção
anos finais, desde que garantida a formação específica do profes- e metodologia própria, atendendo as especificidades da educação
sor e sem prejuízo da qualidade do ensino; e do campo, por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão,
desenvolvidas pelas Instituições Públicas de Educação Superior.
d) multiturmas no ensino médio, para atender estudantes
do primeiro e segundo anos ou do segundo e terceiro anos. § 2º As instituições formadoras deverão referendar nos proje-
tos político-pedagógicos de seus cursos de licenciatura os proces-
Art. 9º. Os recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos, sos de interação entre o campo e a cidade, com a organização dos
culturais e literários destinados à educação do campo deverão espaços e tempos da formação, em consonância com a Política Na-
atender às suas especificidades considerando os saberes próprios cional de Educação do Campo, as Diretrizes do Conselho Nacional
das comunidades e em diálogo com os saberes universalizados. de Educação e as normas do Conselho Estadual de Educação.

Art. 10. Na oferta da alimentação escolar, os cardápios de- Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publi-
verão ser elaborados e avaliados por profissionais devidamente cação, revogadas as disposições contrárias.
habilitados, observando as diretrizes da Política Nacional de Se-
gurança Alimentar, a Política Estadual de Segurança Alimentar, Salvador, 28 de setembro de 2015
além de: Ana Maria Silva Teixeira
Presidente/CEE
a) utilizar gêneros alimentícios básicos, adquiridos da agri-
cultura familiar/camponesa preferencialmente de base orgânica e Avelar Luiz Bastos Mutim
agroecológica, observado, no mínimo, o percentual previsto na Presidente da CJA e Relator
legislação vigente; e

Didatismo e Conhecimento 20
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
qualidade e respeitando as características de seu meio, estabele-
POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DO CAMPO cendo critérios para a nucleação de escolas e atendimento pelo
(DIRETRIZES E PROGRAMAS EM transporte escolar. As diretrizes normatizam também que a Edu-
cação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental serão
EXECUÇÃO) sempre oferecidos nas próprias comunidades rurais, evitando os
processos de nucleação de escolas e de deslocamento das crian-
ças. Estabelece, ainda que “Em nenhuma hipótese serão agru-
padas em uma mesma turma crianças de Educação Infantil com
A legislação educacional brasileira, a partir da Lei de Dire- crianças do Ensino Fundamental” (parágrafo 2º do artigo 3º).
trizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 (LDB), em seus
artigos 23 e 26 estabelece um novo marco na Educação do Cam- Em 2010 com a homologação das Diretrizes Curriculares Na-
po ao dispor sobre a organização da educação básica em gru- cionais da Educação Básica (Resolução nº 04/2010/CEB/CNE) a
pos não seriados e por alternância regular e ao definir que os Educação do Campo passa a ser reconhecida como modalidade
currículos, além da base comum, deverão contar com uma base de ensino e, com o Decreto nº 7.352/2010 é instituída a Política
diversificada, de acordo com as características regionais e locais de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educação na
das redes de ensino. Além disso, os incisos I, II e III do artigo Reforma Agrária - PRONERA e são definidos os princípios e os
28 reforçam a especificidade da Educação Básica do Campo ao mecanismos para garantir a manutenção e o desenvolvimento da
recomendar que as propostas pedagógicas dessas escolas con- Educação do Campo nas políticas educacionais. O decreto prevê
templem as necessidades e interesses dos estudantes do campo, o apoio técnico e financeiro do MEC aos estados, Distrito Fede-
considerem o calendário da produção agrícola bem com a nature- ral e municípios para a implantação de ações voltadas a amplia-
za do trabalho no campo. ção e qualificação da oferta da Educação Básica e Superior às
populações do campo e a instituição de Comissão Nacional de
De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 36/2001 a LDB, ao Educação do Campo para o acompanhamento dessa política.
reconhecer a diversidade sociocultural e o direito à igualdade e
à diferença, possibilitou a definição de diretrizes operacionais
A Lei nº 12.695, de 25 de julho de 2012, conversão da MP
para a educação básica nas escolas do campo, que tratam a Edu-
nº 562/2012, encaminhada ao Congresso em razão do lançamen-
cação do Campo no âmbito de um projeto de desenvolvimento
to do PRONACAMPO, possibilita: a disponibilização e trans-
onde as pessoas se inscrevem como sujeitos de direitos e supõe a
ferência direta dos recursos financeiros da União no âmbito do
identificação de um modo próprio de vida social e de utilização
Plano de Ações Articuladas; a inclusão dos polos presenciais do
do espaço, reafirmando a identidade da escola do campo. Estas
sistema Universidade Aberta do Brasil na assistência financeira
diretrizes, instituídas por meio da Resolução CNE/CEB nº 1 de
do Programa Dinheiro Direto na Escola; o cômputo das matrí-
três de abril de 2002 orientam quanto os princípios e procedi-
culas no FUNDEB das instituições comunitárias, confessionais
mentos necessários para garantir a universalização do acesso e
a permanência da população do campo a todas as etapas e mo- ou filantrópicas, sem fins lucrativos e conveniadas com o poder
dalidades da Educação Básica, ressaltando a elaboração de pro- público que atuam com a proposta pedagógica de formação por
postas pedagógicas específicas que corroborem com um projeto alternância, na Educação do Campo e a assistência financeira da
de desenvolvimento sustentável, construído com a participação União no âmbito do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino
das comunidades, no exercício da implementação de um proces- para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos.
so de gestão democrática nas escolas, bem como a garantia de
formação inicial e continuada de professores, de acordo com a PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO
especificidade do campo. DIDÁTICO - PNLD CAMPO

A partir de 2008, com a homologação da Resolução CNE/


CEB nº 2, de 28 de abril de 2008, que estabeleceu diretrizes Objetivo:
complementares para o desenvolvimento de políticas públicas de
atendimento da Educação Básica do Campo, é definido o concei- Produção e disseminação de materiais didáticos específicos
to de “Educação do Campo”, que compreende a Educação Bá- para os estudantes e professores do campo que permitam o de-
sica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, senvolvimento do ensino e da aprendizagem de forma contextua-
Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível médio lizada, em consonância com os princípios da política e as Dire-
integrada com o Ensino Médio, com a finalidade de atender às trizes Operacionais da Educação do Campo na Educação Básica.
populações do campo em suas mais variadas formas de produção
da vida - agricultores familiares, extrativistas, pescadores arte- Caracterização da Ação:
sanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária,
quilombolas, caiçaras, indígenas e outros. Conforme publicação do Edital PNLD/FNDE nº 5/2011, esta
ação contempla a elaboração e disponibilização de coleções com
As diretrizes complementares orientam ainda que a amplia- metodologias específicas voltadas a realidade do campo e com
ção do atendimento de toda a Educação Básica no Campo seja o conteúdos curriculares que favoreçam a interação entre os conhe-
mais próximo possível à comunidade de moradia do aluno, com cimentos científicos e os saberes das comunidades.

