Você está na página 1de 9

Dicas para treinamento de solfejo melódico

Profa. Daniela Torres

Algumas vezes nas aulas, tento explicar algumas abordagens para desenvolvimento da leitura
cantada de alturas. Há o método dó móvel, dó fixo (estudaremos estas abordagens, e é necessário
decorar as sílabas mais usadas), do estudo dos intervalos, do solfejo por números, do método das
notas pivôs. Todas as abordagens têm vantagens e desvantagens. Nós iniciaremos um estudo do
solfejo enfatizando o entendimentos dos graus tonais, por isso usaremos dó móvel e números.
Temos uma folha preparatória e um livro com melodias para solfejo (o "textbook"). Também
faremos solfejos com o dó fixo, mas não ao mesmo tempo do móvel, nem com a mesma melodia!
Fazer isto é uma fórmula certeira para ficar perturbado, não o faça.

Alguns alunos podem encontrar mais e menos facilidade em navegar pelo relacionamento entre os
graus tonais (1-3, 1-5, 5-2, etc). Se você encontrar um pouco de dificuldade, repasse os exercícios
preparatórios e estude estes saltos ou graus conjuntos, sejam tons ou semitons, por elisão (se
encontra que cantar do grau um ao cinco é mais fácil do que cantar o arpejo 1-3-5). Elisão é
quando cantamos o grau 1 seguido do 6, por exemplo, passando silenciosamente (no pensamento
ou cantando baixo) pelos graus intermediários. Para outras pessoas, é mais fácil relacionar os
saltos a graus âncoras, os mais comuns são o arpejo de tônica e dominante. Começaremos
cantando melodias em escalas maiores e relacionaremos as escalas menores e graus à maior.
Vamos falar um pouco sobre isso quando solfejemos melodias em menores, já que o solfejo móvel
para estas pode ser baseada em lá ou em dó (modificando o grau 3 e 6 para me e le).

Algumas dicas sobre como estudar o solfejo das melodias propriamente ditas:
-Faça a preparação dos graus.
-Faça exercícios auditivos tais como: ponha para tocar alguma música, pare-a na metade e cante a
tônica. Ou Pare-a na metade e tente determinar o grau tonal em que parou.
-Se necessário, analise a estrutura da melodia (nota mais graves, mais agudas, se desenha o
arpejo, se há notas âncoras e repetidas, etc.). Por exemplo, cai cai balão vai do grau 5 ao 3, sobe
ao 6, desce ao 2, sobe ao 6 e daí desce por grau conjunto ao 1.
-Use uma fonte de alturas fixa (pode ser um aplicativo de teclado virtual, uma escaleta, um
teclado, ou seu instrumento, desde que bem afinado) para checar os pontos de saída e chegada
do solfejo, acertar a tonalidade, ou solucionar alguma dúvida eventual. Mas não use este recurso
como muleta.
-Pratique todo dia, pois não há possibilidade de desenvolvimento estudando tudo em um dia ou
semana só.
-Cante em tempo lento e confortável. Se necessário, cante uma nota por tempo, ainda que o ritmo
seja diferente.
-Cante um solfejo, cante de novo se você detectou algum erro, mas não o repita demasiadamente,
pois a partir de certo ponto passa a ser repetição, não a construção que procuramos.
-"O Show deve sempre continuar!" Continue, não pare com o solfejo, tente se localizar um ponto
em frente onde você pode retomar o solfejo. Isto obriga a mente e ouvido a ficarem atentos e a
considerarem o solfejo uma atividade realmente musical.
-Cultive bons hábitos: reja enquanto solfeja, escolha as sílabas ou números certos, mesmo que
para isso você precise escrever as sílabas ou algumas delas embaixo das notas (apague depois),
seja cuidadoso com o ritmo e tempo, procure ouvir o colega nos solfejos em conjunto, tente
cantar o mais afinadamente possível com uma entonação suave, sem cantar alto demais nem
baixo demais. Isto ajuda na afinação e no acerto dos graus, pois dá a possibilidade de correção
mesmo enquanto se canta.

"A boa prática de leitura cantada é sempre ligeiramente entediante, mas não é enervante, não há
drama. Pense nela como uma tarefa relaxante, mais do que desagradável. É OK se o material
parecer fácil demais para solfejo; de fato, é assim que tem de ser. Muita gente prejudica seu
desenvolvimento no solfejo tentando ler material difícil demais. A ontogenia recapitula a filogenia:
comece simples e aumente a complexidade gradualmente- é desta maneira que você aprendeu a
tocar seu instrumento." (Scott Fogleson, Professor da SFCM, que também é autor de algumas
dicas acima).

