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(PDF) Bem-Estar Animal PDF
(PDF) Bem-Estar Animal PDF
Caros Colegas,
Temos a satisfação de encaminhar à comunida-
de veterinária mineira, o último Cadernos Técnicos
de 2012, o volume 67.
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional
de Medicina Veterinária Minas Gerias, com satisfa-
ção, veem consolidada a parceria e compromisso en-
tre as duas instituições com relação à educação con-
tinuada da comunidade dos Médicos Veterinários e
Zootecnistas de Minas Gerais.
O presente número aborda, de forma objetiva, a
temática sobre Bem-Estar Animal, considerando-a
atual e da maior relevância, pela sua inserção na vida
moderna, no contexto da interação homem, animal
e ambiente. Esta interação é imprescindível para
que a sociedade possa desfrutar, de forma responsá-
vel e harmônica, de todas as ações necessárias para
assegurar, com equilíbrio, uma produção animal
que atenda as demandas da sociedade consonantes
com a ética que deve permear as ações técnicas ine-
rentes à produção animal.
Com este número do Cadernos Técnicos espe-
ramos contribuir tanto para a conscientização quan-
to para a informação aos colegas, auxiliando para
que possam construir as melhores opções de mane-
Universidade Federal
de Minas Gerais jo de animais no contexto em que estão inseridos.
Escola de Veterinária Portanto, parabéns à comunidade de leitores
Fundação de Estudo e Pesquisa em que utilizam o Cadernos Técnicos para aprofun-
Medicina Veterinária e Zootecnia
- FEPMVZ Editora dar seu conhecimento e entendimento sobre o
Conselho Regional de
Bem-Estar Animal, em benefício dos animais e da
Medicina Veterinária do sociedade.
Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
www.vet.ufmg.br/editora Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
Prof. José Aurélio Garcia Bergmann
Correspondência: Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567 Prof. Marcos Bryan Heinemann
30123-970 - Belo Horizonte - MG Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
Telefone: (31) 3409-2042
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Prof. Nivaldo da Silva
CRMV-MG nº 0747 – Presidente do CRMV-MG
E-mail:
crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Revisora autônoma:
Ângela Mara Leite Drumond
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Fotos da capa:
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Impressão:
Imprensa Universitária
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP
MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP MVZ
Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1.Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem Animal, Tecnologia
e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
Quem sabe, num futuro próximo, 4. TINBERGEN, N. On aims and methods of etho-
logy. Zeitschrift für Tierpsychologie. V. 20, p. 410-
seja possível caracterizar e medir o “tem- 433, 1963.
peramento”, bem como correlacioná-lo 5. FORDYCE, G; GODDARD, M.E; SEIFERT, G.W.
com o sistema de produção de forma a The measurement of temperament in cattle and
otimizá-lo e trazer novas contribuições the effect of experience and genotype. Proceedings
of Australian Society of Animal Production, v.14, p.
benéficas tanto para os animais quanto 329-332, 1982.
para o homem que os manipula. Esse 6. FORDYCE, G.; DODT, R.M.; WYTHES, J.R.
item, sem dúvida, representa um dos Cattle temperaments in extensive beef herds in
grandes desafios atuais da interação do northen Queensland. 1. Factors affecting tem-
perament. Australian Journal of Experimental
homem com os animais. Agriculture, v. 28, n.6, p. 683-687, 1988.