Didatismo e Conhecimento 21
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
A escolha das coleções didáticas após seleção via Edital será MAIS EDUCAÇÃO CAMPO
realizada pelas redes de ensino participantes do PNLD com base Objetivo:
na análise do Guia de Livros Didáticos para o PNLD Campo,
indicando o tipo de coleção adotada e a primeira e a segunda Contribuir para a estruturação da proposta de educação inte-
opção. Essa escolha deverá contar com a participação de gestores gral nas escolas do campo e comunidades quilombolas, por meio
e professores das escolas do campo e comunidades quilombolas, da disponibilização de recursos específicos para a ampliação da
considerando a adequação e a pertinência das coleções em rela- jornada escolar, integrando atividades de acompanhamento peda-
ção à proposta pedagógica. gógico e enriquecimento curricular nas diversas áreas do conhe-
cimento. Caracterização da ação:
O PNLD Campo é disponibilizado a todas as escolas do
campo e comunidades quilombolas com matrícula de estudantes A proposta do Mais Educação Campo contemplou, em 2012,
dos anos iniciais do ensino fundamental. Após a conclusão do os seguintes macrocampos: Acompanhamento pedagógico;
processo de escolha dos títulos as redes de ensino procederão ao
registro das coleções no Sistema de Material Didático - SIMAD, Agroecologia; Iniciação Científica; Educação em Direitos
no Módulo Escolha, disponível no portal: www.fnde.gov.br, no Humanos; Cultura e Arte Popular; Esporte e Lazer; Memória
link “SIMAD”. A implementação desta ação contempla a avalia- e História das Comunidades Tradicionais. Os planos de atendi-
ção, a aquisição das obras inscritas e a entrega das coleções aos mento deverão ser definidos de acordo com o Projeto Político
sistemas de ensino no início de 2013. Pedagógico das unidades escolares e desenvolvidos por meio de
atividades que ampliem o tempo, os espaços e as oportunidades
PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA educativas, na perspectiva da educação integral. Para o desen-
– PNBE TEMÁTICO volvimento dessas atividades devem ser formadas turmas de 20
Objetivo: a 30 estudantes, levando em consideração as diferentes faixas
etárias, os espaços de aprendizagem e o repertório de competên-
Atender as escolas da rede pública de ensino, com obras de cias e habilidades a ser desenvolvido, atendendo preferencial-
referência que ampliem a compreensão de professores e estu- mente, todos os estudantes matriculados nas escolas do campo.
dantes sobre as temáticas da diversidade, inclusão e cidadania e Após a disponibilização da lista de escolas pré-selecionadas pela
atendam ao desafio de promover o desenvolvimento de valores, Secretaria de Educação Básica -SEB e Secretaria de Educação
práticas e interações sociais. Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI do
Ministério da Educação -MEC no Sistema Integrado de Monito-
Caracterização da ação: ramento, Execução e Controle - SIMEC, a Entidade Executora
(EEx) deverá confirmar a adesão ao Mais Educação, via ofício,
Conforme edital PNBE/FNDE nº 1/2012, esta ação prevê e nomear no mínimo um técnico da Secretaria Estadual, Distrital
a disponibilização de obras que abordem as temáticas da educa- ou Municipal de Educação com a responsabilidade de coordenar
ção indígena, do campo e quilombola, para os direitos humanos, as atividades realizadas nas escolas participantes. Esses técnicos
a sustentabilidade socioambiental, as relações de gênero e diver- ficarão responsáveis por acompanhar a disponibilização das se-
sidade sexual, as relações etnicorraciais, a juventude, a educação nhas, o preenchimento do Plano de Atendimento pelos represen-
especial na perspectiva inclusiva e a educação de jovens e adul- tantes das escolas, a tramitação dos documentos no SIMEC e a
tos. confirmação do Plano Geral Consolidado.

Na modalidade de Educação do Campo, as obras contem- Cabe à Secretaria Estadual, Municipal ou Distrital de
plam referenciais para a compreensão do campo no contexto Educação disponibilizar um professor vinculado à escola, com
socioeconômico e cultural brasileiro, abordando: agroecologia; dedicação de no mínimo vinte horas, preferencialmente, denomi-
desenvolvimento sustentável; territorialidade; questão agrá- nado “Professor Comunitário”.
ria; produção agrícola; desenvolvimento econômico; história e
cultura das diferentes populações do campo. Na modalidade de Este é responsável pelo acompanhamento pedagógico e ad-
Educação Quilombola, as obras contemplam referenciais para ministrativo do Programa e seus custos referem-se à contraparti-
a compreensão das comunidades remanescentes de quilombos da oferecida pela Entidade Executora (EEx).
como espaços de resistência, abordados na perspectiva da territo-
rialidade, da ancestralidade, da cultura, da religião e tradição oral A adesão 2012 contemplou 9.779 escolas do campo e aque-
e da história e saberes tradicionais das diferentes comunidades. las que tiveram seus planos de trabalho aprovados receberam os
recursos depositados por meio do PDDE, conforme a Resolução
A implementação contemplará a avaliação, a aquisição e a nº 21, de 22/06/2012. As novas propostas de implementação de
entrega das coleções aos sistemas de ensino no segundo semestre educação integral nas escolas do campo, poderão ser apresenta-
de 2013. das para adesão no âmbito das Resoluções 2013 e 2014.