À parte do solfejo tonal, faremos uma preparação para o solfejo atonal, por intervalos. Para isto
faremos uma preparação para a entoação e identificação de intervalos através de melodias
conhecidas, do próprio contexto tonal, da descontextualização de pequenas trechos tonais e do
uso das notas pivôs, que também serão usadas no solfejo harmônico.

Algumas dicas de como estudar esta parte:


-Faça um vocalize cromático com as células sugeridas na folha preparatória. Isto é fácil para
cantores treinados, mas outros músicos também podem fazer isto sem dificuldade. Toque, por
exemplo, no piano a nota dó. Cante a célula. Toque dó e depois dó sustenido. Cante agora a célula
a partir do dó sustenido e assim por diante.
-Explore as permutações das células. Cante de trás para a frente. Toque uma nota e tente fazê-la
de alvo (ou seja, se a célula é 5-3-1, toque uma nota como sendo o 1 e cante o 5)
-Toque uma nota e cante a célula. Toque outra dando um salto ou mudando o registro e tente
cantar a célula.
-Use o recurso que melhor se adaptar a você. Se encontra mais fácil cantar a célula dó ra dó do ti
dó como mi fá mi dó ti dó (sendo o fá igual a dó), que tem a mesma relação intervalar, faça assim.
Ou cante números, ou o trecho de música que usa para lembrar-se do intervalo, ou as notas reais
em dó fixo. Ou seja, use o que funciona para você.
-Em relação ao solfejo com notas pivôs é importante usar um instrumento de altura fixa para
checar as alturas. Muitas vezes o solfejo por notas pivôs nos obriga a cantar um pouco agudo ou
grave demais em relação à nossa voz ou técnica vocal que dispomos no momento. Cheque
também os intervalos, porque tendemos a guiar o canto por um sistema mais natural do que o
temperado dos instrumentos e isso nos leva a um maior afastamento natural da afinação
temperada. Às vezes isso é desejável, às vezes não.

Esta parte do estudo do solfejo é lenta, um pouco difícil, mas não deve se desesperar. Leva tempo
e está muito ligada, como tudo o mais, à prática do treinamento auditivo. Em anexo a este texto,
segue algumas recomendações para o estudo auditivo dos intervalos propriamente ditos.
Dicas para estudar solfejo rítmico

Tente fazer os solfejos de forma polimétrica! Como assim?

Para a leitura rítmica que você quer executar, faça um acompanhamento executando níveis
métricos acima e abaixo. De novo, como assim?

Por exemplo, se o ritmo em questão for um 4/4, cante e execute o ritmo fazendo um
acompanhamento executando constantemente (ostinato) o tempo do compasso (semínima),
mesmo nas pausas. Ou com a subdivisão do tempo (um nível métrico abaixo, a colcheia). Ou os
dois acompanhamentos ao mesmo tempo, junto com a leitura. Ou mesmo fazendo um
acompanhamento executando constantemente a mínima (um nível métrico acima). Então você
fará a leitura do ritmo executando constantemente o tempo, e se já estiver dominando esta forma
de fazer, executando em ostinato o tempo e a primeira (colcheia, no caso) ou segunda
(semicolcheia, também neste caso) subdivisão do tempo da leitura! Será uma execução a três
vozes. E como você poderia fazer todas estas vozes, já que voz cantada só se tem uma? Da
seguinte maneira:
-Cantando o ritmo e batendo palmas no ostinato
-C.ontando os tempos com a voz e batendo palmas para fazer a leitura rítmica
-Fazer a leitura rítmica batendo os pés (juntos ou alternadamente) e bater palmas no ostinato.
-Cantar a leitura rítmica e fazer o ostinato 1 com palmas ou batendo as palmas nas pernas e o
ostinato 2 batendo os pés.
-Fazer o ostinato na mão esquerda e bater o ritmo com a mão direita.
-Bater o ritmo nos pés e ostinato um na mão esquerda e ostinato 2 na direita.
-Fazer diversas combinações entre ritmo e ostinato no seu instrumento, ou tocar o ostinato e
bater o pé no ritmo, etc.
-Além de todas estas múltiplas combinações, REGER os tempos do compasso.