A vivissecção e o uso
de animais no ensino
Rafael Resende Faleiros* - CRMV-MG: 3905
Lilian de Rezende Jordão - CRMV-MG: 8.340
Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais
*Autor para correspondência: faleiros@ufmg.br
que o termo foi inicialmente usado por mentos muito invasivos com mínimos
Claude Bernard, que tem sido conside- recursos técnicos e sem nenhuma anes-
rado na literatura internacional como tesia – que ainda não havia sido de-
uns dos mais importantes fisiologistas e senvolvida nem para humanos. Nesse
um dos pais do conhecimento científi- contexto, Bernard foi capaz de fazer afir-
co (Fig. 1). mações, inaceitáveis nos dias de hoje,
Pelos serviços prestados à ciência como, por exemplo, “(O fisiologista) não
e sua contribuição à evolução do co- ouve o grito dos animais, nem vê o sangue
nhecimento, poderíamos acreditar que que escorre. Só vê a sua vida e só repara
Claude Bernard seria hoje unanime- nos organismos que lhe escondem proble-
mente considerado um grande benfei- mas que ele quer descobrir”.
tor. Mas, infelizmente, isso não é a ver- Contudo, essa forma de pensar em
dade, pois Bernard, talvez no ímpeto de relação aos animais não foi originária
validar seus conhecimentos, foi grande de Bernard. O fisiologista seguia a linha
entusiasta do uso de animais vivos em de pensamento cartesiano, até então
sua experimentação, contudo em uma aceita pela sociedade, de que o animal
época em que se utilizavam procedi- era uma máquina. Tal conceito foi apre-
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 67 - dezembro de 2012
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de cães e
gatos
Renata Maria Albergaria Amara - CRMV-MG: 8332
Médica Veterinária
Autora para correspondência: renataalbergaria@hotmail.com
de animais considerados errantes cres- 10. TARDIN, A.C.; POLLI, S.R.. Evolução na alimen-
tação dos cães. Boletim Informativo Nutron Pet,
ce a cada ano, provocando um impacto n.01, out. 2001.
enorme para a sociedade. Os vários pro- 11.
BRASIL. Ministério da Saúde. Animais
Domésticos. Biblioteca Virtual do Ministério da
gramas propostos pelo CCZ-BH ten-
Saúde, 2004. Disponível em: <http://www.mi-
dem a ser efetivos em longo prazo. Isso nisterio.saude.bvs.br/html>. Acessado em 02 de
dependerá da cooperação dos proprie- maio de 2006.
12. LEVAI, L.F..Direito dos Animais. 2a ed. rev. ampl.
tários e da eficiência com que os progra- São Paulo: Mantiqueira, 2004. 160p.
mas serão realizados. 13.
BRASIL. Conselho Federal de Medicina
Veterinária. Cirurgias Mutilantes: O que fazer?
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Revisão.Archieves of Veterinary Science, v.9, n.2, p.1- CampaignType=7>. Acessado em 08 de julho de
11, 2004. 2006.
Injúrias, doenças e
privações durante
o transporte e
eventos equestres
Smith14 associou o es-
tresse a infecções virais e
Figura 2 - Trauma ocorrido na rampa de embarque bacterianas, exercício inten-
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Baity Boock Leal1 - CRMV-MG: 7979
Rafael Resende Faleiros2* - CRMV-MG: 3905
1
Médica Veterinária da PUC Minas Betim
2
Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais
*Autor para correspondência: faleiros@ufmg.br
exercida pelo
Estação
equídeo sobre o seu 60%
bem-estar 10%
Deitado
10%
Na espécie equina,
existem várias situações Outros
3. CHIRGWIN, J.C. Los animales de trabajo y el desa- 12. POLÍCIA civil do Estado do Rio de Janeiro.
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Applied Animal Behaviour Science, v.59, n.1-3, p.93-
99, 1998.
Figura 4. No cen-
tro da canaleta,
sinais de diarréia,
principal sinto-
ma da Enterite
Mucoide
mos autores afirmaram que o piso com sensibilização elétrica é menos traumá-
serragem enriqueceu muito fracamente tica para os animais do que a insensibili-
o bem-estar dos animais, parecendo ser zação mecânica .
23
Edgar Onoda
Introdução
Existem muitos mitos e opiniões so- bigstockphoto.com
Fabíola Fukushima
servar a sensação de
surpresa tão benéfi-
ca ao animal. Com
o passar do tempo,
desde que o dono
constantemente va-
rie alguns dos locais
onde coloca o ali-
mento, a atitude de
confinamento tem-
porário virá a refor-
çar ainda mais o estí-
mulo e tornará mais
desafiante a “caça”
por comida3,12,13.