Didatismo e Conhecimento 22
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
ESCOLA DA TERRA Caracterização da ação:

Objetivo: Cursos de Licenciatura em Educação do Campo - PRO-


CAMPO ofertados pelas Universidades Federais e Institutos Fe-
Promover a melhoria das condições de acesso, permanên- derais de Educação, Ciência e Tecnologia de Ensino Superior,
cia e aprendizagem dos estudantes do campo e quilombolas em com organização curricular cumprida em regime de alternância
suas comunidades, por meio do apoio à formação de professores entre tempo-escola e tempo comunidade e habilitação para do-
que atuam em turmas multisseriadas dos anos iniciais do ensino cência multidisciplinar nos anos finais do ensino fundamental e
fundamental e escolas quilombolas, fortalecendo a escola como no ensino médio em uma das áreas do conhecimento: linguagens
espaço de vivência social e cultural. e códigos, ciências humanas, ciências da natureza, matemática e
ciências agrárias. A proposta pedagógica de formação do PRO-
Caracterização da ação: CAMPO, construída com a participação social, tem como base
a realidade dos povos do campo e quilombola e a especificidade
A ação caracteriza-se por disponibilização de material didá- da organização e oferta da educação básica às comunidades ru-
ticopedagógico, de acompanhamento pedagógico e formação de rais. Para atender a demanda de formação, o MEC, por meio da
professores. O curso de formação continuada de professores em SECADI, da SESU e SETEC, publicou no DOU de 05.09.2012
parceria com as instituições formadoras com experiência na área o Edital nº 02, para adesão das IFES com a disponibilização de
da Educação do Campo e quilombola visa elevar o desempenho professores, equipe administrativa e aporte financeiro de custeio
escolar dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental e capital para a implantação de novos cursos e turmas do PRO-
e fortalecer o desenvolvimento de propostas pedagógicas e me- CAMPO, viabilizando a oferta a partir de 2013. O ingresso dos
todologias adequadas às escolas do campo e às escolas quilom- professores cursistas se efetivará mediante processo seletivo a
bolas. ser definido pela instituição formadora ofertante, tendo como
prioridade a garantia da formação inicial de professores em exer-
A implementação da ação ocorrerá com a oferta de curso de cício nas escolas do campo que não possuem o Ensino Superior.
aperfeiçoamento de no mínimo 180 horas, por meio de encontros
presenciais, no tempo universidade (de 90 a 120h) e atividades Licenciatura para professores do campo, na modalidade pre-
no tempo escola-comunidade (90 às 60h) sob a coordenação da sencial e a distância, por meio de edital específico no âmbito do
Instituição Formadora que designará o coordenador do curso, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
supervisor, os professores pesquisadores, professores formado- - PARFOR/CAPES, contemplando maior contingente de cursis-
res e tutores para a execução e acompanhamento da formação. tas com a expansão dos polos da Universidade Aberta do Brasil
A ação disponibilizará também bolsas para coordenadores das - UAB. Com início dos cursos previsto para o segundo semestre
redes de educação e para professores em função de assessoria de 2013, a inscrição dos professores do campo para a licenciatura
pedagógica com o objetivo de promover o acompanhamento pe- do PARFOR será realizada por meio da Plataforma Freire, dispo-
dagógico do professor cursista, no tempo escola comunidade e nibilizada no endereço http://freire.mec.gov.br
a articulação entre a proposta da formação das IPES, o projeto
político pedagógico das escolas e a política educacional da se- Formação Continuada de Professores
cretaria de educação a qual está vinculado, promovendo também
a participação das comunidades. Objetivo:

A adesão à proposta de formação da Escola da Terra será Apoio à oferta de formação continuada de professores, ges-
feita pela secretaria estadual, municipal ou distrital de educação tores e coordenadores pedagógicos que atuam na educação bási-
por meio do PAR, em módulo específico PRONACAMPO/Esco- ca, nas diferentes etapas e modalidades, em escolas do campo e
la da Terra, a partir de janeiro de 2013, onde o gestor indicará as quilombola.
escolas e o número de professores cursistas a serem atendidos,
assumindo como contrapartida o apoio necessário ao desenvolvi- Caracterização da ação:
mento da ação, conforme termo de compromisso.
Os cursos de formação em nível de aperfeiçoamento e espe-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES cialização em Educação do Campo e quilombola serão ofertados
por Instituições Públicas de Ensino Superior no âmbito da Rede
Formação Inicial de Professores Nacional de Formação - RENAFOR e da UAB de acordo com o
Plano de Formação Continuada proposto pela escola para apri-
Objetivo: moramento do seu corpo docente e diretivo, elaborado a partir de
um planejamento prévio, feito no PDE Interativo. Os diretores
Apoiar prioritariamente à formação inicial de professores das escolas deverão acessar o PDE Interativo, que se caracteriza
em exercício na Educação do Campo e quilombola, assegurando como uma ferramenta de planejamento da gestão escolar, no site
condições de acesso aos cursos de licenciatura destinados a atua- http://simec.mec.gov.br e preencher o plano de formação, que
ção docente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino será posteriormente validado pelas secretarias de educação. Caso
médio. o gestor não tenha a senha ou não disponha de acesso à internet,