Sempre invertendo as execuções! Ou seja, se fez com mão esquerda e direita, inverta,passe o
ritmo para a outra mão. É esse ligeiro desconforto que vai proporciornar a independência rítmica
que todo músico precisa e que vai tornar mais precisa o seu entendimento aural do ritmo.

-Estude os solfejos com o metrônimo numa pulsaçâo confortàvel, mas tente também em
andamento mais rápidos e lentos.
-Sempre atente aos pontos de ataque simultâneos entre ritmo escrito e os ostinatos. se
necessário, faça pontos escritos na leitura rítmica onde você deve atacar junto os ostinatos, sejam
estes constituídos do tempo, da subdivisão do tempo ou do agrupamento de 2 em 2, e em 3, 4 em
4 dos tempos da leitura.
-Aliás, quando você se ver na contigência de fazer uma leitura rítmica que você não acha muito
fácil de se fazer à primeira vista, uma dica é esta: faça pontos onde você acha que os ataques do
tempo caem, ou faça círculos agrupando as notas em unidades de tempo constantes, assim você
terá uma ideia mais clara de como cada agrupamento deve soar em relação à determinada
pulsação.

Por favor, leia a introdução do livro Rítmica, de Educardo Gramani. Ele tem uma perspectiva
dalcroziana do estudo do ritmo e desenvolvimento das habilidades rítmicas.
Algumas dicas para o treinamento auditivo

Uma das muitas abordagens para o treinamento auditivo é aquela estruturado a partir de
conceitos musicais e aquele que busca o reconhecimento dos conceitos a partir da comparação
sonora e contexto. É uma abordagem que exige uma postura ativa e engajada em termos da
apreensão de modelos. Não é um trabalho com resultados imediatos e demanda uma série de
exercícios, tentativas, erros e repetições mesmo para o músico mais experiente, já que como
podemos imaginar, os conceitos são construtos artificiais e até mesmo sofrem um processo de
modificação ao longo do tempo.

Os conceitos são culturalmente dependentes e o treinamento que serve para uma época e estilo,
pode não servir para outra. Por exemplo, apesar da prática musical da época de Zarlino (teórico
da Música, 1517-1590) apresentar aquilo que hoje nós chamamos de acorde, o conceito de tríade
como entidade independente não era muito desenvolvido, já , já que as resultantes sonoras
verticais (que eram entendidas como consonantes e dissonantes) se apresentavam como
consequência daquilo que acontecia horizontalmente (contraponto). Hoje podemos entender o
acorde como coisa única, em si, e de fato às vezes os estudamos perceptivamente assim. Teoria,
práticas musicais reais e estudo da percepção musical não costumam andar em proximidade total
mas como refletem um mesmo momento cultural, podemos imaginar que o estudo da "Percepção
Musical" ou o que fosse equivalente na época daquele teórico fosse muito diferente e utilizasse
conceitos diferentes do que hoje é e utiliza. Outro exemplo: até a época de Rameau (1683-1764),
o acorde Dó 6/4 não era considerado o mesmo acorde Dó Maior, como hoje consideramos e
ouvimos. Na época, o acorde Dó 6/4 era considerado como um em que a nota dó apresentava
uma nota 4J e outra 6M acima dele, para todos os efeitos, diferente de um acorde de Dó M, que
para eles se apresentava como a nota Dó soando conjuntamente com notas 3M e 5J acima dele.

De qualquer maneira, este estudo a partir de conceitos é aquele trabalho convencional, ensinado
nas aulas de Teoria e Percepção, explorado nos programas de treinamento auditivo, etc. A partir
de um elemento conceitual (por exemplo, intervalos), e de um modelo auditivo (dentro do mesmo
exemplo, um intervalos de quinta justa), você pratica o reconhecimento deste conceito e deste
modelo primeiramente em relação à exemplos sonoros parcialmente descontextualizados. Após
isto, tenta reconhecer o "conceito" (para não ficar apenas no exemplo de intervalos, digamos que
este conceito pode ser uma configuração harmônica ou tonal, uma progressão harmônica, um
padrão rítmico, uma escala, etc.) dentro do contexto de uma música real. A respeito deste estilo
de estudo, pode-se observar algumas sugestões:

-Há muitos programas, app e sites de treinamento online. Há inclusive games dedicados a este fim.
Pesquise os que mais lhe agradam e faça os treinamentos de forma cuidadosa, graduada (a
maioria dos sites apresenta uma sequência graduada de apresentação dos materiais, mas se não
apresentar, siga as sequências dos seus materiais de solfejo). Faça de uma forma que para você
seja fácil e divertida. Aliás, há muitos sites que apresentam o reconhecimento auditivo na forma
de games e jogos, tente e veja se gosta da abordagem. Abaixo há uma lista de sites que
disponibilizam treinamento auditivo gratuito. Os 3 primeiros são os que mais usaremos nas aulas:

http://www.mhhe.com/socscience/music/benward7/
http://www.mhhe.com/socscience/music/benward/train.htm
http://www.teoria.com/
https://www.emusictheory.com/
https://people.umass.edu/music114/ManualAudioFiles.htm
http://www.good-ear.com/
http://www.iwasdoingallright.com/tools/ear_training/main/
http://www.eartrainingmastery.com/
http://www.earbeater.com/
http://www.musicalmind.org/
http://www.good-ear.com/
http://trainer.thetamusic.com/
http://www.ossmann.com/bigears/
http://www.wholenote.com/basics/eartraining
http://www.musicalintervalstutor.info/
http://legacy.earlham.edu/~tobeyfo/musictheory/Book1/
http://www.pedaplus.com/cms/
http://www.smartboardmusic.org/
http://vickyjohnson.altervista.org/IntervalEarTrainer.swf
http://vickyjohnson.altervista.org/keyboard[1].swf
http://www.earpower.com/
http://www.ossmann.com/bigears/
https://www.seventhstring.com/xscribe/overview.html
https://www.iwasdoingallright.com/tools/ear_training/online/
http://www.musictheory.net/exercises
http://tobyrush.com/theorypages/index.html
http://vickyjohnson.altervista.org/ScaleTrainer.swf
http://vickyjohnson.altervista.org/TriadTrainer.swf
http://vickyjohnson.altervista.org/ChordTrainer.swf
http://vickyjohnson.altervista.org/IntervalEarTrainer.swf
http://vickyjohnson.altervista.org/AnimatedHandSigns.gif
http://pedaplus.com/flash/tutorials/graphics_card_template.html
http://pedaplus.com/flash/tutorials/graphics_card_template_2.html
http://www.phy.mtu.edu/~suits/Physicsofmusic.html
http://www.gmajormusictheory.org/
http://www.musiclassroom.com/en/lessons/free-lessons/ear-training/melodic-dictations-
beginner
http://www.therhythmtrainer.com/
http://www.musictechteacher.com/music_quizzes/music_quizzes.htm
https://www.sightreadingfactory.com/
http://dictation.ccdmd.qc.ca/presentation.php
https://sites.google.com/site/rbhsvocalmusic/men-s-chorus/rhythm-dictation

-Estude a partir do que faz no seu programa de solfejo. Cante, reja, faça percussão e após isto
reconheça o que canta, faça ditados com colegas a partir do que já solfejou, componha variações
a partir daquilo, etc.
-Use o apoio de um instrumento de afinação fixa. Todos estes conceitos são culturais, muito
infiltrados no nossa formação musical não consciente, mas mesmo assim há muito de artificial no
fato de categorizarmos tais e tais frequências em intervalos x, durações, ritmos e padrões escritos
de maneira y e por aí vai. Mesmo a questão da afinação é algo que não vem de forma totalmente
natural; se fosse, não seria tão dependente da cultura e do momento cultural. Ela vem mudando
muito na nossa cultura nos últimos 300 anos e ainda está em processo de transformação. Lembre
ainda que a própria notação da nossa música tem a característica de ser sugestiva de uma forma
extremamente limitada. Ela não transmite imensas partes do fenômeno musical. Pense nisso e
não se sinta mal se tiver que repetir várias e várias vezes a audição de uma terça maior para poder
começar a reconhecê-la.

-Estude com amigos, grupos de amigos ou mesmo somente com um parceiro. Rende muito mais!
Ele toca alguma coisa, você tenta identificar, podem ser feitos jogos e vários tipos de atividades
divertidas.

-Use como ponto de partida seu instrumento. Se proponha desafios e tente checar a resposta no
seu instrumento.

-Na internet há uma variedade de fóruns e grupos de discussão que às vezes apresentam
atividades e informações relevantes. Por exemplo, para quem quer desenvolver ouvido absoluto,
há fóruns com atividades exclusivamente para este fim, e seus participantes desenvolvem quizzes
e apps para isto, além de instrumentos que traçam o desenvolvimento de cada participante.