Figura 1. Felino doméstico observando fonte de água corrente
adaptada, feita com uma bomba utilizada em aquários, acoplada Água
a uma mangueira plástica e a uma vasilha de água.
A maioria dos
seis horas por dia caçando suas presas, donos tem por hábito fornecer água
com uma taxa de sucesso de uma tenta- no mesmo cômodo em que fornece
tiva para cada três. Assim, faz-se neces- comida. Na natureza, gatos caçam suas
sário tornar interessante e estimulante presas e buscam fontes de água em mo-
para o gato o ato de se alimentar. O uso mentos distintos. Assim, a presença de
de alimento úmido dificulta em muito água próxima à fonte de alimento pode,
qualquer tentativa nesse sentido, po- em muitos casos, fazer com que o gato
rém, a ração seca é mais adequada para beba menos do que o necessário, fato
o enriquecimento alimentar. Gatos de- potencializado quando o mesmo está
vem obter alimento em pequenas quan- exposto a uma dieta com alimento seco.
tidades, mas constantemente, assim, Encontrar água em outros locais é extre-
pode-se espalhar ração em pequenas mamente satisfatório para o gato. Deve-
quantidades por todo o ambiente, em se também alternar constantemente o
locais baixos e altos costumeiramente posicionamento dos bebedouros pelo
frequentados pelo animal. Talvez seja ambiente, a fim de se manter a sensação
necessário prender o gato em algum cô- de imprevisibilidade que é de grande
modo enquanto se executa a tarefa de valor no enriquecimento do ambiente
espalhar o alimento pelo ambiente, tudo em que o animal vive. O número ide-
96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 67 - dezembro de 2012
Fabíola Fukushima
paz de comportar mais de um gato com
conforto, evitando assim a competição
entre os animais13.
Embora o estabelecimento de con-
tato social dessa espécie com humanos
possa variar de acordo com a persona-
lidade do gato, o dono é o maior res-
ponsável pelo bem-estar de seu animal.
Portanto, a interação com outros gatos
ou animais, apesar de importante e en-
riquecedora, não substitui a atenção
humana. Alguns gatos gostam de ser
escovados e acariciados, enquanto ou-
tros preferem a interação através de um
brinquedo. Assim, brincadeiras preda-
tórias (o proprietário como presa), ca-
rícias não prolongadas e comunicação Figura 2: Gato observando o ambiente
verbal são opções de contato social e externo no parapeito de janela com tela de
são geralmente bem recebidas pelo gato. Nylon.
No outro extremo das relações sociais alcance do gato. Quando não estão em
entre homem e animal, encontram-se uso, devem ser guardados e somente
manifestações como beijar e abraçar, ra- trazidos ao gato de tempos em tempos.
ramente apreciadas por esses animais1,3. Pequenos brinquedos (como os que
Os brinquedos e as imitam ratos) podem ainda ser coloca-
brincadeiras predatórias dos dentro das vasilhas de comida como
uma fonte adicional de estímulo13.
Objetos que se movem, com textu-
As brincadeiras do gato adulto com
ras complexas e com características de
presa são os mais adequados para brin- objetos diversos estão diretamente rela-
cadeiras. Uma variedade cionadas à fome, ou seja, as brincadei-
de brinquedos está dis- ras fazem parte de um
Objetos que se movem, comportamento preda-
ponível, mas o caráter de com texturas complexas tório natural da espécie.
novidade é sempre im- e com características
portante1,3. Brinquedos Nesse sentido, varas de
de presa são os mais
logo se tornam previ- pescar de brinquedo são
adequados para
síveis e entediantes se ideais para simular os
brincadeiras.
deixados parados ao movimentos da presa.