Didatismo e Conhecimento 23
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
deverá solicitar ao responsável pelo PDE Interativo na Secretaria alternância, da Educação do Campo, educação popular e desen-
de Educação de sua rede, que providencie o cadastro ou as con- volvimento sustentável. Para contribuir na elaboração da propos-
dições para a elaboração do plano. ta está prevista a realização de reuniões para a articulação entre
as secretarias, instituições federais e movimentos sociais, bem
Ao abrir a aba do Plano de Formação estará disponível ao como a formação de coordenadores pedagógicos e educadores
gestor, a relação dos profissionais da escola e o catálogo de cur- no âmbito da Rede Nacional de Formação de Professores - RE-
sos. Para a Educação do Campo e quilombola foram disponibi- NAFOR, para a construção de referenciais e o desenvolvimento
lizados os cursos: Educação do Campo, Educação Quilombola, de práticas político pedagógicas que possibilitem a formação in-
EJA Saberes da Terra, Classes Multisseriadas e Educação Inte- tegrada dos jovens e adultos do campo quanto as suas relações
gral. O gestor da escola, em comum acordo com os professores, sócio históricas, políticas e culturais.
indica a demanda de formação, que será submetida à validação
da Secretaria de Educação do Estado, Município ou Distrito Fe- PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO
deral, por meio do Sistema Nacional de Formação - SINAFOR, TÉCNICO E EMPREGO - PRONATEC CAMPO
com acesso através do SIMEC, módulo PAR e enviada aos Fó-
runs Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente para Objetivo:
pactuação com as IPES até junho de cada ano, para oferta no ano
seguinte. Promover a inclusão social de jovens e trabalhadores do
campo por meio da ampliação da Rede Federal de Educação Pro-
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, EDUCAÇÃO fissional e Tecnológica e da oferta de cursos de formação inicial
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA e continuada para trabalhadores de acordo com os arranjos pro-
dutivos rurais de cada região.
EJA Saberes da Terra
Caracterização da ação:
Objetivo:
Por meio da interface com o Programa Nacional de Acesso
Elevar a escolaridade de jovens e adultos em consonância ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, o PRONACAMPO
a um projeto de desenvolvimento sustentável do campo a partir promoverá o acesso à educação profissional e tecnológica aos
da organização e expansão da oferta da modalidade educação de
jovens e trabalhadores do campo e quilombolas, disponibilizan-
jovens e adultos, anos iniciais e finais do ensino fundamental de
do vagas nos cursos de formação inicial e continuada - FIC e no
forma integrada à qualificação profissional e ensino médio.
Programa Escola Técnica Aberta do Brasil - E-Tec, constantes no
Guia Pronatec de cursos técnicos e de formação inicial e conti-
Caracterização da ação:
nuada, disponível no endereço: http:/pronatec.mec.gov.br/
Para o desenvolvimento dessa ação, as secretarias de educa-
O Ministério do Desenvolvimento Agrário/MDA é o deman-
ção receberão:
dante desta ação e Institutos Federais, escolas técnicas vincu-
Apoio Financeiro: com base na Lei nº 12.695/2012 será dispo- ladas às Universidades Federais, CEFET e redes estaduais são
nibilizado recurso financeiro aos sistemas de ensino para a oferta instituições ofertantes. Especificamente na Bolsa-
do primeiro ano de novas turmas de educação de jovens e adultos
integrada à qualificação profissional. De acordo com a Resolução Formação PRONATEC CAMPO, os ofertantes poderão
FNDE nº 48/2012, o repasse de recursos será efetuado mediante estabelecer parcerias com prefeituras, redes de ATER, Centro
a adesão e cadastro das turmas no SIMEC (http:/ simec.mec.gov. Familiar de Formação por Alternância - CEFFAs, entre outras
br - módulo educação de jovens e adultos) em uma única parcela, entidades, para ampliar a oferta de cursos e viabilizar a execu-
com aplicação exclusiva para a manutenção de turmas com novas ção das metas previstas pelo Plano Safra de Agricultura Familiar
matrículas ainda não contempladas pelo FUNDEB, que devem ser 2012/13, criando Unidade Remotas, com salas de aulas funcio-
apuradas no censo do ano subsequente. O valor utilizado será o nando fora da sede da instituição ofertante.
valor mínimo por estudante definido nacionalmente para EJA e
calculado a partir do início do funcionamento da nova turma. Para a implementação do Pronatec

Para o desenvolvimento da proposta de qualificação profis- Campo, foram constituídos: Comitês Estaduais PRONATEC
sional ou ensino técnico, a articulação com o PRONATEC finan- CAMPO - organizados pelas Delegacias Federais do MDA com-
ciará as ações desenvolvidas pelos institutos federais e escolas postos por Delegado (a) do MDA, Superintendência Regional
técnicas da rede estadual no âmbito dessa ação que tenham expe- do INCRA, Ofertantes, Representantes de Movimentos Sociais
riências e atuação na Educação do Campo. e Sindicais, Fórum Estadual de Educação do Campo (ou equi-
valente), EMATER, UNDIME, Rede Estadual de Colegiados
Apoio Técnico: Para a elaboração da proposta pedagógica de Territoriais, Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sus-
ensino fundamental de acordo com a matriz de referência do Pro- tentável. O Comitê estadual coordena, monitora e cria estratégias
grama Saberes da Terra, deverão ser assegurados os princípios da para implementação da PRONATEC CAMPO no estado, sendo

Didatismo e Conhecimento 24
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
responsável por pactuar os cursos demandados pelas Instâncias INCLUSÃO DIGITAL
Territoriais bem como o número de vagas e forma de funciona-
mento com as instituições ofertantes. Objetivo:

Colegiados PRONATEC Campo Promover à inclusão digital e o uso pedagógico da infor-