-O mais importante: logo que sentir que começa a reconhecer o conceito, escute música real e
tente identificar, tente procurar e achar o tal conceito dentro da música. Lembre de outras
músicas e procure na sua memória aquilo que possa se encaixar. Toque o seu repertório e busque
o que estiver estudando. De certa forma, a teoria por si só é estéril para o músico na hora de
tocar, ela vem mais como um auxílio, para facilitar e enriquecer nosso tocar, para nos ajudar a
categorizar melhor o fenômeno que temos nas mãos e ouvidos, para lembrar melhor da música,
para planejarmos uma performance mais rica e organizada, para transmitirmos uma ideia musical
de forma mais eficiente, para compor e manipular melhor o material sonoro e assim por diante. As
"categorias" (intervalos, escalas, progressões, ritmos) não são a coisa real, são apenas
representações, mas que nos ajudam a criar e interpretar a música com mais facilidade.

-Este estilo dá trabalho e precisa de planejamento de tempo, organização e disposição. Não


desista e pense que mesmo músicos com muita experiência tem ainda que fazê-lo. Não importa a
partir de que nível você tenha que começar, você pode fazer a coisa toda de maneira divertida e
recompensadora, mesmo que exija um pouco de esforço e tempo.

-Transcrever é muito bom. É o melhor exercício de todos. Comece simples, mas vá em frente e
persiga aquelas músicas que você mais gosta, que mais te intrigam. Se for necessário, use alguns
programas que diminuem o andamento da gravação sonora sem alterar a altura. Assim dá para
ouvir melhor nota por nota e acorde por acorde. Use também aqueles programas dedicados à
equalização, edição de partituras e editores de som, ajudam muito na hora de examinar midis e
para ouvir melhor faixas e instrumentos. Muitos desse programas são grátis.
-Tente ouvir todo tipo de música, mesmo que alguns gêneros não te agradem a princípio. Os seres
humanos tem a tendência a serem conservadores nos seus gostos musicais, mas se ele ouve um
gênero repetidamente, pode começar a entendê-lo e dar-lhe sentido, e depois talvez mesmo a
apreciá-lo. O importante é que a diferença dá sentido à repetição e vice versa, assim, ouvir coisas
diferentes pode vir a tornar mais profundo o entendimento daquilo que você realmente gosta.

-Tente procurar o melhor e ampliar os limites do que você conhece e gosta em termos de gêneros,
estilos, etc. Também pesquise pelo melhor exemplo, os melhores intérpretes, etc. Não dependa
em tudo do professor porque ele pode ser bastante limitado, ou mesmo que não seja, pode ter
direcionado o estudo dele para uma coisa que não tem afinidade com aquilo que você quer fazer
da vida. Acontece! Mas você pode e deve tentar aprender sozinho. Todo mundo, no fundo,
aprende procurando por si. OK, estas últimas frases foram auto ajuda barata, mas acho que a ideia
não vai lhes parecer tão estranha e sem sentido.

-Trabalhar com notação não convencional, como gráficos, símbolos aos quais você atribui
significados, associação com imagens e ideias de naturezas diversas ajuda a desenvolver a
percepção e entendimento dos fenômenos musicais e pode ajudar na própria fluência da escrita e
leitura convencionais.

-Treinar o ouvido através da busca de similaridades e contrastes entre trechos musicais. Por
exemplo, se estivermos treinando a percepção de progressões harmônicas, podemos tentar ouvir
a similaridade entre dois trechos que apresentem a mesma progressão harmônica. Podemos ouvir
um trecho com a progressão tocada de maneira elaborada, sem tentar primeiro ouvir tudo.
Depois, ouvimos um outro trecho que apresente a progressão mas de forma mais simples. Após
isto, ouvimos de novo o primeiro exemplo. Nesta segunda audição, há muitas chances que
passamos a perceber coisas que não tínhamos percebido antes, incluindo a própria progressão
que queríamos identificar. O mesmo pode ser feito com intervalos, escalas, etc. Podemos também
tentar ouvir por contraste. Por exemplo, se estivermos procurando a percepção dos modos maior
e menor, podemos ouvir um trecho maior, outro menor, e assim alternando até que passemos a
ouvir as diferenças.
Sites com exemplos de música reais categorizados que podem ser usados para este tipo de estudo
são: gmajormusictheory.org, http://musictheoryexamples.com/ e
https://www.hooktheory.com/theorytab/common-chord-progressions (muito legal para quem
visa a música popular).