Bem-estar e enriquecimento ambiental para gatos domésticos 99
Aspectos de
comportamento e bem-
estar animal durante a
doma de equinos
Anamaria Santos Soares - CRMV-MG: 5255
Médica Veterinária
Autora para correspondência: anamariassoares@gmail.com
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Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Minas Gerais
*Autora para correspondência:
simonekg@vet.ufmg.br
Bem-estar do trabalhador
Maior qualidade de vida, saúde e
segurança para as comunidades locais
ECONÔMICO AMBIENTAL
Bem-estar animal
na produção e transporte
Figura 2. Osquatro princípios e doze critérios considerados pelo Projeto Welfare Quality para
avaliação de BEA na bovinocultura leiteira, suinocultura e avicultura intensivas.
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20
Horas de sono por dia
Castor da
15 montanha
Esquilo da mongólia Ramster Bicho preguiça
dourado
Rato do Chinchila
campo
10
Porquinho da índia
Rato
africano Coelho
Gráfico 1. Comparação para herbívoros entre tempo de sono e peso corporal (R=-0.77,
P<0.001). Adaptado de (12)
Introdução
Jeremy Bentham foi a primeira pes-
soa a falar sobre a importância do Bem- Nem, eles podem falar? Mas, eles po-
Estar Animal (BEA), em 1789; respon- dem sofrer?”.
dendo aos pensadores do Racionalismo Por muito tempo se pensou que pro-
– que acreditavam que os animais eram dutividade e BEA não poderiam coexis-
máquinas, que não falavam nem pensa- tir em um mesmo ambiente. Na Europa,
vam como os homens, não tinham alma, onde há uma maior demanda pelo BEA,
e por isso não sentiam dor –, disse: “A já existem estudos buscando quantificar
questão não é: Eles podem raciocinar? o impacto que o padrão de bem-estar
nova ciência, indispensável aos profis- suas regras (essa é uma exigência legal).
sionais que trabalham em torno da inte- Além disso, há também as pressões in-
ração entre humanos e animais, e deve ternas em defesa dos animais, tanto de
estar relacionado com conceitos como: caráter social como legal, que, de uma
necessidades, liberdades, adaptação, forma ou de outra, acabam interferindo
controle, capacidade de previsão, sen- na definição do modo como os animais
timentos, sofrimento, dor, ansiedade, serão criados.
Bem-estar animal e o mercado 153
B
Bem-estar Máximo
animal
A Na natureza Desejado C?
Mínimo D
Crueldade
E
Produtividade
bem-estar de animais de produção no 8. BROOM, D.M.; JOHNSON, K.G. Stress and ani-
Brasil. mal welfare. Dordrecht, Kluwer Academic, 2000.
211 p.
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Etologia, 18: 26-42, 2000. 10.
BELLAVER, C.; BELLAVER, I.H. Livestock
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V.U. Alguns aspectos a serem considerados tition economies.Livestock Production Science,
para melhorar o bem-estar de animais em sis- Amsterdam, v.59, p.125-135, 1999.
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Moura, J.C. e Faria, V.C. Fundamentos do Pastejo animal welfare legislation: A case study of cage
Rotacionado, FEALQ: Piracicaba, p. 273-296, egg production. Animal Welfare, Herts, v.7, p.1-10,
1997. 1997.
3. BROOM, D.M.; MOLENTO C.F.M. Bem-estar 12. ZANELLA, A.J. Descaso com o bem-estar animal:
animal: conceito e questões relacionadas - revisão. fator limitante para a exportação de carnes e pro-
Archives of Veterinary Science, Curitiba, v.9, p.1- dutos derivados do Brasil para a União Européia.
11, 2004. A Hora Veterinária, Porto Alegre, v.20, n.116, p.
4. McINERNEY, J.P. Animal welfare, economics and 28-29, 2000.
policy – report on a study undertaken for the Farm
& Animal Health Economics Division of Defra,
February 2004.