mática nas escolas do campo, disponibilizando computadores,
Territoriais – organizados nos colegiados territoriais, cons- recursos digitais e conteúdos educacionais.
tituído pelas câmaras temáticas de educação, sempre que hou-
ver, por representantes dos ofertantes e podendo ser ampliado de Caracterização da ação:
acordo com a articulação de cada território. É responsável por
definir os cursos necessários e de interesse do público do territó- Disponibilização de equipamento de informática, possibili-
rio, considerando as demandas de formação contidas nos Planos tando o uso de recursos da educação digital e melhores condições
Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS e de participação dos professores nos processos de formação e pla-
respeitando os princípios da Educação do Campo, bem como as nejamento das aulas. Os recursos previstos visam complementar
estratégias para a mobilização dos beneficiários e acompanha- os laboratórios já existentes com computador interativo, conexão
mento dos cursos. internet, conteúdos específicos e tecnologia assistiva, bem como
a implantação de novos laboratórios Proinfo e a disponibilização
INFRAESTRUTURA FÍSICA E TECNOLÓGICA de notebook UCA, para as escolas com até 20 matrículas e que
não dispõem de infraestrutura para o laboratório. A divulgação
Construção de Escolas das escolas selecionadas e o “Aceito” das Secretarias Munici-
pais, Estaduais e Distrital é realizada por meio do SIGETEC, en-
Objetivo: dereço: http://sip.proinfo.mec.gov.br Mais informações no link:
http://portal.mec.gov.br/
Disponibilizar apoio técnico e financeiro para a melhoria das
condições de infraestrutura das escolas, atendendo as necessida- PDDE CAMPO PROGRAMA
des da Educação do Campo e quilombola, para a oferta de ativi- DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA
dades pedagógicas, profissionalizantes, esportivas, culturais, de
horta escolar, alojamentos para professores e educandos e espaço Objetivo:
para a educação infantil.
Destinar recursos financeiros de custeio e de capital a escolas
Caracterização da ação: públicas municipais, estaduais e distritais, localizadas no campo,
que tenham estudantes matriculados no ensino fundamental a fim
Disponibilização de recursos financeiros para a construção de propiciar adequação e benfeitoria na infraestrutura física des-
de escolas com projetos arquitetônicos específicos e padroniza- sas unidades, necessárias à realização de atividades educativas e
dos para a Educação do Campo, que contemplam módulos pe- pedagógicas voltadas à melhoria da qualidade do ensino.
dagógicos de 2, 4 e 6 salas de aula, módulos administrativo, de
serviço e para atividades práticas de agroecologia. No projeto é Caracterização da ação:
prevista a construção de quadra esportiva coberta para escolas de
4 e 6 salas, e ainda, poderá ser solicitado de forma independente, Os recursos financeiros serão liberados em favor das es-
módulo de alojamentos de professores e estudantes e de educa- colas de ensino fundamental do campo que possuam Unidade
ção infantil. A adesão será feita pelo gestor da rede de ensino, Executora Própria (UEx) devendo ser empregados na contrata-
conforme a demanda informada no PAR, por meio do endereço ção de trabalhadores para realização de reparos e/ou pequenas
http://simec.gov.br módulo PAR, ícone PRONACAMPO, onde ampliações e cobertura de outras despesas, que favoreçam a ma-
indicará o número de escolas com o respectivo número de salas nutenção, conservação e melhoria de suas instalações, bem como
bem como os módulos complementares que irão compor o espa- na aquisição de mobiliário escolar e na concretização de outras
ço educacional, além de dados técnicos referentes à implantação ações que concorram para a elevação do desempenho escolar. De
do projeto (topografia do terreno, localização do terreno, estudo acordo com Resolução FNDE nº 36/2012, os recursos variam de
de demanda, levantamento fotográfico, etc). acordo com o número de matrículas: de 15 a 50 matrículas R$
11.600,00; de 51 a 150 matrículas R$ 13.000,00 e com mais de
Para a implementação dessa ação está prevista a utilização 150 matrículas R$ 15.000,00.
de novas metodologias construtivas, publicando-se um Edital de
Regime Diferenciado de Contratações Públicas para Registro A relação nominal das escolas passíveis de atendimento é
de Preços de Construção de Escolas Padronizadas do PRONA- disponibilizada no endereço www.mec.gov.br> SECADI > Des-
CAMPO. Tal processo permitirá que municípios e estados façam taques e http://www.fnde.gov.br/resoluções
a adesão à ata de registro de preços, dando celeridade à constru-
ção das escolas do campo.

Didatismo e Conhecimento 25
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
PDDE ÁGUA E ESGOTO SANITÁRIO - PROGRAMA TRANSPORTE ESCOLAR
DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA
Objetivo:
Objetivo:
Apoiar os sistemas de ensino para a garantia de transpor-
Destinar recursos financeiros de custeio e de capital às es- te dos estudantes do campo para o campo, especialmente até os
colas do campo e quilombolas, garantindo as adequações neces- anos finais do Ensino Fundamental, com o menor tempo possí-
sárias ao abastecimento de água em condições apropriadas para vel no percurso residência-escola, respeitando as especificidades
consumo e o esgotamento sanitário nessas unidades escolares. geográficas e culturais e os limites de idade dos estudantes.

Caracterização da ação: Caracterização da ação:

Os recursos financeiros devem ser empregados na aquisição Disponibilização de transporte escolar conforme a demanda
de equipamentos, instalações hidráulicas e contratação de traba- apresentada pela Secretaria de Educação no PAR. A ação prevê a
lhadores, necessários à construção de poços, cisternas, fossa sép- entrega de lancha escolar a gasolina (20 lugares) e a diesel (31 e
tica e outras formas que assegurem provimento contínuo de água 53 lugares); bicicletas escolares e capacetes e ônibus escolar em
adequada ao consumo humano e esgotamento sanitário. quatro modelos: pequeno (29 lugares), 4x4 (23 lugares), médio
(44 lugares) e grande (59 lugares). A adesão é feita pelo gestor
Para a adesão, o secretário estadual, municipal ou distrital local por meio do SIMEC, aba Plano de Ações Articuladas - PAR.
de educação deverá validar o Termo de Adesão disponível no
Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Fonte:
Ministério da Educação (SIMEC), acompanhada de anexo de 3 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&-
(três) a 5 (cinco) fotos do prédio escolar que evidenciem a neces- view=download&alias=13214-documento-orientador-do
sidade de melhoria das condições do abastecimento de água e/ -pronacampo-pdf&Itemid=30192
ou do esgotamento sanitário na escola. Os recursos serão libera-
dos às escolas, conforme os critérios estabelecidos na Resolução
FNDE nº 32/2012 a partir do número de matrículas, sendo que
de 4 a 50 matrículas receberá R$ 25.000,00; de 51 a 150 matrí-
culas receberá R$ 28.000,00 e com mais de 150 matrículas rece-
berá R$ 32.000,00. A relação nominal das escolas e o manual de
orientação com todas as informações necessárias para a adesão
estão disponíveis no sítio www.fnde.gov.br -> Dinheiro Direto
na Escola -> Legislação > anexos da Resolução nº 32, de 13 de
agosto de 2012. Também no endereço www.mec.gov.br> SECA-
DI > Destaques.

LUZ PARA TODOS NA ESCOLA

Objetivo:

Garantir o fornecimento de energia elétrica às escolas, em


articulação com o Programa Luz para Todos.

Caracterização da ação:

As escolas sem fornecimento de energia elétrica terão aten-


dimento prioritário no Programa Luz para Todos do Ministério
de Minas e Energia, para tanto, o gestor local deverá encaminhar
ofício com o georeferrenciamento (latitude/longitude) da escola
à concessionária responsável pelo Programa no estado, com có-
pia para o email educacaocampo@mec.gov.br.

