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SEPÚLVEDA, Luís, História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a

voar, ASA Editores, S.A., 2005.

Esta fábula relata a história de uma bela gaivota chamada Kengah, de penas cor
de prata, que ia numa viagem em direcção a Hamburgo há mais de 6h. Mas, em plena
viagem, ocorreu um desastre: Kengah é apanhada por uma maré negra. Ela tinha
perdido o seu bando de vista. O petróleo colava-lhe as asas ao corpo, mas Kengah,
com uma enorme força de vontade, conseguiu voar, e, completamente esgotada,
caiu numa varanda onde estava um gato a apanhar sol. Esse gato chamava-se
Zorbas. Ele era grande, preto, gordo e tinha um bom coração. A casa onde morava
ficava perto do porto de Hamburgo. Os seus donos tinham ido de férias e Zorbas
ficara sozinho.
A gaivota não resistiu e a sua respiração foi ficando cada vez mais fraca, mas,
antes de morrer, com as únicas forças que lhe restavam, disse que iria pôr um ovo
e fez três pedidos a Zorbas. Primeiro, que não comesse o ovo; segundo, que
cuidasse do ovo; terceiro, que ensinasse a gaivotinha a voar. Zorbas, pensando que
a gaivota estava a delirar, aceitou os pedidos e foi buscar ajuda. Foi ao
restaurante, onde encontrou Secretário, um gato romano, muito magro e apenas
com um pêlo de cada lado do nariz. Zorbas queria falar com Colonello, um gato com
alguma idade e sempre pronto a ajudar, mas Colonello disse-lhe que o melhor é
falar com o Sabetudo. Os quatro gatos foram a casa de Zorbas e, quando chegaram
à varanda, já Kengah estava morta. Quando lhe foram unir as asas, encontraram um
ovo azul com pintinhas. Zorbas nem acreditava no que via! Com as enciclopédias do
Sabetudo e com a obrigação de cumprir as promessas, este grupo de gatos começa
então esta difícil tarefa.
Zorbas e os amigos (Colonello, Sabetudo e Secretário) enterraram Kengah.
Zorbas, sempre muito cuidadoso com o ovo, colocava-o junto da sua barriga, até
que, no vigésimo dia, sem reparar que o ovo se mexia, acordou com cócegas na
barriga: era a gaivota a tentar sair do ovo. Mal a gaivotinha pôs a cabeça de fora,
chamou “mamã” a Zorbas. A situação complicou-se devido ao amigo da família que ia
lá a casa dar de comer e limpar o espaço de Zorbas e também aos gatos malvados
que por ali passavam. Ao tentar encontrar um sítio seguro, foram ao bazar do
Harry e decidiram que, até que ela aprendesse a voar, ficaria ali com o Zorbas,
indo este ao apartamento de manhã para o humano não se afligir. Mas o bazar do
Harry também tinha os seus perigos, as ratazanas, que chegaram a tentar comer a
pobre gaivota.
Zorbas e os seus amigos queriam dar-lhe um nome, mas primeiro tinham que
saber se a gaivota era macho ou fêmea. Foram ter com Barlavento, que era um
autêntico gato de mar. Logo que a viu, disse que era uma linda gaivotinha fêmea.
Colonello propôs o nome de Ditosa e logo todos concordaram. Ditosa era uma
gaivota linda, branca, com asas cor de prata, como a mãe. Era amável e cresceu no
bazar de Harry , sentindo que pertencia à família dos gatos de tal modo que foi
com eles que quis ficar e começou a lutar contra o esforço dos seus amigos,
dizendo que não queria voar, que queria ser um gato.
Até ali Zorbas tinha cumprido todos os desejos de Kengah menos um, ensinar a
gaivota a voar... Tentaram, tentaram e tentaram, muitas vezes falharam, até que
um dia Zorbas pediu ajuda a um humano que escrevia poemas. Esse humano levou-os
ao alto da torre de S. Miguel. Este deixou Ditosa que abriu as asas, seguiu o seu
instinto e voou. Apesar da imensa vontade que tinha em ficar com os seus amigos,
Ditosa obedeceu à sua verdadeira natureza e ficou felicíssima quando conseguiu
voar. Zorbas viu partir a sua gaivotinha de rastos e com lágrimas nos olhos, apesar
de compreender a necessidade de Ditosa seguir o seu destino. O gato também
sentia-se orgulhoso por ter cumprido as suas promessas.

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