-Para pegarmos ditados rítmicos há muitos métodos e dicas que podem ser utilizados. Um deles
consiste em tentar pegar o ditado por etapas. Na primeira etapa você tenta contar as pulsações (o
tactus) do ditado. Se quiser, pode ir fazendo um risco vertical em tempo periódico junto com a
audição do ditado. Na próxima audição tente grafar o ataque das notas que ouviu, sem se
importar agora com o valor ou duração, mas somente com a relação dos ataques com os riscos
verticais da pulsação. Pode gravar os ataques do ritmo com um ponto, tentando localizá-los em
relação aos riscos verticais. Tente perceber se risco e ponto caem junto (ou seja, se há notas que
coincidem com a início (ataque) da pulsação, ou se caem no meio da pulsação (entre as
pulsações), mais para o início ou mais para o fim. Determine se a divisão da pulsação se sente
dividida em 2, 3, 4, 6, 8, etc., ou seja, sua métrica. Depois disto pense em que padrões de divisão
da pulsação (digamos metade e metade, divisão em 4 sincopada, etc.) os ataques das notas do
ritmo se encaixam. Deixe para as últimas etapas descrita do ditado a preocupação de inferir as
pausas e ligaduras.
-Para pegarmos ditados harmônicos é necessário já estar sabendo reconhecer acordes M, m, a e d.
A principal dica é sempre localizar a tônica do trecho primeiro e depois ouvir ou inferir o baixo. Se
a princípio estiver difícil, tenta localizar o baixo por função harmônica, ou seja, cante internamente
as funções e ache com quais funções os acordes se parecem mais. Comece cantando os graus I V I.
Um desses graus vai parecer mais com um acorde do que com o outro grau. Escute de novo
procurando a qualidade de acorde, pois se sentir que o baixo V encaixa melhor com um acorde
mas se sente que esse acorde é diminuto, pode ser que este acorde seja sobre o sétimo grau, ou
se for menor, pode ser o acorde sobre o terceiro graus (se o ditado for em modo maior). Logo
tente localizar o IV grau. E com estas três funções tonais estabelecidas, pode tentar localizar os
demais acorde do campo harmônico (ii, iii, vi e vii°). Ajuda muito na percepção harmônica
solfejarmos as funções, tanto na forma fundamental e encadeada. Assim temos referência interna
da sonoridade de cada acorde.

-Abaixo há um texto sobre como elucidar ditados melódicos. O autor é do Prof. Scott Foglesong e
gostaria de traduzí-lo em aula.
Long Dictations: a few tips
Scott Foglesong
Em: http://sfcmtheory.com/spring_2007/204-1/204-1_spring_2007.htm

"1. Don’t waste time writing notes. Just make a small “tick” on the staff line for the pitch; don’t
worry about the rhythm too much. Just place the note horizontally in the measure more or less
where it belongs rhythmically. Don’t bother about leger lines; trust yourself to remember. Ditto
accidentals; trust yourself to remember.

2. Keep your mind clear and calm. Sometimes the best way to listen to something is to focus on
your breathing or some other bodily sensation, rather than the actual music itself. That’s
especially true if you tend towards “scattershot” hearing – i.e., listening all over the place,
constantly thinking about this-that-and-the-other. Allow the mind to focus, to settle, to stay put.

3. Mental chatter is a waste of time. Especially the “oh, this is too hard for me” variety. You have
enough to keep your mind occupied during a dictation session; don’t add second-guessing to the
list of activities.

4. Harmonic analysis is best done between hearings. You can remember a lot more than you think;
don’t try to write in the analysis during playback. The symbols are just too doggone time-
consuming to write during a playback.

5. Never forget where the tonic is. This one is really important given that you can get “off” by a
note or two and stay off for the rest of a phrase.

6. Always keep the meter and beats ticking away. Rhythmic insecurity can cause problems with
pitch recognition.

7. Do the inner voices last, if at all. Remember that they’re not worth much grade-wise. So don’t
distract yourself with them. The only exception to this would be if you can hear pairs of voices
easily – i.e., soprano/alto and tenor/bass. In that case you might want to take them down
together.".
-Outo texto muito legal sobre transcrição é o depoimento do autor, compositor e arranjador Ron
Gorow sobre a importância da prática da transcrição. Segue em anexo também ("Transcreva!", de
Ron Gorow, em: miles.be)

Você também pode gostar