Didatismo e Conhecimento 26
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
Questões 04. Conforme concepções do Movimento Nacional Por uma
Educação do Campo, luta-se por uma educação que não seja
01. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a educa- A) projeto de educação que está em construção com o para-
ção para a população rural está prevista com adequações neces- digma do projeto histórico socialista.
sárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região. São B) projeto da classe trabalhadora que tem como protagonis-
características da educação do campo: tas os camponeses, suas lutas, organizações e suas experiências
A) Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às educativas.
necessidades e interesses dos estudantes da zona rural, que, em C) compreensão do trabalho como produção de vida, de cul-
geral, circulam em torno da formação para a ocupação de postos tura e de humanização.
de trabalho nas grandes cidades. D) alicerçada na visão instrumentalizadora de que é suficien-
B) Construção de uma identidade escolar definida pela vin- te para o povo do campo uma alfabetização funcional com possi-
culação com as questões inerentes à sua realidade, com propos- bilidade de escolarização e transporte para conduzir alunos com
tas pedagógicas que contemplam sua diversidade em todos os vagas garantidas em escolas urbanas.
aspectos, tais como sociais, culturais, políticos, econômicos, de E) compreende o camponês e os trabalhadores como sujeitos
gênero, geração e etnia. de direitos e protagonistas de sua própria história.
C) Adequação das atividades educativas à natureza do traba-
lho da zona urbana. 05. Conforme Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010,
D) Organização escolar própria, combinando a adequação que dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa
do calendário escolar às condições climáticas da zona urbana e Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, são
às fases do ciclo agrícola. consideradas populações do campo:
E) Formas de estruturação e metodologias pertinentes à reali- I. os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores
dade do campo, como a pedagogia da terra, pela qual se busca um artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma
trabalho pedagógico fundamentado no princípio das competências agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os
e habilidades, a fim de assegurar a inserção no mercado de trabalho caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam
das cidades, processo inevitável diante do êxodo rural. suas condições materiais de existência a partir do trabalho no
meio rural;
II. apenas agricultores e trabalhadores da terra;
02. Acerca da oferta da Educação Básica para a população
III. escola do campo situada em área rural, conforme defi-
do campo, a Lei nº 9394/1996, Lei de Diretrizes e Base da Edu-
nida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
cação Nacional assegura no artigo 28 que:
ca – IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda
A) Todas as escolas do campo devem ofertar o ensino em
predominantemente a populações do campo;
tempo integral.
IV. apenas as definições seguidas pelo IBGE;
B) O calendário escolar deve ser igual ao calendário das es-
V. apenas escolas localizadas no perímetro urbano.
colas urbanas para que todos os estudantes tenham as mesmas
oportunidades de ensino.
Dos itens acima, verifica-se que
C) Sejam construídas escolas de referência nucleando-se to- A) apenas o I é verdadeiro.
das as escolas rurais em seu entorno. B) I, II, III, IV e V são verdadeiros.
D) O fechamento das escolas do campo seja realizado con- C) apenas I e III são verdadeiros.
siderando-se a justificativa apresentada pela secretaria de educa- D) apenas o IV é verdadeiro.
ção, a análise do diagnóstico do impacto dessa ação e a manifes- E) I, II, III, IV e V são falsos.
tação da comunidade escolar.
E) O fechamento das escolas do campo seja efetuado grada- 06. A LDBEN n.º 9394/96, em seu artigo 28, institui o direito
tivamente, visando-se oferecer escolas com maior estrutura nos à igualdade de acesso à escola e o respeito às diferenças quando
centros urbanos que atendam toda a população rural. permite na oferta da educação básica para a população rural:
I. que os sistemas de ensino promovam adaptações necessá-
03. Segundo as Diretrizes Operacionais para a educação bá- rias às peculiaridades da vida rural e de cada região;
sica nas escolas do campo, Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril II. conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às ne-
de 2002, art. 5º, as propostas pedagógicas das escolas do cam- cessidades dos alunos da zona rural;
po, respeitadas as diferenças e o direito à igualdade e cumprindo III. oferecimento de ensino fundamental completo;
imediata e plenamente o estabelecido nos artigos 23, 26 e 28 da IV. organização escolar própria incluindo adequação do ca-
Lei n.º 9.394, de 1996, contemplarão a diversidade do campo em lendário escolar;
todos os seus aspectos V. oferta de ensino profissional específico para o campo.
A) sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, ge- Verifica-se que são verdadeiras somente
ração e etnia. A) I, II e IV são verdadeiras.
B) educacionais e sociais. B) I e II são verdadeiras.
C) sociais e culturais. C) I, IV e V são verdadeiras.
D) sociais e profissionais. D) I, II e III são verdadeiras.
E) pedagógicos e políticos. E) I, II, III e IV são verdadeiras.

Didatismo e Conhecimento 27
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
07. Segundo os artigos 14 e 15 das Diretrizes Operacionais, EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
para o financiamento das escolas do campo os gestores deverão:
A) garantir apenas o que está definido na Constituição Fede- 1. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
ral e na LDBEN. GRI BRASIL/2013) A História da Matemática proporciona uma
B) proibir o regime de colaboração entre os entes federados. considerável ajuda para o desenvolvimento do ensino e aprendiza-
C) cumprir somente o Artigo 2º da Lei do FUNDEB. gem. Seguindo este conceito, a História da Matemática:
D) garantir o cumprimento das definições contidas na A) Deve ser entendida simplesmente pelo aspecto lúdico para
Constituição Federal, na LDBEN e na Lei do FUNDEB. ser relatados aos alunos.
E) não diferenciar o custo aluno qualidade para as escolas B) Não constituem veículos de informação cultural, socioló-
do campo. gica e antropológica de grande valor informativo. C) Ao verificar
o alto nível de abstração matemática de algumas culturas antigas,
08. A educação do campo nasceu tomando posição no confron- o aluno poderá compreender que o avanço tecnológico de hoje não
to de projetos de educação contra uma visão instrumentalizadora seria possível sem a herança cultural de gerações passadas.
da educação, colocada a serviço das demandas de um determinado D) Demonstra como sociedades passadas por não ter conheci-
modelo de desenvolvimento do campo (que sempre dominou a cha- mento das abstrações matemáticas apenas resolviam meros proble-
mada educação rural) defendendo uma concepção de educação: mas para o uso cotidiano.
I. emancipatória vinculada a um projeto histórico de supera-
ção do modo de produção capitalista; A História da Matemática pode ser um instrumento muito efi-
II. que tem um projeto que propõe uma nova forma de orga- caz no processo de Ensino-Aprendizagem de Matemática, uma vez
nização das relações sociais, econômicas, políticas e culturais; que permite entender conceitos a partir de sua origem, consideran-
III. reorganizadora do espaço rural onde busca apenas uma do todas suas modificações ao longo da história. Com isso, facilita
nova estrutura física das escolas e garantia de transporte escolar a compreensão para o aluno, como também desperta sua curiosida-
de qualidade; de para futuras pesquisas. É importante que o conteúdo em estudo
IV. que se articule entre a realidade rural e a urbana, onde esteja voltado para o cotidiano do aluno. Com o estudo da História
esta possa melhorar a qualidade educacional da primeira; da Matemática é possível analisar a construção das noções básicas
V. que tão somente resgate do atraso as populações campesinas, de conceitos matemáticos, sendo então possível perceber o caráter
promovendo o desenvolvimento social e profissional desse grupo. investigatório presente na geração e disseminação desses concei-
Estão falsos apenas os itens tos ao longo do seu desenvolvimento histórico.
A) I e III. *Texto adaptado de José Sávio Bicho de Oliveira, Angela Xa-
B) I, III, IV e V. vier Alves e Sandra do Socorro de Miranda Neves.
C) III, IV e V. RESPOSTA: “C”.
D) I, II e V.
E) II, III e IV. 2. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
Respostas GRI BRASIL/2013) Os jogos como atividade, para o ensino da
Matemática constitui uma forma interessante de propor proble-
01. B mas, pois permitem que sejam apresentados de modo atrativo e fa-
02. D vorecem a criação na elaboração de estratégias de resolução e bus-
03. A ca de soluções. Diante do exposto assinale a alternativa que não
04. D concorda com o recurso dos jogos para o ensino da Matemática.
05. A A) Propiciam a simulação de situações-problema que exige
06. A soluções vivas e imediatas.
07. D B) Facilita ao professor analisar a compreensão, ou seja, a fa-
08. C cilidade para entender o processo do jogo.
C) Permite ao professor avaliar a construção de uma estratégia
vencedora.
D) Por ser um objeto sociocultural limitado o jogo não é uma
atividade cognitiva, não desenvolvendo os processos de raciocí-
nios básicos e lógicos.

A proposta de um jogo em sala de aula é muito importante


para o desenvolvimento social, pois existem alunos que se “fe-
cham”, tem vergonha de perguntar sobre determinados conteú-
dos, de expressar dúvidas, a Matemática se torna um problema
para eles. A utilização de atividades lúdicas na Matemática e de
materiais concretos é totalmente relacionada ao desenvolvimento
cognitivo da criança. Há de se refletir que alguns conteúdos espe-
cíficos da Matemática não possuem relação com a ideia de serem
aplicados utilizando jogos, mas de certa forma promovem um sen-

Didatismo e Conhecimento 28
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
so crítico, investigador, que ajuda na compreensão e entendimento 5. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – IN-
de determinados tópicos relacionados ao ensino da Matemática. TEGRI BRASIL/2013) De acordo com as autoras em “Piaget,
*Texto adaptado de Marcos Noé. Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão”, come-
RESPOSTA: “D”. çando pela criança no estágio sensório-motor, nesse estágio, Piaget
considera abusivo falar em real ___________________. Essa é es-
3. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- sencialmente individual, pouco ou nada devendo às trocas sociais.
GRI BRASIL/2013) Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia: A) socialização sensorial.
saberes necessários à prática educativa” afirma que o respeito à B) socialização da atividade motora.
autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo: C) socialização da inteligência.
A) moral e não um favor que podemos ou não conceder uns D) socialização intercomunicativa.
aos outros.
B) ético e não um favor que podemos ou não conceder uns Começando pela criança no estágio sensório-motor, nesse es-
aos outros. tágio, Piaget considera abusivo falar em real socialização da inteli-
C) estético não um favor que podemos ou não conceder uns gência. Essa é essencialmente individual, pouco ou nada devendo
aos outros. as trocas sociais.
D) disciplinar e não um favor que podemos ou não conceder * Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em dis-
uns aos outros. cussão. Por Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um impe- Dantas.
rativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos RESPOSTA: “C”.
outros. Saber que se deve respeito à autonomia e à identidade do
educando exige do indivíduo uma prática em tudo coerente com 6. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
esse saber. GRI BRASIL/2013) Em “Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psi-
*Referências: cogenéticas em discussão”, as autoras afirmam que a criança pré-
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários -operatória não conserva necessariamente, durante uma conversa,
as definições que ela mesma deu e as afirmações que ela mesma
à prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
fez. Esse fato se verifica facilmente quando se entrevistam crian-
RESPOSTA: “B”.
ças de até ____________ em média sobre um tema qualquer. Elas
afirmam certas ideias, e, em seguida, sem nada comentar, afirmam
4. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
o contrário, não parecendo achar que tais contradições represen-
GRI BRASIL/2013) Freire em “Pedagogia da Autonomia: saberes
tam um fator complicador para o diálogo.
necessários à prática educativa” afirma que toda prática educativa
A) 4 anos.
demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro
B) 6 anos.
que, aprendendo, ensina, daí o seu cunho gnosiológico; a existência
C) 8 anos.
de objetos, conteúdos a serem ensinados e aprendidos; envolve o D) 10 anos.
uso de métodos, de técnicas, de materiais; implica, em função de seu
caráter diretivo, objetivo, sonhos, utopias, ideais. Daí a sua: A criança pré-operatória não conserva necessariamente, du-
a) politicidade, qualidade que tem a prática educativa de ser rante uma conversa, as definições que ela mesma deu e as afirma-
política, de não poder ser neutra. ções que ela mesma fez. Esse fato se verifica facilmente quando se
B) dubiedade, qualidade que tem a prática educativa de ser entrevistam crianças de até 8 anos em média sobre um tema qual-
dúbia, de não poder ser exata. quer. Elas afirmam certas ideias, e, em seguida, sem nada comen-
C) autoridade, qualidade que tem a prática educativa de ser tar, afirmam o contrário, não parecendo achar que tais contradições
autoritária, de não poder ser neutra. representam um fator complicador para o diálogo.
D) organicidade, qualidade que tem a prática educativa de ser * Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em dis-
organizada, de poder ser neutra. cussão. Por Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa
Dantas.
Do ponto de vista metafísico a compreensão do homem e da RESPOSTA: “C”.
mulher é de seres históricos e inacabados e sobre o qual se funda
a compreensão do processo de conhecer. Quando nossa prática é 7. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
ensinar-aprender participamos de uma experiência total, direti- GRI BRASIL/2013) Segundo as autoras em “Piaget, Vygotsky,
va, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, e ética em que Wallon: teorias psicogenéticas em discussão”, a linguagem huma-
a estética deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a na, sistema simbólico fundamental na mediação entre sujeito e ob-
seriedade. Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de jeto de conhecimento, tem, para Vygotsky, duas funções básicas:
aprender tanto mais se constrói e desenvolve a “curiosidade epis- ____________________________. Isto é, além de servir ao pro-
temológica” pela qual alcançamos o conhecimento cabal do objeto pósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e
(FREIRE, 1999). generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real
*Referências: em categorias conceituais cujo significado é compartilhado pelos
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessá- usuários dessa linguagem.
rios à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999. A) a de intercâmbio filológico e a de pensamento generali-
RESPOSTA: “A”. zante.

Didatismo e Conhecimento 29
CONTEÚDOS BÁSICOS QUE DÃO SUSTENTAÇÃO TEÓRICA
À EDUCAÇÃO BÁSICA NO CAMPO
B) a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. C) importante decidir o que vai se ensinar com vistas no obje-
C) a de intercâmbio cognitivo e a de pensamento generali- to cognitivo e com qual hierarquização, isto é, o que é prioritário.
zante. D) importante decidir o que vai se ensinar com vistas no ob-
D) a de intercâmbio sensorial e a de pensamento generalizante. jeto social e com qual hierarquização, isto é, o que é prioritário.
Os documentos curriculares devem aliar o objeto de ensino com
A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na me- as possibilidades do sujeito de atribuir um sentido pessoal a esse saber.
diação entre sujeito e objeto de conhecimento, tem para Vygotsky, Não devem se caracterizar documentos prescritivos. Os documentos
duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento curriculares devem ter como foco a adoção de decisões acerca de
generalizante. Isto é, além de servir ao propósito de comunica- conteúdos que devem ser ensinados: importante decidir o que vai se
ção entre os indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a ex- ensinar com vistas no objeto social e com qual hierarquização, isto é,
periência, ordenando as instâncias do mundo real em categorias o que é prioritário. O que deve permear essas escolhas são os verda-
conceituais cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa deiros objetivos da educação: incorporar as crianças à comunidade de
linguagem. Ao utilizar a linguagem para dar nome a algum objeto, leitores e escritores, e formar cidadãos da cultura escrita.
estamos na realidade, classificando este objeto em uma categoria *Referências:
ou classe de objetos que tem em comum certos atributos. A utiliza- LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e
ção da linguagem favorece processos de abstração e generalização. o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Os atributos importantes precisam ser abstraídos da totalidade da RESPOSTA: “D”.
experiência, e a presença de um mesmo conjunto de atributos rele-
vantes permite a aplicação de um mesmo nome à objetos diversos. 10. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE-
As palavras, como símbolos mediadores da relação o homem GRI BRASIL/2013) No livro “Ler e Escrever na escola: o real, o
com o mundo são em si, generalizações: cada palavra faz parte de possível e o necessário”, a autora define que o saber didático ainda
uma classe de objetos, consistindo num signo numa forma de repre- que se apoie em saberes produzidos por outras ciências, não pode
sentação desta categoria de objeto neste conceito (OLIVEIRA 1992). ser deduzido simplesmente. É também o resultado do estudo siste-
*Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/ mático das interações que se produzem entre:
Imprimir/37955 A) professor e aluno, os professores e o objeto de ensino, é
RESPOSTA: “B”. produto da análise das relações entre ensino e aprendizagem de
cada conteúdo específico, é elaborado através da investigação ri-
8. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- gorosa do funcionamento das situações didáticas.
GRI BRASIL/2013) Delia Lerner em “Ler e Escrever na escola: B) professor e aluno, o método e o objeto de ensino, é produto
o real, o possível e o necessário”, afirmam que o contrato didático da análise das relações entre ensino e aprendizagem de cada con-
serve para deixar claro aos: teúdo específico, é elaborado através da investigação rigorosa do
A) professores e alunos suas parcelas de responsabilidades na funcionamento das situações didáticas.
escola e na relação ensino/aprendizagem. C) professor e aluno, os alunos e o objeto de ensino, é produto
B) pais e alunos suas parcelas de responsabilidades na escola da análise das relações entre ensino e aprendizagem de cada con-
e na relação ensino/aprendizagem. teúdo específico, é elaborado através da investigação rigorosa do
C) coordenador e pais suas parcelas de responsabilidades na funcionamento das situações didáticas.
escola e na relação ensino/aprendizagem. D) professor e aluno, os alunos e o método, é produto da aná-
D) professores e coordenador suas parcelas de responsabilida- lise das relações entre ensino e aprendizagem de cada conteúdo
des na escola e na relação ensino/aprendizagem. específico, é elaborado através da investigação rigorosa do funcio-
namento das situações didáticas.
O contrato didático serve para deixar claro aos professores e
alunos suas parcelas de responsabilidades na escola e na relação en- O saber didático ainda que se apoie em saberes produzidos
sino/aprendizagem. Estabelecer objetivo por ciclo para diminuir a por outras ciências, não pode ser deduzido simplesmente deles é
fragmentação do conhecimento; Atribuir maior visibilidade aos ob- também o resultado do estudo sistemático das interações que se
jetivos gerais do que aos específicos; Evitar o estabelecimento de produzem entre professor e aluno, os alunos e o objeto de ensino,
uma correspondência termo a termo entre os objetivos e atividades. é produto da análise das relações entre ensino e aprendizagem de
*Referências: cada conteúdo específico, é elaborado através da investigação ri-
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e gorosa do funcionamento das situações didáticas. O registro reali-
o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2001. zado pelo professor é fundamental para dar vida ao conhecimento
RESPOSTA: “A”. didático: quando se torna objeto de reflexão faz da prática do pro-
fessor uma prática consciente e possível de mudança.
9. (PREFEITURA DE VOTORANTIM/SP – PEB I – INTE- *Referências:
GRI BRASIL/2013) Em “Ler e Escrever na escola: o real, o possí- LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e
vel e o necessário”, Delia Lerner, diz que os documentos curricula- o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2001.
res devem ter como foco a adoção de decisões acerca de conteúdos RESPOSTA: “C”.
que devem ser ensinados:
A) importante decidir o que vai se ensinar com vistas no ob-
jeto político e com qual hierarquização, isto é, o que é prioritário.
B) importante decidir o que vai se ensinar com vistas no ob-
jeto moral e com qual hierarquização, isto é, o que é prioritário.

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